# Bispo e Cavalo

Caloni, 2020-09-05 [up] [copy]

Já havia estudado este final há muito tempo e nem lembrava mais. Ter empatada uma partida porque não consegui dar mate forçado com bispo e cavalo é o que me fez rever o estudo. Assisti alguns vídeos e pratiquei com alguns estudos no Lichess. Por fim, me pus a jogar com o computador até entender a dinâmica de cercar o rei e realizar o movimento de W com o cavalo. Eu sei que ainda terão partidas que me sentirei acuado por conta do tempo, mas é bom agora voltar a ter o mínimo de arcabouço lógico por trás desse fascinante e difícil final. Tão difícil que até GMs não conseguem aplicar às vezes.


# A Banda

Caloni, 2020-09-06 cinema movies [up] [copy]

Estão todos juntos porque o uniforme é o mesmo, mas seus espíritos vagam em diferentes sentidos, entre a fantasia de estar perdido em país estrangeiro e o desespero de ter que viver tudo aquilo com seus colegas. Porque, sabe como é, estão todos com o mesmo uniforme, mas não quer dizer na mesma página da partitura.

A Banda pode ser uma metáfora sobre a vida, ou pelo menos é isso que o espectador pode pensar, já que não há nada mais para pensar e os poucos diálogos apenas tentam compor a comédia de situações do choque de culturas: estrangeiros vestidos com extravagância deslocada observando a vida local e os locais em um misto entre alienação e nostalgia. Todos pararam no tempo neste filme.

Não há formas verbais de expressar o que é visto, especialmente porque não há nada a dizer. A pessoa que o concebeu, Eran Kolirin, um judeu, usa as atuações pontuais a dedo. Aquele momento que a judia de meia-idade encontra um homem maduro e viúvo e ambos não conseguem se conectar. Aquele embaraço dos mais jovens em não conseguir dar os primeiros passos em direção ao acasalamento juvenil. Tudo é motivo para exageros no filme, e chega um momento em que o exagero cansa e passamos a prestar atenção nos seres humanos por trás da comédia da vida.


# Houve uma Vez Dois Verões

Caloni, 2020-09-06 cinema movies [up] [copy]

Meninas virgens costumam ter o que vulgarmente se conhece como "amor de pica", que é quando ela não consegue largar o garoto que a desvirginou; para o resto de sua vida. Trágico. Em contrapartida, Houve Uma Vez Dois Verões parte da história de um menino virgem que tem uma única noite com a garota perfeita, jogadora de fliperama, e desenvolve o que chamaríamos por tabela, e também vulgarmente, de "amor de xana".

André Arteche é Chico, um adolescente comum que com seu amigo procuram oportunidades para transar em qualquer lugar e situação para sair do ponto de partida. Apesar de passarem as férias na maior praia por extensão do mundo, no Sul do Brasil, para economizar seus pais fazem a viagem em baixa temporada, e o que vemos é uma praia maior ainda, quase abandonada, e com nenhuma menina interessante à vista.

Mas a sorte de Chico muda com a aparição milagrosa de Roza (com Z mesmo), encarnada pela paradisíaca Ana Maria Mainieri (ou paradisíaca vista por adolescentes espinhudos, pelo menos). Ambos irão viver uma trama de mentiras e joguinhos que tanto faz sucesso nas comroms.

Os diálogos descompromissados do cineasta Jorge Furtado, o mesmo de Meu Tio Matou um Cara, valem o filme, e seus elenco, apesar de amador, é filmado em uma edição vibrante, que se solta do teatral por ser dinâmico. É ágil, de cortes elegantes e decupagem primordial em uma produção de baixo orçamento.

O resultado é uma divertida comédia adolescente, despretensiosa e esquecível. Há algumas tiradas difíceis de esquecer, principalmente porque nunca mais serão permitidas ("hoje eu como até gorda"). Vem de um universo inocente, menos politizado, onde nem tudo precisa ser desconstruído, discutido, debatido. É bom para esquecer a derrocada da sociedade que vivemos.


# Uma Doce Mentira

Caloni, 2020-09-06 cinema movies [up] [copy]

Vivemos em tempos cínicos e desprovido de leveza. São tempos em que quando alguém encontra doces palavras de amor em letra de mão endereçadas a você o primeiro pensamento é que só pode ser obra de um velho tarado.

Essa comédia romântica se disfarça de drama. É o começo do fim da excelência francesa em fazer rir das situações do dia-a-dia. Audrey Tautou é a queridinha da França para o Mundo e tenta não repetir papéis e sai um pouco dos eixos. Aqui vive essa empresária e filha maquiavélica, que tenta consertar sua relação com a depressiva mãe, destruindo corações no processo; incluindo o seu próprio. E tudo isso é para nos fazer rir.

Todas as pessoas nesse filme acabam se tornando versões piores de si mesmas. Uma história cheia de detalhes como essa e com pouco jeito em conciliar as mudanças de humor e tom, Uma Doce Mentira é um vai e vem que perde a importância pela fricção exagerada de seus temas. Sem calibrar a humanidade em seus personagens o filme patina quase caindo em torno da pista formulaica de como deve ser uma comédia romântica francesa. Infelizmente os tempos são outros e se trata de uma produção tão hollywoodiana quanto as piores comroms da década de 90. Não nos apaixonamos em nenhum momento pelo seu discurso, e quando as pessoas ficam encrencadas... bom, cada um com seus problemas.


# O Livro de Cabeceira

Caloni, 2020-09-07 cinema movies [up] [copy]

Esta adaptação do texto clássico japonês recebe o tratamento experimental do diretor Peter Greenaway, o que quer dizer que durante quase todo filme você vai se sentir dentro de uma daquelas salinhas de museu de arte moderna vendo um vídeo conceitual. Infelizmente este vídeo tem duas horas de duração.

Como todo filme de arte este possui nudez explícita e real de seu elenco, sem nenhum objetivo claro exceto criar uma atmosfera fantástica onde os funcionários de um excêntrico editor de livros não ligam em receber a visita de homens pelados. E são homens apenas. A única mulher é a protagonista, interpretada por Vivian Wu, que já fez parte do elenco de outro filme do diretor, o igualmente "enigmático" Oito e Meia Mulheres.

A montagem em paralelo de uma tela secundária e o movimento dos personagens de um lado para o outro do cenário tem o objetivo de dizer qual cineasta é responsável por esta obra. Greenaway recebeu atenção demais dos seus pares em sua época. Ele sofreu dos sintomas da roupa invisível do rei, pois não se pode criticar um artista pelo troço que ele fez. Ou como diriam seus pares: por ser um artista.

Não criticarei, portanto. Até porque não é nada demais.


# História do Windows

Caloni, 2020-09-16 lists [up] [copy]

Escrevi esta lista de artigos sobre a evolução do sistema operacional Windows há muitos anos, mas eles nunca estiveram juntos em um post que é uma lista. Bom, segue:


# Estou Pensando em Acabar com Tudo

Caloni, 2020-09-18 cinema movies [up] [copy]

Eu sei como você se sente, Kaufman. Eu sei. E não vai passar. O novo filme dirigido e escrito por Charlie transpõe para a tela o ritmo exato de declínio da sociedade contemporânea. A maior prova disso é que ninguém vai entender. Irão buscar vídeos explicativos de seus gurus favoritos que lhe digam o que pensar. Mas não é apenas a sociedade que este longo e tortuoso filme espelha: também espelha seu idealizador, Charlie Kaufman.

Quando digo isso me refiro à filmografia do sujeito, principalmente os roteiros. Existenciais e profundos, a preocupação de definir interações humanas em um mundo cercado de egocêntricos é latente. E após Sinédoque, por exemplo, conseguimos entender que o caminho que o cineasta percorre é sem volta. Sem mais o que dizer, só resta ao criador permanecer calado, afirmar o vazio e comentar auto-referências.

Charlie se sente tão confortável discorrendo sobre o vazio, principalmente sobre o que não aconteceu e sobre o estado de mediocridade dos narcisos, que é quase fascinante. Ele é um Woody Allen maquiavélico e sem paixão. Seu estilo pelo estilo invade a tela, e você sabe quando está vendo uma obra escrita ou adaptada quando surgem desnecessárias confusões, as mesmas que entregam o ouro em seus filmes. Aí seu lado humano prevalece. Ele está interessado em nossa natureza, talvez dele próprio, e usa o particular para atingir o universal. Por isso, apesar da jornada dos personagens ser irrelevante comparada aos grandes temas, não é o tema nem a história que fascinam, mas a textura do universo onde tudo se passa.

