# The Batman
Caloni, 2022-05-01 cinema movies [up] [copy]O que é isso, gente. Esse de longe é o Batman mais feio, mais raquítico e menos másculo de toda a saga. Perde até para o da série de TV dos anos 60, que pelo menos dava uns tabefes no Coringa.
Ele é o alterego de Bruce Wayne, o pobre órfão de pai e mãe que herdou alguns bilhões e cresceu revoltadinho. Sua maquiagem, seu cabelo longo e mal feito, suas roupas desajeitadas levam a crer que ele ou é emo ou é gótico (ou os dois). Mas ele nasceu e cresceu em Gothan City, a cidade gótica, então pelo jeito nosso garoto já escolheu um lado. A cidade também. Diferente dos últimos filmes de Chris Nolan, que sanitiza a experiência de habitar uma Nova York menos quadrada, e diferente do divertido caos idealizado pelo fantasioso Tim Burton, o diretor Matt Reeves usa sua sensibilidade prática para pedir ao departamento de arte algo mais sujo, decadente e realista. Reeves é responsável pelos novos e impecáveis Planeta dos Macacos, e aqui o filme ganha as mesmas virtudes estéticas: funcionais e estéreis. Do fundo dos cenários vemos construções góticas envoltas em uma cidade decadente, vítima do socialismo institucionalizado. Seu último filantropo, o ricaço Thomas Wayne, assassinado antes de se candidatar a prefeito, deixou uma fortuna para projetos sociais, e todo mundo que viveu a Era Lula sabe o que isso significa nas mãos de políticos: um Mensalão generalizado que só verá fim agora que minorias são colocadas no holofote como representantes de moralidade e justiça por serem minorias.
Mas deixemos esses detalhes de cartilha de lado, que nem importam mais. Nessa época racista onde pode-se usar a expressão "ricos brancos safados", a mulher-gato é um pitelzinho justamente por ser parda. Diferente daquela sem graça da branquinha de Nolan -- Anne Hathaway, tinha esquecido até o nome -- Zoë Kravitz tem pegada e atitude. Não tanto quanto a inesquecível Michelle Pfeiffer, mas tem. E mais até que Robert Pattinson, que observa tudo de longe em seu niilismo que se transfigura em uma loucura funcional movida por uma espécie de vingança adolescente com muito dinheiro no banco. Bruce não consegue se comunicar; é um recluso, apenas olha para as pessoas e observa, embora mantenha um diário detalhado por dois anos de seu projeto de justiceiro, que acaba virando a narração em off do filme, um belo toque à narrativa.
The Batman é um filme excessivamente longo porque ele teme o inevitável: que percamos o interesse. O que acaba acontecendo inevitavelmente nos minutos iniciais. E eis a estratégia para ganharmos o interesse novamente: nos acostumarmos com essa atmosfera e seus repetidos e ligeiramente diferentes personagens. No início do terceiro ato vemos uma bela performance do sempre ótimo Paul Dano por uns cinco minutos e temos a impressão de que o filme como um todo foi mais instigante, e não um apanhado de frases prontas ditas mecanicamente em um set estilo parque de diversões para crianças que se acham adultas. Quem em pleno 2022 tem coragem de recriar cenas de carros surgindo voando por uma névoa e a visão de um vingador se aproximando lentamente de ponta-cabeça, uma metáfora tão óbvia de morcego que dá sono? Porém, o mais importante para nunca mantermos nosso interesse: esse Batman nunca se revelou peça chave nessa dinâmica pela definição e posterior busca por justiça.
E como definir a justiça em tempos tão líquidos? Há algumas injustiças pessoais sendo praticadas no filme em torno de impunidade, negligência e corrupção, mas nada tão sistêmico a ponto de precisar ser corrigido, ou se precisa ser corrigido não se pode confiar no mesmo sistema que a quebrou; um detalhe que a hoje admirável trilogia de Nolan soube explorar tão bem. O fato é que desde o pano de fundo do mais honesto Coringa (Todd Phillips, 2019) alguma coisa mudou para surgir esse lampejo de ingenuidade nos idealizadores de filmes dos supers.
Uma pista é que este é um filme que quer se redimir dos insossos e insuportáveis Batman Vs Superman e Liga da Justiça. E ele começa de maneira nada sutil, ressignificando Ave Maria, a música que se tornou um porre porque Zack Snyder simplesmente não consegue parar de usar em seus trabalhos. O roteiro de Reeves junto de Peter Craig (escritor do final de Jogos Vorazes) vai além, inventando ou usando mais uma mãe morta cujo nome é Martha, para comprovar que vindo da DC zoeira pouca é bobagem (para os desavisados: há uma piada, ou vou chamar de piada, no final em BvS envolvendo mães com o nome Martha).
Por fim, este é um trabalho técnico, e os fãs autistas geralmente se apaixonam pelo filme só por isso, se esquecem da arte implícita nessas obras. E não é à toa que o fã clube de Christopher Nolan reúna tantas pessoas no espectro. Então, nada mais justo que admirar as virtudes de mais uma produção estéril em ideias e pesada na maquiagem.
A fotografia, por exemplo, que encara essa arte gótica ressignificada, é a mais escura de todos os Batmans, além de amarelo âmbar, e com o uso de muitos cortes e algumas cenas de ação deixa tudo geograficamente bem confuso de acompanhar. O lado bom é que há pouca iconografia e aqueles momentos solenes de Snyder em câmera lenta que todos nós agradecemos por não existir neste filme, mas ainda assim todas as cenas dramáticas continuam solenes demais a ponto de não ter a mínima graça e zero engajamento. Este é um Batman de passagem, não liga muito para si mesmo, e nós nos lembraremos dos de Nolan daqui a alguns anos. Desse não.
E por fim novamente, já que detalhes técnicos são o parâmetro de qualidade na arte cinematográfica do século 21, talvez a exceção virtuosa seja mesmo a trilha sonora, que vem com um tema bacana, de Michael Giacchino, que poderá ser inserido em continuações mais lentas e cínicas. Quem sabe a produção emplaca e poderemos aguardar por um Robert Pattinson mais velho e igualmente cínico, próximo da persona de Ben Affleck em BvS, que assim como Paul Dano tem se tornado uma versão distorcida de alguém verdadeiramente maluco. Poderá o envelhecimento ser a salvação dos heróis e vilões da DC?
# Águas Selvagens
Caloni, 2022-05-05 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Se você gosta muito de filmes então precisa gostar muito de trash. Não há muitos filmes por aí onde podemos encontrar qualidade mínima, menos ainda o estado da arte, que justifica a existência do cinema. Em compensação, há uma tonelada de filmes desovados anualmente nas salas comerciais de cinema de todo o país. Isso nos faz repensar sobre o status quo adquirido por esses tais filmes raros que são realmente bons. Em contrapartida, os filmes ruins fazem a pipoca sair mais caro que o ingresso, o que é uma lástima para a arte, mas graças à manteiga ainda há esperança no escurinho.
