# Mr. Robot e sua redistribuição de riqueza
Caloni, 2021-11-01 cinema series [up] [copy]Aquele momento mágico em que toda a riqueza dos malvadões é redistribuída de maneira equitativa entre a população falha por pelo menos dois motivos.
O primeiro é que os americanos estão bem longe de ser o povo mais pobre do mundo. Há miséria real fora da bolha ianque na mesma ordem em que eles são os 1% em relação ao mundo. Agraciá-los seria a pior forma de redistribuição de renda da história.
Se fôssemos ser justos ao máximo no sentido de que riqueza foi roubada dos habitantes do planeta e está concentrada em 1% desses moradores teríamos que redistribuir essa riqueza entre todos os bilhões de seres humanos do planeta. Esqueça por um momento o lado logístico desse problema e foque mais no lado econômico.
O escritor e defensor mais ferrenho dessa redistribuição de renda, Tomas Pikety, em seu livro O Capital no Século 21 afirma com base em cálculos bem básicos de matemática que se fôssemos fazer essa redistribuição de maneira equitativa entre todos os habitantes o saldo na conta de casa um de nós seria cerca de 4000 euros. Veja bem, é um bom valor para passar um mês em um lugar bem caro e até um ano em um lugar bem pobre, mas está bem longe de deixar qualquer uma dessas pessoas tranquila a respeito do longo prazo. Quanto mais rica.
Na vida real, voltando alguns devaneios, imagine que apenas os americanos ganharam essa bolada. Nesse momento é o país mais igual do mundo. Na vida real em menos de um ano teríamos a mesma desigualdade. Uma minoria faria um bom uso da oportunidade, mas a maioria seguiria seu modus operandi que a tornou pobre e endividada, pois o dinheiro é mero reflexo disso.
Se isso não fosse verdade teríamos uma mobilidade social muito maior, pois na realidade de fato temos, mas em um nível anedótico, o que faz sentido visto os esforços sobrehumanos que os casos de sucesso precisam se dedicar para mudar seus destinos radicalmente.
Acreditar que a maioria faria isso se caísse uma bolada em sua conta bancária não é apenas ingenuidade. É infantil. Ou desonesto usar esta hipótese como um argumento sério.
# No Limite do Destino
Caloni, 2021-11-01 cinemaqui mostra cinema movies [up] [copy]No Limite do Destino é a ambição do ator Yusuke Kitaguchi em dirigir seu primeiro filme, baseado em um drama sobre uma órfã e seu reencontro com a mãe problemática. E ele consegue. Faz um vídeo educado de um minuto para nos introduzir seu filme na Mostra de SP (disponível no Mostra Play, plataforma de streaming).
A história é sobre Otose Nishizono, essa garota que foi emancipada do orfanato onde foi parar depois de fugir da casa de sua mãe e padastros abusivos ainda criança. No primeiro mês de sua independência, aos 18 anos, ela reencontra sua mãe, que quer o dinheiro do seu salário, e a relação abusiva simplesmente continua a partir daí.
No Limite do Destino brinca com o tema sem muita pretensão. Seu roteiro é simples e direto, retirado diretamente do contemporâneo onde moças sonham em se tornar famosas em uma banda de idols e ninguém está muito afim de trabalhar. No entanto, as épocas se misturam, pois a mãe de Otose fuma dentro de uma cafeteria e está tudo bem. A ideia de mescla de gerações faz sentido na história, pois acompanharemos também a trajetória de uma outra jovem que fica grávida de um homem casado e precisa sacrificar sua carreira de cantora logo no início.
O drama estabelecido em No Limite do Destino puxa tensão forçando a barra na relação abusiva entre mãe e filha e não arreda o pé. É difícil se identificar com uma pessoa tão passiva quanto Otose, e não sabemos (pelo filme) de onde veio sua personalidade, exceto que ela é materializada na figura de um homem de preto. É tudo tão fechado e formal, bem no estilo japonês. Não é uma experiência ruim, mas você irá sentir a estranheza do estrangeiro a todo momento. "O que está acontecendo", "por que ela continua fazendo isso" e "não consigo entender essa garota" serão pensamentos constantes nessa sessão. E, sem querer dar spoiler, não posso afirmar que a coisa vai melhorar em algum momento.
# Primeiro Encontro
Caloni, 2021-11-01 cinemaqui mostra cinema movies [up] [copy]Da equipe técnica de cinema emerge a dupla de cineastas Manuel Crosby e Darren Knapp em seu debut no roteiro e direção com Primeiro Encontro, um daqueles filmes de fim de noite onde tudo pode acontecer, e de fato acontece, na ordem e do jeito que nós, cinéfilos de carteirinha, esperaríamos que acontecesse.
Este filme independente vira, então, puro entretenimento, sem necessidade de pensar muito durante o trajeto em que Mike, um tímido estudante, consegue finalmente convidar sua vizinha para um encontro. Bom, na real é ela que o convida depois dele a ter ligado e não ter coragem nem jeito para fazê-lo. Até aí tudo bem, mas Mike precisa de um carro, e seu amigo portas abertas logo arruma uma solução: um anúncio estilo OLX lá perto de um carro bem baratinho. É só chegar com a grana e negócio feito: Mike motorizado para uma noite inesquecível.
O carro no caso acaba sendo um Chrysler 65 não no melhor dos seus dias. O carro quebra na primeira hora de direção. Porém a surpresa mesmo ainda está por vir, quando o carro não apenas tem um toca-cassetes daqueles antigões e todo o seu charme empoeirado, mas também vem com cocaína em saquinhos todos empoeirados. São os anos 70 e os policiais casuais de volta, e a má notícia para Mike é que a dupla de policiais que o encontra onde quer que ele passe não é do tipo que vai ajudá-lo.
Interessado em fazer fluir a história com um tom de comédia que obviamente tenta se situar na zona neutra do politicamente correto (portanto, chato), o humor orbita mais sobre a questão da violência e do choque de épocas, depois que a gangue responsável pelos malotes de drogas e pela entrega dessa noite (não é só Mike que tem um encontro) começa a surtar quando o carro some do mapa. E, adivinhe, ele não vem com GPS. Detalhes como os criminosos estarem começando um clube do livro e apenas um dos capangas usar máscara iluminam um pouco este filme gravado mais de noite para que as perseguições fossem mais baratas, empolgantes e caóticas.
Eu sei o que você deve estar pensando. Por que esse filme está na Mostra de SP? Pois é, nem eu sei. Na verdade sei. Foi um dos que passaram no festival de Sundance. Então é filme de arte, apesar de meio trasheira. Se você quer fugir um pouco do sufocamento causado por dramas de refugiados e afins talvez essa sessão seja sua chance. Foi a minha.
# Tawawa on Monday
Caloni, 2021-11-01 cinema animes [up] [copy]Anime curto. A ideia é um draminha entre uma garota com os peitos enormes e um trabalhador urbano com crise de depressão. Não fica claro no primeiro episódio para onde isso vai, exceto que não é engraçado e haverá exploitation desses peitos.
# Lidando com a Morte
Caloni, 2021-11-02 mostra cinema movies [up] [copy]Lidando com a Morte é um documentário da Mostra esse ano que acompanha a tentativa de construir uma agência funerária focada em diversidade em um dos polos multiculturais da Europa: Amsterdã. Esse é um projeto de longos sete anos e é questionável se o próprio projeto do documentário em si "deu certo", pois ao final a impressão que fica é que não.