Aqui ele narra os últimos momentos da vida de um zelador que se imagina apresentando a namorada que ele próprio desconhece para seus agora inexistentes pais. Ele imagina esse encontro do ponto de vista da garota, que é narradora e protagonista. Jake mistura épocas e passagens de sua vida, elementos que constituíram quem ele se tornou, e acabou se tornando por tempo demais. Agora que está no fim ele está preso na inevitabilidade de viver o que não foi, e seu grande desafio, o grande desafio deste filme, e para todos nós, até certo ponto, é conviver com nós mesmos depois de tudo o que não foi conquistado, o que não foi vivido. Quando o agora é tarde demais.

A forma de Kaufman é o que traz o sabor a filmes como esse. Seu lado surrealista transforma todas as cenas em momentos de reflexão sobre qualquer coisa que não seja um estudo de personagem. Porque não é. Kaufman está mais interessado em ser tão particular que acaba universalizando sua mensagem. Ele sequer se lembra que existem personagens em suas histórias. Às vezes, como em Adaptação, ele mesmo se recicla em uma delas. Em outros, como Anomalisa, ele enxerga através dos meros bonecos de carne que fundamentalmente somos.

Há tanto por dizer e refletir que é como se o filme inteiro fosse relevante e ao mesmo tempo parte nenhuma dele. É a sensação que fica no ar. Não são detalhes, por mais geniais que sejam. Este é um Kaufman surpreendentemente mais humilde em suas pretensões. Quanto mais genial ele se torna menos convicto está de que é capaz de escrever estas pérolas que anda escrevendo já faz décadas.

Como consequência, insere referências que o tornam menor frente às telas. Em uma piada tão espirituosa quanto acidental, um filme dentro do filme, uma comédia romântica piegas, se revela como dirigido por ninguém menos que Robert Zemeckis. Ao encontrar em cena um discurso sobre uma vida inteira, Kaufman usa nada menos que o diálogo mais icônico dos anos 90, direto da boca de John Nash de Uma Mente Brilhante. E, incerto de suas capacidades, ele nos dá a exata noção de pequenez quando "ele próprio" de certa forma se diminiu, ou se coloca em seu devido lugar, ao inserir um longo monólogo vindo de uma análise da crítica de cinema mais brilhante de todos os tempos, Pauline Kael. O cineasta não está atacando a figura do crítico como muitos fazem. Seria banal demais para seus objetivos. Pelo contrário: ele sempre a admirou, e cresceu a lendo, como muitos de nós. E como todos nós, ele sabe que Kael foi muito mais esperta.

Soando interpretativo, a mensagem de Estou Pensando em Acabar com Tudo é óbvia demais para ficarmos apenas nesses joguinhos. Jake não consegue o que tanto deseja nem em seus próprios pensamentos. E ele não está sozinho. Quantos de nós está em completo descontrole emocional, reagindo instintivamente à rotina diária, presos à situação do momento, nos conformando com o breve e aconchegante calor depositado em nossas costas por um sol indiferente à vida quando saímos de uma sombra em direção à próxima. Todos nós sabemos que o destino de cada um é em direção à maior sombra de todas, da qual nunca mais vamos voltar. Estarmos gratos pelo sol fazer o que sequer controlamos é um dos mecanismos da natureza que nos assombra pela poesia e pelo horror que o caos representa.

E que vida é essa no pós-moderno em que nada faz sentido a não ser que nós mesmos arregacemos as mangas para embutir significado? E este significado nem foi nossa decisão, mas nosso cérebro trabalhando em segundo plano enquanto tentamos viver mais um dia.

Apesar do casal principal filosofar muito você pode ignorar e prestar atenção aos meros detalhes de quem é Lucy, ou nunca foi, e como ela pula entre profissões, e como ela nunca está completa. E como Jake, apesar de estar na direção de seu carro e levar sua namorada pela nevasca, é incapaz de pedir um sorvete, com medo dos fantasmas do passado. E o passado se aproxima cada vez mais quando o futuro fica menor.

Todos os mistérios cercando a história principal, a interpretação final da adaptação da obra literária homônima do escritor estreante Iain Reid, são contornos que nós mesmos às vezes fazemos para evitar enxergar a verdade bem na frente de nossos olhos. E quando nem isso funciona, bem, você tem essa interpretação maravilhosa, caricatural e ao mesmo tempo fascinante de Toni Collete, sendo a mãe caipira que não consegue esconder o quão inatingível ela foi para o filho, e como a visão dele sobre ela tenta esconder atrás do orgulho o desespero de ter parido um filho extremamente limitado. Seu maior orgulho, uma medalha ou troféu por algo pequeno em sua juventude, é ao que ela mais se segura. E o ritmo meticulosamente irregular de sua estranha risada junto dos movimentos com a cabeça para trás e os olhos piscando e se revirando é um misto de descontrole involuntário nas mãos de uma das maiores atrizes da atualizade, onde até uma caricatura desperta a reflexão.

Kaufman anda se soltando cada vez mais em sua estrutura. Este é o seu filme mais frouxo de longe, e com certeza o menos empolgante. Todo o seu tom intimista e deprimente nos faz sentir mal, mas não pelas pessoas na tela, mas por nós mesmos. Por quais caminhos miseráveis a humanidade avança quando os índices de depressão, suicídio e ansiedade sobem, enquanto nossa maior preocupação é qual termo politicamente correto devemos adotar para não ferir os ouvidos dos que não estão presentes. Que final miserável para uma sociedade tão próspera, não conseguir agarrar o significado que nos faz agir todos os dias, e lamentar pelo passado inevitável que nos conduz ao futuro repetido. E não adianta nada elogiar aquele poeta ou aquela crítica de cinema se não conseguirmos enxergar além para onde devemos ir a partir de onde os que nos precedem chegaram. Este parece ser mesmo o fim da linha. Nos contentamos com uma lambida em um sorvete imaginário no meio de uma nevasca inevitavelmente real e próxima.


# Adú

Caloni, 2020-09-26 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Adú mistura temas totalmente não-relacionados e ainda espera que o espectador imagine estar vendo um novo Babel, 21 Gramas ou Traffic, onde o drama dos personagens se cruzam e no final vira aquela mensagem de "estamos todos conectados". Infelizmente o máximo que ele consegue é nos fazer ver como o roteiro é mal feito.

A história gira em torno de personagens que irão se encontrar direta ou indiretamente com a figura de Adú, uma criança de uma pequena vila em um pequeno país na África que começa sua jornada de refugiado precoce quando sua família vira vítima de uma máfia local caçadora de elefantes. Ele e a irmã, ambos crianças, perdem a bicicleta próximo do local de abate de um desses elefantes e automaticamente já sabem que os homens maus veem matar sua mãe. Mas eles já têm um plano de fuga. Que família preparada.

Enquanto isso, em algum outro lugar que nunca sabemos onde é porque não estudamos geografia local de ex-colônias africanas, um homem trabalha em uma ONG salvando elefantes. Ele tem dinheiro de sobra e foi para a África se distanciar de sua família e se eximir de sua culpa branca, tentando salvar elefantes dos próprios moradores locais. Quando ele encontra o mesmo elefante recém-abatido o líder da equipe local sugere usar a carne para alimentar os moradores da vila, mas o homem branco tem algum princípio que impede que seja aplacada a fome com uma fatalidade que é irreversível.

A filha do homem branco se reencontra com ele para passarem algumas semanas se odiando de perto. Ela o desaponta porque é jovem e curte suas noitadas de balada usando algum alucinógeno e fazendo sexo com estranhos. O homem branco esperava que ela tomasse chá com ele para os dois curtirem a companhia um do outro na sala de estar e fossem dormir às 20h. Ela não faz isso e é uma tragédia.

Mas, voltando à história: por que o cara do elefante está no filme? Eu não sei, nem o diretor, nem o roteirista. Vamos fingir que este é um "tipo Babel", onde as vidas estão conectadas. E tudo conectado vai se revelar no final, não é mesmo. Não. Sinto desapontá-lo com um pequeno spoiler: não vai.

O tema principal é obviamente sobre refugiados, mas que filme hoje não é? Em uma das inúmeras fronteiras que vemos e nunca sabemos onde é os guardas vivem a tensão de todos os dias terem que protegê-la com o risco de serem processados pelos direitos humanos se encostarem em algum invasor. A imprensa nunca está presente nessas horas, apenas no dia seguinte para coletar o press-release do próximo julgamento desses ratos fardados. "A PM tem que acabar", já imagino essa frase pichada no muro africano.

