# A Vida e a Morte De Bobby Z
Caloni, 2014-01-01 cinema movies [up] [copy]É difícil defender um filme de estrutura tão fraca e capenga quanto este "A Vida e Morte de Bobby Z". Partindo da semelhança que um prisioneiro e ex-soldado (Paul Walker, de Velozes e Furiosos) tem com um poderoso traficante (Jason Lewis), um agente da DEA (Laurence Fishburne) resolve dar uma curiosa chance ao rapaz de se livrar de sua pena se fingir ser o lendário Bobby Z, morto por infarto, durante as negociações com outro traficante procurado. Bobby Z era vegetariano e canhoto, convenientemente diferente para que Paul Walker tenha um pouco de esforço em se fazer passar pelo rapaz. Além disso, há uma bela garota (Olivia Wilde) com seu filho bastardo para que todo o final do filme seja convenientemente montado na cabeça do espectador antes que 15 minutos se passem.
# Bling Ring: A Gangue de Hollywood
Caloni, 2014-01-02 cinema movies [up] [copy]O mundo é materialista e não há nada de errado nisso. Somos feitos de matéria e a matéria circula por nossos poros. Não há nada mais que matéria, ainda que esforços descomunais da mente tentem imaginar algo mágico saindo por detrás de nossas cabeças. Entre esses esforços, a tal da "fama".
Bling Ring, de Sofia Coppola, além de continuar a série de temas sobre a vida da própria diretora (Encontros e Desencontros, Um Lugar Qualquer), tão habituada ao mundo Hollywoodiano, consegue construir a fascinação por status em torno de um grupo de jovens que, acostumados a uma vida de luxo, mantém uma rotina de invadir casas de celebridades para possuir parte de seus bens como forma de viver suas vidas.
O caso é que o filme é apenas sobre isso, o que faz com que a narrativa vá crescendo em torno de algo cada vez mais vazio de significado. Podemos dizer que, ao construir esses personagens em torno de bolsas, sapatos, joias, dinheiro, drogas e carros, o filme consiga também ir desconstruindo essas pessoas (a história é baseada em eventos que realmente ocorreram) e seu modo de viver até não sobrar absolutamente nada. Não a conhecemos, apenas o que possuem. Até suas crenças, como a da família da jovem Nicky (Emma Watson), se baseiam em um livro que foi sucesso recente de vendas e popularidade (mais uma vez, status). Seus corpos (magérrimos) e ideias diferem apenas de um detalhe ou outro.
Se fosse resumir em uma frase, um filme sobre a matéria desconstruindo nossa alma. Interprete alma como lhe aprouver.
# Blue Jasmine
Caloni, 2014-01-07 cinema movies [up] [copy]Os créditos iniciais mais uma vez aparecem e com eles mais um filme de Woody Allen: neurose, traição, problemas financeiros. Não há dessa vez a questão existencialista (quando irei morrer?) e essa ausência é por si só uma novidade. A personagem de Cate Blanchett (a Jasmine do título) está mais preocupada em se recompor de sua vida passada como uma madame sem preocupações, o que ironicamente a faz ter constantemente ataques de pânico. Ela está em busca de um novo marido, fortuna e mimos.
Para isso recorre à sua irmã pobre, a mesma irmã cujo estilo de vida desprezava quando rica. Quando o filme demonstra esse estilo, tirando fotos na rua, é engraçado e funciona. Mas são poucos os momentos. Allen está mais interessado em dividir nossa atenção entre o presente e futuro da personagem, em cenas que trocam o tempo sem avisar, o que é interessante, mas cuja ligação entre elas pode ser sutil demais ou até inexistente, o que faz virar firula de estilo sem muita função na narrativa.
Por fim, Cate Blanchett está um estouro de nervosismo e atuação. Me fez ficar tenso durante todo o filme. Seus ataques parecem até demais para uma comédia. Talvez seja um drama, de qualquer forma.
