# Blade Runner 2049

Caloni, 2022-01-11 cinema movies [up] [copy]

Namorador de Rei Chiquita

É indiscutível o talento do diretor Denis Villeneuve em conduzir uma experiência cinematográfica. Fã incondicional de vários de seus trabalhos, como Incêndios, O Homem Duplicado e A Chegada, não escondo minha total decepção dele aceitar orquestrar um filme caça-níqueis como esse, que expande uma história já terminada décadas atrás revertendo a sensação do espectador de ter que pensar a respeito nos últimos momentos de um dos últimos grandes neo-noir sci-fi.

E quem diria que um ator do calibre de Ryan Gosling conseguiria descer tanto ao nível de namorador de rei chiquitas. Ele estava muito melhor dez anos atrás como Lars Lindstrom em A Garota Ideal, quando seu personagem conhece Bianca, uma sex doll que ele encomendou de um site adulto. Sim, uma boneca. Mas, diferente de seu par romântico em Blade Runner, a deslumbrosa Ana de Armas que faz Joi, uma garota virtual, ele pode ao menos tocar nessa boneca.

Replicante e desconcertado por nunca conseguir fazer sexo com um bando de pixels embalado em pacote de machine learning, 'K' é um policial com o objetivo de perseguir seus iguais, os replicantes, robôs de carne que diferem dos seres humanos apenas por serem criados e melhores, e fazer cara de quem está apenas seguindo sua programação, sua triste, determinística e amoral programação. Então 'K' não se diverte no processo. Pelo contrário, ele sofre.

Diferente de seu predecessor, o agente Rick Deckard, que nas mãos de um limitado Harrison Ford ainda conseguiu criar uma ambiguidade de sentimentos e estados de humor digno de estudos e mais estudos ao que se seguiu à estreia de seu filme original. E ainda ficou com a garota. Um noir de final feliz com uma cena icônica debaixo da chuva. 2049 não cosegue isso e apenas piora tentando emular.

Junto do estereótipo 'K' de cara durão, robótico de bom coração temos outras figuras que transformam um filme pesado em uma continuação infantilizada. Como a personagem de Sylvia Hoeks, Luv, um robô com instinto de ser a melhor de seu tipo em todos os quesitos, e em ser malvadona e fazer o que seu chefe mandar, e o cartunesco Niander Wallace, nas mãos do exagerado e não-bom Jared Leto e seus olhos de cristal. Também temos Mackenzie Davis como uma prostituta esquiva, mas Davis difere do elenco por fazer um bom trabalho. Ela levou a sério seu papel, mas é um sério bom. O sério de Gosling passa longe.


# Carmen de Godard

Caloni, 2022-01-11 cinema movies [up] [copy]

Este filme tem várias virtudes. Ele é curto. Ele não dá muito sono. E é do Godard, que nunca decepciona. Quando o filme é apresentado como do diretor, você sempre pode contar que será uma merda sem sentido.

Isso porque o cineasta francês vindo de família rica está interessado em burlar as "regras" do cinema em toda oportunidade. Trabalhando sem roteiro e com muita imaginação, ele cria aquelas pequenas situações cômicas e nonsense dos filmes de comédia e outros gêneros fixos. Com isso seu objetivo não é ser mais um filme de gênero, pois essas cenas são apenas o grude necessário para unir as diferentes pontas de um trabalho instigante enquanto cinema.

A história: a sobrinha do próprio diretor quer filmar um documentário no apartamento do tio. Ela assume uma abordagem heterodoxa assaltando um banco para começar. A sequência inteira, envolvendo pessoas no chão e tiros de espingarda de pessoas correndo por corredores e uma faxineira limpando o sangue das vítimas é de tirar o chapéu. Hoje serve para upload do Tic Tok.

Este filme também nos apresenta essa atriz que mostra seu corpo nu em vários ângulos e com vários pelos na parte de baixo. Com esse debut ela pode protagonizar uma cena de boquete real em outro filme famoso sem dor na consciência. Ela já nasceu pronta para o cinema de arte que passa na Avenida Rio Branco na cidade de São Paulo. Sessões triplas a partir da meia-noite. Higiene não garantida.


