# Amor e Outras Drogas
Caloni, 2011-02-05 cinema movies [up] [copy]Jake Gyllenhaal mostra que não sabe apenas fazer um romance caubói gay. Em um filme recheado de diálogos interessantes (síndrome do pênis menor que do irmão), orgânicos (você diz uma coisa e seu corpo diz outro) e piegas (eu gosto de ouvir sua voz), a atuação do trio principal encanta em um filme que não nos leva muito longe do lugar-comum, que no caso é um romance melodramático.
Com o uso eficiente das câmeras (em planos abertos que vão se fechando conforme a intimidade do casal principal aumenta) e da própria narrativa (note como o contraponto do irmão de Jamie, alívio cômico, não interfere nas cenas), o filme ainda discute um pouco da venda de remédios da felicidade (Prozac) e do próprio prazer sexual (Viagra), e tenta inseri-los na trama com algum sucesso, mas ainda voa baixo perto do esplêndido O Amor não tem Escalas.
# Caça às Bruxas
Caloni, 2011-02-05 cinema movies [up] [copy]Nicholas Cage estreia mais um filme com feitiçarias. Depois do inofensivo Aprendiz de Feiticeiro, podemos considerar Caça como uma versão inserida histórica e politicamente em um contexto mais sério: a campanha das Cruzadas da época medieval e o extermínio de centenas (milhares?) de mulheres acusadas de bruxaria, enquanto a famigerada Peste matava 75% da população.
Com uma visão tanto realista quanto supersticiosa, o filme nos leva a uma pretensa ocorrência histórica e lendária: o momento em que a bruxa acusada de ter causado a praga deve ser levada aos monges para ser julgada por seus atos. A superstição das pessoas é explicada com uma fotografia sinistra que apenas se ilumina nos momentos finais do filme; até lá, temos a mesma impressão que as pessoas que vivem nessa época: a terra está amaldiçoada de um mal invisível.
Mas não só de males invisíveis o filme é feito. Com diálogos razos que apenas vão estabelecendo o convívio entre os participantes da jornada, o filme não-Disney não nos poupa de momentos tenebrosos, chegando ao ponto da competente maquiagem e som tornarem quase possível a crença em um ser demoníaco, e o medo que isso acarreta.
# Mudança
Caloni, 2011-02-07 [up] [copy]Desde que comecei a programar profissionalmente, lá por volta de 2001, sempre estive envolvido com uma ou duas empresas de Segurança da Informação, na época uma promissora carreira, com direito a hacking, engenharia reversa e outras diversões. Até programar por programar valia!
O tempo passou, completei uma década na área, e agora está realmente na hora de tentar programar coisa nova. Dessa forma, acompanhando minha própria tendência de investidor pessoa física na bolsa de valores, resolvi dar um novo salto em minhas aspirações nesse campo igualmente fascinante e apostar meu tempo de programação também no setor financeiro, onde C/C++ também corre na veia.
Aprendi muito nesse tempo todo com alguns amigos entusiastas (até demais) e programei muito código que gostaria que não tivesse meu nome nos comentários. Mas a vida (e o código) é assim: melhora com os erros.
A empresa que estou deixando agora está à caça de uma pessoa para se tornar minha versão 2.0. Dessa vez não é uma busca por talentos inexperientes, de forma que estaremos aceitando apenas pessoas que já se f... com larga experiência em programação Windows.
Segue a descrição da vaga, feita por mim mesmo, sozinho. Interessados: sem timidez, please.
# Biutiful
Caloni, 2011-02-13 cinema movies [up] [copy]Este é mais um filme que flerta com o mundo após a morte, como o Além da Vida de Eastwood, mas com uma interpretação tensa de Javier Bardem (Vicky Cristina Barcelona), que faz Uxbal, um pai separado que tem que tomar conta dos dois filhos pequenos e de seus negócios escusos, como produtos falsificados por chineses semi-escravos.
Com um dom em ouvir os mortos logo antes deles passarem dessa pra melhor, ele próprio fica sabendo de sua iminente morte por conta de uma doença. Aliás, a mudança sutil, mas perceptível, que Uxbal toma diante da vida após esse fato é um dos pontos mais positivos da interpretação de Javier Bardem, que esbanja auto-controle na criação de um dos seus personagens mais densos. Note, por exemplo, sua tentativa, quase sempre lograda, de tentar se controlar perante sua mulher bipolar.