# Frozen: Uma Aventura Congelante
Caloni, 2014-01-09 cinema movies [up] [copy]Foi uma surpresa mais que gratificante descobrir que Frozen é muito mais do que aquele trailer tosco com um bonequinho de neve falante (apesar do boneco funcionar, e muito bem). Inspirado mais uma vez em um conto de princesa, mas dessa vez incluindo uma força dramática tão madura e ambiciosa que é difícil de conceber como um trabalho da Disney, a história gira em torno do relacionamento entre duas irmãs, Anna e Elsa. A mais velha possui um poder incontrolável de congelar tudo em sua volta, o que causou um grave ferimento à irmã quando crianças. Por causa disso e por decisão dos pais, ela se esconde do mundo e quase nunca aparece. Porém, o inevitável acontece, e nesse momento já estamos estupefatos diante da grandiosidade com que Frozen é narrado.
Filmado em 3D, o filme se aproveita de uma direção competente de Chris Buck e Jennifer Lee (envolvidos em produções como Detona Ralph e Tá Dando Onda), que envolvem o espectador em cenários com uma profundidade de campo que torna o efeito dos óculos realmente útil, além de incluir em torno de seus quadros elementos em distâncias distintas, ressaltando a terceira dimensão sempre que é possível. Não só isso: criado a partir de um conto de gelo, o filme contém esculturas e construções oníricas e épicas pela beleza e proporção.
Diferente de A Princesa e o Sapo, aqui os números musicais funcionam quase que completamente, e fazem uma agradável rima com a inspirada trilha sonora de Christophe Beck (Os Muppets, Se Beber Não Case). Cada personagem pega um tom para si, e o resultado, a meu ver, deve ser muito interessante de se ouvir (e provavelmente mais coeso) no idioma original, um prazer reservado a poucos que irão assistir à sessão da única sala do país que exibe uma cópia legendada.
É fascinante observar também que a Disney durante o segundo e terceiro atos não se entrega facilmente a fórmulas baratas, o que torna o seu final mais decepcionante ainda, pois revela uma falta de capricho inesperada em uma produção que até então parecia impecável. Dá a impressão que os produtores resolveram encurtar a duração do filme de propósito, para prejuízo dos realizadores, que tiveram que assassinar o ritmo nos 20 minutos finais com soluções bobas e plásticas. Isso perto da ambição de sua proposta é um pecado enorme.
Outro excelente motivo para assistir Frozen em 3D, apesar de bem aproveitado, nem é o próprio filme, mas o curta inicial. Usando como plot os primeiros desenhos do Mickey em preto e branco em uma razão de tela apertada, há uma explosão de criatividade em 5 minutos que irão abalar sua mente e coração cinéfilos. Pessoalmente me senti pago pela sessão assim que acabou este curta. Melhor: me senti recompensado por ter visto essa pequena obra-prima em 3D. Espero que sintam o mesmo.
# Invasores
Caloni, 2014-01-11 cinema movies [up] [copy]Esse roteiro é tão bom que costuma ser produzido de 20 em 20 anos para montar uma alegoria da sociedade de sua época. Esse remake mais novo com Nicole Kidman e Daniel Craig é a terceira encarnação do romance de Jack Finney para a telona. A história dos humanos zumbificados e coletivizados a partir da recodificação do seu DNA pode representar ecos de um mundo pós-conflito com o Oriente Médio e/ou nações asiáticas, onde o grupo é mais forte que o indivíduo, desde que não seja o líder. Note que não há líderes entre os invasores alienígenas e vai perceber que essa minha viagem pode ter fundamento. Além, é claro, da questão sobre a paz mundial.
Dirigido com vigor por uma dupla de diretores experientes, o filme consegue a partir de uma simples premissa (ônibus espacial explodindo no espaço) apresentar aos poucos, através de pequenas pistas visuais, incutir o sentimento de "tem alguma coisa errada e ela está piorando". Quando chegamos no ponto em que a personagem de Nicole Kidman começa a correr para todos os lados, já não dá mais para ignorar. Ação e suspense interligados através do drama entre mãe e filho.