# Cópias: De Volta à Vida

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Este é um filme que se chama Cópias e não merece ser pirateado. Vocês não acreditam como um ator pode ser tão mal agenciado. Keanu Reeves é um ótimo exemplo. De trabalhos como Matrix e John Wick para Matrix 4 e este assombroso, péssimo, incrivelmente ruim, "trabalho" do diretor Jeffrey Nachmanoff baseado no "roteiro" de Chad St. John.

Você não vai acreditar até ver com seus próprios olhos. A família deste gênio da biotecnologia morre em um acidente de carro. Uma esposa e três filhos. Ele resolve usar a ajuda do seu igualmente brilhante amigo para juntos clonarem os corpos e fazerem o upload do backup de suas mentes. Porém, como o total das cápsulas de clonagem é de apenas três ele deixa a filha caçula de lado, apaga as memórias da menina dos outros três entes queridos e inicia o processo. Tudo na mesma noite. Além de gênio o personagem de Reeves é um psicopata, e não sabemos se o que ele nutre pela sua família é amor ou dedicação pelas suas cobaias.

Enfim, o experimento dá certo e irá se desenvolver em uma trama em que a empresa onde ele trabalho o manipula para conseguir sua descoberta brilhante de cópia de mentes para usos escusos. Tudo vira uma perseguição sem sentido e você irá ver o quão longe esse psicopata irá para manter sua família intacta. Eu não entendo porque ele apenas não faz um backup deles na nuvem.


# Dois Córregos

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Filme brasileiro da época da reabertura. Chato. Tem algum peitinho em pijama transparente. É sobre relações entre uma família e a época da ditadura e o medo do comunismo. Sim, você já viu esse filme e muitos outros sob outros nomes. O curioso neste é que... não. Esqueça. Não tem nada de curioso aqui.


# Matrix 4

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Uma carta dos diretores e roteiristas pedindo socorro aos fãs da série. Eles são reféns da Warner Bros, que quer porque quer um quarto Matrix, mesmo que quase ninguém do elenco original aceite ou esteja inspirado para mais do mesmo. O resultado? Uma discussão inicial pertinente sobre a validade de continuações cuja história é praticamente um remake.

Mas o filme continua, e fica muito ruim. As cenas de ação são descoreografadas, e o núcleo é de romance, mas os dois pombinhos, Neo e Trinity, parecem putas pagas. Duas putas pagas. Algumas participações especiais e um novo elenco que veio da série Sense8, dos mesmos criadores e que foi tristemente cancelada.

Não é difícil engolir que Matriz 4 é péssimo depois que o próprio filme faz questão de escancarar para nós a realidade: o roteiro foi cuspido sob tortura. E eu que achava que seria bacana um novo Matrix para oxigenar as ideias de um universo tão rico. O quão errado eu estava. O quão ingênuo eu fui.


# Yesterday

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Danny Boyle (Quem Quer Ser um Milionário?) dirige sem medo de ser feliz esse roteiro de Richard Curtis (Simplesmente Amor) e ambos se divertem no processo. É um filme simples e despretensioso, mas diferente das bobagens de Hollywood ele quer mostrar mais que um romance bobo e um plot previsível. Ele quer que olhemos para trás e pensemos: o que mudou desde que a geração internet entrou no comando?

Talvez os Beatles nem seriam tão populares assim, quanto mais suas músicas. Talvez Ed Sheeran (ótimo no filme) seja mais conhecido dessa galerinha do que John, Paul, George e Ringo. Talvez um mundo sem coca-cola e cigarros não valesse a pena viver.

É no meio desses talvezes que este filme se transforma em uma comédia sobre este rapaz que é um músico medíocre que seguiu carreira incentivado por sua amiga de infância e juntos vivem o mistério da amizade que quer virar paixão. É possível enxergar os estereótipos da filmografia de Richard Curtis (Notting Hill), mas quem liga, ninguém está prestando muita atenção na história, e sim nas implicações desta sacada original e divertida sobre "e se".

O "e se" da jogada é um blecaute de alguns segundos onde de repente toda a humanidade se esquece dos Beatles e algumas outras coisas mais que você irá descobrir no processo (uma piada melhor que a outra). Não vale a pena pelo roteiro. Vale a pena pela ideia e pela sua leveza.

