Já havia estudado este final há muito tempo e nem lembrava mais. Ter empatada uma partida porque não consegui dar mate forçado com bispo e cavalo é o que me fez rever o estudo. Assisti alguns vídeos e pratiquei com alguns estudos no Lichess. Por fim, me pus a jogar com o computador até entender a dinâmica de cercar o rei e realizar o movimento de W com o cavalo. Eu sei que ainda terão partidas que me sentirei acuado por conta do tempo, mas é bom agora voltar a ter o mínimo de arcabouço lógico por trás desse fascinante e difícil final. Tão difícil que até GMs não conseguem aplicar às vezes.
# A Banda
Caloni, 2020-09-06 <cinema> <movies> [up] [copy]Estão todos juntos porque o uniforme é o mesmo, mas seus espíritos vagam em diferentes sentidos, entre a fantasia de estar perdido em país estrangeiro e o desespero de ter que viver tudo aquilo com seus colegas. Porque, sabe como é, estão todos com o mesmo uniforme, mas não quer dizer na mesma página da partitura.
A Banda pode ser uma metáfora sobre a vida, ou pelo menos é isso que o espectador pode pensar, já que não há nada mais para pensar e os poucos diálogos apenas tentam compor a comédia de situações do choque de culturas: estrangeiros vestidos com extravagância deslocada observando a vida local e os locais em um misto entre alienação e nostalgia. Todos pararam no tempo neste filme.
Não há formas verbais de expressar o que é visto, especialmente porque não há nada a dizer. A pessoa que o concebeu, Eran Kolirin, um judeu, usa as atuações pontuais a dedo. Aquele momento que a judia de meia-idade encontra um homem maduro e viúvo e ambos não conseguem se conectar. Aquele embaraço dos mais jovens em não conseguir dar os primeiros passos em direção ao acasalamento juvenil. Tudo é motivo para exageros no filme, e chega um momento em que o exagero cansa e passamos a prestar atenção nos seres humanos por trás da comédia da vida.
# Houve uma Vez Dois Verões
Caloni, 2020-09-06 <cinema> <movies> [up] [copy]Meninas virgens costumam ter o que vulgarmente se conhece como "amor de pica", que é quando ela não consegue largar o garoto que a desvirginou; para o resto de sua vida. Trágico. Em contrapartida, Houve Uma Vez Dois Verões parte da história de um menino virgem que tem uma única noite com a garota perfeita, jogadora de fliperama, e desenvolve o que chamaríamos por tabela, e também vulgarmente, de "amor de xana".
André Arteche é Chico, um adolescente comum que com seu amigo procuram oportunidades para transar em qualquer lugar e situação para sair do ponto de partida. Apesar de passarem as férias na maior praia por extensão do mundo, no Sul do Brasil, para economizar seus pais fazem a viagem em baixa temporada, e o que vemos é uma praia maior ainda, quase abandonada, e com nenhuma menina interessante à vista.
Mas a sorte de Chico muda com a aparição milagrosa de Roza (com Z mesmo), encarnada pela paradisíaca Ana Maria Mainieri (ou paradisíaca vista por adolescentes espinhudos, pelo menos). Ambos irão viver uma trama de mentiras e joguinhos que tanto faz sucesso nas comroms.
Os diálogos descompromissados do cineasta Jorge Furtado, o mesmo de Meu Tio Matou um Cara, valem o filme, e seus elenco, apesar de amador, é filmado em uma edição vibrante, que se solta do teatral por ser dinâmico. É ágil, de cortes elegantes e decupagem primordial em uma produção de baixo orçamento.
O resultado é uma divertida comédia adolescente, despretensiosa e esquecível. Há algumas tiradas difíceis de esquecer, principalmente porque nunca mais serão permitidas ("hoje eu como até gorda"). Vem de um universo inocente, menos politizado, onde nem tudo precisa ser desconstruído, discutido, debatido. É bom para esquecer a derrocada da sociedade que vivemos.
# Uma Doce Mentira
Caloni, 2020-09-06 <cinema> <movies> [up] [copy]Vivemos em tempos cínicos e desprovido de leveza. São tempos em que quando alguém encontra doces palavras de amor em letra de mão endereçadas a você o primeiro pensamento é que só pode ser obra de um velho tarado.
Essa comédia romântica se disfarça de drama. É o começo do fim da excelência francesa em fazer rir das situações do dia-a-dia. Audrey Tautou é a queridinha da França para o Mundo e tenta não repetir papéis e sai um pouco dos eixos. Aqui vive essa empresária e filha maquiavélica, que tenta consertar sua relação com a depressiva mãe, destruindo corações no processo; incluindo o seu próprio. E tudo isso é para nos fazer rir.
Todas as pessoas nesse filme acabam se tornando versões piores de si mesmas. Uma história cheia de detalhes como essa e com pouco jeito em conciliar as mudanças de humor e tom, Uma Doce Mentira é um vai e vem que perde a importância pela fricção exagerada de seus temas. Sem calibrar a humanidade em seus personagens o filme patina quase caindo em torno da pista formulaica de como deve ser uma comédia romântica francesa. Infelizmente os tempos são outros e se trata de uma produção tão hollywoodiana quanto as piores comroms da década de 90. Não nos apaixonamos em nenhum momento pelo seu discurso, e quando as pessoas ficam encrencadas... bom, cada um com seus problemas.