Com uma fotografia tensa, câmera tremida e um estudo de personagem que poderia ser melhor, Biutiful termina com uma tensão problemática que afoga as premissas iniciais da história em um marasmo que prejudica sua conclusão, embora nunca seu estilo.
# Pagando Bem, que Mal Tem?
Caloni, 2011-02-13 cinema movies [up] [copy]Embora Seth Rogen possua um carisma que transforma as piadas de sua boca, por mais insossas que sejam, como a coisa mais divertida do mundo, o fato é que "Pagando Bem" mal consegue se segurar em sua narrativa confusa e embaraçosa.
Dirigido e escrito por Kevin Smith, que se saiu muito melhor em Dogma, o filme parte da fraca premissa que o par de amigos (não são namorados) que moram juntos, Zack e Miri, quando se veem com problemas financeiros que culminam no corte de água e eletricidade do seu lar, logo decidem que a melhor maneira de arrecadar mais dinheiro e, quem sabe, se tornarem ricos e famosos, é produzir um filme pornô, em que eles mesmo participem "atuando".
Isso não seria tão estranho para uma comédia escrachada que se supõe ser esta, mas se torna um problema a partir do momento que o filme tenta se levar a sério e desenvolver a relação dos dois a partir de uma atração oculta que os amigos tinham entre si por todos esses anos (se conheceram no colégio), e que se revela ao terem que interpretar uma cena de sexo real.
# Um Segredo entre Nós
Caloni, 2011-02-13 cinema movies [up] [copy]"Fireflies in the Garden" começa de uma forma incisiva, demonstrando já em sua primeira cena a ignorância e infantilidade do pai do protagonista, Michael (Ryan Reynolds), quando este o manda ir embora para casa a pé, o expulsando do carro por ter perdido os óculos e atrasado a família para buscar a tia no aeroporto.
Se começa com uma introdução forte, o fato é que todo o resto é uma tentativa de martelar o mesmo conceito várias vezes de maneiras diferentes, o que soa enfadonho, por nunca desenvolver realmente a relação entre os personagens, e ofensivo, pois assume que o espectador, depois de meia dúzia de inserções explícitas sobre a relação malformada daquela família, ainda não seria capaz de compreender o que se passa por trás daquele lar.
Como se não bastasse, ainda precisamos ir e voltar no tempo para entendermos as consequências dos atos passados na relação entre as pessoas daquela família no presente.
# Deixe-me Entrar
Caloni, 2011-02-17 cinema movies [up] [copy]Apesar de ser um remake, e os diálogos, os cenários e muitos ângulos se assemelharem ao original sueco de 2008, o filme estabelece seu próprio estilo baseado principalmente na trilha sonora, na fotografia e na maneira peculiar do diretor Matt Reeves contar um romance-terror entre dois jovens. Eu diria mais: o filme, do ponto de vista estético, empolga em um nível suficiente para renovar o defasado gênero de terror.
A trilha sonora, por exemplo, segue o ritmo das descobertas de Owen, o garotinho solitário de pais divorciados que costuma cantarolar no deserto playground do prédio onde mora, acerca de sua nova amizade, Abby, uma menina que aparenta ter sua idade e muitos segredos por trás do seu jeito estranho de se relacionar. Essa estranheza mais uma vez é destacada pela música, que aos poucos transforma suas notas nas combinações clássicas de terror dos anos 80.
Já a fotografia não poderia ser mais adequada para a história que conta. Com tons sombrios, e inclusive personagens que surgem das sombras ou vistos apenas pela silhueta, a iluminação praticamente escancara o estado de espírito das duas crianças e, inclusive, da própria cidade, que parece viver um período turbulento de assassinatos.
Com uma direção sincronizada com a direção de arte, que compõe elementos nos cenários que por si só já explicam muito mais que os econômicos diálogos, temos um terror mais sombrio do que se fosse explicado verbalmente. (Quando vemos Owen olhar para a foto da pequena Abby, por exemplo, muitos sentimentos e pensamentos vem à mente do espectador. E isso sem nenhuma fala.)
No entanto, a cena que mais gosto é quando Abby abraça Owen por trás, em um enquadramento que poderia muito bem resumir toda a trama de forma impecável. As participações sensíveis dos atores-mirins Kodi Smith-McPhee (Owen) e Chloe Moretz (Abby) tornam a experiência mais rica possível. E é muito bom rever Hit-Girl (Kick-Ass) de volta à ativa.