Passamos por Camarões, Congo e talvez um ou outro país. Parece tudo a mesma coisa, mesmo com legenda. O filme devia vir com um mapinha, mas não ia servir pra muita coisa, pois em cada momento que a legenda sobe não importa onde os personagens estão. Eles nunca se encontram, nem fisicamente ou espiritualmente.

No final tragicômico o pai e a filha brancos do primeiro mundo roubam a bicicleta das crianças do quarto mundo e aprendemos que tentar viajar nas asas de um avião pode te matar congelado. A não ser que você seja o protagonista. Aí mesmo com uma cena sem sentido algum você sobrevive.

Adú é isso aí. Ah, e tem música triste de separação no final. O garoto, interpretado com coesão, mas sem paixão, por Moustapha Oumarou, faz amizade com um jovem que deve morrer ou ser refugiado para sempre. Ele está com a imunidade muito baixa, mas atravessa o mar de boia mesmo assim.

Por falar em atuação, a irmã de Adú, Alika, é interpretada por Zayiddiya Dissou com uma cara mais dura e gera uma melhor impressão de quem está fugindo de sua terra e arriscando a vida. Dissou pode ser uma aposta para o futuro, embora neste filme é improvável que o elenco consiga brilhar em meio ao caos narrativo.

O diretor e idealizador do projeto, Salvador Calvo, foi voluntário da CEAR (Comissão Espanhola de Ajuda aos Refugiados) e neste filme compila uma miscelânea de história que colecionou dessa época. Por exemplo o do menino de seis anos que era levado em uma viagem como parte de uma família, mas era mais uma vítima de uma rede de tráfico de órgãos, ou um adolescente somaliano que era abusado pelo tio e ao tentar fugir virou escravo. Quando finalmente ele conseguiu escapar em Marrocos faleceu, vítima de AIDS.

Esses dois exemplos são poderosos porque possuem todas as nuances de um drama real. "Adú" é um compilado feito para dramatizar sem substância. Retira-se o filtro cinematográfico e a música triste e o que sobra é uma novela vitimizando refugiados e mostrando como estar próximo de tragédias da região não o torna um expert em geopolítica.


# Os Infiéis

Caloni, 2020-09-26 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Os Infiéis captura tão bem a essência das traições do ponto de vista dos homens que deverá acabar sendo mal visto por todos que o assistirem, mesmo que gostem. Desculpem, é a lei. Hoje em dia não dá pra gostar de filmes com muita verdade. Sujeito a multa.

Com uma hora e meia que passa voando, essa série de curtas protagonizados pelo mesmo elenco em diferentes papéis já tinha sido tentado em um filme de 2012 estrelando Jean Dujardin (nos créditos consta como "levemente inspirado" neste). A mensagem é que homens são mais do mesmo. No final até mulheres são, se você bobear. Os homens vão dominar o mundo ainda. Espera só essa onda de femismo acabar.

As piadas não funcionam tão bem quanto as análises instantânea da natureza humana, percorrendo cada afiado diálogo. Você entende que tudo aquilo é um exagero de atuações sobre a eterna guerra dos sexos, mas é tão familiar que parece um documentário.

E por que as mulheres se preocupam tanto com a fidelidade dos seus machos? Às vezes fica difícil acompanhar os malabarismos da lógica femista do novo século. Somos independentes, mas não nos machuque nem compartilhe nosso patrimônio com outra mulher.

Pera. Nosso?

Depois de assistido, você irá se lembrar mais do episódio no hotel, porque ele é ágil, verdadeiro e tragicômico na medida certa. A direção de Stefano Mordini flui durante todo o filme, mas nesses minutos seu poder de compactação atinge o máximo. A história beira o surreal, mas todos entendemos o que está nas entrelinhas vermelhas. O macho alfa não pede muitas desculpas e a mulher fica com cara de tonta. A enganada. Mas o que passa despercebido é que o homem não está nem aí que a mulher curta também seus momentos de prazer terceirizado.

Como deveria ser, aliás.


# Vidas que se Encontram

Caloni, 2020-09-26 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Este filme barato desafia o status quo. A família é caucasiana. Suas relações são heteronormativas. Seu status social é classe média. É um filme espiritual, mas sem apelar para religião. Não existe uma corporação vilã. Há pessoas bondosas e maldosas, e não é possível acertar quem é quem baseado em estereótipos. Seus diálogos são diretos, tediosos. Não há espaço para interpretação. Não há cinismo. E é tudo isso que o torna adorável.

Em tempos onde as pessoas não aguentam mais pandemia, violência nas ruas, críticas a formas tradicionais de família, à cultura predominante e ao estilo de vida dos que construíram a sociedade próspera que vivemos, assistir a um filme tão simples e direto é um deleite para os olhos. É um descanso do streaming irritante, da TV aberta odiosa e das notícias ignorantes mundo afora.

Sua história é de um pai de família de meia-idade que desenvolve Alzheimer precoce e como isso impacta sua família, mas sua mensagem é sobre os encontros casuais entre estranhos que podem renovar nossa esperança na humanidade. Sem exagero.

O elenco não é nada de mais, assim como seu roteiro, direção, produção. Rob Diamond é a pessoa por trás do filme. Acostumado a produzir filmes modestos que vão direto para Home Video, este provavelmente é mais um deles. Poucas pessoas o verão, pois quando os cinemas abrirem estarão abarrotados dos mais dos mesmos sobre as injustiças do mundo pós-moderno e outras ninharias pelas quais as pessoas se esbofeteiam nas ruas e nas festas de família.

Me surpreende como é tratada a espiritualidade. Acostumados a ver fanáticos religiosos bancando produções onde exaltam o seu deus, o seu ódio, e lançam um hit de música gospel, é de cair o queixo a simplicidade como Deus está presente nos momentos-chave da história, em que ele é necessário para entender como o mundo funciona. Notamos sua necessidade para as provações da vida, mas nem por isso quando Ele é citado se torna panfleto publicitário. E esta singela inserção é muito mais rica e eficiente; e muito menos chata do que um hit gospel.

É encantador também como este filme nunca se rende às manipulações baratas. E bastava uma para ele se tornar horrível. E assim como as tentações que Cristo passou no mundo, este filme não cai em nenhuma delas. E ainda assim é piegas como poucos filmes caseiros conseguem ser. Sua breguice é tão transparente que fica difícil não gostar, porque é muita honestidade e inocência juntas. Note os diálogos. Nenhum é inspirador. São todos mundanos e antinaturais. São feitos para filme. É quase tão fake quanto The Room, o clássico de Tommy Wiseau, com a diferença que há uma estrutura mínima para entendermos que ele não é trash. É apenas bem medíocre.

Os desafios dessas pessoas de classe média são hilários. A esposa precisará voltar a trabalhar ou morar em uma casa menor, de 150 mil dólares. Um barraco, praticamente. O filho metido em drogas tem uma tornozeleira em prisão domiciliar e não consegue evitar ser o inútil da família, assim como seu cunhado. As mulheres são praticamente invisíveis na história, e os vizinhos parecem viver nos lúdicos anos 80, andando de bicicleta pelo bairro fazendo sua boa ação do dia.

É difícil entender como algo tão banal se torna tão agradável. O segredo está em que o banal é raro hoje em dia. Se não há nada de absurdo ou fantástico na trama nos acostumamos a deixar de lado. Se não existe hype ninguém irá comentar. Então não vale a pena assistir. É a audiência das redes sociais. Elas precisam ver o top 10 da Netflix ou serão vistas como alienadas digitais. O irônico é que não há nada mais alienante que ver o que todo mundo vê.

E apenas alguns verão o que realmente importa. E será delas o reino dos céus.


# Flow: The Psychology of Optimal Experience

Caloni, 2020-09-27 books self [up] [copy]

Este é um dos livros mais importantes que já li e acredito que pode ser muito importante para você também. Por isso quero dedicar algumas linhas para argumentar por que você deve lê-lo, ainda que ele seja denso demais para a maioria das pessoas.

"Rather than presenting a list of dos and don'ts, this book intends to be a voyage through the realms of the mind, charted with the tools of science. Like all adventures worth having it will not be an easy one. Without some intellectual effort, a commitment to reflect and think hard about your own experience, you will not gain much from what follows."

Baseado na pesquisa científica conduzida nos anos 90 pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, o intuito era descobrir o que torna as pessoas felizes. Os resultados são descritos em uma explicação densa, mas completa. Muitas vezes quase inalcançável. Há tantas notas de rodapé que elas constituem um grande capítulo à parte no final, nos direcionando de maneira enfática para outras obras onde cada pequeno detalhe se abre em mais e mais abas do navegador. Nada mais justo, pois a busca pela felicidade é tema desde sempre para toda a humanidade. Portanto, há muito material prévio. Para ter uma ideia, a viagem começa por Aristóteles e seu "eudaimonia" (como viver a boa vida).

