# Uma nova linguagem

Caloni, 2013-12-04 ccpp [up] [copy]

Tenho que me atualizar. Faz um tempo (anos) em que deixei de lado esse mundo "frescurento" de C++2030 e me foquei única e exclusivamente em resolver problemas da melhor forma possível com o que a linguagem já tinha a oferecer em uma implementação estável de compilador e bibliotecas.

Agora o mundo está mudando. Para quem é do Universo Windows/Microsoft, a empresa do Uncle Bill vem liberando algumas versões interessantes do seu compilador (VS2012, 2013 e agora o CTP), cada vez mais próxima de um C++11/14 100% compliance. Não acredito que cheguem lá, mas o fato de estarem empenhados indica para a indústria e seus clientes que há uma demanda sendo atendida. Não é mais frescurite de acadêmicos. Algumas features ultra-novas começam a ser usadas e permitidas em projetos.

Estamos falando de uma nova linguagem que se forma com um novo ritmo. O padrão C++11 demorou "apenas" 2 anos para cair em nossas linhas de comando, há um patch já confirmado para o ano que vem e já existem menções para um novo release em 2017. Para o programador C++ que se acostumou a contar as evoluções em décadas, um novo ritmo se impõe. Não há tempo para cristalização de conceitos. O boost já nos forneceu isso por todos esses anos e hoje ele é reconhecidamente a versão alpha que precisávamos.

Veremos o que o futuro cada vez mais presente nos reserva.


# Bolt: Supercão

Caloni, 2013-12-13 cinema movies [up] [copy]

O grande trunfo de "Bolt" em sua narrativa é primeiro nos brindar com cenas megalomaníacas de ação (ecos de Os Incríveis) e nos fazer acreditar que Bolt, que faz rima não-ocasional com "bold", ou seja, "corajoso, valente", de fato possui todos esses poderes. Mesmo assistindo pela segunda vez o truque permanece pela eficiência dos cortes e enquadramentos, que conseguem inclusive nos enganar a ponto de não pensarmos como eles podem cruzar uma cidade inteira se tudo termina dentro de um estúdio.

É uma grande ajuda também a qualidade técnica da animação, que usando movimentos precisos tanto nas cenas de ação quanto nas mais paradas, consegue combinar a limpidez da fotografia com a qualidade do seu ritmo. A trilha sonora sempre empolgante e uma música-tema inspirada tornam a experiência ainda mais redonda.

Por fim, a introdução frenética dá lugar a um cãozinho abandonado que terá que se virar com a realidade para cruzar o país inteiro em busca de "sua humana", o que cria um road-movie instantâneo e forçado. Uma falha inocente, que junto com outras vão diminuindo a experiência, que não parece ter estrutura o suficiente para aguentar tanta história e personagens, ainda mais se lembrarmos que alguns deles se inspiram claramente em sucessos anteriores (Os Sem-Floresta) e da existência de um "vilão" extremamente limitado de tão bobo.

O que "Bolt" procura todo o tempo e na maioria das vezes consegue é comparar nossa imaginação com a dura realidade, quase que brincando com a própria experiência cinematográfica em que toda peripécia arriscada sempre dá certo. Tenta também emocionar em vários momentos, mas acaba o fazendo de fato pelo arco que a história proporciona. Um lindo exemplo de como inspirar crianças (e adultos) sem apelar para a velha farofa melodramática.


# Missão Madrinha de Casamento

Caloni, 2013-12-14 cinema movies [up] [copy]

Bridesmaids poderia ser citado na cinematografia atual apenas por ser uma comédia romântica que tem o foco unicamente nas mulheres e em seu universo feminino. Não há em seu núcleo a busca pelo marido perfeito, pois nossa protagonista não é aquela mocinha inocente que costuma aparecer nesses filmes (e, francamente, depois dos 21 anos seria forçar demais a barra acreditar que uma mulher dessas existiria hoje em dia salvo produções da Disney, como o próprio longa ironiza). No entanto, ser diferente é o que menos importa quando o resultado final é tão bem explorado e conduzido, tornando-o também o filme que dá esperanças a esse gênero tão batido e surrado.