Com a única cena insuperável no original sendo a conclusão na piscina (que no original consegue um ângulo e iluminação em que podemos "ver" toda a ação se desenrolando de um único ponto de vista), o novo Deixe-me Entrar surge como uma prova de que não devemos ter preconceitos quanto aos remakes americanos de filmes falados em outro idioma. Ainda que de vez em quando assistamos pavorosas produções.
# A Noiva Perfeita
Caloni, 2011-02-20 cinema movies [up] [copy]Luis Costa (Chabat) é um solteirão que vive com a mãe e suas inúmeras irmãs e que não deseja se casar tão cedo, apesar de já estar na casa dos 30. Pressionada pela família, que não aguenta mais os mimos que ele recebe, ele tem que encontrar uma pretendente o quanto antes. Não aguentando tanto assédio, resolve então "contratar" uma noiva para estragar o casamento e lhe dar um tempo de sossego.
Apesar de atuações promissoras de Alain Chabat e Charlotte Gaingsbourg, o longa cai na própria cilada, pois cria situações que mudam muito rápido e não conseguem convencer o espectador que aquelas pessoas são de carne e osso.
Com muitos erros de continuidade no ritmo da narrativa (além de deslizes bobos como a cena do decote), a situação fica ainda um pouco pior. De qualquer forma, é um filme que ganha pontos nos ótimos diálogos e em atuações competentes.
# O Turista
Caloni, 2011-02-20 cinema movies [up] [copy]Há filmes que enriquecem ainda mais em uma revisita (O Sexto Sentido, Donnie Darko, Cidade dos Sonhos). Porém, ter um segredo final que pode mudar tudo o que vínhamos assistindo desde o início nem sempre se revela uma boa ideia (Os Esquecidos, A Caixa, A Passagem). Infelizmente, O Turista se encaixa nessa segunda situação.
Ainda que Johnny Depp perceba que seu personagem não é mais do que uma pista-recompensa de qualidade duvidosa, não há muito o que fazer senão apresentar Frank como um ser inexpressivo que vive um relacionamento improvável com uma mulher que acabou de conhecer em sua viagem a Veneza. Dando-lhe uma carona em seu barco, ela o apresenta no hotel onde está hospedada como seu marido, o que, convenhamos, é uma situação incomum, mas, aqui, a mulher misteriosa não é qualquer uma, mas Angeline Jolie, o que torna a experiência bem mais aceitável.
Ponto fraco: história que desaba em uma revisita, ainda que mentalmente, depois de ter assistido.
Ponto forte: Angeline Jolie.
# Simplesmente Feliz
Caloni, 2011-02-20 cinema movies [up] [copy]Personagem carismática, a professora de primário Poppy faz de tudo para fazer as outras pessoas felizes e faz todo o tipo de piada e gracinha porque ela mesma deseja estar feliz o tempo todo. Morando aos 30 anos com uma amiga de longa data, ela renega os padrões convencionais que determinam o que seria uma vida feliz: casar, ter filhos, etc. Mais importante do que isso é tentar sempre melhorar o dia, nem que isso custe se aventurar pela discrição e mau humor das pessoas londrinas.
Aparentemente, a ideia do longa era passar o valor de toda essa felicidade através da carismática Sally Hawkins, que aqui constrói uma personagem simpática no sentido mais literal do termo. Porém, nem só de boas intenções vive um filme, e a narrativa, apesar de muito frutífera em combinações de história e construção do ritmo do dia-a-dia de Poppy, se esvai por falta de alguma motivação mais palpável ou até de algum conflito que estabeleça algo para onde o espectador deva olhar.
# 127 Horas
Caloni, 2011-02-23 cinema movies [up] [copy]Com uma introdução em tela cortada em três partes, mostrando diversos cenários que evocam o dia-a-dia das pessoas e, principalmente, a correria dessas pessoas para quem o tempo é um bem cada vez mais escasso, o novo longa de Danny Boyle (Quem Quer Ser Um Milionário?) nos apresenta Aaron, sem muita distinção do resto da multidão. Na verdade, ele não é muito diferente de nenhum de nós.
Nos fins de semana, Aaron se diverte indo para ambientes desérticos para fazer "canyon biking" e escaladas. Em sua viagem que vemos no filme, ele conhece duas garotas pelo caminho, e juntos se divertem caindo em um lago subterrâneo. Logo depois ele prossegue sua caminhada sozinho por um tempo, escorrega em uma rocha e... acaba tendo seu braço esmagado por essa mesma rocha, ficando preso em um lugar isolado de tudo e de todos.