Começar pelo filósofo grego é uma boa ideia, pois o que Csikszentmihalyi gostaria, além talvez que soubessem soletrar seu nome corretamente, é que através dos inúmeros exemplos de vida das pessoas em sua pesquisa conseguíssemos extrair maneiras de viver a vida como ela deve ser vivida. Um desafio e tanto, ainda mais hoje em dia, em que há tantas dúvidas sobre nosso lugar no mundo, e é necessário jogar todas as ideologias na lata de lixo para conseguirmos progredir em vez de ficarmos estáticos, impotentes, vendo o mundo pegar fogo como a antiga Roma.

Os melhores exemplos coletados são ricos, inspiradores, mas não para simples imitação. Este não é um livro da série "como ficar rico" ou "como ser feliz" com uma fórmula mágica a ser seguida. Mihaly tira tudo que poderia ser interpretado como uma receita de bolo e vai fundo na análise objetiva dos motivos pelos quais trabalhadores braçais de fábricas de Chicago, fazendeiros dos confins da Ásia, enxadristas e escaladores profissionais descrevem todos, quase da mesma forma, as atividades que fazem a vida valer a pena. Sim, tarefas tão díspares entre si possuem a mesma conclusão para este grupo diverso e que aprendeu a viver cada um à sua maneira.

A problemática da complexidade do livro para a maioria dos leitores é que ele vai fundo demais, analisando a relação do indivíduo com a sociedade onde vive e com sua própria biologia. O autor primeiro se esforça para definir o que é consciência da maneira mais científica, sucinta e brilhante que você verá em um texto com esse rigor, e a partir disso ele analisa como nós podemos nos aproveitar de seu funcionamento para tirar o máximo possível dessa experiência mágica que é estar vivo.

O próprio ato de ler este livro já se torna fruto de momentos inesquecíveis de prazer. E o motivo é porque entendê-lo é um desafio à altura. Não é fácil, mas nem difícil demais. O leitor médio e leigo pode alcançar a compreensão, e é justamente a dificuldade em entendê-lo que o faz ter valor, e ao ter valor nos sentimos recompensados pela atividade de decifrar este enigma proposto no livro.

Sobre a consciência, ele revela seus limites usando métricas de processamento de dados, como quantos bits de informação nossa mente focada é capaz de processar por segundo, e por que, seguindo essa métrica, concluímos que é impossível prestar atenção, por exemplo, em quatro pessoas falando ao mesmo tempo.

The autotelic self transforms potentially entropic experience into flow. Therefore the rules for developing such a self are simple, and they derive directly from the flow model. Briefly, they can be summarized as follows:
1. Setting goals.
2. Becoming immersed in the activity.
3. Paying attention to what is happening.
4. Learning to enjoy immediate experience.

Com essa definição objetiva o livro reduz nossa percepção de mundo através dessa janela que chamamos de consciência para em seguida mostrar como é ela que define nossa realidade de fato, e não o mundo exterior. E isso é vital para entendermos porque não importa de fato qual atividade desempenhamos, mas como nossa consciência a interpreta.

A teoria de flow apresentada no livro diz respeito em como podemos manipular nossa visão de mundo para extrairmos o nosso melhor, sendo melhor relativo ao objetivo que cada um deseja experienciar. No entanto, atingir esse estado de espírito ótimo não é relativo. Contrário ao relativismo de nosso mundo o livro afirma, com base na ciência, haver de fato atividades mais prazeirosas e significativas que outras, ou melhor dizendo, há formas de conduzir essas atividades de maneira a atingir seu máximo de aproveitamento, satisfação, prazer e o mais importante de todos: significado.

Recortes

"(...) success, like happiness, cannot be pursued; it must ensue... as the unintended side-effect of one's personal dedication to a course greater than oneself."

"Our perceptions about our lives are the outcome of many forces that shape experience, each having an impact on whether we feel good or bad."

"(...) we have all experienced times when, instead of being buffeted by anonymous forces, we do feel in control of our actions, masters of our own fate. On the rare occasions that it happens, we feel a sense of exhilaration, a deep sense of enjoyment that is long cherished and that becomes a landmark in memory for what life should be like."

"(...) the concept of flow -- the state in which people are so involved in an activity that nothing else seems to matter; the experience itself is so enjoyable that people will do it even at great cost, for the sheer sake of doing it."

"The flow experience was not just a peculiarity of affluent, industrialized elites. It was reported in essentially the same words by old women from Korea, by adults in Thailand and India, by teenagers in Tokyo, by Navajo shepherds, by farmers in the Italian Alps, and by workers on the assembly line in Chicago."

"In the beginning our data consisted of interviews and questionnaires. To achieve greater precision we developed with time a new method for measuring the quality of subjective experience. This technique, called the Experience Sampling Method, involves asking people to wear an electronic paging device for a week and to write down how they feel and what they are thinking about whenever the pager signals. The pager is activated by a radio transmitter about eight times each day, at random intervals. At the end of the week, each respondent provides what amounts to a running record, a written film clip of his or her life, made up of selections from its representative moments. By now over a hundred thousand such cross sections of experience have been collected from different parts of the world. The conclusions of this volume are based on that body of data."

"(...) what would be the result afterward in the unlikely event that one did turn into a slim, well-loved, powerful millionaire? Usually what happens is that the person finds himself back at square one, with a new list of wishes, just as dissatisfied as before. What would really satisfy people is not getting slim or rich, but feeling good about their lives. In the quest for happiness, partial solutions don't work."

"Rather than presenting a list of dos and don'ts, this book intends to be a voyage through the realms of the mind, charted with the tools of science. Like all adventures worth having it will not be an easy one. Without some intellectual effort, a commitment to reflect and think hard about your own experience, you will not gain much from what follows."

"Everything we experience -- joy or pain, interest or boredom -- is represented in the mind as information. If we are able to control this information, we can decide what our lives will be like."

"The pursuit of a goal brings order in awareness because a person must concentrate attention on the task at hand and momentarily forget everything else. These periods of struggling to overcome challenges are what people find to be the most enjoyable times of their lives"

"Many lives are disrupted by tragic accidents, and even the most fortunate are subjected to stresses of various kinds. Yet such blows do not necessarily diminish happiness. It is how people respond to stress that determines whether they will profit from misfortune or be miserable."

"To deal with these obstacles, every culture develops with time protective devices -- religions, philosophies, arts, and comforts -- that help shield us from chaos. They help us believe that we are in control of what is happening and give reasons for being satisfied with our lot. But these shields are effective only for a while; after a few centuries, sometimes after only a few decades, a religion or belief wears out and no longer provides the spiritual sustenance it once did."

"Chaos is one of the oldest concepts in myth and religion. It is rather foreign to the physical and biological sciences, because in terms of their laws the events in the cosmos are perfectly reasonable. For instance, "chaos theory" in the sciences attempts to describe regularities in what appears to be utterly random. But chaos has a different meaning in psychology and the other human sciences, because if human goals and desires are taken as the starting point, there is irreconcilable disorder in the cosmos."

"How many people do you know who enjoy what they are doing, who are reasonably satisfied with their lot, who do not regret the past and look to the future with genuine confidence?"

"To overcome the anxieties and depressions of contemporary life, individuals must become independent of the social environment to the degree that they no longer respond exclusively in terms of its rewards and punishments."

"Achieving control over experience requires a drastic change in attitude about what is important and what is not."

"(...) emphasis on the postponement of gratification is to a certain extent inevitable. As Freud and many others before and after him have noted, civilization is built on the repression of individual desires. It would be impossible to maintain any kind of social order, any complex division of labor, unless society's members were forced to take on the habits and skills that the culture required, whether the individuals liked it or not. Socialization, or the transformation of a human organism into a person who functions successfully within a particular social system, cannot be avoided. The essence of socialization is to make people dependent on social controls, to have them respond predictably to rewards and punishments. And the most effective form of socialization is achieved when people identify so thoroughly with the social order that they no longer can imagine themselves breaking any of its rules."

"(...) when we follow the suggestions of genetic and social instructions without question we relinquish the control of consciousness and become helpless playthings of impersonal forces. The person who cannot resist food or alcohol, or whose mind is constantly focused on sex, is not free to direct his or her psychic energy."

"Submission to genetic programming can become quite dangerous, because it leaves us helpless. A person who cannot override genetic instructions when necessary is always vulnerable. Instead of deciding how to act in terms of personal goals, he has to surrender to the things that his body has been programmed (or misprogrammed) to do. One must particularly achieve control over instinctual drives to achieve a healthy independence of society, for as long as we respond predictably to what feels good and what feels bad, it is easy for others to exploit our preferences for their own ends."