Ironicamente o seu original fazia uma parábola ambígua entre comunismo e macartismo. Vale a pena a conferida pelo charme desse filme B.
# Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal
Caloni, 2014-01-12 cinema movies [up] [copy]A febre dos terrores filmados como falso documentário parece ter chegado ao nível de saturação e o ultrapassado. Nesse último Atividade Paranormal, que em nada se assemelha em sutileza com seu original e algumas das sequências, a necessidade de justificar o uso da câmera em tantas situações diversas simplesmente não existe. O "documentário", portanto, quase que brota do nada. Poderíamos dizer que ele não existiria se não fosse "graças" a duas mentes jovens e estúpidas demais para perceberem em seu entusiasmo exacerbado quais eventos merecem uma atenção mais crítica: a vizinha pelada ou os estranhos e recentes poderes de um deles de nunca cair no chão.
Talvez seja aí que se situe a única virtude do mockumentary: por serem idiotas demais, os protagonistas dessa história nunca param de filmar qualquer coisa que estiver acontecendo em suas vidas e nunca param para pensar se o que acabaram de presenciar não poderia significar algo mais do que pura diversão. Porém, mesmo com essa plausível explicação em mente, o terror de fato nunca ocorre, mas sim uma sequência de cenas que antevem o susto do espectador jogando qualquer outro evento natural em frente à tela.
# A Casa Silenciosa
Caloni, 2014-01-13 cinema movies [up] [copy]Quando eu digo que os falsos documentários já atingiram seu nível de saturação e o ultrapassaram, como o recente Atividade Paranormal conseguiu provar pela falta de justificativas para o uso de câmera em tantas situações diferentes, eis que surge o remake franco-americano de 2011 (de uma produção uruguaia de 2010) filmado inteiramente em uma sequência sem cortes de arrebentar os nervos.
Não é um documentário, mas assume o caráter realista por nunca haver cortes. Mais do que isso: uma sensação onírica por estarmos presenciando a história da jovem Sarah (Elizabeth Olsen) unicamente do seu ponto de vista. Acompanhamos os acontecimentos em uma casa no campo que será colocada à venda logo após o pai, irmão e tio da menina finalizarem uma pequena reforma. No entanto, a falta de energia os obriga a usar lampiões e velas para iluminar os inúmeros aposentos do casarão, mesmo de dia, pois a casa nunca era visitada e se encontrava totalmente lacrada.
Eficiente em, exatamente como em A Bruxa de Blair, sugerir o terror em vez de mostrar efeitos visuais que estamos cansados de ver em produções que tentam assustar com o uso de muletas tecnológicas, o filme consegue com eficiência alternar seu gênero para um thriller psicológico lá pelo meio da história, e mesmo assim sem nunca nos fazer perder a atenção. Pelo contrário: o sentimento de antes estar vivenciando um pesadelo dá lugar à curiosidade quase mórbida de entender o que está acontecendo naquela casa.
# Separados pelo Casamento
Caloni, 2014-01-13 cinema movies [up] [copy]Uma grata surpresa essa comédia com Vince Vaughn e Jennifer Aniston, de 2006, que só agora tive a oportunidade de ver. Na verdade, sou obrigado a retirar o termo "comédia" deste comentário, já que o desenvolvimento dado pelo diretor Peyton Reed (Sim, Senhor) e pelos dois roteiristas iniciantes Jeremy Garelick e Jay Lavender me leva a crer que esse é quase um drama humanista e crítico em torno da hoje fadada ao fracasso instituição do casamento.
O mais curioso, porém, é notar através do filme que casamento e fracasso já estavam de mãos dadas desde seus tempos mais primórdios. Pelo menos em uma sociedade machista que obriga a mulher a se despersonalizar e fazer tudo pelo marido, ganhando com isso um merecido chute na bunda por não ter mais atrativos para ele do que ser um conjunto de eletrodomésticos ultrapassado.
