# Batman vs Superman: A Origem da Justiça
Caloni, 2016-04-02 cinema movies [up] [copy]Os deuses da DC descem do Olimpo para se exibir. Não há muito o que mostrar senão uma demonstração interminável de força, poder e loucura. São tempos sinistros para amantes dos quadrinhos, mas mais sinistros ainda para cinéfilos que se enveredam pelos filmes dessa trupe que gosta de se vestir engraçado.
"As capas vermelhas estão chegando... as capas vermelhas estão chegando...", diz um Lex Luthor cuja insanidade é enfadonha e arrastada; aparentemente o último personagem notável de Jesse Eisenberb -- Mark Zuckerberg, criador do Facebook -- ainda não deixou o corpo do ator, que continua sem disposição de compor algo além do bandido caricatual e anti-social.
Mas isso não é exclusividade do único vilão do filme (os outros são derivações vindas de Lex). Tentando criar uma iconoclastia que tenta homenagear os heróis eternos Batman e Superman através de seus momentos mais sombrios nos quadrinhos, o diretor-fã Zack Snyder aponta para as encarnações de Ben Affleck e Henry Cavill como lendas vivas andando sobre um Planeta Terra cínico e sem esperança. Suas capas estão longe de serem vermelhas, e seus olhares, longe de representarem os heróis carismáticos que estamos acostumados a ver em produções da Marvel.
E se estendermos essa visão para o elenco de suporte encabeçado pelos talentosos Amy Adams, Laurence Fishburne e Jeremy Irons, veremos o quanto foi sacrificado da simpatia desses personagens em prol de uma visão cada vez mais sombria do universo habitado por essas figuras que tentam ser realistas em sua física, mas se tornam vazias se observarmos sua humanidade.
Citei os deuses do Olimpo no começo desse texto, mas me arrependo agora. Os deuses gregos possuíam conflitos, personalidades e temperamentos que o tornavam representações infinitamente mais humanas que os conflitos que "Superman vs Batman" apresenta aqui. Este é um show pirotécnico de um drama movido por uma tensão artificialmente e eternamente mantida pela orquestra do Sr. Hans Zimmer, responsável por recriar o tema de Superman em "Homem de Aço", e aqui responsável por tentar pontuar cada uma das participações de não dois, mas três heróis, que tentarão ser os pilares de futuras e infinitas continuações desse universo que começa a emergir. A trilha sonora é uma das melhores coisas do filme, mas isso não justifica usá-la em todos os momentos em que o filme fica fraco (e não são poucos).
E não importa muito que Ben Affleck e Henry Cavill possuam presença de cena, recriem esses personagens de uma maneira ligeiramente diferente dos antecessores e se tornem interessantes apenas por isso. Ben Affleck, principalmente, toma para si a responsa de continuar o "trabalho" de Christian Bale, uma tarefa ingrata, mas que ao mesmo tempo trouxe uma surpresa: Batman, assim como James Bond, não precisa manter sempre a mesma cara. Estamos falando da luta eterna contra o crime, um processo que sempre irá existir. Talvez não seja preciso reviver a tragédia do órfão Bruce Wayne toda vez que um novo Batman encarna o arquétipo do morcego, mas, enfim, tudo pelo show.
E se Henry Cavill já demonstrou em seu debut como O Homem de Aço que pretende destoar do eterno Christopher Reeve em gênero, número e grau, aqui ele empalidece por suas poucas e enigmáticas aparições, algo que fica claro quando conversa com o seu pai adotivo, já morto, mas que demonstra que Kevin Costner em cinco minutos consegue roubar todo o pouco carisma de Cavill no filme inteiro.
Quem se sai melhor nesse trio acidental é a personagem feminina, que podemos já chamar de Mulher Maravilha das trevas. Embora com um tema musical levemente irritante -- talvez por tocar todas as vezes que ela entra em ação -- a encarnação de Gal Gadot, da série Velozes e Furiosos, é uma retomada da heroína em décadas, e pela pouca participação deixa um pouco de saudade. Provavelmente ela se tornará ainda mais interessante em seu filme-solo a ser lançado.
Não há muito o que contar da trama. Ela é confusa, banal, e gira em círculos para conseguir mais tempo com efeitos visuais impressionantes (há tantos efeitos, que uma sequência inteira envolvendo homens-voadores com aspecto de insetos é rodada para justificar um dos pesadelos que Batman anda tendo com sua preocupação com o Homem de Aço e seu poder ilimitado). A exceção fica por conta da discussão de quais os limites desses heróis, um tema interessante já abordado com muito mais propriedade no mais maduro Watchmen (curiosamente dirigido por um Snyder mais jovem). A sequência em Washington mereceria aplausos se estivesse ligada a alguma trama maior, como em X-Men 2, mas, como a maioria das cenas, ela está ligada a um roteiro burocrático e arrastado que nos faz imaginar a sala dos roteiristas e a pressão vinda de todos os lados para agradar a todos.
E, surpresa, os roteiristas são apenas dois: David S. Goyer, já responsável pela série do Cavaleiro das Trevas e Homem de Aço, e Chris Terrio, que já está cotado para a Liga da Justiça, mas tem pouca experiência com esse mundo. A dupla faz um bom trabalho de reintrodução de personagens já conhecidos, mas para evitar tornar tudo mais confuso ainda evita criar qualquer trama original nas duas horas e meia do filme.
Com uma fotografia apropriadamente escura, um 3D obviamente descartável e efeitos visuais de tirar o chapéu, "Batman vs Superman" se baseia inocentemente em detalhes joviais dos dois heróis -- como o nome em comum de suas mães terrenas -- para tentar contar o máximo de história que conseguirem sem se importar com a trama. Isso vem da sede dos fãs em cada vez mais ação, mais porrada e mais quadrinhos. Agora resta aguardar até que todos cansem dessa fórmula pesada demais para um filme de super-herói e comece a explorar ou filmes mais divertidos ou filmes que sejam realmente mais maduros. E não um filme com tanta violência velada que parece não estar à altura dos heróis que quer representar na tela.
# Tropas Estelares
Caloni, 2016-04-03 cinema movies [up] [copy]Star Wars, se Star Wars fosse filme de guerra. Mas não é. Starship Troopers é sobre as tropas de um mundo futurístico, é sobre a curva de responsabilidade dos jovens, é sobre a violência gore disponível aos montes, graças ao diretor Paul Verhoeven ("Robocop O Policial do Futuro"), e, por último, mas não menos importante, sobre a insanidade da guerra, e como ela se repete indefinidamente, de ambos os lados. Mesmo que o outro lado sejam insetos gigantes do outro lado da galáxia.
