# O Vencedor

Caloni, 2011-04-02 cinema movies [up] [copy]

O filme começa como um documentário, mas corta para outro documentário sobre o vício do irmão. Isso acaba derrubando nossa visão inicial, mas o tom documental dá realismo ao filme.

A atuação de Bale é tão mais presente que consegue apresentar essa dualidade do antigo campeão de forma impecavelmente equilibrada.

Cortes ritmados e de precisão cirúrgica aumentam o tom documental para algo maior, e são os letreiros de "Baseado em fatos reais" que nos remetem novamente para o princípio da história.

Cortes que usam música e som conseguem cortar com um efeito sonoro, como o gongo do ringue, sem soar clichê.

A fotografia ajuda tanto em reforçar o realismo fora dos ringues, aplicando uma granularidade, quanto nas lutas decisivas, pela diminuição da resolução e pequenas "falhas" de transmissão (e o fato da resolução ser sofrível nos remete às TVs que sua família usa para assistir às lutas, fato ligado por um belíssimo corte para fora da cena e dentro de outra cena, a casa da mãe, de onde a imagem é colocada apenas "referenciada" pela fotografia).

A forma como Micky ganha sua última luta antes de disputar o título com ajuda da dica do irmão é essencial, pois restabelece a ligação entre eles antes mesmo de Dicky sair da prisão (e a forma dele "assistir" à luta é igualmente importante, pois simboliza a união daquela controversa família).

O passado de Dicky sempre é mostrado com o que restou na vida real: relatos do próprio Dicky e o VT da luta.


# O Senhor das Armas

Caloni, 2011-04-07 cinema movies [up] [copy]

O roteirista-diretor Andrew Niccol, que esteve nessa função dupla nas produções Gattaca e S1mone, além de ter escrito O Show de Truman e O Terminal, dessa vez parte para uma imersão no real, tratando do submundo do comércio ilegal de armas.

Nicholas Cage faz Yuri Orlov, um negociante de armas ilegais, durante sua ascenção em uma carreira mais que controversa. Narrado em off, insere-se no papel por completo, e ao mesmo tempo que narra as atrocidades que seus clientes fazem com as armas e toda a podridão que existe por trás de sua profissão, parece nunca fazer parte disso, alheio aos problemas locais das várias partes do mundo que visita. Mesmo sua mulher, tão desejada em sua adolescência, não o preenche tanto quanto sua profissão, e nisso é relevador que o momento em que seu filho dá seus primeiros passos é o mesmo momento em que ele fica em êxtase, não pelo filho, mas sim pelo fim da Guerra Fria, significando mais possibilidades de comércio de armas para ele.

Há um motivo para a introdução do personagem ser tão corrida e artificial. Como veremos a partir do segundo ato, a única coisa que torna Yuri Olov vivo são as vendas de armas que negocia de maneira tão magistral. E vê-lo comparar suas vendas a sexo não é um ato gratuito.

Vindo de uma família que no passado fingiu ser judia para conseguir se repatriar, o que reforça sua crise existancial em torno do seu mundo, Orlov admira sua própria importância no contexto em que se insere. A parte que melhor resume toda essa imersão é quando, conversando com sua mulher sobre seu trabalho, em certo momento diz que não é sobre o dinheiro, mas que ele faz aquilo realmente bem. Cada vez que ele visita seus clientes, aos poucos nos sentimos cada vez mais como ele: morto por dentro, onde a única excitação é negociar as armas.

Por outro lado, a insistência de manter seu irmão mais novo no negócio em momento nenhum é justificado. Talvez apenas um conforto tê-lo presente, pois não constitui nenhuma ajuda.

Mesmo com um tropeço aqui e ali, a direção consegue destacar as características de cada personagem em cada região e unificar Yuri como o elemento em comum, o facilitador de todos. Nicholas Cage, por sua presença de espírito prova mais uma vez ser um bom ator nos papeis certos, e aqui não é uma exceção.

Ao mesmo tempo, as narrações em off conseguem na maioria do tempo harmonizar com a ação, que não é pouca. O próprio uso dessas transições entre as regiões serve como continuidade da própria história, em um ótimo exemplo de economia narrativa.

