# Balada do Pistoleiro
Caloni, 2022-04-01 cinema movies [up] [copy]Sequência de El Mariachi, faroeste mexicano de baixo orçamento que catapultou a carreira de Robert Rodriguez através dos ótimos reviews e da diversão embutida em um drama fácil, esta nova aventura apresenta Antonio Banderas no mesmo papel de ator diferente, e Salma Hayek como dona de uma loja de livros, e Steve Buscemi como seu melhor amigo, e Danny Trejo como um caçador de recompensas que atira facas, e Quentin Tarantino em um cameo onde mais uma vez ele morre de forma bizarra. É uma produção de amigos e não há o mesmo talento em contar uma história íntima que escala a sociedade inteira na jornada do herói solitário. Rodriguez escolhe o caminho fácil e não há recompensas no final, exceto uma bazuca dentro de um porta-violão.
# Cats é obra de arte incompreendida
Caloni, 2022-04-01 cinema movies [up] [copy]Antes de tudo preciso fazer um mea culpa pelas maldades que comentei em meu primeiro review, dizendo que este é um dos piores filmes daquele fatídico ano de início de pandemia. A primeira vez que assisti este clássico da cinegatografia internamiau eu não sabia o quão longe estava do senso estético e artístico de uma obra que vai além do nosso tempo.
Hoje eu consigo dizer tudo que queria dizer a primeira vez: Cats é o melhor filme da década.
Para chegar a essa conclusão é preciso, contudo, trabalhar essa nossa questão com o preconceito furry. Nem todos nós sabemos, mas essa tendência de colocar orelhas e rabos nos corpos das moçoilas de internet é sinal de uma revolução na forma de entender a arte e de se relacionar com o mundo que vivemos. Siga o raciocínio comigo.
Antes nós tínhamos apenas a visão e a audição para assistirmos uma história na sala escura. Hoje há o olfato e o tato. O olfato nos ajuda a cheirar as obras de arte mais de vanguarda. E com o tato vem o inevitável sentir de pelos. E quem não gostaria de ter a sensação na ponta dos dedos desses seres peludos e mágicos que cantam maravilhas enquanto se apresentam diante da telona ou telinha?
Hoje revendo Cats quase não consigo conter minha fascinação por essa obra perfeita e sobreumana. Miau. Me sinto em CATarse. Que filme cantástico!
# O Desconhecido de Shandigor
Caloni, 2022-04-01 cinema movies [up] [copy]Fui pesquisar depois o ano desse filme pensando que seria uma paródia dos filmes de espionagem da década de 60, de tão exagerado a trilha sonora, a montagem. Porém... ele é um filme de investigação da década de 60.
# O Fim da Viagem, O Começo de Tudo
Caloni, 2022-04-01 cinema movies [up] [copy]Esse filme pega quase nada de história e no final... continua com quase nada.
# Rambo
Caloni, 2022-04-01 cinema movies [up] [copy]Tenso e curto. Pensava quando criança que John Rambo era um folgado provocando as forças policiais, mas após a perseguição implacável segue um comentário político sobre o drama moral e financeiro de uma sociedade pós-guerra.
# LOL: Austrália
Caloni, 2022-04-05 cinema series [up] [copy]Um experimento quase científico: colocar os maiores comediantes do país em uma sala e ver quem ri por último. A loucura começa quando eles percebem que com os colegas de profissão é preciso apelar. E muito. Há nudez e coisas tiradas da bunda.
# Venom
Caloni, 2022-04-05 cinema movies [up] [copy]Pensei que era muito pior que os outros filmes Marvel, mas só é ruim na média. Impressionante mesmo é a capacidade de um filme com um roteiro medíocre, previsível e formatado desses reunir um cast tão talentoso. Pior que isso não quer dizer que podemos ver esse talento em ação, pois nem Michelle Williams, que foi indicada a um Oscar por uma cena de apenas cinco minutos em Manchester à Beira-Mar, consegue um único momento que entendemos sua motivação além de ser a Pops desse antivilão alienígena que vive nas entranhas de seu ex, um Tom Hardy igualmente limitado. Apesar de sua eficiência no blockbuster enérgico Mad Max - Fury Road, os efeitos digitais nesta aventura requentada em fundo verde ofuscam qualquer tentativa de construir um personagem. Tudo foi praticamente filmado em um galpão e nós notamos isso pela discrepância grosseira de cores entre os atores e o fundo de uma São Francisco estereotipada. Os únicos efeitos caprichados são os que criam essa criatura gosmenta, mas é um capricho igualmente sem personalidade. Ele precisa falar que está começando a gostar do planeta, mas nem ouvindo acreditamos.