Parte desse sentimento vem depois de acompanhar os esforços de Anita, gerente de uma agência funerária e a que toma as rédeas dos estudos acerca de dezenas de povos e seus hábitos e rituais após a morte de uma pessoa. No começo a vemos focada e esperançosa, mas próximo do final há uma triste reviravolta que ninguém aparentemente esperava. Nem o diretor do documentário, Paul Rigter.
O que aconteceu, então, foi que os idealizadores do filme resolveram seguir adiante e entregá-lo, cujo resultado está muito aquém do que se espera em sua sinopse mais assertiva. A única diversidade ou questão levantada gira em torno de alguns poucos representante de povos africanos e muçulmanos. Há uma tentativa tímida de mostrar um funeral hoje típico holandês através do pai de Anita. Quando digo holandês me refiro às raízes cristãs, hoje ateias. Se antes havia expiação de culpa, hoje nem isso. Apenas uma canção e um vazio imenso no ar.
Se há um resultado curioso no longa é entender essa total entrega dos holandeses de sua cultura e vida em prol de uma iniciativa cosmopolita que cheira a capitalismo, mas que graças às ciclovias e discursos de tolerância, se maqueia como um Vale do Silício na Europa com o respeito à pluralidade de uma Nova York. Parte do discurso do longa é justamente colocar essa questão, mas a coloca de maneira tão tímida que acabamos por pensar: pois é, todo empreendimento precisa de dinheiro.
Anita era para ser nossa mente e coração nessa jornada em busca de conhecimento sobre como atingir um objetivo tão ambicioso quanto criar um espaço para velar qualquer tipo de corpo vindo de qualquer tipo de cultura, mas o processo é tão burocrático desde o começo, e tão respeitoso, que a sensação é que tudo vira algo como o mascote criado na série televisiva Community; apelidado de Human Being (Ser Humano), o mascote não faz menção alguma a gênero, classe, cor ou etnia. O resultado é um bicho incolor e grotesco. É assim que eu vislumbrava o centro funerário multicultural. E é por isso que o projeto na vida real já estava fadado ao fracasso.
# The Fruit of The Evolution: Before I Knew It, My Life Had It Made
Caloni, 2021-11-03 cinema animes [up] [copy]"The Fruit of The Evolution: Before I Knew It, My Life Had It Made", ou TFOTEBIKIMLHIM para resumir, tem a grande vantagem de ser um anime com um título bem longo, o que dá para puxar assunto por bastante tempo com desconhecidos. Só de falar o título já se passou meia-hora de conversa, bem mais do que se você fosse falar de animes com títulos mais curtos como One Piece e Death Note.
A história começa com um click bait. Aparece uma mulher completamente pelada com peitões gigantescos abraçando o protagonista pedindo para se casar com ela. E nunca mais você verá essa cena no primeiro episódio. No lugar colocam macacos feios com bunda engraçada. Propaganda enganosa, cadê o Procon? Quero os melões da ruivinha anunciados.
Mas nem. Esta é a história de um colegial gordo que se mata de comer coisas estranhas depois de ser teleportado, assim como toda sua classe, para um outro mundo porque o diretor do colégio quis assim e anunciou pelo microfone da escola. O gordo come tudo o que vê pela frente (óbvio) e evolui. Em outras palavras: fica magro. Portanto, fica a dica para você que quer passar rápido aquela fase de RPG: coma que nem um gordo.
O resto do anime é parecido com "De Repente Slime" ou algo do tipo, onde são jogadas várias habilidades para o heroi da história porque sim e isso aparentemente é legal. E nada de melões.
# A Arca do Sr. Chow
Caloni, 2021-11-08 cinemaqui cinema movies tag_mostra_chinesa [up] [copy]Este filme é divertido na pior das hipóteses, mas na melhor delas é fascinante. Fascinante pensar em tudo o que aconteceu, ou o que foi imaginado, naqueles loucos anos 90 em uma universidade em uma China ainda duramente estratificada em classes e funções da sociedade. A Arca do Sr. Chow já em seu nome denuncia esse ódio pelo diferente, pelo fora do comum, entendido como uma afronta. Mais duro é ver esse ódio vivo até hoje em dia no mundo civilizado.
Hoje se chama de ódio aos nerds. Com o surgimento da tecnologia que a todos conecta sua maior fraqueza é que ela conecta virtualmente a todos, e todos subentende-se uma massa manipulada de medíocres, que não compreendem que os mesmos nerds que atacam com rótulos prontos e criados pelo establishment como misóginos, supremacistas e incels, foram os nerds que criaram essa tecnologia que os permitem que repitam como papagaios o que aprenderam nas aulas de artes e história de sua educação pra lá de fundamental.
Agora vamos voltar algumas décadas. Um professor, o Sr. Chow do título, reúne uma equipe de improváveis alunos encontrados nos lugares menos acadêmicos possíveis, desde bares de apostas a fazendas de agricultores. O que eles têm em comum? Uma inteligência fora do comum. Como isso é medido? Através do QI, ou Quociente de Inteligência, uma série de exercícios lógicos que avaliam a capacidade cognitiva de uma pessoa e cospe um número. Uma forma objetiva de saber quem é o mais inteligente de um dado grupo.
Mas este não é um método antiquado, até para a década onde se passa a história? Não, e nunca foi. Os exercícios de um teste de QI são frequentemente atualizados, assim como se tornam ultrapassadas suas versões antigas. O que nunca muda é seu resultado objetivo: um número. Quem tem o maior é melhor.
Justamente por isso este método tem sido alvo de inúmeras críticas dos que chegaram na internet depois que a internet foi criada por pessoas com QI maior que o delas. A maior crítica reza que não se avaliam os diferentes tipos de inteligência, citando outras habilidades como inteligência (espacial, criativa, etc). Dá-se então o nome de inteligência de outro tipo a qualquer habilidade dos que não farão nada de útil para a sociedade, e dessa forma inclui-se outras pessoas do rebanho na lista de "inteligentes".
A Arca do Sr. Chow torna tudo isso explícito e gritante quando coloca esse grupo de superdotados no circo que é uma universidade. Todos os outros alunos assediam moralmente os recém-chegados por serem muito inteligentes. A reação básica dos homens é violência física. Das mulheres sedução seguido de humilhação. Hoje em dia se chama de bullying a abordagem masculina. A feminina não se chama de nada, mas as vítimas ganham um novo rótulo: incel. Isso quer dizer que as vítimas masculinas são culpadas pelo assédio moral feminino. O filme demonstra isso da forma mais dolorosa: uma única garota vira a paixão de todos os homens da trupe e motivo de ciúmes da única integrante feminina do grupo de gênios.
A Arca do Sr. Chow não quer ser impopular, e por isso segue uma direção e roteiro convencionais, apesar de estupidamente divertidos. Nunca vi material recente tão subversivo enquanto clichê. Nós nos divertimos com Fung, o garoto de 11 anos que mal chegou na puberdade, mas já tem planos para explorar o espaço. Nós nos encantamos com Dafa e seu esoterismo que encontra as respostas exatas da matemática por meios misteriosos. Nós nos compadecemos da discrição de Lan, cujos sentimentos entendemos e é talvez a que mais nos identificamos, pois ela é incompreendida por ambos os grupos, gênios e não-gênios.