Ao evitar computação, principalmente em cenas como o pouso do avião, ou até mesmo os tanques enfileirados na entrada da Ucrânia, torna toda a experiência mais realista. Houve um trabalho igualmente recompensado em escalar figurantes locais, que se adequam ao cenário como nunca, como a cena em que vemos uma velha senhora enfileirando os ladrilhos de uma rua. Ao mesmo tempo, nota-se a competência em tentar encaixar a melhor fotografia e trilha sonora com o momentum do personagem.

Mesmo com todas essas virtudes técnicas, a filosofia (ou a mensagem) por trás da história é o ponto forte do longa, que consegue, em seus momentos finais, causar o que todos esperamos ao assistir um bom filme: reflexão.

Trivia

É irônico o fato dos produtores do filme trabalharem realmente com gunrunners de armas ilegais para conseguir as armas, e ser mais barato as armas reais do que se falsificassem.

O filme foi financiado por instituições internacionais (nenhuma produtora dos Estados Unidos bancaram o filme).


# A Minha Versão do Amor

Caloni, 2011-04-27 cinema movies [up] [copy]

Paul Giamatti é uma das melhores surpresas que se poderia esperar desse início de século para o cinema. Sempre envolvido em história no mínimo curiosas (Sideways) e em no máximo transcendentais (Sinédoque), temos aqui um conjunto das duas coisas espelhadas em um personagem desde os primeiros minutos de projeção que nos fascina pela sua mente conturbada e sua alma acuada, tão humano quanto qualquer um de nós foi em um dado período da vida.

Reparem na lentidão interpretada de Giamatti conforme os anos vão se passando, por exemplo - e são muitos! o filme estabelece uma cronologia, quase sem cortes, de mais de 30 anos -, ou, conforme suas bebedeiras o tornam mais sonolento, o que pode ser sentido em sua expressão de dor interna.

A economia narrativa do final acaba superando o do próprio filme, quando vemos Barney, em seus últimos momentos, contemplando no mesmo cenário os acontecimentos que irão fazer com que ele entenda, mesmo com a já muito debilitada mente, o que ocorreu naquele fatídico dia.

Para os que acham que o filme é lento e contém partes desnecessárias de sua história que nada contribuem para o último e derradeiro relacionamento de Barney, sugiro assistirem de novo, mas dessa vez enfocando em como é possível que um ser humano se dedique tanto a conseguir algo por tanto tempo, e o que fez desse homem um ser tão obstinado por algo? Então verá que cada elemento da história inicial compõe a psique do protagonista, o que nos faz entender suas ações antes mesmo que ele as pratique. A montagem desse mosaico que aos poucos se fecha ganha uma dramaticidade justamente por isso.


# A Revolução dos Bichos

Caloni, 2011-04-27 cinema movies [up] [copy]

Nunca recomendo a ninguém que leia um livro antes de assistir à sua adaptação cinematografia. Por motivos óbvios. É grande a chance que a pessoa irá se decepcionar com relação a detalhes ou omissões do roteiro, construção de personagens e cenários que já estavam dentro do imaginário do espectador antes mesmo dele vislumbrar a primeira cena do filme. Isso pode ser maléfico em muitos casos, e benéfico em raríssimas exceções, das quais lembro de cabeça apenas Contato.

Dito isso, acredito que A Revolução dos Bichos é um caso em que um livro tão antigo e, muito provavelmente, lido pela maioria dos espectadores (pelo menos os cultos), irá tornar a experiência de assistir ao filme um exercício de mente seletiva, que terá que abandonar seus conceitos criados a partir da leitura e entender como é possível transformar partes tão bizarras da história em algo verossímil, ou mesmo, aceitável do ponto de vista da narrativa.

De forma que temos, no exemplo de 99, uma aparente deformação na forma de contar a história que, se excluída a experiência da leitura prévia, pode ser proveitoso.


# Amor e Inocência

Caloni, 2011-04-27 cinema movies [up] [copy]

Depois de acompanharmos as divertidas adaptações dos romances de Jane Austen (Razão e Sensibilidade, Emma, Orgulho e Preconceito), chegou a hora de vermos a história da própria Jane, e como ela se tornou a escritora dos romances de época.

Em Amor e Inocência, como de praxe, o figurino e a direção de arte são impecáveis, com uma fotografia que exalta a presença dominante do verde e do ar livre nos jardins das residências interioranas, ao mesmo tempo que evoca um certo isolamento das famílias por conta disso.