A história gira em torno de Annie Walker (Kristen Wiig), que é convidada por sua melhor amiga de infância a ser sua "madrinha de honra", ou seja, entre as madrinhas, a que irá organizar todos os inúmeros eventos que regem esse ritual conhecido como casamento. O detalhe é que a estrutura emocional de Annie nesse momento de sua vida não é das melhores: pobre de relacionamentos afetivos (no máximo um amigo de sexo casual e nada afetivo) e recursos para se manter independente (mais uma vítima da recente crise). Como se não bastasse, uma das madrinhas (Rose Byrne, que faz a possessiva Helen) começa uma disputa que irá desgastar Annie até um colapso nervoso. Não só isso: o colapso faz parte do próprio espectador nesse momento.

No entanto, há momentos engraçados em Bridesmaids. Caso não houvesse, morreríamos de colapso nervoso antes da metade da projeção. E há momentos realmente hilários que já fazem parte do meu cabedal de momentos históricos da comédia, como a sequência envolvendo um pós-almoço escatológico na medida certa. Ainda assim, esses momentos estão dentro do previsto e não desmerecem o drama que se constrói entre as risadas.

Tudo isso devido a uma interpretação sem ressalvas de Kristen Wiig, que também assina o roteiro e derruba como poucas o delírio que as mulheres são objetos manipulativos sem livre arbítrio. O filme (e ela) as humaniza, mas não em detrimento de um homem, mas como um ser humano dotado de emoções e que não precisa de ninguém para se tornar completa. É ela sozinha que destrói sua vida por todos os lados, e é ela sozinha que terá que reavê-la. Esse arco dramático funciona tão bem no filme porque não há nenhum diálogo que nos explica o que está acontecendo. Apenas observe os acontecimentos e se coloque na sua posição. Não é algo muito difícil de fazer se você tirar o machismo da sua frente.


# Gatinhas e Gatões

Caloni, 2013-12-15 cinema movies [up] [copy]

Primeiro longa dirigido por John Hughes, Sixteen Candles é memorável até 30 anos depois porque ele representa de maneira fidedigna a juventude daquela época, suas frustações, seus sonhos e estereótipos (é uma comédia). Só para citar o que move todo o roteiro: uma família, preocupada com o casamento problemático da filha mais velha, se esquece completamente do aniversário de 16 anos da filha caçula (Molly Ringwald, que mais tarde faria a Garota do Rosa Shock). Para uma geração em que sobram recursos financeiros, mas falte recursos afetivos, podemos dizer que Gatinhas e Gatões cria um tema admirável com o igualmente eterno Esqueceram de Mim.

Porém, essa é uma comédia, e como tal é cheia de piadas escrachadas, mas que ao mesmo tempo continuam essa tarefa de documentar o que era engraçado na época. Uma experiência no mínimo curiosa.


# A Rosa Púrpura do Cairo

Caloni, 2013-12-16 cinema movies [up] [copy]

Woody Allen parece dirigir tantos filmes que seus temas começam a girar em torno do seu próprio processo criativo. Se isso fica óbvio no excelente Desconstruindo Harry, fica fascinante a manipulação e as críticas desse processo em A Rosa Púrpura do Cairo, onde um dos personagens de um filme sai da tela ao se apaixonar por uma espectadora que viu o mesmo filme por várias vezes.

Como isso é possível já é uma ironia por si só. Estamos na época da Grande Crise e da Grande Guerra ("isso nunca aconteceu antes", "tudo pode acontecer em New Jersey"), e a jovem Cecília (Mia Farrow) tem um marido que a bate e fica jogando todo o dia, vivendo às custas dos esforços da esposa. A maneira de escapar desse mundo para Cecília é, como para muitos, ir ao cinema assistir filmes que, como costumavam ser na época, sobre grandes luxúrias da vida abastada ou aventuras em lugares exóticos (daí o título), justamente atendendo os anseios de um público miserável que precisava de um pouco de magia para enfrentar a dureza daqueles dias.