Mais do que isso, é o final surpreendentemente maduro para um filme comercial. Faz refletir, assim como todas as brigas e diálogos entre o casal principal.
# Madrugada Muito Louca
Caloni, 2014-01-17 cinema movies [up] [copy]Tenho ressalvas para criticar um filme que simula de forma tão fidedigna as comédias dos anos 80 que se voltavam para os jovens despretensiosos em busca de sexo e diversão. Nesse caso, a diversão de Harold (John Cho) e Billy (Ethan Embry) se resume a maconha. E, além do sexo ocasional, o que eles mais almejam nessa madrugada são os deliciosos hambúrgueres de uma lanchonete que está difícil de encontrar: é o "holy grail" dos Mc Donalds.
O fato é que Madrugada Muito Louca segue à risca sua cartilha, e expõe os rapazes em situações de perigo e desejo enquanto tenta fazê-los amadurecer. No entanto, isso não acontece nem com eles nem com o filme, que estaciona em uma espiral de vais-e-vens que apenas diverte eventualmente. A virtude da direção de Danny Leiner é tornar tudo tão rápido que sequer dá tempo de pensar.
Tenho certeza que Harold e Billy também não pensaram muito nessa noite. Se for assistir, sugiro que não pense, também.
# Minha Vida Dava um Filme
Caloni, 2014-01-18 cinema movies [up] [copy]Kristen Wiig, distante de A Vida Secreta de Walter Mitty e próxima de Missão Madrinha de Casamento, protagoniza essa comédia em que faz o papel de Imogene, uma escritora fracassada que é literalmente obrigada a voltar a morar pelas próximas 72 horas com a sua mãe e família após ter maquiado seu suicídio. O fato da carta de despedida de Imogene ter sido tão bem escrita é o que consegue unir seu passado de potencial glorioso e o seu eminente fracasso.
Com sacadas que funcionam quase todo o tempo pelo timing tão realista quanto cômico de Imogene, o roteiro sobrevive com a ajuda de aparelhos em meio a tantos detalhes e reviravoltas irrelevantes para a evolução da personagem, além de ser um filme visivelmente afetado pela ambiguidade de gêneros. Só isso para explicar porque as tragédias na vida da escritora se transformam de gags para outra coisa que não nos faz rir nem chorar, sem sabermos se aquela personagem já possui tridimensionalidade o suficiente para chorarmos por ela, ou ainda é um ser caricato digno de pena.
# Paixão Proibida
Caloni, 2014-01-18 cinema movies [up] [copy]Esse drama-romance se passa no século 19, onde viajar pelo mundo não era agradável, nem rápido, nem seguro. A forma como são retratadas as longas viagens que o protagonista (Michael Pitt) faz em busca de ovos do bicho-da-seda pela África e, principalmente, pelo Japão, são o ponto forte da trama.
No entanto, o romance proibido com uma oriental faz a experiência definhar em parábolas intermináveis sobre a relação com a esposa e suas frustradas tentativas de terem um filho. É Keyra Knightley quem faz a esposa, onde sua beleza facial e estrutura corpórea, acredito, faça jus à rima de sua rival do outro lado do mundo, vivido pela igualmente bela Sei Ashina.
A lentidão com que as mudanças do longa vão ocorrendo, além de sua trilha sonora batida e repetitiva, desafia nossa paciência. Uma beleza de cenários belamente fotografados, é verdade, mas em torno de uma narrativa enfadonha e vazia de significados.
# Natureza Quase Humana
Caloni, 2014-01-19 cinema movies [up] [copy]Os roteiros de Charlie Kaufman (Adaptação, Quero ser John Malkovich) dirigidos por Michel Gondry (Brilho Eterno de uma Mente sem Lembrança) nunca parecem deixar de explorar a fundo seus temas. Aqui o formato de testemunho com flashbacks é essencial para compreendermos a real dimensão dos relacionamentos entre os quatro personagens, inclusive o que morreu no processo, nessa comédia absurda que flerta com a natureza instintiva e animalesca do ser humano em detrimento a rígidas e, muitas vezes, sem sentido, regras de etiqueta e convívio social.