É importante ser leve nos dias de hoje para não baquiarmos frente ao medo irracional que vivemos como humanidade. A dupla Boyle/Curtis no cenário de Yesterday representa esperança.


# Contato humano

Caloni, 2022-01-22 fiction [up] [copy]

O ano é 2047. Apesar de 100% eficaz contra o SARS-COVID-T89, o transporte de passageiros do Uber por carros autômatos não é realidade para 100% da frota. O motivo disso foi a PEC-44 aprovada no começo da semana na câmara de vereadores da cidade de São Paulo, que determina a obrigatoriedade que no mínimo 80% da frota seja composta por motoristas humanos. O resultado foi comemorado pelo Sindicato de Condutores Liberais do estado. De acordo com o líder sindical, essa é uma vitória há muito aguardada e que visa proteger tanto o trabalhador autônomo quanto o cidadão, que muitas vezes precisa atravessar diariamente a cidade na companhia apenas de um robô ao volante. "Falta aquele contato humano. Mesmo com máscaras e o paredão isolador e o sistema de som integrado é importante para mantermos a sanidade, que é tão importante quanto a segurança na saúde, ainda mais em plena pandemia", concluiu.


# Pudim de doce de leite

Caloni, 2022-01-22 food cooking [up] [copy]

Não é fácil acertar um pudim. Requer certa paciência e atenção. O erro é achar que é fácil.

Minha primeira tentativa de fazer pudim há alguns meses deu muito certo. Minha próxima tentativa foi essa semana, mas não havia anotado nada da primeira experiência bem sucedida. Então vamos lá.

A ideia aqui era fazer um pudim de doce de leite argentino com sabor de café. Isso mesmo, já vou começar mudando todos os ingredientes. Me deseje sorte. Desejou? Spoiler: não deu certo.

A primeira coisa que fiz foi café. Descafeinado. Fiz e congelei no freezer. Estava lá há algumas semanas. Desde o ano passado. Agora é a hora do pudim.

Peguei um pote médio de doce de leite argentino da La Sereníssima (relativamente fácil de achar por aqui) e joguei no liquidificador. Enchi de leite. Joguei no liquidificador. Joguei 4 ovos. E comecei a bater. E a bater. E a bater. Bata bastante para não ficar cheiro de ovo.

Joguei junto o café. Deixei um pouco para a calda. Péssima ideia.

A calda se faz com caramelo. O caramelo se faz com açúcar e água. Só misturar um pouco na forma do pudim e ligar o fogo até a consistência estar menos líquida do que quando começou e levemente marrom. Sim, são instruções vagas porque não é fácil. É uma arte.

Usando café no lugar da água você perde a morenação e fica só com a observação da textura. Pior: nem isso. O café deixou a mistura espumando, e eu tive que ficar mexendo para enxergar direito. E quando você mexe uma solução dessas corre o risco de açucarar, que é o açúcar juntar em pelotas e virar um doce. Doce de café. Foi o que eu fiz.

Desisti da calda. Fiz outra com água, mesmo. No limite do aceitável.

Calda feita, jogue o que está no liquidificador na forma, feche com papel alumínio e coloque em uma forma maior com água dentro. Vamos assar em banho maria até mais ou menos uma hora em fogo baixo.

Não se vá. Com 30 minutos de forno dá aquela abridinha esperta e note a consistência, se está mais ou menos líquido. Uma pequena vibração com as mãos pode te revelar.

Se estiver menos líquido é hora de espetar um palito de dentes até o final e tirar, entre as bordas. Se o palito não sujar está pronto. Pode tirar do forno. É um processo delicado, então muita atenção nesse momento, pois isso irá definir a textura final do seu pudim no dia seguinte.

Espera, você disse dia seguinte? Sim! Eu comentei que precisa de paciência para fazer essa receita, né? Então.

Ao tirar do forno não tire o papel alumínio até desenformar amanhã. A forma irá passar a noite assim na geladeira, mas antes ela precisa primeiro esfriar por completo.