Este filme de fundo bibliográfico dirigido por Yang Xiao é ágil e dinâmico. Realiza infinitas transições de um amontoado de eventos que é difícil de lembrar, pois são muitos, e são caóticos, por mais que o roteiro tente amarrar em símbolos e momentos de farofada com música solene. Ele é autêntico, pois a única forma de nos conquistar a simpatia é querer ir além do desafio de matemática que um dia foi o motivo dessa empreitada. E ele é bem produzido, fotografado e enquadrado, como uma arte exótica: referenciar heróis que nunca se tornaram em uma narrativa que não se pode confiar.
# Aves Suburbanas
Caloni, 2021-11-08 cinemaqui cinema movies [up] [copy]O eterno pátio de obras que se tornaram as cidades chinesas é novamente o pano de fundo de um filme íntimo sobre a vida e suas constantes mudanças. Essas mudanças, o filme faz questão de ressaltar, não difere se você é adulto ou criança. Ele ressalta porque Aves Suburbanas (ou Pássaros do Subúrbio como está no IMDB) possui em sua narrativa dois núcleos de personagens que apenas eventualmente se cruzam no físico, mas estão no mesmo patamar do metafísico: a análise das relações pessoais, a busca da identidade e validação no grupo, o eterno cabo de força entre seres humanos, sejam colegas de uma sala de aula ou de um departamento de engenharia.
A vida dentro desse microcosmos chinês de destruição e construção constantes encontra seu melhor símbolo em uma equipe de engenheiros que está medindo prédios e pontes em torno de mais uma grande reforma na cidade para a construção de um metrô. Esse projeto como é de praxe envolve desalocar moradores, demolir prédios, mover enormes quantidades de entulho e cimento através do rio. É como analisar em retrospecto fenômenos mais antigos, como "o milagre brasileiro" da década de 70, mas em escala muito maior e em um país verdadeiramente rico.
A fauna observada de Aves Suburbanas, apesar do título sugerir, não são animais voadores da floresta ou gaiola mais próximas, e sim as diferentes personalidades de seres humanos nessas interações forçadas ou naturais. Do ponto de vista do filme, mais forçado, ou previsível, do que natural. Do ponto de vista de nós, espectadores, somos observadores desses pássaros e outros.
Isso fica óbvio na escolha de nomes dos personagens, que vão de Formiga a Homem-Aranha, passando por Andorinha. São apelidos? Provavelmente. Mas não sabemos ao certo. O chão do filme não é tão firme, e ele se orgulha disso, brincando com as metáforas de um mundo de faz-de-conta, sendo que a brincadeira serve tanto para as crianças quanto para os adultos.
# Komi Can't Communicate
Caloni, 2021-11-08 cinema animes [up] [copy]A estética do anime me agrada muito. Esse lance de cenários em 3D e personagens semibidimensionais inseridos em suas próprias neuras através de ajuda visual, mudança de fundo, etc. A própria movimentação da câmera é muito agradável de se ver e a direção acerta em cheio, pois o tema é sobre a tensão de alguém com crise de ansiedade ao tentar interagir com outras pessoas.
Um ponto negativo para os espectadores no Brasil é que as legendas em português estão estragadas, foram adaptadas por um retardado ou foi a pedido da Netflix que o idioma foi corrompido no momento que apresenta um garoto que veste saia. Esta é uma tendência bem atual. Quer dizer, não garotos que vestem saia, mas garotos que o fazem achar que são tão importantes que merecem a reescrita do gênero neutro como já estava sendo usado há séculos. No caso do português, o uso masculino também é neutro. Caso encerrado. Apenas um pouco curioso para saber de quem veio a decisão... não, já passou. Apenas um retardado aleatório seguindo ordens de fãs e grupos sociais preocupados com sua agenda.
Ainda assim, se ignorarmos os episódios e os momentos onde a língua portuguesa é assassinada por quem não a conhece (afinal, tradutores precisam conhecer a língua, mesmo?), Komi Can't Communicate não traz nada de novo como tema, é a alocação de dinheiro para assuntos socialmente engajados do serviço de streaming, como pessoas socialmente inadequadas e vamos falar sobre isso. Porém, sua linguagem visual é uma coisa apartada da história, e se engana bem. Melhor que tudo em sua volta.
# O Balão
Caloni, 2021-11-08 cinemaqui tag_mostra_chinesa cinema movies [up] [copy]Quando você menos espera está imerso em um conto folclórico chinês dos anos 80 sobre controle de natalidade, empoderamento feminino e superstições em geral. Alguns detalhes da trama se encaixam de forma a levar o espectador a pensar sobre os conflitos que essa família interiorana irá sofrer.
Porém, este é acima de tudo um trabalho bem-humorado. Tudo começa quando os dois filhos menores do pai encontram camisinhas escondidas debaixo do travesseiro da mãe e fazem dois lindos e cônicos balões. A primeira cena tem esse filtro branco da fotografia, que apenas depois de alguns segundos percebemos de onde vem. Aham. É uma jogada estética e narrativa que começou nos fisgando não apenas pelo bucólico da situação, mas por ser novidade na época. Várias novidades. Como diz o avô da família, "hoje estão todos montados nessas motos no lugar de cavalos". Pois é, vovô, espera só você descobrir os corredores de motomanos da capital paulista e vai ver o inferno que isso vira. Ao mesmo tempo o paraíso, pois já pensou uma tropa de cavaleiros entregando comida em sua casa? Bom, pelo menos haveria esterco de sobra para uma alimentação mais natureba.
Mas devaneio. O que quero dizer é que quando o avô questiona o pai das crianças de por que o balão que eles estavam brincando não é um balão para crianças é lindo, pois é um roteiro que estabelece em poucos diálogos e em uma única cena o choque de gerações. Além do quê, na direção de Pema Tseden, há poucos cortes, pois a troca de quadros, ou do motivo filmado, é feito movimentando a câmera, o que estabelece um certo dinamismo. Além de ser bem charmoso.
Os personagens de O Balão estão lindamente vestidos e caracterizados. A estilização é tão completa quanto os traços de um anime bem inspirado, ou um épico fantasioso como Star Wars. Note cada peça de vestimenta dos membros da família, como é único e já fornece pistas do caráter e da personalidade de cada um. São humildes, e brutos, mas não violentos. Vivem na tradição e na pobreza honrosa. Seria um Vidas Secas pela descrição visual que o filme dá a cada elemento em cena. Lembrei do romance icônico de Graciliano Ramos pois acontece da mesma forma dessas pessoas não terem traços em seus rostos que determinem riqueza de detalhes. Os detalhes estão no cenário e nas roupas. Na cara deles está uma nota de sorriso medroso e envergonhado da mãe, do olhar bruto do pai, da eterna serenidade e peso da irmã.
Este é um filme que entretém, mas ao mesmo tempo nos entrega uma conversa honesta com o espírito do tempo e mergulha em suas idiossincrasias de regiões isoladas das grandes cidades que no caso da China ainda nasceriam. É um retrato bem específico no tempo e espaço que temos o privilégio de visitar, e refletir. Uma ótima seleção para um festival daquele país, a Mostra de Cinema Chinesa, que ocorre em São Paulo este ano no formato de streaming.
