# Atravessando a Ponte
Caloni, 2021-07-05 cinema todo movies [up] [copy]Esse documentário musical do diretor turco-germano Fatih Akin traça um panorama histórico e cultural da música na vida plural das pessoas de Istambul entre eras. A mensagem está na beleza da música. No começo há o jogo político, mas no final ao ouvir as canções algo extraordinário acontece: a paz. Transcendental sem precisar de muito. Apenas uma boa direção.
# Do Outro Lado
Caloni, 2021-07-05 cinema todo movies [up] [copy]É curiosa a sensação de ver um filme maravilhoso, dirigido, editado e roteirizado com uma economia ímpar. Duas horas que passam voando sobre temas que se equilibram entre o íntimo e o universal, mantendo o peso histórico entre passado, presente e futuro. O diretor alemão vindo da Turquia Fatih Akin realiza essa manobra de unir dois mundos discrepantes usando nosso coração e a morte de alguns personagens. Você sabe que essas pessoas vão morrer, o que dá um sentido maior à história do que parece. Uma morte puxa a outra e as coincidências dos desencontros é um charme que Akin se permite ao não ofender a inteligência de seu espectador, mas enxergar junto conosco o quão unidos e distantes as pessoas estão nesse mundo pré-internet.
# Supermães
Caloni, 2021-07-05 cinema series [up] [copy]Série atualmente com cinco temporadas na Netflix, a ideia é ser uma comédia de mães empoderadas, o que me faz sentir muitas dúvidas se eu deveria estar dando risada dos draminhas sociais do novo século embutidos na história dessas mulheres que tomam as rédeas de sua própria vida. Por ser comédia é levemente exagerado, mas eu não estou a par dos movimentos sociais no primeiro mundo para entender se a imbecilidade está de fato nesse nível e este é um documentário. A dinâmica entre as personagens é muito boa. Bons momentos.
# A Princesa de Nebraska
Caloni, 2021-07-10 cinema todo movies [up] [copy]Filme estilo Mostra de São Paulo, concorrendo na categoria "Olha o Que Eu Fiz Mãe", este filme americano dirigido por um chinês tem a pegada independente daqueles que você se pergunta por que ele está filmando os tamancos da protagonista, ou por que a câmera dele de repente foi colocada em um degrau da escada rolante. O tema é sobre a nova China e essa geração de chinesas que está fugindo de lá buscando as oportunidades do mundo livre. Elas são minoria devido à lei de filho único chinesa, e essa história é sobre uma jovenzinha que engravida do amigo e que quer vender o bebê em São Francisco. Bem a cara de indie, mesmo. Fragmentos de estórias são vistas em cena, e no final um filme curto vira uma página no diário de contrasenso do mundo moderno.
# A Vida é Um Milagre
Caloni, 2021-07-10 cinema todo movies [up] [copy]Esta comédia de duas horas e meia de 2004 narra a guerra da Bósnia como apenas os eslavos conseguem. Uma partida de futebol na névoa. Uma cantora de ópera completamente tresloucada. Uma burra apaixonada suicida. E uma muçulmana jovem e deliciosa. Ingredientes demais em um filme exagerado. Suas piadas são clássicas do pastelão, mas se torna simpático. Quem já não cansou do cinismo no cinema? Que tal um entretenimento sem pretensões maiores?
# A Excêntrica Família de Antônia
Caloni, 2021-07-24 cinema todo movies [up] [copy]Este filme dos anos 90 é uma poesia lírica e filosófica sobre a vida e a morte, mas sem ser chato. Sua narração acelerada dos eventos e personagens de décadas a fio discorre sobre diferentes personalidades e formas de enxergar a vida sem forçar estereótipos. Flui naturalmente e cada vez queremos mais para entender onde se quer chegar. E o destino é inconclusivo, e como toda boa filosofia miramos o infinito e não temos o que falar.
# Carrossel do SBT
Caloni, 2021-07-24 cinema series [up] [copy]Tudo começa cem anos atrás. Na década de 20. A outra década de 20. Um aluno é fascinado pelas virtudes humanas de sua professora e a mantém em sua memória afetiva até o dia em que começa a escrever sobre aqueles saudosos dias na escola. Agora já estamos na década de 40.
Sendo publicadas por uma revista argentina, as histórias chamam a atenção para o aspecto social que surge entre as interações daqueles alunos e sua tenra, atenciosa e, de certa forma, ingênua professora. Há diferenças de classe, de cor, de gênero, de força. Há uma diversidade inventada que vira um joguete artístico e propagandista. Nasce a primeira fan fic da esquerda, dessa vez vinda de fato de uma criança.