# Bolo de Milharina
Caloni, 2022-04-06 food cooking [up] [copy]Vão 3 ovos, 3 colheres de sopa de manteira ou margarina, 1/2 xícara de chá de milharina, 2 xícaras de chá de açúcar, 1 xícara e meia das de chá de farinha de trigo, 3/4 de xícara de chá de requeijão, 1 xícara e meia das de chá de leite, 1 colher de sopa de fermento em pó, 1 colher de chá de erva doce.
Bata as gemas com a manteiga e o açúcar e o requeijão até ficar uma mistura lisa. Acrescente o restante dos ingrediantes, alternando com o leite, e misture bem. Por último adicione as claras batidas em neve e mexa brevemente. Coloque em forma de buraco untada e polvilhada com farinha de trigo. Leve ao forno médio a 200 graus por 30 a 40 minutos.
# A Filha Perdida
Caloni, 2022-04-12 cinema movies [up] [copy]Filme de arte não se gosta nem desgosta: muito pelo contrário. Nessa aventura sem pé nem cabeça cheia de metáforas inúteis sobre a vida de mãe que se relacionam de longe com críticas do patriarcado ou algo que o valha, esta professora universitária caduca e desvairada não encontra sossego em suas longas férias de acadêmica quando uma família local dá uma de Poderoso Chefão para mulheres. Há apenas mulheres nesse filme, Ed Harris e um garçom novinho, mas até eles são revelados como decepções, como todo homem que se preze neste século. Hoje se você é homem ou é violento demais ou molenga demais. E será largado por sua vadia indubitavelmente.
Maggie Gyllenhaal assina direção e roteiro dessa adaptação literária sobre uma literária. Sim, é claro que ela é a heroína da história, apesar de louquinha da silva. A interpretação da principal é algo que paramos para ver. Mais pela direção sufocante de Maggie e o sorriso maroto da sênior Olivia Colman. Ambas criam um mundo que passeia por flashbacks e constroem um mistério que será revelado quase que por acaso em uma cena nada emocionalmente ou impactante.
Isso acontece porque a heroína é uma intelectual, que como toda acha insuportável ser mãe de crianças pequenas que ela mesmo, junto de seu molenga marido, tiveram incapacidade de educar. Este é um filme também sobre o desastre da paternidade quando pais se acham muito espertos e esclarecidos, e o espelho entre o futuro e o passado se convergem.
# A História da Guerra Civil
Caloni, 2022-04-12 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Do cineasta soviético Dziga Vertov e feita para divulgar o Partido e imortalizar os militares que apoiaram o golpe contra o Império Russo, esta série de filmagens é desconexa e não conta uma história de fato. É mais um registro de momentos em que havia alguma oposição aos revolucionários e como eles foram desbancados pelos bolcheviques.
Esse conjunto de filmagens foi restaurado por Nikolai Izvolov depois de mais de 100 anos em que se pensava terem sido perdidas. E o resultado é impressionante se imaginarmos as condições precárias de armazenamento de uma Rússia em plena guerra interna. Dos 90 minutos pode-se encontrar apenas meros segundos de um filme borrado sem contraste, o que é uma vitória para os arquivos de cinematografia.
Este é um filme que faz mais de um século de vida que hoje é assistível e volta a estrear, dessa vez no festival de documentários É Tudo Verdade, e vale mais pela curiosidade, acima da arte. Não é muito diferente dos milhares de filmes resgatados da época. No entanto, se trata de um registro da história, assim como qualquer filme, ficção ou não. E naquela época se vê claramente a empolgação dos russos em estar no poder, em ter a chance de uma transformação social acelerada.
Há uma ênfase incômoda sobre os heróis de guerra. E digo incômoda não apenas por não existirem heróis nessa guerra, mas apenas por serem nomes quase completamente desconhecidos, exceto por historiadores. Para o espectador não há atrativo, exceto o maquinário dos militares da época, como uma invenção recente dos ingleses: um carro encouraçado chamado de tanque.
