# Tickle Head, O Melhor Lugar Da Terra

Caloni, 2017-08-04 cinema movies [up] [copy]

Este filme canadense de cidadezinha à beira-mar possui o seu charme e o seu humor. Um humor simples, mas que não soa maniqueísta, apesar de ser um pouco. Conta uma história implausível, mas que nos minutos finais toca o coração. Se trata de uma farsa, que não quer dar o braço a torcer que a luta é inútil. Uma metáfora sobre progresso que ignora a realidade para sonhar um pouco. E dar boas risadas.

A história é simples, para não dizer simplista. Um pequeno porto com 120 habitantes precisa fechar o acordo com uma petroquímica para construir uma fábrica e assim salvar a economia do local, que há muito não vive, como antigamente, da pescaria. Porém, para isso eles precisam de um médico residente, que convenientemente cai por aquelas bandas por um mês. Ele é fã de críquete, um esporte que nenhum canadense doido por hóquei ouviu falar.

A sequência da história é ágil, mas confunde no começo. Vemos o protagonista exaltando seu pai orgulhoso por sustentar sua família com o suor do seu trabalho. Em cima do telhado, ainda criança, ele imita um gato. O corte vai imediatamente para a cama dele, já casado, adulto... e irritando seu gato.

Todo o orgulho que ele sentia pelo pai ele não pode sentir agora por si mesmo, pois a pescaria vai mal para todos, que recebem um cheque todo mês do governo para sua subsistência. Sua mulher desiste e aceita um emprego na cidade, deixando ele com seus sonhos e esperanças. Ele possui um amigo sem miolos (o alívio cômico) e pretende junto com enganar o médico fingindo que este é o única cidadezinha portuária onde seus habitantes são fanáticos por críquete, possuem doenças interessantes e ainda uma solteira atraente (apesar dele estar noivo).

A estrutura de The Grand Seduction nos faz lembrar de um filme ou outro com tema parecido: a cidadezinha inteira que engana o forasteiro ou o povo da cidade. Aqui a comédia esconde um drama, e portanto tem coração. Isso faz com que o projeto não afunde, mesmo que os atores secundários não ajudem muito.

A surpresa é o ator que faz o médico, que se assume como o jovem cirurgião plástico perdido na profissão e na vida. Ele e sua noiva não estão bem (óbvio) e ele muito aos poucos começa a questionar sua vida.

Mas tudo é muito artificial, e não há nenhum desafio ou risco na história. Apenas a descoberta de cada novo infalível passo do novo prefeito do pequeno porto de Tickle Head (cócegas na cabeça?). Há alguns momentos pseudo-emocionantes no final, mas nem por isso você deveria assisti-lo. É mais um processo de entretenimento com pequenos pensamentos esparsos que logo lhe farão esquecer que você assistiu esse filme.


# Décimo-Terceiro Encontro CCPPBrasil (Post Mortem)

Caloni, 2017-08-06 ccppbr [up] [copy]

Mais um encontro que deu certo. No interior de SP em um sábado meio friozinho e meio calor houve o décimo-terceiro encontro de nossa comunidade C/C++ Brasil, em um espaço e coffee-break fornecidos pela empresa Diebold em Indaiatuba. Houve cinco palestras e o dia passou bem rápido. Parabéns a todos os envolvidos pelo sucesso do encontro.


# O Mínimo Para Viver

Caloni, 2017-08-06 cinema movies [up] [copy]

Mais um drama da Netflix que usa o seu formato já usado em trabalhos como The Fundamentals of Caring (Amizades Improváveis no IMDB). Há uma pessoa que vive com dificuldades, as famílias e desconhecidos em volta, o Keanu Reeves porque sim (o bom é que ele já ganha a graninha do metrô) e um filme leve demais para conseguir causar qualquer comoção ou profundidade no tema que quer abordar.

O tema é anorexia. A menina principal já foi internada algumas vezes, tem pais separados, foi abandonada pela mãe que casou com outra mulher, vive com sua madrasta, pai sempre ausente e sua meia-irmã com bochechas rosadas.

Ela é magra, super-magra, e vem piorando. Ela não consegue comer, mas é bonita e artista. Uma de suas pinturas foi motivo para uma de suas fãs do seu Tumblr se matasse (sempre o Tumblr). Ela agora é internada em mais uma instituição. Essa dessa vez é regida pelo Keanu Reeves, então sabemos que vai dar tudo certo dessa vez.

Ou talvez não. Você não vai imaginar como a expressão de Reeves anda tão abatida ultimamente.

O filme dirigido e escrito por Marti Noxon (Buffy: A Caça-Vampiros) coloca Lily Collins como Ellen, a menina artista sem graça um tanto depressiva e sem muita capacidade de empatia pelo espectador. Ela é simplesmente um ser humano que não sabe por que não consegue comer. Enquanto isso visitamos diferentes pacientes da instituição e seus dramas, cada um lidando do seu jeito, mas nenhum deles aparentemente melhorando.

A intenção do filme é óbvia: dizer que as coisas não são tão simples quanto parecem. Esse é um lado bom da história. Ela também consegue te cativar, a despeito da protagonista, graças ao irritante e esquecível Luke (Alex Sharp). A tarefa de Sharp é aparentemente impossível, pois ele precisa não roubar o protagonismo de uma Collins quase completamente apática e inexpressiva, enquanto apesar de sabermos pouco sobre sua derrocada no balé, é o suficiente para despertar mais simpatia.

Porém, sejamos justos. Ninguém é muito apetitoso falando de atuações, e Reeves é a cereja do bolo. Esperamos ansiosamente por alguns bons momentos de uma boa história, mas cozido a fogo médio, o filme de Noxon nunca chega a nos premiar com algum momento muito profundo, preferindo discorrer em um ambiente realista sobre os motivos que tornam uma pessoa anoréxica, e como fazê-la sair dessa situação.

Qual o mínimo para viver quando a vida não faz muito sentido? Talvez nada. O que justificaria um final menos feliz por aqui. Infelizmente, as pessoas possuem esperanças sem motivo, mesmo.


# O Reino Gelado: Fogo e Gelo

Caloni, 2017-08-06 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

O Reino Gelado é a continuação da continuação de uma série de animação russa fora do circuito Disney/Dreamworks, então não é um filme que se possa esperar o ápice de qualidade dos grandes estúdios. E mesmo assim não deixa de ser uma aventura razoável, com história feita para televisão, mas com efeitos que lembram como hoje há uma acessibilidade incrível a efeitos digitais que antigamente demandavam anos e muitos milhões.

Aqui a história continua a partir dos dois irmãos que depois de derrotar a Rainha de Gelo se tornaram órfãos, e ganham a vida indo de escola em escola narrando suas aventuras que se tornaram lendas. Mas reviver tudo isso e não possuir uma família está desgastando a relação entre os dois, até que um jovem espanhol os traz uma nova lenda a respeito de uma fonte de desejos, despertando o interesse da menina em conseguir ter seus pais de volta.

O Reino Gelado é uma espécie de reimaginação de vários trabalhos que lidam com reinos, mistérios e magia. Muitos irão se lembrar de Frozen: Uma Aventura Congelante, pois é inevitável. Aqui fogo e gelo se tornam forças sobrenaturais que se unem para destruir os trolls e os outros habitantes daquela região.