O filme é centrado nas figuras multidimensionais de quatro pessoas, mas gira em torno do doutor Nathan Bronfman (Tim Robbins), que, incapaz de relacionar seus estudos de etiqueta com a educação rígida de seus pais quando criança, permanece um ser imaturo ainda que civilizado. Faz experimentos em ratos forçando-os a aprender regras fúteis à mesa, como qual é o garfo para salada. Brincando com o conceito e acertando sempre o tom, o filme relaciona imediatamente a obsessão de Bronfman com seu fracasso nos relacionamentos, quando conhece a bela, mas desajustada, Lila (Patricia Arquette). A natureza do problema congênito de Lila, cuja produção acelerada de hormônios a faz estar sempre com pelos demasiados pelo corpo, é motivo de conflitos existenciais que a fazem ficar dividida entre abraçar sua natureza ou se render à sociedade. E é exatamente esse o conflito inexistente para o instintivo Puff (Rhys Ifans), um rapaz que foi criado pelo pai na selva, pois acreditava fazer parte de uma raça de primatas que, apesar do comportamento animalesco, não se compara à maldade dos humanos que, em suas palavras, são capazes de assassinar seu próprio presidente. No entanto, capturado pelo doutor, passa a ser a esperança deste ao comprovar que é possível condicionar qualquer aspecto selvagem de um ser intocado pela civilização em um cavalheiro no seu máximo refinamento e conhecimento (ainda que vazio de ideias). Fechando o quadrado amoroso está Gabrielle (Miranda Otto), assistente de Bronfman e que, fazendo ecos com "Brilho Eterno...", é atraída pelo intelecto do seu tutor.
Nunca deixando de soar interessante e sempre utilizando detalhes não tão sutis para ligar o máximo possível as pontas da história, Natureza Quase Humana peca apenas pelo seu lado debochado, uma vez que conquista o espectador com seus conceitos, mas parece não levá-los tão a sério no ato final. Ou o ápice do absurdo do roteiro de Kaufman dessa vez não atingiu as expectativas necessárias para quebrar todas as regras, como faz de maneira brilhante em Quero Ser John Malkovich e Adaptação.
# Sonhando Acordado
Caloni, 2014-01-19 cinema movies [up] [copy]Martin Freeman, da saga do Hobbit e do novo Watson, também consegue fazer um drama, ainda que hilário. Aqui ele vive um músico tão frustrado com seu emprego e namorada ( Gwyneth Paltrow, quem não estaria). Tentando encontrar algo de bom na vida quando está dormindo, compartilha seus sonhos com a estonteante Anna (Penélope Cruz), uma figura diametralmente oposta a seu próprio ego.
O filme ganha fôlego nesse mergulho de Freeman no mundo dos sonhos. Ele encontra Mel (Danny DeVito), um especialista em sonhos (e em sonhar). Note como DeVito inclina seu corpo para falar, tão mais à vontade que se sente na posição horizontal, e verá uma interpretação ímpar do ator. O controle maior no mundo onírico não acontece com Freeman, mas em vez disso o reflexo do seu descontrole da vida real cada vez maior. Nesse ponto o realismo das frustrações do ser humano atinge seu ápice.
O filme perde fôlego ao tentar diminuir cada vez mais a barreira sonho/realidade. É interessante, mas não tanto quanto as sensações de uma vida que jamais será vivida. Ou quem sabe seja esse o objetivo: mostrar como os sonhos representam tudo de melhor em nossa existência. Tal como os filmes.
# remove_if até remove, só que diferente
Caloni, 2014-01-21 computer [up] [copy]A surpresa de hoje foi descobrir (vejam só) que o remove_if, como todo algoritmo da STL, deve ser olhado de perto antes de usado. Nesse caso em específico porque, apesar do nome, a função NÃO remove elementos, mas os sobrescreve.