E magia é o que acontece quando é quebrada a quarta parede desse mundo ideal, fazendo o personagem caçador/aventureiro Tom Baxter (Jeff Daniels) sair do filme assitido tantas vezes por Cecília para fazer parte do seu mundo. A cena para, os outros personagens não sabem o que fazer. Começam a dialogar com o público. Algumas pessoas começam a reclamar que o filme é "parado demais", enquanto outras apontam que "antes o final era diferente". É instaurada uma crise no mercado cinematográfico e o produtor e o ator responsável por sua criação, Gil Shepherd (Jeff Daniels), precisam resolver esse impasse antes que outras projeções do mesmo filme distribuídas por todo o país sejam prejudicadas da mesma forma.

Mais curioso do que o próprio acontecimento é a maneira como aquele mundo o trata, como um problema a ser resolvido e como uma rebeldia que poderia muito bem ter vindo de algum comunista/anarquista maluco. Quando os personagens do filme dentro do filme começam a se questionar a necessidade de um roteirista e direção os dizendo o que fazer, podemos entender como uma crítica direta à máquina ininterrupta de fabricar filmes que Hollywood se transformou. Uma máquina de ilusões, como o próprio nostálgico e necessário final conclui sem qualquer diálogo.


# Padrinhos de Tóquio

Caloni, 2013-12-22 cinema movies [up] [copy]

Essa animação natalina japonesa segue os mesmos moldes do ótimo Paprika, também dirigido e escrito por Satoshi Kon e co-dirigido por Shôgo Furuya, que já havia trabalhado como animador em A Viagem de Chihiro (2001). Quando digo os mesmos moldes me refiro à caracterização exagerada e satirizada da realidade que cerca os personagens. As expressões de rosto absurdas, tão comuns no anime, aqui funcionam em parte pelo seu humor e não funcionam em parte pela sua dramatização exagerada.

A história gira em torno de uma criança encontrada no lixo por três moradores de rua, sendo que os três também foram abandonados pelos seus pais. Formam uma família torta, onde o "pai" é um vagabundo irresponsável e a mãe é um gay. Nas ruas de Tóquio pode-se esperar de tudo, menos compaixão. Essa família, no entanto, se une em torno de seu passado aparentemente semelhante de abandono.

A fraqueza do filme reside em seu roteiro cheio de coincidências que insistem em aparecer em momentos onde elas não são chamadas. Quebram o ritmo de uma história tão envolvente quanto bem desenhada. É uma pena, portanto, que boa parte dos seus momentos sejam estragados no final por uma "revelação" completamente desajeitada. OK, é um conto de natal. OK, estamos falando de uma fábula. Mas veja os fantasmas de Scrooge: surreal, natalino e eficiente.


# Toda Forma de Amor

Caloni, 2013-12-22 cinema movies [up] [copy]

Um filme que retrata um solteirão em busca do amor após o falecimento do pai, que se assumiu gay aos 70 anos após a morte da esposa. O elo entre esses dois seres é um cachorro deixado de herança que se comunica por pensamento.

É difícil se envolver em uma história que utiliza tantos elementos fajutos tentando soar diferente e modernão. Assim como Minhas Mães e Meu Pai, o fato de abordar temas polêmicos da nossa época não significa que o filme mereça créditos a mais apenas por isso. A necessidade de se auto-afirmar não reside apenas nesse fato, mas também em sua construção de tempos paralelos, onde vemos a relação com o pai (passado) refletir em seu relacionamento amoroso (presente). Mas não há aqui o reflexo que o título Beginners sugere, pois não vemos o pai indeciso ou desconfortável com seu novo relacionamento (diferente de seu filho). Se essa era a tentativa da direção e roteiro de Mike Mills, ela ficou no meio do caminho.


# Azul é a Cor Mais Quente

Caloni, 2013-12-23 cinema movies [up] [copy]

É um filme de temática gay, e isso fica bem claro na forma com que a relação entre Emma e Adèle é explorada em seus preconceitos, diferenças e... sexo. De verdade: ou o sexo é tão primordial ou ele é enfocado de forma tão exaustiva, quase pornográfica, que consegue nos tirar do filme. O diretor Abdellatif Kechiche acertou em cheio ao usar a proximidade da câmera no excelente O Segredo do Grão para determinar uma tensão crescente, tanto sexual quanto em seu suspense. Aqui essa proximidade é gratuita ou, mais uma vez, ele está explorando a beleza física da atriz Adèle Exarchopoulos sob todos os ângulos, posições e bocas. Só há algo que exagera mais em tela do que o sexo: o azul. Tanto azul que fica difícil interpretar qualquer simbolismo deixado pelo caminho.