Conta a história de alguns jovens que estão se formando em uma Terra futurista, e a decisão de se tornar um "cidadão", e não apenas um civil. Um "cidadão" é alguém que luta pelo seu planeta e sua espécie, protegendo os civis. Isso é dito e venerado algumas vezes. O professor dessa turma, Jean Rasczak (Michael Ironside), perdeu um braço, mas continua firme em seu recrutamento informal durante suas aulas. Claro que não é um recrutamento em si, mas é claro que sabemos que no fundo qualquer coisa dita para aqueles jovens influenciáveis irá virar sua opinião. Porém, descrevendo de forma cínica esse processo, apenas dois jovens realmente acreditam nisso (um deles será participante da série How I Met Your Mother); os outros apenas seguem seus respectivos interesses amorosos ou querem se ver livre dos pais.
A juventude é celebrada em Tropas Estelares, e a energia que os jovens têm a oferecer é contagiante. Esse é um retrato empolgante do exército, mas ao mesmo tempo revoltante que se utilize tanto potencial para gerar destruição. O que torna tudo ambíguo é que o inimigo é uma raça alienígena de insetos gigantes. A repulsividade comum a esses bichos não é o suficiente: a mídia faz questão de destacar como esses seres são selvagens e "com certeza" não possuem inteligência. Não é preciso pensar muito a fundo para perceber que o que se configura é exatamente o que vemos em Enders Game, mas com muito mais imaginação, recursos e sangue.
O elenco está afiado, as cenas convencem, e o lado B do filme é um aviso constante, que através da mídia a todo o momento alerta o espectador do absurdo das situações vividas pelos heróis, por mais "nobre" que isso pareça.
Mais longo do que os filmes habituais do gênero, Tropas Estelares é um exemplo de como é possível fazer Cinema, se divertir e ainda fazer pensar.
# Mente Criminosa
Caloni, 2016-04-07 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Mente Criminosa consegue ser um filme de ação e com temas pensantes. Ele discute política, moral e até filosofia. Usa um pouco de ficção científica na receita, mas apenas o suficiente para explorar os temas já citados.
E tem Kevin Costner como um dos poucos atores capazes de fazer um personagem como esse "acreditável". Ele é Jerico, um criminoso que sofreu um trauma em seu cérebro causado pelo pai na infância, possibilitando que ele fosse escolhido como cobaia para um experimento nada convencional. Apesar de vítima das circunstâncias, ele parece ter a violência em seu DNA, e o filme reflete toda essa violência. Ainda assim, ao ser "infectado" com uma dose de moral e sentimentos de um ex-agente da CIA, ele começa gradualmente a questionar suas ações.
O filme conta também com dois outros monstros da atuação, que precisam de relativamente pouco tempo de tela para provar seus pontos. Gary Oldman vive Quaker Wells, um agente da CIA veterano que não está interessado em julgar as medidas que ele toma em nome do governo para manter códigos de lançamento de mísseis a salvo de um anarquista radical. Já Tommy Lee Jones, na outra ponta, é Dr. Franks, e representa a ciência, embora igualmente sem moral, pois se preocupa mais com o resultado dos seus dezoito anos de estudo, que o tornaram capaz de realizar uma cirurgia de transferência de memórias entre seres humanos, do que as consequências éticas de seus atos.
E se até agora estou narrando os personagens e as ideias por trás do filme, é porque isso é o mais relevante no roteiro. Usando isso como pano de fundo para sequências tão engenhosas quanto realistas, e apesar do tom burocrático da história, que insiste em explicar de forma didática quem, o quê e onde, Mente Criminosa atinge bons momentos em explorar esse conto político que acertadamente utiliza como protagonista um ser que é um "esquizofrênico induzido", tendo em sua personalidade tanto um lado mais humano quanto criminoso. O fato do vilão ser alguém radicalmente contra a existência de outro ser esquizofrênico -- os governos e suas redes de intrigas, que frequentemente envolve ações descritas no mesmo filme como inaceitáveis -- não é uma simples coincidência.
Porém, ao mesmo tempo, o longa se beneficia imensamente ao arriscar discutir a questão do eu, do indivíduo, em torno de uma pessoa que vive com a memória de duas pessoas. O marido/pai que foi implantado em seu lesado cérebro se encontra em parte no personagem de Costner, e o fato de sua filha, de alguma forma, o reconhecer, é algo que evoca grandes questões da humanidade (e isso em um filme de ação): o que delimita o eu, e como fica o conceito de livre arbítrio quando se é e se age como outra pessoa infiltrada em sua mente? Quais os limites da experiência humana quando a própria mente transcende o corpo?
No entanto, tantas ideias ambiciosas não é motivo para afastar fãs da boa e velha ação descerebrada, já que há também ótimas sequências de ação, que usam a história sempre ao seu favor. A escolha do diretor Ariel Vromen por uma lente com pouca profundidade de campo e tremida nos remete à série Bourne e seu imediatismo, mas sem escapar das consequências da realidade, o que a torna ainda mais impressionante.
Apenas com uma conclusão meramente conveniente, Mente Criminosa se torna um dos filmes de ação do ano por conseguir assimilar realismo, ideias e explosões no mesmo contexto. E se lembrarmos de tantos trabalhos anteriores que pecam por utilizar apenas as explosões como protagonista, veremos que esse é um feito e tanto.
# Sherlock: The Abominable Bride
Caloni, 2016-04-07 cinema series [up] [copy]A quarta temporada da série possui apenas um episódio por enquanto, e como todos os episódios anteriores, do tamanho de um filme de uma hora e meia, mantendo um clima morno metade do seu tempo, diminuindo seu ritmo para retratar a época vitoriana abandonada pela própria premissa da série de se atualizar. Neste episódio estamos na época original de Sherlock Holmes, e em uma de suas história originais, vinda de seus livros que, claro, continuam aqui sendo escritos por Watson.
O episódio, claro, utiliza os mesmos atores e personagens, mas em disposições ligeiramente diferentes: o irmão mais velho de Sherlock é gigantesco de gordo, e Molly Hooper se disfarça de homem para trabalhar no necrotério. E o roteiro se diverte imensamente dessas diferenças: Sherlock e o irmão apostam em quanto tempo Mycroft irá morrer por comer feito um porco e, em vez de não perceber o amor platônico de Hooper, Holmes não percebe que ela é uma mulher de bigode. O grande trunfo deste episódio é dar uma oxigenada na série e reviver momentos semelhantes de maneira diferente ao de costume.
Além de manter os artifícios que tornaram "Sherlock" um trabalho monumental de roteiro e uma evolução no que diz respeito a direção de arte e fotografia, a direção mantém o mesmo ritmo de melhora contínua. As transições elegantes entre um labirinto de plantas e os dedos pensativos de Holmes ou um testemunho na sala de estar do detetive "se jogando" frente à cena do crime são dois exemplos de uma série racional, pautada em diálogos, mas sem perder seu dinamismo visual, sua provocação constante e eclética na mente do espectador.