# Tudo ou Nada
Caloni, 2021-11-08 cinemaqui tag_mostra_chinesa cinema movies [up] [copy]Imagine um documentário em que aparece uma frase do seu diretor dizendo que seu objetivo com este filme é mostrar como viver com traumas do passado. Quer dizer, ele pensou que seria sobre isso. Tudo ou Nada começa assim, deixando o espectador com a pulga atrás da orelha, pensativo e apreensivo, aguardando talvez pelo pior, depois de conhecer os dois protagonistas deste filme. Um detalhe importante: ambos confessaram terem tentado se matar.
Não começa fácil a história de Tudo ou Nada. Em alguns momentos vemos essas duas pessoas conversando com o diretor do filme por mensagem ou pessoalmente, e a sensação é que eles estão na corda bamba e o objetivo original deste longa da Mostra de Cinema Chinês começa a ruir aos poucos. Mas o que isso quer dizer sobre as pessoas retratadas?
Sunteck Yao foi abusado na infância por um completo estranho após ter se perdido voltando da escola. Adulto, ele é um artista plástico e se veste de palhaço indo nas escolas para espalhar seu alerta às crianças, para que estejam atentas à sua volta. A última coisa que ele deseja é que mais alguém passe pelo que passou. Conforme acompanhamos sua história fica mais claro que este foi o evento decisivo de sua vida que cunhou sua personalidade frágil e sua relação de distanciamento e desprezo pelos pais.
Meimei Tong estava casada e queria ter um filho com seu marido. Sua primeira tentativa terminou em um aborto espontâneo e não houve uma segunda chance: alguns meses depois seu marido morre em um acidente. Sozinha, ela reconstrói seu eu através de sua profissão de terapeuta e se indignando quando descobre os golpes que sua mãe acaba caindo em compras duvidosas de produtos que ajudariam a passar por uma velhice tranquila. Podemos dizer que nessa dinâmica não sabemos se ela própria chegará em ser uma velhinha.
Descrevendo este filme parece que ele possui algum roteiro pré-planejado e que algumas possibilidades estão na mesa. Engana-se. Este é um projeto difícil para todos, pois o diretor Hao Zhou se envolve com o tema e continua filmando até alguma coisa acontecer. Qualquer coisa. E quando nada acontece seus astros começam a se incomodar com essa invasão em suas casas e em suas vulneráveis psiques. E fica muito óbvio que o problema não é a equipe, mas unicamente o diretor. E ele não tem culpa necessariamente: é sua profissão. Isso não evita que ele repense a ética de sua decisão em reabrir feridas de seus queridos personagens.
Tudo ou Nada faz pensar nessa relação entre o documentarista e seus objetivos. Faz pensar em qual o limite, se é que existe algum, para filmar temas sensíveis sem o preparo psicológico necessário às pessoas que estarão à mercê do projeto, e faz pensar em muito mais detalhes da filmagem e montagem do que foi coletado nesses meses do que na história do filme. E faz pensar em suicídio. Será que algum irá acontecer? Sem spoilers, posso afirmar que o filme começa a ficar verdadeiramente bom, acima de suas medíocres expectativas, próximo do final, quando algo sai dos trilhos e era isso que esperávamos.
Além disso, tal como uma série de streaming que torce para nos identificarmos com o protagonista nos primeiros episódios para não precisar de conteúdo original dali pra frente, dali pra frente vira slice of life, comum entre nós, e qualquer evento junto dessas queridas pessoas já estará de bom tamanho.
# Quatro Primaveras
Caloni, 2021-11-10 cinemaqui mostra cinema movies tag_mostra_chinesa [up] [copy]Por que um diretor de cinema não filmaria seus pais? A resposta rápida é que nem todo cineasta vem com pais que valem a pena ser filmados. Bom, este vem. E surge Quatro Primaveras, um filme sobre o diretor estreante Qingyi Lu que filma um casal adorável de pais que fazem tantas coisas sozinhos que me sinto mal de perder tanto tempo na internet.
Eles são a atração principal neste filme da Mostra Chinesa esse ano. Vivem em uma cidade próximo de montanhas e plantações de arroz. Plantam e cuidam de sua casa como se tivessem o dobro de horas por dia disponíveis que o resto dos seres humanos. E adoram as reuniões de família. Cozinham um banquete sozinhos. Não estou falando de apenas ele ou ela. Ambos não param um minuto. Suas atividades são uma inspiração para quem vive entediado.
O mais impressionante é que apesar da idade já avançada eles aprendem coisas novas, como cuidar de abelhas e editar músicas pelo computador. Quando não estão cada um em sua atividade caminham juntos pelas montanhas, colhendo novas plantas para cuidar em casa.
Não há diálogos explicativos neste documentário porque seus protagonistas se expressam de várias outras formas. É na interação entre eles ou com a família ou sozinhos. O filme nunca fica chato, pois há sempre algo novo sendo explorado por eles.
A direção do filho, Qingyi Lu, também é inspirada. Faz cortes precisos de momentos que se tornam únicos e nos faz esquecer que tudo isso é rotina para eles. A diferença é que a rotina deles é extraordinária para nós, humanos urbanóides da vida moderna, enfurnados em vidas inúteis ou promíscuas, com a mente improdutiva, crescendo erva daninha em volta. Quatro Primaveras é um hino para nos acordar para a vida.
Há um momento difícil para eles. Uma perda de um ente querido. O diretor filma com forças que estão além do projeto. E o resultado é belíssimo na montagem. É difícil atingir profundidade em documentários, mas este é um achado chinês que sequer precisa de roteiro.
# Quero Uma Vida Com Você
Caloni, 2021-11-13 cinemaqui tag_mostra_chinesa cinema movies [up] [copy]Este conto lúdico, evocativo e transcedental do diretor chinês Sha Mo é o melhor "momento Hollywood" que você poderá esperar da edição desse ano da Mostra Chinesa no Brasil. Aqui curtimos o conhecido drama do amor impossível, representado pela barreira financeira que é sempre intransponível nesses filmes. É o choque entre a cultura oriental e a nova vida dos chineses, principalmente dos mais pobres, mas não menos trabalhadores.
Esse casal se conhece desde o colégio, e ele, o intenso Lv Qinyang, faz uma declaração de amor a ela, a espontânea Ling Yiyao, para toda a escola: "me comprometo a dar uma vida digna de inveja para minha amada". Eles estão ainda estudando e tudo é poético, lindo e maravilhoso quando são os adultos que pagam as contas. Então chega a vida real e as portas de um trabalho honesto que pague bem estão fechando em um mundo em acelerado desenvolvimento, e com elas a porta do sonho da casa própria para o jovem casal que, natural, deseja ardentemente se casar. Ela está aguardando por ele, mas suas esperanças estão lentamente sendo drenadas.
Mo Sha pincela em sua estreia nos cinemas um retrato muito comum das grandes cidades chinesas, cheias de empreiteiras para onde jorra dinheiro e falta caráter. Para nós, brasileiros, algo semelhante deve nos remeter à memória recente com os programas sociais que injetaram dinheiro "de graça" para as grandes construtoras do país através de fundos bancários de desenvolvimento, distorcendo a relação de oferta e demanda e criando oferta para uma demanda inexistente. O cenário é o mesmo: se o importante é construir mais tetos, eles serão construídos custe a quem custar, e mesmo que ninguém more debaixo deles.
