# Anarchism vs. Objectivism by Harry Binswanger

Caloni, 2016-02-15 tag_philosophy [up] [copy]

Um texto bem longo e denso. Um desafio e tanto resumi-lo ¿. Em primeiro lugar, é necessário entender que não há opção de não impor uma moral. Uma moral é sempre um requisito de uma sociedade civilizada, ou até a maneira de um indivíduo se relacionar com o mundo. Dessa forma, um governo constituído de uma forma objetiva ainda irá impor a moralidade que se defende de agressão. A questão de agências de segurança é isso: são instituições que irão promover uma moral pelo uso da força. Um governo também é isso, só que movido pela filosofia objetiva de seus cidadãos. Se estes não possuem racionalidade de constituir um governo assim, como ocorreu com os EUA, como eles poderiam patrocinar agências de segurança melhores que isso? Recai a questão do rei filósofo de Platão. As massas são incapazes de escolher a melhor filosofia, então os militares forçam essa filosofia. Mas a questão continua: as massas e os militares não saberiam qual filosofia suportar. Agências de segurança não competem em um mercado, pois este mercado não existiria em um ambiente onde há troca de tiros. Pense em agências de segurança não como coletivo, mas indivíduos. Se um usa a força contra o outro, não há competição, apenas o uso da força. Criar um governo é separar a força do capricho. Todos os seus cidadãos devem concordar em abrir mão do uso da força por capricho, e apenas seguir a filosofia objetiva sob a qual a sociedade em que vive é fundada. A própria esquerda pode achar que o acúmulo de capital é coerção e instituir uma agência de segurança para fazer valer sua moral pela força. E todo uso da força é monopolista. Não há competição (a não ser que considere uma guerra uma competição, mas de forma alguma isso pode ser considerado voluntário). Não usar força, nem como retaliação, seria a única forma de anarquismo coerente. Ex: se eu atiro de volta em quem me atira, estou impondo minha moral de não haver força iniciada sobre mim. A solução anarquista consistente é apenas convencer racionalmente a não atirar em mim, o que é pacifismo. Não há imposição de moral em um governo. O que ele faz é garantir a liberdade de seus cidadãos agirem virtuosamente se assim o quiserem, mas nunca forçá-los. Ele faz isso em nome da moram, mas sem impô-la. Se é moralmente defensável que um homem de defenda, também o é juntar com outros homens e fazer o mesmo por procuração: um governo objetivista. A diferença entre um governo e uma agência de segurança é que um governo está agindo sob um controle objetivo. Dessa forma, anarquistas que são contra um governo são na verdade inimigos do objetivismo, pois querem ter o "direito" de usar força sob capricho. O argumento que governos crescem naturalmente. O motivo: filosofia errada. São as ideias dos homens que guiam seu governo. 22:04 leituras: Libertarianism and Moral Disintegration - Joseph Rowlands A questão aqui é que o libertarianismo não possui uma base moral para extrair o princípio ético e político da não-agressão. Dessa forma, um libertário deve aceitar essa regra sem ser uma escolha consciente, uma conclusão lógica da racionalidade. Em vez de ser um guia moral, o PNA vira uma regra aceita e que, uma vez que interfira nos desejos egoístas do indivíduo, se torna um empecilho. Se for seguida sem ser aceita de forma consciente, portanto, obedecê-la vira uma forma de altruísmo (sacrifício pelos outros sem razão). Por último, não há virtudes em seguir uma vida moral, por atingir uma virtude moral. Não existe certo e errado no libertarianismo, apenas o proibido. 22:05 leituras: Your Dog Owns Your House - Anthony de Jasay De maneira a surpreender o leitor, Anthony de Jasay traduz o pensamento socialista em um texto a respeito de como alguém deve sua casa a todos os envolvidos direta, indireta e historicamente, desde o cachorro que a protege até Cristóvão Colombo, por ter descoberto a terra onde ela está. Depois discute esse mesmo conceito aplicado a outras propriedades e frutos do trabalho de alguém. Na segunda parte do texto ele desmistifica a falácia. Primeiro desmente esse nonsense que é existir um ente chamado sociedade, com desejos e racionalidade. Depois, lembra a todos que as trocas entre indivíduos que houve na construção da casa já foram pagas por algum tipo de valor, monetário ou não. Para finalizar, destrincha a última defesa esquerdista: de que essas trocas são efetuadas de maneira desigual em nível de informação. A defesa é incisiva: se não é possível determinar o nível de desigualdade em trocas voluntárias, é descabido corrigir esse processo usando trocas coercitivas, pois daí sim não haverá nem como estabelecer que durante a troca houve uma contagem de valores (desiguais ou não). Conclui estabelecendo que trocas voluntárias, diferente das coercitivas, é a única que não utiliza um mecanismo imoral para atingir um objetivo moral. O Library of Economics and Liberty parece um repositório bem interessante de artigos, livros e pensamentos liberais, libertários, anarquistas.