A dublagem brasileira deixa a desejar pela artificialidade das falas, mas ao menos não há muitos regionalismos, algo cada vez mais comum nas grandes produções. Já o uso de efeitos rebuscados em exaustão entretém um pouco, pois há belos momentos no filme, mas a falta de uma narrativa que acompanhe nossa imaginação sempre coloca a experiência abaixo do que poderia ser.

A trilha sonora do italiano Fabrizio Mancinelli é um exagero. A música faz questão de acompanhar todas as cenas, e pontuar cada pedacinho da ação, seja drama ou comédia. Mas o mais irritante é a comédia. Baseando-se nos toques clichês de cada momento, a música chega a incomodar mais do que as falhas de roteiro, pois tenta nos convencer de que as cenas são muito mais do que é mostrado.

Tentando criar uma nova aventura de carona nas animações anteriores, O Reino Gelado é previsível e enlatado, mas ainda assim pode entreter os espectadores mais jovens em uma ou outra piada. Mas se para isso é necessário passar por uma história que não é lá muito empolgante, é melhor procurar os enlatados de Hollywood, mesmo.


# Toast: A História de uma Criança com Fome

Caloni, 2017-08-06 cinema movies [up] [copy]

Este é um drama leve que conta com alguns segredos sutis em sua história e algumas atuações marcantes ou no mínimo bem corretas. Helena Bonham Carter é o destaque e o centro de um filme que poderia ser chato como biografia, mas consegue ser fascinante ainda que não conheçamos de quem se está falando.

A biografia no caso é de Nigel Slater, um famoso cozinheiro de TV. O filme conta sua infância conturbada, com a mãe moribunda, péssima em culinária doméstica, preferindo comprar tudo enlatado, e o pai arrumando uma nova esposa a partir de sua faxineira (Bonham Carter), e que se revela uma excelente, quase obsessiva, cozinheira.

Oscar Kennedy como o jovem Slater e Freddie Highmore (A Fantástica Fábrica de Chocolate) como o adolescente fazem um ótimo trabalho em personificarem uma criança em desenvolvimento, um tanto mimada, e tendo que conviver com mudanças que giram em torno de comida. Nigel aprecia o trabalho do jovem jardineiro da família, de uma maneira que só vamos perceber por completo o subtexto muito tempo depois. A única coisa que ele aprecia na cozinha de sua mãe é a torrada que ela de vez em quando prepara para ele, mas afetivamente ele possui um retorno muito melhor.

A direção de arte aqui é boa em resgatar uma época onde não se via grandes problemas em comida industrial e com plena gordura na cozinha. Tanto que não precisamos ser apresentados aos perigos de se comer demais naquela época, que é justamente o que o pai de Nigel começa a fazer depois que arruma a voluptuosa Mrs. Potter como faxineira e eventualmente cozinheira. A rivalidade entre os dois para conseguir a atenção do seu patrão/marido e pai é o estopim necessário para que Nigel saia das asas de todos eles e comece a se descobrir, como cozinheiro e ser humano.

A direção de S. J. Clarkson é ágil, mas ao mesmo tempo detalhista. Ainda que com algumas pequenas manipulações do roteiro de Lee Hall, que dramatiza um pouco além da conta as memórias do real Nigel Slater, é possível entender toda a trama apenas pelo ponto de vista de uma criança e adolescente, o que é admirável, pois nos mantém sempre com o ponto de vista do protagonista. No entanto, alguns detalhes são citados burocraticamente e não se encaixam direito na trama, como o fato do pai de Nigel ser mórmom, ou a sexualidade do futuro cozinheiro.

No entanto, admirável em ser coeso e com uma produção de época charmosa e bem-humorada -- com direito a uma batedeira que surge de um fundo falso -- "Toast" é um inusitado divertimento em um drama que consegue ser levado com leveza, mas ainda assim se manter presente. Um equilíbrio difícil de ser alcançado, mas que aqui a ligação do herói com comida traduz muito bem.


# Estranha Obsessão

Caloni, 2017-08-07 cinema movies [up] [copy]

Pawel Pawlikowski, diretor e roteirista do mais recente e interessante Ida, traça aqui através do romance de Douglas Kennedy um thriller que vai escalando naturalmente, dando tempo ao espectador para se habituar ao drama do escritor Tom Ricks (o habilidoso Ethan Hawke), que chega em Paris em busca da filha de seis anos e sua esposa, aparentemente possui problemas com a polícia e ainda tem sua mala e carteira roubadas. A partir dessa premissa surge um suspense tenso sem forçar muito a situação. Um trabalho econômico e eficiente.

A partir de uma reunião literária surge uma personagem misteriosa, Margit, que interpretada por Kristin Scott Thomas se assemelha a uma femme fatale sem ser uma. Ela é viúva de um escritor húngaro que possui seu próprio charme em seu passado, além de falar sete idiomas. E além disso vão surgindo criaturas curiosas na atmosfera da periferia parisiense, como o turco dono de um café e negócios escusos, que aceita que o professor/escritor se hospede em um de seus imundos quartos enquanto resolve seu problema financeiro (e lhe dá um emprego de porteiro noturno em um local para... negócios escusos), e sua namorada/garçonete polonesa, que vai se interessando pelo escritor conforme essa figura pitoresca vai se habituando com o local.

A direção de Pawlikowski facilita nossa interação com este aparente romance em forma de livro, com seus cenários quase sempre estáticos, câmera parada e enquadramento onde interessa. Há uma largura de campo reduzida, assim como a profundidade, e se foca sempre onde interessa. Pequenos planos-detalhe surgem de maneira a explicar determinados elementos da psique do escritor, como a floresta fictícia que criara em seu único romance (que todos elogiam), além da pista na cena inicial do que poderá acontecer em breve.

A fotografia de Ryszard Lenczewski é cinzenta, chuvosa e mostra uma Paris feia, enquanto os elementos fantasiosos possuem uma estilização mais rebuscada, como os insetos da floresta. Há uma clara falha de comunicação com o espectador, pois a trama não nos faz sentir, mesmo ao vermos na floresta cascos sinistros, artificiais, mas esteticamente invejáveis, e nelas esses insetos, os trilhos do trem e a coruja. É possível que ele esteja querendo juntar com a cena inicial, mas são pontas muito soltas.

Flertando em seu terceiro ato com o imaginário, como tantos outros filmes sobre escritores geralmente fazem, esta parte também é econômica inclusive na paranoia, e não tenta tornar o filme mais esperto do que ele é. No entanto, a impressão que fica é que houve uma correria desnecessária e elementos fantasiosos demais jogados sem nenhuma conclusão muito enfática. Sim, é possível desvendar o mistério poetizando alguns elementos aqui e ali, transformando-os no que chamamos na literatura de liberdade poética, mas para o Cinema.

Ainda assim, Estranha Obsessão se mantém como forte thriller que sempre mantém o espectador atento, aguardando por algo que junte este quebra-cabeças, mesmo que o filme sugira que isso não irá acontecer. Um filme ligeiramente angustiante e depressivo, ele ganha muito mais conotações de romance em seu final, e sem conseguir juntar todos os seus capítulos de maneira satisfatória. Uma pena, pois todo o processo é fascinante.


# O Jantar

Caloni, 2017-08-09 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

O Jantar é um filme difícil de ver. Ele é tenso, coloca seus nervos à flor da pele, discute temas difíceis e ainda por cima possui um elenco afiado em encarnar personagens difíceis de engolir em uma discussão de fachada que revela mais sobre o espectador que está assistindo do que sobre aquelas pessoas tentando encontrar consenso onde não existe nenhum.