Esse é o contexto geral (confuso, eu sei) com que se deve assistir Águas Selvagens, mais um trabalho que desafia a nossa percepção do que é cinema. Seria o trash a verdadeira arte?
A história começa com um corpo de um homem à beira de um rio. Detalhe: ele está capado. Esse rio fica no fim do mundo, mais precisamente na última cidade argentina antes da fronteira com o Brasil. As autoridades locais poderiam dar conta do caso facilmente, mas o envolvido no processo, o irmão da vítima, acha melhor trazer da capital um ex-policial para investigar melhor e conseguir se safar. Ou seja, há um cheiro de podridão no ar, de algo que não está certo mesmo sem sabermos que você irá sentir em cinco minutos de projeção.
O policial/investigador é um recluso. Não pode ver a filha e se finge de amigo virtual para poder falar com ela pela internet. Ele sai de Buenos Aires e aceita esse trabalho no fim do mundo apenas para conseguir pagar a festa de debutante da filha, mas logo começa a se arrepender conforme os podres da história começam a surgir e ele começa a duvidar que irá escapar dessa vivo.
A atmosfera noir de Águas Selvagens é uma brincadeira bem humorada; por causa dos infinitos cigarros que o protagonista fuma, ou a impressão de um espectador cansado de clichês. O limite entre Brasil e Argentina na história se torna tão próximo quanto o noir e o trash no filme. Os idiomas português e espanhol se intercalam nessa produção binacional.
Não demora muito e os personagens se acumulam em um thriller confuso. A sensação geral é de estar perdendo algum detalhe importante para entender a trama, mas chega uma hora que os detalhes são tantos que é melhor deixar o filme nos levar. E para onde eles nos leva? Essa vira uma pergunta difícil de responder conforme os temas de abuso infantil, violência contra a mulher, corrupção e fetichismo se misturam.
Mas o trabalho de imersão é atraente. Uma fotografia cinzenta com alto contraste deixa o herói da história uma ou duas décadas mais velho, e sua barba mal feita e por fazer é a cereja do bolo, principalmente por estar junto de um incômodo suor na face do sujeito. A iluminação das cenas torna os bandidos mais cruéis, com a cara cheia de sulcos e falhas. A falta de cores quentes harmoniza com a sugestão de um grão maior da "película" (apesar de digital) que torna um filme que se passa quase todo o tempo no período do dia drenado da luz do sol.
Há um pouco, bem pouco, de humor neste investigador portenho interagindo com os locais. Interpretado por Roberto Birindelli com uma introspecção que o projeto não merece, ele fala em espanhol e recebe a resposta sempre em português. Há algumas palavras em comum nos dois idiomas que em alguns momentos faz virar uma mescla poliglota, mas o sotaque ou o choque de gerações e classes sociais os mantém separados: o proletariado sofrido imigrante (pulou a cerca) fala português brasileiro; os corruptos, fetichistas e canalhas se comunicam usando espanhol. Menos nosso herói da capital.
Na maior parte do tempo você fica inquieto tentando entender a história, mas quase querendo desistir porque os personagens não merecem tamanha atenção. O que nos segura é o trash, a sensação de que estamos vendo um filme muito ruim e longo sobre filmes igualmente ruins e longos. E por que isso seria bom? Não seria. É apenas a esperança de ver algo diferente. Uma metalinguagem, uma discussão de gêneros ou clichês do noir. Esperamos pela risada, mas o drama atrapalha. Tem reviravoltas tristes pelo caminho e elas não ficam engraçadas ou bizarras porque o filme os leva a sério. Claro que temas como abuso infantil são ultrassensíveis, mas este não é um documentário em primeiro lugar. Faz até pensar se os personagens do filme realmente estão acreditando que vivem nessa ficção peculiar de bizarra.
Tudo seria mais fácil se este fosse um filme que se passasse uma camada acima apenas no grau de esperteza de seus idealizadores. Tudo que nós cinéfilos esperamos são bilhetes secretos destes, escondidos por trás de um bom trash. E tudo o que nós cinéfilos não esperamos é que um filme de qualidade duvidosa comece a se levar a sério. Isso frustra nossa jornada em busca da experiência sem consequências, da emoção da sala de cinema, que logo irá virar fumaça, e o que irá restar é esse gostinho de trash divertido. Infelizmente não foi assim em Águas Selvagens.
# Bolo de Chocolate Fofo
Caloni, 2022-05-14 cooking [up] [copy]Comece com esses ingredientes:
Mexa todos os ingredientes em pó (peneirei o açúcar e o cacau em pó tbm). Depois de mistura-los, acrescente:
Depois de mexer todos os ingredientes, unte uma forma com manteiga e farinha e leve ao forno pre aquecido 180 graus por mais ou menos uns 35 minutos (ou fure o meio com palito e se sair limpo, está pronto).
# Mentes Extraordinárias
Caloni, 2022-05-14 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Quem gosta de filosofia hoje em dia, certo? De acordo com Mentes Extraordinárias, apenas os que dela precisam. E quem precisa? Igor, por exemplo. Vítima de paralisia cerebral desde o nascimento, mas dotado de uma enciclopédia de conhecimento sobre como viver a vida graças às suas leituras dos grandes pensadores, é tão vasta a insignificância dessas pessoas dentro da sociedade que deduzimos que Igor recorre às grandes mentes do passado para se confortar com o fato de que ninguém irá querer conhecer a sua própria quando vê o corpo da pessoa todo retorcido seguido de uma fala debilitada.
No outro extremo temos a filosofia prática e barata, representada e aplicada pelo agente funerário Louis. Quando seus clientes vem preparar um enterro e afirmam não acreditar em deus perguntam a ele e sua resposta é a mesma. Porém, quando Louis nota que seu cliente trata-se de alguém religioso sua resposta é exatamente a oposta. Acostumado à vida de confortar estranhos por dinheiro, seu trauma é não ter conseguido confortar sua ex-mulher quando seu filho morre aos dezessete anos.
Um acidente une esses dois e logo temos um road movie que passa rápido, em grande parte porque Igor é tão divertido. Seus diálogos são exemplos de um roteiro fresco e sagaz como há muito falta no cinema. Mentes Extraordinárias é um filme que passa rápido porque ele exibe uma série de ideias que se conectam e fazem o espectador pensar mais nas perguntas do que nas possíveis respostas para as angústias de estar vivo e saber que se vai morrer.