No dia seguinte não tem segredo: passa uma faca nas bordas e gire a forma para ver se o pudim se destacou. Se não esquentar do lado de fora da forma esfregando rapidamente suas mãos ajuda. Depois que soltar coloque um prato na boca da forma e vire.

Essa minha primeira tentativa de pudim-café deu certo no sabor, mas deu ruim na textura. Ficou seco. Não tive essa atenção ao assado que a receita merece.

Mas agora estou anotando para a próxima tentativa ;)


# Onze Homens e Um Segredo

Caloni, 2022-01-24 cinema movies [up] [copy]

Este é o primeiro roteiro de golpe que podemos assistir de novo e continua divertido até mesmo depois da reviravolta final. Isso acontece porque a trama não é repetitiva. O que vemos na tela já é o golpe. Nada é explicado duas vezes, o que respeita nossa inteligência e deixa a ação falar por si mesma. Fora as transições elegantes entre as cenas. A produção é esperta e o filme segue esse ritmo sem pretensão alguma exceto ser ótimo. E precisa mais?


# The House

Caloni, 2022-01-24 cinema movies [up] [copy]

Que animação stop motion bem feita. As cores e a direção de arte são exemplares, mas é no movimento e nas expressões dos personagens que a série temática de três curtas brilha. E sua dublagem britânica é competente e charmosa, mas se sobressai na última história com a protagonista.

O tema é sobre casas e a relação de posse com seus habitantes. São histórias que você pode pensar que há um subtexto, mas acaba se revelando apenas o que estamos vendo na tela. Parecido com Coraline, onde a mensagem se torna mais poderosa por não se diluir em alegorias.


# Mãe x Androides

Caloni, 2022-01-31 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Não é pegando no pé de que Mãe vs Androides é um filme muito ruim, mas... ele é muito ruim. Quem aguenta um filme desses? Olhar pela janela e pensar na vida é bem melhor do que assistir por mais um minuto Chloë Grace Moretz e Algee Smith protagonizando este trash sci-fi travestido de drama.

A introdução acontece bem rápido. O casal descobre que está grávido, nós acabamos de aprender que existem mordomos-robôs neste mundo e... eles se rebelam. E os pombinhos ficam nove meses de bobeira no mato, se escondendo, para nos últimos dias de gravidez tentarem a sorte fugindo para fora de um EUA em guerra contra as máquinas.

O tema com certeza não é novo, e lembra vários bons trabalhos icônicos do cinema. O próprio filme nos faz lembrar através de algumas sutis referências (outras nem tanto). Entre eles Matrix, de onde vem a ideia do pulso eletromagnético para enxotar esses seres eletrônicos. E O Exterminador do Futuro, de onde vem os olhos robóticos esbugalhados que se destacam quando você atira na cara deles. E se você atira na cara de um deles já não terá mais motivos para não atirar de novo.

Mas este não é bem um filme de ação, pois ela ocorre apenas nos momentos iniciais e finais, mal e porcamente. O resto da história se trata de uma exploração por esse mundo, aprendendo sua dinâmica, o plano dos pombinhos para sair do país, a organização do pouco exército que ainda resta, os riscos envolvidos nas tomadas de decisão, como está o resto do mundo, etc. Há muitas incógnitas, mas você pega a ideia do isolamento causado por um mundo sem internet.

Houve um tempo que a persona de Moretz se encaixava nesse misto de drama e trash. Mesmo atuando já há cinco anos no cinema sua revelação surgiu em grande estilo com "Kick-Ass: Quebrando Tudo", e impressionou novamente naquele mesmo ano (2010) por sustentar em boa forma um remake americano do sueco Deixa Ela Entrar. Até sua escalação como "Carrie, a Estranha" convence parcialmente. A atriz tem um talento nato em se estabelecer exatamente no meio entre esses dois gêneros. É um talento que pode ser bem usado por cineastas que orbitam nesse estilo.

Em Mãe x Androides não há sucesso nem no trash, nem no drama, concebendo a personagem de Moretz, a grávida de primeira viagem Georgia, tendo que gerenciar seu desespero em viver este pesadelo mundial e as reflexões se teria feito uma boa escolha em ficar do lado do inexperiente e fraco pai da criança, Sam, o típico sujeito que abandona a mãe antes da gestação terminar, o que justifica as preocupações de Georgia antes e durante o apocalipse androide.