É nesse horizonte que acompanhamos a saga de Lv Qinyang, interpretado pelo intenso Chuxiao Qu, disposto a tudo para conseguir dinheiro rápido e se casar com sua amada. Desde que os conhecemos por gente eles se adoram, e o roteiro começa com cenas do final com uma contagem de milhares de dias desde que eles se conheceram. Ou seja, este é um grande amor para ser vivido em uma telona à altura. No entanto, além de brincar com o gênero do romance o filme vai aos poucos espremendo nosso coração, que precisa se contentar com uma ficção montada em torno de cacoetes de roteiro, como a simbólica contagem de dias desde que se conheceram.
Quero Uma Vida Com Você é um romance, de fato, mas também está inserido em questões sociais que todos chineses vivem hoje em dia. Notem como em quase todo horizonte de filmes dessa Mostra de Cinema Chinês há a figura da construção civil. Este é um país que se tornou um pátio de obras há pelo menos duas décadas, e não há sinais desse projeto mundial arrefecer tão cedo. Enquanto isso as mazelas de jovens e suas paixões de vida ajudam a construir um cinema bem diferente do que estamos acostumados a ver no circuito comercial.
# Um Porto Seguro
Caloni, 2021-11-13 cinemaqui tag_mostra_chinesa cinema movies [up] [copy]As primeiras cenas de Um Porto Seguro são tensas. Descobrimos o motivo pelo qual um jovem estudante vira fugitivo após invadir a casa de um homem e no meio de uma briga matá-lo. Quinze anos se passam e a história continua boa, puxando as linhas do passado, em um presente cínico e sem esperança.
Com certeza o diretor Li Xiaofeng é fã de um cinema noir. O tema musical é uma ode aos velhos tempos desse gênero que volta toda década, fora que o clima de desesperança de Um Porto Seguro cai muito bem. A estética do filme é muito próxima da atmosfera que lembra o gênero, mas os temas são distintos. O que evoca esse tom é de fato a falta de caráter de sua cidade-natal, de sua família e até de sua ex-colega de escola. Um intenso exercício sobre culpa, destino e justiça.
Ainda assim, o filme é capaz de trazer um pouco de humor incidental quando o fugitivo se vê comparado a um tarado seguindo uma jovem de escola e um ser humano marginalizado ao se desviar das tentativas de sedução da "femme fatale" do longa. São apenas nesses momentos pontuais que respiramos. Aliás, a atriz veterana Jia Song está arrebentando em seu papel. Note como ela constrói o clima em volta do personagem de Yu Zhang como se fosse um fim de feira na cena de um bar, mas de repente ela se torna o evento, mesmo que cante muito mal.
Porém, quase nada são flores neste filme, que evoca seu clima pesado não apenas pelos seus personagens com tendências mafiosas, mas também através da solidão visual dos belíssimos enquadramentos de Li Xiaofeng, que mostra a vila onde aconteceu o trágico evento despedaçada por uma empreiteira, restando apenas uma casa, e da fotografia, com tons escuros e acizentados em uma cidade portuária que se recusa a mostrar um raio de sol que seja.
Um Porto Seguro é cinema bem-feito, com competência e segurança. Xiaofeng dirige seu terceiro longa com extrema propriedade. Já recebedor de três prêmios internacionais, é uma bem-vinda e mais conhecida contribuição à Mostra de Cinema Chinês esse ano.
# Un-Go
Caloni, 2021-11-13 cinema animes [up] [copy]Material de divulgação de mangá. Os elementos estão lá misturados em uma composição animada, mas nunca feita para animar. E há uma diferença.
Um anime feito para animar desenvolve movimentos próprios à parte dos ângulos, cenas e cortes de um mangá. Ele cria movimento usando os mesmos elementos visuais da arte estática em gibi.
Um anime feito por elementos do mangá vira uma composição de quadros inertes onde são inseridas cores, dublagem e um texto breve.
O primeiro episódio de Un-Go falha em nos atrair para seu universo por resumi-lo como uma lista de compras. Não há emoção alguma. Os personagens são introduzidos com um letreiro, um deles morre e logo vira palco para um joguete de deduções sherlockianas.
Mas não se empolgue. Deduções vazias em cima de um evento único de um assassinato tratado como corriqueiro afasta qualquer possibilidade de engajamento emocional do espectador. Se trata de um jogo de tabuleiro como muitos daquela velha produtora nacional, a Grow, mas sem sequer a lógica de pistas.
# Homem de Castanha
Caloni, 2021-11-14 cinema series [up] [copy]Esta série investigativa policial dinamarquesa desenvolve bem sua trama e seus personagens. Note o parceiro desagradável, misterioso e traumatizado da heroína. Seu lado introvertido, calculista e obstinado retirado de algumas personas no imaginário do gênero funciona até hoje. O maior defeito da série é o desenvolvimento, como toda série hoje em dia. Seis horas para um filme de duas é tempo demais. A história não ofende nossa inteligência, mas a duração sim. Já vimos filmes melhores e mais concisos. É um desperdício narrativo e devemos ficar ofendidos por isso. Além do quê há algumas falhas ou imprecisões na trama, quando uma certa pessoa acha quase sem querer o esconderijo do serial killer, que não ornam com o conjunto da obra. Tem cara de adaptação mal feita de livro. E é mesmo, o autor é Søren Sveistrup e os roteiristas um batalhão.
# Yuan Longping
Caloni, 2021-11-14 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Yuan Longping foi um cientista agrônomo que desenvolveu um arroz híbrido capaz de aumentar o rendimento das plantações substancialmente. Ele faleceu esse ano, no mês de maio. Não, não foi Covid. Aos 90 anos, esse valente e obstinado senhor colapsou em sua base de pesquisa na China e finalizou sua grandiosa jornada no planeta. Sua história é uma das muitas de alguém que frente às adversidades do autoritarismo cego se manteve firme. Seus frutos são colhidos por dezenas de povos em três continentes, sobretudo os em desenvolvimento. Esta pessoa, meus senhores, é um John Galt, o herói dos livros da romancista e filósofa Ayn Rand, que defendia o individualismo acima do coletivo. Ironicamente, toda a sociedade se beneficia de suas conquistas na pesquisa de base.
Sua cinebiografia não faz jus à sua pessoa. Dirigido por Shi Fenghe como uma homenagem ao cientista por sua contribuição à humanidade, mas produzido pelo governo chinês, o resultado fica óbvio desde seu início: este é um pedido de desculpas do Partido Comunista a uma das poucas mentes livres que conseguiu sair vivo das loucuras da ideologia Maoísta. Porque algo deve ser considerado da República Popular da China: eles admitem os erros cometidos na História. Mesmo que décadas depois.
Um documentário sobre a vida do criador do arroz híbrido seria mais digno, pois é impossível não dar risada de vários momentos deste filme produzido como se estivéssemos nos anos 60. As cenas são risíveis por si só. Você vai ver. Cortes de novela nos diálogos, roteiro farofento canonizando o protagonista, trilha sonora melódica e dramática tocando exatamente no momento que precisa tocar. Esse filme não vem acompanhado de farofa: a farofada é o prato principal.