A História da Guerra Civil é curto e literal. Mais uma homenagem do que uma experiência. E agora que está digitalizado poderá ser visto daqui a mais 100 anos, soando cada vez mais uma curiosidade de um tempo distante e estranho a todos nós.
# Lola e o Mar
Caloni, 2022-04-14 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Este é um road movie simpático. Você se envolve com os dois atores principais de tal forma que na metade da história enxerga-os como dois amigos, apesar de um não compreender o outro (e vice-versa) a respeito de seus sentimentos.
Mas um deles é uma criança de 18 anos. Expulso de casa pelo pai por começar a se vestir de mulher, o auto-proclamado Lola vive em um abrigo que surgiu de uma novela pop e seu melhor amigo é gay (claro). Prestes a fazer uma cirurgia de troca de sexo ele precisa reviver seu passado ao voltar para a casa após o falecimento de sua mãe.
Lola e o Mar é feito para um público mais amplo. Ele não é feito com a sexualidade na superfície como muitos trabalhos de mesmo tema. Ele aborda a questão de aceitar as diferenças quaisquer que sejam, e com isso acaba perdendo bastante do seu potencial dramático. Torna a jornada de autodescoberta algo tranquilo, o que pode soar como propaganda trans para jovens, embora adultos irão sentir igualmente o ar ingênuo na atmosfera do filme.
Essa ingenuidade pode ser notada nas cores simples de identificar, que evocam tanto a juventude quanto a dualidade. E pode ser constatada na criação da própria Lola, do ator Mya Bollaers, quando pais a ensinavam que o que importa é o que ela acredita e o que os outros dizem não importa. Em uma época onde ciência é abordada da mesma forma que a opinião pessoal de cada um as crenças pessoais se tornam realidades efêmeras apenas para o prazer pessoal, em um mundo niilista em que nada de fato importa para quem vive sem significado; uma profecia, diga-se de passagem, que se realizou graças a uma geração inteira de pais relapsos e irresponsáveis.
Mas voltando, eu disse que você se sente confortável com a dupla pai e filho até a metade do filme. Isso acontece porque a atuação de ambos os atores é tão natural que eles vivem seus personagens nesse momento delicado com toda a dedicação que eles merecem. Benoît Magimel cria um pai ressentido pelo passado que foi incapaz de compreender o próprio filho e que sentiu sua ausência durante a doença terminal da mãe como uma traição. Mya Bollaers cria um jovem que passou por traumas na infância e largado ao deus-dará inventa um mundo fantasioso onde se identifica como uma mulher, sabendo que hoje há um apoio incondicional a transsexuais pela sociedade. Nós acreditamos nesses dois porque é possível que todos nós conheçamos uma Lola ou alguém semelhante ao seu pai e esse seja um retrato comparável à vida real, ainda que com menos violência e com mais diálogos.
No entanto, da metade para o final o roteiro formulaico toma conta do que foi cultivado com tanto cuidado e dá lugar a eventos jogados que por serem incríveis (como um carro pegando fogo) se tornam tão ingênuos quanto a mente fantasiosa de Lola. É como se o roteiro realmente acreditasse que uma criança ou jovem pudesse saber que o melhor para ela é viver como o outro sexo.
Fantasias à parte, há bons momentos nesta minijornada frustrada em busca de redenção. Os frutos do road movie estão bem escondidos em detalhes da história, mas mais dos seus personagens. Infelizmente essa sensação se perde no caminho e termina em cacarecos próximo do final. Fica apenas a impressão de que se este fosse um filme mais maduro veríamos uma história com mais profundidade quando se fala em sentimentos e menos apelo comercial. E sendo mais real acreditaríamos mais no potencial dessos fictícios, mas compreensíveis, seres humanos.
# Crescidinhos
Caloni, 2022-04-18 cinema series [up] [copy]Esta série apresenta crianças japonesas muito novas, de 3 a 5 anos, fazendo tarefas de adultos, como indo fazer compras ou buscar algo para seus pais. Sozinhas. Há um batalhão de cinegrafistas em torno do evento, ajudando ocasionalmente, para atravessar uma estrada, por exemplo, se for necessário. As experiências renovam nossa esperança na educação mais antiga, que não tratava as crianças como retardadas, mas capazes de serem úteis desde os primeiros anos de vida. E independentes. Uma verdadeira lição aos jovens dessa geração e aos incapazes pais de hoje em dia.