A experiência tenta mostrar, assim como em "Shakespeare Apaixonado" (dadas as devidas ressalvas), como uma escritora conseguiu inspiração para desafiar os contratos sociais de sua época e colocar os desejos e sonhos da mulher em primeiro lugar em seus romances.

Com uma participação inspirada de James McAvoy, que interpreta o interesse amoroso de Jane (Anne Hathaway), e participações que ajudam a tornar o drama mais realista, como seu pai James Cromwell, ou a mãe de um afortunado partido Mr. Wisley (Fox), interpretado por Maggie Smith, o filme possui ótimos e bons momentos, nunca avançando demais na psique de Austen, mas ao mesmo tempo nunca deixando em segundo plano a história que pretende contar.


# As Mães de Chico Xavier

Caloni, 2011-04-27 cinema movies [up] [copy]

Como grande sucesso do primeiro longa metragem que mostra a vida do famoso espírita Chico Xavier, vemos uma tentativa de realizar uma franquia com um seriado de televisão e, agora, com histórias alternativas que giram em torno dos poderes do aclamado médium.

É triste, portanto, constatar que a pesquisa e tratamentos primorosos feitos na produção do primeiro filme tenham sido esquecidos em prol da dramatização barata, fruto talvez do subproduto da TV, mídia esta que consegue, às vezes, chamar a atenção para sua própria decadência.

É claro que temos aí mais uma vez a presença impagável de Nelson Xavier no papel uma vez principal, mas que agora ficou renegado a poucas e marcantes participações. Também conseguimos identificar o uso inteligente da fotografia, que ajudado pelo azul constante nos elementos de figurino e arte, consegue estabelecer um paralelo interessante, mas inócuo, entre a paz presente nos ambientes mais espirituosos/reflexivos do filme e em contraparte a tom mais escuro nas cenas mais pesadas para seus personagens. Tudo isso ajuda.

Mas é inegável que a qualidade na construção da narrativa decai em vários momentos, incluindo falta de coerência em juntar personagens que estão paralelizados pela própria convenção novelística usada, o que mais prejudica que ajuda a acompanharmos os diversos dramas mostrados.


# Instinto Secreto

Caloni, 2011-04-27 cinema movies [up] [copy]

Falarei brevemente deste que, para mim, é uma das maiores surpresas em Home Vídeo em muito tempo. A princípio, o filme emprega uma dinâmica inovadora com um mesmo personagem representado por duas psiques/atores, e o uso de atores que conseguem passar a impressão de serem a mesma pessoa (Kevin Costner e William Hurt) é mecanicamente a melhor coisa do filme.

Ao mesmo tempo que não agride a inteligência do espectador, usando-o, de maneira genial, como um quase cúmplice dos pensamentos internos de Mr. Brooks, temos a exata sensação do que se está passando em ambas as esferas sociais, o que mais uma vez é um mérito ganho pelo funcionamento peculiar da narrativa.

Apresentando-nos uma visão irônica e arrebatadora dos matadores em série, o filme consegue manter o interesse sempre crescente, com cenas que certamente figurarão entre os exemplos do que a arte cinematográfica bem dirigida consegue produzir.


# Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles

Caloni, 2011-04-27 cinema movies [up] [copy]

Cloverfield abriu o portal de obras de ficção filmados em estilo documental, mesmo em uma produção cara e mais aprimorada que o experimento primordial de Bruxa de Blair.

Portanto, o que vemos em Invasão do Mundo é um conceito já, de certa forma, aglutinado aos gostos do espectador. O que não quer dizer, é claro, que toda obra do gênero já parte do pressuposto que será uma experiência semelhante às obras anteriores, pois tudo sempre vai depender da condução da narrativa, independente da técnica que se use.

O que vejo que está acontecendo com obras que utilizam essa técnica é uma tentativa (ainda frustrada) de mesclar ambas as técnicas: a documental e a ficcional. Essa é uma tendência que vem se repetindo, em maior ou menor grau, por exemplo, em Distrito 9, Incontrolável, Skyline. Batalha de Los Angeles é, mais uma vez, uma tentativa ainda forçada de aproveitar as vantagens de um filme documental em um filme de ação.

O que temos como resultado são efeitos especiais (principalmente sonoros) de boa qualidade em cenas que criam a tensão artificialmente através dessa técnica. Ainda como uma armadilha da própria técnica, as transições para as cenas mais "motivas" sofrem o mesmo princípio artificial, tornando tudo uma experiência tediosa e, por muitas vezes, irritante.