Sim, o tema é bem facinho de nos acomodar. Quem não gosta de refletir sobre a própria efemeridade e o quão tudo é tão absurdo? Porém, o filme não toma o caminho mais fácil de manter uma história simples e bem conduzida. Essa história é bagunçada, com personagens sem muito motivo de existência, como uma moça que vira carona eventual, ou uma prostituta inesperada, mas tudo isso também acontece na vida real quando nos entregamos às inexoráveis forças do destino. Quando portas se abrem não existe mundo fechado, e o filme entende tudo isso e prioriza seus personagens acima da aventura que estão vivendo.
O que é ótimo, já que seus personagens são interpretados pela própria dupla de diretores, Bernard Campan e Alexandre Jollien. Eles escreveram também o roteiro e é a sagacidade da trama que mantém tudo coeso e divertido. Bernard Campan faz um agente funerário cuja falta de palavras ecoa pelo ar. Alexandre Jollien torna muito difícil um espectador desgostar de sua persona.
Importante lembrar que Jollien na vida real também sofre paralisia cerebral, e seu personagem traz muito de si. Ele é um filósofo de carreira, tem trabalhos publicados e seu livro ganhou prêmio de literatura e filosofia. Isso explica o pedestal onde seu personagem coloca tantos pensadores e suas diferentes opiniões a respeito da vida e da morte. São nomes conhecidos, outros nem tanto, mas os que gostam de estar na moda provavelmente vão se lembrar dos estoicos, cujas ideias andaram vendendo alguns best sellers e likes no YouTube nos últimos anos.
Mentes Extraordinárias, contudo, não é um filme extraordinário. Ele apenas abre um parênteses em torno de tanta ignorância a respeito dos outros e, principalmente, a respeito de nós mesmos. É uma jornada de auto-conhecimento sem sequer sabermos. Ele não apela ao emocional apesar de seus personagens estarem completos na tela. É um novo Intocáveis, filme com Omar Sy sobre debilidades físicas e sociais, que também não é um grande filme, mas que você provavelmente irá gostar de revisitar depois de um tempo. Dá uma sensação gostosa saber que não estamos sozinhos no universo pensante.
# Sonhos com Xangai
Caloni, 2022-05-15 cinema movies [up] [copy]Filme de arte sobre a China da década de 80. O Partido manda as pessoas das grandes cidades emigrar para construir a terceira linha de fábricas, mas com isso deixa famílias separadas e morando em um fim de mundo onde os jovens irão seguir seus hormônios e fazer o que é preciso para provar que são capazes. Enquanto isso os mais velhos planejam uma nova revolução para fugir do destino que seus filhos terão, voltando para Xangai. Este filme foi feito por um chinês que teve seus pais e avós nessa situação e dedica a eles. Construção clichê daquelas de arte, bem nebuloso e diálogos ou inexistentes ou feitos para teatro.
# A Médium
Caloni, 2022-05-17 cinemaqui cinema movies [up] [copy]A Médium é um terror tailandês de duas horas e vinte minutos em que assistimos a uma versão online e dublada em português e eu já não sei mais o que é terror: o gênero ou a experiência. A viagem de interpretação do filme começa quando você não tem certeza se na verdade é uma comédia, em que os atores do oriente dizem suas falas com sotaque brasileiro e uma afetação que não condiz com nada do universo misterioso que estamos vendo. Essa discrepância entre floresta tailandesa e brasileiros falando é cinema nonsense por definição, que é uma forma educada de dizer que o filme começa virando coisa nenhuma apenas pela dublagem.
A história começa com uma narração bonita, filosófica, que nos coloca na mesma página das crenças daquele povo a respeito do que são espíritos e almas. Eles consideram algo além do ser humano. É como se todo o universo pudesse ainda reverberar através dos vivos os que um dia foram. É uma boa introdução para um filme que começa como um documentário calmo e tranquilo.
Porém, você sabe que não vai ser assim para sempre. Qualquer espectador, até o mais desavisado, pode afirmar depois de alguns minutos de projeção que este não é um documentário de verdade. Porém, por algum motivo, o diretor Banjong Pisanthanakun (se é fã de terror você irá lembrar dele pelo filme Espíritos: A Morte Está ao seu Lado) resolve brincar disso até o final, pois mais vergonhoso que chegue a ficar.
A narração diz haver uma equipe de filmagens que entrevistou vários médiuns nessa região e escolheu essa mulher, Nim, a filha mais nova de uma família tradicional e que acabou herdando uma entidade secular de seus antepassados, um espírito cuja real natureza nunca é revelada, ou não se sabe. Essas entrelinhas embaçadas beneficiam a história porque o espectador precisa construir uma narrativa para si, e o medo ou curiosidade começa a habitar dentro de nós.
Os eventos da história principal são desencadeados com uma morte nessa família que gera um comportamento estranho na sobrinha da médium, a jovem Mink, que foi a que encontrou o corpo do falecido. É rápido para o mockumentário deixar de fazer sentido conforme sua edição começa a ficar caprichada demais, e descobrimos atuações do elenco sendo reveladas em um roteiro com diálogos de filme de terror. O filme então se interessa em causar sensações no espectador que nós já conhecemos. O mal estar de uma pessoa que está sendo tentada por espíritos malignos. A relação da jovem e sua comunidade sendo abalada por seus acessos de fúria. Os efeitos visuais que nessa fase não exageram, mas sugerem comportamento sobrenatural. Esse é o pacote dos fãs de terror, e é tudo bem feito, com uma ou mais câmeras na mão.
Logo surge a trilha sonora e os cortes que tiram o espectador desse faz-de-conta infantil do início do filme e o transporta para essa viagem pelo parque de diversões. Mais especificamente no trem-fantasma, onde uma história assombrosa nos é contada e aos poucos vai sendo aumentada. O que fazer para curar a sobrinha da médium? Por que ela está fazendo sexo com estranhos? Por que ela rasga a própria roupa, mostrando seus seios nus? Seria exploitation para tornar a película mais valiosa? Não, imagine. Isso não acontece mais no século 21. Ou será que acontece?
Então chegamos no terceiro ato, onde toda a plateia está esperando pelos fogos de artifício e quem é que vai segurar a câmera por último antes de morrer. E, meus leitores, é preciso dizer: é um show de horrores. No melhor e no pior sentidos. Há um pouco de gore além da conta, assim como algumas tripas filmadas com pouca luz, já que "o grande ritual", aquela parte integrante dos finais de terror, é conduzido em uma casa abandonada cercada apenas pela floresta. Aos poucos surgem aqueles jump scares que empolgam um pouquinho, e não demora para começarmos a nos entediar. Hora de pensar na vida, no que vamos fazer para o almoço... será que essa atriz vai fazer mais algum trabalho ou vai sair na revista?
Eu não consigo falar muito sobre as atuações por causa da dublagem. Algumas expressões, principalmente da atriz que faz a médium, me sugere que esta é uma boa interpretação até para o conteúdo do filme,mas sua voz não me chega. Apenas a leitura burocrática de uma tradução sem personalidade não é o suficiente para entendermos se A Médium pode ter alguns pontos fortes no elenco além de transformar um mockumentary em trem-fantasma com roteiro manjado.