Começando com uma entrevista entre uma (aparentemente) jornalista ocidental que vai conhecer o inventor do arroz híbrido em uma praia e comenta aleatoriedades -- em certo momento olhando para o horizonte ela exclama "que lindo!" -- a história é um longo flashback que apresenta o pesquisador ainda dando aulas na universidade de agronomia. O Partido e o governo querem quebrar a lógica burguesa e a ciência é portanto um inimigo. Longping luta contra a loucura coletiva e contra a Grande Fome que testemunhou, não desistindo nunca de seus princípios universais e modernos da busca do conhecimento. Paradoxalmente os comunistas aqui parecem membros de uma seita, embora já se soubesse das táticas da ideologia através dos livros sobre a fome na Ucrânia nos campos de trabalhos forçados. No filme a desculpa para este período das dezenas de milhões de mortes por fome é ainda a oficial: desastres naturais. Hoje há várias fontes que dizem o contrário, e o próprio governo chinês já assumiu há tempos que o erro foi humano, oriundo da loucura da economia planificada. E esse é mais um detalhe que faz parecer esta ser uma produção dos anos 60.
Detalhes históricos à parte, a linguagem de cinema usada torna o resultado inadvertidadmente divertido, para não dizer ridículo. Longping passa por muitos momentos em que sobe a trilha e ele diz algo engrandecedor. Todos aplaudem. Então ele toca seu violino. Uma orquestra aparece de vez em quando. Os anos 60 vieram com tudo neste trash-homenagem a este homem de caráter, mas a atração é ver esta produção chinesa relatar parte de sua história sem saber muito bem como construir um enredo que seja mais do que homenagens e mais homenagens. Eles estão perdidamente apaixonados por este homem e tudo que ele vê, toca e diz é sagrado.
A consequência é que o filme acaba entretendo mais pelas gafes do que pela história. Todos sabemos desde o começo o sucesso da descoberta, já que ele está sendo entrevistado sobre isso. Então perde-se a tensão nesse caso e ganha-se o riso desses momentos galhofas. A brincadeira vai tão longe que até o estilo de Sergei Eisenstein, o teórico da montagem soviética, acaba tomando conta de algumas piadas. Longping corre, a cena corta para suas botas, e ele volta a correr, teoricamente como doido (está correndo normalmente). Longping está nadando, o diretor da escola vai encontrá-lo, e vemos um plano-detalhe dos dois na água, um nadando como que fugindo do outro. Corte. Agora os dois estão conversando fora da água. Sobe uma trilha casual.
Outro problema do engessamento da forma por falta de conteúdo é o muito texto para pouca ação. No entanto, algumas poucas cenas aéreas e certos cenários externos, principalmente da universidade de agronomia e das plantações que viram a base de pesquisa do cientista acabam compensando. Porém, lá vem a trilha sonora toda hora para nos fazer dar boas risadas novamente.
"Longping" é um filme ruim, mas se você não estiver com vontade de ler a Wikipédia, fica a dica. Um último aviso é que há um efeito indesejado neste filme: ele dá muita fome durante a sessão. Efeito colateral conhecido quando o assunto gira em torno de comunismo.
# Moulin Rouge
Caloni, 2021-11-16 cinema movies [up] [copy]Eu me lembro a primeira vez que assisti esse filme. Foi no fim de semana de estreia. Era a última sessão de sábado. Eu ia de bike sozinho até o shopping. Sabia que nessa sessão era garantido ter lugar disponível, pois ela iria terminar de madrugada.
Haviam vários casais de pombinhos na sala com lotação pela metade. Entrei com um saco gigante de pipoca. Não sabia nada sobre o filme. Estava na época de assistir qualquer porcaria, crescendo meus conhecimentos cinéfilos. Eu nem era muito fã de musicais. Muito menos romance.
Começa o filme. Já estou com minhas mãos sujas de manteiga. A primeira sequência que apresenta a casa de shows parece uma versão da Disney do que é um prostíbulo. A sensação boêmia de não saber onde está, mas ao mesmo tempo curtir tudo isso, ainda é vívida em minha memória. Era a primeira vez que testemunhava a junção de duas músicas icônicas do pop e do rock sendo cantadas juntas, criando uma rima pra lá de original com Lady Marmalade de Christina Aguilera e uma adaptação do som do Nirvana Smells Like Teen Spirit. Logo depois há um pout-pourrit de frases sobre o amor trocadas entre Ewan McGregor e Nicole Kidman em cima de um elefante. Logo mais um número. Depois outro. Eu já estou em delírio.
Estamos em 2001. A montagem de vídeo-clipe está na moda. É a era pós-Matrix, com efeitos sendo a sensação. Sobe um sentimento poderoso sobre o brega e o pop que tomam conta do meu coração. A adaptação de Like a Virgin foi simplesmente a gota d'água. Este filme se torna oficialmente um show de horrores delicioso de se ver. Não consigo desgrudar os olhos e os ouvidos da tela.
Estou apaixonado. Uma paixão relâmpago como a de Nicole quando olha para Ewan, ainda garoto, cantando sem filtros. E Moulin Rouge é o musical mais gritantemente editado da história. Tudo é falso nesse filme que canta sobre o amor. O joguete é explícito e delicioso de se ver. Nicole está possuída na cena em sua suíte-elefante. McGregor acredita de fato ser a representação de todos os príncipes dos contos de fada encarnado em um boêmio escritor que conhece pela primeira vez absinto antes do que é o amor de verdade. Ele vive a ilusão enquanto nós a respiramos na sala de cinema, infectada com Moulin-Rougeness.
Hoje, 20 anos depois, revejo este filme com outros olhos. Olhos mais cínicos, talvez. Mas ainda gosto do que vejo. Não bateria palmas como bati (mentalmente) na sala de cinema naquele fim de noite, indo embora pedalando leve e feliz, cantarolando Material Girl. Lá eu queria acreditar no amor. Nossa época não cabe mais essa crença. Algo mudou ou eu mudei? Não consigo assistir a este filme como se fosse a minha primeira vez?
# Samy Y Yo
Caloni, 2021-11-16 cinema movies [up] [copy]Esta comédia estilo Woody Allen argentino com Ricardo Darín está na Amazon Prime sem legendas em português. Há legendas em espanhol, que foi uma experiência diferente. Não é preciso entender muito mais do que isto: escritor fracassado de meia-idade (e judeu, claro) é catapultado por colombiana misteriosa (e deliciosa) para o show business. Seu tom deprimido é o motivo de seu sucesso. Ele não pode se sentir bem ou sua audiência cai. E precisa ajudar seu sobrinho com seu bar Mitzvah.
Samy I Yo brinca o tempo todo com o clichê dessa sinopse e seus detalhes periféricos, clichê como sua época denuncia. Ele está apontando o tempo todo para Woody Allen, mas sua tentativa de criar algo novo, mais latino, é louvável. E de certa forma adorável. Ruim, mas divertido.
# Turbilhão
Caloni, 2021-11-16 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Vortex (título internacional original) é um filme policial chinês incidental com uma menininha de cinco anos simplesmente adorável. Se observarmos como uma atriz madura você pode dizer que estou exagerando, pois suas falas são forçadas e ritmadas; um exercício de estilo. Porém, deem uma folga: ela só tinha cinco a seis anos durante as filmagens, e muitos atores e atrizes durante toda a carreira não saem desse nível.