# O Livro de Cabeceira
Caloni, 2020-09-07 <cinema> <movies> [up] [copy]Esta adaptação do texto clássico japonês recebe o tratamento experimental do diretor Peter Greenaway, o que quer dizer que durante quase todo filme você vai se sentir dentro de uma daquelas salinhas de museu de arte moderna vendo um vídeo conceitual. Infelizmente este vídeo tem duas horas de duração.
Como todo filme de arte este possui nudez explícita e real de seu elenco, sem nenhum objetivo claro exceto criar uma atmosfera fantástica onde os funcionários de um excêntrico editor de livros não ligam em receber a visita de homens pelados. E são homens apenas. A única mulher é a protagonista, interpretada por Vivian Wu, que já fez parte do elenco de outro filme do diretor, o igualmente "enigmático" Oito e Meia Mulheres.
A montagem em paralelo de uma tela secundária e o movimento dos personagens de um lado para o outro do cenário tem o objetivo de dizer qual cineasta é responsável por esta obra. Greenaway recebeu atenção demais dos seus pares em sua época. Ele sofreu dos sintomas da roupa invisível do rei, pois não se pode criticar um artista pelo troço que ele fez. Ou como diriam seus pares: por ser um artista.
Não criticarei, portanto. Até porque não é nada demais.
# História do Windows
Caloni, 2020-09-16 <lists> [up] [copy]Escrevi esta lista de artigos sobre a evolução do sistema operacional Windows há muitos anos, mas eles nunca estiveram juntos em um post que é uma lista. Bom, segue:
# Estou Pensando em Acabar com Tudo
Caloni, 2020-09-18 <cinema> <movies> [up] [copy]Eu sei como você se sente, Kaufman. Eu sei. E não vai passar. O novo filme dirigido e escrito por Charlie transpõe para a tela o ritmo exato de declínio da sociedade contemporânea. A maior prova disso é que ninguém vai entender. Irão buscar vídeos explicativos de seus gurus favoritos que lhe digam o que pensar. Mas não é apenas a sociedade que este longo e tortuoso filme espelha: também espelha seu idealizador, Charlie Kaufman.
Quando digo isso me refiro à filmografia do sujeito, principalmente os roteiros. Existenciais e profundos, a preocupação de definir interações humanas em um mundo cercado de egocêntricos é latente. E após Sinédoque, por exemplo, conseguimos entender que o caminho que o cineasta percorre é sem volta. Sem mais o que dizer, só resta ao criador permanecer calado, afirmar o vazio e comentar auto-referências.
Charlie se sente tão confortável discorrendo sobre o vazio, principalmente sobre o que não aconteceu e sobre o estado de mediocridade dos narcisos, que é quase fascinante. Ele é um Woody Allen maquiavélico e sem paixão. Seu estilo pelo estilo invade a tela, e você sabe quando está vendo uma obra escrita ou adaptada quando surgem desnecessárias confusões, as mesmas que entregam o ouro em seus filmes. Aí seu lado humano prevalece. Ele está interessado em nossa natureza, talvez dele próprio, e usa o particular para atingir o universal. Por isso, apesar da jornada dos personagens ser irrelevante comparada aos grandes temas, não é o tema nem a história que fascinam, mas a textura do universo onde tudo se passa.
Aqui ele narra os últimos momentos da vida de um zelador que se imagina apresentando a namorada que ele próprio desconhece para seus agora inexistentes pais. Ele imagina esse encontro do ponto de vista da garota, que é narradora e protagonista. Jake mistura épocas e passagens de sua vida, elementos que constituíram quem ele se tornou, e acabou se tornando por tempo demais. Agora que está no fim ele está preso na inevitabilidade de viver o que não foi, e seu grande desafio, o grande desafio deste filme, e para todos nós, até certo ponto, é conviver com nós mesmos depois de tudo o que não foi conquistado, o que não foi vivido. Quando o agora é tarde demais.
A forma de Kaufman é o que traz o sabor a filmes como esse. Seu lado surrealista transforma todas as cenas em momentos de reflexão sobre qualquer coisa que não seja um estudo de personagem. Porque não é. Kaufman está mais interessado em ser tão particular que acaba universalizando sua mensagem. Ele sequer se lembra que existem personagens em suas histórias. Às vezes, como em Adaptação, ele mesmo se recicla em uma delas. Em outros, como Anomalisa, ele enxerga através dos meros bonecos de carne que fundamentalmente somos.
Há tanto por dizer e refletir que é como se o filme inteiro fosse relevante e ao mesmo tempo parte nenhuma dele. É a sensação que fica no ar. Não são detalhes, por mais geniais que sejam. Este é um Kaufman surpreendentemente mais humilde em suas pretensões. Quanto mais genial ele se torna menos convicto está de que é capaz de escrever estas pérolas que anda escrevendo já faz décadas.
