Fale-me mais sobre clichês. Esse filme tem de montes e nenhum é usado direito. Há a narrativa em off de uma protagonista que faz questão de ser desinteressante (mas parece que o filme acha o fato dela tocar violoncelo cool o suficiente para ser uma personagem digna de ser seguida), mas que mesmo assim arrisca nos primeiros 10 segundos a se comparar com Beethoven. Há o romance entre um casal igualmente desinteressante, mas que o filme acha muito cool pelo fato do rapaz cantar em uma banda e juntos formarem dois "extremos" musicais. Por fim, ele acha a família da moça tão cool que até evita falar muito sobre eles, para quando todos morrerem não fazerem a mínima falta, por mais que a garota berre ao saber do seu irmão mais novo.
If I Stay é um filme feito para ser bonitinho e fazer as pessoas chorarem. Aparentemente as pessoas choram por qualquer bobagem. Basta contar que ela é bonita, tem um futuro pela frente, ele também, e que ela sofreu um acidente com sua família genérica, e pronto: tristeza constante instantânea. Infelizmente, uma rápida análise sobre esses personagens revela que eles são enfadonhos demais, e que o grande conflito do título não se sustenta, já que a decisão da moça, que está sempre andando como um fantasma pelo hospital, é se ela vai viver ou morrer, e não viver ao lado de um garoto.
Por incrível que pareça, apesar dela estar à beira da morte, um conflito que ocupa a maior parte do tempo é se ela seguiria sua carreira do outro lado do país ou ficaria com ele. Há umas seis horas de indecisão a respeito. É demais para o meu gosto.
Baseado no livro autobiográfico "Wild: From Lost to Found on the Pacific Crest Trail", a protagonista absoluta do filme são as memórias da autora Cheryl Strayed, interpretada pela competente (ou bem escolhida) Reese Witherspoon. No entanto, além de Sheryl, parece haver ainda um espírito maior que quer contar uma história maior. Um espírito interpretado pelo fantasma de sua mãe, a simpática e intensa Bobbi (Laura Dern, quase roubando a cena). Um espírito trabalhado em todo homem e mulher do filme. Um espírito que luta pela liberdade do ser humano independente do seu gênero. Um espírito tão empenhado em conduzir essa tarefa na mente de seus espectadores que avança um pouco o sinal, se tornando quase um manifesto feminista de bolso.
Felizmente, as passagens do filme são extremamente bem conduzidas através dos flashbacks de Sheryl -- que já começa a história a caminho da trilha de centenas de quilômetros. Não só isso: o ritmo do "road-movie" é tão incidental, que ocorre ao acaso, quando na realidade cada evento da travessia é interpretado à luz das memórias de Sheryl e sua visão do mundo, uma visão bipartida em luz e trevas. A luz ela herdou da sua mãe, sempre animada com a vida. As trevas, da doença que fez com que ela morresse aos 45 anos. Recheado de uma trilha sonora inspirada e uma fotografia de tirar o fôlego (o filme tem uma razão de aspecto largo para isso), que consegue elegantemente atravessar tanto um delirante deserto quanto uma absurda camada de neve.
Todas essas virtudes impedem que o filme se transforme em uma mensagem simplória a respeito de um movimento feminista levemente radical. Afinal de contas, não é à toa que a maioria dos homens são retratados como porcos sedentos por sexo, que usam o elogio como forma de aproximação, não livre de interesses. Porém, não são todos. Há o simpático senhor que cozinha para Sheryl na parada, e há o jovem que acabou desistindo da empreitada antes da nossa heroína. Porém, mais compensador é encontrar outras mulheres pelo caminho, algo que Sheryl faz e que ilumina mais ainda o horizonte.
Talvez o mais importante em assistir Wild é observar uma mensagem se compondo aos poucos através de metáforas, quase parábolas. Se ao mesmo tempo essas mensagens remetem à brutalidade do homem no trato com a mulher, o que é uma realidade forte no passado e ainda presente em diversas culturas, é compensador enxergar um fio de esperança delineando o filme. A esperança de que um dia seremos apenas seres humanos, indivíduos que merecem respeito independente de qualquer coisa, e que são capazes de qualquer coisa. Inclusive andar centenas de quilômetros sem contato com a civilização e sobreviver, sem temer ser estuprada pelo caminho.
Vingadores 2 já estreia atrasado. Seu tema de inteligência artificial parece já ter sido abordado com maior sucesso a partir de trabalhos menos ambiciosos, mas bem mais curiosos, como Transcendence e Lucy (coincidentemente com a mesma Scarlett Johansson que aqui faz a heroína russa Viúva Negra). No entanto, seu maior trunfo com certeza não são os embates filosóficos sobre qual a solução para a paz mundial através do uso de redes neurais artificialmente produzidas (ou feitas por alienígenas). Isso está tão resumido em chavões e explicações genéricas para o espectador médio que não faz muita diferença. Como sempre, a grande sacada dos filmes de super-heróis são as explosões, os efeitos visuais, as frases de efeito levemente cômicas (mas nunca ofensivas) e as roupas coloridas (hoje em dia, em "dark" discreto, mas coloridas).
Pelo menos aqui já existe uma equipe mais ou menos consolidada lutando contra o mal, ainda que esta equipe troque suas farpas para deleite do fã e ainda precise sempre ser lembrada de trabalhar juntos para serem considerados uma equipe. Há aquela voltinha clássica de 360 graus em torno do grupo e há aquele 3D mixuruca que já não engana mais ninguém.
No entanto, este Vingadores se estabelece levemente superior ao seu original quando assume um lado mais humano de seus protagonistas. É com surpresa e entusiasmo que acompanhamos a visita de um certo personagem à sua "casa", da mesma forma com que dois novos heróis, embora mais uma vez estereotipados em torno da vingança do malvadão Tony e as indústrias Stark, tomam atitudes mais razoáveis na segunda metade do filme.
Outra "surpresa" agradável são os efeitos, em especial os que cercam Hulk, o gigante raivoso. Seus movimentos e a poeira e ranhuras que este acumula em sua pele verde são dignos de nota. O ator que o interpreta, Mark Ruffalo, é uma das melhores coisas no filme em questão de elenco, seguido bem de perto por Robert Downey Jr. e seu Tony Stark, de quem nunca cansamos. Dessa vez é Ruffalo e seu bicho grande que assume a relação amorosa da vez (sempre há, é uma regra de Hollywood), com a mesma Viúva Negra que flertava com Capitão América em seu segundo filme. Ou seja, há mais uma vez um lado humano florescendo no meio de tanto CGI.
Ainda assim, "Vingadores 2" não pode ser levado a sério quando evita até mesmo mostrar a queda de humanos em um evento megalomaníaco. Não se trata de mostrar a morte. Apenas a queda. Titanic já fez isso em um filme que é supostamente um romance. Até o filme-catástrofe 2012 e seus navios com comportas gigantescas brinca com isso. No entanto, no mundo live-action da Marvel, parece não existir dor, apenas diversão. O que assusta mais é que quando a morte aparece ela não é impactante. Da mesma forma com que foi feito em O Espetacular Homem Aranha 2, ela se torna passageira enquanto impactante. Dura cerca de cinco minutos e uma trilha dramática.
Vingadores 2 não é tudo isso? Talvez até seja. Pode ser apenas eu, levemente cansado desse sub-gênero repetitivo que nunca ousa. Aguardo ansioso pela ficha cair do lado dos fãs, que vão um dia entender que mais explosões e mais frases de efeito não vão tirar uma história medíocre do chão.
