# CCPP Brasil 11: Call For Papers
Caloni, 2015-02-03 ccppbr [up] [copy]Acho que já está na hora de nos reencontrarmos, né?
A comunidade CCPP Brasil está preparando mais um daqueles eventos em que conversaremos sobre nossa maior paixão: B, BCPL, C e C++!
Então vamos aos detalhes:
| Chave | Valor | |-----------|------------------| | Data | 2015-03-28 | | Local | Micro$oft Brasil | | Palestras | undefined |
Ops, deu um errinho de link acima. Acho que é porque ainda não temos as palestras.
Quer colaborar? Não deixe de preencher o nosso formulário do Call for Papers!
Alguma dúvida antes de preencher? Fale conosco na thread sobre o CFP!
Se conhece alguém que gostaria de participar do evento, palestrante ou não, por favor, espalhe a notícia o mais rápido possível. Quanto mais cedo soubermos quantas pessoas irão melhor fica organizar nosso reencontro.
As próximas notícias continuarei divulgando aqui e no fórum C/C++. Fique atento.
# Deixa Rolar
Caloni, 2015-02-11 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Ah, os clichês! Ruim com eles, pior sem eles. Para não funcionar alguém precisa usá-los de forma preguiçosa, relapsa. Afinal de contas, eles já fizeram sucesso milhares de vezes antes de se solidificarem em um lugar-comum. E no caso de Deixa Rolar não se pode dizer se eles são bons ou maus, já que sua própria estrutura depende da análise do que há de mais banal nesses filmes. Vejamos o plot:
"Comédia romântica sobre um escritor tentando escrever uma comédia romântica e onde ele próprio é o narrador de sua história." Soa clichê? Espere até saber que ele nunca se apaixonou e que por isso passa por um bloqueio de criatividade.
Apesar de soar estranho contratar alguém sem experiência no assunto, basta olharmos para seu editor (Anthony Mackie) e lembrar uma sutil e divertida referência a Hitch - Conselheiro Amoroso. Ou seja, é melhor se preparar, pois o que se segue é uma sequência ininterrupta de homenagens e -- obviamente -- clichês de gênero que serão escrutinados pela mente de um escritor em processo de criação enquanto ele vive sua própria história de amor.
Essa é basicamente a fórmula por trás de Deixa Rolar, e é preciso dar créditos à sua coragem de "revelar" a dura e triste realidade das comédias românticas: as pessoas precisam de um pouco de açúcar na vida para deixá-la menos amarga, por mais estupidamente doce que este seja. Há um momento hilário em que a história de um personagem meio que resume as visões limitantes masculina e feminina do que esperar de um filme, passando por um tratamento piegas típico da Disney, mas criando um pouco de tensão usando uma animação com bastante testosterona.
Ou seja, até há um uso criativo e divertido dos clichês, só que curiosamente sua exploração em torno de uma comédia romântica soa ainda mais lugar-comum. É o típico caso de clichês sendo usados de maneira relaxada, como se apenas a auto-referência fosse suficiente para tentar se destacar desse lamaçal de ideias batidas. O que incomoda é que nosso protagonista está alheio a tudo isso, ele não ultrapassa a quarta parede e vem falar abertamente a nós, mesmo que boa parte das situações dependam da sua imaginação criativa, como se colocar em todas as histórias. No entanto, pior mesmo é a sua narração em off que explicita o óbvio ("por que ela está na minha imaginação?"), tornando boa parte das piadas sem graça justamente por estar sendo contada duas vezes. Isso se revela pior ainda com o personagem de Chris Evans, que demonstra pouca inteligência em seus devaneios, ainda que disfarçada de distração, já que ele sempre se coloca em um momento romântico inevitável e não saber o que dizer, como na bonitinha sequência dos "eu te amo".