Como consequência, insere referências que o tornam menor frente às telas. Em uma piada tão espirituosa quanto acidental, um filme dentro do filme, uma comédia romântica piegas, se revela como dirigido por ninguém menos que Robert Zemeckis. Ao encontrar em cena um discurso sobre uma vida inteira, Kaufman usa nada menos que o diálogo mais icônico dos anos 90, direto da boca de John Nash de Uma Mente Brilhante. E, incerto de suas capacidades, ele nos dá a exata noção de pequenez quando "ele próprio" de certa forma se diminiu, ou se coloca em seu devido lugar, ao inserir um longo monólogo vindo de uma análise da crítica de cinema mais brilhante de todos os tempos, Pauline Kael. O cineasta não está atacando a figura do crítico como muitos fazem. Seria banal demais para seus objetivos. Pelo contrário: ele sempre a admirou, e cresceu a lendo, como muitos de nós. E como todos nós, ele sabe que Kael foi muito mais esperta.
Soando interpretativo, a mensagem de Estou Pensando em Acabar com Tudo é óbvia demais para ficarmos apenas nesses joguinhos. Jake não consegue o que tanto deseja nem em seus próprios pensamentos. E ele não está sozinho. Quantos de nós está em completo descontrole emocional, reagindo instintivamente à rotina diária, presos à situação do momento, nos conformando com o breve e aconchegante calor depositado em nossas costas por um sol indiferente à vida quando saímos de uma sombra em direção à próxima. Todos nós sabemos que o destino de cada um é em direção à maior sombra de todas, da qual nunca mais vamos voltar. Estarmos gratos pelo sol fazer o que sequer controlamos é um dos mecanismos da natureza que nos assombra pela poesia e pelo horror que o caos representa.
E que vida é essa no pós-moderno em que nada faz sentido a não ser que nós mesmos arregacemos as mangas para embutir significado? E este significado nem foi nossa decisão, mas nosso cérebro trabalhando em segundo plano enquanto tentamos viver mais um dia.
Apesar do casal principal filosofar muito você pode ignorar e prestar atenção aos meros detalhes de quem é Lucy, ou nunca foi, e como ela pula entre profissões, e como ela nunca está completa. E como Jake, apesar de estar na direção de seu carro e levar sua namorada pela nevasca, é incapaz de pedir um sorvete, com medo dos fantasmas do passado. E o passado se aproxima cada vez mais quando o futuro fica menor.
Todos os mistérios cercando a história principal, a interpretação final da adaptação da obra literária homônima do escritor estreante Iain Reid, são contornos que nós mesmos às vezes fazemos para evitar enxergar a verdade bem na frente de nossos olhos. E quando nem isso funciona, bem, você tem essa interpretação maravilhosa, caricatural e ao mesmo tempo fascinante de Toni Collete, sendo a mãe caipira que não consegue esconder o quão inatingível ela foi para o filho, e como a visão dele sobre ela tenta esconder atrás do orgulho o desespero de ter parido um filho extremamente limitado. Seu maior orgulho, uma medalha ou troféu por algo pequeno em sua juventude, é ao que ela mais se segura. E o ritmo meticulosamente irregular de sua estranha risada junto dos movimentos com a cabeça para trás e os olhos piscando e se revirando é um misto de descontrole involuntário nas mãos de uma das maiores atrizes da atualizade, onde até uma caricatura desperta a reflexão.
Kaufman anda se soltando cada vez mais em sua estrutura. Este é o seu filme mais frouxo de longe, e com certeza o menos empolgante. Todo o seu tom intimista e deprimente nos faz sentir mal, mas não pelas pessoas na tela, mas por nós mesmos. Por quais caminhos miseráveis a humanidade avança quando os índices de depressão, suicídio e ansiedade sobem, enquanto nossa maior preocupação é qual termo politicamente correto devemos adotar para não ferir os ouvidos dos que não estão presentes. Que final miserável para uma sociedade tão próspera, não conseguir agarrar o significado que nos faz agir todos os dias, e lamentar pelo passado inevitável que nos conduz ao futuro repetido. E não adianta nada elogiar aquele poeta ou aquela crítica de cinema se não conseguirmos enxergar além para onde devemos ir a partir de onde os que nos precedem chegaram. Este parece ser mesmo o fim da linha. Nos contentamos com uma lambida em um sorvete imaginário no meio de uma nevasca inevitavelmente real e próxima.
# Adú
Caloni, 2020-09-26 <cinemaqui> <cinema> <movies> [up] [copy]Adú mistura temas totalmente não-relacionados e ainda espera que o espectador imagine estar vendo um novo Babel, 21 Gramas ou Traffic, onde o drama dos personagens se cruzam e no final vira aquela mensagem de "estamos todos conectados". Infelizmente o máximo que ele consegue é nos fazer ver como o roteiro é mal feito.
A história gira em torno de personagens que irão se encontrar direta ou indiretamente com a figura de Adú, uma criança de uma pequena vila em um pequeno país na África que começa sua jornada de refugiado precoce quando sua família vira vítima de uma máfia local caçadora de elefantes. Ele e a irmã, ambos crianças, perdem a bicicleta próximo do local de abate de um desses elefantes e automaticamente já sabem que os homens maus veem matar sua mãe. Mas eles já têm um plano de fuga. Que família preparada.
