# Resoluções 2021
Caloni, 2021-01-02 [up] [copy]Inspirado no post que vi de meu amigo DQ sobre resoluções de ano-novo, algo que ele já vem fazendo desde 2007 (impressionante), resolvi compartilhar um pouco neste post sobre minhas resoluções de 2020. Na verdade não costumo fazer isso, mas ao passar a virada de 2019 para 2020 na casa de outro amigo, ele e sua esposa vieram com um presente e uma ideia para todo o grupo na ocasião: um caderno e uma caneta. Cada um deveria preencher nas primeiras folhas do caderno o que pretendia fazer durante o ano que se inicia. Algo mais ou menos assim, eu provavelmente já estava bêbado o suficiente para não me lembrar dos detalhes.
Hoje abro nesse momento o caderno cuja primeira página havia preenchido e nunca mais olhado. Eis a minha pequena lista:
1. Assistir um DVD por semana.
2. Escrever 10 minutos por dia.
3. Andar de bike 1 vez por semana.
Vejamos os resultados.
Acredito que tenha cumprido essa meta em sua maioria. Alterei a funcionalidade de busca no blog para conseguir filtrar os filmes assistidos que não foram em cabines de imprensa e deram 110 resultados. Sabendo que há 54 semanas em um ano e que durante o ano cada vez menos assisti conteúdo via streaming por conta da péssima qualidade do cinema e TV contemporâneos, em uma conta de padaria acredito ter atingido o objetivo na média. Outro fator que contribui para meus cálculos é a quantidade de pilhas de DVDs que foram removidos da nossa coleção temporária. (A ideia é assistir os mais de 400 títulos e vendê-los.)
Esse foi mais complicado. Houve momentos de grande hiato em que eu lia cada vez mais posts aleatórios sobre como praticar a escrita ou qual a rotina de escritores (o que basicamente se resume em sentar a bunda na cadeira e escrever), mas também houve momentos em que li conteúdo importantíssimo para melhorar minha concentração e o incentivo interno para assumir cada vez mais uma rotina de escritor, como Flow, o livro de Mihaly Csikszentmihalyi.
Nos últimos meses comecei a revisar todos meus textos antigos em ordem cronológica e tenho obtido sucesso através de uma rotina em que realizo anotações no Kindle na leitura antes de dormir e nos momentos de sentar a bunda na frente do computador busco por essas anotações e vou checando cada post antigo como não-rascunho. Como a maior parte são textos de filmes esta é minha métrica. Usando mais uma vez a nova busca constato que há 1921 textos de filmes de antes de 2020, e no momento deixaram de conter a tag draft exatos 311, ou seja, 16% de todos os textos antigos foram revisados.
Consegui este feito com louvor em 2019, mas em 2020 caí nos mesmos imprevistos que o DQ comentou em seu post: chegou a pandemia e o isolamento. Praticamente não saí de casa ano passado. Devo conseguir contar nos dedos as vezes. E esta foi a tarefa alternativa a andar de bike.
Enfim, minhas resoluções para o ano que inicia:
1. Assistir um DVD por semana.
2. Revisar textos antigos todo dia.
3. Andar de bike 1 vez por semana.
Sim, continua basicamente o mesmo, exceto o foco no item 2 para revisão em vez de escrever novos textos. Com os novos dados sobre o contágio do vírus e vendo que as pessoas estão menos paranoicas a respeito disso, exceto as malucas, mas que não devo encontrar nas minhas pedaladas, resolvi manter minha tarefa número 3, o que para mim significa reativar minha bicicleta e adicionar mais um exercício semanal além do matinal, que realizei com significativa frequência esse ano.
Não irei adicionar mais tarefas, pois estas estão em andamento e devem continuar consumindo um tempo que é possível se comprometer.
# Um Delduca no Pedaço
Caloni, 2021-01-17 cinema series [up] [copy]Esta série de anime obscura iniciou há mais de três décadas. Na época na região de Mococa, interior do estado de São Paulo, nasciam os primeiros computadores pessoais e esta é a história de um jovem que aprendeu a usá-los como ninguém.