# 50 Clássicos da filosofia (Bowdon, Tom Butler)

Caloni, 2024-08-05 tag_philosophy tag_quotes [up] [copy]
"Os filósofos gostam de acreditar que estão erigindo sistemas imparciais e rigorosos para explicar a ação humana e o universo, quando, na realidade, as filosofias são expressões de inclinações e perspectivas pessoais."
William James (Pragmatismo)

Livro bacana e simplista sobre alguns tópicos explorados por alguns filósofos. Não é rigososo, mas é muito gostoso de ler pelo leigo, pois possui uma cadência mais voltada para apenas explicar as conclusões sem exigir a argumentação. É o oposto de Just the Arguments, que mantém o rigor bem em alta (e faz queimar alguns neurônios).

Recortes

Bertrand Russell registrou quase a mesma ideia em sua obra de caráter muito pessoal A conquista da felicidade. Ele escreveu que o esforço, ainda mais que o sucesso, é um ingrediente essencial da felicidade; uma pessoa que é capaz de satisfazer todos os seus caprichos sem esforço considera que a realização dos desejos não contribui para a felicidade. Um foco sobre o eu é uma causa de infelicidade, ao passo que a alegria vem de direcionar nossos interesses para fora, jogando-nos para dentro da vida.
“As atividades em acordo com a virtude guiam a felicidade”, disse Aristóteles. Portanto, a felicidade não é o prazer, mas um subproduto de uma vida significativa, e a importância tende a vir do empenho e da autodisciplina.
O orador romano Cícero acreditava que cada indivíduo é uma centelha ou uma lasca de Deus, e, assim, tratar outro ser humano mal é como agir contra nós mesmos.
Platão acreditava que fazer a coisa certa é a própria recompensa, uma vez que harmoniza as três partes da alma (razão, espírito e desejo).
Alguns séculos antes, na China, Confúcio disse praticamente a mesma coisa, observando que, embora nasçamos humanos, nos tornamos uma pessoa por meio do cumprimento de papéis responsáveis na sociedade de uma forma altruísta.
Em seu livro de referência, Uma teoria da justiça, John Rawls pede que imaginemos que todo mundo em uma sociedade perdeu sua memória sobre seu lugar e seu status e, em seguida, que configuremos uma nova sociedade baseada em conceder a máxima oportunidade para todos florescerem. Considerando que na loteria da vida poderíamos ter nascido tanto pobres quanto reis, não nos esforçaríamos para garantir que todos tivessem ao menos uma oportunidade igual de sucesso?
Essa perspectiva utilitarista nos leva até Jeremy Bentham, no século XVIII. Bentham passou a vida promovendo seu princípio da “maior felicidade ao maior número de pessoas”.
Em Quanto custa salvar uma vida?, o filósofo contemporâneo Peter Singer cita Epicuro: “É impossível levar uma vida agradável sem também viver de forma sensata, nobre e justa”. A boa vida não consiste apenas em ter boa saúde, propriedades, carros novos e feriados, mas em pensar e agir sobre o que pode ser feito para tornar o mundo mais justo.
A filosofia de Rawls está na mesma tradição de Rousseau, que acreditava que uma sociedade livre eleva e enobrece os seus cidadãos, mas também implica responsabilidades e uma disposição de abrir mão de um tanto de liberdade pessoal em prol das necessidades do todo.
A atemporal argumentação de John Stuart Mill acerca da liberdade individual, Sobre a liberdade, continha seu famoso princípio do “dano” para assegurar liberdade: “O único propósito pelo qual o poder poderá ser legitimamente exercido sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra a sua vontade, é para evitar dano a outrem”.
O problema, como Maquiavel enfatizou com sinceridade brutal em O príncipe, é que o cidadão comum simplesmente não considera o que é preciso para manter um Estado poderoso e pode continuar a viver uma vida moral, enquanto os governantes precisam tomar decisões “sujas”.
Noam Chomsky, uma perene pedra no sapato da complacência liberal ocidental, tem uma visão similarmente obscura do poder. Ele acredita que a maioria dos Estados contemporâneos é configurada para servir aos interesses do poder, e o verdadeiro inimigo dos que estão no poder é sua população; a maioria das guerras é projetada para tirar a atenção da situação interna.
Iris Murdoch, que defende em A soberania do bem que, se buscarmos o bem primeiro, tudo o mais que vale a pena virá até nós naturalmente. Ao contrário, se buscarmos apenas a vontade muscular, isso é tudo que teremos no fim das contas.