Enquanto isso, em algum outro lugar que nunca sabemos onde é porque não estudamos geografia local de ex-colônias africanas, um homem trabalha em uma ONG salvando elefantes. Ele tem dinheiro de sobra e foi para a África se distanciar de sua família e se eximir de sua culpa branca, tentando salvar elefantes dos próprios moradores locais. Quando ele encontra o mesmo elefante recém-abatido o líder da equipe local sugere usar a carne para alimentar os moradores da vila, mas o homem branco tem algum princípio que impede que seja aplacada a fome com uma fatalidade que é irreversível.
A filha do homem branco se reencontra com ele para passarem algumas semanas se odiando de perto. Ela o desaponta porque é jovem e curte suas noitadas de balada usando algum alucinógeno e fazendo sexo com estranhos. O homem branco esperava que ela tomasse chá com ele para os dois curtirem a companhia um do outro na sala de estar e fossem dormir às 20h. Ela não faz isso e é uma tragédia.
Mas, voltando à história: por que o cara do elefante está no filme? Eu não sei, nem o diretor, nem o roteirista. Vamos fingir que este é um "tipo Babel", onde as vidas estão conectadas. E tudo conectado vai se revelar no final, não é mesmo. Não. Sinto desapontá-lo com um pequeno spoiler: não vai.
O tema principal é obviamente sobre refugiados, mas que filme hoje não é? Em uma das inúmeras fronteiras que vemos e nunca sabemos onde é os guardas vivem a tensão de todos os dias terem que protegê-la com o risco de serem processados pelos direitos humanos se encostarem em algum invasor. A imprensa nunca está presente nessas horas, apenas no dia seguinte para coletar o press-release do próximo julgamento desses ratos fardados. "A PM tem que acabar", já imagino essa frase pichada no muro africano.
Passamos por Camarões, Congo e talvez um ou outro país. Parece tudo a mesma coisa, mesmo com legenda. O filme devia vir com um mapinha, mas não ia servir pra muita coisa, pois em cada momento que a legenda sobe não importa onde os personagens estão. Eles nunca se encontram, nem fisicamente ou espiritualmente.
No final tragicômico o pai e a filha brancos do primeiro mundo roubam a bicicleta das crianças do quarto mundo e aprendemos que tentar viajar nas asas de um avião pode te matar congelado. A não ser que você seja o protagonista. Aí mesmo com uma cena sem sentido algum você sobrevive.
Adú é isso aí. Ah, e tem música triste de separação no final. O garoto, interpretado com coesão, mas sem paixão, por Moustapha Oumarou, faz amizade com um jovem que deve morrer ou ser refugiado para sempre. Ele está com a imunidade muito baixa, mas atravessa o mar de boia mesmo assim.
Por falar em atuação, a irmã de Adú, Alika, é interpretada por Zayiddiya Dissou com uma cara mais dura e gera uma melhor impressão de quem está fugindo de sua terra e arriscando a vida. Dissou pode ser uma aposta para o futuro, embora neste filme é improvável que o elenco consiga brilhar em meio ao caos narrativo.
O diretor e idealizador do projeto, Salvador Calvo, foi voluntário da CEAR (Comissão Espanhola de Ajuda aos Refugiados) e neste filme compila uma miscelânea de história que colecionou dessa época. Por exemplo o do menino de seis anos que era levado em uma viagem como parte de uma família, mas era mais uma vítima de uma rede de tráfico de órgãos, ou um adolescente somaliano que era abusado pelo tio e ao tentar fugir virou escravo. Quando finalmente ele conseguiu escapar em Marrocos faleceu, vítima de AIDS.
Esses dois exemplos são poderosos porque possuem todas as nuances de um drama real. "Adú" é um compilado feito para dramatizar sem substância. Retira-se o filtro cinematográfico e a música triste e o que sobra é uma novela vitimizando refugiados e mostrando como estar próximo de tragédias da região não o torna um expert em geopolítica.
# Os Infiéis
Caloni, 2020-09-26 <cinemaqui> <cinema> <movies> [up] [copy]Os Infiéis captura tão bem a essência das traições do ponto de vista dos homens que deverá acabar sendo mal visto por todos que o assistirem, mesmo que gostem. Desculpem, é a lei. Hoje em dia não dá pra gostar de filmes com muita verdade. Sujeito a multa.
Com uma hora e meia que passa voando, essa série de curtas protagonizados pelo mesmo elenco em diferentes papéis já tinha sido tentado em um filme de 2012 estrelando Jean Dujardin (nos créditos consta como "levemente inspirado" neste). A mensagem é que homens são mais do mesmo. No final até mulheres são, se você bobear. Os homens vão dominar o mundo ainda. Espera só essa onda de femismo acabar.
As piadas não funcionam tão bem quanto as análises instantânea da natureza humana, percorrendo cada afiado diálogo. Você entende que tudo aquilo é um exagero de atuações sobre a eterna guerra dos sexos, mas é tão familiar que parece um documentário.