Não que eu esteja reclamando. Nem do azul. Porém, como filme, e como romance, é uma decepção de três horas explícitas.


# Terapia de Risco

Caloni, 2013-12-24 cinema movies [up] [copy]

Me impressionei pela atuação de Rooney Mara (a Lisbeth Salander de Os Homens que Não Amavam as Mulheres) e sua construção de um personagem frágil mesmo que insensível. Os problemas de depressão de Emily são tão óbvios em seus olhares abaixados, esguios, em sua fala mansa e cansada, que tudo isso parece convincente demais.

E é onde reside a genialidade de sua atuação e onde adentramos no segundo ato de um drama que se torna de uma cena para outra, talvez a transição que eu menos goste, em um thriller que é impossível de desgrudar os olhos. Como não vimos isso? Como não percebemos? O que é loucura e o que é malícia? Onde estão as bases de um profissional da psique para desvendar tantas camadas de nossa personalidade muitas vezes vil e desprezível?

Construindo sua narrativa entre sombras e um céu acinzentado com uma fotografia límpida e triste de Steven Soderbergh (que também assina direção), a fé no ser humano pode facilmente se dissipar conforme adentramos no drama do psiquiatra Jonathan Banks e na psique de Emily.


# Um Lugar Qualquer

Caloni, 2013-12-25 cinema movies [up] [copy]

A rotina "solitária" do playboy/ator Johnny Marco (Stephen Dorff), cercado de tietes por todos os lados, mas que não abre mão de uma sessão privada de pole dance protagonizada por gêmeas, e a mudança que vai ocorrendo conforme sua filha Cleo (Elle Fanning) vai participando cada vez mais de sua vida, é mostrada pela lente humanamente aguçada de Sofia Coppola (Encontros e Desencontros), o que dispensa muitos diálogos.

E não só os diálogos. Quase inexiste trilha sonora (apenas a que faz parte daquela realidade). As cenas são longas e quase não ocorre ação, mas o que ocorre, move a história, de maneira econômica e orgânica. Até quando Johnny vai moldar sua cabeça para efeitos visuais de seu filme, o monstro que vemos é aquele ser humano por dentro (ou como ele se sente ao se comparar com a filha). Não é sequer preciso explicar a existência de tantas mulheres em sua volta: na primeira cena o que vemos e ouvimos é tão somente sua Ferrari.


# A Vida Secreta de Walter Mitty

Caloni, 2013-12-26 cinema movies [up] [copy]

Uma história batida, com um ator (e diretor) batido, mas com um argumento instigante e um desenvolvimento que fascina desde o começo: a revista Life ("vida") está no seu fim físico, e um dos fotógrafos mais conceituados envia sua obra-prima para o revelador de películas, que faz isso há uns 15 anos, ou seja, revelar as fotos dos lugares e pessoas mais exóticas. Curiosamente, Walter Mitty (Ben Stiller) nunca viajou para qualquer lugar que mereça ser citado em seu perfil online do eHarmony, onde tenta enviar uma "piscada" para sua colega de trabalho (de vista) Cheryl (Kristen Wiig, linda). Coincidentemente, o negativo da foto é perdido, e o único que sabe seu paradeiro está, como sempre, em uma viagem exótica pela Groenlândia, Islândia e o Selvagem Afeganistão.

Walter Mitty, que vive no mundo da lua imaginando situações impossíveis onde ele é o herói (quem nunca?), começa a se livrar das amarras de sua imaginação e passa a ser a ação que tanto imaginou. Em parte pela foto e seu profissionalismo, e em parte porque quer impressionar a garota. O que o conduz à aventura nunca é forçado. Seu vai-e-vem pode fazer o filme perder ritmo em alguns momentos, mas sua trama é bem construída e suas cenas road movie epicamente realizadas. É um "Comer, Rezar. Amar" que funciona. Trilha sonora e fotografia dão as mãos em busca do tema da revista (algo relacionado com buscar o contato com o outro pela exploração do mundo através das paredes). A razão de aspecto larga favorece a experiência. E é uma experiência e tanto.