# Analisando Erros Pelo Filtro do File Monitor
Caloni, 2015-05-06 computer [up] [copy]As ferramentas da SysInternals fazem a gente economizar um tempo considerável na resolução de problemas. Não que elas sejam indispensáveis. Tudo que elas fazem é encurtar o caminho entre a análise de um bug e sua resolução, o que acaba sendo muito se considerarmos que programação é 20% codificação e 80% transpiração. Ela é um atalho para muitas coisas, desde achar uma ordem errada de includes no header durante a compilação ou descobrir que por que um processo morreu durante o login.
Curiosamente ambos os exemplos que citei são de uma mesma ferramenta: Process Monitor, ou carinhosamente chamado de procmon. Ele é um filho de duas ferramentas hoje extintas, FileMon e RegMon (acho que não preciso explicar o que ambas faziam). Todas são baseadas em drivers que escutam eventos do sistema operacional e um aplicativo que mastiga essa informação e as filtra de diferentes e criativas formas. Vamos utilizá-lo depurando um instalador muito sacana.
A SoSo Company é uma empresa criada na China e que possui programadores muito bons. Eles são altamente especializados em fazer instaladores, e nas horas vagas ainda fritam pastéis de frango (ou "flango", como os nativos costumam chamar). Porém, alguma coisa está acontecendo com uma nova versão do instalador que está dando erro ao rodar o aplicativo após atualizado. Isso só acontece em algumas máquinas, na maioria delas tudo funciona perfeitamente. Tanto que esse erro só foi encontrado depois de centenas de máquinas terem sido atualizadas (oh, não).
O primeiro a descobrir esse erro foi um cliente muito importante para a SoSo, e entre as máquinas desse cliente muito importante o erro foi acontecer justamente na máquina do CEO da empresa. (Qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência.)
O analista Juquinha do suporte técnico terceirizado na Índia sul-americana foi chamado para dar uma olhada nesse problema. Como os chineses não confiam em um não-comedor de pastel de flango Juquinha não terá acesso ao código-fonte do produto, mas poderá dar uma espiada no instalador, que faz algo parecido com o código abaixo:
print("Happy installing..."); CreateDir("/soso"); CpFile(L"soso.exe"); CpFile(L"soso.dll"); CpFile(L"soso_ui.exe"); print("All light =)");
O instalador copia tudo e não verifica erro nenhum; afinal de contas, o que pode dar errado, não é mesmo? Haja o que houver, o mundo continua maravilhoso. Porém, depois da atualização esse erro explodiu na máquina do diretor. E agora?
Sem saber muito bem o que fazer, mas com a possibilidade de testar a situação em uma nova máquina (de outro diretor), Juquinha resolveu rodar novamente o instalador, mas dessa vez com a companhia do ProcMon. Depois disso, para efeitos de comparação, rodou o instalador em uma máquina qualquer onde a atualização funciona. Ciente de que o ProcMon por padrão captura centenas de milhares de eventos e mostra na tela, Juquinha filtra os eventos pelos quais mais interessam e exporta-os para um arquivo CSV. Com isso ele pode agora usar um comparador de arquivos como o WinMerge para terminar o serviço. No entanto, para conseguir comparar muitas informações de máquinas distintas, tenha em mente que algumas colunas precisam ser eliminadas, como o horário de execução dos eventos e o PID dos processos.
Depois de muito fuçar nessa comparação eis que nosso herói encontra um evento-chave, que ocorre apenas na máquina do diretor:
Date: 2015-05-08 20:29:52 Class: File System Operation: CreateFile Result: SHARING VIOLATION Path: /soso/soso.dll TID: 1512 Duration: 0.0000458 Desired Access: RWD Disposition: OverwriteIf Options: Seq, Sync IO, NDF Attributes: A ShareMode: None AllocationSize: 65,024
E voilà! Parece que alguém está bloqueando a atualização de soso.dll, embora soso.exe conseguisse ser atualizado (logo concluímos que não é ele).
Se Juquinha é analista de nível 1 ele precisará compartilhar suas descobertas com outras pessoas da equipe. Para isso, basta duplo-clicar o evento no ProcMon e usar o botão de cópia. O resultado será um texto com todas as informações necessárias para uma análise mais aprofundada.
OK, mas onde está o problema? Bom, aqui começa a pesquisa, mas se você já programou para Windows API já há algum tempo sabe que alguém abriu esse arquivo antes com um modo de compartilhamento incompatível com uma escrita (que é o que o nosso instalador tenta fazer). Para saber quem é o culpado, mais uma ferramenta da SysInternals vem a calhar: Process Explorer (eu ia dizer handle.exe, mas ele não funcionou em meus testes).
No Process Explorer existe uma opção no menu chamada Find, Find Handle or DLL, onde o culpado se mostra rapidamente. No caso em questão (fictício, mas com uma ponta de verdade) o culpado foi o soso_ui.exe, que fica bloqueando a dll no momento da atualização! Na verdade, o grande culpado foi mesmo o programador desse instalador, que sequer tem ideia das centenas de erros que podem ocorrer durante uma atualização. Azar do suporte técnico desse produto.
A diretora Susanne Bier já nos mostrou um debate ético arrebatador em Depois do Casamento. Agora em Segunda Chance o dilema moral, como ideia, é muito maior, e dificilmente há um momento no filme que é possível relaxar de tanta tensão. Os closes nos atores são constantes e a câmera na mão deixa tudo mais imediatista. Se há momentos de calmaria, é porque Bier escolhe nos brindar de tempos em tempos com a visão da água tocada pelo vento, ou o céu pelos pássaros.
A história gira em torno de dois casais e dois bebês, que são eficientemente introduzidos logo no início. Andreas (Nikolaj Coster-Waldau) é um policial que, ao presenciar o descontrole de sua mulher, Anna (Maria Bonnevie), ao perder o filho em uma morte precoce ocorrida durante a noite, se desespera ao entender que ela é capaz de se matar pela dor do luto. Ele realiza, então, na calada da noite, a troca por outro bebê que ele havia visto naquele mesmo dia, filho de um casal problemático: Tristan (Nikolaj Lie Kaas), o marido drogado que espanca constantemente sua mulher, Sanne (May Andersen).
O filme mostra tudo como algo quase que natural a se fazer, pois o bebê dificilmente sobreviveria ou teria algum futuro no ambiente insalubre do casal, mas mais importante que isso, mostra Andreas quase como uma vítima das circustâncias, pois após seu ato condenável ele vive à beira de uma cada vez mais perturbada esposa e uma incessante crise de consciência quando, tentando se livrar do bebê morto, Tristan finge que ele foi sequestrado e acaba colocando Andreas novamente em contato com o casal.
Com uma fotografia com cores frias e sóbrias da estreante Michael Snyman, que se aproveita boa parte do tempo da penumbra para contar sua história, as noites são uma constante. O escuro completo representa a obliteração de um ser em uma cena arrebatadora envolvendo um berço e um caminhão. E de dia, o cinza começa a tomar conta da vida dessas pessoas, sugando o pequeno rastro de felicidade de uma família, representada inicialmente pelas luzes natalinas que cercam sua casa. Curiosamente, uma rima inversa é adotada para o parceiro de Andreas, Simon, que de alcoólatra inveterado, resolve rever sua vida à sombra da dor do casal amigo, em uma ótima participação de Ulrich Thomsen.
Ao mesmo tempo, a pequena, mas significativa, participação de May Andersen como a mãe que se nega a reconhecer o bebê morto como seu filho realiza uma contraparte eficiente da história, e ainda que em nós gere uma desconfiança sobrenatural, pois é impossível distinguir ambos os bebês -- a produção do filme usou nada mais nada menos que 10 bebês para representar os dois, sem distinção.