E por que as mulheres se preocupam tanto com a fidelidade dos seus machos? Às vezes fica difícil acompanhar os malabarismos da lógica femista do novo século. Somos independentes, mas não nos machuque nem compartilhe nosso patrimônio com outra mulher.
Pera. Nosso?
Depois de assistido, você irá se lembrar mais do episódio no hotel, porque ele é ágil, verdadeiro e tragicômico na medida certa. A direção de Stefano Mordini flui durante todo o filme, mas nesses minutos seu poder de compactação atinge o máximo. A história beira o surreal, mas todos entendemos o que está nas entrelinhas vermelhas. O macho alfa não pede muitas desculpas e a mulher fica com cara de tonta. A enganada. Mas o que passa despercebido é que o homem não está nem aí que a mulher curta também seus momentos de prazer terceirizado.
Como deveria ser, aliás.
# Vidas que se Encontram
Caloni, 2020-09-26 <cinemaqui> <cinema> <movies> [up] [copy]Este filme barato desafia o status quo. A família é caucasiana. Suas relações são heteronormativas. Seu status social é classe média. É um filme espiritual, mas sem apelar para religião. Não existe uma corporação vilã. Há pessoas bondosas e maldosas, e não é possível acertar quem é quem baseado em estereótipos. Seus diálogos são diretos, tediosos. Não há espaço para interpretação. Não há cinismo. E é tudo isso que o torna adorável.
Em tempos onde as pessoas não aguentam mais pandemia, violência nas ruas, críticas a formas tradicionais de família, à cultura predominante e ao estilo de vida dos que construíram a sociedade próspera que vivemos, assistir a um filme tão simples e direto é um deleite para os olhos. É um descanso do streaming irritante, da TV aberta odiosa e das notícias ignorantes mundo afora.
Sua história é de um pai de família de meia-idade que desenvolve Alzheimer precoce e como isso impacta sua família, mas sua mensagem é sobre os encontros casuais entre estranhos que podem renovar nossa esperança na humanidade. Sem exagero.
O elenco não é nada de mais, assim como seu roteiro, direção, produção. Rob Diamond é a pessoa por trás do filme. Acostumado a produzir filmes modestos que vão direto para Home Video, este provavelmente é mais um deles. Poucas pessoas o verão, pois quando os cinemas abrirem estarão abarrotados dos mais dos mesmos sobre as injustiças do mundo pós-moderno e outras ninharias pelas quais as pessoas se esbofeteiam nas ruas e nas festas de família.
Me surpreende como é tratada a espiritualidade. Acostumados a ver fanáticos religiosos bancando produções onde exaltam o seu deus, o seu ódio, e lançam um hit de música gospel, é de cair o queixo a simplicidade como Deus está presente nos momentos-chave da história, em que ele é necessário para entender como o mundo funciona. Notamos sua necessidade para as provações da vida, mas nem por isso quando Ele é citado se torna panfleto publicitário. E esta singela inserção é muito mais rica e eficiente; e muito menos chata do que um hit gospel.
É encantador também como este filme nunca se rende às manipulações baratas. E bastava uma para ele se tornar horrível. E assim como as tentações que Cristo passou no mundo, este filme não cai em nenhuma delas. E ainda assim é piegas como poucos filmes caseiros conseguem ser. Sua breguice é tão transparente que fica difícil não gostar, porque é muita honestidade e inocência juntas. Note os diálogos. Nenhum é inspirador. São todos mundanos e antinaturais. São feitos para filme. É quase tão fake quanto The Room, o clássico de Tommy Wiseau, com a diferença que há uma estrutura mínima para entendermos que ele não é trash. É apenas bem medíocre.
Os desafios dessas pessoas de classe média são hilários. A esposa precisará voltar a trabalhar ou morar em uma casa menor, de 150 mil dólares. Um barraco, praticamente. O filho metido em drogas tem uma tornozeleira em prisão domiciliar e não consegue evitar ser o inútil da família, assim como seu cunhado. As mulheres são praticamente invisíveis na história, e os vizinhos parecem viver nos lúdicos anos 80, andando de bicicleta pelo bairro fazendo sua boa ação do dia.
É difícil entender como algo tão banal se torna tão agradável. O segredo está em que o banal é raro hoje em dia. Se não há nada de absurdo ou fantástico na trama nos acostumamos a deixar de lado. Se não existe hype ninguém irá comentar. Então não vale a pena assistir. É a audiência das redes sociais. Elas precisam ver o top 10 da Netflix ou serão vistas como alienadas digitais. O irônico é que não há nada mais alienante que ver o que todo mundo vê.
E apenas alguns verão o que realmente importa. E será delas o reino dos céus.
# Flow: The Psychology of Optimal Experience (Mihaly Csikszentmihalyi, 1990)
Caloni, 2020-09-27 <books> <self> <flow> drafts> [up] [copy]Este é um dos livros mais importantes que já li e acredito que pode ser muito importante para você também. Por isso quero dedicar algumas linhas para argumentar por que você deve lê-lo, ainda que ele seja denso demais para a maioria das pessoas.
"Rather than presenting a list of dos and don'ts, this book intends to be a voyage through the realms of the mind, charted with the tools of science. Like all adventures worth having it will not be an easy one. Without some intellectual effort, a commitment to reflect and think hard about your own experience, you will not gain much from what follows."