Ele começa de maneira justíssima colocando o personagem de Steve Coogan, Paul Lohman, na posição de destaque que ele merece. Lohman não é o mais simpático dos sujeitos, mas durante o filme inteiro ouviremos sua narrativa mental do que está acontecendo (pelo menos o que está acontecendo de acordo com sua cabeça). O sujeito começa sua exposição de uma maneira profética, mas incrivelmente sensata, e ganha de início uma certa simpatia do espectador, ou pelo menos o respeito em ser uma pessoa que defende opiniões fortes, o que é importantíssimo para que seu personagem funcione ao longo da narrativa.

A despeito disso, Paul Lohman é um personagem a ser estudado, venerado e reassistido algumas vezes. Professor de História, sua forma bruta e problemática de exagerar tudo como se qualquer evento fosse de fato um Evento da História -- até um simples jantar com o irmão -- dá o tom épico a situações corriqueiras. Toda a pontuação, o tom, os maneirismos, o mexer de cabeça e o balançar dos olhos torna Lohman possivelmente o personagem mais dramático de Steve Coogan, um papel digno de prêmios, ainda que este cuidadosamente flerte com a caricatura por praticamente toda a história, apenas se revelando, ou se despedaçando, pouco a pouco durante as discussões.

E as discussões, ou deveríamos dizer As Discussões, recebem títulos de momentos de um jantar rebuscado -- Aperitivos, Prato Principal, Queijos e assim por diante -- em um restaurante imponente que torna uma refeição não apenas em uma obra de arte, mas um verdadeiro ritual. Para o desespero de Lohman, que vê tudo aquilo como fruto de um processo de destruição humana causada por guerras, incluindo as americanas. Para o espectador sempre será difícil desvendar os comentários do professor Lohman a respeito de qualquer coisa, pois ele estará dourando a pílula da realidade sob a forte convicção de ser um herói de guerra batalhando no fronte.

Porém, no meio de tudo isso, os reais acontecimentos que cercam O Jantar vão sendo revelados, e as coisas ficam muito mais feias do que as depressivas melancolias de um professor de história. Os filhos de ambos os casais estão envolvidos, e aos poucos tudo vai se assemelhando ao ótimo Deus da Carnificina. Mas se o filme hermético e teatral de Roman Polanski gira mais em torno das diferentes personalidades de cada pessoa envolvida e como seus papeis se adaptam às estratégias que utilizam para tentar "a vitória" na discussão, em O Jantar a seriedade e a emergência da situação, e a reputação pública e os problemas do passado ainda não resolvidos daquela família elevam tudo ao cubo.

O diretor e roteirista Oren Moverman pega o romance do holandês Herman Koch e o transforma em uma espécie de discussão ácida sobre a política e, consequentemente, a sociedade norte-americana. Cheio de alegorias que estão atualizadas com os recentes atritos em voga, como racismo, classes sociais, relativização da violência, intolerância, excesso de tolerância, elitismo, máscaras sociais. Tudo isso e muito mais é cozido em fogo alto pelo diretor, que insiste em potencializar sua noite fatal narrada aos mais diferentes sons e trilhas sonoras que evocam o imediatismo de uma sociedade que beira ao colapso. Por mais que queiramos nos desfazer do discurso mental do professor Lohman, principalmente por se revelar uma pessoa com problemas pessoais, inevitavelmente vira um retrato fiel, ainda que pintado em um campo de batalha, do que acontece no filme.

O uso de cores sisudas (e sombrias) e cenários imponentes (apesar de vermos tudo mais de perto) criam uma atmosfera angustiante. A saída e entrada de pessoas à mesa deixa tudo mais inquieto. Os mistérios ainda não revelados elevam a tensão cada vez que constatamos que esta é uma família à beira da explosão. Quando o mistério é revelado se torna claro que Moverman quer abalar muito mais do que os alicerces de uma simples família.


# Afterimage

Caloni, 2017-08-10 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Afterimage é uma breve biografia que se passa em uma distopia onde o governo proíbe toda forma de Arte contra seus interesses e... ops. Espera. Não é uma distopia, é a Polônia soviética.

Ambientado como de costume em obras dessa época, sob uma paleta de cores cinzenta e fria, os únicos tons que arriscam um pouco de felicidade estão nos quadros do pintor Wladyslaw Strzeminski e seus alunos. Ele é professor de História da Arte, um dos precursores do avant-garde, e aparentemente tudo ia bem, ainda que com a esposa adoecida. Até ele começar uma nova tela e ela ficar com um tom avermelhado, denunciando o enorme cartaz que está sendo pendurado na fachada do seu prédio com a figura do ditador Joseph Stalin, e metaforicamente denunciando uma mudança nos rumos daquela sociedade.

Os acontecimentos de Afterimage seguem uma narrativa literal, episódica, que tem por objetivo mostrar como este artista vai sendo encurralado pelo sistema. Contra o regime de exploração capitalista vai nascendo um regime igualitário para as massas logo abaixo (claro) dos que reorganizam as instituições, e onde a moeda corrente muda para o suporte à nova ideologia, onde se você não está a favor deve estar necessariamente contra.

O diretor polonês Andrzej Wajda, falecido em 2016, neste seu último filme compõe momentos icônicos, onde o quadro geral de cada cena-chave nos dá a impressão de estarmos observando uma pintura, onde a primeira pintura, de alunos pintando a paisagem ensolarada de uma tarde de verão, remete à felicidade, a última, sem spoilers, tem o potencial de cortar o coração. Isso se no processo você não se render ao conformismo apático que o filme sugere. Não há soluções mágicas nem heróis nesta história, porque isto seria ingênuo e bobo. O único heroísmo frente a uma realidade que deseja massacrar e uniformizar a alma de todos é se manter firme em suas convicções.

Apesar de ser uma pequena biografia narrando os últimos anos do pintor, com referências pontuais ao seu passado militante pela Revolução, e conter um aspecto geral mais ou menos realista, não é possível dissociar seu universo de algo semelhante ao visto em "1984", romance de George Orwell e filme de Michael Radford, onde o controle de pensamento das pessoas chega a níveis inimagináveis. Mas como este filme demonstra, a imaginação humana pode criar desde as mais incríveis invenções até os mais sórdidos experimentos. Fica claro que esta é uma história que demonstra o segundo extremo.

Porém, sem conseguir emplacar um personagem forte e determinado, pois não há aqui espaço para o heroísmo romântico, a experiência empalidece e vai se tornando parecido com qualquer outro trabalho sobre totalitarismo que não possui um contra-hino a ser cantado. Ou seja, não é um trabalho que se destaque a ponto de estar no hall dos filmes marcantes do ano. Porém, seu trabalho é tão conciso e consistente, que se torna uma experiência se não nova, gratificante. Pelo menos o mínimo está sendo dito, de maneira igualmente econômica. O nome do filme é extraído desse efeito que nossos olhos possuem, de reter as cores da realidade absorvida pela consciência debaixo de nossas pálpebras. É como se Wajda estivesse alertando sobre o passado que acabamos de ver, e como isso soa o contrário do que vivemos agora. Ledo engano.

As poucas notas do piano, usadas parcimoniosamente, denunciam mais uma vez a economia que Wajda utiliza. Ele, que já se esbanjou de exageros em um de seus principais trabalhos, Terra Prometida, onde caricaturizava os capitalistas do início da Revolução Industrial, aqui soa menos inquieto, mais conformista e, paradoxalmente, mais revolucionário ainda.