E é curioso que a fisionomia dos bebês não seja levada em conta, pois o próprio filme usa a mesma dinâmica para entendermos as nuances do que está ocorrendo. É por isso que a forma com que Sanne segura seu filho ganha um novo significado à luz de uma revelação vital próximo do final, ou como os flashes iniciais vão aos poucos se reencontrando no decorrer da narrativa. É através dessa discrição e sutileza que o filme consegue enriquecer seu panorama, não se limitando apenas a mais uma história policial ou um drama genérico.
Afinal, da mesma forma com que Depois do Casamento não é um drama sobre paternidade, Segunda Chance não é um suspense baseado unicamente em uma troca de bebês. São os seus dilemas morais, que ganham contornos universais, que tornam ambos os trabalhos irretocáveis como exercícios filosóficos.
Eu não gostava de musicais, mas aprendi a gostar através de trabalhos fabulosos do gênero, como Noviça Rebelde e Moulin Rouge. Também posso dizer que gosto de trabalhos menos fabulosos como Chicago. Agora, do mesmo diretor, Rob Marshall, esse Into the Woods mostra claramente quando um musical deixa de ser um filme aceitável: quando se torna insuportável a ideia de mais algum ator cantando.
Mesmo com a participação bem especial de Meryl Streep como a bruxa má, o filme não se sustenta ao tentar juntar diversas histórias do folclore infantil -- Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel, Cinderela, João e o Pé de Feijão, entre outros -- e se enxergar através da sempre distorcida lente da fábrica de ingenuidades repetitivas Disney. Mesmo que a primeira metade fosse passável, o que ocorre depois alonga tanto uma experiência já arrastada, que se torna enfadonha, mais do mesmo, aborrecida e revela uma falta de criatividade problemática em toda sua longa conclusão. Tudo em prol de deixar o destino de seus personagens menos doloroso. Ou seja, retira-se o conflito, coloca-se mais música e tudo se resolve. Era só isso? Então para quê tanta história? Até uma leve traição colocaram!
Disney: menos moralismo, mais esperança. Talvez se você conseguisse focar um pouco mais na performance dos seus atores, que estão até que razoáveis, mas difíceis de enxergar nos planos super-abertos de Rob Marshall, que evita até que vejamos a transformação na face da bruxa interpretada por Streep. E até Lilla Crawford como uma chapeuzinho vermelho menos encantadora parecia prometer mais do que as inúmeras e repetitivas canções. Canções essas que não me recordo nenhuma estrofe após o final do filme. Uma perda de tempo para meus ouvidos. E por falar em perda de tempo, uma perda de tempo da visão para uma floresta que é tão escurecida pela computação que fica difícil entender que existem árvores em volta. O que dirá um reino.
No final, a impressão que temos é que uma peça da Broadway foi pasteurizada em um filme sem sal, em um roteiro que precisa de todas as formas ligar as pontas em prol de uma lição de moral, e que com essas duas problemáticas se esquece dos closes em seus atores, do polimento nas letras de suas músicas, no ritmo de suas canções e de suas ações.
# Super Velozes, Mega Furiosos
Caloni, 2015-05-11 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Super Velozes, Mega Furiosos é uma paródia de Velozes e Furiosos. Essa informação é tão irrelevante quanto o próprio filme, que brinca com os estereótipos dos atores da série e se esquece que a franquia já vem se tornando irrelevante sem precisar da ajuda de ninguém.
Escrito e dirigido pela dupla culpada por Todo Mundo em Pânico 1, 2, 3... e 4, a história se concentra nos detalhes do quinto filme da série original, quando os pilotos fora-da-lei precisam roubar uma quantia exorbitante de dinheiro de um mafioso local para conseguir fugir antes que o detetive Rock Johnson os coloquem atrás das grades. Brincando a sério com as personas de Vin Diesel e de Dwayne Johnson, os atores que os intepretam são tão competentes quanto os originais em imitar os seus trejeitos, o que traz a dúvida de qual é a pior dupla de atores: a original ou a falsa?
Enquanto isso, piadas da década passada são recicladas (leia-se repetidas à exaustão), como a namorada de Vin Serento/Dominic Toretto ser lésbica, ou Rock Johnson/Dwayne Johnson ficar constantemente passando óleo de bebê em seus musculosos braços. O tom da narrativa nunca se acerta, pois enquanto há de fato algumas boas tiradas, como o fato de toda cena de crime ter mais de uma câmera apontando para o mesmo lugar de ângulos diferentes, ou o sócia de Paul Walker ser estigmatizado por ser 100% branco, piadas como o roubo da igreja são batidos demais e parecem nunca se encaixar com o "espírito" do projeto.
Porém, há de fato um bom filme travestido de ruim em cerca de 50% da história. Inspirado em filmes mais "maduros" como Apertem os Cintos o Piloto Sumiu ou Top Secret!, constatar que os detalhes de como a gangue é escalada baseado na etnicidade esperada pelos fãs ao mesmo tempo que é revelado que eles na verdade são meros estereótipos manjados de filmes de ação (entre eles se encaixam Os Mercenários, por exemplo) é uma grata surpresa.
Mesmo tentando ridicularizar uma franquia fraca, assim como seus "personagens", os fãs de Velozes e Furiosos vão passar batido das possíveis ofensas ao sub-gênero, por elas serem ou estúpidas ou obscuras demais. E, convenhamos, apenas o fato de haver uma corrida de super-carros já é o suficiente para chamar a atenção dos simpatizantes de Vin Diesel. É preciso mais do que um Todo Mundo em Pânico sobre rodas para manchar a imagem construída com o suor de sete filmes e dezenas de motores super-potentes (e movidos a nitro).
Esse é um ótimo filme se você quiser descobrir o que os irmãos Wachowski, da trilogia Matrix, fariam com a tecnologia atual contando uma história bem parecida com Matrix Revolutions no sentido de cenários grandiosos, personagens heroicos e o tempo dividido em metade ação, metade reflexão. Sinceramente, eu esperava um pouco mais dos diretores que criaram Cloud Atlas, uma odisseia que passeia por eras e cujo conflito é muito mais metafísico do que neste filme. Aqui o objetivo é fazer com que a garota Jupiter não seja morta e salvar a humanidade. A garota é Mila Kunis, aquela menina atraente de Cisne Negro que se deita com Natalie Portman, e está em boas mãos aqui, protegida pelo igualmente voluptuoso Caine Wise (Channing Tatum). Podemos criticar diversos aspectos da filmografia dos Wachoski, mas uma coisa que eles sabem escolher são tipos físicos para suas histórias.
O destino da humanidade é visto sob uma perspectiva mais grandiosa. Somos cultivados por raças alienígenas que, além de nos "plantar" neste planeta, comandam uma espécie de hierarquia real com base na manipulação genética e como ela consegue fazer com que as pessoas vivam muito mais do que o normal. Estamos falando de milênios a mais. Não fica claro se todos têm esse direito ou benefício, mas o mais provável é que não. O tempo é a moeda intergaláctica.
Apresentando Júpiter como a garota filha de um astrônomo (que morre no começo) e de uma russa que vem de uma família mais esotérica, a história é rica em detalhes sutis, como a forma com que o capitalismo desenfreado é criticado através da produção em massa de humanos e a construção de cidades-planeta como se fossem uma gigantesca indústria do petróleo (é assim debaixo das tempestades eternas do planeta Júpiter, por exemplo). Porém, este também é um filme para encher os olhos. A viagem que as naves fazem no espaço-tempo é tão simples quanto grandiosa. E o que dizer da maneira como o conceito de "reencarnação" é apresentado, unindo fé e ciência de uma maneira infinitamente melhor que, por exemplo, Prometheus?