Sendo assim, se é divertido acompanhar os letreiros que pulam na tela quando um personagem recebe um bilhete, ou os recortes de jornais flutuando em frente a um Sherlock Holmes concentrado e dopado, esses detalhes escalam para o nível de brilhantismo quando descobrimos a verdade por trás da história, fazendo com que o roteiro de Mark Gatiss e Steven Moffat figure com honra entre os deliciosamente mais complexos e inusitados da série, provavelmente do lado de A Scandal in Belgravia. Depois da reviravolta principal nada mais parece o mesmo, e até um espectador menos atento irá perceber as referências inseridas de maneira mais orgânica até do que trabalhos igualmente minuciosos como A Origem, que é excelente, mas burocrático e técnico.
Jogando o espectador nos exatos quatro minutos em que Sherlock foi expatriado, logo no final do episódio anterior, a abertura desta quarta temporada é um trabalho tão ambicioso que mais uma vez sou obrigado a compará-lo com o melhor que o Cinema tem a oferecer. Mais uma vez um trabalho que merece não só estrear em streaming, mas ocupar algumas salas de cinema pelo mundo.
# A Máfia Mata Apenas no Verão
Caloni, 2016-04-10 cinema movies [up] [copy]Um filme político disfarçado de comédia com crianças. De quebra, usa o velho clichê de inserir acontecimentos reais sobre a máfia de Palermo, mortes reais, dentro de um romance, tentando ligá-lo, mas sem muito grude. Falta alguma originalidade no contexto dessa história.
Dirigido por Pif, que também é ator, a introdução e todo o filme é narrado por Arturo (o próprio Pif) como o conto da mulher inalcançável porque nunca teve coragem de se declarar. A mulher, Flora (Cristiana Capotondi), não se sabe se ela gosta de Arturo quando adulta, se teve uma pequena queda por ele quando menina, ou se está apenas fazendo o velho jogo da sedução. Ela simplesmente não se importa, e faz questão de dizer isso para o espectador, com seu jeito despojado e interessado apenas na política.
Não à toa. Seu pai é um dos responsáveis por lutar contra a máfia na região de Palermo, enquanto Arturo é o espermatozoide que chegou atrasado e que conseguiu fecundar o óvulo de sua mãe porque os outros fugiram, assustados com um tiroteio de mafiosos.
Brincando com piadas inocentes bem ao estilo filme italiano, e lembrando a estrutura clássica de filmes como Cinema Paradiso, A Máfia Mata Apenas no Verão acerta em seu tom, mas se perde em sua trama, pois ela é vaga, e tenta ligar-se demais à realidade política da região, usando tomadas mescladas entre ficção e realidade ("Forrest Gump").
# Testando sistema de postagem
Caloni, 2016-04-10 [up] [copy]Bom, depois de criar um script para basicamente apenas escrever o texto dos filmes que assisto e buscar uma imagem agradável para meu blogue de Cinema, o próximo passo foi portar esse mesmo método para meus dois outros blogues: o da minha empresa, a BitForge e esse aqui. O processo envolve algo a mais: buscar as imagens usadas (que muitas vezes não é só uma). Porém, nada mais que isso.
**O problema mesmo é publicar nas redes sociais.**
Um detalhe típico do funcionamento dessas redes bem apontou o blogger veterano Hossein Derakhshan, que ficou preso por seis anos e descreveu a mudança que a web sofreu nesse pouquíssimo tempo para a história, mas muitíssimo para a internet. De acordo com ele, postar apenas links não farão muito efeito, mesmo que você seja um escritor conhecido (o caso dele). Para fazer efeito, você precisa de imagens. Pessoas gostam de imagens. De gatinhos, melhor ainda.
Porém, qual imagem que pode ser usada para um blogue técnico e que chame a atenção?
No Cine Tênis Verde fica fácil achar uma imagem, pois filmes são formados por elas (cerca de 170 mil delas, se for um filme de duas horas). Aqui no Blogue do Caloni, tenho que me limitar a abstrações e metáforas.
O que muitas vezes tem funcionado, como minha série Básico do Básico:
De qualquer forma, posso continuar utilizando o título do artigo como base para minha pesquisa.
Postar no Twitter é algo relativamente fácil. O script abaixo faz isso com dois pés no joelho:
def PublishToTwitter(postInfo): """ https://pypi.python.org/pypi/twitter """ t = twitter.Twitter(auth=twitter_credentials.auth) with open("C:\\daytoday\\caloni.github.io\\images\\" + postInfo["permalink"] + ".jpg", "rb") as imagefile: imagedata = imagefile.read() t_up = twitter.Twitter(domain='upload.twitter.com', auth=twitter_credentials.auth) id_img1 = t_up.media.upload(media=imagedata)["media_id_string"] st = postInfo['title'] + '\n\n' + postInfo['tagline'] + '\n\n' + postInfo['shortlink'].encode('utf-8') if len(st) > 120: # giving space to image attachment st = stars + ' ' + postInfo['title'] + '\n\n' + '\n\n' + postInfo['shortlink'].encode('utf-8') t.statuses.update(status=st, media_ids=",".join([id_img1]))
Já postar no Facebook é mais ou menos uma tortura. As chaves de acesso costumam expirar, e para conseguir uma que não expira este tutorial é femonenal, pois economiza muito, muito tempo de pesquisa.
Curiosamente, o código para postar é muito semelhante ao do Twitter, até mais simples, talvez:
def PublishToFacebook(postInfo): """ http://nodotcom.org/python-facebook-tutorial.html """ with open("C:\\daytoday\\caloni.github.io\\images\\" + postInfo["permalink"] + ".jpg", "rb") as imagefile: imagedata = imagefile.read() st = postInfo['title'] + '\n\n' + postInfo['paragraph'] + '\n\n' + baseUrl + postInfo['permalink'] post = facebook_credentials.auth.put_photo(image=imagedata, message=st)
blogue de Cinema, o próximo passo foi portar esse mesmo método para meus dois outros blogues: o da minha empresa, a BitForge: http://www.bitforge.com.br/blog-pt
# O Maravilhoso Agora
Caloni, 2016-04-13 cinema movies [up] [copy]Uma romance para ser realista ele tem que ser um drama. E para ser um drama ele tem que levar em conta a personalidade de seus personagens e levar isso até as últimas consequências. As últimas consequências para o herói de "The Spectactular Now" são trágicas, mas são reais. O que vimos de fato no final do filme é uma traição aos princípios desse personagem (que nunca mudaram) e, consequentemente, uma traição ao espectador que esteve lá por duas horas.