E quando eu digo inevitável é porque a persona de Chris Evans é charmosa, magnética. Seu jeito despojado -- muito provavelmente saído de sua mente escritora que devaneia praticamente durante todas as cenas -- acaba combinando perfeitamente com o seu jeito de bonitão que conquista diversas mulheres pelo caminho, incluindo a óbvia paquera da única mulher em seu grupo de amigos (Aubrey Plaza, a estagiária de Parks and Recreation). Sim, é claro que ele tem seu grupo de amigos, entre eles um romântico incorrigível que deixa livros perdidos pelos lugares para que as pessoas leiam. Boa parte dos momentos em que ele não está tentando se encontrar (ou se encontrando) com sua amada (a sempre bela Michelle Monaghan) é com eles que há aquela troca de ideias sobre o que ele está fazendo com a moça.
Os clichês chegam sim a incomodar um pouco, mas o ritmo é tanto o principal culpado pela falta de jeito de Deixa Rolar quanto o que cria uma atmosfera para a análise do que fascina as pessoas pela sensação inalcançável do amor, chegando ao cúmulo de forjarmos um subgênero tão adorado quanto odiado. Será que as auto-referências também estão se tornando um clichê?
# O Corpo
Caloni, 2015-02-14 cinema movies [up] [copy]El Cuerpo possui um desenvolvimento razoavelmente tenso e uma atmosfera que lembra muito o excelente Uma Simples Formalidade. Ambientado em torno do desaparecimento do cadáver da ex-mulher de um herdeiro de uma fortuna (Hugo Silva), os passos dados pelo icônico inspetor interpretado por José Coronado e o passado da mulher falecida que o atormenta criam uma base muito interessante para as investigações da insana possibilidade da mulher ter ressucitado e procurado vingança pelo seu assassinato.
Igualmente fascinante é a fotografia daquela noite chuvosa e que mantém os personagens presos em um interrogatório montado no prédio do necrotério. A montagem em torno dos acontecimentos internos, externos e passados criam um clima de conspiração que prende o espectador a cada novo detalhe revelado e as possibilidades do desfecho.
Infelizmente, seu terceiro ato, ou mais precisamente seus dez minutos finais se tornam um pesadelo. Desconstruindo o inspetor e revertendo expectativas, a história revelada estraga toda a trama apenas pela tradição boba atual dos filmes de suspense policial terem um final imprevisível. Uma coisa é ser imprevisível, mas contido na narrativa. Outra coisa completamente diferente é ser imprevisível porque foi tirado um coelho da cartola. Assim, qualquer porcaria fica imprevisível.
# Madrugada dos Mortos
Caloni, 2015-02-14 cinema movies [up] [copy]Queria comparar algum filme de zumbis que não fosse de George Romero ou comédia (Zumbilândia, Meu Namorado é um Zumbi) e nem tão dramático/ação (World War Z), mas que carregasse aqueles símbolos do velho Cinema de Romero no melhor estilo A Noite dos Mortos-Vivos. E eis que finalmente vi esse Madrugada dos Mortos, de Zack Snyder (do interessante Sucker Punch, do sensacional Watchmen e do infelizmente medíocre Homem de Aço).
Com uma fotografia saturada, cenas ágeis, suspense com trilha sonora e sons de arrepiar os ouvidos, o apocalipse zumbi de Snyder aproveita a mitologia e o universo de Romero e a própria atmosfera, o que não é nenhuma surpresa, pois se trata de um remake do filme dos anos 70. Curiosamente, tanto o shopping (Terra dos Mortos) quanto a ilha (A Ilha dos Mortos) foram reaproveitados por Romero em trabalhos posteriores.
Usando uma introdução espetacular em que a enfermeira Ana (Sarah Polley) vê sua filha e seu marido estranhamente possuídos por uma doença semelhante a raiva, o filme mostra rapidamente o que o mundo se torna em uma sequência que enxergamos o carro inteiro de Ana e a atmosfera de sua vizinhança. Usando o mesmo esquema durante todo o filme, as sequências de ação são eficazes mesmo para uma produção de baixo orçamento, o que deixa no chinelo trabalhos trash cômicos como Sharknado (apesar de eu gostar dos tubarões voadores). O ritmo do filme serve tanto para esconder esses defeitos como para esconder a profundidade da narrativa, já que os personagens são, claro, unidimensionais, mas representam justamente seres humanos genéricos. Porém, mesmo assim, possuem mais profundidade que a grande maioria dos dramalhões Hollywoodianos.