Porém, caro leitor, se você gosta de se assustar e tiver a oportunidade de assistir a esta experiência em uma telona com o som original, garanto que irá sentir alguns arrepios. Poderá se entediar eventualmente, mas será menos e será rápido, pois os trilhos desse trem-fantasma são dispostos para sustos rápidos, não tão bem escondidos, mas a atmosfera bucólica e charmosa facilita a experiência. Aliás, tudo facilita no filme. Menos a dublagem e a história difícil de engolir.
# Estranhos no Paraíso
Caloni, 2022-05-17 cinema movies [up] [copy]O filme de arte do Jim Jarmusch que o revelou a Cannes, que é um festival de filme de arte. Tanto que fica na França. O filme é em preto e branco tosco e tem alguns diálogos em húngaro, como manda a cartilha, apesar de se passar nos EUA. Nova York, Cleveland, Florida. Três atores desconhecidos, uma câmera na mão e nenhuma ideia muito boa, exceto ligar a câmera. E uma música muito boa. De arte.
# Homens?
Caloni, 2022-05-18 cinema series [up] [copy]Esta comédia de Fabio Porchat tem umas boas sacadas eventuais, embora apenas nos diálogos, evocando tanto o roteiro quando a direção de Porta dos Fundos, um canal fundo de quintal do YouTube que virou mainstream e diminuiu o número de piadas ousadas para chegar em um meio-termo entre ficar rico e agradar ao público que se acha inteligente. É a história de um homem com disfunção erétil porque vive em um presente em pleno pós-apocalipse, onde o politicamente correto e o feminismo castra as pessoas mesmo sem elas saberem, e onde o lado "oprimido" toma conta do jogo da "opressão". Além disso, não tem graça nenhuma esse pano de fundo. É melancólico, simbólico e depressivo; e inconsciente e inconstante.
E por falar em consciência, eu me pergunto até que ponto existe consciência entre os criadores de séries como essa e o capitalismo hoje socialmente engajado que tenta surfar na onda dos protestantes de internet assumindo temas que se acredita serem relevantes em nossa época. Porém, a real pergunta que deve ser feita é se a consciência precisa fazer parte do pacote de um programa de humor, se deve estar nas palavras de seus personagens. Porque, sinceramente, saindo da boca dessas pessoas o conteúdo se torna não apenas insuportavelmente ruim, mas absurdamente imbecil. A série evoca mulheres socialmente conscientes ignorando se as mulheres realmente conseguem ou deveriam pensar em primeiro lugar.
É nessa dúvida cruel que você percebe que assiste ao show mais porque o elenco masculino é divertido e simpático, sacrificando seu bem estar mental e tendo que suportar discursos aloprados de quem anda lendo/assistindo muito blog/canal de opinião, pelas risadas de situação do roteiro, que são engraçadas, mas que poderiam ser acessadas em outros conteúdos. Comédias dos anos 90, por exemplo.
O pior de ter que assistir Homens? pelas piadas que não têm qualquer relação com o tema da série são justamente as mulheres. Essas tristes criaturas que se assemelham a fantoches bem pagos para representar através dos mais diferentes estereótipos, como a artista negra, a swingueira responsável, a mãe de família que banca o marido, o que existe de mais moderno no mundo contemporâneo. E, apenas para deixar claro, a palavra moderno não é um elogio.
# House M.D.
Caloni, 2022-05-18 cinema series [up] [copy]Estou revendo essa série médica onde na época encontrei a metáfora perfeita para debugging: diagnosticar "doenças" do software. A maioria delas bem comum; mas algumas bem raras.
Há inclusive um texto da época onde este era um blog apenas técnico onde demonstro minha empolgação com essa analogia. Hoje é a vez de analisar como série.
E House não possui nada demais como trama ou história, exceto seu núcleo. O protagonista vivido por Hugh Laurie é o centro desse drama sobre um médico brilhante e seus métodos não convencionais de diagnosticar seus pacientes, geralmente casos raros.
Há uma fórmula usada em cada episódio e ela aos poucos vai sendo revelada ao espectador comum. De vez em quando se trata de um câncer de difícil detecção, outras vezes é um conjunto de fatores que desencadeou os sintomas bizarros. Havia um certo charme nos primeiros episódios, mas como toda série a fórmula é levemente modificada para que a história não fique muito previsível ou enfadonha.
Parte das mudanças está na potencial evolução do protagonista, que é um viciado em um medicamento chamado vicodin. A causa dele ingerir o analgésico é devido às dores de sua perna direita após a necrose muscular do membro, fruto de uma cirurgia que acabou salvando sua vida. Muitos dos personagens acessórios dizem que House sempre foi mal-humorado e polêmico, outros que ele ficou ainda pior após a cirurgia.
O vicodin é formado por duas substâncias: hidrocodona e paracetamol. Graças à hidrocodona os receptores de opióides dos neurotransmissores são ativados, o que deprime o sistema nervoso central. Apesar do médico-chefe só conseguir pensar claramente para resolver o diagnóstico de seus pacientes sob o efeito da droga, ironicamente ela diminuiu sua atividade cerebral.
A dinâmica da descoberta das doenças dos pacientes passa pela análise de sua equipe, que é a melhor parte da série, por evocar os poderes de dedução nos espectadores leigos (meu caso). É de lá que surgem as frases mais marcantes e as discussões mais empolgantes sobre ética e o quebra-cabeças vivo que é o corpo humano.
Tudo no primeiro episódio é feito para explicar qual será a fórmula dos próximos. Os personagens importantes se apresentam inicialmente pelo roteiro (a versão televisionada cortou essas cenas). Em menos de uma hora entendemos parcialmente este mundo que se abre; a impressão é de assistir a um Sherlock Holmes em um universo paralelo. Porém, Hugh Laurie não imita o personagem secular de Conan Doyle, decidindo criar uma nova persona, conhecedora da mente humana como ninguém, mas sob os olhos frios da ciência e o julgamento sarcástico de quem está eternamente com tédio e dor.
Lendo comentários feitos neste site que possui uma visão técnica dos episódios é possível encontrar pontos importantes para quem é de fora da área. Por exemplo, alguém observa que não há outros médicos realizando os exames pedidos para a equipe, e às vezes são procedimentos simples, como um exame de sangue ou raio-X. E o motivo é claro, embora sutil: House não confia em outros médicos.
Como o próprio protagonista vive dizendo, as pessoas não mudam. E no caso da série nem sua narrativa central: surge um novo caso, o primeiro diagnóstico nunca funciona, abre-se o primeiro ato e cria-se uma atmosfera de mistério, que efetivamente gera alguma tensão. Nós leigos apenas imaginamos o que poderá ser, sendo que na realidade não conseguimos sequer mensurar a dificuldade dessa tarefa de adivinhação, embora a série se lembre eventualmente que House é o melhor de sua área. Isso implica que nem o especialista mor consegue acertar de primeira um diagnóstico. Com esses parâmetros em mente essa ciência "exata" de diagnosticadores se torna mais empolgante para alguém com um olhar de fora.