O que estraga o filme é essa necessidade de existir ação desenfreada e um romancezinho de boteco. Do começo até o final, a relação entre Júpiter e Caine nunca faz sentido. Nem a amorosa e nem a de fidelidade, pois Caine protege Júpiter como se fosse a amada de séculos atrás, mas nunca descobrimos direito o porquê. Enfim, tudo é motivo para explosão em cima de explosão e Júpiter é salva por Caine em meia-dúzia de situações que já fazem parte da cartilha de clichês de filme de ação há muito tempo. Já sabemos o que vai acontecer. Assistimos sequências burocráticas atrás de mais história, pois ela é a única que parece valer a pena ser assistida.
E Mila Kunis, tão bela e tão vazia, não consegue extrair nada de sua Júpiter, a união entre a razão e o sentimento. De sentimentos, o rosto da atriz carece de algum, e de razão, não faz o menor sentido ela assimilar tão rapidamente as descobertas envolvendo o planeta, o universo e ela mesma. O que Douglas Adams precisa de um ou mais livros para explicar para os terráqueos, aqui parece ser apenas uma distração para a menina mimada que limpa banheiros. Talvez a contradição de sua personalidade esteja em seu signo.
Quem diria que, no meio de tantos filmes de super-herói machões com frases de efeito e diferentes efeitos digitais para fazer você comer pipoca freneticamente, As Aventuras de Tintim seja o que possui o personagem mais maduro e o conflito mais adulto de todos?
Baseado nos quadrinhos do desenhista francês Hergé, além de uma série de animação, o filme usa aquela tecnologia de motion capture usada no Expresso Polar e Os Fantasmas de Scrooge, só que sete anos depois enxerga-se a evolução. Ou talvez seja apenas uma adaptação ao universo de Tintim, o repórter intrépido que faz jornalismo de verdade e vai em aventuras ao redor do mundo em busca dos fatos. As pessoas desse mundo são caricatas, mas esbanjam empatia se comparadas às crianças amaldiçoadas de Expresso Polar, ou até mesmo do (também caricato) Jim Carrey Charles Dickeniano. Uma física engraçada foi aplicada nesse mundo, que é quase real, mas que obviamente tem seus traços cartunescos. O "pior" é que essa decisão arriscada em um filme de caráter infanto-juvenil funciona maravilhosamente bem, como podemos comprovar na sequência do avião, um dos pontos fortes da trama.
É igualmente satisfatório entender que a trama é secundária à aventura, da mesma forma como era com os bons e velhos Indiana Jones. Tanto que não há muita complexidade. Apenas o suficiente para nos manter entretidos enquanto nossos heróis conseguem se safar de perigos muito maiores do que Homem de Ferro e Thor sequer sonharão: balas de revólveres prontos para matar um ser humano. Por que super-heróis temeriam um revólver? Nem seres humanos vulneráveis morrem em seus filmes!
E mesmo exaltando a aventura, o personagem interpretado pelo eterno Andy Serkis (Trilogia do Anel, Planeta dos Macacos, apenas para citar dois), o Capitão Haddock, possui um drama complexo envolvendo seus antepassados e sua própria autoestima. Afogando suas mágoas eternamente no álcool, ele é o protagonista também dos momentos mais cômicos do filme, além de se tornar tão carismático quanto o próprio Tintim, que interpretado por Jamie Bell, possui a calma de um verdadeiro cavalheiro. A amizade que se forma entre esses dois é algo tocante e divertido ao mesmo tempo.
Concluindo a aventura principal de maneira satisfatória, o filme demonstra que é apenas a abertura de um mundo de infinitas missões e furos de reportagem. Mas não da forma como está sendo feito hoje em dia, em que boa parte da diversão ficou para o próximo filme, que irá empurrar boa parte da emoção dos trailers para o próximo filme e assim por diante. Longe disso. As Aventuras de Tintim entende que um filme precisa sobreviver apenas com ele mesmo. E a maior prova disso é que seu momento final nos entrega tanto o sentimento de missão cumprida quanto a excitação de uma nova aventura na próxima esquina.
Miss Julie é um filme de época um pouco atípico. Dirigido pela também atriz Liv Ullmann e apenas com quatro atores, sendo que 80% do tempo apenas dois contracenam, chamá-lo de filme de época seria pouco para defini-lo. É também um filme minimalista e intimista. Apesar de todos os elementos de cena geralmente inseridos nesse universo estarem lá, como os cenários grandiosos e as terras a perder de vista, falta o elemento principal: as pessoas. Isso faz com que a narrativa se aproveite desse fato e faça uma longa digressão sobre a relação entre nobres e seus serviçais, especialmente os que não se diferem dos donos de terras em termos de instrução, educação e ambição.
A história se passa no dia do solstício de verão, quando é feita uma tradicional festa para celebrar o evento. Acompanhamos praticamente em tempo real as conversas entre a prestativa e obediente Kathleen (Samantha Morton), o inquieto John (Colin Farrell) e a controversa Miss Julie (Jessica Chastain), filha do Barão e patrão dos dois primeiros. John e Kathleen conversam a respeito do comportamento inadequado de Miss Julie com relação a seus empregados quando esta aparece informalmente na cozinha. A partir daí há uma série de diálogos que jogam através das tentativas de Miss Julie de seduzir John, mesmo sabendo que Kathleen é cortejada por ele. O que ela não sabe é que John é um ser amargurado por não fazer parte daquela vida de luxos, e tudo o que ele gostaria é uma chance de poder mudar de classe social. A presença da indecorosa Miss Julie acaba servindo de estopim involuntário aos seus anseios.
Mesmo tendo uma história simples, o mais fascinante é acompanhar as conversas entre esses três personagens (a quarta personagem, a título de curiosidade, é a própria Miss Julie quando criança, interpretada pela jovem Nora McMenamy nos primeiros minutos de projeção) e entender suas visões de vida em uma época com regras sociais tão rígidas que no imaginário coletivo torna-se impossível sequer pensar em infringir qualquer uma delas. Mesmo assim, a interação entre esses seres humanos nos remete à incontrolável capacidade de mudança em nossa mente, mesmo que esta esteja engessada pelas convenções de uma época. A luta dos três em tentar manterem-se coesos e íntegros a seus valores é o que move o filme, que ao mesmo tempo que economiza personagens economiza cenários.
No entanto, os três atores conseguem ocupar o máximo da tela com suas interpretações acima do comum. Enquanto Jessica Chastain fabrica uma jovem melancólica e inconsciente dos seus atos até que estes aconteçam, e ao revê-los se torna uma figura tão trágica quanto patética, Colin Farrell esbanja sotaque irlandês (a história se passa em um dos seis condados da Irlanda do Norte) que além de se tornar um elemento importantíssimo para a construção da época revela em seu ritmo e sua entonação contrariada os sentimentos de injustiça que seu personagem cultiva durante toda sua vida. E se não bastasse, Samantha Morton é a virtude moral personificada de uma maneira tão imaculada que sua autoridade em um inspirado sermão consegue nos fazer tremer mesmo vendo-a de longe através de uma porta.