Tirando essa particularidade espúria de um roteiro que parece ter tido seu final encomendado -- e mal executado, por conter guinadas rápidas e inesperadas demais -- o filme se sai maravilhosamente bem em explorar esse casal de jovens e os outros que o orbitam. A relação do garoto com sua ex é o trampolim para uma saída acochambrada de alguém que não quer ficar sozinho, mas que desperta o melhor em outra menina, a esquecida Aimee.
A partir de um encontro natural, com diálogos naturais e uma evolução natural, o filme voa baixo, com os pés firmes no chão, mas não deixa de realizar uma crítica inerte sobre os conceitos de vencer e perder da sociedade americana, ou como o futuro se apresenta como uma bigorna pronta a destruir boa parte do que foi construído em sonhos e desejos da fase da puberdade.
Ao mesmo tempo, faz uma crítica mais ácida ao uso do álcool, enxergando nas proibições legais de consumo aos jovens como uma oportunidade de mostrar como tudo aquilo é falso e está mais elencado ao caráter da pessoa -- e seus pais -- do que uma lei idiota. E agora que vivemos aqui no Brasil um processo semelhante, com os dizeres da proibição obrigatórios onde se venda algo com álcool, é um momento oportuno para investigar o que isso significa na vida real.
Esse é mais um filme que apresenta os "adoráveis" Miles Teller e Shailene Woodley, que participaram, respectivamente, de suas versões mais intensas em Whiplash e A Culpa é das Estrelas. Possui um Bob Ordenkik em começo de carreira, ou ainda com um papel pequeníssimo que não lembra em nada sua participação em Better Call Saul ou Breaking Bad, exceto o fato de compararmos como ele está jovem.
A vida não é fácil para os que decidem enxergá-la como ela é.
# A Garota de Fogo
Caloni, 2016-04-14 cinemaqui cinema movies [up] [copy]"Muitas coisas podem acontecer", se você alterar algumas variáveis na História, diz o professor de matemática durante a aula. "Porém, dois mais dois sempre serão quatro." E isso se torna uma conclusão, ou profecia, a respeito da inacreditável história de A Garota de Fogo. E o mais inacreditável no filme é que essa fala e tudo o que vemos nele favorece a narrativa, além de estar intrinsecamente ligado ao tema que ele quer explorar.
Passado em uma Espanha durante uma crise, algo comum no país e que é explicado como uma característica ambivalente do seu povo em uma sequência que lembra um pouco a atmosfera de Beleza Adormecida, embora um tom mais real, A Garota de Fogo começa de maneira muito simples: uma garota desafia um rígido professor falando a verdade. Logo depois vemos uma menina dançando ao som japonês, e seu pai, incapaz de lidar com o destino de sua filha com leucemia.
A motivação infantil do pai em dar de presente para sua filha o único item possível de ser alcançado em seu livro de desejos é a força motriz que leva o filme para outras viagens e universos, que consegue encaixar com perfeição poética e visual a história de uma esposa de um psiquiatra com tendências suicidas e um prisioneiro reformado que teme não poder controlar seus instintos, sendo que estes parecem a coisa mais racional e perigosamente sensata do filme. Em ambos os casos voltamos ao diálogo que citei sobre os problemas da nação espanhola, e logo fica óbvio que este é um dos melhores roteiros do ano, pelo seu intrincado jogo de conexões visuais, de dar inveja a trabalhos já icônicos como 21 gramas, Crash ou Babel.
Porém, nem de longe ele se torna enfadonho por sua complexidade. Ele é simples, previsível, mas fascinante ao mesmo tempo. Com um ritmo próprio, e criando seus personagens no tom exato para a história que quer contar, A Garota de Fogo parece não temer se tornar uma experiência fechada demais, ou com simbolismos que podem levar a diferentes interpretações. Pelo contrário: o filme abraça essa capacidade como se fosse justamente essa a forma de contar uma história com tantas nuances e tantos personagens funcionais.
No entanto, mesmo assim, se torna acessível ao grande público, que se tiver paciência na primeira metade, irá receber uma recompensa inquietante na segunda metade. Irá se indagar sobre o que está acontecendo e qual a moral da história. Será este filme uma crítica política, social, ambos?
Não importa. E nem importa o leque de possibilidades. O filme muito bem poderia tomar qualquer outro rumo e ainda seria igualmente poderoso. Porém, é no seu jogo naturalista, que evita trilhas sonoras e diálogos expositivos, que ele encontra a força do acaso e das coincidências irritantes. O único alento é que, aconteça o que acontecer, dois mais dois continuarão sendo quatro.
# O Que Eu Fiz Para Merecer Isso?
Caloni, 2016-04-15 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Um homem quer ouvir um disco que para ele tem muito valor. Suas tentativas frustradas vão escalando em uma história cada vez mais absurda. Essa é a premissa básica de O Que Eu Fiz Para Merecer Isso?, que realiza uma farsa -- aquela comédia em que todos os personagens são críveis, mas exagerados -- em praticamente um cenário.
Encurralando seu protagonista em uma bola de neve de problemas, o roteiro da diretora Patrice Leconte começa simplório cativando o espectador no começo, quando, ao achar uma peça de valor, um disco de jazz, o impulsivo Michel (Christian Clavier) não se segura com o vendedor. Esse início equilibra um homem comum entusiasmado como uma criança. Aos poucos, contudo, apresentando seus personagens sob o clima de tensão de Michel tentando ouvir seu disco, vamos percebendo que sua vida está pavimentada de mentiras e situações que ele não consegue controlar. Suas tentativas de evitar que isso atrapalhe o seu único prazer autêntico naquela tarde é a força motriz para a comédia, que funciona tão bem que não percebemos que estamos acompanhando de fato um drama. Tudo bem que é um drama que utiliza a comédia para torná-lo mais leve, mas ainda assim, um drama.
E é a capacidade de Christian Clavier em depositar naquele disco todas as esperanças, e pela nossa identificação, como espectadores e seres humanos urbanoides (que já sabe que às vezes conseguir uma hora durante o dia de tranquilidade é tarefa ingrata), que o drama se configura. Ele, assim como nós, descobriu que a vida acumulou tantos detalhes, tantos compromissos e tantas pessoas em sua volta, que já é impossível estar em paz; quem dirá sozinho.
Obviamente que todos os personagens são estranhamente exagerados, mas a licença poética da comédia permite isso, e por isso funciona tão bem. As mulheres melindrosas, o filho que saiu o inverso do pai, o funcionário estrangeiro relapso, a empregada que sabe demais, o vizinho tagarela... todos já fazem parte de uma coletânea de estereótipos reutilizados por décadas no cinema e no teatro. "O Trair e Coçar..." se baseia em tudo isso, e mais uma tonelada de comédias de situação. (Não à toa, o filme foi baseado em uma peça de Florian Zeller.)