# Programando bash script
Caloni, 2022-05-20 computer [up] [copy]Programar scripts em bash é basicamente rodar os comandos já disponíveis no modo shell a partir de um arquivo texto. Além das construções de qualquer linguagem procedural como if e laços de repetição o que é mais usado é o controle de entrada e saída dos comandos executados (e manipulação de file descriptors), além do controle sobre os signals durante as execuções.
# # teste da entrevista de goiaba em bash # ordenar_numeros() { maior=0 menor=$1 media=$(echo "scale=2; ( $1 + $2 + $3 ) / 3" | bc -l) #media=$(( ($1 + $2 + $3) / 3 )) numeros=($1 $2 $3) for i in "${numeros[@]}"; do if [ $i -le $menor ] then menor=$i fi if [ $i -ge $maior ] then maior=$i fi done echo maior=$maior, menor=$menor, media=$media } ordenar_numeros $1 $2 $3
Como você deve ter percebido lendo o primeiro script da sua vida variáveis em bash script começam com `$`. As variáveis de `$0` a `$9` são os argumentos do programa, mas de resto pode ser um nome qualquer e usado em qualquer lugar, mas caso você precise tornar o nome não-ambíguo é importante colocar entre chaves:
[ ${var}text -ne $vartext ]
Como você já deve ter percebido lendo o primeiro script da sua vida comandos são terminados por nova-linha ou por ponto-e-vírgula, não tendo briga para ninguém. Dois comandos não podem conviver um do lado do outro e dar bom. É por isso que caso você queira fazer um `if-then` na mesma linha precisa colocar um ponto-e-vírgula antes de usar o `then`:
for i in "${numeros[@]}"; do if [ $i -le $menor ]; then
Há algumas dicas úteis para explicar para todos que mexem com bash script:
No começo dos scripts em geral você irá notar a seguinte linha:
set -e
O uso do parâmetro `-e` é para sair imediatamente caso qualquer comando dê ruim. Além disso, há a possibilidade de setar funções de saída para limpar coisas deixadas pelo caminho. É o garbage collector do script. Há outras opções para modificar o comportamento do shell.
A opção de limpeza pode ser setada através do comando trap. O comando trap permite associar chamadas de funções aos diferentes tipos de sinais que o programa pode receber. Por exemplo, abaixo é setada a função de limpeza para quando o script sair.
trap cleanup EXIT cl_stack=() cleanup() { for ((i=${#cl_stack[@]}-1;i>=0;i--)); do eval ${cl_stack[$i]} done }
Note esta técnica utilizada para incluir operações de limpeza dentro de um array, o `cl_stack`. No decorrer da execução do script se houver a necessidade de adicionar mais uma operação de limpeza o usuário deve incluir esta operação neste array.
cl_stack+=( "kill pid" )
Para ler parâmetros de entrada há um comando muito bom chamado getopt, mas por algum motivo ele não é muito popular nos scripts deste projeto. No lugar é usada a leitura toscona dos parâmetros pelas variáveis reservadas $1 a $9.
# # Read the params. # if [ "$1" = "" ] || [ ! -d ${LIB_ROOT}/libs/$2 ]; then echo "usage: ./copy-lib <lib-path>" exit 1 fi
Você irá encontrar também o shift de argumentos. Conforme você vai comendo os primeiros argumentos sendo passados para seu script o $2 poderia ser o $1, o $3 viraria o $2 e assim por diante, para facilitar o reaproveitamento de script e simplificar a contagem. É particularmente útil para argumentos sem ordem específica.
[ -z $1 ] && usage if [ $1 = "-b" ]; then do_boot=y shift fi if [ $1 = "-d" ]; then do_delete=y shift fi
Abaixo as palavras reservadas para montar scripts. E é só. Em geral elas são usadas para definir condições e rodar código em loop. O resto são comandos disponíveis no sistema.
if then elif else fi time for in until while do done case esac coproc select function { } [[ ]] !
Avaliações de expressões e comandos é um dos pedaços mais úteis em scripts bash. Você pode capturar a saída de um comando e guardar em uma variável ou usar uma variável como entrada de um comando, além de criar novas variáveis através da montagem de um ou mais comandos com outras strings. Em geral tudo que está dentro de `$()` pode ser usado como um minishell que irá executar e entregar o output.
tmpdir=$(mktemp -d) mountdir=$(pwd)/subdir echo "Today is $(date). What a lovely, lovely day!"
Evaluation precisa de redirects às vezes, e às vezes não precisa de nenhum (`/dev/null`). No exemplo abaixo nós queremos o id do usuário de um arquivo sem nos preocupar com a saída de erro.
uid=$(stat -c %u ${mountdir}/data/file 2> /dev/null)
A saída de erro é o file descriptor 2, e por isso foi usada a construção `2>` em vez do simples `>`, que redirecionaria o file descriptor 1, que é a saída padrão. O file descriptor 0, caso não tenha adivinhado ainda, é a entrada padrão, que pode ser obtida com a flechinha invertida `<`. Resumo:
| sinal | nome | file descriptor | | ----- | ------- | --------------- | | < | stdin | 0 | | > | stdout | 1 | | 2> | stderr | 2 |
Você deve estar se perguntando se é possível usar outros file descriptors além do 2. Sim, você pode. Abaixo de 10 é mais ou menos seguro utilizar para file descriptors temporários. Acima de 10 é possível que entre em conflito com file descriptors dos próprios comandos sendo executados ou fds do sistema.
Uma condição em bash pode ser feita entre colchetes simples, duplos e parênteses, cada uma dessas formas sendo inventada para adicionar mais formas de expressar condições. É importante ter sempre em mãos também as diferentes checagens que podem ser feitas dentro de um if.