A adorável Audrey Duo age como uma atriz-mirim novinha como deve ser. Porém, suas falas são ditas com convicção. Ela chora facilmente, mas não titubeia. Não sei como foi a preparação de elenco, mas o resultado te chama a atenção o tempo todo em que a vemos em cena. Ela rouba cada cena e o filme fica menor frente sua estreia em longas. Quer dizer uma das estreias daquele ano, pois em 2019 ela já estava com um segundo trabalho sendo lançado na China, Jie fang.
Mas vamos à história, que é divertidíssima. Vai ficando mais pesada e depois vira um dramalhão. Este rapaz, Liu Xiaojun, aposta tudo que tem em jogos de azar e é enganado. Agora tem que apelar para a bondade do tio policial. Ele é órfão e está em uma maré não muito boa. Sua oficina está destruída e ele deve uma grana alta.
Então surge a oportunidade que ele não deveria aceitar sendo sobrinho de policial: receptar carros roubados. E o primeiro que ele pega tem essa menininha de refém. No porta-malas. Qi-Qi é seu nome. O carro é quase arrebentado pelo só-músculos do filme, que tem uma espécie de 12 portátil, aliás, que vai trazer mais diversão ainda para o filme.
Turbilhão bebe desses filmes de ação com esse tom meio dark com uma pequena ponta de esperança na humanidade para seguirmos. Tem os furos de sempre, mas há uma inteligência na execução de suas cenas mais movimentadas. Há um certo tato, por exemplo, em conseguir situar a menina em cenas que não causasse desconforto ou nos deixasse pensando o tempo todo em sua segurança. Essa é uma virtude, mas acaba sendo um ato falho, pois faz pensar na precisão narrativa de outros filmes que lidam com essa fantasia melhor. Em O Profissional, como um exemplo aleatório, trabalha essa questão usando uma "criança" velha o suficiente para entender o mundo em sua volta; e não é por acaso. Já com cinco aninhos, Qi-Qi apenas serve como isca de desenvolvimento.
Já Liu Xiaojun protagonizado por Chengpeng Dong tem energia e desenvolve bem esse lado meio devagar do personagem. Nós acreditamos que vai ser difícil ele conseguir sair por cima de toda essa enrascada que ele se meteu. Até porque ele é muito azarado. Sua cara limpa não combina muito em ele querer o dinheiro do resgate. Há um limite para acompanharmos ele pelas boas ações, pois suas boas ações estão muito no limite do aceitável da pura ambição de se dar bem.
Já o rapaz apenas-músculos se sai muito melhor, e com muito menos tempo de tela. Ele é fiel ao irmão até a morte. As desculpas dele não conseguir se virar sem dinheiro não colam, assim como as conversas entre o protagonista e seu tio serem propícias apenas para arrancar mais drama da situação. E como erro comum, a prostituta do filme é um absurdo de amorzinho. Em suma: esta trama é manjada demais para levarmos a sério, então a empolgação em ver este filme é pela ação, pura e simplesmente.
E ela funciona bem. Turbilhão é um bom exemplo de cinema oriental encontrando o meio-termo entre lutas, perseguições, tiros e um pouco de drama. Estão na cola de mestres do drama como Bong Joon Ho (Parasita), que usa a ação como combustível, e não o contrário. Já Jacky Gan, o diretor de Vortex, estreia com um pé na ação desenfreada, se saindo maravilhosamente bem. Resta colocar o outro pé em profundidade em seus personagens. Escreveu o roteiro com mais três pessoas, e está claro que esta não foi a melhor das ideias na hora da produção.
# Blade Runner do Crunchyroll
Caloni, 2021-11-17 cinema animes [up] [copy]Os Ocidentais estão no filme e no Oriente para ganhar dublagem em japonês e jogar go no lugar de xadrez. Esta versão se aproxima de um Westworld versão anime, mas seu design de jogo 3D nunca escapa de nossa percepção do design deste universo. Por isso todos parecem orbitar nas prateleiras das infinitas versões de Barbie e Ken.
# O Enigma da Chegada
Caloni, 2021-11-17 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Dá pra notar o amor do diretor Song Wen pelo cinema. Ele cita Wong Kar-Wai como se seus personagens não o conhecessem, e eles vão ao cinema ver pornô após a meia-noite e não para ver um trabalho do diretor chinês que passa logo antes. Eles estão alheios à arte, mas a fotografia de O Enigma da Chegada não, e portanto eles vão ser fotografados em preto e branco quando houver memórias de um passado tenebroso na vida desses jovens.
Mas eles são apenas jovens e estão curtindo seus hormônios. Furam a escola e paqueram duas lindas garotas que conheceram na discoteca. Este é um filme sobre memórias, portanto nada mais justo que vejamos apenas as melhores. É assim que nosso cérebro funciona. Podemos ter momentos que não queríamos ter passado e o tempo simplesmente dá um jeito de sumir com eles.
Mas não este rapaz que se torna homem. Zhao Xiaolong deseja de todas as formas descobrir o que realmente aconteceu com a garota que não sabia se estava afim. O filme forma um mosaico de possibilidades vagas, mas sem quebrar seu tino comercial. Como Wong Kar-Wai, aliás.
A ideia por trás de "O Enigma" é justamente brincar com nossa percepção do que é lembrado dos momentos nostálgicos. Isso cria um filme leve, pois para brincar com isso precisamos passar por esses momentos, que são doces, ingênuos. Tudo o que você precisa quando se é jovem: bebidas, garotas, zoeira.
Parte da brincadeira primeiro é comparar o nível de maturidade entre os meninos e as meninas. Elas estão anos-luz à frente e é divertido entender toda a lógica por trás de um convite do tipo "vamos dar uma volta pela balsa à noite" e um jovem tirar a conclusão totalmente errada dias depois.
Outra parte da brincadeira é entender as diferentes versões que cada um dos meninos se lembra de como foram aqueles momentos mágicos e inconsequentes, que se tornam quase umas férias escolares em suas lembranças.
O Enigma da Chegada se torna tenso apenas nos momentos finais. E o protagonista escolhe ignorar isso. É a arte do esquecimento na era do fake news. Se é desagradável é melhor evitar esse momento com meus ex-amigos. Vamos ficar nas memórias boas de quando enchíamos a cara.
# Aprendendo a Mentir
Caloni, 2021-11-23 cinema movies [up] [copy]Este é um filme dos mesmos criadores de Adeus, Lenin e o frenético Corra, Lola, Corra. Esse também está cheio de ótimas músicas das décadas de 80 e 90, onde se passa a história, mas mais do que isso, sua edição é dinâmica, fluida. Não dá sono em nenhum momento nem quebra seu ritmo. E olha que o protagonista vai conhecendo cinco mulheres distintas em relacionamentos bem diferentes. Entendemos todos. Nos identificamos porque faz sentido. Não torcermos por ele ou por ninguém, pois este é um estudo curioso sobre alguns tipos de relações que um homem pode esperar de uma mulher. E que as mulheres não são toda aquela magia que vemos nos filmes. Um romance alemão pé no chão e no chão de uma Alemanha em transformação, prestes a derrubar seu muro. A mocinha mais linda do filme é uma ativista, vemos seus peitinhos e mais velha ela se torna apenas mais uma. Imperdível.