O melhor que há em Madrugada dos Mortos é sua despretensão e suas brincadeiras com metalinguagem. Quando conhecemos o destino do suposto vilão, por exemplo, é ele melhor que diz: "era de se esperar". Saber brincar com o próprio material é uma excelente forma de contar histórias que não devem ser levadas a sério. É curioso, portanto, como séries como The Walking Dead conseguem tantas temporadas com uma base dramática rala que usa zumbis, seres mitológicos cômicos, como o perigo constante. Faça-me o favor: os bichinhos sequer correm! Ponto a mais para Snyder.
# Para Sempre Alice
Caloni, 2015-02-14 cinemaqui cinema movies [up] [copy]No decorrer do filme esqueci completamente de Julianne Moore. Sim, é claro que a atriz estava ali, e não é difícil capturar seus trejeitos característicos. Porém, determinada em criar uma personagem unidimensional que representasse a espécie humana como seres individuais e efêmeros, apenas Alice existia, e deixava de existir, assim como cada um de nós. A diferença entre nós e Alice simplesmente é o ritmo. Todos nós iremos nos extinguir. Nossas memórias, pensamentos, sentimentos e aquele "algo a mais" que podemos ou não acreditar irão evaporar em átomos que não conterão sequer uma pista do que foram no passado: aquele ser orgânico dotado de consciência e raciocício só existiu por um momento. A força contida em Para Sempre Alice é que, para ela, a cada momento esse processo de morte acontece repentinamente, e um dia pode ter a duração de um mês. Aumentando o ritmo, esse processo que todos nós sofremos se torna extremamente dramático.
Alice foi diagnosticada com Alzheimer precoce, um problema genético que além de tudo é hereditário. Aos poucos palavras irão sumir de seu vocabulário. Depois, momentos. Mais tarde, nem o banheiro será um lugar fácil de encontrar. Seu mundo vai desmoronando de dentro para fora, e a atuação de Julianne Moore ganha méritos por não se intrometer no processo, mérito esse que pode se estender para seus familiares. Um conjunto de pessoas genérico que não possuem nada de mais em suas personalidades, além de seu marido se manter sempre estranhamente distante de sua esposa, mesmo depois de revelada a doença.
Para Sempre Alice ganha um formato menos de melodrama -- como se poderia esperar pela história -- e mais de metáforas da vida moderna. Por exemplo: antes apenas um joguinho de palavras, o celular se torna o principal e primordial companheiro do dia-a-dia de Alice, que ironicamente é uma estudiosa de linguistica e fascinada por comunicação. Cada vez mais os diálogos cara-a-cara perdem o sentido, o que é natural quando precisa-se fazer a mesma pergunta dezenas de vezes durante a mesma conversa. Em contrapartida, cada vez mais informações vitais vão se acumulando nos gadgets eletrônicos, inclusive instruções para um futuro suicídio caso a protagonista não se lembrasse de coisas básicas como o mês de seu aniversário.
O que nos leva à falta de jeito dos diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland em conseguir tomar as rédeas da história e argumentar a respeito do que acontece na narrativa, tornando alguns momentos arrastados pela repetição de fatos. Para compensar, a sequência dramática em que Alice precisa subir as escadas e seguir uma série de instruções é um ponto alto, assim como o uso de uma profundidade de campo reduzidíssima após uma corrida em que ela passa mal e onde as pessoas em volta viram borrões não-identificáveis. O ritmo empregado na passagem do tempo também é impecável, pois dá ao espectador parte da sensação de estar perdido e não conseguir situar-se no tempo e nos espaço.
