# We are all thought

All that we are is the result of all that we have thought. It is founded on thought. It is based on thought.

Buddha, The Dhammapada

# Ascenção de Prometheus (Robert Anton Wilson, 1983)

Whatever the Thinker thinks, the Prover proves.

A Mitiko começou a ler seu exemplar em português, presente de um amigo nosso, e resolvi que é uma boa oportunidade para voltar a lê-lo em paralelo. Não muito afeita a leituras, ela deve abandonar ou postergar este projeto indefinidamente, mas devo continuar minha leitura para preencher os recortes que faltam deste esotérico e maravilhoso livro sobre nossa consciência dos mapas mentais.

In the 1970s, I simply did not recognize the extent to which the 1960s “youth revolution” had terrified our ruling Elite, or that they would try to prevent future upsurges of radical Utopianism by deliberately “dumbing down” the educational system.

As Dr. Leonard Orr has noted, the human mind behaves as if it were divided into two parts, the Thinker and the Prover.

When we say A is B, we are saying that A is only what it appears within our field of study or our area of specialization. This is saying too much. When we say A can be considered as B, or modeled by B, we are saying exactly as much as we have a right to say, and no more.

(...) whatever you think you should see, you will see — unless it is physically impossible in this universe. All experience is a muddle, until we make a model to explain it.

On the other hand, the software is more “real” in the sense that you can smash the hardware back to dust (“kill” the computer) and the software still exists, and can “materialize” or “manifest” again in a different computer.

Imprints (software frozen into hardware) are the non-negotiable aspects of our individuality.

Each successive imprint complicates the software which programs our experience and which we experience as "reality.

# Os Miseráveis (Tom Hooper, 2012)

Baseado em uma peça musical baseada no clássico literário de Victor Hugo, a história se passa na França pós-revolução e é o encontro de seus diversos personagens. Um musical sem dança e uma trama com o estilo de opereta e fundo pintado, secundário. Tudo que não contribui para mover a história tem o dobro de duração. A batalha entre os jovens revolucionários e os soldados, forte apenas pelo seu simbolismo, perde a mão na indecisão do diretor Tom Hooper, que consegue a proeza de suavizá-la mesmo com a morte de uma criança. O elenco está empenhado em resgatar o filme do desastre de direção para que o estrago não seja irreparável.

# Eu Estava Justamente Pensando em Você (Sam Esmail, 2014)

O amor está no ar, mas seus portadores estão com dúvidas existenciais, são espertos demais para senti-lo ou sofrem da doença do século: ansiedade. Primeiro filme do criador de Mr. Robot (antes mesmo da série), é esperto em utilizar mecanismos do Cinema como truque de metalinguagem ou ingênuo em achar que o público-alvo dessa comédia romântica racional irá adorá-lo pela sua pseudo-intelectualidade. De uma forma ou de outra, se torna uma experiência divertida como exercício. Mesmo que o público ignore as bases dramáticas de seu heroi narcisista e encare o final como feliz. Sinto ecos agora daquele filme de Kaufman, Estou Pensando em Acabar com Tudo. Sessão dupla?

# Black Mirror: Fifteen Million Merits (Euros Lyn, 2011)

Pincela uma realidade quase opressora se não fosse uma rotina adaptada para os que lá vivem há muito tempo. Quando o heroi questiona o sistema questiona nossa própria realidade. Uma virtude presente apenas nas ótimas ficções científicas. Essa mais próxima do nosso presente do que nunca.

# Como Vender Drogas Online (Rápido) (Lars Montag, 2019)

Feito para sequestrar a atenção da geração X conta a história do Zuckerberg da Alemanha que resolve vender drogas na dark web por um motivo bem óbvio: buceta. A trama tem cara de novela, como um triângulo entre a mina, o nerd e o rico bonitão. O design visual cria detalhes que serão usados em material de mais qualidade, como a pausa para carregar um vídeo que travou. A tentativa de captar a atenção da geração Z faz a geração W pular logo para o final. Devo ter assistido dez minutos.

# O Que Arde (Óliver Laxe, 2019)

O sentimento profundo de uma floresta ser devastada pelo fogo é o chamariz inicial de um filme para sequestrar nossa atenção não pelos seus personagens, mas aspectos mais coletivos do ser humano, como a moralidade e o viver em sociedade.

# Intruso (Garth Davis, 2023)

Assisti por recomendação do meu amigo, então sentia que haveria uma reviravolta. Só que ela não chega e o filme estica e você começa a duvidar sobre o que é o filme. Quando finalmente surge a reviravolta as peças se encaixam em dois relacionamentos que servem de espelhos da alma de cada um, o que é triste e doentio. Melancolia sobre o amor na carona de temas recentes. O nome no Brasil não é muito bom. Chamaria de Amor Rival.

# Meio Grávida (Tyler Spindel, 2025)

Piadas ágeis em formato dinâmico me fizeram relevar a linguagem mais recente do cinema, desse pessoal jovem. É engraçado. Assisti dublado e não me arrependo. Filme para não pensar muito. O jeito que a heroína usa a barriga é visceral.

# Casamentos Cruzados (Nicholas Stoller, 2025)

Eu gosto tanto de Will Ferrell quanto de Reese Whiterspoon, mas dessa vez eles estão em um roteiro fraco, infantil. Tenta ser sobre sentimentos maduros, mas acaba sendo só pela carência de cada um em não se encaixar mais no que seria uma família, seja tradicional sulista ou pai viúvo. A química entre os dois nunca funciona.

# Happy Feet 2: O Pinguim (George Miller, 2011)

Continuação do excelente musical animado, veio para impressionar as plateias pela junção impecável de suas duas pontas extremas, se despreocupando em como desenvolvê-las no meio, preferindo a catarse visual a uma narrativa que brinque novamente com nossas percepções humanas do reino animal e seu ecossistema independente do nosso.