# Croods
Caloni, 2021-11-23 cinema movies [up] [copy]Não me lembrava que a mensagem desta animação da DreamWorks mantinha uma versão mais abstrata da passagem de bastão do homem das cavernas e o homem "moderno". As ideias recicladas desta era misteriosa ganha um certo charme e força quando usa a icônica caverna de nossos antepassados para representar o medo, a escuridão, a vida estática, e como seu oposto o fogo, essa descoberta primordial para a sobrevivência humana que representa a luz, as ideias. O sol de nossos dias.
Os símbolos estão em um pedestal e a trilha sonora é grandiosa mesmo em uma comédia. Não perdemos o que é importante com seus personagens lembrando mais do mesmo, pois não são exatamente o mesmo. Esta garota da família, a corajosa, desbravadora, não é delicada. Seus traços são apenas levemente femininos, mas nota-se sua força e sua afinidade com o modo másculo de ser. Uma mulher das cavernas com testosterona de sobra. Respeitamos porque isso deve ter acontecido em algumas famílias de algumas cavernas.
Já o homem moderno, apesar de buscar a luz, se diminui na figura de um maluco beleza que lembra um rapazinho maconheiro desses de universidade federal. Para não ficar tão feio coloca-se um passado trágico para sua família, mas não justifica sua personalidade aventureira e criativa.
Croods é uma animação que diverte menos do que faz pensar, o que já é ótimo. Seu design de produção é de primeira. Um dos grandes da DreamWorks que ficou meio esquecido, talvez por não ter continuação.
# Duna
Caloni, 2021-11-23 cinema movies [up] [copy]Que prazer voltar a assistir um filme no cinema. Me sinto muito bem. Muito bem, mesmo. Talvez minha maior saudade de uma época pré-pandemia. Mas nem por isso achei Duna de Denis Villeneuve excelente ou irrepreensível. Pelo contrário, ele abre algumas feridas já cicatrizadas da tentativa anterior de adaptar esta obra literária da obra de Frank Herbert, o livro original que quando as pessoas tentam te explicar sobre o que é faz parecer um Star Wars para eruditos.
Estou falando da tentativa anterior feita pelo diretor David Lynch, o mesmo de O Homem Elefante, Cidade dos Sonhos e a série enigmática de TV Twin Peaks. Eu sei: o que esse cara tinha a ver com uma obra como Duna? Não me pergunte. O filme de 1984 está aí para você conferir um dos grandes desastres em super-produçōes da época. Porém, ao mesmo tempo uma diversão noveleira.
Não que essa versão do diretor canadense Villeneuve não seja noveleira. A diferença é que ele consegue se cercar de pessoas competentes das áreas de edição, fotografia, trilha sonora, e possui habilidades nesse tipo de proposta que mistura o nonsense com a seriedade absoluta de alegorias políticas. Podemos dizer que a novela de Villeneuve chamada Duna imprime um peso dramático que faz valer a alegoria.
Não digo apenas pelo tom da trama, mas também os elementos físicos nesse universo de sci-fi. A maioria dos diretores deste gênero em nossa época se banha nas facilidades da computação gráfica e se esquece que precisamos acreditar nesses pixels; eles precisam ter peso. Duna 2021 aqui demonstra de maneira exemplar como tornar o vídeo-game em uma máquina de faz de conta eficiente.
Para começar, os planetas. Eles não são lugares que se visitam de Uber em uma corrida com taxa extra. É extremamente caro mover pessoas entre esses lugares distantes entre si. Imagine então o custo de mover tropas inteiras. Por isso não nos é permitido chamar de planetas. A palavra mundos está mais correta. Na história existem as Casas de diferentes famílias da nobreza espacial, o que também serve muito bem. Oito mil anos à frente do nosso tempo o pós-feudalismo assume essa feição interestelar. Faz sentido, ainda por cima.
Mas não termina nos planetas. Olhe essas aeronaves, máquinas voadoras que emulam um inseto. Apesar de não ser exatamente idêntico, mas por ser um inseto de quatro asas, nos faz lembrar de um gafanhoto. Por quê? Ora, as pragas do Egito. E estamos em Duna, um deserto escaldante e relações de exploração (como o Egito de José, personagem bíblico).
E não é rápido e simples colocar essas aeronaves no ar, assim como não há milagres para se salvar dentro de uma delas se estiver dentro também de uma mega-tempestade de areia. Você pode não ter percebido durante o filme, mas sempre que uma nave dessas precisava decolar você se lembrava da primeira vez que viu isso no filme, e todo o processo obrigatório para colocar aquelas asas em movimento. Tudo isso gera tensão e pé-no-chão por nos fazer lembrar da dificuldade. Não é só ativar um jato propulsor para nos catapultar neste mundo. As leis da física são parte integrante da aventura.
O que é curioso é que todo esse esforço para tornar Duna uma experiência realista vai na direção contrária da existência do sobrenatural, do misterioso, do esotérico. As bruxas espaciais deste mundo, as Bene Gesserits, é um conceito tão fabuloso quanto a criação de um predestinado através de seleção genética. Todas essas ideias vão sendo apresentadas quase que naturalmente no universo do filme, e as partes mais técnicas são mostradas aos poucos, organicamente, pois Paul Atreides, herdeiro do trono da família, está estudando todos esses aspectos com que terá que lidar pessoalmente, cedo ou tarde.
Porém, além disso, Paul possui outro motivo especial para se interessar por esses assuntos. Há um bom tempo está sendo assediado com sonhos deste mundo que nunca de fato conheceu chamado Duna, e o seu povo da areia, os Fremen. A referência a "homens livres" em inglês é cafona e compreensível, vindo de uma série de livros de si-ci da década de 60. E pode ser perdoada com folga quando entendemos a construção contemporânea feita para os tempos de hoje, onde praticamente qualquer povo do Oriente Médio com costumes alheios ao ocidental médio pode representar com base histórica o que a trama toda quer dizer. Especialmente com a figura da "especiaria", um produto valioso sob solo Fremen, mas explorado por estrangeiros. Ainda que você ache um porre alguns dos detalhes e o fato de um filme de mais de duas horas no espaço não ter tantas explosões (estou olhando para você de camiseta de Chewbacca) a alegoria política impõe seu peso com propriedade.
Duna realiza o milagre dos ótimos sci-fi, ainda que a saga tenha que batalhar para merecer este posto: é um filme que faz pensar. Não é apenas guerrinha de povos e mito do herói. Há algo mais denso que percorre esta trama, talvez logo abaixo dos montes de areia. Ou pode ser que precisemos olhar para o interior de nosso ser, para dentro de um grão de areia.
Estou fisgado. E é bom voltar ao cinema.
# Sarazanmai
Caloni, 2021-11-23 cinema animes [up] [copy]O mesmo criador de Sailor Moon lança uma espécie de Madoka Mágica com meninos e que envolve tirar coisas da bunda. É uma viagem de ácido montada em várias camadas visuais. Fica difícil compreender tudo no primeiro episódio, mas parte da graça está em curtir o nonsense, então está tudo certo, pois é diversão garantida. Por enquanto não há trama mais longe do que "não mexa com espíritos que parecem sapos gigantes, pois eles não são e ficam brabos".