Mas nada disso seria um problema tão visível se aí tivéssemos uma história interessante a ser seguida (o que não ocorre, mesmo com aliens pousando na costa de Los Angeles). O tom de artificialidade gerado pela técnica sugere mais que ela funcione como uma lupa para as deficiências na própria narrativa e caracterização dos personagens, artificiais desde o princípio.

De forma que, se por um lado o desenvolvimento da história fica prejudicado em prol do uso da técnica, a própria técnica esboça sinais de que ela sozinha não consegue sustentar um filme, por melhores que sejam os efeitos.


# Jumper

Caloni, 2011-04-27 cinema movies [up] [copy]

Em vários momentos de Jumper, principalmente na sua conclusão, podemos sentir o desperdício completo de uma boa ideia, melhor aproveitada em um filme mais intrigante do que este.

Apesar de vermos, por exemplo, alguns cortes "inovadores", em que o personagem com poderes avança vários metros à frente da calçada e a câmera faz uma mudança de foco dele para ele mesmo, e ainda que algumas cenas de ação sejam extremamente efetivas, como a perseguição de um Jumper pelo outro através dos lugares que este vai, não há nada mais vazio que a razão de ser dos paladinos, que acabam por representar, em seu máximo, uma desculpa boba para ação.

Fora isso, temos um par romântico que chega a ser pior que o casal "apaixonado" de Transformers, dada sua futilidade e a falta de uma evolução significativa nos personagens, ou até um sentido dessa relação existir.

Não contente em nos jogar simplesmente para uma conclusão simplista, temos aí uma dupla decepção, com o final com a mãe, que mais deixa questões do que resolve, e o desfecho com o paladino-mor, tão infantil, mais uma vez, do que o desfecho do próprio Transformers.

Sem contar a falta de imaginação, pois os dramas dos dois únicos Jumpers vistos no filme são semelhantes demais, dando a impressão que o que os faz serem assim são o problema com os pais.


# O Fantástico Sr. Raposo

Caloni, 2011-04-27 cinema movies [up] [copy]

Ainda que mantenha a simplicidade em suas premissas, e divirta por causa disso, para os adultos diverte ainda mais, pois temos a sensação de acompanhar uma história dupla, com os trejeitos adultos dos personagens animais em nossa volta. De quebra, ainda temos um pensamento filosófico, com a ideia que todos aqueles bichos agindo como humanos são "selvagens", cria-se uma impressão de que, no fundo, o ser humano pode se encaixar muito bem nessa perspectiva.


# Polaróides Urbanas

Caloni, 2011-04-27 cinema movies [up] [copy]

O único exemplo cinematográfico de Miguel Falabela como diretor demonstra o talento de seu idealizador no formato tão conhecido por ele e praticado por anos a fio: o teatro.

Considerar, contudo, Polaroides Urbanas como um filme, que deve narrar sua história principalmente por elementos visuais, ou pelo menos, que esses elementos ajudem os diálogos de seus personagens, isso é outra história.

De fato, o que vemos, é uma bela narrativa, prosaica até, com interpretações de primeiríssima linha (e que, mesmo assim, mal conseguem acompanhar o talento incomparável de Marília Pêra, que aqui faz duas personagens), é um filme que diverte e entretem na medida certa, e nos faz pensar em nossas próprias neuroses e as tempestades que criamos a partir de copos de água.

O final, contudo, não só define, como desmascara, literalmente, a origem teatral de sua história. É uma pena, portanto, que tenhamos um drama tão bem construído desfeito pela comédia desmedida, fruto, obviamente, do tom humorístico do seu idealizador.


# Rio

Caloni, 2011-04-27 cinema movies [up] [copy]

Mais um filme visto em castelhano. Tenho a dizer que os dubladores argentinos são tão competentes quanto os nossos, e acompanhar a trajetória de Blu por Rio de Janeiro, sob o ponto de vista dos portenhos, foi mais uma experiência pra vida cinematográfica.

O mesmo não se pode dizer do filme. Rio, se empolga em alguns momentos, possui aquele formato pré-definido que causa um desânimo em sua parte final, pois percebemos que fomos vítimas de personagens e situações engraçadinhas, mas que, holisticamente falando, não criamos nada de significativo.