O que é um sentimento comum, embora não-crônico. Para Sempre Alice aproveita dos sintomas que todos nós já sentimos pelo menos uma vez na vida para trazer a personagem para perto de nós, enquanto ao mesmo tempo somos obrigados a acompanhar o horror de ver nossas memórias serem perdidas para sempre. Como bônus, a última fala da personagem nos enche de uma esperança vazia com perfeição. Afinal de contas, não somos apenas um punhado de informações espalhadas em nossas cabeças e na internet. Como seres orgânicos dotados de consciência, temos emoções, e mesmo que durem apenas o momento presente, isso é nosso, naquele exato aqui e agora. Pelo menos aconteceu.
# Será Que?
Caloni, 2015-02-14 cinema movies [up] [copy]Uma comédia romântica de um diretor canadense com cheiro de humor britânico. A parte do humor britânico, obviamente, é o que torna tudo mais engraçado. Já chega de assistir àquelas ComRons que tentam blindar o amor contra piadas. Faça-me o favor: esses produtores ganham milhões em cima da reinvenção clichê de um sentimento falso responsável por distorcer boa parte da mente desses zumbis consumidores carentes.
Aqui a dupla Daniel Radcliffe (da série Harry Potter, caso você tenha vivido em uma caverna na última década) e Zoe Kazan (do ótimo Ruby Sparks: A Namorada Perfeita) fazem um ótimo trabalho em diálogos e atuações que torna o tema do amor entre pessoas comprometidas algo leve e bem-humorado. A profissão e paixão da personagem de Zoe ainda colabora imensamente com uma direção de arte que usa e abusa das animações, mas em sua maioria funciona como mágica.
O relacionamento deles passa, sim, por todos os clichês que conhecemos do gênero, mas não irrita, pois seus personagens mantém o pé no chão e é possível acompanhar sua evolução sem forçar a barra. Enfim, uma comédia leve, bem-humorada (humor britânico, lembra?) e que não ofense seu senso da realidade.
# Magic Mike
Caloni, 2015-02-15 cinema movies [up] [copy]Os dias parecem meio pálidos, a noite um pouco mais brilhante. Não me cansei em nenhum momento de admirar o fascinante trabalho fotográfico de Steven Soderbergh, que altera a realidade à nossa volta com o propósito de mostrar o ponto de vista desses garotos que trabalham à noite em uma boate de strippers. Soderbergh obviamente também assina a direção (Traffic, Onze Homens e Um Segredo, Conduta de Risco) e a edição. Ele pega o roteiro do produtor Reid Carolin e adentra nesse mundo noturno em uma imersão profunda e inspiradora a respeito, curiosamente, de negócios. Meio uma mistura de Showgirls (Paul Verhoeven, 1995) com A Firma (Sydney Pollack, 1993), o showbusiness é visto de uma forma cínica. É quase uma crítica velada ao capitalismo selvagem que tudo compra ("escolas não servem para nada, vou colocar meu filho para assistir Mad Money todos os dias e ele vai ganhar rios de dinheiro").
Mas os astros do filme com certeza são Channing Tatum, Olivia Munn, Alex Pettyfer e o icônico personagem de Matthew McConaughey. Tatum constrói uma persona dedicada em fazer sucesso como empresário, disposto a economizar sua vida inteira para ver realizado seu sonho de construir móveis personalizados. É um rapaz que já mostra sinais da idade, mas ainda dança como um Backstreet Boy ousado no palco. Pettyfer é seu lado jovem, quando começou, e sua irmã (Munn) é seu alterego analisando tudo isso do lado de fora (quando ela vai pela primeira vez na boate a vemos próxima da tela com o palco bem distante). McConaughey, por fim, representa o status máximo daquele negócio lucrativo, e ao mesmo tempo demonstra como para fazer uma omelete é preciso quebrar alguns ovos (desde que não sejam os seus). Todos estão à vontade em seus papéis. Os coadjuvantes ajudam a enriquecer ainda mais esse universo, como a personagem de Denise Vasi, que faz uma psicóloga.