# Contato

Caloni, 2013-12-29 cinema movies [up] [copy]

Adoro o livro que Carl Sagan escreveu imaginando como seria, em um mundo realista e atual, nossa primeira comunicação com uma civilização extraterrestre. Ele não apenas fez isso como abriu um pouco mais nosso leque filosófico ao ensaiar uma explicação que unisse ciência e religião, matemática e sentimentos.

Exatamente por isso que a adaptação de Robert Zemeckis se sai tão bem. Ela não ignora a humanidade e seus conflitos de poder, seus anseios e medos do desconhecido. Ela amplia nossa percepção do que possivelmente aconteceria em nosso mundo, com nossas crenças, se um belo dia recebêssemos do espaço uma mensagem nos dizendo: vocês não estão sozinhos.

Mais ainda, o roteiro escrito com a ajuda de Sagan internaliza todos esses conflitos intelectuais e emocionais na personagem fascinante de Jodie Foster, que desde o início de sua vida teve que lidar com sua solidão. Os ecos de seu passado refletidos no presente, sobretudo seus medos (como o de cancelarem o programa de pesquisa por vida inteligente), revelam tanto sobre nós mesmos que é natural, quase primordial, que ela fosse para nós, espectadores, a representante escolhida da raça humana.

Não é um filme difícil, pois consegue ser tão reflexivo quanto empolgante. Ele revela a excitação da descoberta científica, influenciando mentes não-científicas a questionarem a realidade. Possui ao mesmo tempo a riqueza cinematográfica de rimas visuais (Ellie encostando a cabeça no joelho quando desamparada), de movimentos de câmera (a cena lenta e tensa até o armário de medicamentos, onde Zemeckis, para não realizar o corte, transforma a câmera em um espelho), e do uso fascinante do expressionismo (a cabeça de Ellie acompanha a fileira de antenas, como uma extensão do nosso sistema auditivo).


# Frances Ha

Caloni, 2013-12-29 cinema movies [up] [copy]

Nunca vi um filme tão alto astral com uma personagem tão... errada. E fascinante. O mundo de Frances é medíocre. Ela é uma dançarina (ou gostaria de ser) e como todo artista que se preza, tenta viver em Nova York. Porém, como sua amiga bem observa, só um artista rico para se manter próximo da Broadway. Acompanhamos, então, suas vicissitudes, inicialmente com sua melhor amiga, que parece ser a única que lhe resta. Ela é "inamorável", como um amigo costuma dizer. Pegamos partes de sua personalidade de seu convívio com as pessoas.

O filme é em preto e branco, o que o torna mais artístico, mais realista e mais... belo. Talvez essa proximidade dos diálogos rápidos (e muitas vezes precisos) com roteiros de Woody Allen peça tanto um filme em NY quanto em P&B. As músicas também seguem esse tema artístico, tratando a vida de Frances como um palco em um teatro. As músicas começam e terminam em pontos determinados por seu estado de espírito ou alguma ação pontual (correr até o caixa eletrônico mais próximo, visitar Paris em um fim-de-semana).

Nada disso seria lá muita coisa sem a participação inspirada de Greta Gerwig, que cria sem dúvida uma personagem memorável e complexa. Nem sempre conseguimos entender suas decisões, mas mesmo assim, de alguma forma, a apoiamos. É um mundo grande e cruel lá fora. Só o fato de alguém o estar desafiando é digno de nota, respeito e inspiração.


# Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas

Caloni, 2013-12-30 cinema movies [up] [copy]

Mais um da série "filmes fofos para ver com a família", Peixe Grande explora o conceito da Verdade (que não existe sem uma versão) com um argumento dos mais sensacionais: o que distingue os fatos dos "causos" contados por nossos pais, tios, avós? Um causo é uma série de fatos contada com emoção?

Como sempre o diretor Tim Burton tem uma história para adaptar que eleva esse conceito ao absurdo: as histórias fabulosas que seu filho, agora repórter, teve que ouvir durante sua infância de seu pai são tão inverossímeis que o distanciaram de quem seu pai realmente era? Ou a mente humana não vive sem o seu filtro criativo que torna tudo mais interessante ou até impute significado onde antes não havia?

Toda história precisa ser contada através de uma versão. No Cinema isso é verdade inclusive nos documentários. Por que na vida deveria ser diferente?


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