E é por isso que a segunda metade da história se torna decepcionante, seja pelos diálogos escritos por August Strindberg para a peça em que foi inspirado ou pela adaptação atrapalhada da própria Ullmann, que parece não entender que Cinema não é teatro, e que a ação, mesmo que intelectual, precisa ter alguma coesão para que acompanhemos com o mínimo de atenção. O que ocorre é justamente o contrário, pois os personagens começam a andar em círculos em torno do problema que se instaura e mudam de opinião e de ideia diferentes vezes na mesma conversa. Nem o álcool que foi consumido sem ressalvas poderia justificar tamanho disparate.
Ainda assim, há uma conclusão no mínimo curiosa. Não triste, nem impactante: apenas curiosa. Olhamos para esses indivíduos através da máquina do tempo que é o Cinema e buscamos entender suas mentes condicionadas às regras que se auto-impõem. Ao mesmo tempo, sabemos que há regras no mundo que não permitem que alguém pense muito diferente disso, então existe uma força invisível os forçando a tomar certas decisões. O curioso disso tudo é pensar que é bem capaz que esses ingredientes sejam o suficiente para que essas pessoas tomem qualquer decisão que mantenha o status quo. No mínimo, curioso. Infelizmente, Miss Julie faz com que esse seja o máximo que podemos obter do filme.
Um exercício filosófico em forma de filme que entrega um thriller que prende a atenção do começo ao fim, mas que por evitar usar palavras "complicadas", ou melhor dizendo, empregar relações mais complexas entre seus personagens, constrói uma experiência "sanitizada". Todo o ambiente reflete isso: as paredes acinzentadas, as portas idênticas, os padrões geométricos repetidos. Porém, ao usar vidros por todos os lados e diálogos reveladores, há pelo menos uma coisa que somos obrigados a encarar de frente: a nossa humanidade sendo roubada por nossa própria criação.
Porém, a humanidade retratada aqui é tão estéril que não sentimos muita compaixão pela raça humana, uma decisão bem inteligente. Caleb (Domhnall Gleeson) é um programador talentoso, mas solitário, que trabalha na empresa de outro programador, Nathan (Oscar Isaac), mais talentoso e mais solitário. Criador do Gooogle, ops, de um motor de busca de sucesso, Nathan se isola em uma casa que mais lembra um centro de pesquisa localizado no fim do mundo, mas que ao eu redor exibe a natureza da forma mais linda: cheia de cores, formas, e, principalmente, intocada pelas mãos humanas. De maneira quase que metafórica, sua morada fica no subsolo, abaixo de toda essa beleza, e quando a vemos, está isolada por vidros.
Caleb é sorteado para passar uma semana na fortaleza da solidão de Nathan, e com isso tem acesso -- após assinar um termo em que se compromete a guardar o que vir para si mesmo -- ao fruto da última pesquisa de Nathan: uma Inteligência Artificial em forma de moça: Ava (Alicia Vikander, cujo o nome de sua personagem é um paralelo óbvio demais com a Bíblia). Sua fisiologia parece idêntica a um ser humano, até no seu modo de andar. As duas únicas exceções parecem residir nos materiais usados e ainda na idade prematura de sua mente, algo que parece ser corrigido rapidamente a cada novo dia de sua existência.
Fechando a lista dos únicos personagens relevante, Kyoko é a única funcionária a serviço de Nathan. Calada, não conhece a língua que falam, um artifício usado por Nathan para proteger a informação que é trocada nas conversas casuais durante o almoço. Isso é, seriam conversas casuais se Caleb e Nathan não se comportassem como robôs, principalmente o primeiro. Nathan também, mas de outra forma. Sua humanidade parece que foi sugada pela sua própria invenção. Suas duas únicas preocupações parecem se resumir em sempre ficar completamente bêbado e proteger o acesso aos dados de sua pesquisa. É tão irônico, hipócrita e compreensível que o criador de uma das ferramentas que invade a privacidade das pessoas tome tantas precauções para evitar que a sua própria seja exposta.
Contando a trama através de um dia-a-dia rotineiro, em que Caleb tem por função realizar perguntas para Ava de forma a julgá-la através do famoso Teste de Turing -- que permite reconhecer que um computador passou a ter uma consciência que o torna indistinguível de um ser humano --, parece que esses dias são curtos demais, e as perguntas sem nenhuma imaginação. Pior: é difícil acreditar que Caleb e Nathan realmente passam uma semana tão estéril quanto a sexualidade do rapaz, não havendo quase nenhuma pergunta que desperte nosso interesse.
Ainda assim, a história é conduzida justamente pela lenta evolução dessas mesmas perguntas e a respeito da natureza mais obscura de Nathan. Sutilmente a história toma contornos de um movimento feminista, mas muito bem estruturado, em uma relação dono/coisa que parece se encaixar perfeitamente em qualquer momento na História em que um grupo de humanos subjugou outro. O detalhe mais genial é que os opressores dificilmente enxergavam nos oprimidos figuras dignas de pena, compaixão, ou mesmo empatia. Aqui, apesar de vermos claramente que Ava possui algo mais do que um roteiro pré-programado por um gênio dos computadores, isso é opaco para as duas figuras masculinas do filme, que insistem em tratá-la como uma coisa a ser analisada.
Deixando para o final seus momentos mais eletrizantes, é onde todas as pontas soltas são fechadas sem ofender o espectador. Na verdade, a maioria dos detalhes discutidos durante o filme são discretamente mencionados sem pausa para pensar, o que faz todo o sentido se imaginarmos que quando uma inteligência superior ao homem passa a existir, a relação de subordinação precisa ser revista. Com uma visão pessimista sobre o homem e seu futuro, resta lembrarmos quando Nathan diz a Caleb que IA não é algo que pode-se escolher criar. Trata-se apenas de uma questão de tempo.
Estou passando atualmente por uns mal bocados à noite por causa de um culto religioso organizado por retardados mentais em um galpão próximo daqui. Além da figura horrenda de um pastor cuspindo seu ódio em gritos ao microfone que "elevam" a raça humana à posição de escória do planeta, tal evento é realizado muito provavelmente em um local infestado de pessoas cujo passado eu temo saber, já que ele tem que ser terrível o suficiente para que alguém se sujeite a um ritual que denigre a dignidade humana a níveis que, caso um mendigo estivesse presente, sem tomar banho nos últimos meses, tossindo um catarro de cor e forma desconhecidos enquanto grunhe e coça seus órgãos genitais, por comparação ele se transformaria no cavalheiro mais refinado, educado e interessante de todo o recinto.
Entao não imaginam a coincidência irônica de eu estar assistindo a Kingsman exatamente no horário desse show de horrores. Isso porque nesse filme há um momento dos mais inspirados, onde o agente secreto realiza uma verdadeira carnificina em uma igreja dirigida por um pastor também vestindo seus trajes de ódio e rancor. Se eu precisasse te convencer a assistir a este filme seria precisamente por causa dessa cena.
Mas nem de longe o filme é apenas isso.
Brincando todo o tempo sobre as referências a respeito de filmes de espiões, e filmado nos mesmos moldes (afinal de contas, é o Império Britânico), o filme dirigido pelo mesmo Matthew Vaughn de Kick Ass é de uma lógica absurda como os filmes de espionagem, mas aos poucos ele se revela como uma abordagem muito mais realista do que os próprios filmes que homenageia. E não são poucos: a série James Bond, a série Bourne, 24 Horas (conta como filme), Kill Bill, Pulp Fiction. Se Quentin Tarantino resolvesse filmar uma aventura de espionagem, esse seria um resultado muito próximo (talvez com mais cenas paradas e diálogos).