A princípio Magic Mike lembra um filme antigo. Talvez pela fotografia, ou até pelo contexto retrô daquele clube de mulheres. No entanto, ao notar as referências modernas e o estilo das danças logo vemos que se trata de um presente bem atual. Isso não é acidental. E é o que o torna um trabalho irrepreensível do começo ao fim, digno de revisitas.
# Bob Esponja: Um Herói Fora d''Água
Caloni, 2015-02-16 cinema movies [up] [copy]Bob Esponja representa a subversão do desenho animado como forma de contar uma história. É um anti-Disney falando diretamente para as crianças de todas as idades mentais possíveis, tenha você cinco ou cinquenta anos. É uma viagem de LSD pelo submundo das piadas descontextualizadas, colocando para escanteio até trabalhos como Uma Família da Pesada (pois até eles têm um contexto por fingir estar em um sitcom) e ao mesmo tempo homenageando o clássico Pica-Pau (Ben Hardaway/Walter Lantz/Alex Lovy, 1940) em uma versão não-violenta. Pior do que Homer em Os Simpsons: O Filme ("Eu não posso acreditar que estamos pagando para ver algo que passa na TV de graça!"), realiza um trailer que promete um filme 3D e entrega 20% dele. Bob Esponja: Um Herói Fora d'Água mereceria aplausos apenas por enganar seus espectadores, mas eu digo que merece também por honrar os roteiros inspiradíssimos que passam na Nickelodeon e não se deixar levar pelo próprio marketing, jamais criando uma história abaixo dos padrões de absurdo vistos na telinha.
E que melhor absurdo do que assistir a pseudo-referências porcamente inseridas em viagens no tempo, golfinhos falantes, apocalipse com roupas de couro e todas as paródias possíveis e que ninguém poderia imaginar a respeito da onda de filmes de super-heróis jamais imaginada?
Construindo sua trama a partir de um livro mágico onde tudo que se escreve nele acontece -- mas só deixar o público entender isso muito tempo depois de mastigar sua longuíssima introdução --, a história gira em torno de um pirata que altera a ordem das coisas na conhecida Fenda do Biquíni, onde Bob Esponja Calça Quadrada cozinha hambúrgueres de siri para os sempre famintos moradores da cidade. Roubando a igualmente conhecida fórmula que é responsável pelo sucesso dessa iguaria, o pirata obriga os moradores fiéis -- menos os secundários -- a arregaçar as mangas e sair para a superfície. Só que até isso acontecer muita água vai rolar em passagens que até funcionam organicamente, mas que contém surpresas muito melhores em suas mini-tramas envolvendo as situações listadas no parágrafo anterior.
No entanto, voltemos para a terra firme. Mostrar Bob Esponja e seus amigos em um filme inteiro no formato 3D não seria uma solução viável, pois isso estragaria a imagem que temos dos personagens e não criaria os mecanismos que já conhecemos debaixo d'água e que torna a história sempre dinâmica e interessante. Dessa forma, quando isso acontece, ela é feita unicamente durante as sequências de ação, com cortes desenfreados, muita movimentação e troca de foco que garante que essa breve passagem não irá manchar nossa imagem bucólida da vida submarina em um 2D muito bem aceito por até o momento dez temporadas.
Com uma conclusão alongada um pouco demais, o segundo filme com o herói esponjoso certamente merecerá revisitas, pois creio que metade das piadas pelo menos conseguirão ser redescobertas (como um tiranossauro com cara de polvo tentando agarrar um hambúrguer de siri). E também, é claro, quando nossa idade mental envelhecer um pouco e as velhas piadas contiverem novas conotações.
# Como é escolher um filme pelo trailer
Caloni, 2015-02-17 [up] [copy]O que está passando esse fim-de-semana? Que tal dar uma olhada nos trailers para escolher?