if [ $foo -ge 3 ]; then if [ -f regularfile ]; then if [ -r readablefile]; then if <condition>; then<commands>fi
if [ -r somefile ]; then content=$(cat somefile) elif [ -f somefile ]; then echo "The file 'somefile' exists but is not readable to the script." else echo "The file 'somefile' does not exist." fi
if [ "$1" = "" -o ! -f "$1" ]; then echo "usage: cpfiles <compactedfile.tar>" exit 1 fi
if [[ "$stringvar" == *string* ]]; then if [[ "$stringvar" == *[sS]tring* ]]; then if [[ $stringvarwithspaces != foo ]]; then if [[ -a *.sh ]]; then if [[ $num -eq 3 && "$stringvar" == foo ]]; then if [[ "$title" =~ [^a-zA-Z0-9\ ] ]]; then
Sim, ele existe. E é até bonitinho:
case $1 in 'start') systemd-run --unit mydaemon $(realpath $0) run exit ;; 'stop') systemctl stop mydaemon exit ;; 'run') echo -n ;; *) echo "usage: $(basename $0) [start|stop|run]" >&2 exit 1 ;;
| comando | descrição | | ----------- | ------------------------------------------------------------------------ | | [ | para construir testes direto do shell | | antiword | para ler arquivos do Word | | arch | imprime a arquitetura (e.g. x86_64) | | awk | linguagem para interpretar texto | | b2sum | checksum | | base32 | parser para base32 | | base64 | parser para base64 | | basename | nome de arquivo sem path | | basenc | coda/decoda de várias bases | | bash | abre sessão bash | | brotli | compressor de arquivos texto | | bunzip2 | descompressor de arquivos | | bz-sth | compressão de arquivos | | cat | exibe conteúdo de arquivo | | chattr | modifica atributos de arquivos | | chgrp | modifica grupo associado a arquivos | | chmod | modifica flags de arquivos | | chown | modifica proprietário de arquivos | | chroot | modifica diretório root | | cksum | checksum | | clear | limpa tela | | cmp | compara arquivos | | column | formatação de tabelas | | comm | compara arquivos ordenados | | connect | commando de relay via proxy | | cp | copia arquivos | | curl | acessa recursos web | | cut | recorta texto | | d2u | dos2unix | | dash | outro bash | | date | imprime data/hora atual | | dd | copia arquivo com conversão | | df | mostra espaço usado em disco | | diff[3] | comparador de arquivos | | dir | listagem de arquivos | | dirname | nome do diretório de um arquivo | | dos2unix | converte final de linha | | du | uso de espaço por arquivos em diretório | | dumpsexp | dump hexa de arquivos binários | | echo | imprime mensagem na saída | | env | variáveis de ambiente | | envsubst | substituição de variáveis de ambiente | | ex | editor vim no modo ex | | expand | expande tabs para espaços | | expr | avalia expressões | | factor | fatora números | | false | retorna false (duh), aka 1 (vide bash true/false) | | fido2-sth | coisas de autenticação/criptografia | | file | identifica tipo de arquivo | | find | encontra arquivos | | fmt | formata arquivos (código-fonte, etc) | | fold | formata texto para limitar máximo de colunas | | funzip | descompacta gzip | | gawk | versão GNU do awk | | getconf | retorna configurações do sistema via variáveis POSIX | | getopt | parser de parâmetros de linha de comando (para scripts) | | gettext | tradução de mensagens do sistema | | gpg-sth | comandos relacionados a PGP da GNU | | grep | busca padrões em texto | | groups | lista grupos de usuário | | gzip | compacta dados usando algoritmo gzip | | head | equivalente ao tail, mas do começo | | hmac256 | gerador de hash | | hostname | mostra nome da máquina | | iconv | converte entre diferentes encodings | | id | mostra ids do usuário e grupo | | infocmp | compara terminfo (conf de terminais) diferentes | | infotocap | conversão de terminfo para termcap | | join | junta linhas de dois arquivos em campos comuns (e.g. ID Name) | | kbxutil | gerenciador de chaves criptográficas | | kill | mata processo | | ldd | exibe dependências de módulo (executável ou dll) | | less | paginador de saída com navegação | | link | cria links simbólicos | | ln | cria hard links | | locale | imprime informação de localização | | logname | nome de login usado | | ls | lista diretórios e arquivos | | lsattr | lista atributos junto dos arquivos e pastas | | lzmadec | descomprime arquivos no formato .lzma | | mac2unix | formata final de linha | | md5sum | gera hash md5 | | minidumper | gera dumps de memória (win32) | | mintty | abre terminal TTY | | mkdir | cria diretório | | mkgroup | lista grupos do sistema | | mkpasswd | gera arquivo de senhas | | mktemp | cria nome de arquivo temporário único | | mount | monta unidades | | mv | move arquivos e pastas | | nano | editor simples | | nettle-hash | gerador de hashs (várias) | | nice | ajusta afinidade do processo | | nl | cria hard links | | nohup | ignora sinais de hangup para processo | | nproc | fala quantos processadores temos | | numfmt | formatador numérico | | od | escreve saída de arquivo em octal | | odt2txt | converte openoffice para texto | | openssl | shell com funções criptográficas | | passwd | troca senha | | paste | junta diferentes arquivos na horizontal | | patch | aplica patchs em arquivos texto | | pdftotext | converte PDF para texto | | perl | linguagem de script para tratamento de texto | | pldd | lista objetos compartilhados na memória do processo | | pr | pagina texto para impressão | | printenv | imprime variáveis de ambiente | | printf | função printf do C para scripts | | ps | lista processos | | pwd | diretório atual | | readlink | imprime o valor de um link simbólico | | realpath | resolve nome de arquivo para absoluto | | regtool | gerencia registro do Windows | | reset | reinicia sessão | | rm | apaga arquivos | | rmdir | apaga pastas | | scp | copia arquivos remotos | | sdiff | diff horizontal | | sed | manipulador de streams de texto | | seq | imprime sequências numéricas | | setfacl | modifica ACLs de arquivos | | sftp | client FTP | | sh | abre novo shell | | sha-sth | vários hashs SHA | | shred | sobrescreve arquivo várias vezes para torná-lo irrecuperável | | shuf | embaralha linhas de arquivo aleatoriamente | | sleep | dorme por um tempo | | sort | ordena linhas | | split | divide arquivo em pedaços | | ssh-sht | funções de SSH | | ssh | client SSH | | sshd | serviço SSH | | ssp | gerador de dados de profiling a nível de instrução assembly | | stat | imprime estado de arquivos | | strace | rastreia chamadas de sistema e signals de processo | | stty | muda ou mostra características do terminal | | sum | imprime checksum de arquivos | | tabs | verificador de tabs em código-fonte | | tac | cat invertido | | tail | head invertido | | tar | junta arquivos em um só (para ser compactado) | | tee | copia entrada para arquivos ou saída padrão | | tic | traduz informações do terminal de um formato fonte para o compilado | | tig | git com navegação | | timeout | executa programa com tempo limite para terminar (ou é morto) | | touch | toca em arquivos (bad boy) | | tr | traduz, comprime ou apaga caracteres | | true | programa que sempre sai com sucesso =) | | truncate | aumenta ou diminui arquivos para tamanho especificado | | trust | gerenciador de certificados | | tty | imprime nome do terminal conectado | | tzset | mostra fuso horário atual | | u2d | unix 2 dos | | umount | desmonta unidades | | uname | imprime informações como processador, máquina, so | | unexpand | converte espaços para tabs | | uniq | elimina linhas duplicadas (desde que ordenadas) | | unix2dos | altera finais de linha | | unix2mac | altera finais de linha | | unlink | remove link simbólico | | unxz | comprime e descomprime dados no formato .xz | | unzip | descompacta arquivos no formato zip | | unzipsfx | descompactador embutido | | vdir | ls com listagem de flags, tamanho, etc | | vim | editor simples | | vimdiff | mesmo editor simples, mas com comparação de arquivos | | wc | contador de palavras | | which | identifica onde está o comando usado | | who | mostra quais os usuários logados | | whoami | mostra quem eu sou (filosófico) | | whouses | mostra quem está usando | | xargs | inicia programa com argumentos lidos da entrada padrão | | xmlwf | valida XML | | xxd | dump hexadecimal | | xz | comprime arquivos no formato... er... xz? | | xzcat | mostra arquivos comprimidos no formato... er... xz? | | xzdec | descompacta arquivos do formato xz | | yat2m | extrai man pages de dentro de um Texinfo | | yes | imprime para sempre yes! yes! yes! (útil para aceitar sempre perguntas) | | zipcmp | comparador de zips | | zipinfo | informações sobre um zip | | zipmerge | merge de arquivos zip | | ziptool | mais alguma coisa que dá para fazer com zips |
Para depurar scripts bash use o parâmetro `-x` para conseguir ver a execução de cada linha.