# O Homem da Máfia (Andrew Dominik, 2012)

A manutenção da confiança no sistema ilegal de jogos de azar traça um paralelo direto com a crise econômica nos Estados Unidos em uma adaptação de livro de máfia que tem prazer em ruminar sobre a psicologia dos seus criminosos do que a ação em si, que existe, mas pontualmente, em uma intensidade além do prazer estético Tarantinesco.

# Enterrado vivo (Rodrigo Cortés, 2010)

Um filme experimental que se perde em estilo. O título já denuncia sua história, que se passa totalmente dentro de um caixão. Diferente do protagonista, a câmera pode se mover à vontade, mas apenas dentro do limite do próprio caixão, o que contribui para a claustrofobia do espectador. Claramente com o intuito de conseguir variar o bastante para não tornar aborrecido um filme desses, a câmera por vezes se utiliza de ângulos inusitados, zooms diferentes, chegando a um travelling circular em volta do corpo do sujeito, passando atrás dos seus pés.

# Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança (George Lucas, 1977)

Precursor ou iniciador da era das superproduções, o trabalho de George Lucas transita sem avisar entre o risível e o épico. É a mescla perfeita que gera o pop, esse sentimento de auto-importância criado na base do berro que fascina gerações. Seus herois são pessoas comuns. Mercenários e catadores de lixo com potencial de salvar a galáxia das forças malignas do Império, que é uma versão alternativa espacial dos nazistas com uma bomba atômica chamada poética e tragicamente de Estrela da Morte: em vez de iluminar a vida dos planetas em sua volta este aparato consegue explodir um planeta inteiro e suas vidas em questão de segundos. E esta é verdadeiramente uma guerra nas estrelas, com naves, explosões e confrontos com lasers e sabres de luz. Há no meio um elemento místico, a Força, que une os seres vivos em torno de uma energia capaz de criar e destruir com a mesma intensidade. A crença na Força, o Jediísmo, virou uma religião de fato nessa galáxia, trazendo ironia e metalinguagem na mesma tacada.

# Branca de Neve e o Caçador (Rupert Sanders, 2012)

Uma versão mais épica do popular conto dos irmãos Grimm, tenta focar exatamente nas duas figuras femininas: a linda jovem que é perseguida pela rainha má, Charlize Theron, que consegue sugar a atenção do público com relativo pouco tempo de tela nesta empolgante releitura.

# Preso na Escuridão (Alejandro Amenábar, 1997)

O clímax dramático deste tenso drama latino é a cena na cama entre os dois personagens principais, que funciona como uma lenda de Narciso às avessas, pois a impotência do rapaz de conseguir fazer sexo com a pessoa que o atrai vira reflexo de sua própria incapacidade de obter sua beleza original de volta. Os reflexos dessa incapacidade permeiam o filme. Um remake americano – Vanilla Sky – foi produzido com Tom Cruise e igualmente Penélope Cruz, que repete seu papel.

# No Impact Man (Laura Gabbert, Justin Schein, 2009)

Uma breve e desbaratinada reflexão se o que fazemos no dia a dia pode impactar a nossa breve estadia neste planeta. Sem cogitar as razões da por trás desse maluco que quer voltar a viver como 100 anos atrás, o efeito mais interessante de filmes como esse é observar os espectadores que o levam a sério.

# Nise: O Coração da Loucura (Roberto Berliner, 2015)

Tempo de Despertar brasileiro em um passeio delicioso pelas possibilidades da mente e da comunicação humanas é frustrado por um panfleto anti reacionário bobo com berros autoritários de um ufanismo socialista necessário para conseguir verba de produção do cinema nacional.

# Olhando Para As Estrelas (Ale Peralta, 2016)

Um filme sobre a capacidade de meninas cegas bailarinas. Elas gostariam de ser independentes, mas nem sempre as calçadas possuem aviso de travessia. Uma cartilha burocrática dá o tom ao documentário, mas o mais impressionante são as lições de balé, que se baseiam no toque e na repetição. As garotas possuem pessoas bondosas e dedicadas em volta, como uma professora, um coreógrafo e dançarinos. Esta é a única instituição voltada para o ensino de balé para cegos no mundo. Isso não impressiona, mas faz pensar o quão mais longe cada ser humano consegue ir, dada a oportunidade certa.

# Alphaville (Jean-Luc Godard, 1965)

Filmes do Godard são sempre uma experiência. Se são boas ou más experiências é irrelevante. Cinema de arte não deve ser julgado. Especialmente quando se está dormindo na sala. Três ou quatro falas e cenas poderosas estão espalhadas na história onde tiroteios e perseguições parecem arquitetadas por uma criança de 10 anos. Tudo é proposital, claro. O diretor domina a linguagem cinematográfica e a subverte pelo bem de atacar a lógica burguesa. No mundo distópico do filme mulheres são catalogadas por nível de sedução, e é essa uma de suas principais funções. O cara se apega pela filha de um amigo que se perdeu nesse mundo. Ninguém pode culpá-lo, ela é uma belezinha. Mas para olhar para as pernas dela, precisamos ficar ouvindo aquele blá blá blá filosófico de filme francês.

# Bartender (Araki Jô, 2006)

Uma farsa de diálogos manjados, a atenção aos detalhes desta animação espirituosa sobre bebidas nos faz esquecer o maniqueismo. A mesma dinâmica se repete a cada episódio: o personagem-título prepara uma bebida que harmoniza com seu cliente. A magia na construção de um drinque é resgatada ao estilo enciclopédico.