Se renovando a cada nova temporada, a série foi se adaptando com o surgimento da internet e, principalmente, dos stickers. Foi nesse momento que a gama de espectadores aumentou consideravelmente. Até otakus desavisados acabavam assistindo, mal entendendo que a série criticava justamente esse comportamento nocivo de inanição social e incapacidade profissional.
Hoje a série ainda é exibida, mas poucos a conhecem. E é assim que toda obra de arte visionária costuma se manter: com um grupo de fãs coesos que nunca deixarão de ver conteúdo inteligente para ligar a Netflix.
Esse é um filme que me foi apresentado a primeira vez 15 anos atrás como o filme mais triste que eu veria e que choraria litros ao vê-lo. Não chorei, e para falar a verdade não havia entendido muito bem o drama por trás da atmosfera fatalista que cerca este garoto e sua irmãzinha, sobrevivendo os últimos meses da guerra sem qualquer suporte familiar ou comunitário.
Porém, eu "era garoto" na época e não conhecia muitos filmes para ter opinião formada. Era simplesmente um espectador como qualquer outro, ou talvez uma exceção na resposta emocional que a maioria das pessoas têm sobre este filme. Acontece. Filmes, por mais que as pessoas acreditem o contrário a respeito dos seus favoritos, nunca são unanimidade.
Hoje, mais de 1500 filmes vistos e analisados depois, posso dizer com certa propriedade: não entendo essa tristeza e os litros de lágrimas de reação que todos com quem conversei comentam. A única resposta para este mistério seria a simplicidade das emoções com que as pessoas em geral conseguem se conectar com os filmes, ou a amostragem errônea de fãs de animações estritamente japonesas. Talvez quando você consome apenas isso sua vida inteira este seja o filme mais triste de todos.
Mas este é um filme que simplesmente não me incomoda. Um jeito chulo de falar é que não me fede nem cheira. Porém, ele é esteticamente evocativo. Seu jogo de luzes, os enquadramentos, seu realismo por trás das inúmeras camadas de desenhos é perfeccionista e traz certa poesia, principalmente ajudada pela singela trilha sonora, com toques suaves que olham para trás na História com uma certa melancolia que nos escapa tão rápido quanto a curta vida dos vagalumes que Seita captura para deleite noturno, e que talvez por isso o filme insista tanto em tantos momentos parecidos, ao ponto de ficar preso em um ciclo infinito de lamúrios.
Seu diretor é Isao Takahata, que sou fã desde O Conto da Princesa Kaguya, mas, principalmente, depois que descobri o fascinante e subestimado Memórias de Ontem. Takahata tem esse dom de trazer naturalidade em qualquer história. Em Túmulo dos Vagalumes as tomadas de bombardeios com as pessoas correndo e sofrendo é o pano de fundo de sua história, mas o seu valor se encontra em horas menos rebuscadas, quando Seita e Toshio alcançam um momento de paz em suas atribuladas vidas.
A menina é o ponto forte de toda a animação. Ela é realista demais para ser ignorada. Sua dublagem (japonesa) é tão real, ou mais, que qualquer filme em que uma garota com seus cinco anos contracene. Observe seus gestos e verá o que Takahata consegue fazer de melhor (e ele o faz em seus próximos filmes inteiros). Talvez por isso sua história impacte tantas pessoas. Muitos devem ter crianças por perto e isso explica a tristeza inerente. Não se pode fingir como é uma criança do mundo real em um filme: você precisa ter a sensibilidade para traduzir. Túmulo dos Vagalumes o tem, e em todos os momentos. E é por isso que seu final, por mais que já tenha sido revelado logo no começo, é capaz de fixar em nossas memórias sentimentos confusos de perda de alguém que nunca existiu em nossas vidas, mas poderia perfeitamente.
Esse talvez seja o grande poder hipnótico desse filme.