Porém, o que o filme parece fazer é ignorar toda essa loucura e aproveitar apenas sua estrutura, tão conhecida, para atualizá-la com questões do momento, envolvendo o espectador nessa maluquice temporária para discutir a existência dessa mesma maluquice em nossas próprias vidas, em menor ou -- sim, é possível -- maior grau. Quantas vezes não acusamos alguém de egoísmo só porque essa pessoa não está... atendendo nossos desejos egoístas?
Por essa introspecção divertida e aparentemente inconsequente, "O Que Eu Fiz..." merece todos os créditos por utilizar os clichês ao seu favor, nunca dando mais espaço para eles do que eles merecem. O resultado é o melhor que se pode extrair de uma comédia: a que nos convida a rir das bizarrices do mundo moderno, onde nós não estamos livres: somos tanto vítimas quanto testemunhas.
# Ele Está de Volta
Caloni, 2016-04-16 cinema movies [up] [copy]Um filme que corre o risco de ser apenas alemão. Falado em alemão, dirigido na Alemanha (Berlim) e com uma figura "popular" cujo significado de "diabólico" se tornou universal, mas só o povo que o gerou, décadas depois de doutrinação em escola pública, "conhece" de fato, Ele Está de Volta tenta ser uma comédia com fundo de moral, utilizando Adolf Hitler como um mero joguete, além de um fiapo de roteiro que utiliza a voz da televisão (e da internet) como o novo arsenal político. Um filme feito pela esquerda para a esquerda, que acredita piamente que o nazismo é de extrema direita e que só o lado direito está recheado de agressão e perversão.
E, é claro, é um filme para defender os pobres imigrantes.
Dirigido por David Wnendt ("Zonas Úmidas"), que co-roteiriza com nada menos que cinco pessoas, a história começa quando Hitler acorda de um sono profundo em 2014, bem no local onde foi seu bunker dos dias finais da Segunda Guerra. Aos poucos se adaptando à realidade de uma nova era (embora não pareça se importar com muitas das diferenças, nem com ter viajado no tempo de maneira assombrosa), Hitler (Oliver Masucci) encontra suporte em Fabian (Fabian Busch), um cineasta/video-amador fracassado que tem um bom coração, é tímido e mora com a mãe. Realizando uma viagem com Hitler para... bem... uma campanha? Os dois passam por alguns momentos engraçadinhos que seriam engraçadinhos com qualquer figura pública, não particularmente Hitler. É que a figura do ditador (eleito democraticamente) é fascinante demais para o povo alemão, cercado de tantas proibições (inclusive seu livro autobiográfico) que dá a sensação de ser algo além do que um baixinho que representava a opinião de milhões de alemães àquela época.
E que pode estar representando agora. Tentando unir as recentes ideias extremistas da Europa frente à crise financeira e à vinda massiva de imigrantes, que se aproveita das benesses de um governo socialista -- com prazo de validade vencido -- Hitler acaba sendo um pop star na televisão, na internet e nos jornais. Como que um efeito mola, o que era inadmissível se torna novamente a voz do povo. Em torno disso há uma história bobinha envolvendo uma guerra de diretores da emissora (chamada MyTV... OMG) e um romance batidíssimo entre o Fabian e a recepcionista.
O pior no filme não é sua ideia principal, que de certa forma, é válida e interessante. Porém, muito mal executada. Não há muita inspiração nos "novos" discursos do baixinho, que era conhecido por eles, e o efeito que ele gera na plateia, desproporcional. Dirigido como se fosse um pseudo-documentário, não consegue, como muitos pseudo-documentários, seguir à risca as regras do jogo, revelando seu amadorismo em tomadas impossíveis, como o ponto de vista de um cachorro que é morto pelo alemão.
Há momentos engraçadinhos, momentos WTF e momentos pseudo-solenes que tentam emplacar um drama. Nenhum deles funciona muito bem, e juntos causam desperdício de tempo e esforço. Hitler original, o original mesmo, deveria ter sido um pouco mais interessante para conseguir milhões de seguidores. E não estou falando do Twitter.
# Rank and File (Code Jam)
Caloni, 2016-04-16 computer [up] [copy]Passou o Round 1A do Code Jam, e para variar, fui muito mal, só respondendo a primeira questão. A segunda me fez ficar pensando um tempo desproporcional sobre como encaixar as diferentes linhas e colunas para achar a linha restante.
Basicamente, o problema pede que, dado um quadrado de tamanho N, e 2*N-1 linhas fornecidas (que podem ser linhas ou colunas), imprimir a Nésima linha. A regra das linhas é que ela possui números crescentes.
Bom, não consegui chegar numa solução para o problema errado (encaixar as linhas), mas fui, como sempre, dar uma espiada nas respostas dos competidores, em especial a do primeiro colocado. O grande barato de competições como essa é aprender com a inteligência e genialidade dos outros. Para mim, esse é um exemplo de genialidade:
int cnt[2501] = {}; // zerando o array int main() { for(int i = 0; i < n * (2 * n - 1); i++) { cin >> j; cnt[j] ^= 1; // inverte primeiro bit do inteiro } printf("Case #%d:", t); for(int i = 1; i < 2500; i++) if (cnt[i]) cout << " " << i; // se não for zero (ou seja, ímpar) imprime cout << endl; }
_Obs.: O código está higienizado, pois esse pessoal usa bastante macros, etc._
A solução basicamente decide isolar duas questões: achar os números que faltam nas sequência e imprimi-los na ordem. Para o primeiro, varre todas as sequências sinalizando qual deles tem a quantidade ímpar (ou seja, não está representado em todas as linhas e colunas, pois do contrário seria par). Depois ele resolve a segunda questão simplesmente imprimindo os números ímpares encontrados, já na ordem (no array de valores possíveis).
Simples, rápido, eficiente. E correto.
É esse tipo de coisa que faz valer a pena uma competição dessas.
# Se Beber, Não Case! Parte II
Caloni, 2016-04-17 cinema movies [up] [copy]Como seria o original se ele não tivesse graça. Não seria uma novidade se a sequência de Todd Phillips repetisse a fórmula exata da ótima comédia que é o filme original, que é o que este Parte II faz do início ao fim. A novidade é que, mesmo juntando o elenco original, o curioso é que quase nada funciona, quase nada é engraçado e muito pouco é imprevisível.