Uma escolha de atores-mirins arriscada, o uso da câmera subjetiva parece recorrer a artifícios do Cinema Indie norte-americano. A sequência noturna, no entanto, mostra uma bela mensagem de que nunca é tarde para brincar. O uso da trilha sonora casual cria uma atmosfera mais bucólica, mas ainda assim atual.
Vamos para o próximo.
Duas atrizes aclamadas pela crítica fazem uma bela atuação envolvendo mãe e filha em torno do drama familiar da lavagem de roupa suja. Cores brandas, cortes rápidos e momentos particularmente tocantes de Fernanda Torres que pode render algumas premiações. Para finalizar, alguns efeitos com o uso de sabão em pó voador pode arrancar uns bons sustos da plateia.
Conclusão: acho que veria o filme de Ariel Líquido, pois seu potencial dramático não deveria ser ignorado. Para os mais aventureiros nessa onda hipster, recomendo Omo Multiação Partículas Extra-Limpeza.
Boa sessão!
# CCPPBrasil 11 Brasil (Inscrições)
Caloni, 2015-02-19 ccppbr [up] [copy]O Call for Papers já iniciou há duas semanas e deverá ser encerrado no final de Fevereiro, quando publicaremos o cronograma do nosso evento. Até lá a página oficial do evento deverá ser atualizada com coisas a mais do que os dois coffee breaks. Porém, antes que o preço aumente, você já pode garantir o seu lugar e pagar mais barato. Para uma dica do que poderá ser selecionado de palestras compilamos uma lista de palavras-chave.
Porém, fora as palestras, teremos a chance de conversar sobre os mais diversos assuntos que giram em torno de tecnologia, C/C++ e todas as áreas em que essas linguagens são usadas. O pessoal de embarcados costuma marcar uma presença forte por lá, além de algum pessoal de finanças, segurança da informação, projetos open-source, matemática, acadêmicos e, acredite se quiser, até programadores de device drivers para o kernel do Windows.
# Annie
Caloni, 2015-02-22 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Talvez o remake de Annie sofra daquele conhecido problema de hoje em dia: alguns filmes com um teor mais ingênuo simplesmente não conseguem superar a barreira do cinismo contemporâneo. Pelo menos nesse caso não é apenas esse o diagnóstico, pois o diretor Will Gluck (do péssimo A Mentira) não faz o menor esforço para tirar do automático uma representação teatral com uma alma um tanto defeituosa.
O mais curioso é que todos os atores foram escolhidos até com um certo senso estético/social: a garota Annie é a impressionante Quvenzhané Wallis de Indomável Sonhadora, que aqui interpreta uma menina que não conhece seus pais e vive com a mãe adotiva temporária e muito mau-caráter Hannigan (Cameron Diaz). Por uma obra do destino ela vira tema de campanha do candidado a prefeito de Nova York, o empresário Will Stacks (Jamie Foxx), que parece ser alérgico a pobres, preenchendo um estereótipo no início que se quebra em menos de meia hora de filme. Seus assistentes são o mau-caráter irremediável Guy (Bobby Cannavale) e a bela e simpática "Bruxa Boa do Norte" Grace (Rose Byrne, afinal alguém tem que ter bom coração nesse roteiro manipulador escrito pelo próprio Gluck e a interessante Aline Brosh McKenna).
Colocadas as peças no tabuleiro, o único objetivo de "Annie" é construir situações onde as pessoas cantem, o que não é necessariamente ruim, pois se trata de um musical, mas acaba se tornando decepcionante com o uso de dublagens mal feitas com uma edição de som que parece sugerir que a música surge por um processo mágico semelhante a um videoclipe ocasional na MTV.
Porém, sejamos honestos: todo o elenco está razoavelmente afiado para representar com humor e emoção a experiência da menina que encontra um novo lar acendendo o coração de um empresário "self-made man" que nunca teve a chance de ter sentimentos pelas pessoas ao seu redor. No entanto, alguma coisa fica no meio do caminho. Apesar de tudo estar nos conformes, há algo, que chamei de alma no primeiro parágrafo, que impede que o filme ganhe o ritmo necessário. Pode ser os seus cortes episódicos que emperram o ritmo da narrativa, ou uma má seleção musical, ou até mesmo uma direção preguiçosa e alheia ao destino de seus personagens. Afinal, é um musical, e as pessoas só estão interessadas nos números musicais, certo?