Não à toa, seu super-vilão é ninguém menos que Samuel L. Jackson em uma mistura de seus personagens nos filmes do Tarantino com um bônus: Corpo Fechado. Aqui faz Valentine, um bilionário que usa dinheiro de filantropia para tentar salvar o mundo, com um sotaque língua-presa que oscila com harmonia entre o cafona e o memorável (em determinado momento ele acusa uma outra pessoa de não estar falando direito). Avesso a qualquer visão de violência, como sangue, ele possui a capanga mais eficaz de todas (também fruto de uma série de filmes), que usa sapatos de corredor para deficientes como lâminas afiadíssimas, a ponto de cortar uma pessoa ao meio (coisa que de fato ela faz!). Seu nome? Gazelle (Sofia Boutella). Sim. Kingsman é divertido ao máximo até nos nomes.
E por falar em nomes criativos, Kingsman é o nome grupo de agentes especiais que simulam a formação dos cavaleiros da Távola Redonda. Cada membro representa um cavaleiro e ganha o seu nome. Quando Lancelot (Jack Davenport) morre de uma forma trivial para quem acha que está assistindo uma ação quase estilo Mercenários (como sua introdução nos faz crer), o filme nos lembra que na vida real mortes acontecem com agentes ultra-especiais às vezes da forma mais trivial possível. E isso nos entrega a fórmula que torna o filme sempre empolgante: nunca sabemos o que pode acontecer, porque apesar de homenagear filmes com roteiros mais ou menos estruturados da mesma forma, ele resolve entregar um realismo que normalmente não está presente lá. Ao mesmo tempo, isso é uma pista que ecoa em dois momentos-chave do filme seu meio e seu final, justamente uma troca de diálogos entre Valentine e Galahad.
Ah, me esqueci de apresentar Galahad. Bom, ele é Colin Firth sob o efeito de esteroides, mas ainda mantendo seu charme de O Direito de Amar e a aristocracia de O Discurso do Rei. Seu terno é feito sob medida, da mesma forma com que suas decisões em torno do filho de Lancelot parecem ser. Não há espaços para muitos sentimentos em Kingsman, mas quando eles acontecem, são bem embasados e estão organicamente inseridos em seus personagens, que vão se tornando, se não tridimensionais, cada vez mais críveis.
É assim que o roteiro de Jane Goldman e o próprio Matthew Vaughn, baseados na graphic novel The Secret Service, de Mark Millar e Dave Gibbons, consegue transformar Lee (Jonno Davies) de um garoto sem rumo que vê sua mãe e irmã vítimas de violência doméstica (corajosamente inserida na trama), para um dos candidatos mais competentes nas provas de classificação de quem seria o próximo Lancelot, mesmo que este não tenha o pedigree esperado dos gabaritados jovens frequentadores de escolas como Oxford e Cambridge.
A história de Lee vai cuidadosamente sendo preenchida, com detalhes tão pequenos quanto assumir a responsabilidade por roubar um carro, quanto detalhes mais palpáveis como a amizade que faz com seu cachorro, mesmo depois de perceber que ele não seria muito útil para o serviço. Quando acontece um ponto de virada no filme, não é à toa que ele se torna grandioso quase que automaticamente. Todos os personagens se assemelham a pessoas de carne e osso vivendo em um mundo colorido com a tinta dos filmes de ação. E, para falar a verdade, essa mesma tinta é a que parece colorir a cabeça da geração que não precisa se preocupar tanto com guerras e fome. A mesma geração que criou um Valentine e seus seguidores.
Ao que chegamos na metade final do filme, que se torna absurdamente frenético, e que consegue preencher a tela com tantas referências de tantos filmes distintos (ou não) que acabamos ficando com outra coisa: um apanhado desse universo servindo ao propósito da narrativa com uma maestria meticulosa. Ele brinca com a tecnologia atual, que às vezes é incômoda e nem sempre funciona. Ele usa os velhos jargões do satélite que tem que ser destruído e o esconderijo secreto construído dentro de cavernas como se eles fossem algo novo. Ele não tem medo de usar a hiper-violência misturada com uma pequena dose de realismo para estabelecer seus argumentos.
No final, fica difícil não gostar de um elenco fabuloso trabalhando com uma história afiadíssima. De quebra, temos as participações eficientes de Mark Strong e Michael Caine, que conseguem surpreender mesmo em posições de menor destaque. Enfim, um prato cheio de pipoca com uma taça cheia de vinho.
# O Homem Que Elas Amavam Demais
Caloni, 2015-05-21 cinemaqui cinema movies [up] [copy]O Homem que Elas Amavam Demais parece ter um problema em conseguir definir o lado da história que deseja contar, mas logo isso vira uma virtude, pois não deixa de ser fascinante observar a relação entre os envolvidos sabendo que ele foi baseado nas memórias de Renée Le Roux (Catherine Deneuve) e que, portanto, uma boa parcela na interpretação dos fatos se deve à visão de uma mãe desesperada. Dessa forma, é curioso constatar que a visão que o filme de André Téchiné entrega a respeito de Maurice Agnelet (Guillaume Canet), o advogado responsável por todas as reviravoltas na história (e possivelmente também a última), não parece demonizar de maneira exemplar seu caráter, pois há muitos momentos onde a figura de Maurice parece tudo, menos ameaçadora.
O filme começa contando a história de Agnès Le Roux (Adèle Haenel), que volta após um divórcio para viver na cidade da mãe, dona de um cassino que mostra sinais de decadência, principalmente depois que uma máfia resolve se estabelecer no local e comprar todos os concorrentes, usando-os para lavagem de dinheiro. Na companhia do seu advogado e conselheiro sempre presente Maurice Agnelet, a vida de Agnès se funde à de sua mãe nesse momento crítico principalmente através da figura de Agnelet, que se mostra desde o começo como uma pessoa com um objetivo em mente e disposto a tudo para atingi-lo. Seu comportamento muitas vezes dissociado de seus sentimentos lembra uma versão menos afetada e mais dissimulada de Louis Bloom, personagem de Jake Gyllenhaal no excelente O Abutre (2014), e que também nutria uma obsessão profissional que se mistura completamente com a pessoal.
É através da direção precisa de André Téchiné e do roteiro adaptado com Cédric Anger que Maurice começa a se aproximar, bem lentamente, da persona doentia de Bloom, através de pequenos gestos. Porém, em nenhum momento do longa isso soa injustificado, o que acaba meio que colocando panos quentes na relação entre o advogado, mãe e filha. Dessa forma, só nos resta acompanhar os acontecimentos sem muito por quem torcer, o que parece se tornar um excelente exercício de "imparcialidade". Com uma trilha sonora de thriller, a história acaba se tornando uma mistura entre drama familiar e suspense corporativo. Aqui e ali, lembra os filmes mais retorcidos de Almodóvar, quando este se entregava ao caráter novelístico de suas tramas. Téchiné consegue se sair melhor nesse aspecto.
A interpretação de Guillaume Canet como Maurice é uma incógnita tão fascinante quanto deprimente. Seus atos oscilam entre o camarada e o dissimulado, mas não de maneira a soar como um ambíguo. Engessado pela história e diálogos, Guillaume não consegue nem estabelecer uma faceta, nem a outra. Se mostra bipartido sem conseguir ganhar força em nenhum de seus semi-papéis. Mais interessante se torna acompanhar a queda de Renée Le Roux, mas daí o filme decide deixá-la em segundo plano e contar a história de Maurice e suas mulheres (de onde vem o título nacional), mas mesmo assim seu personagem continua sendo desperdiçado.