"There is no question that to survive, and especially to survive in a complex society, it is necessary to work for external goals and to postpone immediate gratifications. But a person does not have to be turned into a puppet jerked about by social controls. The solution is to gradually become free of societal rewards and learn how to substitute for them rewards that are under one's own powers. This is not to say that we should abandon every goal endorsed by society; rather, it means that, in addition to or instead of the goals others use to bribe us with, we develop a set of our own."

""Men are not afraid of things, but of how they view them," said Epictetus a long time ago. (...) the great emperor Marcus Aurelius wrote: "If you are pained by external things, it is not they that disturb you, but your own judgment of them. And it is in your power to wipe out that judgment now.""

"(...) if it is true that people have known for thousands of years what it takes to become free and in control of one's life, why haven't we made more progress in this direction? In the first place, the kind of knowledge -- or wisdom -- one needs for emancipating consciousness is not cumulative. Second, the knowledge of how to control consciousness must be reformulated every time the cultural context changes."

"Over the endless dark centuries of its evolution, the human nervous system has become so complex that it is now able to affect its own states, making it to a certain extent functionally independent of its genetic blueprint and of the objective environment. A person can make himself happy, or miserable, regardless of what is actually happening "outside," just by changing the contents of consciousness. We all know individuals who can transform hopeless situations into challenges to be overcome, just through the force of their personalities. This ability to persevere despite obstacles and setbacks is the quality people most admire in others, and justly so; it is probably the most important trait not only for succeeding in life, but for enjoying it as well."

"Although it sounds like indecipherable academic jargon, the most concise description of the approach I believe to be the clearest way to examine the main facets of what happens in the mind, in a way that can be useful in the actual practice of everyday life, is "a phenomenological model of consciousness based on information theory.""

"Since for us outside events do not exist unless we are aware of them, consciousness corresponds to subjectively experienced reality."

"At this point in our scientific knowledge we are on the verge of being able to estimate how much information the central nervous system is capable of processing. It seems we can manage at most seven bits of information -- such as differentiated sounds, or visual stimuli, or recognizable nuances of emotion or thought -- at any one time, and that the shortest time it takes to discriminate between one set of bits and another is about 1/18 of a second."

"The limitation of consciousness is demonstrated by the fact that to understand what another person is saying we must process 40 bits of information each second. If we assume the upper limit of our capacity to be 126 bits per second, it follows that to understand what three people are saying simultaneously is theoretically possible, but only by managing to keep out of consciousness every other thought or sensation. We couldn't, for instance, be aware of the speakers' expressions, nor could we wonder about why they are saying what they are saying, or notice what they are wearing."

"In the roughly one-third of the day that is free of obligations, in their precious "leisure" time, most people in fact seem to use their minds as little as possible. The largest part of free time -- almost half of it for American adults -- is spent in front of the television set. The plots and characters of the popular shows are so repetitive that although watching TV requires the processing of visual images, very little else in the way of memory, thinking, or volition is required. Not surprisingly, people report some of the lowest levels of concentration, use of skills, clarity of thought, and feelings of potency when watching television."

"Attention shapes the self, and is in turn shaped by it."

"We have seen that experience depends on the way we invest psychic energy -- on the structure of attention. This, in turn, is related to goals and intentions. These processes are connected to each other by the self, or the dynamic mental representation we have of the entire system of our goals. These are the pieces that must be maneuvered if we wish to improve things. Of course, existence can also be improved by outside events, like winning a million dollars in the lottery, marrying the right man or woman, or helping to change an unjust social system. But even these marvelous events must take their place in consciousness, and be connected in positive ways to our self, before they can affect the quality of life."

"Whenever information disrupts consciousness by threatening its goals we have a condition of inner disorder, or psychic entropy, a disorganization of the self that impairs its effectiveness. Prolonged experiences of this kind can weaken the self to the point that it is no longer able to invest attention and pursue its goals."

"A new piece of information will either create disorder in consciousness, by getting us all worked up to face the threat, or it will reinforce our goals, thereby freeing up psychic energy."

"When the information that keeps coming into awareness is congruent with goals, psychic energy flows effortlessly. There is no need to worry, no reason to question one's adequacy. But whenever one does stop to think about oneself, the evidence is encouraging: "You are doing all right.""

"Pleasure is a feeling of contentment that one achieves whenever information in consciousness says that expectations set by biological programs or by social conditioning have been met."

"Without enjoyment life can be endured, and it can even be pleasant. But it can be so only precariously, depending on luck and the cooperation of the external environment. To gain personal control over the quality of experience, however, one needs to learn how to build enjoyment into what happens day in, day out."

"Enjoyable events occur when a person has not only met some prior expectation or satisfied a need or a desire but also gone beyond what he or she has been programmed to do and achieved something unexpected, perhaps something even unimagined before."

"As our studies have suggested, the phenomenology of enjoyment has eight major components. When people reflect on how it feels when their experience is most positive, they mention at least one, and often all, of the following. First, the experience usually occurs when we confront tasks we have a chance of completing. Second, we must be able to concentrate on what we are doing. Third and fourth, the concentration is usually possible because the task undertaken has clear goals and provides immediate feedback. Fifth, one acts with a deep but effortless involvement that removes from awareness the worries and frustrations of everyday life. Sixth, enjoyable experiences allow people to exercise a sense of control over their actions. Seventh, concern for the self disappears, yet paradoxically the sense of self emerges stronger after the flow experience is over. Finally, the sense of the duration of time is altered; hours pass by in minutes, and minutes can stretch out to seem like hours. The combination of all these elements causes a sense of deep enjoyment that is so rewarding people feel that expending a great deal of energy is worthwhile simply to be able to feel it."

"In many ways, competition is a quick way of developing complexity: "He who wrestles with us," wrote Edmund Burke, "strengthens our nerves, and sharpens our skill. Our antagonist is our helper." The challenges of competition can be stimulating and enjoyable. But when beating the opponent takes precedence in the mind over performing as well as possible, enjoyment tends to disappear. Competition is enjoyable only when it is a means to perfect one's skills; when it becomes an end in itself, it ceases to be fun."

"The reason it is possible to achieve such complete involvement in a flow experience is that goals are usually clear, and feedback immediate. A tennis player always knows what she has to do: return the ball into the opponent's court. And each time she hits the ball she knows whether she has done well or not. The chess player's goals are equally obvious: to mate the opponent's king before his own is mated. With each move, he can calculate whether he has come closer to this objective. The climber inching up a vertical wall of rock has a very simple goal in mind: to complete the climb without falling. Every second, hour after hour, he receives information that he is meeting that basic goal."

"(...) unless a person learns to set goals and to recognize and gauge feedback (...) she will not enjoy them (activities)."

"What makes this information valuable is the symbolic message it contains: that I have succeeded in my goal. Such knowledge creates order in consciousness, and strengthens the structure of the self. Almost any kind of feedback can be enjoyable, provided it is logically related to a goal in which one has invested psychic energy."

"In normal everyday existence, we are the prey of thoughts and worries intruding unwanted in consciousness. Because most jobs, and home life in general, lack the pressing demands of flow experiences, concentration is rarely so intense that preoccupations and anxieties can be automatically ruled out. Consequently the ordinary state of mind involves unexpected and frequent episodes of entropy interfering with the smooth run of psychic energy. This is one reason why flow improves the quality of experience: the clearly structured demands of the activity impose order, and exclude the interference of disorder in consciousness."

"The important thing to realize here is that activities that produce flow experiences, even the seemingly most risky ones, are so constructed as to allow the practitioner to develop sufficient skills to reduce the margin of error to as close to zero as possible."

"(...) what people enjoy is not the sense of being in control, but the sense of exercising control in difficult situations."

"When a person becomes so dependent on the ability to control an enjoyable activity that he cannot pay attention to anything else, then he loses the ultimate control: the freedom to determine the content of consciousness."

"Preoccupation with the self consumes psychic energy because in everyday life we often feel threatened. Whenever we are threatened we need to bring the image we have of ourselves back into awareness, so we can find out whether or not the threat is serious, and how we should meet it."

"So loss of self-consciousness does not involve a loss of self, and certainly not a loss of consciousness, but rather, only a loss of consciousness of the self. What slips below the threshold of awareness is the concept of self, the information we use to represent to ourselves who we are. And being able to forget temporarily who we are seems to be very enjoyable. When not preoccupied with our selves, we actually have a chance to expand the concept of who we are. Loss of self-consciousness can lead to self-transcendence, to a feeling that the boundaries of our being have been pushed forward."