# Ninguém Pode Saber (Pieces of Her)
Caloni, 2022-04-18 cinema series [up] [copy]É com aquela atriz talentosa, apesar de feia que dói. A pegada é ser uma espécie de thriller de espionagem com um pé na realidade. Esse pé é tipo aquele pé tímido sentindo a água fria da piscina. A atriz jovem, Bella Heathcote, é linda e uma delícia, motivo pelo qual a série enquadra vários momentos com ela com a câmera por trás e ela de jeans ou close dela bem iluminada e maquiada. Ela interpreta a filha de Toni Collete de um início onde ela não sabe como agir frente a uma ameaça de vida ou morte, passa pela total incapacidade de comprar um carro e vai para "agora sou espiã, roubo cartões de acesso e uso peruca". Este salto gigantesco é marca registrada de uma TV preguiçosa e de certa forma inclusiva demais. Incluir incompetentes não é a diversidade nas artes desejada.
# Primitivo Di Manduria
Caloni, 2022-04-18 cinema series [up] [copy]Essa garrafa estava aberta há duas semanas em minha geladeira e finalmente levei em um rolê para bebê-la: a Páscoa em família. Na véspera à noite junto de uma pizza ela ainda não estava tão boa. Vinho forte demais. Deixei semiaberto em temperatura ambiente para o dia seguinte, churrasco, e aí finalmente ele deu alguns sinais de sabor. Frutas maduras, mas algum sabor. Se você para para degustar sente o valor da garrafa. É um ótimo vinho e uma ótima uva. Safra de 2017. Fiquei pensando que há vinhos que precisam saber ser bebidos, assim como há mulheres que se precisa saber aproveitar ao máximo.
# Sorte de Quem?
Caloni, 2022-04-18 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Você já conhece o tema desde Parasita, o filme-pop do diretor coreano Bong Joon Ho que conquistou todo mundo interessado nesse papo de classismo no Cinema, ganhando inclusive o Oscar e vencendo a barreira aparentemente intransponível do americano ler legendas. A obra do coreano foi influenciada pelos tempos pós-crise de 2008 e acabou influenciando diversos movimentos anticapitalistas, cada um com seu cheiro peculiar. Atingiu também Hollywood, onde ironicamente chove dinheiro para esses projetos. E falando de dinheiro, "Sorte de Quem?" é até um trabalho menor, intimista, mas bate na mesma tecla, embora, claro, sem o humor, o charme, a coesão, a edição (de Jinmo Yang), o roteiro e a direção do cineasta coreano.
Ele traz Jason Segel, o ator da série "How I Met your Mother", fazendo um personagem dramático, onde ele fecha a cara e é basicamente isso. O nome do seu personagem (consta no IMDB): Ninguém. Ele é um assaltante aleatório em uma casa de bacana cheio de laranjais, mas quando o dono chega, um bilionário da bolha high-tech, fica óbvio que a casa não foi escolhida ao acaso. Para o espectador é anunciado nos primeiros minutos que veremos um filme daqueles que foca em pouquíssimos personagens, o que geralmente é bom porque fica mais fácil de acompanhar, mas ruim por lembrar muito teatro e precisar de uns movimentos de câmera diferentões e chamar atenção: isto é cinema! Escuta essa trilha dramática e pessimista dos anos 60 e me respeita!
Mas a história é até agradável quando Ninguém, o bilionário e sua esposa precisam aguardar a chegada do resgate necessário para que este assaltante saia da vida dos dois. Em torno disso surge uma discussão bacana, ou talvez um monólogo dito pelo ricaço, claro, sobre a virtude dos que fazem acontecer e uma crítica ácida ao coitadismo. Nessa hora conseguimos entender porque foi escalado Jesse Plemons como o personagem "CEO". Da série televisiva Breaking Bad em sua última temporada, Plemons já provou ser um ator à altura de estereótipos de perfis que misturam gente mimada com força de vontade.