Interpretado por Algee Smith (Detroit em Rebelião), além de ser extremamente parecido com Will Smith, de quem não compartilha nenhum parentesco, ele segue a cartilha deste outro ator, acostumado a viver personagens altruístas e bonzinhos demais pelo simples fato de ser o certo a se fazer. Note que não há nenhum momento que seu caráter é posto à prova, o que nos coloca como apoiadores do desânimo e desconfiança da mãe, que não sabe muito bem por que continua dependendo desse cara para se proteger nesse mundo cada vez mais hostil.

Eu gostaria que o filme terminasse em um simples terceiro ato sem mais delongas, mas por motivos que fogem à razão o roteiro de Mattson Tomlin, que também assina a conturbada direção, se acha no direito de colocar uma reviravolta ridícula envolvendo uma armadura risível desde a primeira vez que a vemos até a última, e mais uma segunda reviravolta apelativa logo no final, com o óbvio objetivo de nos fazer chorar. Com isso a técnica de filmes de TV que faz algumas pessoas se emocionarem e saírem recomendando para todo mundo está completa, o que justifica a escalada do filme na audiência.

O preço para nós, cinéfilos habituados a essas fórmulas, é um final inchado e desnecessário, pois até os últimos minutos não estava ainda muito claro qual era o objetivo da história. Nós deveríamos torcer pelo casal? Isso não acontece em filmes ruins. Nesses filmes nós rimos da situação. Mas como rir de um filme com uma trilha sonora de uma nota de piano sozinha insistente e ritmada e uma música soul completamente brega? Faltou entender a alma desse projeto para depois nossa psique interpretar o que vemos na tela como triste ou cômico.


# O Páramo

Caloni, 2022-01-31 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Páramo: planície solitária; deserto. (Figurado) O firmamento, a abóbada celeste. O cume, o ponto culminante. (Cinefilia, por mim) Termo erudito usado por aqueles que querem seguir a onda do terror para cultos, o terror psicológico debatido tomando uísque.

O filme de estreia do diretor espanhol David Casademunt pode usufruir de uma fotografia de cores sufocantes, uma direção de arte que evoca os pesadelos mais inconscientes, uma trilha sonora que mantém nossos corações em suspense. Os efeitos visuais, apesar de batidos, também usufruem dessas mesmas virtudes de uma produção que soa desperdiçada pela óbvia, triste direção, e o roteiro escrito a seis mãos que seguramente estaria melhor nas mãos de apenas uma: o seu diretor.

O terror em camadas é de praxe hoje. Inúmeros trabalhos recentes do gênero, como Hereditário, A Bruxa, ou o mais antigo Babadook, fornecem pistas durante o entretenimento que há algo mais a se olhar do que os sustos fáceis e as sombras retocadas da equipe de produção. Há uma história. E um sub-texto. O Páramo nesse contexto é um excelente entretenimento sem uma história que a conduza. Nesse sentido ele se afasta dos trabalhos citados neste parágrafo e tristemente se aproxima de um parque de diversões muito bem elaborado.

Se você, cinéfilo treinado, que assiste pelo menos três filmes toda semana, em algum momento começou a assistir um filme e em cinco minutos ainda não sabe sobre o que se trata, saiba que o problema não está em você, mas no que aparece na tela. A história de O Páramo mistura pano de fundo histórico com folclore local e metáforas que tentam encaixar conceitos quadrados em formas redondas. Nunca consegue. No máximo sugere alguma conexão com um mundo tão terrível que as pessoas estão dispostas a tirar a própria vida do que permanecer definhando em um inferno não anunciado.

Não me leve a mal. Este é um excelente entretenimento. A produção, como comentei, é das melhores. Eu adoraria assistir mais trabalhos de Casademunt. Assim que os produtores se cansarem dele e o diretor partir para trabalhos mais intimistas. Não é na fórmula do "neo-terror" que encontraremos a obra de arte definitiva, vendável e eterna. É na liberdade das mentes dos cineastas que reside o terror mais pulsante, mais genuíno, que nosso subconsciente jamais pensou em revelar a nós mesmos.


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