Imagine uma função que usa remove_if para remover todas as idades de potenciais lolitas:
void RemoveIfLolita(vector<int>& ages) { remove_if(ages.begin(), ages.end(), [&] { return age < 18; } ); }
Ou até sua contraparte usando um array C:
void RemoveIfLolita(int* ages, int size) { remove_if(ages, ages + size, [&] { return age < 18; } ); }
Um uso trivial pode não cuspir um resultado trivial, ou seja, os elementos não serão removidos como se espera:
#include <algorithm> #include <iostream> #include <vector> using namespace std; void RemoveIfLolita(int* ages, int size) { remove_if(ages, ages + size, [&] { return age < 18; } ); } void RemoveIfLolita(vector<int>& ages) { remove_if(ages.begin(), ages.end(), [&] { return age < 18; } ); } int main() { vector<int> ages; ages.push_back(10); ages.push_back(21); ages.push_back(66); ages.push_back(18); ages.push_back(16); ages.push_back(15); ages.push_back(8); ages.push_back(24); ages.push_back(12); ages.push_back(20); ages.push_back(13); RemoveIfLolita(ages); cout << "Vector (" << ages.size() << "):\n"; for_each(ages.begin(), ages.end(), [&] { cout << age << endl; }); int newAges[] = { 10, 21, 66, 18, 16, 15, 8, 24, 12, 20, 13, 13 }; const int newAgesSz = (int) ( sizeof(newAges) / sizeof(int) ); RemoveIfLolita(newAges, newAgesSz); cout << "\n\nArray (" << newAgesSz << "):\n"; for_each(newAges, newAges + newAgesSz, [&] (int age) { cout << age << endl; } ); }
Isso ocorre porque o comportamento do remove_if é copiar todos os elementos que retornem false (não remova) e pular elementos que retornem true (remova). No entanto, o tamanho do contêiner, e consequentemente seu ponteiro end(), permanecem o mesmo.
De acordo com o saite cplusplus.com, o algoritmo STL é previsível, simples, e por isso mesmo sujeito a otimizações do compilador:
template <class ForwardIterator, class UnaryPredicate> ForwardIterator remove_if (ForwardIterator first, ForwardIterator last, UnaryPredicate pred) { ForwardIterator result = first; while (first!=last) { if (!pred(*first)) { *result = *first; ++result; } ++first; } return result; }
Para obtermos qual seria o "novo end()", precisamos obter esse valor do retorno de remove_if. Com base nisso, podemos alterar o tamanho do contêiner ajustado:
#include <algorithm> #include <iostream> #include <vector> using namespace std; int RemoveIfLolita(int* ages, int size) { auto newEnd = remove_if(ages, ages + size, [&] { return age < 18; } ); return newEnd - ages; } void RemoveIfLolita(vector<int>& ages) { auto newEnd = remove_if(ages.begin(), ages.end(), [&] { return age < 18; } ); ages.resize(distance(ages.begin(), newEnd)); } int main() { vector<int> ages; ages.push_back(10); ages.push_back(21); ages.push_back(66); ages.push_back(18); ages.push_back(16); ages.push_back(15); ages.push_back(8); ages.push_back(24); ages.push_back(12); ages.push_back(20); ages.push_back(13); RemoveIfLolita(ages); cout << "Vector (" << ages.size() << "):\n"; for_each(ages.begin(), ages.end(), [&] { cout << age << endl; }); int newAges[] = { 10, 21, 66, 18, 16, 15, 8, 24, 12, 20, 13, 13 }; int newAgesSz = (int) ( sizeof(newAges) / sizeof(int) ); newAgesSz = RemoveIfLolita(newAges, newAgesSz); cout << "\n\nArray (" << newAgesSz << "):\n"; for_each(newAges, newAges + newAgesSz, [&] (int age) { cout << age << endl; } ); }
Esse C++... intuitivo como nunca!