Há situações pesadas o suficiente para tornar uma comédia um quase drama de um grupo de homens perdido em Bangkok, a capital da Tailândia, do sexo e da violência. Um macaco traficante é engraçadinho, mas não deixa de ser traficante. E um tiro de raspão em um país estrangeiro não deixa de ser um tiro.
A questão é: nem tudo que acontece durante um "bebedaço" é engraçado ou inocente. Ao brincar com os heróis do filme original, brincamos com todo o conceito genial que se formou anteriormente. E tudo isso é sacrificado para tentar firmar uma fórmula de um filme só.
Nem Ken Jeong (Community) ou Zach Galifianakis são capazes de transformar esse filme esquecível em algo mais. Eles estão exagerados, mas não tanto quanto Ed Helms, que parece tentar defender a "sua" sequência com muita força (afinal, é o casamento de seu personagem).
Ainda assim, há um quê de nostálgico e saudosista em Parte II. A sensação de ter perdido a memória novamente é um dejá vu inevitável, mas nos passamos de espectadores de um evento turístico: o passeio às sensações de como deve ter sido o primeiro filme (para quem não assistiu, talvez até tenha ficado com uma impressão superior).
# Better Call Saul - Primeira Temporada
Caloni, 2016-04-22 cinema series [up] [copy]A primeira temporada de Better Call Saul, spin-off do personagem Saul Goodman da série Breaking Bad, realiza um arco tão lendário quando o Walter White da série original. Esse arco é mais simples, previsível em sua própria estrutura, mas simplório jamais. Oscilando entre o cômico e o dramático, ganha mais o espectador que encara tudo aquilo como um drama tão intenso que consegue soar às vezes caricato, mas no final acaba se transformando em um tema digno de reflexão: como pode um sujeito ser esmagado de tantas formas diferentes e, ainda assim, continuar resistindo?
É óbvio que, idealizado pelo mesmo Vinge Gilligan de Breaking Bad e sua inteligente equipe, essa primeira faceta antes desconhecida de Saul, ou em seu nome original, James McGill, irá certamente formar o alicerce moral do sujeito para futuras temporadas. Porém, mesmo que tivéssemos visto o último episódio ever da história, esta poderia muito bem acabar dessa forma e não soaria incompleta, da mesma forma que a maioria das temporadas de Breaking Bad (particularmente a quarta).
O primeiro episódio é mais sério e dramático (o único dirigido por Gilligan), e já determina o tom de prequel ao mostrar o final trágico do advogado no anonimato e sempre temendo pela sua vida, o que gera pelo menos dois problemas, um visível de cara e outro escondido no resto dos episódios: 1) se você já assistiu a série original (ainda recente) tomou um spoiler de início (ele não vai morrer), 2) o destino do personagem não acrescenta em nada sua trajetória da primeira temporada (talvez isso se resolva no final da série, veremos).
O segundo episódio já é dirigido por Michele McLaren, uma das minha favoritas em Breaking Bad (outro é Rian Johnson, de Looper). A partir daí felizmente a série já assume o seu lado cômico vindo das trevas, ou o mais conhecido humor negro. O primeiro acordo/caso de Saul/Jimmy no mundo do crime envolve o código de Hamurabi -- um dos códigos morais mais antigos do mundo -- com (spoiler!) Tuco tentando decidir entre matar dois jovens ou quebrar-lhes as pernas. É lindo perceber a mudança no discurso do futuro Saul durante a conversação no deserto, assim como ironicamente a criação de um advogado em defesa de seus "clientes".
A partir dali a série se arrasta um pouco além do devido, mas nada que se pode chamar de erro grave. Há até momentos ou um episódio inteiro com o personagem secundário de Mike (o sempre ótimo Jonathan Banks) que poderia ser acusado de "encheção de linguiça", mas que é tão necessário para esse outro personagem memorável da série original que serve como uma desculpa perfeita. Além do mais, o brilhantismo em criar rimas e gags visuais com o trabalho original vai além da mera homenagem para a criação de algo novo em torno do protagonista de Bob Odenkirk que, sejamos justos, não faz uma grande atuação, mas é dono de um grande personagem e o sabe levar como ninguém. É dele uma das homenagens cinematográficas já costumeiras da equipe de Breaking Bad ("Here's Johnyy!").
Melhor do que isso são as pistas no início de cada episódio que são esquecidas justamente pela jogada dos diretores de cada vez mais inserir preciosismos narrativos. Cada episódio é uma mini-história em si mesma, cativante e fácil de acompanhar. É seguindo essa fórmula que, por exemplo, o episódio Hero consegue avançar na psique do personagem mostrando os golpes que este praticava e ao mesmo tempo realiza uma rima belíssima. Da mesma forma o episódio Bingo, mesmo relevando uma solução para um problema mais extenso na história, acaba trazendo na conclusão os melhores momentos de um casal de picaretas.
Pecando apenas levemente em exagerar no óbvio no penúltimo episódio onde uma "revelação" já era pelo menos sentida pela maioria dos espectadores em relação ao irmão de Jimmy, e até no último episódio em insistir na situação de saúde de um personagem, é um resumo mais do que satisfatório, pois entrega ambos os lados de um sujeito que, tragicamente como seu cliente mais famoso (Heisenberg), também não consegue deixar de ser ele mesmo e se sentir bem a respeito independente disso cruzar algumas barreiras morais.
# Better Call Saul - Segunda Temporada
Caloni, 2016-04-22 cinema series [up] [copy]A segunda temporada de Better Call Saul consegue repetir a façanha da primeira, em apresentar personagens fascinantes com praticamente só imagens; aqui, porém, Saul tem que dividir as atenções com duas figuras cada vez mais presentes: o bom e velho Mike Ehrmantraut (Jonathan Banks) e a madura e persistente Kim Wexler (Rhea Seehorn). Ambos são personagens que passam a valer a pena acompanhar e torcer junto, pois eles são, de uma maneira torta, lados da mesma moeda: a consistência e o caráter.
Já Jimmy McGill (Bob Odenkirk), como já sabemos, não é a pessoa que pode-se atribuir valores éticos, mas um roteiro incrivelmente bem construído nos coloca contra a parede quando temos que ver a oposição que seu irmão mais velho, Chuck (Michael McKean), realiza. A função de Chuck é representar a advocacia imaculada, ainda que dura e cruel. O fato de estar associado a uma corporação dona de toda influência, não torna as coisas mais fáceis para o espectador. Há um momento particularmente inspirador nessa temporada, quando Kim e Jimmy batem de frente e com todas as cartas na figura incorruptível do McGill sênior.
Do lado de Mike, o cartel de drogas começa a se revelar na figura do ainda ativo Hector Salamanca (Mark Margolis), e a participação de nós, espectadores, na posição de Nacho Varga (Michael Mando). Mesmo representando nosso lado observador, é ele que age ao final da melhor sequência silenciosa da série, quando Mike decide utilizar uma arma de longo alcance. Note como ao atingir seu ponto de decisão, até os grilos param de cantar.