A obra primeiro é adaptada para o rádio e alguns anos depois vira uma telenovela. Através de seu sucesso surgem dois filmes e exibições pela América Latina. Décadas depois é reproduzida no México e vira Carrossel, aquela versão que encantou brasileiros e coreanos por uma geração.
O remake brasileiro feito pela emissora de Sílvio Santos se inspira mais na versão mexicana original, não as continuações que vieram, e dá uma atualizada em seus estereótipos. É uma obra encantadora pela pureza de visão de mundo. Dificilmente uma novela se desvencilha do mundo adulto para mostrar sua versão em miniatura.
A Escola Mundial onde se unem as crianças cujas vidas serão retratadas em pequenos contos de aventuras é claramente um simulacro da vida, ou, melhor dizendo, um preparativo para ela. Nunca a essência do que é passar tanto tempo na infância com outros ser humaninhos foi melhor retratado como aqui.
Fazendo jus à máxima de que criança não mente. Nem sua versão adulta e já escritora. Bom, talvez floreie um pouco. Pelo bem da fantasia.
# Colorado Vs Bierland
Caloni, 2021-07-24 [up] [copy]Aos poucos fui desistindo de fazer review de cervejas. Cerveja é cerveja. Não é uma bebida para pensar muito. As tentativas de gourmetizá-la apenas trouxeram à tona as limitações artísticas da bebida.
As cervejarias são outra história. Competindo pelo consumidor fiel elas criam identidades no visual e no paladar. Seja proposital ou não, todas as cervejas de uma cervejaria vão fazer você lembrar de sua origem. Se não for assim a cerveja fracassa como mercado. Como ideologia.
Provei vários rótulos da Bierland, uma cervejaria de Blumenau que recentemente tomou o caminho contrário das choperias artesanais e investiu na venda de latinhas, praticamente aposentando as serpentinas. O motivo não ficou muito claro quando conversamos com a atendente do depósito onde se vendem caixas e mais caixas de latinhas. Ela comentou algo sobre ser um negócio caro e arriscado para consumidores fora da cidade, que muitas vezes sumiam com os barris de chope. Que babado...
Tudo bem. A vantagem da latinha é ser prática, segura e barata. Comparável com cervejas "premium" da AmBev em preço.
Levei pelo menos uma de cada. Experimentei o suficiente para concluir que o forte da Bierland é fazer cervejas equilibradas. Todas elas não me deram nenhuma sensação no paladar de ser um soco no estômago ou ter aspectos olfativos rebuscados. É cerveja bem feita e que não quer chamar a atenção pra si própria.
Quer um exemplo completamente oposto? A Colorado. Essa uma vez artesanal e pequena cervejaria de Ribeirão Preto se tornou a queridinha da indústria e começou a vender que nem água. A pegada de suas cervejas é chamar atenção. É aquele aroma inebriante de lúpulo francês, o soco no estômago da Vixnu. Nem a Pilsen deles consegue ficar quieta no copo. É a famosa explosão de sabores. E muito boa também.
Se um dia estiver interessado em descobrir a diferença entre cervejarias no lugar de cervejas compre uma IPA, uma stout e uma lagger desses dois lugares e compare. Vai entender o que estou dizendo. A cerveja do urso é uma vitrine para ser elogiada e lembrada. A cerveja da lojinha de beira de rodovia é cerveja alemã: para ser bebida com moderação e apreciação.
# Cowboy BeBop
Caloni, 2021-07-24 cinema animes [up] [copy]Um western no espaço com pitadas de Blade Runner. A introdução evoca e década de Tarantino onde tudo era mais simples e atraente. O roteiro e seus detalhes certeiros mantém a ação enquanto damos risada dos trabalhadores apostando em jogos de azar enquanto se gabam de como construíram tudo lá fora. O nome do vilão do primeiro episódio é uma referência a um dos ícones de ficção científica, o que é um mistério. E por falar em mistério, que clima Bonnie e Clyde foi aquele do final? Eis um anime que chama a atenção, mesmo que pelos motivos errados.
Essa é uma série que possui textura em sua animação. Há um peso mais realista que muitos animes que querem soar pesados colocando sangue na tela, mas acabam sendo apenas delírios de crianças brincando de mafiosos. Aqui não há delírios, apenas a coisa cartunesca para censura livre, mas com traços que constroem uma distopia relevante no microcosmos dos futuros alternativos. Cada pedaço dessa realidade é revelado em detalhes sutis dos episódios, e nós não ficamos ansiosos esperando por mais. Talvez essa seja sua única falha.