O que talvez tivesse sido uma coincidência incrível é que após o monólogo do CEO passamos a notar como de fato as atitudes do Sr. Ninguém lembram alguém incompetente que só consegue ganhar a vida tirando algo dos outros. Uma triste ou feliz coincidência, porque Jason Segel não possui o timing dramático necessário para transformar este sujeito em pelo menos um ladrão de galinhas. Ele não é engraçado nem sério o suficiente. Uma vez que Segel encontra um tom que pode ser usado por todo o filme ele se mantém neste e não cria mais nada de novo.
Fechando a tríade do roteiro minimalista com três personagens vem a esposa do CEO, a chamada "Esposa". Esposa é uma vítima das circunstância$$$ e decidiu se casar com este babaca cheio da grana e com isso administra uma instituição de caridade. Sua história de vida faz lembrar Melissa Gates, ex-esposa de Bill Gates, fundador da Microsoft e que serve de paralelo para o CEO do filme. Melissa e Bill fundaram uma instituição de caridade e Melissa após o divórcio levou os bilhões conquistados por Gates para continuar sua sofrida vida de ajudar o próximo.
As circunstâncias que envolvem o encontro inusitado obrigam essas pessoas a passarem dois dias e uma noite juntos, mas você não tem certeza se quer acompanhar todo esse tempo com elas. Não é que seja desagradável ou que haja muita "crítica social", hoje em dia visto em tom pejorativo. O motivo de não querermos acompanhar esta lenga-lenga é porque é simplesmente um porre, mesmo. Se bem que, pensando em retrospecto, se houvesse uma crítica social de fato e não ficasse nos rodeios teatrais intermináveis a história seria um porre de qualquer maneira.
Mas nesse caso não há história. Apenas diálogos incompletos que colocam reticências na história dessas pessoas que nós devemos preencher com os preconceitos de cada um. Dessa forma podemos comprar qualquer lado (ou nenhum, minha opção, apesar de gostar do CEO) e ainda acompanhar um pouco dessa visita desagradável. Não é frustrante quando você só quer passar uns dias isolado de boas e vem gente pedir alguns milhares de dólares apontando uma arma?
Para preencher os quesitos técnicos, é preciso citar a trilha sonora composta por Danny Bensi e Saunder Jurriaans, que realmente quer ser a protagonista desta história. Ela pede para ser notada a todo momento, competindo da direção invasiva de Charlie McDowell.
No final a lógica narrativa resolve dizer adeus sem avisar antes e algumas metáforas preguiçosas são lançadas; não que alguém estivesse pedindo por alguma. Deixa um gosto ruim de tempo perdido, sem qualquer momento marcante de três atores que funcionariam melhor em um mundo onde não houvesse apenas histórias sobre bilionários cheios da razão e toda a sociedade a mostrá-lo que não é bem assim.
# Três Canções Para Benazir
Caloni, 2022-04-18 cinema movies [up] [copy]Curta premiado de afegão querendo ir para a guerra. Ele é barrado pela documentação e pela falta de apoio da comunidade que, certa, não quer problemas com o talibã. Ele acaba indo colher ópio e vira um viciado. Tudo acontece muito rápido. Ele canta três canções para sua esposa para dar nome ao filme, e o tom da direção é todo voltado a prêmios pelo diálogo fácil e popular. A crítica aplaude.
# Feel Good
Caloni, 2022-04-24 cinema series [up] [copy]É comum comediantes de standup compartilharem suas histórias de vida de uma maneira cômica. Os melhores de uma maneira tragicômica. Porque, convenhamos, trazer o melhor da comédia exige dor e sofrimento. E se alguém tem que sofrer nessa história que seja o comediante.
Feel Good transforma a história de vida de Mae Martin, comediante de standup canadense, em uma série curta com piadas e situações rápidas que faz o tempo passar gostoso. A série escrita por ela foca em seu trauma de infância e como ele se desenrolou ao longo de anos como um vício em drogas e em depender dos seus relacionamentos. A série também aborda a questão bem atual de identidade de gênero, mas com um tom muito mais divertido e absurdo do que você costuma ouvir por aí. Dá gosto de explorar o tema na maioria dos momentos em que ele é engraçado e você logo esquece dele quando o assunto fica sério, o que é um ponto positivo para a série, que mantém o foco em fazer rir em sua dinâmica primeira temporada.