É curioso que Wajda tenha vindo a falecer em tempos que voltam a lembrar a roda da História, repetindo tudo em ciclos. Ele é um dos bravos que hoje em dia desafia o "status quo" realizando um filme cuja ideologia vai contra praticamente tudo o que o mundo vem produzindo, infectado pela mente "igualitarista" do politicamente correto. Um bravo sem futuro que nos alerta sobre o passado, que inevitavelmente se repete, embora não da mesma forma. Com conhecimento de causa (ele viveu o comunismo polonês), junto de seu povo ele ergue a bandeira da dissociação com o pensamento dominante. Ele é o Wladyslaw Strzeminski que não aplaude ministros da cultura invadindo sua escola e seus métodos de ensino. Ele é o paladino que não se rende ao discurso fácil de justiça social que alardeia seu vazio ideológico sem perceber que, no fundo, está apenas latindo ao vento. Uma salva de palmas ao inconformismo dentro de todos nós; palmas essas batidas pelos que, independente do que a massa queira, continua a pintar seu quadro da vida, belo porque é único.


# Naked

Caloni, 2017-08-14 cinema movies [up] [copy]

É possível imaginar que este seria um dos primeiros filmes da Netflix cujo roteiro está mais próximo de ter sido feito por Machine Learning do que por roteiristas humanos. Ele é esquemático, usa fórmulas antigas, consagradas ou comentadas por décadas. Apela para movimentos de câmera fáceis, sem construção de cena. A ação está toda pronta já em trabalhos como GTA. E GTA é "apenas" um video-game.

A história chega a ser um plágio de Feitiço do Tempo, pois possui os mesmos elementos. O protagonista precisa melhorar como ser humano para conquistar seu dia. Do contrário ele continuará voltando para o mesmo momento inicial do dia do seu casamento: o elevador de um outro hotel. Completamente pelado. Ah, sim, e essa é a piada: ha ha ha.

Até existe um elemento-chave no roteiro para ele retornar para o ponto de início: o soar do sino da igreja onde pretende se casar. E há uma cena onde ele tenta resolver a questão "atacando" o sino.

Essas são as semelhanças temáticas com o clássico com Bill Murray, e param por aí. Todo o resto é clichê. Pai da noiva não gosta dele e tem um pretendente que é seu ex, que é musculoso e tem uma Lamborghini. Ambos são empresários ocupados e o protagonista é um professor substituto de literatura.

Enxerga como este não é um padrão difícil de ser seguido por uma máquina? Tudo que ela precisa fazer é analisar a gigantesca massa de dados dos espectadores de Home Vídeo, salas de cinema e tv por assinatura. E se este for um filme com boa recepção tenho más notícias para roteiristas medíocres como esses.

Nada disso impede que o carisma do ator principal, Marlon Wayans, ajude a tornar o filme mais palatável. Ele já se saiu muito bem em 50 Tons de Preto, onde as piadas envolvendo o politicamente correto com certeza não conseguiriam (ainda) ser feitas por máquinas. (O próprio politicamente correto já é feito por zumbis, então essa parte eu não duvido.)

Através de uma trilha sonora automática (assim como a direção), "Nu" não consegue ainda unir seus elementos narrativos em uma história coesa, preferindo apenas jogar as ideias que acharia engraçadas em um filme como esse. Mas se fosse criado por inteligência artificial eu até daria um certo crédito. Como o roteiro está ainda assinado por humanos, continua sendo apenas mais um filme ruim.


# Doidas e Santas

Caloni, 2017-08-17 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Doidas e Santas é um filme brega, bem brega, que usa o caminho do convencional e do preguiçoso, dando mais uma vez a entender que novelas em formato de filme soam cada vez mais antiquadas. E nesse caso é só olhar para os créditos iniciais e finais, com uma trilha sonora da programação televisiva da madrugada (ou de um bar decadente) e os letreiros em tons azuis e bordô que se torna evidente que a sala de cinema se transformou em uma máquina do tempo, que nos joga para os anos 80. Os viajantes perdem a memória após a sessão.

Ele conta a história de Beatriz (Maria Paula), uma terapeuta de casais e escritora de sucesso de livros de auto-ajuda que dão dicas (ou regras) de como ter felicidade em um relacionamento a dois monogâmico tradicional classe média alta. Aparentemente é algo bem difícil, como vemos pelos testemunhos dos casais que se consultam com Beatriz, mas principalmente pela história da própria Beatriz, que vai perdendo o marido e a filha conforme se dedica por inteiro à suas duas profissões, gerando o poderoso clichê da vendedora de ideias que ela mesma não consegue colocar em prática.

O resto do filme vai caminhando quase episódico, embora suas pontas vão sendo juntadas de maneira equilibrada. Sabemos que tudo que vai acontecendo é para que Beatriz perceba que está indo no caminho errado para manter sua família, mas ela própria nunca muda seu jeito, e aos poucos isso vira exatamente o que uma novela faz: diálogos que vão expressando o que os personagens sentem, pois eles mesmo não conseguem realizar nenhuma ação que expresse o que estão sentindo. E isso é justamente o que roteiristas deveriam odiar no Cinema: dizer em vez de mostrar. Dizer por dizer é mais simples ler um livro (talvez de auto-ajuda).

Para colorir um pouco mais a história e dar um ar moderno temos um conjunto de personagens mais ou menos descartáveis. Sua mãe, dona Elda (Nicette Bruno), é a "velha esclerosada" que tem por função deixar Beatriz nervosa com sua imprevisibilidade e seu jeito cuca fresca de ser. Beatriz fica em pavorosa quando Dona Elda se aventura em um samba na mangueira às vésperas de um jogo do Brasil versus Argentina (aparentemente no país do futebol e do samba, ou você gosta de futebol ou de samba). Nicette Bruno infelizmente é desperdiçada em um papel que quase não lhe dá liberdade de atuar.

No conjunto também temos a filha pré-adolescente que já tem dois namorados, Marina (Luana Maia), e usa apliques coloridos no cabelo que mudam de cor a cada cena. Mais um motivo para que Beatriz fique com os nervos à flor da pele. Seu marido, Orlando (Marcelo Faria), vive fazendo pouco caso da sogra e nem se preocupa mais em dar satisfação à sua esposa, já que ela vive em seu próprio mundo onde ela é perfeita e tem tudo sob controle.

Mas estava falando sobre dar um ar de moderno, certo? Bom, para isso temos a irmã de Beatriz, Berenice (Georgiana Góes), que é uma natureba militante dessas que viaja o mundo tentando salvar o planeta e em busca de boas energias. Isso é realmente moderno. Nos ano 80. Ah, e ela existe também para deixar Beatriz fora de controle.

Aparentemente o roteiro de Martha Medeiros e Paulo Thiago (que assina a direção) resolve criar uma trama jogando personagens em volta de uma protagonista neurótica que irá colocá-la à prova e fazê-la analisar sua posição no mundo, e como muitas vezes caímos na armadilha de dizer aos outros o que fazer enquanto nós mesmos não o fazemos. Este é um tema forte, e embora a trilha sonora ocasional -- de humor e de drama -- não perceba isso (talvez tenha sido encomendada com pressa), o diretor percebe. E recheia o filme com câmeras circulares, dessas que rodeiam os personagens sentados em uma mesa ou em pé no centro. Tudo isso para que o mundo gire em volta de Beatriz, porque é isso que ela enxerga. No entanto, o artifício logo se torna repetitivo e petulante demais.