# Turnê

Caloni, 2011-04-27 cinema movies [up] [copy]

Há um estudo de personagem envolvido em Turnê. Com base em sua trajetória, podemos dizer que os acontecimentos que acompanhamos nunca entendiam, pois abrem cada vez mais a cortina que obscurecia a verdadeira história do grupo de meninas que saem pela França fazendo shows bizarros com aspecto decadente e, principalmente, do seu empresário.


# Um Conto Chinês

Caloni, 2011-04-27 cinema movies [up] [copy]

Assistir um filme argentino, em espanhol, em Buenos Aires, pode ser uma experiência inspiradora, ainda mais se estivermos falando de Cinema com C maiúsculo.

Independente das minhas parcas capacidades de entender diálogos rápidos de castelhano, Cuento Chino consegue contar sua história com o uso de expressões, trilha sonora, e, principalmente, seu aspecto visual, que emprega um ritmo muito maior se fossem utilizados diálogos.

E, ironicamente, existe essa impossibilidade de comunicação entre os dois personagens principais do filme. Jun é um chinês que chega em Buenos Aires com o pé esquerdo. Enganado pelo taxista do aeroporto, cai nas "graças" de Roberto, uma pessoa tão reservada que deixa a entender que, mesmo que falassem o mesmo idioma, a comunicação já seria deficitária.

E agora, revisando o filme, sete anos depois, com legendas para todos os lados, a percepção muda um pouco.

Um Conto Chinês é ponto alto na carreira de Ricardo Darín, mesmo sendo uma dramédia de situação manjada e cheio de coincidências. A principal, de acordo com o letreiro inicial do filme, baseado em fatos reais. É difícil acreditar em vacas voadoras, mas... tudo se encaixa quando as pessoas começam a se comunicar.

Mas Darín é o coração do filme. Observe seu olhar irritado com seu cliente mais chato, e como ele monopoliza sua defesa pelo espectador. O trabalho em dupla entre o ator e o diretor/roteirista Sebastián Borensztein (que só fez mais um filme depois deste) rende bons frutos, já que este filme dispensa maiores diálogos. Está tudo na forma como as cenas são montadas. Isso é cinema no estado mais puro.

Alguns pontos irritam, como os atores coadjuvantes. Seu interesse amoroso, a hipnotizada Mari (Muriel Santa Ana) faz um papel de uma nota só (que se torna insistente demais; por que ela deseja tanto ficar com esse senhor rabugento?). E suas visitas costumeiras apenas preenchem o cenário construído sob medida para o personagem de Darín. Até seu chinês de estimação é um atrativo graças ao contraste realista que o ator emprega em tentar resolver seu problema da maneira mais rápida, mas bondosa, possível.

O que está em jogo nesse filme, mas que só fica claro próximo do final, é o poder da compaixão. De reconhecer o drama do próximo como se fosse de fato nosso. E por mais uma incrível coincidência do filme, se torna assim. Ironicamente é quando o filme perde sua liberdade e sua graça.

Mas até lá, tudo é conduzido com o coração e a intuição de um grande cineasta, que decupa suas cenas milimetricamente. O quarto bagunçado do hóspede é porta de entrada para a situação interna do anfitrião. E tem sido assim por 20 anos. Só começa a mudar quando o visitante do outro lado do mundo inicia a limpeza das velharias para fora de casa, e pinta com paciência uma parede em branco na vida de uma pessoa que tem uma rotina e seus rituais imutáveis por décadas. Mas como toda mudança, às vezes quebrar alguns vidros é necessário.

Em espanhol e chinês. Prefira assistir sem saber o que é falado em chinês.


# Houaiss 1.3

Caloni, 2011-04-28 projects [up] [copy]

Erroneamente imaginando que a falta de acesso tinha alguma coisa a ver com a escrita de arquivos no disco, ou até mesmo com a execução de processos, descobri depurando (o bom e velho depurador) que a origem do acesso negado estava na função AssignProcessToJobObject.aspx). Misteriosamente, no Windows 7, ao chamar essa função ocorre esse erro, independente da execução ser como administrador ou não.

Como já está se tornando tradição de uns tempos pra cá, a solução veio de um artigo do Stack Overflow, cuja melhor solução foi exatamente a que eu segui: inserir o manifesto do UAC e usar a flag CREATEBREAKAWAYFROMJOB.

Agora é só esperar pelo próximo bug =)


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