Já na segunda a série enxerga que é necessário levar a sério o trauma da protagonista e viaja um pouco nessa questão, embora não fique tão pesado quanto poderia ser. Outro tema atual surge, os cancelamentos e os escândalos de assédio sexual no show business, mas mais uma vez o roteiro de Mae acerta em lançar mais perguntas do que entregar respostas.
Feel Good é uma boa surpresa na comédia de streaming por ser leve a respeito de temas que são tratados de maneira pesada. Torna nossa visão de mundo mais clara e nossa vida mais alegre. Nunca é demais rir das desgraças da vida.
# Fantasmas do Passado (Master)
Caloni, 2022-04-24 cinemaqui cinema movies [up] [copy]A área de tecnologia costuma estar totalmente apartada das discussões sociais que rolam no mundo lá fora. No entanto, anos atrás surgiu um tema completamente aleatório e desnecessário que uniu temporariamente esses dois ambientes, misturando no processo conceitos históricos e uma prática comum de engenharia, o que trouxe à consciência de pessoas que nunca tinham parado para pensar sobre a futilidade de alguns movimentos humanos.
É de praxe o uso dos termos master e slave, do inglês "mestre" e "escravo", quando há equipamentos que trabalham juntos em uma relação onde um determina o comportamento dos outros. É importante para o engenheiro da computação distinguir quando um determinado equipamento irá trabalhar como o mestre e planejar corretamente quais serão seus escravos.
Da mesma forma, no mundo do software, ou programas de computador, não é diferente. O controle do código-fonte, ou seja, aquilo que programadores escrevem para tornar realidade sites, apps e outras milhares de modernidades, é organizado da mesma forma através de diferentes versões. A versão do app que pode ser baixada no seu celular, a base de todas as outras, é a master. Todo o resto, embora aqui não seja usado o nome, são versões escravas da master, pois elas devem seguir tudo que a versão principal determinar.
Para você entender a dificuldade dessa sopa de letrinhas tecnológica eu tive que gastar alguns parágrafos para finalmente chegar na discussão que ocorreu a respeito dessa palavra. E isso não foi à toa, pois apenas ilustra a enorme distância entre o entendimento entre especialistas de diferentes áreas de conhecimento, que até então conviviam em paz. Se alguém da área de letras (da qual também já fiz parte) estiver presente este deve deve concordar comigo ao se lembrar que diferentes tribos linguísticas utilizam os signos, ou o significado das palavras, de maneira diferente e geralmente com o objetivo prático de serem úteis.
Então você imagina, caro leitor, o espanto da área de exatas em observar que havia um movimento completamente descabido ocorrendo a respeito do uso da palavra master. O motivo explicado por algumas áreas de humanas teria a ver com as origens históricas da palavra, que remete à época da escravidão. E de fato. Escravidão faz parte de toda história humana. Até onde se sabe desde o início da civilização. Assim como outras questões existem desde o início. E o significado das palavras usadas em torno de questões milenares são recicladas em diferentes contextos para atender a novos objetivos na comunicação.
E por que estou divergindo para este tema? Apenas por causa do título original deste filme, Fantasmas do Passado, ser Master? Óbvio que sim. Mas não só isso. O filme inteiro, um terror psicológico desses modernos, discorre sobre relações históricas, embora bem mais recentes: a escravidão norte-americana.
Porém, o filme nos desperta para mais. Ele nos diz de maneira muito atual sobre as novas disciplinas, diretrizes e currículos dos cursos que regem áreas como literatura, com foco no racismo ou na visão de uma sociedade que vive o racismo ou viveu há pouco tempo. Isso significa, por exemplo, em interpretar sob essa nova ótica a leitura de obras alheias no tempo e espaço a essa questão local. Pegam-se livros como A Letra Escarlate e utilizam -se lupas fabricadas na indústria educacional norte-americana para entender, assim como os estudiosos das sagradas escrituras, se escarlate não significa um tipo de racismo colocado sob outro contexto.
A alegoria de Master vai longe. Talvez mais longe do que o roteiro é capaz de suportar. Misturando o gênero terror com temas atuais, o filme pega carona nos sucessos do diretor Jordan Peele, Corra! e Nós, mas não possui o esmero dessas obras em sugerir conotações. O filme joga inúmeras ideias, mas deixa o espectador largado para enxergar algo por si só. Tudo é muito vago. Como uma mensagem secreta sendo passada para membros de uma seita que irão assistir ao filme, o cinéfilo comum irá viajar na maionese.