Além disso, a insistência em fazer-nos ohar para Beatriz revela o ponto mais fraco do filme: a "atriz" Maria Paula. Sua atuação praticamente inexiste. Ela está dizendo diálogos, em alguns momentos se esforça além do necessário, mas nunca consegue criar a imagem da Beatriz que esperamos ver. Beatriz não existe no filme. Maria Paula sim. Ela é divina, alta, esbelta e com quase cinquenta anos é mais um dos milagres brasileiros. Mas seu tom de voz nunca muda, suas expressões são um enigma e até quando precisamos entender o que está acontecendo, como por exemplo a única vez que a vemos escrevendo seu próximo livro, ela se torna um exagero caricatual para compensar a falta de expressão.

Nada disso teria muita importância se a história nos envolvesse, mas nunca envolve. Ela é clichê, brega, novelística demais para conseguir chamar a atenção. É um passeio inconsequente pelas praias do Rio de Janeiro e pelas suas ruas absurdamente cenográficas (incluindo o morro). Não é um filme que dê raiva. É apenas uma curiosidade que passa e acaba, e nem nos lembramos por que estávamos aqui mesmo.


# 150 Miligramas

Caloni, 2017-08-21 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Há uma tendência atual do cinema francês em explorar casos que estabelecem de maneira caricata a dualidade clichê "mocinhos versus bandidos". E em "150 Miligramas", mais uma vez, o bandido é uma fabricante de medicamentos (uma corporação), e o mocinho é alguém que luta contra um sistema cruel nascido das próprias preocupações com a famigerada saúde pública francesa.

O que se torna o ambiente perfeito para a construção de dramas com essa temática. Todos devem se lembrar que a "guerra romântica contra o sistema" nasce nas democracias mais precárias, nas repúblicas que possuem mais bananas, e Brasil e França nesse quesito são irmãs. Pela ânsia de poder, políticos patrocinam facilmente histórias cuja conclusão moral sempre é "precisamos de mais controle". E mais dinheiro, claro.

A história aqui é sobre o caso real de um medicamento que tem por objetivo controlar a obesidade de pacientes com diabetes, mas que tem como efeito colateral causar a morte de alguns desses pacientes. De cerca de dois milhões de usuários, a estimativa é de 1000 mortes em 30 anos que o remédio está em circulação, o que é menos que 1 morte por 2000 usuários. Os números não conseguem extrair a dramaticidade desproporcional que a diretora Emmanuelle Bercot entrega quando a violência cotidiana é mais ceifadora de vidas do que um remédio que previne obesidade.

Claro que para o roteiro adaptado do livro de Irène Frachon (a protagonista) a questão não é sobre os riscos da obesidade, mas estética. É muito mais fácil atacar, nas palavras da protagonista, um "remédio inútil". Essa ditadura da beleza, no universo distorcido de "150 Miligramas", não apenas oprime, mas mata.

A grande questão que segura o filme é na verdade sua protagonista, a heroína salvadora dos fracos desenganados. No melhor estilo Joana D'Arc, a pneumologista dinamarquesa Irène Frachon luta contra tudo e contra todos e tenta a todo custo parar a comercialização do remédio que em seu dia-a-dia ela tem escolhido como o vilão ideal.

A história não vai tornar as coisas tão claras a princípio, mas em termos gerais é basicamente isso. Em termos específicos se torna a escalada de dificuldades que uma pessoa comum precisa vencer para atingir seu objetivo nobre. Ela portanto grita e discursa enfaticamente para todos que podem ser úteis nessa jornada, conquistando mais pessoas que se poderia esperar de alguém com uma paixão irracional. Em certo momento do longa alguém diz que o caso chegou a um nível kafkaniano, por lutarem contra um sistema jurídico irracional. Porém, todos ignoram a irracionalidade das táticas emotivas e apaixonadas de alguém que se dispôs a lutar contra o sistema simplesmente porque sim, sem medir de maneira racional suas causas e consequências.

"150 Miligramas" em sua longa duração se abstém de explicar os detalhes do caso de maneira neutra, preferindo o caminho fácil dos idealistas contra o sistema, e nesse processo vai se tornando uma jornada religiosa. Sua heroína é perfeita para o papel, blasfemando em sua língua-mãe, se mantendo atrás da cortina nebulosa de argumentos, mantendo seu idealismo universal forte em seu coração. Uma trilha sonora clássica acompanha o misto de insanidade e paixão da heroína em um trabalho tenso do começo ao fim.

A direção de Bercot, igualmente apaixonada, narra a história como uma jornada heróica, apelando para os nervos da heroína ao usar uma porta destrancada, uma fortuita quadra de tênis e um vulto ou livros caindo de uma mesa fazendo o som de um tiro.

A dinamarquesa Sidse Babett Knudsen, mais conhecida internacionalmente agora pela série televisiva Westworld, é a força motriz de tudo. Ela aparece em praticamente todas as cenas e faz as coisas acontecerem, e não torna nada fácil para ninguém. Ela está sempre no limiar do aceitável. Ela é a maluca que consegue se controlar, embora deixe claro que isso nem sempre é verdade. Seu companheirismo com o doutor interino (interpretado pelo ótimo Benoît Magimel) atravessa uma linha tênue entre cumplicidade e compulsão maníaco-obsessiva. Ela costuma deixá-lo "de calças curtas", uma das inúmeras metáforas que o filme inteligentemente emprega para tornar a trama mais visual, como alguns cortes que trazem Knudsen flutuando em um mar raivoso, sozinha, em uma tentativa arriscada de sobreviver e ainda nadar até a praia, ou até a piada (eficiente) dela ficar presa a entradas giratórias, como que andando em círculos sem sair do lugar.

Esta trama com certeza receberia atenção maior se estivesse embasada em fatos realmente kafkanianos, como o longo processo de Steven Avery no excelente documentário-série Making a Murderer, ou até uma ficção convincente como "Eu, Daniel Blake". Porém, seus fundamentos são fracos demais para esta se tornar a clássica luta dos fracos e oprimidos contra o sistema cruel e imponente. Sua heroína não percebe a fraqueza de suas premissas, e talvez seja isso o que a torne uma heróina tão convincente.


# Atypical

Caloni, 2017-08-21 cinema series [up] [copy]

Mais do mesmo com o algoritmo já batido da Netflix. Depois do "gênero" indie invadir Hollywood com suas famílias desajustadas, agora é a vez dos espertos computadores da gigante de streaming entregar uma família desajustada por série. Esta tem no pacote uma mulher traidora e um autista.

Está havendo há um tempo um movimento de inclusão dos autistas, depois que perceberam que eles não são simples retardados (nossa, como a humanidade é genial). Na verdade, eles são apenas mais uma vertente singular de nossa espécie, com suas manias e trejeitos apenas atípicos. Quem entende que somos todos loucos releva o autismo como apenas mais uma variante. Quem acha que existe ordem no mundo prefere se remoer de culpa por existirem pessoas que não podem ter uma vida "normal".

O garoto desta série está longe de ser o exemplo extremo de autismo, e apenas parece estar apenas um pouco além da Síndrome de Asperger. Estudando na Wikipédia vi que Asperger é um dos três espectros diferentes do funcionamento do cérebro.