# Boy Meets Girl
Caloni, 2014-01-23 cinema movies [up] [copy]São filmes assim que me revelam como um cinéfilo ainda burro. Mesmo assim, tenho a ousadia de gostar de alguns deles, mesmo sem saber muito bem por quê.
Dirigido por Leos Carax na década de 80, do recentemente aclamado Holy Motors, em Boy Meets Girl o tema são as desilusões e os desencontros amorosos. Tudo parece dar errado na vida desses dois jovens, ou, algo muito diferente, nada dá certo. O filme nos mostra suas vidas sem se preocupar em estabelecer ligações ou interpretações. É um filme aberto, desses que espectadores-pipoca sempre odeiam. Até o final, se você não trabalhar com expectativas honestas sobre o que acontece, pode ser ambíguo. Mas pense um pouco: há um realismo sendo trabalhado nesse filme, ainda que onírico. Parte desse trabalho exige que compreendamos como a vida real é tão mais bagunçada, sem sentido e sem roteiro. O prólogo inicial deixa bem claro isso: nascer, crescer, viver um pouco e, finalmente, fim.
Mesmo me rendendo aos significados e dando vazão à estética, não dá para negar que a fotografia em P&B do filme é cativante pela beleza que evoca de momentos em que a misce-en-scene é um quadro em movimento (e não são poucos), ou poderíamos dizer quase sem movimento. Gosto particularmente dos momentos finais, da sombra de homem no garoto quando ele chega em seu quarto e na ligação a partir de uma cabine telefônica com o vidro quebrado. Gosto mais ainda da visão da bela Mireille Perrier em destaque com um consistente Denis Lavant ao fundo, desfocado.
# O Cliente
Caloni, 2014-01-24 cinema movies [up] [copy]Os filmes de Joel Schumacher como Ninguém é Perfeito e esse O Cliente primam por chamar a atenção do espectador para o aspecto humano da trama. Aqui, um garoto e seu irmão caçula presenciam um suicídio e têm que arcar com as consequências desse fato judicialmente. Mas não é só isso. A pedra fundamental da trama é a visão de uma criança e do que ela pode fazer para ajudar o irmão em estado catatônico e a mãe com problemas financeiros, além de um passado conturbado com seu pai alcoólatra. O garoto é vivido com competência ímpar por Bred Renfro com 10 anos, um achado do diretor e que, depois de papéis de pouco destaque, teve um fim trágico morrendo de overdose aos 25.
Girando em torno do garoto Mark orbitam os adultos e seus interesses alheios ao destino de sua família. Um advogado famoso preocupado com sua auto-imagem vivido por um sorridente Tommy Lee Jones e a advogada idealista vivida com vigor por Susan Sarandon.
Há poucas e pontuais manipulações baratas que envolvem, claro, a situação lamentável pelo qual a família passa. De repente a necessidade de ajudar aquelas pessoas aparece na lista de afazeres da advogada de defesa, mas é plenamente justificado pela perseguição de bandidos que buscam silenciar o garoto. Nada que prejudique, mas exalte, o dinamismo e a tensão construídas com tanto esmero no decorrer da narrativa.
# Ajuste de Contas
Caloni, 2014-01-25 cinema movies [up] [copy]Desde o começo a ideia de colocar Sylvester Stallone e Robert de Niro de volta ao ringue, no mesmo ringue, parecia um ótimo plot que estava faltando na história do Cinema. O fato de ambos os atores já terem passado do tempo e estarem respirando com dificuldade enquanto um tenta golpear (ou pelo menos enxergar) o outro se torna um bônus, já que o passado de rivalidade que o filme constrói em torno dos dois profissionais (os pugilistas perderam em sua carreira apenas um para o outro) rivaliza com o ódio e ressentimento que os afetou em suas vidas pessoais durante 30 anos após a última luta (o que envolve traição e um filho bastardo).