Kant também acreditava que, como seres humanos existentes no espaço e no tempo, e com as limitações de nossos sentidos, estamos impedidos de perceber as coisas como elas realmente são (“coisas em si”). Mas há uma verdade metafísica elementar por trás do mundo de percepções, e, por meio da razão, podemos ao menos nos aproximar um pouco dela.
Para Hegel, a verdadeira história da ciência não é a “descoberta do universo”, mas sim a descoberta de nossa própria mente – da própria consciência. História, ciência e filosofia são simplesmente expressões de como a consciência despertou ao longo do tempo.
De fato, como o filósofo da ciência Thomas Kuhn mostrou em A estrutura das revoluções científicas, e Michel Foucault também observou, o conhecimento não procede em uma linha pura para cima, com um edifício de descobertas sobre o outro; em vez disso, cada era tem uma lente através da qual se vê o mundo, e algo é percebido como real apenas se a lente permite que seja visto assim.
Em Investigações filosóficas, Wittgenstein admitiu que tinha se equivocado na visão expressa anteriormente em seu Tractatus Logico-Philosophicus de que a linguagem é um meio de descrever o mundo. As palavras não apenas nomeiam as coisas; muitas vezes elas transmitem um significado elaborado, e muitos significados diferentes a partir da mesma palavra. A linguagem não é uma lógica formal que marca os limites de nosso mundo, mas um jogo social em que a ordem do jogo é livre e evolui.
Hoje, uma pessoa não é um projeto na sua individualidade, buscando o que é “verdadeiro”, e sim se assemelha mais a uma máquina que consome e reproduz ideias e imagens.
Arendt recorda a ênfase de Jesus de Nazaré na ação, especialmente no ato de perdoar, como ponto importante da história, pois essa descoberta concedeu a nós, e não apenas a Deus, o poder de anular ações passadas.
Arendt escreve: Somente por meio dessa constante libertação mútua daquilo que fazem, os homens poderão continuar sendo agentes livres, somente pela constante disposição de mudar a mente e recomeçar é que poderão receber em confiança um poder tão grande para começar algo novo.
A distinção entre homem e animal permeia a própria espécie humana: apenas os melhores (aristoi), que constantemente provam ser os melhores e que “preferem a fama imortal às coisas mortais”, são realmente humanos; os outros, contentes com quaisquer prazeres que a natureza lhes traz, vivem e morrem como animais.
A “causa final” de Aristóteles diz que tudo na natureza é construído com um fim ou objetivo em mente: uma árvore ou uma pessoa é programada para florescer de uma determinada maneira e usa as condições disponíveis para fazê-lo.
Uma vida de mero prazer, uma vez que nos priva de atividade racional e funcional ao longo de uma existência em busca de um objetivo, não vai nos tornar felizes.
A felicidade genuína surge por meio do trabalho em nós mesmos e em nossos objetivos ao longo do tempo. “Uma andorinha só não faz verão, tampouco um dia”, diz Aristóteles, “nem, da mesma forma, um dia ou um curto espaço de tempo nos torna abençoados e felizes.” Ele descreve o próprio tempo como “um bom parceiro na descoberta”, revelando tanto a nossa natureza como a do mundo.
Por meio da ação plenamente justificada e construtiva, ajudamos os amigos a alcançar seus objetivos, e, ao fazê-lo, nossas qualidades racionais ou nosso caráter são ampliados. Naturalmente, isso nos faz felizes. O mesmo princípio aplica-se à comunidade ou cidade em que vivemos. Trabalhando para sua melhoria, é natural que fortaleçamos nosso caráter e, portanto, aumentemos nossa felicidade.
Nós nos tornamos construtores construindo e nos tornamos harpistas tocando harpa. Da mesma forma, então, nos tornamos justos praticando ações justas, moderados praticando ações moderadas, corajosos praticando ações corajosas”. Em outras palavras, nós nos tornamos pessoas bem-sucedidas pelo hábito.
Uma pessoa bem-sucedida e feliz é aquela que é estável por meio do cultivo da virtude, que torna os caprichos da fortuna irrelevantes. É essa estabilidade, nobreza e magnanimidade que mais admiramos. “As atividades segundo a virtude guiam a felicidade”, diz Aristóteles.