Mas o autismo leve do rapaz é o suficiente para a certinha, doentia e pudica família típica norte-americana transformar tudo em um drama sem fim. Ele foi o responsável pelo pai abandonar a família (depois ele voltou, e é gente boa agora) e basicamente por todas as crises pelas quais a família passa. A origem e o efeito de tudo isso (ao mesmo tempo) parece ser sua mãe superprotetora.

Esta é uma série leve, quase uma telenovela, sem exageros, que leva tudo em banho maria e que quer problematizar todo e qualquer acontecimento. Ela demonstra que um autista de fato não é retardado, mas como todo o resto da sociedade consegue ser. E em uma cena particularmente hilária, em uma reunião de um grupo politicamente correto, como os pais podem se tornar mais retardados que seus filhos fora do espectro normal.

E por falar em politicamente correto, o que foi feito com a palavra normal? Agora há nomes para todos os diferentes tipos de normal. Alguém que representa o normal na sexualidade agora é cis heterossexual. Alguém que representa o normal no funcionamento cerebral está no que eles chamam de espectro... bom, quem liga. Os autistas com certeza não.


# F is for Family - Segunda Temporada

Caloni, 2017-08-21 cinema series [up] [copy]

Enquanto a primeira temporada afiava seu tom do humor para algo dos anos 70 que divertia os que não ligam para o politicamente correto ao mesmo tempo que demonstrava por que estamos na fase do politicamente correto, a sequência de F is for Family explora melhor seus personagens, dando a eles a medida certa de tempo em cena. Exceto pela caçula que quer ser programadora de computadores. E sempre que sua ambição aparece faz meus olhos brilharem.

A série embarca em uma jornada emocional do casal principal que consegue extrair o melhor do conflito de casais que começam a perceber que o modelo pai provedor e dona-de-casa não é tão estável assim, e que isso pode ser uma coisa boa para ambos os lados. Quando a série explora cada um desses lados individualmente e eles se juntam no final, eis o conflito principal da série sobre homens e mulheres e como o mundo recebe os sonhos de um e de outro.

Esta é uma animação-drama, contrariando todas as fórmulas de animação adulta que apela para comédia mais absurda. Há um chão e um teto para localizarmos o que é possível a seus personagens, e como os créditos iniciais sabiamente apontam, nós sempre começamos nossas vidas voando. Mas é por pouco tempo.

Aqui também não há muita censura, nem de sexo nem de violência. Ela existe, mas é usada com parcimônia. Quando algo contraria o puritanismo norte-americano é por um bom motivo, mas penso que o motivo da série ser animada é justamente para isolar os atos "obscenos" dessas pessoas.

O roteiro quase sempre apela um pouco a mais seu lado feminista, expondo os homens de escritório como machistas sem cérebro. Mesmo que tenham razão, isso fica engraçado até o ponto que vira uma caricatura idiota demais para nos identificarmos. Dito isso, há ótimas piadas machistas que não podem ser mais recicladas, apenas observadas como uma curiosidade da época.

De certa forma assim é conduzido o senso moral de FifF. Estamos observando uma época não tão remota com os olhos de hoje, e soa tão distante que permite olharmos como para um aquário. Pelo menos isso é o que eu espero do espectador.


# Filmes e Diretores Favoritos

Caloni, 2017-08-23 cinema movies [up] [copy]

Essas perguntas no estilo de listas me fazem travar. Minha resposta sempre será injusta porque eu vou esquecer filmes e diretores que gosto mais do que os que eu citar.

Mas, sei lá, no momento não estou focando em filmes ou diretores específicos, mas em técnicas e estilos específicos. Por exemplo, revendo séries que gostei muito, como Breaking Bad, Westworld e Mr. Robot.

Há uma miríade de virtudes escondidas na confecção desses trabalhos. Isso não os torna perfeitos, mas fascinantes e únicos. Quando falamos de diretores também falamos de algo semelhante. O último filme de um diretor é seu nível de progressão na arte, que ele pode avançar, retroceder ou arriscar algo novo. Eu gosto de diretores perfeccionistas que focam em sua linguagem. Aronovsky no sacrifício do indivíduo pela perfeição e conhecimento, Allen pela eterna discussão da mortalidade e banalidade do homem moderno, Nolan pelo domínio das métricas do espaço/tempo, Wo Pack pela questão da vingança, Ki Duk pelo indivíduo que transcende a si mesmo. E assim por diante :)

Mas não posso deixar de reconhecer a virtude do diretor em si em pegar qualquer tema e dominá-lo, como os trabalhos de Sydney Lumet, por exemplo.


# Dupla Explosiva

Caloni, 2017-08-24 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Dupla Explosiva pega carona na atmosfera cômica e absurda de Dois Caras Legais (Shane Black, 2016) e se dá muito bem com isso. O resultado é um filme de ação que consegue ser tenso com uma história que nos envolva, protagonizado por personagens carismáticos.

O roteiro é traçado rapidamente por cortes rápidos e muitas transições inteligentes. A primeira delas começa na primeira cena, onde vemos o imponente relógio do guarda-costas Classe AAA Michael Bryce (Ryan Reinolds) que está começando seu dia como uma pessoa de sucesso, tomando seu café, beijando sua esposa perfeita e dirigindo seu Jaguar impecável. E foi justamente este o dia em que ele perdeu um cliente e sua reputação "triple A". E a continuação do filme, dois anos depois, agora tem um Ryan Reinolds mijando em garrafas de Gatorade esperando seu cliente no banco de trás de um carro que "cheira a bunda", o que irá se tornar uma piada recorrente.

A passagem visual dos dois anos não poderia ser melhor para um filme ágil como esse. Nosso guarda-costas agora está com a barba por fazer e a mesma feição de derrota que deixou dois anos atrás. Ele usa o mesmo relógio, agora riscado e surrado, e salva advogados de terceira classe. Ele continua bom no que faz, mas sem a mesma glória. E ele está ressentido com isso. Quer uma prova visual? A expressão sarcástica de Reinolds, comentando sobre a cor lavanda do Jaguar customizado do seu cliente que acabara de explodir. Ah, vemos uma roda em chamas passando pelo fundo.

É esse tipo de timing cômico e absurdo que recheia uma história não lá muito realista nem criativa, mas cheia de bons momentos. Reinolds é a escolha correta para este papel. Forte, bonitão e com sua cara de cachorro abandonado, ele consegue preencher a persona arrogante e patética de Ryan Gosling no filme de Shane Black sem soar limitado. Parte disso é graças às sarcásticas falas do roteiro de Tom O'Connor, que depois de estrear em Fogo Contra Fogo de Bruce Willis realiza seu segundo trabalho.

Se seria um desperdício ver Ryan Reinolds mais uma vez em um papel romântico ou cômico, aqui em um filme de ação ao lado de Samuel L. Jackson o conceito muda de figura. Mr. Jackson, aliás, aparece atrasado no filme e rouba a cena assim que surge. Ele é o assassino profissional Darius Kincaid, testemunha-chave de uma corte internacional que está julgando um ditador genocida de um país da ex-União Soviética (Gary Oldman, mais uma vez um camaleão e ótimo nos papéis de Gary Oldman). Dado o caráter do filme eu faria uma pequena correção geográfica, nomeando o país do tal ditador com um título não-específico, mas caricato. Este é um filme que tenta ser um pouco sério demais em alguns pontos, mas em outros deixa uma arma disparada acidentalmente incendiar uma vã. E no meio entre um e outro temos uma coleção de falas que Samuel L. Jackson diz com propriedade e um sarcasmo oculto. Ele se diverte à beça e no processo diverte o espectador.