Brincando com referências tanto de Touro Indomável quanto de Rocky, mais este último, por ser mais conhecido do grande público, as melhores piadas ficam por conta, obviamente, da idade avançada dos pugilistas e a situação ridícula de uma nova luta entre eles. Usando artifícios atuais, como os vídeos que "viralizam" no YouTube com brigas e eventos polêmicos protagonizados pelos dois, essa sede das pessoas pelo estilo MMA de lutas (abordado de forma jocosa) acaba se tornando a maior crítica social sobre isso, especialmente se considerarmos a conclusão que os dois rivais chegam ao fim da luta.
Pecando apenas por não resolver satisfatoriamente os dilemas pessoais de ambos (a não ser que você concorde que um passeio pela calçada ou um livro de recortes pode resolver atritos que se estenderam por 30 anos), Ajuste de Contas é uma ótima notícia até para quem não suporta mais as produções politicamente corretas, pois não tem sequer medo de fazer piada entre sexo oral e balas de jujuba com uma criança.
# Preso na Escuridão (aka Abra os Olhos)
Caloni, 2014-01-29 cinema movies [up] [copy]Acabei de ver o original de Vanilla Sky, aquele com o Tom Cruise correndo como um louco. Uma produção espanhola/italiana/francesa, o filme de 1997 conta também com a participação de Penélope Cruz como Sofia, mas diferente do tom experimental em 2001 dado pelo diretor Cameron Crowe (Jerry Maguire - A Grande Virada), a direção madura de Alejandro Amenábar (Os Outros), por incrível que pareça, transforma completamente a narrativa de dois filmes que foram filmados praticamente quadro a quadro.
Eu disse "praticamente".
A composição de Amenábar conta com o uso acertado de frases-chave (ele também assina o roteiro) que permeiam a vida de César (Eduardo Noriega) de maneira a conseguir trazer à tona mais facilmente os ecos do passado que o protagonista tem que conviver quase como um pesadelo que não se revela. Mais importante, porém, é o maior tempo dado à primeira metade do filme, pois a experiência final não seria tão intensa caso não compreendêssemos em detalhes as relações entre aquelas pessoas.
Porém, o filme vai muito mais além do que um mero jogo de descobrir a sacada do final. A cena na cama entre César e Sofia/Núria, por exemplo, funciona como uma lenda de Narciso às avessas, pois a impotência do rapaz de conseguir fazer sexo com a pessoa que o atrai vira reflexo de sua própria incapacidade de obter sua beleza original de volta. É por isso que essa cena funciona tão bem como clímax dramático, assim como todo o seu desenrolar até o momento no apartamento de Sofia, quando temos o melhor momento do filme.
Não que o filme desanime caminhando para o final, ou que sua metade inicial não tenha nada de mais. Essas duas partes são fundamentais, pois ligam o início e o fim de uma experiência angustiante, e apenas sua existência é que torna as cenas mais tensas tão... tensas.
# Os Croods
Caloni, 2014-01-31 cinema movies [up] [copy]Os Croods são uma família das cavernas, e sua maior prioridade naquele ambiente hostil é sobreviver (meus genes agradecem emocionados). Isso quer dizer que a vida deles, fora o mínimo de alimento buscado com o máximo de esforço, é se trancar em uma caverna escura assim que o sol se põe. Porém, sua filha maior, como toda adolescente, desafia os limites do medo que seu pai impõe. Não que ele seja mau, e é essa a questão que o filme coloca: em que momento é importante seguir as regras que nos mantém "vivos", e em que momento desobedecer essas mesmas regras é que nos manterá vivos (e lúcidos)?
Com um primeiro ato fascinante por suas ideias, logo partimos para uma aventura em um mundo completamente em descompasso com o que havíamos visto até então. A trilha sonora, igualmente fora de contexto, colabora para piorar essa experiência. Um trabalho bem irregular da Dreamworks, que desperdiça mais uma grande ideia.