# Eden
Caloni, 2021-07-24 cinema animes [up] [copy]Este é um anime Netflix. Ou seja, não possui o frescor, a arte, a imaginação ou os valores de um anime de verdade. Mas deve ser mais fácil de desenhar.
A história: humanos desapareceram há 1000 anos. E no primeiro episódio já vemos dois. Um deles é uma criança adotada por dois robôs. Por quê? Só o deus dos robôs sabe. Eles precisam esconder esse mamífero porque dizem as más línguas que ser humano é nocivo. Além de não ter como recarregar na tomada. Um inconveniente.
Há robôs bons e maus. Os maus são pretinhos, como de praxe. Os bons têm cores variadas, tem um menorzinho que não fala o idioma humano (japonês), mas faz barulhos fofinhos enquanto a criança já crescida se diverte explorando esse mundo em seu pod flutuante. Sim, é Star Wars. Nem pra disfarçar...
Daí tem uma historinha que os robôs do mal exterminam ou reprogramam os do bem. Os do bem acreditam que os humanos que os criaram (e portanto não podem ser nocivos), mas fica difícil se concentrar para acompanhar essa história. A internet é mais interessante. Hoje os robôs do mal que dominam o planeta já existem. Se chamam celulares. E vão exterminar a raça humana em breve. A estratégia é simples: vamos parar de procriar. A timeline tá gigante.
Melhor ver outro anime.
# Meus Quinze Anos
Caloni, 2021-07-24 cinema todo movies [up] [copy]Esse filme com elenco composto por quase todos latinos e com produção e direção quase toda branca foi o frisson em Sundance 2006, quando ninguém acreditava que um filme de baixo orçamento faria tanto sucesso de crítica e público. Bom, hoje seria um ultraje se um festival desses premiasse qualquer filme não composto pelas minorias eleitas no último opressed contest.
Ver o making off com o elenco gera sentimentos mistos. As atuações são medíocres e mornas, mas para o casting é como se estivessem compondo um clássico. É o momento deles brilharem e serem aplaudidos, o que é muito justo. O estranho da situação é que o que torna o filme notável é justamente seus personagens pedestres e reais. Você não espera nada dessas pessoas em termos de dramatização porque elas evocam algo muito mais poderoso e esperado pela dupla de diretores: o drama da vida real não é anunciado com trompetes.
Este é um filme que começa e termina devagar, mas no meio do caminho te gera uma sensação que há uma quase mensagem perdida por ali. É possível sentir no ar ou é apenas impressão de que deveria haver algo.
A ação se desenrola em Echo Park, bairro vizinho a Hollywood e Griffith. No entanto, é o resquício mais próximo para a classe média do que pode ser um bairro latino em Los Angeles.
A história é sobre os quinze anos de uma garota e a pomposidade. Vira um conto do cotidiano. Simples e eficiente, mas evapora no final.
# Paixão Selvagem
Caloni, 2021-07-24 cinema todo movies [up] [copy]Esse é um dos primeiros filmes que vi no Noitão Belas Artes. Talvez tenha sido o primeiro evento deles. O tema: paixões avassaladoras.
O filme é um marco em trabalhos trash. Praticamente um Almodóvar em francês. A história: um gay se apaixona por uma gamine de beira de estrada e não consegue enfiar no cuzinho dela porque todos os hotéis reclamam que ela grita muito.
Esta é uma declaração de amor ao sujo, ao errado, ao tosco. É linda tamanha dedicação ao cinema independente, às histórias politicamente incorretas. Hoje seria proibido. Há um diálogo entre um gay e um negro e um xinga o outro. Há um baile onde acontecem sessões de stripteasing forçado e com zero sensualidade. O dono da hamburgueria é um grosso e vive peidando ("é o champanhe!"). Há um sentimento marginal que começa com um caminhão que carrega lixo, roupas usadas, bacias sanitárias e bidês, e o último refúgio de um casal de apaixonados em seu momento mais íntimo: o sexo anal mais barulhento, mais sensual e mais cafona que você verá em uma telona.
Duas músicas principais, econômicas, são usadas para os dois casais desse triângulo amoroso. Ambas são inesquecíveis. A paixão e o seguro. A paixão é o idealizado impossível. O seguro é a vida arriscada dos comprometidos.