Bom, nem sempre. Apesar de alguns momentos inspirados em cenários com muita cor e muito som, nada faz com que "Annie" largue esse seu clima de Glee em algum momento e passe a se levar a sério. E se nem o próprio filme consegue se levar a sério, é porque ele constrói um universo que não vale muito a pena fazer parte, nem por duas horas.
# Mr. Turner
Caloni, 2015-02-22 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Luzes, câmera, ação. Para os pintores, especialmente para o excêntrico pintor britânico Joseph Mallord William Turner (Timothy Spall), o primeiro elemento da tríade cinematográfica também é o mais importante de uma das artes de onde se derivou a sétima. A luz, nunca levada em conta pelo público médio, é vital para a compreensão do que um quadro quer dizer, seja ele uma pintura de aquarela ou as paisagens estáticas do filme escrito e dirigido por Mike Leigh (O Segredo de Vera Drake).
O filme protagonizado por Timothy Spall (mais conhecido por seu papel de Peter Pettigrew na série Harry Potter) acompanha a vida do pintor romântico desde a morte do pai até a sua própria e esperada morte. Spall consegue a proeza de se afastar de seus papéis cômicos e colocar um filtro de mistério por trás daquele esquisito homem que bufa e respira como um porco, se mantém quieto na maioria de suas observações, mas quando fala nunca é algo que esperamos, mas sempre mais profundo e igualmente misterioso.
O mistério, aliás, é muito bem mostrado naquela própria época, onde as primeiras descobertas físicas estavam ainda sendo arranhadas, e onde coisas como prismas, agulhas magnetizadas e câmeras fotográficas eram a tecnologia de ponta. Turner vira nosso guia por diversos níveis daquele mundo, seja os primeiros passos da ciência desbravando a origem da luz, a academia de pintores e suas discussões acaloradas ou até colegas históricos e suas desavenças. Chega a arriscar ideias além do próprio personagem, questionando a propriedade das obras de arte após a morte de um artista, e se seria ético mantê-las trancadas pelo bel prazer do dinheiro de poucos, ou pertencer ao próprio povo e terras que serviram de inspiração.
Porém, o que o diretor Mike Leigh parece mais fascinado é nos situar em uma época de maneirismos sociais exóticos e um ritmo lentíssimo para os padrões atuais maquiado com cortes longos -- e infelizmente muitas vezes perde-se a passagem do tempo. É um jogo arriscado que funciona mais do que deveria porque entendemos que a arte só conseguiu se concretizar através de diferentes vivências e percepções de um artista que buscava captar o momento de forma mais abrangente do que uma pessoa sentada em uma cadeira estática por dez segundos. Há vida nos rabiscos de Turner que ganham vida extra comparadas com a atmosfera de sua própria.
Isso explica, também, como o que há em seus quadros é o que falta em suas interações sociais. Em determinado momento sua mulher tenta afastar Turner por um breve momento de seu quadro recém-pintado, no que se transforma em seus últimos suspiros. Você não afasta um homem do que ele é, nem por um segundo.
# Cinquenta Tons de Cinza
Caloni, 2015-02-28 cinema movies [up] [copy]Anastasia e Christian Grey. Esses nomes serão difíceis de esquecer, já que são repetidos muitas vezes em Cinquenta Tons de Cinza, cujo título remete ao personagem de Mr. Grey, "cinza" em inglês, um trocadilho que foi perdido na tradução do Brasil. Se pelo menos tivessem usado a mesma estratégia de Metastasis, uma série-remake versão latina da norte-americana Breaking Bad, que rebatiza seus personagens para que mantenham os nomes e cores, talvez pudessem extravasar o lado cômico e leve deste filme que, por mais roupas sendo arrancadas e chicotes sendo levantados por minuto, continua sendo uma trivialidade para países menos puritanos.