Infelizmente, há um material prévio que teoricamente deve ser respeitado, e o final acaba se tornando o mais longo e exaustivo, parecendo ter o dobro de duração da história até aqui. Sabemos que a história segue os fatos das memórias da personagem de Catherine Deneuve (que recentemente fez outro ótimo papel em 3 Corações), e teoricamente o andamento da história precisa ser concluído como ocorreu na vida real. Ainda assim, não deixa de ser lastimável constatar que estamos diante de um terceiro ato que Roger Ebert, o crítico de Cinema, tanto temia. Diz ele em um dos seus textos (não me lembro agora qual) que quando os roteiristas perderam a direção de para onde a história deve seguir, a solução mais patética (e óbvia) é levar o caso para a justiça. É uma pena que nesse caso, a vida tenha imitado a arte em seu aspecto mais clichê.
Quando vi Kingsman estava convicto que qualquer filme de ação esse ano seria uma versão menor deste trabalho exemplar do que o uso da paródia com toques de realismo pode fazer. Até tomar coragem e ir conferir na telona esse novo Mad Max, que retorna aos anos 80 (ou 1979, estreia do original), mas mantém sua ideologia com um pé nos anos atuais enquanto realiza não só uma homenagem, mas uma redimensionada na série de filmes que estava já há algum tempo esquecida.
Dirigido e co-escrito pelo mesmo George Miller do original e suas continuações, a história gira em torno de um futuro pós-apocalíptico que causa um estrago na fertilidade do solo, tornando os seres humanos uma raça escassa e, "graças" aos efeitos da radiação, ainda doente por armas de guerra movidas a gasolina.
Mantidos sob uma ração de água controlada pelo todo-poderoso Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne, nada menos que o Toecutter do filme original), os humanos se dividem em castas bem definidas em torno de seu ditador. Há os miseráveis que veneram Joe para conseguir recursos de sobrevivência. Há as "parideiras", mulheres que são propriedade de Joe e cuja função é gerar bebês. Desses bebês surgem os guerreiros comandados por Joe, jovens doutrinados a sacrificarem suas vidas por um bem maior: a pós-vida em um lugar paradisíaco que irá recompensar sua luta do "lado certo".
Não são necessárias explicações verbais em Mad Max: Estrada da Fúria de como ele está atualizado para o mundo que vivemos hoje ou sempre, onde o poder em torno de recursos desejados pelo mundo todo (ex: o petróleo) é um mecanismo usado para manter no poder ditadores que usam também a religião para montar um exército de fiéis dispostos a dar sua vida por uma causa inserida em suas mentes. O mais curioso é que podemos estar falando tanto do lugar-comum que é o Oriente Médio quanto dar abertura a interpretações mais abrangentes, como o episódio recente da guerra do Iraque, onde os EUA, de certa forma, enviaram soldados com motivos obscuros o suficiente para ser confundido com uma religião chamada patriotismo. Já há um filme, American Sniper, que retrata muito bem esse lado nefasto da mente americanizada, e Mad Max joga de ambos os lados, se tornando portanto uma análise rica e abrangente da situação sócio-econômica do mundo.
Ainda utilizando o protagonista do original, aqui interpretado por Tom Hardy, Max é assombrado pelo fantasma das pessoas que ele tentou ajudar e não conseguiu, principalmente uma menininha (provavelmente inserida em alguma das continuações, não me lembro mais). Isso faz com que ele se sinta melhor em torno de pessoas ainda vivas e lutando por um pouco de esperança. Entre elas, a traidora de Joe, Imperadora Furiosa (Charlize Theron), que é a protagonista de fato dessa continuação. Theron aqui realiza um dos seus melhores trabalhos, mantendo uma persona forte do começo ao fim, mas aqui e ali deixando escapar seu desejo de conseguir voltar no tempo e reencontrar o seu desejado Vale Verde, onde as coisas tentam voltar a ser como antes. Aliás, esse é mais um filme que poderia ser rotulado de feminista, se não fosse muito mais, como em Wild, um filme onde o lado mais fraco se ergue e tem sede de justiça.
É por isso que, além de Furiosa e Max, há um novo elemento que se torna vital para compreendermos a dimensão do que é explorado. Nux (Nicholas Hoult) é um dos jovens dispostos a se sacrificar por um pós-vida acalentador, mas aprende que existem coisas na vida mais importante pelo qual se sacrificar. Aprende rápido demais, convenhamos. Porém, ainda assim a lição permanece sendo sobre o lado mais fraco, seja mulher ou não. E a interpretação de Hoult, que fez o Fera na série X-Men, é precisa justamente por conseguir expor a fragilidade de sua mente em ser influenciável. Pequenos gestos, como a expressão que ele faz quando Max entrega a ele o volante recuperado, é o que torna mais valiosa ainda sua participação no trio principal.
E, por fim, o Max de Tom Hardy parece de fato ser a nossa visão de espectador assombrado. Max também pode ser rotulado de "Mad", mas não tanto quanto o mundo que este observa. Todos somos loucos em menor ou maior grau, mas é a loucura do mundo exterior que faz nossos instintos observem o nosso eu interior, e por comparação tentem determinar se estamos mais ou menos loucos do que o mundo em que vivemos. A expressão dura de Hardy ao mostrar um personagem que já viveu muito disso, mas ao mesmo tempo suas expressões de espanto ao que vai acontecendo ao seu redor, é o que o torna a âncora moral do filme. E sempre é bom lembrar que ele não é mais do que um instrumento de apoio para que os seres dominantes da história, as mulheres, consigam o que querem.
Mas, falando desse mundo, vamos aos efeitos, às explosões e à loucura, pois tão importante quanto a história é o mundo onde ela se passa. Aqui ele ganha uma representação digna de 2015, onde digital e analógico se juntam para entregar uma das experiências mais alucinantes no Cinema atual. A fotografia estilizada em cores absurdamente quentes ou frias combina com os personagens igualmente estilizados em tons quase oníricos (de um pesadelo, no caso). Há figuras das mais absurdas, como um guitarrista pendurado na frente de um veículo com batucadores de tambor ao fundo. Não vou perder seu tempo descrevendo todos eles: você precisa ver para crer. Imagine tudo o que pode ser criado com maquiagem e computação para ampliar o universo de Mad Max, e verá tudo ali representado em seu máximo potencial. É surreal ao ponto de incomodar talvez alguns espectadores, levar ao delírio outros, e divertir a maioria (eu incluso). Acredite: sempre haverá algo diferente para ver na tela antes do filme acabar.
Da mesma forma, a trilha sonora é um objeto de desejo à parte. Além de comentar de forma competente cada momento do filme, seja ele dramático, filosófico ou pancadaria na estrada, ele tenta se sobressair ainda mais, e se torna uma música de fundo para a diversão que os olhos recebem. Eu conseguiria fechar meus olhos e ainda me divertir com essa trilha sonora, "reimaginando" as cenas em que elas são inseridas. Estou ouvindo ela agora. Vou ouvir ela ainda por alguns dias, semanas e meses. Nesse sentido, ela faz justiça ao filme em que está inserida, pois são poucos os filmes que me lembro que tenham me feito desejar revê-los assim que eles acabaram. Mad Max com certeza é um deles.
Chappie, novo filme de Neill Blomkamp (Distrito 9), é bonitinho, todo cool, e tenta trazer a África do Sul, país-natal do diretor, sob os holofotes de mais uma ficção científica. E mais uma vez, inevitavelmente vem a questão social, pobreza, violência. Nesse sentido, há muito o que se comparar com Robocop, e Blomkamp sabe disso e nem tenta disfarçar que um de seus robôs é uma homenagem/cópia do robô do final do primeiro filme.