Com uma participação minúscula de Gerard Depardieu dizendo que tem um pinto enorme que já causou problemas na polícia. Ele sai de cena acariciando seu cavalo. Já se convenceu e foi assistir?
# Big Fish & Begonia
Caloni, 2021-07-31 cinema todo movies [up] [copy]Essa animação chinesa mistura elementos visuais clássicos do 2D desenhados a mão com movimentos e profundidade em 3D que criam uma imersão grandiosa e épica de uma história que remete a lendas antigas da cultura oriental. Só assim para explicar tantos acontecimentos fantásticos juntos, viscerais para nossa época, talvez necessários na época que foram narrados e documentados. Misteriosos por não conseguirmos capturar sua essência, essa miscelânea de sentimentos que giram em torno de sacrifícios individuais e o tão fascinante amor impossível (vide O Tigre e o Dragão).
# Din e o Dragão Genial
Caloni, 2021-07-31 cinema todo movies [up] [copy]Bonitinho em sua história, simplório em seus gráficos, comercial em seu apelo, mas apaixonante em sua mensagem. Esta animação que mistura amizade, kung-fu e valores da vida é produzido por Jackie Chan. Seus dubladores são de primeira, mesmo falando em inglês. E é bom ver trabalhos de origem asiática hoje em dia sem nenhuma bagagem social militante que tanto enche o saco.
# Jumanji
Caloni, 2021-07-31 cinema todo movies [up] [copy]O filme original com Robin Williams tem a cara de um projeto comercial família que pega a onda das primeiras invencionices da década de 90 com computação digital. Também apresenta uma Kirsten Dunst surpreendentemente jovem se comparada à sua aparição no primeiro Homem Aranha de Sam Raimi.
O roteiro é farofa de família e consome tempo e paciência do espectador hoje em dia, mas na época que coloquei essa fita VHS no videocassete também estava impaciente até ver os grandes efeitos que criaram para a aventura do jogo de tabuleiro que traz criaturas da floresta para a fauna urbana decadente.
Quando você vê os macacos que eles criaram e o leão, é de morrer de dó. O filme envelheceu muito mal. Williams está no piloto automático com sua cara de pau carismática. Ele veste seus personagens como quem veste uma jaqueta para uma saída rápida à padaria na esquina. Não encontramos um centro emocional no filme, apenas caricaturas moldadas rapidamente para enfiar as destruições em massa das magias do tabuleiro.
Quando a coisa começa a engatar o roteiro nos puxa de volta para o tédio. O reencontro do personagem de Williams com seu severo pai é galhofa no ponto de vomitar. A criança que eu era quando assisti isso pela primeira vez não percebeu e nem tinha problemas de carência afetiva com os pais, mas o adulto que hoje lhe escreve entende que este já era um filme insuportável na sua geração de adultos, e agora é insuportável e velho.
# Palavras que Borbulham como Refrigerante
Caloni, 2021-07-31 cinemaqui cinema todo movies [up] [copy]Esta animação lançada recentemente na Netflix resgata a arte japonesa dos haikus, poesias curtas tradicionais há muito esquecidas e agora encarnadas na geração atual. Esse jovem trabalha em um asilo e por isso tem contato com essa arte. Ele tem problemas de relacionamento e usa fones de ouvido para não ser abordado na rua. Seu sensei está em busca de um disco de vinil há tempos perdido. O objetivo do sensei em encontrá-lo é conseguir ouvir novamente a música que o fará se lembrar de algo essencial em sua vida.
Esses traços de um passado contemplativo encontram seu oposto na figura simpática e tão atual de uma menina tímida na vida real que é uma influencer local gravando vídeos sobre assuntos que giram sobre ela mesma e suas reações; ela acumula milhares de fãs, mas por causa disso não consegue admitir para eles que agora está usando aparelho nos dentes. Então ela usa uma máscara, algo igualmente atual. A referência à pandemia não é nada sutil, mas será esquecida e imortalizada ao mesmo tempo quando tudo isso passar.
Retrato da geração contemporânea com problemas de relacionamento e suas novas neuras e desafios, Palavras que Borbulham suplica ao espectador que enxergue a poesia desenhada nesses traços desleixados (do desenho) propositadamente para representar os jovens relapsos que vemos todos os dias. O curioso é que falta esmero no trabalho do diretor Kyohei Ishiguro e a animação é justamente sobre isso. Sua obsessão em símbolos e em unir diferentes mundos e épocas apela para o sentimento mais presente hoje em dia, algo trivial e que animais conseguem realizar melhor que seres humanos: "reactions".