Quem são Ana e Grey também não é algo difícil de lembrar, pois suas descrições quase não passam do próprio nome e seus atributos físicos. Ele é um jovem bilionário do vale do Silício -- seu discurso para formandos me diz "reencarnação de Steve Jobs com sérios problemas para sorrir". Ela (Dakota Johnson?), uma estudante de literatura inglesa que atrai a atenção de Mr. Grey através do seu sarcasmo tímido ao entrevistá-lo no lugar de sua colega de quarto. Você sabe como uma jovem mulher de humanas costuma se comportar em situações como essa, ou pelo menos esse roteiro peculiar de Kelly Marcel (Walt nos Bastidores de Mary Poppins), adaptado do romance de E.L. James,imagina saber: elas gostam de defender bandeiras de minorias, simplificar o sucesso dos outros com palavras como "sorte" e, por fim, acreditar no amor livre e desinteressado. A menos, é claro, que ela esteja de frente -- ou na frente, agachada -- de um rapaz sexy, endinheirado e que revela que irá fxxx-la. E com força. Ah, isso conquista qualquer intelectual.
Mas não deixemos apenas com Ana os méritos de uma relação em que o casal parece de certa forma se merecer. Christian Grey (Jamie Dornan) tem tudo na vida, em grande escala e sempre muito limpo, sofisticado e bonito. Até seu motorista é bonitão. Seu único "defeito" é ser um pervertido sexual. Um dominador. Algo que, convenhamos, tendo tanto dinheiro e ainda a geração internet ao seu dispor, não tornaria difícil encontrar seu par perfeito: uma "submissa" linda (em grande escala) e limpa. Isso em qualquer lugar do mundo. Um estalar de dedos e a traria voando (literalmente) para o seu quarto do prazer (um nome que me faz cair no sono). Assim ninguém se machuca e todos aproveitam. A não ser que Christian, além de ser um pervertido, seja um maníaco obsessivo, que insiste que Ana deve ficar longe dele, mas que sempre a traz mais para perto e que ainda assim faz questão de deixar claro que não haverá amor em sua eventual relação.
Aí é que está a questão. Se não há amor, se é uma relação carnal onde o macho-alfa trata sua fêmea como um objeto pronto para satisfazê-lo sem nunca dormir com ele nem ser levada para sair (ou talvez por uma noite), não é uma relação. Ou pelo menos uma relação que uma das partes espera. Talvez nenhum dos dois espere por isso. Mr. Grey, o Sr. já ouviu falar de internet? E classificados?
Há partes na história em que os pais do casal são apresentados, além da amiga de Ana e o irmão de Grey, que fazem sexo como a sociedade espera. Tudo leva a crer que o filme quer que vejamos como pessoas pervertidas podem passar despercebidas. Sabe quem mais pode passar despercebido? Gays. E isso não é um escândalo. Por que seria no caso de um dominador e sua submissa? Por que parece ainda haver julgamentos nessa relação? Talvez o filme tenha seu motivo de existência em um experimento social. Por ser um sucesso de público podemos observar a reação das massas, em diferentes culturas, classes sociais e credos.
Pena que é um experimento muito chato. As cenas de sexo, devidamente higienizadas e protegidas, lembram mais um procedimento cirúrgico para tratar de um paciente doente. Dá sono. Mais divertidas são as incursões filosóficas em Ninfomaníaca, de Lars von Trier. O paciente sendo tratado é Mr. Grey, mas a sociedade, começando pelo diretor e roteirista, é que parece doente. O próprio filme parece sutilmente condenar o relacionamento que tenta ser vendido como algo engraçado, além do fato de um bilionário do setor de tecnologia sofrer para conseguir seu brinquedinho sexual. E é engraçado.
Engraçado justamente por isso: Mr. Grey, você não conhece a internet?