"When a person invests all her psychic energy into an interaction -- whether it is with another person, a boat, a mountain, or a piece of music -- she in effect becomes part of a system of action greater than what the individual self had been before. This system takes its form from the rules of the activity; its energy comes from the person's attention. But it is a real system -- subjectively as real as being part of a family, a corporation, or a team -- and the self that is part of it expands its boundaries and becomes more complex than what it had been."

"Some things we are initially forced to do against our will turn out in the course of time to be intrinsically rewarding."

"The autotelic experience, or flow, lifts the course of life to a different level. Alienation gives way to involvement, enjoyment replaces boredom, helplessness turns into a feeling of control, and psychic energy works to reinforce the sense of self, instead of being lost in the service of external goals. When experience is intrinsically rewarding life is justified in the present, instead of being held hostage to a hypothetical future gain."

"The flow experience, like everything else, is not "good" in an absolute sense. It is good only in that it has the potential to make life more rich, intense, and meaningful; it is good because it increases the strength and complexity of the self."

"During the course of human evolution, every culture has developed activities designed primarily to improve the quality of experience. Even the least technologically advanced societies have some form of art, music, dance, and a variety of games that children and adults play. There are natives of New Guinea who spend more time looking in the jungle for the colorful feathers they use for decoration in their ritual dances than they spend looking for food. And this is by no means a rare example: art, play, and ritual probably occupy more time and energy in most cultures than work."

"Humans began decorating caves at least thirty thousand years ago. These paintings surely had religious and practical significance. However, it is likely that the major raison d'être of art was the same in the Paleolithic era as it is now -- namely, it was a source of flow for the painter and for the viewer."

"(...) what we call religion is actually the oldest and most ambitious attempt to create order in consciousness. It therefore makes sense that religious rituals would be a profound source of enjoyment."

"In modern times art, play, and life in general have lost their supernatural moorings. The cosmic order that in the past helped interpret and give meaning to human history has broken down into disconnected fragments. Many ideologies are now competing to provide the best explanation for the way we behave: the law of supply and demand and the "invisible hand" regulating the free market seek to account for our rational economic choices; the law of class conflict that underlies historical materialism tries to explain our irrational political actions; the genetic competition on which sociobiology is based would explain why we help some people and exterminate others; behaviorism's law of effect offers to explain how we learn to repeat pleasurable acts, even when we are not aware of them. These are some of the modern "religions" rooted in the social sciences. None of them -- with the partial exception of historical materialism, itself a dwindling creed -- commands great popular support, and none has inspired the aesthetic visions or enjoyable rituals that previous models of cosmic order had spawned."

"Cultures are defensive constructions against chaos, designed to reduce the impact of randomness on experience. They are adaptive responses, just as feathers are for birds and fur is for mammals. Cultures prescribe norms, evolve goals, build beliefs that help us tackle the challenges of existence. In so doing they must rule out many alternative goals and beliefs, and thereby limit possibilities; but this channeling of attention to a limited set of goals and means is what allows effortless action within self-created boundaries."

"When a culture succeeds in evolving a set of goals and rules so compelling and so well matched to the skills of the population that its members are able to experience flow with unusual frequency and intensity, the analogy between games and cultures is even closer. In such a case we can say that the culture as a whole becomes a "great game." Some of the classical civilizations may have succeeded in reaching this state. Athenian citizens, Romans who shaped their actions by virtus, Chinese intellectuals, or Indian Brahmins moved through life with intricate grace, and derived perhaps the same enjoyment from the challenging harmony of their actions as they would have from an extended dance. The Athenian polis, Roman law, the divinely grounded bureaucracy of China, and the all-encompassing spiritual order of India were successful and lasting examples of how culture can enhance flow -- at least for those who were lucky enough to be among the principal players."

"A person who is constantly worried about how others will perceive her, who is afraid of creating the wrong impression, or of doing something inappropriate, is also condemned to permanent exclusion from enjoyment. So are people who are excessively self-centered. A self-centered individual is usually not self-conscious, but instead evaluates every bit of information only in terms of how it relates to her desires. For such a person everything is valueless in itself. A flower is not worth a second look unless it can be used; a man or a woman who cannot advance one's interests does not deserve further attention. Consciousness is structured entirely in terms of its own ends, and nothing is allowed to exist in it that does not conform to those ends."

"Paradoxically, a self-centered self cannot become more complex, because all the psychic energy at its disposal is invested in fulfilling its current goals, instead of learning about new ones."

"Anomie -- literally, "lack of rules" -- is the name the French sociologist Emile Durkheim gave to a condition in society in which the norms of behavior had become muddled. When it is no longer clear what is permitted and what is not, when it is uncertain what public opinion values, behavior becomes erratic and meaningless. People who depend on the rules of society to give order to their consciousness become anxious. Anomic situations might arise when the economy collapses, or when one culture is destroyed by another, but they can also come about when prosperity increases rapidly, and old values of thrift and hard work are no longer as relevant as they had been."

"When a society suffers from anomie, flow is made difficult because it is not clear what is worth investing psychic energy in; when it suffers from alienation the problem is that one cannot invest psychic energy in what is clearly desirable."

"It is interesting to note that these two societal obstacles to flow, anomie and alienation, are functionally equivalent to the two personal pathologies, attentional disorders and self-centeredness. At both levels, the individual and the collective, what prevents flow from occurring is either the fragmentation of attentional processes (as in anomie and attentional disorders), or their excessive rigidity (as in alienation and self-centeredness). At the individual level anomie corresponds to anxiety, while alienation corresponds to boredom."

"Without interest in the world, a desire to be actively related to it, a person becomes isolated into himself. Bertrand Russell, one of the greatest philosophers of our century, described how he achieved personal happiness: "Gradually I learned to be indifferent to myself and my deficiencies; I came to center my attention increasingly upon external objects: the state of the world, various branches of knowledge, individuals for whom I felt affection." There could be no better short description of how to build for oneself an autotelic personality."

"Few learn to move with the grace of an acrobat, see with the fresh eye of an artist, feel the joy of an athlete who breaks his own record, taste with the subtlety of a connoisseur, or love with a skill that lifts sex into a form of art. Because these opportunities are easily within reach, the easiest step toward improving the quality of life consists in simply learning to control the body and its senses."

"Even the simplest physical act becomes enjoyable when it is transformed so as to produce flow. The essential steps in this process are: (a) to set an overall goal, and as many subgoals as are realistically feasible; (b) to find ways of measuring progress in terms of the goals chosen; (c) to keep concentrating on what one is doing, and to keep making finer and finer distinctions in the challenges involved in the activity; (d) to develop the skills necessary to interact with the opportunities available; and (e) to keep raising the stakes if the activity becomes boring."

"The challenges of the activity are what force us to concentrate."

"What we found was that when people were pursuing leisure activities that were expensive in terms of the outside resources required -- activities that demanded expensive equipment, or electricity, or other forms of energy measured in BTUs, such as power boating, driving, or watching television -- they were significantly less happy than when involved in inexpensive leisure. People were happiest when they were just talking to one another, when they gardened, knitted, or were involved in a hobby; all of these activities require few material resources, but they demand a relatively high investment of psychic energy. Leisure that uses up external resources, however, often requires less attention, and as a consequence it generally provides less memorable rewards."

"Giving up the self with its instincts, habits, and desires is so unnatural an act that only someone supremely in control can accomplish it."

"The next level of challenge music presents is the analogic mode of listening. In this stage, one develops the skill to evoke feelings and images based on the patterns of sound. The mournful saxophone passage recalls the sense of awe one has when watching storm clouds build up over the prairie; the Tchaikovsky piece makes one visualize a sleigh driving through a snowbound forest, with its bells tinkling. Popular songs of course exploit the analogic mode to its fullest by cuing in the listener with lyrics that spell out what mood or what story the music is supposed to represent. The most complex stage of music listening is the analytic one. In this mode attention shifts to the structural elements of music, instead of the sensory or narrative ones. Listening skills at this level involve the ability to recognize the order underlying the work, and the means by which the harmony was achieved. They include the ability to evaluate critically the performance and the acoustics; to compare the piece with earlier and later pieces of the same composer, or with the work of other composers writing at the same time; and to compare the orchestra, conductor, or band with their own earlier and later performances, or with the interpretations of others. Analytic listeners often compare various versions of the same blues song, or sit down to listen with an agenda that might typically be: "Let's see how von Karajan's 1975 recording of the second movement of the Seventh Symphony differs from his 1963 recording," or "I wonder if the brass section of the Chicago Symphony is really better than the Berlin brasses?" Having set such goals, a listener becomes an active experience that provides constant feedback (e.g., "von Karajan has slowed down,""the Berlin brasses are sharper but less mellow"). As one develops analytic listening skills, the opportunities to enjoy music increase geometrically."