E se Kim Wexler poderia figurar como o par romântico do protagonista, ela prova ter mais culhões que o próprio Saul, conquistando uma carteira valiosíssima para a empresa onde trabalha, e acabando no almoxarifado graças ao ímpeto de executor de seu namorado, custe o que custar.
Sim, estamos falando de um protagonista simpático e empático. Conseguindo inserir humor nas poucas pontas que lhe restam, a interpretação de Bob Odenkirk cria uma rede de proteção contra as ações do sujeito, a maioria delas questionável. Ele é o nosso pequeno cidadão comum, autor de pequenos delitos "por uma boa causa", ou às vezes nem isso, apenas mérito próprio.
Com a participação da equipe de Breaking Bad, principalmente no roteiro e execução das fotografias mais lindas que você irá encontrar de Albuquerque em uma série televisiva, o que encanta ainda mais é o uso do silêncio e dos enquadramentos grandiosos. Nunca o deserto teve tanta personalidade para esbanjar em suas figuras obscuras e ligeiramente com a moral curvada para baixo.
# Uma Noite Fora de Série
Caloni, 2016-04-22 cinema movies [up] [copy]Esse filme é uma bagunça de dois gêneros. Ele começa como uma comédia romântica um tanto dramatizada a respeito de como o tempo -- e filhos, e rotina, e a velhice -- desgasta um relacionamento. Há piadas com certeza inspiradas na vida real de alguns dos participantes na criação do filme, pois ele se alimenta do lugar-comum e consegue trazer simpatia para esse lado.
O outro lado é um filme de ação policial que sempre soa artificial e muito exagerado. Com a participação de um elenco secundário de luxo -- Mark Wahlberg, Kristen Wiig, Mark Ruffalo, James Franco, Mila Kunis -- essa parte nunca nos dá a sensação de perigo ou de situação insolúvel. Dá mais a sensação de enlatado. A trilha sonora colabora imensamente com isso, com seu tom genérico.
No entanto, estamos diante de um ícone da comédia. E Steve Carell dá conta de uma ou outra ponta em que há de fato uma comédia sendo feita. E mesmo com um roteiro fraco, há seus bons momentos. E há Tina Fey, que quase passa despercebida.
O diretor Shawn Levy se sai melhor em roteiros mais parados (Gigantes de Aço, Uma Noite no Museu) que não exigem aquele rebolado que trafega entre dois gêneros. Aqui, como já dito, não há comédia o suficiente para segurar tantas cenas de ação. E há, sim, uma boa ideia, como podemos notar quando o casal resolve discutir o relacionamento. No entanto, o diretor fica no meio do caminho, sem fôlego para cenas de ação, e sem muita paciência para desenvolver o drama.
Maior prova do fiasco antecipado são os créditos finais, sempre um sinal confiável: recheado de erros de cena.
# Sete Psicopatas e um Shih Tzu
Caloni, 2016-04-24 cinema movies [up] [copy]Você irá rir pelos motivos errados. Este é um filme que apresenta a realidade de um escritor de Hollywood quando ele decide escrever um roteiro com sete psicopatas e zero violência. Não há a menor surpresa que ele não irá conseguir.
Apenas imagine a mente de um escritor habitada pelos seus personagens, que insistem em não se encaixar no seu filme. No entanto, quando começamos a assistir um filme com esse nome onde o palco é Hollywood, se torna imperativo que armas, mortes por vingança, máfia e todo tipo de golpe esteja em pauta. E quando isso de fato acontece, é como se tudo isso não se encaixasse.
Não por acaso. O roteirista (e diretor), Martin McDonagh ("Na Mira do Chefe"), faz parte do filme, na forma de um Colin Farrell um tanto apagado e mais observador. Ele está vivenciando o processo de criação, e te convida a participar. Mas seu amigo (Sam Rockwell, ótimo) é um idiota, chama sua namorada de vadia e está envolvido em um esquema de sequestro de cães que irá levar ainda mais complicações para sua vida. Ao mesmo tempo, ele tenta colocar tudo isso de lado e se concentrar para fugir dos estereótipos. Porém, ele próprio se torna um, com crise de criatividade e alcoólatra.
Temos também Christopher Walken que é Hans, em mais um papel memorável, ao lado de sua mulher, Myra (Linda Bright Clay), que acaba de operar um câncer. Sua história é a mais encantadora, e não é preciso muito esforço para gostar dela mesmo sabendo de todo o processo de criação e subversão das expectativas.
E esse é um filme que tenta subverter tudo, desconstruir todos os estereótipos sobre filmes com violência, e a mostra abundantemente, sempre gráfica demais, inverossímil demais e ligeiramente deslocada. Ele está representado visualmente como uma prostituta que irá vestir um cinto de dinamites como parte da vingança de um ex-soldado vietnamita (que próximo do final vira outra coisa -- não que nos importemos -- muito mais genial).
Até as listas, tão famosas em filmes Tarantinescos, aqui recebe um tratamento especial, quando um elemento número 7 é, ao mesmo tempo, o número 1. Ah, e as mulheres morrem. Aos montes. E são burras, vulgares, passageiras. Nem essa parte nobre do cineasta responsável por Kill Bill sai ilesa. O filme flerta perigosamente em se tornar ruim discutindo porque tantos filmes com esse mesmo plot acabam sendo ruins.
Quando a história chega no deserto, ao passar do lado de uma icônica cruz, é onde o filme dá o seu melhor. A pressão dos personagens de Marty e seu filme com "tantas camadas" começa a influenciar na nossa visão sobre o que está acontecendo, de que lado, e como tudo isso se junta. Quase é possível ver as folhas de papel escritas pela metade, rasgadas e deixadas de lado. Personagens que se fundem, ou se dividem, ou um lembra o outro por semelhanças toscas, como o fato de ambos terem uma esposa negra. Há algo particularmente atrevido nesse roteiro, que torna alguns momentos de gosto duvidoso, mas que consegue extrair beleza metalinguística em outros.
Conseguindo encaixar até uma pista-recompensa a respeito dos créditos finais, Sete Psicopatas e um Shih Tzu é um filme sobre Cinema, para os que amam Cinema, mas não estão muito afim de discutir dramas clássicos ou nada muito profundo. É só que, às vezes acontece desse amor ser levado longe demais. Quase um "overkill".