Curioso que esta "Dupla Explosiva", depois que se junta, não parece que irá funcionar muito bem. Mas é aí que está o truque. O filme não tem pressa em desenvolver esta relação, que vai encontrando um motivo diferente do que você esperaria em um filme cheio de corpos caindo no chão: o amor. E antes que você imagine um uso bizarro e nada orgânico para o uso do amor, como na ficção-científica (!) Interestelar, fico feliz em dizer que o momento em que vemos o flashback do primeiro encontro entre L. Jackson e sua mulher é a síntese perfeita sobre o porquê existir este filme e porque, mesmo batida, a trilha sonora funciona maravilhosamente bem.

Mas antes que a imaginação do leitor produza um filme com muita história e pouca ação, posso afirmar que ela existe, é bem coreografada e editada. Pode ser um exagero, ainda mais se passando nas ruas de Amsterdã, mas é um exagero com estilo. Até o momento clichê em que o mocinho desiste e fica de costas para a ação tem estilo. E as cenas-absurdas. E dois planos-sequência de ação de câmera tremendo que consegue constituir o segundo momento mais inspirado do longa. O primeiro ainda é o encontro de Mr. Jackson e sua mulher.

E por falar em sua mulher, Salma Hayek está bem, à vontade e também rouba a cena em seu pouco tempo de tela. Menos momentos marcantes têm a esposa de Ryan Reinolds, interpretada pela belíssima Elodie Yung e sem muito o que fazer presa em sua função burocrática de aguardar pelos dois no tribunal.

Seja pela ação ou pelos bons atores, Dupla Explosiva com certeza é um programa sessão da tarde acima da média. O que é inusitado. A possível tendência iniciada com a dupla Russel Crowell e Ryan Gosling jogou um pouco de ar fresco para o saturado gênero de ação. Aguardemos pela próxima dupla dinâmica.


# A Vigilante do Amanhã: Ghost In The Shell

Caloni, 2017-08-25 cinema movies [up] [copy]

Scarlett Johansson possui uma beleza natural que encanta tanto pela beleza quanto pelo natural. E nem ela consegue trazer algo de novo ao remake ocidental live-action de um dos trabalhos filosoficamente mais ambiciosos dos últimos tempos. E se nem ela consegue, não serão efeitos digitais nem diálogos em inglês que o farão.

A história é basicamente a mesma mais ou menos dois terços do tempo. A grande mudança está no terço final, onde o filme apela para se enlatar como um filme genérico de ação, dando um gosto estranho na boca de ter comprado gato por lebre.

A protagonista é Major (Johansson), um experimento feito em um futuro distante e distópico onde um cérebro humano é transplantado para um corpo inteiramente produzido por uma mega-corporação de biotecnologia que já domina o mercado com seus upgrades para humanos. Tida como "a singularidade" pela cientista-chefe do projeto, uma Juliette Binoche estranhamente no automático, Major é apenas um negócio da empresa que a criou, antropomorfizada por um vilão humano (um erro dar cara a corporações do mal) que usa as palavras arma, propriedade e contrato para se referir ao produto da manipulação humana em seu próprio corpo.

Através desta primeira espécime de um novo tipo de ser é montada uma equipe de operações militares comandada pelo único personagem que fala um idioma Oriental, a mando do governo, e mesmo que existam milhares de referências orientais à cidade onde tudo se passa e os habitantes das áreas mais pobres serem todos orientais, todos os personagens principais são mesmo é hollywoodianos, incluindo a própria Major. Porém, nenhum deles tem nada a oferecer além de cópias e referências à obra original. A reverência é tanta que não é possível se soltar.

Dirigido por Rupert Sanders ("visionário" do ótimo Branca de Neve e o Caçador), o roteiro escrito por três pessoas adapta muito mal o mangá de Shirow Masamune, e sem querer ofender o original, mas ao mesmo tempo sem conseguir oferecer nada além de uma tentativa patética de emular o mesmo universo protagonizado por atores de carne e osso.

A ideia por trás da ocidentalização da trama é interessante. O filme é uma pseudo-continuação do universo, mas falha miseravelmente quando estabelece os mesmos elementos do original, como um misterioso terrorista que ataca a corporação. Quando tenta algo novo ao revelar sobre o passado de Major e do terrorista acaba suavizando o impacto filosófico da trama, que mexe com as bases fundamentais de auto-identidade e consciência.

Este remake tem tudo para desapontar os fãs do mangá e anime originais em todos os aspectos, exceto sua estilização. Ambientado em um futuro que exagera a tecnologia atual para hologramas em todos os cantos e com uma mescla menos dark de Blade Runner, os tons coloridos da megalópole estabelece um interessante contraste com a parte menos privilegiada da cidade, em suas quase-favelas verticais com cor de terra e seus habitantes amontoados. Em ambos os mundos, porém, nota-se um tom insosso que não consegue trazer alma para um projeto que se torna ele próprio um Fantasma na Concha. Só que sem emoções.


# Chef & My Fridge

Caloni, 2017-08-25 cinema series [up] [copy]

Da Geladeira para a Mesa, Take Care of My Refrigerator, Take Care of the Fridge, Take Care of the Refrigerator, Good Care of the Fridge. Com tantos nomes já é possível deduzir que é um programa maluco da TV coreana, traduzindo a forma simpática, polida e divertida com que os asiáticos costumam se comportar. Isso inclui este programa gastronômico que mesmo sendo uma repetição barata à exaustão em seu formato, consegue divertir sem ofender, e ainda educar a respeito da alta gastronomia sem muitos exageros. E isso vindo da Coreia do Sul é algo a se destacar.

O formato é simples: duas celebridades (da TV Coreana) são chamados ao programa e suas geladeiras e o que tem dentro são trazidos para o palco. Lá oito chefes de cozinha irão criar pratos com os ingredientes principais contidos dentro dessas geladeiras, no formato de disputa de dois em dois. Há muito bafafá a respeito de celebridades, com quem estão se relacionando, mas também uma conversa que tenta trazer a familiaridade da cozinha de cada um de nós, e como nos relacionamos com a comida.

Claro que o principal são ingredientes coreanos, mas os chefes surpreendentemente têm formação nas mais diversas escolas, como cozinha italiana, francesa, búlgara, chinesa, japonesa e, claro, coreana. Para quem não gosta de frutos do mar ou peixe com certeza não irá salivar frente às criações divinas apresentadas pelos chefes, que têm 15 minutos para cozinhar uma iguaria criativa que irá despertar o desejo dos convidados. Porém, apenas o esmero, a habilidade e o talento desses cozinheiros de mão cheia é suficiente para trazer ao coração um quê de respeito, admiração e inspiração.


# Filosofia De Mr Robot

Caloni, 2017-08-28 cinema series [up] [copy]

Então eis que ergue-se um mundo niilista, até um pouco absurdista, onde o controle é uma ilusão. O sonho de garoto de salvar o mundo encontra novos significados do que é mundo e do que é salvar. Elliot não é apenas multifacetado pela figura de sua família; ele É sua família. E não apenas isso, mas consequência do próprio mundo que ele deseja salvar. Há desafios hercúleos em sua jornada, que parecem intransponíveis para nós, mortais. O que dirá , então, para um hacker esquizofrênico.