"In our culture, despite the recent spotlight on gourmet cuisine, many people still barely notice what they put in their mouths, thereby missing a potentially rich source of enjoyment. To transform the biological necessity of feeding into a flow experience, one must begin by paying attention to what one eats. It is astonishing -- as well as discouraging -- when guests swallow lovingly prepared food without any sign of having noticed its virtues. What a waste of rare experience is reflected in that insensitivity! Developing a discriminating palate, like any other skill, requires the investment of psychic energy."

"In the metaphorical language of several religions, the body is called the "temple of God," or the "vessel of God," imagery to which even an atheist should be able to relate. The integrated cells and organs that make up the human organism are an instrument that allows us to get in touch with the rest of the universe. The body is like a probe full of sensitive devices that tries to obtain what information it can from the awesome reaches of space. It is through the body that we are related to one another and to the rest of the world. While this connection itself may be quite obvious, what we tend to forget is how enjoyable it can be. Our physical apparatus has evolved so that whenever we use its sensing devices they produce a positive sensation, and the whole organism resonates in harmony."

"Remembering is enjoyable because it entails fulfilling a goal and so brings order to consciousness. We all know the little spark of satisfaction that comes when we remember where we put the car keys, or any other object that has been temporarily misplaced. To remember a long list of elders, going back a dozen generations, is particularly enjoyable in that it satisfies the need to find a place in the ongoing stream of life."

"When a person has learned a symbolic system well enough to use it, she has established a portable, self-contained world within the mind."

"Peter Berger and Thomas Luckmann, the influential phenomenological sociologists, have written that our sense of the universe in which we live is held together by conversation. When I say to an acquaintance whom I meet in the morning, "Nice day," I do not convey primarily meteorological information -- which would be redundant anyway, since he has the same data as I do -- but achieve a great variety of other unvoiced goals. For instance, by addressing him I recognize his existence, and express my willingness to be friendly. Second, I reaffirm one of the basic rules for interaction in our culture, which holds that talking about the weather is a safe way to establish contact between people. Finally, by emphasizing that the weather is "nice" I imply the shared value that "niceness" is a desirable attribute. So the offhand remark becomes a message that helps keep the content of my acquaintance's mind in its accustomed order. His answer "Yeah, it's great, isn't it?" will help to keep order in mine. Without such constant restatements of the obvious, Berger and Luckmann claim, people would soon begin to have doubts about the reality of the world in which they live. The obvious phrases we exchange with each other, the trivial talk dribbling from radios and TV sets, reassure us that everything is all right, that the usual conditions of existence prevail."

"The kind of material we write in diaries and letters does not exist before it is written down. It is the slow, organically growing process of thought involved in writing that lets the ideas emerge in the first place."

"It is a common fate of many human institutions to begin as a response to some universal problem until, after many generations, the problems peculiar to the institutions themselves will take precedence over the original goal."

"(...) the importance of personally taking control of the direction of learning from the very first steps cannot be stressed enough. If a person feels coerced to read a certain book, to follow a given course because that is supposed to be the way to do it, learning will go against the grain. But if the decision is to take that same route because of an inner feeling of rightness, the learning will be relatively effortless and enjoyable."

"Nothing illustrates as clearly our changing attitudes toward the value of experience as the fate of these two words. There was a time when it was admirable to be an amateur poet or a dilettante scientist, because it meant that the quality of life could be improved by engaging in such activities. But increasingly the emphasis has been to value behavior over subjective states; what is admired is success, achievement, the quality of performance rather than the quality of experience. Consequently it has become embarrassing to be called a dilettante, even though to be a dilettante is to achieve what counts most -- the enjoyment one's actions provide."

"From that will come the profound joy of the thinker, like that experienced by the disciples of Socrates that Plato describes in Philebus:"The young man who has drunk for the first time from that spring is as happy as if he had found a treasure of wisdom; he is positively enraptured. He will pick up any discourse, draw all its ideas together to make them into one, then take them apart and pull them to pieces. He will puzzle first himself, then also others, badger whoever comes near him, young and old, sparing not even his parents, nor anyone who is willing to listen….""

"(...) we have the paradoxical situation: On the job people feel skillful and challenged, and therefore feel more happy, strong, creative, and satisfied. In their free time people feel that there is generally not much to do and their skills are not being used, and therefore they tend to feel more sad, weak, dull, and dissatisfied. Yet they would like to work less and spend more time in leisure."

"Many people consider their jobs as something they have to do, a burden imposed from the outside, an effort that takes life away from the ledger of their existence. So even though the momentary on-the-job experience may be positive, they tend to discount it, because it does not contribute to their own long-range goals."

"Collectively we are wasting each year the equivalent of millions of years of human consciousness. The energy that could be used to focus on complex goals, to provide for enjoyable growth, is squandered on patterns of stimulation that only mimic reality. Mass leisure, mass culture, and even high culture when only attended to passively and for extrinsic reasons -- such as the wish to flaunt one's status -- are parasites of the mind. They absorb psychic energy without providing substantive strength in return. They leave us more exhausted, more disheartened than we were before."

"(...) a social situation has the potential to be transformed by redefining its rules."

"(...) the most depressing condition is not that of working or watching TV alone; the worst moods are reported when one is alone and there is nothing that needs to be done. (...) Why is solitude such a negative experience? The bottom-line answer is that keeping order in the mind from within is very difficult. We need external goals, external stimulation, external feedback to keep attention directed. And when external input is lacking, attention begins to wander, and thoughts become chaotic -- resulting in the state we have called "psychic entropy" (...)"

"Unless consumed in highly skilled ritual contexts, as is practiced in many traditional societies, what drugs in fact do is reduce our perception of both what can be accomplished and what we as individuals are able to accomplish, until the two are in balance. This is a pleasant state of affairs, but it is only a misleading simulation of that enjoyment that comes from increasing opportunities for actions and the abilities to act."

"Some people will disagree strongly with this description of how drugs affect the mind. After all, for the past quarter-century we have been told with increasing confidence that drugs are "consciousness-expanding," and that using them enhances creativity. But the evidence suggests that while chemicals do alter the content and the organization of consciousness, they do not expand or increase the self's control over its function. Yet to accomplish anything creative, one must achieve just such control. Therefore, while psychotropic drugs do provide a wider variety of mental experiences than one would encounter under normal sensory conditions, they do so without adding to our ability to order them effectively."

"Much of what passes for sexuality is also just a way of imposing an external order on our thoughts, of "killing time" without having to confront the perils of solitude. Not surprisingly, watching TV and having sex can become roughly interchangeable activities. The habits of pornography and depersonalized sex build on the genetically programmed attraction of images and activities related to reproduction. They focus attention naturally and pleasurably, and in so doing help to exclude unwanted contents from the mind. What they fail to do is develop any of the attentional habits that might lead to a greater complexity of consciousness."

"(...) masochistic behavior, risk taking, gambling. These ways that people find to hurt or frighten themselves do not require a great deal of skill, but they do help one to achieve the sensation of direct experience. Even pain is better than the chaos that seeps into an unfocused mind. Hurting oneself, whether physically or emotionally, ensures that attention can be focused on something that, although painful, is at least controllable -- since we are the ones causing it."

"The ultimate test for the ability to control the quality of experience is what a person does in solitude, with no external demands to give structure to attention. It is relatively easy to become involved with a job, to enjoy the company of friends, to be entertained in a theater or at a concert. But what happens when we are left to our own devices? Alone, when the dark night of the soul descends, are we forced into frantic attempts to distract the mind from its coming? Or are we able to take on activities that are not only enjoyable, but make the self grow?"

"A person who rarely gets bored, who does not constantly need a favorable external environment to enjoy the moment, has passed the test for having achieved a creative life."

"The way to grow while enjoying life is to create a higher form of order out of the entropy that is an inevitable condition of living."

""Whosoever is delighted in solitude," goes the old saying that Francis Bacon repeated, "is either a wild beast or a god.""

"Life-styles built on pleasure survive only in symbiosis with complex cultures based on hard work and enjoyment."

"When two people choose to focus their attention on each other, both will have to change their habits; as a result, the pattern of their consciousness will also have to change. Getting married requires a radical and permanent reorientation of attentional habits."

"If a person is unwilling to adjust personal goals when starting a relationship, then a lot of what subsequently happens in that relationship will produce disorder in the person's consciousness, because novel patterns of interaction will conflict with old patterns of expectation."