A história é daquelas clássicas de terror sobre lendas antigas e eventos nefastos em torno da universidade do interior, mas muito mais ocorre dentro da mente de suas protagonistas, a jovem estudante universitária Jasmine em seu primeiro ano, e a nova Tutora, ou Mestre. É como a reitora da faculdade, cuidando junto do conselho para que as regras e as direções para onde a escola pretende seguir sejam cumpridas. Alguns irão relacionar com Sandra Oh na série The Chair, onde ela interpreta uma personagem com função acadêmica semelhante.
Como este é um filme de terror não é preciso dizer que essas duas estão em apuros. Porém, o que nós não sabemos no começo é que nós espectadores também estamos.
No decorrer da história com acontecimentos bem clichês que constroem a tensão através daquela estranheza sobre quem é do mal e quem é do bem, vamos assistindo a essa mistura de temas girando em torno de inclusão, representatividade, diversidade, meritocracia, entre outros nomes bonitos, e tudo o que queremos é levar algum susto. Porém, o terror vira um drama molenga onde não há risco físico, embora deveríamos estar preocupados com a integridade das protagonistas pela mera construção de tensão. A mensagem inerente é martelada: alguém está tramando contra essas mulheres por serem negras.
Porém, a questão do drama molenga não é exclusividade de Master. Muitos gêneros possuem seu "momento trash" ao londo das décadas de cinema, como sci-fi, western, comédia e o próprio terror. Dramas não possuem esse estigma. Até hoje. Hoje dramas mainstream são versões menores do que um dia foram. Um protagonista que passa por uma provação psicológica considerada leve vinte anos atrás, como bullying verbal, é motivo para a construção de uma tensão desproporcional na cabeça dos cineastas recentes. Em terrores psicológicos que se travestem de drama o resultado é ainda pior, pois falta personalidade nos personagens, que são esterótipos de vítimas de algo supostamente maior do que carne fresca para ser abatida. Dessa forma, tanto as lágrimas do drama quanto o sangue do terror não valem o sacrifício do espectador. Não sentimos que é necessário dedicar tempo de nossas vidas para acompanhar vidas com traumas menores do que a vida real.
Porém, assim é também em Master, que é apenas um exemplo de uma tendência maior. As reviravoltas do terceiro ato em vez de dar mais fôlego à história nos sufocam, e uma revelação sobre a verdadeira cor de uma das personagens soa risível para qualquer um que não faça parte da seita que é o verdadeiro público alvo deste filme. Toda a tensão vai diminuindo, e nem a morte de uma garota impacta o suficiente. Filmado como um assunto corriqueiro, falta alma aos acontecimentos reais e sobram elucubrações sobre o psicológico infértil.
O que no fundo lembra bastante as análises das obras literárias que são feitas no filme, rasas e aleatórias, exceto pelo dom de serem populares. Apenas lembrando, essas obras são revistas sob a ótica do racismo em faculdades sérias, mesmo tendo sido escritas alheias à época que vivemos. Isso é motivo de orgulho? Talvez os membros dessa seita secreta que produz filmes uns para os outros possam aplaudir essa sessão, discutir fervorosamente sobre ela. Para o público comum faltou manteiga na pipoca. E não, isso não é uma metáfora psicológica sobre o racismo ou qualquer outro assunto. Não ataquem a palavra manteiga, por favor.
# Loucos do Coração (Going Places)
Caloni, 2022-04-26 cinema movies [up] [copy]Miou Miou na interpretação mais marcante de sua carreira é a puta de dois bandidos. Um deles é Gerard Depardieu antes de virar um monstro. A personagem de Miou não sente tesão de nenhum dos dois e parece uma boneca sexual perfeita na cama. Até dar para um psicopata e ter seu primeiro orgasmo.
Este é um filme de emoções fáceis. Dois capangas meio molengas vão vivendo de golpe em golpe sem medo de ser feliz. Eles assediam mulheres na rua, estão no auge da juventude e não querem trabalhar. Contestam as coisas como elas são roubando os outros. É um filme de contracultura que seria feito por Godard se Godard soubesse escrever e dirigir.