Em uma época em que as reações valem mais do que a coisa em si e quem reage é mais importante que o conteúdo, o garoto se incomoda em recitar seu haiku em público porque de acordo com ele isso não se recita. "Deve ser lido no papel." Apesar de estar alinhado com as tendências atuais dos artistas de haiku em enfocar a natureza e a dualidade dos dois termos justapostos que formam o núcleo da mensagem, todos os haikus no fundo são reactions à moda antiga de um jovem que só tem essa forma de se expressar.
À primeira vista parece que recitação ou escrita de haikus está um nível acima da garota youtuber. Soa mais refinado, mas na verdade não é. As semelhanças são exploradas sutilmente no filme. Dois mundos se conectam em uma vídeo-chamada da mais inusitada envolvendo jovens de ambos os mundos, um ponto alto da trama; o filme propõe que sim, existe uma ponte entre os dois mundos. A comunicação buscada há gerações entre o clássico milenar e a novidade da última semana.
Bonitinho e bobinho, as virtudes de Palavras que Borbulham está totalmente em seus traços e movimentos e seu uso das conexões que os símbolos sugerem. O sensei do garoto grita seus haikus porque não ouve mais tão bem. Uma garota aumenta o tom de sua voz em seus vídeos porque não há outra forma de tornar uma visita ao shopping algo fora do normal. Seriam os streamers subestimados em seu potencial comunicativo ou foram as poesias eruditas excessivamente superestimadas por estarem presentes na história do Japão e ser um patrimônio artístico e natural que consequentemente ganha sua aura de sagrado? Poucos sabem hoje que música clássica era entretenimento para as massas. Bom, ao menos as boas música clássicas. As ruins ficaram esquecidas nas salas de estudo mal iluminadas dos intelectuais.
Todas essas questões são fascinantes por si só e não precisariam de um longa-metragem de anime pop para existir. Infelizmente, para completar, no filme não são levadas adiante. Isso acontece porque o próprio filme é subproduto da geração que precisa ou almeja, como toda nova geração, ser relevante. Então a história acaba virando um romancezinho básico entre criaturas socialmente inadequadas: adolescentes. Na falta de um símbolo melhor, o filme apela para o cafona, mas ainda é fofinho para os emos de plantão. Quem não se emociona com dois tímidos descobrindo a magia de admirar um ao outro em silêncio? Não há haiku ou vídeo na internet que represente essa beleza oculta do cotidiano.
# Young Royals
Caloni, 2021-07-31 cinema series [up] [copy]Um trabalho bem sueco, com equipe sueca e casting sueco. Falado em sueco, inclusive. Sobre as idiossincrasias da realeza sueca em tempos de diversidade e discussões sociais.
Tudo começa quando um dos herdeiros do trono, o mais jovem, apronta em uma festa e precisa pedir desculpas em público para toda a nação. Internado em uma escola onde são vistos alunos de classes distintas e um pequeno abismo entre elas, o primeiro episódio da minissérie já pontua com precisão os temas que serão abordados durante sua história: a tensão política, juvenil e (portanto) sexual que se delineia entre aqueles representantes da explosão hormonal. Aristocratas, corporativistas e imigrantes serão vistos sob o ponto de vista de seus filhos. Suas relações no início da vida servirão de rima com a versão adulta.
A direção e edição hipnotiza porque é econômica como cinema. É uma mescla sutil entre a redundância da narrativa televisiva e a densidade audiovisual dos trabalhos cinematográficos que costumam começar e terminar em menos de duas horas. Não vem ao caso a duração, mas sim a maneira de contar uma história. Por ela fugir do esquema automático de apresentar personagens e situações com a burocracia de alguém que está apenas cumprindo seu trabalho merece um destaque mínimo.
Resta saber se o investimento nesse primeiro quarto de hora vale a pena no resto dos outros cinco quartos de hora. Eu acho que não. Há algo que falta no primeiro episódio. Uma provocação autêntica, por exemplo. Nós estamos assistindo a um conteúdo de produção e condução competente, sem dúvida, mas a competência por si só não é suficiente para trazer algo novo. É acima da média tecnicamente falando, mas artisticamente seu conteúdo está drenado da vida do cinema. Como a maioria, ou talvez todas, as produções de streaming. Não se pode investir em conteúdo polêmico. Ou a polêmica está sob o controle do status quo ou não é vendável, se torna chato para as audiências.