Nessa hora, e somente nessa hora, vemos o título do filme. O que não é pouca informação. De cara podemos concluir que 1) Aaron passará um tempo já fixado nessa situação de isolamento e 2) ele sairá de lá de qualquer maneira.
Através da segunda conclusão já sabemos que o filme é inteligente o suficiente para supor que nós, o público, não seremos facilmente enganados por falsas ameaças de morte. O roteiro prefere, então, focar nas sensações de uma pessoa, qualquer pessoa, que se encontre nessa situação.
E o que mais impressiona, de fato, é que essas sensações são muito semelhantes ao que sentimos em cada infortúnio que nosso herói passa. Para conseguir essa aproximação, o roteiro se utiliza de um artifício inteligentíssimo que consiste em nos transportar para as lembranças de Aaron que são devidamente imprecisas para nos dar a sensação dos pensamentos que nós mesmos temos inconscientemente, e que geralmente não passa pelos filtros mais rígidos do raciocínio consciente.
Para nos dar essa sensação um tanto subjetiva e distorcida da realidade, a direção usa um mecanismo igualmente inteligente, como sequências giratórias gigantescas que navegam de onde nosso herói está preso até onde havia deixado sua bike (algumas milhas de distância) e ângulos inusitados, com a troca constante da inclinação e do zoom com que a câmera se aproxima (e se distancia) do personagem.
As oscilações de zoom, aliás, se adequam perfeitamente à troca constante de fotografia, que oscila entre a lente convencional e a câmera usada por ele para registrar os breves momentos em que ele resolve se filmar. Em uma dessas cenas, aliás, existe um monólogo que lembrará a muitos a criatura Gollum, do Senhor dos Anéis.
Por fim, com o uso das habilidosas expressões de James Franco, que consegue traçar mudanças de humor facilmente em Aaron, conseguimos acompanhar com exatidão (e se você for uma pessoa atenta e não tiver visto o filme, é melhor parar por aqui) a dor e o sofrimento de alguns momentos cruciais no filme que poderiam se tornar simplesmente escatológicos, mas que com a ajuda de Franco se tornam sinceramente dramáticos, além de não perder a sintonia com a lógica da história.
É nessa hora que a sensibilidade de direção consegue tornar um final que poderia ser enfadonho, mas necessário, em um desabafo silencioso, deflagrado pela mudança de tom na trilha sonora e planos mais abertos, que acompanha os últimos passos do herói de uma maneira mais que adequada: simbólica.
Ponto forte: direção mantém um bom ritmo entre os pensamentos de Aaron e a própria ação acontecendo em um mesmo cenário.
# Cisne Negro
Caloni, 2011-02-23 cinema movies [up] [copy]Nina é uma dançarina de balé que, assim como muitas, devota toda sua vida a essa arte. Perfeccionista ao extremo e apoiada pela mãe controladora, ela está prestes a participar da escolha de quem será a nova protagonista de uma nova versão do clássico O Lago dos Cisnes, dirigida pelo seu controverso diretor Thomas Leroy (Cassel).
A primeira coisa que é notável na produção de Cisne Negro é a uniformidade nas escolhas da fotografia e direção de arte. A sinergia que ocorre entre os elementos do cenário, em sua maioria objetos e roupas das cores preta, branca e cinza, ajudam a fortalecer ainda mais todo o trabalho do projeto em busca da dualidade de sua protagonista.
Aliás, a dualidade de Nina e a insegurança sobre sua própria identidade são organicamente demonstradas pelo uso de câmeras em movimentos absurdamente competentes durante as danças e a troca constante do ponto de vista da câmera a partir de espelhos colocados organicamente na construção da cena.
E por falar em espelhos, eles são primordiais na construção da própria personagem e seu conflito interno. Usados de modo discreto e descarado, Nina e nós mesmos aprendemos a enxergar a realidade que nos é passada tanto através dos reflexos quanto através da própria realidade. Essa realidade, porém, e isso é o mais genial, também passa pelo filtro da lente da câmera que está filmando; e essa teima em tremer e parecer tão difusa, ou mais, que o próprio espelho. É o universo daquele mundo saindo de campo de visão e atingindo significados metafóricos.
Dono de um invejável controle sobre a profundidade crescente com que trata os distúrbios emocionais de Nina, cada vez mais afetada pela pressão que a cerca de todos os lados, o roteiro, além de usar um modelo que difere do usual em filmes do gênero, ainda aposta acertadamente na inteligência do espectador para juntar as pontas conforme caminhamos para o desfecho.