# Maravilhoso Boccaccio
Caloni, 2016-04-27 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Fracamente inspirado no Decameron, a coletânea de novelas do autor italiano do Século 14, Maravilhoso Boccaccio é filmado como uma grande novela de contos, além de sua produção lembrar tanto uma peça de teatro quanto produções televisivas de baixo orçamento. Ainda assim, possui o mérito narrativo em suas ótimas e curtas histórias.
O pano de fundo é a Itália na época da Peste Negra, quando pessoas morriam aos montes e alguns belos jovens se isolaram de Florença, indo viver em uma casa no interior por alguns dias. Só para sentir o dramalhão que os diretores Paolo Taviani e Vittorio Taviani se envolveram ao adaptar Bocaccio, temos uma cena no início em que um pai enterra esposa e filho em uma das fossas coletivas das vítimas da praga, e os protege das pazadas de terra que recebem.
A trilha sonora pitoresta da TV, os zooms exagerados, os ângulos teatrais e a história contada como uma poesia mal amarrada tornam a experiência de ver cada um dos jovens contar uma história para não se entediarem uma oportunidade para relaxar e deixar fluir a imaginação em torno da época. Infelizmente, tal qual a recente "superprodução" brasileira Os Dez Mandamentos, o figurino disfarçado de antigo não ajuda, ainda mais quando vemos uma calcinha moderna escondida entre os panos de uma moça.
Porém, as histórias possuem suas virtudes, principalmente as últimas. O processo todo de acompanhar cada história, interpretada pelos próprios atores da "trama" principal, é um aprendizado dessa dinâmica, onde não há nada mais a ser contado do "lado de fora" desse vai-e-vem dos personagens principais.
Dessa forma, é muito mais interessante ver a história do artesão ingênuo que acredita ter encontrado uma pedra que o torna invisível, ou de uma madre superiora dando um sermão a uma das freiras sobre luxúria com uma cueca na cabeça, ou até mesmo a história mais forte de todas, a de um falcão que se torna o melhor e único amigo de um caçador que vai à falência. Esses são passatempos que valem a pena se deliciar em torno da estrutura episódica do filme. Porém, sempre ao seu final ressurge a sensação de estar apenas acompanhando uma espécie de seriado com mini-episódios de curtas independentes e que nunca se relacionam com nada. Qual a moral da história? Há muitas morais a ser extraídas, mas nenhuma ideia do que os autores imaginaram ao juntar todas essas histórias.
Ao fim, Maravilhoso Boccaccio parece uma espécie de homenagem a um autor já conhecidíssimo da Idade Média em um formato mais palatável para o grande público italiano. Poderia ir direto para a TV e teria algum público cult, mas como Cinema, se torna tão competente quanto as aventuras de Moisés televisionado pela emissora de Edir Macedo.
# Nós, Eles e Eu
Caloni, 2016-04-30 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Um documentário não é obrigado a destilar sua opinião para todos os lados, mas no caso de "Nós, Eles e Eu", um filme feito por um diretor judeu e membro de uma família sionista, a opinião sobre o eterno conflito entre judeus e palestinos parece inevitável.
O mais curioso do filme, então, é que não vemos muita opinião. Pelo menos não a do filme, mas a nossa. Munidos de nossos preconceitos, qualquer novo acontecimento será interpretado com o viés de estar assistindo a "conteúdo judeu". Ledo e divertido engano. Estamos tão acostumados com visões parciais do conflito que não encontrá-las, ainda mais em um documentário pessoal, soa estranho.
O diretor, Nicolás Avruj, de família Argentina, passou um tempo vagando pelas terras israelenses e árabes, nunca revelando sua origem. Ele passa um tempo na faixa de Gaaza, nos arredores de Tel Aviv e em regiões onde a situação das pessoas nunca é de segurança. O mais fascinante de sua história contada em registros é ver que há diferentes pontos de vista. Dessa forma, chegamos a ouvir da boca de um palestino que ele ama a guerra, e que seus filhos deverão continuar os conflitos. Ele fala isso de forma natural pois passou toda sua vida nessa realidade. Para ele, é algo tão comum quanto fazer parte de uma torcida organizada, e onde não escolher um dos lados é impensável.
De certa forma, é mais ou menos assim que ambos os lados se sentem. Todos têm um bom motivo para defender seu lado, ignorando que já fazem parte dele antes mesmo de terem opinião. Com exceção, claro, dos poucos com lucidez o suficiente para enxergar que tudo aquilo é loucura e que ninguém vive bem em um ambiente desses, vitorioso ou perdedor.
Contando uma história como retrospectiva, sendo que Avruj narra sua viagem feita 15 anos atrás, o recorte de momentos é sempre ágil, mesmo que na maioria das vezes contenha pessoas dando seu testemunho. O que gera a tensão é ele, por exemplo, estar entre palestinos com opiniões radicais, falando que judeus são covardes. Ele havia inicialmente combinado consigo mesmo não revelar sua origem judaica, exceto se lhe perguntarem. Porém, são exatamente esses momentos de tensão que o faz mudar de ideia: não irá revelar sua origem mesmo se lhe perguntarem.
Até onde vai a loucura gerada pela péssima decisão balizada pela ONU quase 60 anos atrás? O que existia antes? O filme não se importa muito em responder essa questão. Um senhor, já bem idoso, sim. E confirma: as pessoas viviam bem antes da chegada do Estado de Israel, sendo que já existiam muitos judeus morando na região. Hoje parece inadmissível algo mais que natural: pessoas vivendo em paz (porque isso é benéfico para todos, observa uma judia que frequenta uma casa de colonos palestinos).
Em não tentar nunca responder perguntas, e na maioria dos momentos evitar o conflito de ideias, mas apenas apresentá-las em uma cadência que deixa claro "de que lado se torce", "Nós, Eles e Eu", em sua isenção, acaba aos poucos se tornando a figura cada vez mais comum e ignorante do cenário político brasileiro: o "isentão". Em tentar não tomar partido, não só acaba tomando, como podemos notar pelo inevitável sionismo da origem do diretor, como tenta negá-lo a todo momento, soando hipócrita ou na melhor das hipóteses, inútil.
O mais curioso é que, ao negar suas origens e seus argumentos, na ponta da língua (ou da lente da câmera), é nisso que se transforma uma opinião quando esta tenta ser imparcial, isenta, neutra. Inconscientemente o negócio vira uma das aberrações do (outro) sionista Amos Gitai, como em Carmel (embora não tão horrivelmente executado). Não que isso seja culpa do diretor. Sua visão pode ser pura e ingênua como os colonos da periferia de Gaza. Se desprovido de exercício intelectual e argumentativo, vira um desses trabalhos de escola relativista, que não exprime opinião por ter medo de levar nota baixa. Talvez essa seja a guerra do medo do mundo civilizado: o que você disser e não disser será usado contra você. Ainda mais se você for um sionista covarde.