Se um escritor com material tão vasto no cinema quanto Alan Bennett não conseguiu construir a partir de suas memórias de morar 15 anos ao lado de uma senhora sozinha e sua van uma história que possua camadas, quer dizer que este não é um filme que deveria existir. Mesmo se você tiver Maggie Smith (da série Harry Potter) no elenco.
O resultado acaba sendo um trabalho novelístico passageiro dirigido de maneira desinteressada por Nicholas Hytner e com Bennett sendo interpretado por Alex Jennings em uma versão dupla, onde sua persona pública e seu escritor, sentado à frente de sua máquina de escrever, são vistos como duas pessoas tendo um diálogo. Essa presunção de que apenas escritores agem assim me incomoda, apesar de ter entendido a metáfora (nós, escritores, sempre somos outra pessoa quando é hora de colocar os pensamentos no papel).
Esta é a história de uma velha maluca (Smith) atormentada por ter atropelado alguém e ter fugido, algo compreensível se entendermos que ela abriu mão de sua paixão na vida, o piano, para se tornar freira. Tudo isso podemos entender em duas ou três cenas, e o filme as repete de maneiras distintas para ajudar os espectadores mais lerdos. Porém, francamente, este não é um mistério digno de ser assistido em um filme. Sequer é um mistério se parar para pensar por 10 segundos.
O resto da narrativa aborda as reações dos vizinhos de Bennett com respeito à moradora de rua, que usa sua van como casa. Bennett é um escritor em cartaz e mora em um bairro pacato de Londres. Nada acontece com ele e ele não deixa que nada saia do controle de sua vida. Mal conhecemos sua vida. E nem ele dos seus vizinhos. Seu texto, pelo menos no filme, é insípido, sem qualquer momento que nos leve a alguma memória que realmente valha a pena. Quando o texto começa a ficar muito bom... ele nos lembra que não é dele.
Este é um filme sobre uma idosa e um escritor medíocres que poderiam ser alguma coisa na vida, mas não o são. Logo, o resultado é ter paciência e aguardar por uma próxima boa história vinda das memórias de um bom escritor. Ou nem precisa ser um escritor tão bom. Basta um que tenha vivido fora de sua casa.