Baseado na pesquisa científica conduzida nos anos 90 pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, o intuito era descobrir o que torna as pessoas felizes. Os resultados são descritos em uma explicação densa, mas completa. Muitas vezes quase inalcançável. Há tantas notas de rodapé que elas constituem um grande capítulo à parte no final, nos direcionando de maneira enfática para outras obras onde cada pequeno detalhe se abre em mais e mais abas do navegador. Nada mais justo, pois a busca pela felicidade é tema desde sempre para toda a humanidade. Portanto, há muito material prévio. Para ter uma ideia, a viagem começa por Aristóteles e seu "eudaimonia" (como viver a boa vida).
Começar pelo filósofo grego é uma boa ideia, pois o que Csikszentmihalyi gostaria, além talvez que soubessem soletrar seu nome corretamente, é que através dos inúmeros exemplos de vida das pessoas em sua pesquisa conseguíssemos extrair maneiras de viver a vida como ela deve ser vivida. Um desafio e tanto, ainda mais hoje em dia, em que há tantas dúvidas sobre nosso lugar no mundo, e é necessário jogar todas as ideologias na lata de lixo para conseguirmos progredir em vez de ficarmos estáticos, impotentes, vendo o mundo pegar fogo como a antiga Roma.
Os melhores exemplos coletados são ricos, inspiradores, mas não para simples imitação. Este não é um livro da série "como ficar rico" ou "como ser feliz" com uma fórmula mágica a ser seguida. Mihaly tira tudo que poderia ser interpretado como uma receita de bolo e vai fundo na análise objetiva dos motivos pelos quais trabalhadores braçais de fábricas de Chicago, fazendeiros dos confins da Ásia, enxadristas e escaladores profissionais descrevem todos, quase da mesma forma, as atividades que fazem a vida valer a pena. Sim, tarefas tão díspares entre si possuem a mesma conclusão para este grupo diverso e que aprendeu a viver cada um à sua maneira.
A problemática da complexidade do livro para a maioria dos leitores é que ele vai fundo demais, analisando a relação do indivíduo com a sociedade onde vive e com sua própria biologia. O autor primeiro se esforça para definir o que é consciência da maneira mais científica, sucinta e brilhante que você verá em um texto com esse rigor, e a partir disso ele analisa como nós podemos nos aproveitar de seu funcionamento para tirar o máximo possível dessa experiência mágica que é estar vivo.
O próprio ato de ler este livro já se torna fruto de momentos inesquecíveis de prazer. E o motivo é porque entendê-lo é um desafio à altura. Não é fácil, mas nem difícil demais. O leitor médio e leigo pode alcançar a compreensão, e é justamente a dificuldade em entendê-lo que o faz ter valor, e ao ter valor nos sentimos recompensados pela atividade de decifrar este enigma proposto no livro.
Sobre a consciência, ele revela seus limites usando métricas de processamento de dados, como quantos bits de informação nossa mente focada é capaz de processar por segundo, e por que, seguindo essa métrica, concluímos que é impossível prestar atenção, por exemplo, em quatro pessoas falando ao mesmo tempo.
The autotelic self transforms potentially entropic experience into flow. Therefore the rules for developing such a self are simple, and they derive directly from the flow model. Briefly, they can be summarized as follows:
1. Setting goals.
2. Becoming immersed in the activity.
3. Paying attention to what is happening.
4. Learning to enjoy immediate experience.
Com essa definição objetiva o livro reduz nossa percepção de mundo através dessa janela que chamamos de consciência para em seguida mostrar como é ela que define nossa realidade de fato, e não o mundo exterior. E isso é vital para entendermos porque não importa de fato qual atividade desempenhamos, mas como nossa consciência a interpreta.
A teoria de flow apresentada no livro diz respeito em como podemos manipular nossa visão de mundo para extrairmos o nosso melhor, sendo melhor relativo ao objetivo que cada um deseja experienciar. No entanto, atingir esse estado de espírito ótimo não é relativo. Contrário ao relativismo de nosso mundo o livro afirma, com base na ciência, haver de fato atividades mais prazeirosas e significativas que outras, ou melhor dizendo, há formas de conduzir essas atividades de maneira a atingir seu máximo de aproveitamento, satisfação, prazer e o mais importante de todos: significado.
autotelic self transforms potentially entropic experience into flow.
the rules for developing such a self
Setting goals.
Becoming immersed
Paying attention
Learning to enjoy
"Everything we experience
is represented in the mind as information. If we are able to control this information, we can decide what our lives will be like."
chaos has a different meaning in psychology and the other human sciences, because if human goals and desires are taken as the starting point, there is irreconcilable disorder in the cosmos."
civilization is built on the repression of individual desires.
The essence of socialization is to make people dependent on social controls, to have them respond predictably to rewards and punishments.
A person who cannot override genetic instructions when necessary is always vulnerable. Instead of deciding how to act in terms of personal goals, he has to surrender to the things that his body has been programmed (or misprogrammed) to do.
"Attention shapes the self, and is in turn shaped by it."