Elliot e o mundo que o cerca é a tradução do que estamos vivendo após a crise econômica de 2008. As pessoas estão revoltadas com um mundo criado contra elas. Elliot está revoltado pelo seu pai estar no comando, sendo que ambos estão equivocados. O mundo, em ambos os casos, é apenas reflexo de suas vítimas.

Dessa forma pessoas endividadas por uma mega-corporação e uma criança abusada quando criança são reflexos dessas pessoas e dessa criança. Isso não significa que a criança possui alguma culpa por ter sido abusada. Significa que as pessoas não têm culpa, individualmente, de ter gerado essa crise. Porém, de maneira ambígua, os pais e o sistema financeiro mundial são ao mesmo tempo algozes e criaturas.

Mr. Robot coloca tudo sob perspectiva. Todas as explicações, de todos os lados, são jogadas em cima da mesa. A consequência disso é que não é possível, logicamente, dizer que há bandidos e mocinhos nesta história. Quando fulano diz que gostou de sicrano ter se matado, pois era um fraco, sim, ele está logicamente correto. O que expõe a verdade crua da natureza humana do homem: a Teoria da Evolução. Só os mais "fortes", ou aptos, sobrevivem. Não de força física, mas mental. Somos animais racionais. Os que suportarem a existência humana e sua condenação inicial de que somos livres (Sartre) terão que tomar a decisão de cumprirem suas funções na sociedade (sejam elas quais forem) ou se transformarem conscientemente em robôs, vivendo uma ilusão onde há controle.

Mas, adivinha só? Em ambos os casos, ninguém possui esse controle muito além de nossas próprias cabeças, e é por isso que o nível máximo de liberdade está chegando e está nas mãos de quem controla computadores. Software, máquinas inteligentes e inertes. Código maleável. Engenharia social, hackeando a própria mente humana. Bitcons, a solução tecnológica da moeda.

Não deixa de ser irônico o fato que o herói da trama, apesar de ter todos os atributos necessários para conseguir o controle absoluto tão almejado, é o que menos consegue controlar sua própria cabeça.

E concluímos, então, esse niilismo que vivemos hoje. Nada tem muito valor se analisado microscopicamente. E se nada tem valor, tudo pode. O trunfo da série é concluir que tudo no mundo nos torna escravos de nós mesmos.


# O Sequestro

Caloni, 2017-08-28 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

O Sequestro caminha por todos os clichês dos filmes do gênero sem tropeçar em nenhum deles. Na verdade ele pisca para o espectador em alguns momentos, de tão óbvia a situação. É como se antes de acontecer algo imaginássemos: "aqui sempre acontece tal coisa". E quando não acontece, eis a recompensa do filme.

Iniciando com uma sucessão de pequenos vídeos caseiros que retratam o nascimento e o crescimento do pequeno Frankie (o insuportavelmente mimado Sage Correa) até a idade de seis anos, quem veremos mais durante todo o filme é sua mãe (Halle Berry), que é uma garçonete divorciada que batalha todos os dias para conseguir ter algum tempo junto de seu filho. Quando ele é sequestrado no parque ela inicia uma perseguição sem fim da indefesa mãe em busca do filho.

Clichê, certo? Certo. Porém, as situações montadas pelo roteirista Knate Lee encaixam perfeitamente com a persona dramática de Berry e com a "frustração" dos clichês esperados e que não acontecem. Os cortes rápidos da edição dão não apenas a sensação de urgência, mas de desorientação de nossa heroína, e uma direção interessante nos mantém a todo momento pensando sob o ponto de vista de uma mãe desesperada tentando colocar sua cabeça no lugar falando consigo mesma e tentando achar a melhor solução para conseguir ter seu filho de volta.

Isso sem contar com uma trilha sonora efusiva, em alguns momentos exagerada, mas que consegue quase sempre dar o tom da narrativa. Quando a melhor saída seria simplesmente o silêncio, lá vem a trilha sonora de Federico Jusid ("Neruda") mais uma vez. Um carro bate em uma árvore e temos um longuíssimo quadro estático que serviria de respiro para uma ação frenética que nunca para. Mas lá vem aquela trilha sonora mais uma vez. Não é que ela traduza a situação do momento; ela força isso. E ao forçar, o filme fica um pouquinho menos palatável, mais fantasioso, mais clichezão, embora a música, em alguns momentos, seja necessária e esperada. É um bom score, competente, o que se torna um dilema: usá-la sempre ou não usá-la. A passagem dos dois carros na ponte é magnífica. Já a já citada batida na árvore desnecessária. É um dilema que se resolve com um pouco mais de bom senso. Menos música da próxima vez.

Mas este é um filme feito como enlatado, formatado para as massas, o que torna até a decisão de uma música pop nos créditos finais aceitável. Berry faz aqui uma persona genérica: a mãe que perdeu o filho e que precisa recuperá-lo custe o que custar. E ela o faz muito bem. Ela sua, chora, move seus braços e suas sobrancelhas. Há inclusive muitas "falas de efeito". Como a clássica "irei conseguir meu filho de volta custe o que custar". Não se lembra dessa no filme? Talvez seja impressão minha. Mas no lugar você deve ouvir algo parecido. Umas três ou quatro vezes. Ela quase olha para a câmera, para o espectador comum, que vai achar tudo aquilo demais (no bom sentido).

Preocupado excessivamente com enquadramentos, o diretor espanhol Luis Prieto compõe aqui um trabalho de decupagem ousado, que muitas vezes chama a atenção para si mesmo. Porém, estamos falando mais de um filme de ação do que um drama, e muitas vezes as jogadas de closes na tela funcionam. A noção de espaço do filme e a desorientação da personagem de Berry justificam um mise-en-scene tão caótico. Não é possível, por exemplo, acompanhar por muitos momentos ambos os carros em perseguição por mais de cinco segundos sem cortes, exceto nos merecidos respiros das cenas aéreas. O conceito-chave aqui de "mãe desesperada em busca do filho" funciona excessivamente bem, mesmo que não estejamos lidando com personagens multifacetados. São pessoas comuns em um acontecimento que tragicamente também é comum. O incomum aqui é a garra desta moça, que pensa rápido demais (para o nosso delírio).

Entregando mais do mesmo de uma maneira a tentar agradar massas e fãs de ação visceral, O Sequestro é uma sessão convincente, tensa e ritmada. Você até esquece que já viu isso ou aquilo tantas vezes no Cinema. A moral da história está faltando, porque talvez não tenha nenhuma. Mas como arrebatamento emocional, está tudo aí, para o deleite de quem curte um bom momento pipoca. E a manteiga por cima é a recompensa.


# Ativando Ubuntu No Windows 10

Caloni, 2017-08-29 [up] [copy]

Pensei que o Ubuntu já estivesse na Windows Store disponível para qualquer gamer instalar (não sei por que um gamer faria isso). Mas não. Ainda é necessário fazer os passos de desenvolvedor expert de Windows para ativar esta opção.

Primeiro, vá nas configurações e ative o Developer Mode:

Depois vá em Adicionar/Remover Programas e ative o Windows Subsystem for Linux (Beta):

Reinicie a máquina, abra o prompt de comando, digite bash e enter. Ele irá perguntar se quer instalar o Ubuntu, diga que sim, e depois de um tempo já terá o melhor dos dois mundos: o melhor ambiente gráfico com o melhor ambiente de programação.

Cywgin quem?


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