bash -x sort-number.sh 1 2 3 + ordenar_numeros 1 2 3 + maior=0 + menor=1 ++ echo 'scale=2; ( 1 + 2 + 3 ) / 3' ++ bc -l + media=2.00 + numeros=($1 $2 $3) + for i in "${numeros[@]}" + '[' 1 -le 1 ']' + menor=1 + '[' 1 -ge 0 ']' + maior=1 + for i in "${numeros[@]}" + '[' 2 -le 1 ']' + '[' 2 -ge 1 ']' + maior=2 + for i in "${numeros[@]}" + '[' 3 -le 1 ']' + '[' 3 -ge 2 ']' + maior=3 + echo maior=3, menor=1, media=2.00 maior=3, menor=1, media=2.00
Ou se você precisar depurar apenas uma parte do script pode ligar e desligar o modo `-x` dentro do próprio script usando a mudança de modos como já aprendemos no começo deste artigo.
for i in "${numeros[@]}"; do set -x # activate debugging from here if [ $i -le $menor ] then menor=$i fi set +x # stop debugging from here if [ $i -ge $maior ] bash sort-number.sh 1 2 3 + '[' 1 -le 1 ']' + menor=1 + set +x + '[' 2 -le 1 ']' + set +x + '[' 3 -le 1 ']' + set +x maior=3, menor=1, media=2.00
sendo inventada para adicionar mais formas de expressar condições. É importante ter sempre em mãos também as diferentes checagens: https://www.gnu.org/savannah-checkouts/gnu/bash/manual/bash.html#Bash-Conditional-Expressions
# Os Opostos Sempre se Atraem
Caloni, 2022-05-24 cinema movies [up] [copy]Comédia francesa de ação com Omar Sy e os sonhos mais molhados dos liberais. Aqui, diferente da vida real, há uma facção criminosa repetindo os passos do partido conduzido por Hitler, mas eles são chamados de fascistas de qualquer jeito. Seu crime: fazer piadas de negros. Hoje isso dá cadeia. Ou pior: cancelamento nas redes sociais.
# A Brief History of Japan (Jonathan Clements)
Caloni, 2022-05-27 books [up] [copy]A seleção desse livro é fruto de pesquisas na internet por um conteúdo enxuto o suficiente para saber um pouco mais das origens do Japão em menos de seis meses. Jonathan Clements, como o nome indica, não é japonês, mas viveu um bom tempo no país e se tornou um historiador que resgata tanto a História quanto suas dúvidas. Sua palavra final é de dúvidas sobre questões polêmicas de qual a versão canônica. Seus devaneios são opiniões contemporâneas dessa ciência tão castigada por ideologias e narrativas do opressor.
O resultado é morno. Empolga saber mais da história desse povo icônico e ainda muito misterioso, mas ao mesmo tempo desencanta ver transformada sua jornada pelas eras como quem despe rapidamente uma gueixa e aponta algumas de suas falhas como quem não gosta de mulher.
Dropei antes da metade.
I was arriving not in the Tōkyō region, but in Japan’s ancient heartland of Kyōto, which would soon bewitch me with its history and culture. I was there to study premodern Japanese foreign relations and Japanese literature.
Twenty-five years and three degrees later, I still felt very much like a beginner.
I was now an author, the biographer of several figures in Japanese history—Prince Saionji and Admiral Tōgō, the teenage rebel Ama-kusa Shirō and the pirate king Coxinga.
My speciality had always been the snatching of weird and wonderful stories, and their popularization for a general audience.
Whom to mention? Whom to discard? Which of the 125 emperors is worth including? Which of the dozens of shōguns? And should I put an “s” on the end of shōgun? Who will make the cut from Japan’s writers and artists, philosophers and samurai? When others have written entire books about the subjects of single pages—even single lines—the task is daunting.
Unlike, say, China, where history can be broken up into discrete dynasties, there is only one dynasty in Japan, and it claims to have ruled the nation since the dawn of history.
Politics remains a powerful influence on Japanese history. When it comes to ancient times, the big problem comes from the reality gap between a national mythology that claims the emperors are all descended from the Sun Goddess and archaeology that suggests that they are descended from Korean aristocrats.
Japan’s imperial graves remain closed to archaeology, and that drastically reduces the chances of ever uncovering a Japanese manuscript that predates the 700s.
Japan was born fifteen million years ago, pushed away from the edge of Eurasia by the formation of the Japan Sea. At the time it was quite flat, but it sits at the confluence of three massive tectonic plates—the Eurasian, the Pacific, and the Philippine—which mashed together to buckle and warp the land into towering mountains.
The map of Japan remains dotted with suspiciously round lakes and islands, or curved bays that indicate the forgotten edge of ancient craters. Even in the era of human settlements, occasional disasters have depopulated entire regions. Parts of Japan have been settled “for the first time” on multiple occasions, the newcomers being unaware that the bones of earlier inhabitants lay beneath their feet, under layers of ash and mud.
It is no coincidence that tsunami is a Japanese word. Once every 800 to 1,100 years, for example, the sediments of north Japan show the evidence of a “tsunamigenic” deposit—a thick layer of mud left behind by an immense flood from the sea, caused by an offshore earthquake in a fault line to be found 70 kilometers (43.5 miles) away on the sea bed. Court chronicles in 869 CE reported an earthquake and an onrushing tidal wave that killed a thousand people and wiped out the garrison town of Tagajō. It would be 1,142 years before the process repeated itself in 2011.
Inland, more than two-thirds of Japan’s area comprises uninhabitable mountains, thickly forested today with non-native trees. In prehistoric times, the land was covered in woods of evergreen oak, hinoki cypress, and camphorwood.