"Unconditional acceptance is especially important to children. If parents threaten to withdraw their love from a child when he fails to measure up, the child's natural playfulness will be gradually replaced by chronic anxiety. However, if the child feels that his parents are unconditionally committed to his welfare, he can then relax and explore the world without fear; otherwise he has to allocate psychic energy to his own protection, thereby reducing the amount he can freely dispose of. Early emotional security may well be one of the conditions that helps develop an autotelic personality in children. Without this, it is difficult to let go of the self long enough to experience flow."

"Unconditional acceptance, the complete trust family members ought to have for one another, is meaningful only when it is accompanied by an unstinting investment of attention. Otherwise it is just an empty gesture, a hypocritical pretense indistinguishable from disinterest."

"Every man should get to know himself and experience life in all its forms. I could have gone on sleeping soundly in my bed, and found work in my town, because a job was ready for me, but I decided to sleep with the poor, because one must suffer to become a man. One does not get to be a man by getting married, by having sex: to be a man means to be responsible, to know when it is time to speak, to know what has to be said, to know when one must stay silent."

"We have learned from the Experience Sampling Method studies that a healthy adolescent stays depressed on the average for only half an hour. (An adult takes, on the average, twice as long to recover from bad moods.)"

"Paradoxically, this sense of humility -- the recognition that one's goals may have to be subordinated to a greater entity, and that to succeed one may have to play by a different set of rules from what one would prefer -- is a hallmark of strong people."

"The process of discovering new goals in life is in many respects similar to that by which an artist goes about creating an original work of art. Whereas a conventional artist starts painting a canvas knowing what she wants to paint, and holds to her original intention until the work is finished, an original artist with equal technical training commences with a deeply felt but undefined goal in mind, keeps modifying the picture in response to the unexpected colors and shapes emerging on the canvas, and ends up with a finished work that probably will not resemble anything she started out with. If the artist is responsive to her inner feelings, knows what she likes and does not like, and pays attention to what is happening on the canvas, a good painting is bound to emerge. On the other hand, if she holds on to a preconceived notion of what the painting should look like, without responding to the possibilities suggested by the forms developing before her, the painting is likely to be trite."

"For most people, goals are shaped directly by biological needs and social conventions, and therefore their origin is outside the self. For an autotelic person, the primary goals emerge from experience evaluated in consciousness, and therefore from the self proper."

"To be distracted against one's will is the surest sign that one is not in control."

"The outcome of having an autotelic self -- of learning to set goals, to develop skills, to be sensitive to feedback, to know how to concentrate and get involved -- is that one can enjoy life even when objective circumstances are brutish and nasty."

"The mountaineer who decides to scale a difficult peak knows that he will be exhausted and endangered for most of the climb. But if he gives up too easily, his quest will be revealed as having little value. The same is true of all flow experiences: there is a mutual relationship between goals and the effort they require. Goals justify the effort they demand at the outset, but later it is the effort that justifies the goal."

"The wealth of options we face today has extended personal freedom to an extent that would have been inconceivable even a hundred years ago. But the inevitable consequence of equally attractive choices is uncertainty of purpose; uncertainty, in turn, saps resolution, and lack of resolve ends up devaluing choice. Therefore freedom does not necessarily help develop meaning in life -- on the contrary. If the rules of a game become too flexible, concentration flags, and it is more difficult to attain a flow experience. Commitment to a goal and to the rules it entails is much easier when the choices are few and clear."

"Inner conflict is the result of competing claims on attention. Too many desires, too many incompatible goals struggle to marshal psychic energy toward their own ends."

"Ever since Freud, psychologists have been interested in explaining how early childhood trauma leads to adult psychic dysfunction. This line of causation is fairly easy to understand. More difficult to explain, and more interesting, is the opposite outcome: the instances when suffering gives a person the incentive to become a great artist, a wise statesman, or a scientist."


# Festa de Família

Caloni, 2020-09-29 cinema movies [up] [copy]

O Dogma 95 foi um movimento iniciado por diretores escandinavos como Lars von Trier (conhecido fã de Hitler e seu trabalho) que "prega" que um filme para fazer parte do Dogma deve seguir uma série de limitações em sua produção, como ausência de sons inseridos, a câmera deve acompanhar os atores onde eles forem (então ausência de iluminação artificial também). Ausência de qualquer peça de cenário que já não fizesse parte da locação. A lista é bem extensa e torna a tarefa do diretor mais desafiadora e interessante.

E por isso que este representante do Dogma 95 até que é bem feito, o que faz pensar se não estamos saturados de efeitos no cinema que nos impedem de ver a coisa real. A edição, os diálogos e o movimento da câmera fazem todo o serviço de não sentirmos falta de ver algum filtro específico para dramas familiares. E neste filme o que mais pesa é o seu drama de família escancarado para todos verem. É um vexame a céu aberto. E ele escala como você nunca viu em suas festas de fim de ano com os cunhados que gostam de falar de política junto das piadas de pavê.


# Mr. Bean

Caloni, 2020-09-29 cinema series [up] [copy]

Apesar das ideias e piadas ultrapassadas, o que não acometeu o experimental Monty Python, por exemplo, essa série britânica dos anos 90 brilha mais pelo humor físico de seu protagonista, Mr. Bean, que brinca de referenciar as piadas internas sobre os comportamentos condenáveis de um britânico. Bean faz um Chaplin da Rainha com um timing e expressões admiráveis. Figura no imaginário popular até hoje, mais até que Jim Carrey. É difícil lembrar de como Carrey era bom no humor físico porque suas piadas eram muito boas. É fácil lembrar de Mr. Bean porque sendo as piadas medíocres o ator tinha todo o palco para ele. E brilhava.


# Parks and Recreation

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Já vi episódios espalhados dessa série em alguns momentos nos últimos dez anos. A primeira ou segunda temporada já concluí com certeza. Mas ainda estou incerto se vale a pena assistir até o final, assim como The Office, embora este arrisque um pouco mais nos perder (uma coisa boa em séries e filmes que geralmente é menosprezado). Amy Poehler é tudo de bom, mas os personagens secundários empalidecem. Inexplicável como alguns deles se deram bem no show business, seja como comediante de standup e série netflixiana ou como heróis de sagas multimilionárias. Já a série é uma comédia leve para passar o tempo e pensar em como o governo ser inútil não é uma questão de opinião, mas de tempo.


# Seinfeld

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Seinfeld é um comediante nerd: passou boa parte de sua carreira atrás dos holofotes criando piadas diariamente e catalogando sua estreia na TV. Já nele ele encaixa boa parte delas em episódios que misturam sua vida como o personagem do comediante de standup. Ou estou confundindo com o modelo de Louie, que é infinitamente melhor? Ele não é ator, está longe de ser, e a série é de improviso. Funciona médio, mas se tornou cult, assim como Friends, ou qualquer série que você assista demais e simpatize com aquelas pessoas como velhos amigos de sofá. Hoje é uma curiosidade.


# The Boys

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Quando você assiste uma série com quase uma hora o episódio você espera o mínimo de profundidade. Mas todos moram na mesma vizinhança em The Boys, e isso me entedia em uma série com heróis inseridos em uma realidade Watchmen em uma fase mais trumpiana, menos pesada que Nixon (ou como Watchmen entendia esse período da história americana). O cinismo e mal-caratismo também faz parte do pacote do que significa ser um herói nesta realidade, que envolve ser uma celebridade acima de tudo, mas por detrás das câmeras um político. Quando um deles mata uma cidadã inocente por estar passando em velocidade super-sônica isso desencadeia a aparição de todos os personagens que veremos na série, que se conectam logo no primeiro episódio, como deve ser, mas de maneira preguiçosa, como só o streaming faz por você. Porque todos moram na mesma rua e podem se encontrar casualmente no Personal Central Park da vizinhança. Até Homem-Aranha e sua Nova-York bairrista soa mais realista. Não sei, estou rimando hoje.


# The Feed

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Um thriller futurista meio dark. O mistério no ar no primeiro episódio não é tão eficiente para querermos ver mais, e o universo concebido para a trama minimalista. O conceito, no entanto, é curioso. Ainda que pouco explorado. Um elenco britânico misturado com outras etnias são um plus, mas não convence. Nem os atores negros, claramente escalados por cotas de diversidade (mas competentes, só que sem função na narrativa). Todas as ideias que constrõem as teorias do mundo conspiratório de hoje traduzidas nesse conceito de mentes conectadas. Daria um bom episódio de Black Mirror, mas não uma série inteira.


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