"A new piece of information will either create disorder in consciousness, by getting us all worked up to face the threat, or it will reinforce our goals, thereby freeing up psychic energy."
To gain personal control over the quality of experience, however, one needs to learn how to build enjoyment into what happens day in, day out."
"Enjoyable events occur when a person has not only met some prior expectation or satisfied a need or a desire but also gone beyond what he or she has been programmed to do and achieved something unexpected, perhaps something even unimagined before."
the phenomenology of enjoyment has eight major components.
we confront tasks we have a chance of completing.
we must be able to concentrate
the task undertaken has clear goals
provides immediate feedback.
deep but effortless involvement
exercise a sense of control
concern for the self disappears,
the sense of the duration of time is altered;
any kind of feedback can be enjoyable, provided it is logically related to a goal
allow the practitioner to develop sufficient skills
the sense of exercising control in difficult situations."
"Preoccupation with the self consumes psychic energy because in everyday life we often feel threatened.
forget temporarily who we are seems to be very enjoyable.
a chance to expand the concept of who we are
can lead to self-transcendence,
part of a system of action greater than what the individual self had been before.
its form from the rules of the activity; its energy comes from the person's attention.
expands its boundaries and becomes more complex than what it had been."
When experience is intrinsically rewarding life is justified in the present,
religion is actually the oldest and most ambitious attempt to create order
channeling of attention to a limited set of goals and means is what allows effortless action within self-created boundaries."
anomie corresponds to anxiety, while alienation corresponds to boredom."
be indifferent to myself and my deficiencies
center my attention increasingly upon external objects:
how to build for oneself an autotelic personality."
the easiest step toward improving the quality of life consists in simply learning to control the body and its senses."
essential steps in this process
set an overall goal
find ways of measuring progress
concentrating on what one is doing,
develop the skills necessary
keep raising the stakes
"The challenges of the activity are what force us to concentrate."
require few material resources, but they demand a relatively high investment of psychic energy.
external resources, however, often requires less attention, and as a consequence it generally provides less memorable rewards."
integrated cells and organs that make up the human organism are an instrument that allows us to get in touch with the rest of the universe.
whenever we use its sensing devices they produce a positive sensation, and the whole organism resonates in harmony."
The obvious phrases we exchange with each other, the trivial talk dribbling from radios and TV sets, reassure us that everything is all right, that the usual conditions of existence prevail."
It is the slow, organically growing process of thought involved in writing that lets the ideas emerge in the first place."
personally taking control of the direction of learning from the very first steps
a social situation has the potential to be transformed by redefining its rules."
We need external goals, external stimulation, external feedback to keep attention directed.
pain is better than the chaos
"The way to grow while enjoying life is to create a higher form of order out of the entropy
Getting married requires a radical and permanent reorientation of attentional habits."
primary goals emerge from experience evaluated in consciousness,
one can enjoy life even when objective circumstances are brutish and nasty."
Commitment to a goal and to the rules it entails is much easier when the choices are few and clear."
a capacidade de apreciar momento a momento tudo o que fazemos,
a capacidade de a todo momento encontrar recompensas nos eventos.
a atenção que seleciona os bits de informação relevantes dentre os milhões de bits potenciais
permanecer alheia às distrações e concentrar-se pelo tempo que for necessário,
A atenção é como uma energia,
A atenção modela o self e é por sua vez modelada por ele.
o self representa a hierarquia de metas que construímos,
Em flow, estamos constantemente no controle de nossa energia psíquica
escolhemos uma meta e nos empenhamos nela no limite de nossa concentração,
A fruição surge na fronteira entre o tédio e a ansiedade,
extrai sua forma das regras da atividade, e sua energia deriva da atenção pessoal.
O elemento principal de uma experiência ótima é que ela é um fim em si.
o estado normal da mente é o caos.
Pessoas sem um sistema simbólico internalizado podem ficar cativas da mídia.
a qualidade de vida depende de dois fatores: como percebemos o trabalho e nossas relações com outras pessoas.
as relações humanas são maleáveis, e se uma pessoa tem as habilidades adequadas, suas regras podem ser transformadas.
Necessitamos de metas, estímulo e feedback externos para manter a atenção direcionada.
definir uma meta, concentrar a energia psíquica, prestar atenção no feedback e assegurar que o desafio seja adequado à habilidade.
transformar uma situação desesperadora em uma nova atividade de flow
traduz ameaças potenciais em desafios que podemos apreciar,
metas primárias emergem da experiência avaliada na consciência
transforma a experiência potencialmente entrópica em flow.
As mesmas armadilhas ameaçam qualquer um que participe de um sistema complexo: para permanecer nele, deve-se continuar a investir energia psíquica.
um self autotélico implica capacidade de envolvimento contínuo.
controle da mente significa que literalmente qualquer coisa pode ser fonte de satisfação.
Propósito, resolução e harmonia unificam a vida e dão significado a ela,
consequência inevitável das escolhas igualmente atraentes é a incerteza de propósito;
incerteza, por sua vez, sabota a determinação,
falta de determinação acaba desvalorizando a escolha.
começa a sofrer os efeitos da entropia. Assim, para extrair significado de um sistema de crenças, a pessoa deve primeiro comparar as informações contidas nela com sua experiência concreta, então guardar para si o que faz sentido e rejeitar o resto.