Trazendo em seu elenco uma equipe de luxo constituída por nada menos que Hugh Jackman e Sigourney Weaver, sua presença tem mais relação com o mundo sci-fi sendo mais uma vez referenciado do que suas interpretações, que são marginais e estranhas. É estranho, por exemplo, ver Wolverine sendo um bad-guy sem muitos motivos que o sustente. Para preencher os personagens mais relevantes, Dev Patel (aquele menininho de Quem Quer Ser um Milionário) é o nerd que inventou robôs policiais, Yo-Landi Visser é a terna Yo-Landi Visser e Sharlto Copley, que já trabalhou com o diretor em seus dois primeiros trabalhos, realiza um trabalho irrepreensível dublando Chappie, o primeiro robô a funcionar com Inteligência Artificial no nível de consciência.
O roteiro escrito a quatro mãos por Terri Tatchell e o próprio Blomkamp parece ter personagens demais (como o líder da gangue espalhafatoso que quer seu dinheiro de volta) e uma relativização do crime muito específica daquela realidade onde a miséria impera e os robôs policiais tornam a vida dessas pessoas mais massacrante ainda. Nesse sentido, a metáfora social funciona, mas é o que menos vemos na história, que abusa de momentos em câmera lenta e gracinhas aleatórias. Ainda assim, funciona bem quando resolve parar um pouco e refletir sobre o que está sendo dito e feito (como a possibilidade de uma máquina com consciência em apenas cinco dias (e acesso à internet) conhecer mais do ser humano do que sobre nós mesmos, ou pelo fato dessa mesma máquina não ter um julgamento moral ou instintivo muito duro com a nossa espécie).
Um filme que faz rima com os mais sombrios Ex Machina, Transcendence e muitos outros que vêm surgindo nessa nova e empolgante safra de especulações de como a IA poderá afetar o nosso futuro.
# Depurando até o fim do mundo e de volta de novo: source server com GitHub
Caloni, 2015-05-26 computer [up] [copy]Semana passada fiquei sabendo que o vídeo da minha palestra "Depurando até o fim do mundo" do TDC 2014 estava disponível online. Resolvi assistir para ver se aprendia alguma coisa. A despeito do palestrante ser muito ruim, ele disse uma coisa interessante: com o Debugging Tools (WinDbg para os íntimos) seria possível além de indexar os símbolos (PDBs para os íntimos) usando o esquema de Symbol Server que a própria Microsoft adota usar algumas ferramentas embutidas para conseguir obter o fonte através de um símbolo indexado.
E de onde viria esse fonte? Bom, a priori é necessário que exista algum controle de fonte para que as versões estivessem já "indexadas" nesse controle e fossem mapeados com strings internas no PDB. Através dessas strings o WinDbg ao analisar um crash dump ou até mesmo depurando um processo com o uso do PDB conseguiria baixar os fontes automagicamente desse controle de fonte, desde que ele estivesse acessível (na internet, na intranet da própria empresa, na rede, em um disco rígido externo ou na própria máquina do desenvolvedor que não quer se matar para conseguir obter a versão exata dos fontes daquele binário).
O detalhe que o palestrante (Caloni é o nome do sujeito) citou era que já existiam scripts prontos para realizar essa tarefa para os controles de fonte mais comuns, sendo que os mais comuns são: Source Safe (?????), CVS (????????) e, claro, Subversion! (?!?!?!?!??!??!?!). OK, pelo visto o pessoal da Microsoft mora em uma caverna ou não estão muito interessados em indexar os fontes para alguns controles de fonte que estão surgindo por aí, como Git sendo um exemplo aleatório.
Já que o tal do Caloni disse que ainda não fizeram scripts para controles mais modernos. Nenhum descentralizado ainda está na lista. Os scripts são feitos em Perl, ou seja, estão disponíveis em uma linguagem um pouco mais fácil que .BAT. Ou talvez não. De qualquer forma, não parece muito difícil de entender a dinâmica do WinDbg e simplesmente gerar o que tem que gerar dentro dos PDBs.
Pensando nisso, resolvi fazer uma primeira versão, em Python, de um script em que você passa alguns dados e ele processa seus PDBs. Depois você pode jogá-los em um Symbol Server e quando o WinDbg encontrá-lo através de um binário analisado, este irá conter o endereço no GitHub e um comando do Curl para baixá-lo, passando a exibi-lo imediatamente na tela do WinDbg.
O funcionamento é muito simples, mas pede muitos parâmetros (recomendo criar um batch para armazená-los). Então vejamos:
Um detalhe importante: o revno que será usado é o HEAD do repositório local. Sim, futuramente podemos adicionar esse argumento como opcional. Porém, no momento, coisas mais urgentes devem ser feitas. Uma delas é que estou usando a visualização raw do GitHub para conseguir pegar um único arquivo-fonte, e para isso uso a ferramenta curl. Ou seja, quem é de Windows vai precisar baixar uma de suas versões e deixar no path do sistema. Quem não é de Windows... o que você está fazendo com um PDB, rapaz?
Como esse ainda é um projeto muito cru, mas gostaria de compartilhar com vocês (pois algo muito cru é melhor que nada), deixei diversos batchs de teste para ficar mais claro o funcionamento do srcsrv. Há um doc muito bom (er... ou mais ou menos) sobre o seu funcionamento na pasta srcsrv (chama-se srcsrv.doc). Usei algumas informações de lá para conseguir fazer a coisa funcionar. Se quiser me ajudar no projeto, tiver alguma dúvida, sugestão de melhoria/evolução, vamos conversar! Esse projeto será muito útil para mim no futuro, e espero que seja muito útil para outras pessoas, também.
A vingança vista em Old Boy, de Chan-wook Park, é o segundo filme do diretor sobre o tema. O primeiro, esse Mr. Vingança, é mais bruto. Não no sentido da violência ou da revelação final. Não há revelações finais, aliás (spoiler alert!), mas há duas metades de uma história: na primeira metade as pessoas e suas relações são escancaradas para que, na segunda metade, uma espiral sem fim de atos de vingança tome conta da tela. Muitas vezes o filme tenta soar apenas um pouco além do que ele verdadeiramente é, e por isso trai sua própria perfeição estética em troca de uma história muitas vezes sem rumo ou simbólica demais.
Porém, esse é um pecadilho diante da construção de personagens e relações viscerais. Tudo começa com um câncer, que começa na irmã de Ryu, que precisa parar de trabalhar, e com isso deixa de conseguir manter Ryu em uma escola especial. Ele é surdo/mudo, mas gostaria de ajudar a irmã com a doença. Decide, então, doar seu órgão, descobrindo no processo que seu tipo de sangue é incompatível e que existem pessoas dispostas a comprar seu rim e vender outro no lugar. Obviamente enganado no pós-operação, resolve com sua namorada sequestrar a filha de um ricaço e com o dinheiro do resgate conseguir salvar a irmã.
E chega de entregar detalhes da história. O resto é uma infinidade de fins trágicos que não conseguem encontrar um culpado senão o câncer original. Esse câncer parece que se espalha por aquelas pessoas, e simbolicamente pela sociedade. A namorada de Ryu, Cha Yeong-mi, estudou na mesma escola que ele, apesar de não ser surda. Ela sente em seu coração e em seus ideais que o capitalismo está causando dor para muitas pessoas em seu país, e ele poderia ser interpretado como o "câncer" do mundo, também. Há várias simbologias nesse pacote. Chan-wook Park prefere não se meter em explicar muito a respeito.
Cha Yeong-mi é interpretado por Doona Bae, a revelação de Cloud Atlas. Aqui ela também tem uma cena de sexo (não que isso seja muito relevante).