A maior parte da língua diz mais sobre o falante do que sobre a “realidade”.

O pensamento de Ayer sobre a verificabilidade e as declarações significativas veio de sua crença no “naturalismo” ou na ideia de que a filosofia deveria ser tratada no mesmo nível que a ciência natural, ou seja, colocando todo tipo de afirmação da verdade sob o escrutínio mais minucioso. Embora não tivesse esperança de desmantelar todo o campo da metafísica, conseguiu limitar os filósofos a pronunciamentos que ao menos fizessem sentido.
A ideia pós-modernista é que os seres humanos são essencialmente construções moldadas pela linguagem, pela socialização e pelas relações de poder, mas Baggini conclui que somos mais do que meras construções: temos unidade e continuidade, mesmo não tendo uma essência fixa ou alma eterna.
Considerando sua posição relativamente privilegiada – carreira docente, nível universitário, frequência em círculos intelectuais parisienses –, Beauvoir nunca tinha experimentado a sensação de injustiça ou desigualdade. No entanto, começou a perceber que as pessoas a enxergavam como inferior a Sartre apenas porque era do sexo feminino.
Uma pessoa é um homem, e nenhuma explicação a mais é necessária, enquanto uma mulher deve ser descrita como uma pessoa do sexo feminino. O resultado, comenta Beauvoir, é que a mulher é “a incidental, a inessencial, como o oposto ao essencial. Ele é o sujeito, ele é Absoluto – ela é o Outro”. Ela observa que o termo “Outro” pode ser aplicado a qualquer grupo da sociedade que não é considerado o grupo “principal”.

# Evidence for sugar addiction Behavioral and neurochemical effects of intermittent, excessive sugar intake (Nicole M. Avena, Pedro Rada, and Bartley G. Hoebel)

Caloni, 2024-08-23 tag_philosophy [up] [copy]

Lendo um paper sobre relação entre açúcar e o comportamento de vício em outras drogas.

Recortes

“Food addiction” seems plausible because brain pathways that evolved to respond to natural rewards are also activated by addictive drugs.
The evidence supports the hypothesis that under certain circumstances rats can become sugar dependent. This may translate to some human conditions as suggested by the literature on eating disorders and obesity.
A well-known characteristic of addictive drugs is their ability to cause repeated, intermittent increases in extracellular dopamine (DA) in the nucleus accumbens (NAc) (Di Chiara and Imperato, 1988, Hernandez and Hoebel, 1988, Wise et al., 1995).
This consequently leads to changes in the expression or availability of DA receptors (Colantuoni et al., 2001, Spangler et al., 2004).
Animals sensitized to one substance often show cross-sensitization, which is defined as an increased locomotor response to a different drug or substance.
It is well established that addictive drugs activate DA-containing neurons in areas of the brain that process behavior reinforcement.
The mesolimbic DA projection from the ventral tegmental area (VTA) to the NAc is frequently implicated in reinforcement functions (Wise and Bozarth, 1984). The NAc is important for several components of “reward” including food seeking and reinforcement of learning, incentive motivation, stimulus salience and signaling a stimulus change (Bassareo and Di Chiara, 1999, Berridge and Robinson, 1998, Salamone, 1992, Schultz et al., 1997, Wise, 1988).
A variety of foods can release DA in the NAc, including lab chow, sugar, saccharin, and corn oil
Ingestion of palatable foods has effects via endogenous opioids in a variety of sites (Dum et al., 1983, Mercer and Holder, 1997, Tanda and Di Chiara, 1998), and the injection of mu-opioid agonists in the NAc increases intake of palatable foods rich in fat or sugar (Zhang et al., 1998, Zhang and Kelley, 2002). Opioid antagonists, on the other hand, decrease ingestion of sweet food and shorten meals of palatable, preferred foods, even at doses that have no effect on standard chow intake
Rats fed daily intermittent sugar and chow escalate their sugar intake and increase their intake during the first hour of daily access, which we define as a “binge”
The animals with ad libitum access to a sugar solution tend to drink it throughout the day, including their inactive period.