# Festa de Família
Caloni, 2020-09-29 <cinema> <movies> [up] [copy]O Dogma 95 foi um movimento iniciado por diretores escandinavos como Lars von Trier (conhecido fã de Hitler e seu trabalho) que "prega" que um filme para fazer parte do Dogma deve seguir uma série de limitações em sua produção, como ausência de sons inseridos, a câmera deve acompanhar os atores onde eles forem (então ausência de iluminação artificial também). Ausência de qualquer peça de cenário que já não fizesse parte da locação. A lista é bem extensa e torna a tarefa do diretor mais desafiadora e interessante.
E por isso que este representante do Dogma 95 até que é bem feito, o que faz pensar se não estamos saturados de efeitos no cinema que nos impedem de ver a coisa real. A edição, os diálogos e o movimento da câmera fazem todo o serviço de não sentirmos falta de ver algum filtro específico para dramas familiares. E neste filme o que mais pesa é o seu drama de família escancarado para todos verem. É um vexame a céu aberto. E ele escala como você nunca viu em suas festas de fim de ano com os cunhados que gostam de falar de política junto das piadas de pavê.
# Mr. Bean
Caloni, 2020-09-29 <cinema> <series> [up] [copy]Apesar das ideias e piadas ultrapassadas, o que não acometeu o experimental Monty Python, por exemplo, essa série britânica dos anos 90 brilha mais pelo humor físico de seu protagonista, Mr. Bean, que brinca de referenciar as piadas internas sobre os comportamentos condenáveis de um britânico. Bean faz um Chaplin da Rainha com um timing e expressões admiráveis. Figura no imaginário popular até hoje, mais até que Jim Carrey. É difícil lembrar de como Carrey era bom no humor físico porque suas piadas eram muito boas. É fácil lembrar de Mr. Bean porque sendo as piadas medíocres o ator tinha todo o palco para ele. E brilhava.
# Parks and Recreation
Caloni, 2020-09-29 <cinema> <series> [up] [copy]Já vi episódios espalhados dessa série em alguns momentos nos últimos dez anos. A primeira ou segunda temporada já concluí com certeza. Mas ainda estou incerto se vale a pena assistir até o final, assim como The Office, embora este arrisque um pouco mais nos perder (uma coisa boa em séries e filmes que geralmente é menosprezado). Amy Poehler é tudo de bom, mas os personagens secundários empalidecem. Inexplicável como alguns deles se deram bem no show business, seja como comediante de standup e série netflixiana ou como heróis de sagas multimilionárias. Já a série é uma comédia leve para passar o tempo e pensar em como o governo ser inútil não é uma questão de opinião, mas de tempo.
# Seinfeld
Caloni, 2020-09-29 <cinema> <series> [up] [copy]Seinfeld é um comediante nerd: passou boa parte de sua carreira atrás dos holofotes criando piadas diariamente e catalogando sua estreia na TV. Já nele ele encaixa boa parte delas em episódios que misturam sua vida como o personagem do comediante de standup. Ou estou confundindo com o modelo de Louie, que é infinitamente melhor? Ele não é ator, está longe de ser, e a série é de improviso. Funciona médio, mas se tornou cult, assim como Friends, ou qualquer série que você assista demais e simpatize com aquelas pessoas como velhos amigos de sofá. Hoje é uma curiosidade.
# The Boys
Caloni, 2020-09-29 <cinema> <series> [up] [copy]Quando você assiste uma série com quase uma hora o episódio você espera o mínimo de profundidade. Mas todos moram na mesma vizinhança em The Boys, e isso me entedia em uma série com heróis inseridos em uma realidade Watchmen em uma fase mais trumpiana, menos pesada que Nixon (ou como Watchmen entendia esse período da história americana). O cinismo e mal-caratismo também faz parte do pacote do que significa ser um herói nesta realidade, que envolve ser uma celebridade acima de tudo, mas por detrás das câmeras um político. Quando um deles mata uma cidadã inocente por estar passando em velocidade super-sônica isso desencadeia a aparição de todos os personagens que veremos na série, que se conectam logo no primeiro episódio, como deve ser, mas de maneira preguiçosa, como só o streaming faz por você. Porque todos moram na mesma rua e podem se encontrar casualmente no Personal Central Park da vizinhança. Até Homem-Aranha e sua Nova-York bairrista soa mais realista. Não sei, estou rimando hoje.
# The Feed
Caloni, 2020-09-29 <cinema> <series> [up] [copy]Um thriller futurista meio dark. O mistério no ar no primeiro episódio não é tão eficiente para querermos ver mais, e o universo concebido para a trama minimalista. O conceito, no entanto, é curioso. Ainda que pouco explorado. Um elenco britânico misturado com outras etnias são um plus, mas não convence. Nem os atores negros, claramente escalados por cotas de diversidade (mas competentes, só que sem função na narrativa). Todas as ideias que constrõem as teorias do mundo conspiratório de hoje traduzidas nesse conceito de mentes conectadas. Daria um bom episódio de Black Mirror, mas não uma série inteira.