But Japan’s cities huddle on a remarkably small area of land, much of it only reclaimed from the sea in the last century. Tōkyō, Nagoya, and Ōsaka occupy the only large areas of flat terrain in the whole country south of Hokkaidō: the plains of Kantō, Nōbi, and Kansai. Even these, however, are relatively small by global standards.
By the time the Japanese first began to write down their own history, those ancient forests were disappearing, replaced by red pines, deciduous oaks, and greater concentrations of chestnut and walnut.
One of the most crucial elements of Japanese geography has been the size of the Korea Strait (known in Japan as the Tsushima Strait, so named for the island in its middle) that separates it from mainland Asia. With a width of 200 kilometers (124.5 miles) at its narrowest point, this body of water arguably keeps Japan at a perfect “Goldilocks” distance—not so far as to make it impossible to trade and communicate, but far enough to prevent most large-scale military operations.
Beyond the archaeological record, our understanding of the Japanese past largely drops out of the sky in the early 700s CE, when courtiers collaborated on two documents designed to replace lost archives—the Kojiki (Account of Ancient Matters), and the Nihongi or Nihon-shoki (Chronicles of Japan).
The era from around 300 BCE to 250 CE, Japan’s “iron age,” is known to modern archaeologists as the Yayoi period, named for the Tōkyō district where its most famous remains were uncovered in 1884. Its origins, however, lie across the sea in Korea, from which several hundred thousand new migrants would cross the straits in search of a safe home.
These new arrivals hailed from a world that, if it was not openly Chinese, at least aspired to emulate Chinese civilization. They brought with them knowledge of the Chinese writing system, which was used inexpertly and inaccurately in early attempts to transcribe the words and concepts of the Japanese islands. They also brought new technology and materials—most notably metals and the potter’s wheel—as well as a culture steeped in patriarchal Confucianism.
There is a palpable break in the line of Japanese kings around the late fourth century, possibly related directly to unrest on the mainland that saw the collapse of the Kara state, with up to a million refugees arriving in Japan. These migrants, however, appeared to be arriving with their wealth intact, and were soon interfering with and influencing the politics and power struggles of local kingdoms. Some of the indigenous Jōmon people fled north to escape the newcomers, while others seemed to welcome them, even as they were swamped by their numbers. The archaeological record reveals a double impact—first of a huge influx of these new bloodlines, forming 73 percent of the population in some areas—and then of the inevitable increase of the newcomers’ numbers as they bred both among themselves and with the locals.
It is likely that the confused historical record obscures a dual struggle for influence, as the old kingdoms jostled for power and the newcomer elites fought for recognition not only in the community of local kingdoms, but also back on the mainland, where they intervened in Korean politics.
The Japanese capital moved fifteen times in the seventh century, in part because early Japanese towns relied heavily on wood as building material and fuel, and the depletion of nearby forests may have made it more economical to simply switch locations every few years.
The Tang dynasty did not merely inspire Japanese princes to take matters into their own hands and Japanese empresses to rule in their own name. It also led to one of the farthest-reaching and longest-lasting cultural impacts upon Japan. Instead of the trickle of rumours and artifacts from Korea, the Tang dynasty led to direct Japanese contacts with the Chinese capital at Chang-an (modern Xi’an), and an onslaught of culture and trends.
Although both China and Japan would continue to evolve and develop in subsequent centuries, the height of the Tang dynasty had a lasting impression on the Japanese. Many elements of Japanese culture, even today, have strong ties to the Tang. The modern Japanese readings for Chinese characters are often archaic, closer to medieval pronunciations than modern Mandarin. The architecture of Japanese temples—everything from Tōdaiji in Nara to many holy places of Kyōto—rests heavily on the style of Tang-era buildings. In China, the later Song dynasty would bring the chair into household furnishings; in Japan, people continued to sit on the floor the way they had in Tang times.
By the end of the ninth century, such men appeared to have adopted a new term for themselves that played both upon their wish to be seen as loyal retainers of the central court and on the court’s desire to regard them as mere hirelings. They called themselves “those who serve”—the samurai.
Inevitably, the shōen estates and the farthest marchlands assumed the status of autonomous counties or baronies. In particular, the Taira and Minamoto families, united by their mutual ancestry and shared experience of exile, came to dominate many of these outer estates, turning the edges of the nation into a patchwork of holdings with allegiance to either Red (Taira) or White (Minamoto). To this day, these two colors remain a symbol of polar opposites for the Japanese; teams in game shows are divided into Red and White, and the colors of the Japanese flag even represent the standoff.
# Está Tudo Bem
Caloni, 2022-05-27 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Até o último momento você pensa que o velho homem estava se sabotando. Seria um bom final. Feliz, aliás. Quantos de nós simplesmente não suporta mais viver? Porém, a protagonista, Emmanuèle, é sua filha, e ela carrega essa relação sempre conturbada entre as gerações em que os traumas da infância batem à porta nos dias finais da pessoa que a criou. Você sente que o velho homem é um sacana esperto e manipulador que não tem muito apreço pela família ou amigos, o que ajuda a mantermos uma distância de sua iminente morte, mas não sabemos se essa é a visão da filha. Bom, de qualquer forma, em Está Tudo Bem, como o título já sugere, nós nem sentimos pelo estado lamentável de um moribundo. Desde, é claro, que ele seja rico e possa se dar ao luxo de escolher como deseja terminar sua vida.
Dirigido e escrito por François Ozon (Frantz), o tema da eutanásia até é colocado sobre a mesa, mas não é o principal. Este é um filme mais sobre o sofrimento familiar que está por trás das decisões difíceis a respeito dos que amamos ou nos apegamos. As pessoas seguram esse fardo até o último momento, e muitos até anos após a perda, e parece que alguém não vai aguentar. No entanto, quem já perdeu alguém muito querido, mas antes teve que carregar essa difícil situação por vários meses ou anos, vai sentir aquele despertar que se segue depois que o "assunto" finalmente se encerra.
Há um humor peculiar no sujeito em questão, o que trivializa o drama do filme. Seu intuito é, pelo menos em partes, ser uma comédia de situação com um tema relativamente sensível. O lado prático e as dificuldades da dinâmica de seus personagens gera a comédia. E apesar de ricos franceses, nós sentimos que a eutanásia ainda é um caminho bem difícil de percorrer no primeiro mundo; pelo menos há a Suíça, logo ali, na vanguarda das liberdades individuais.
Ozon pega o livro de Emmanuèle Bernheim (biográfico) e gera tensão através de um roteiro fácil, quase automático, então não há graça alguma. Não há desafio a ser transposto, apenas situações para serem observadas que não nos dizem nada. É um passatempo comercial, como têm se tornado vários exemplares franceses ao longo desta década. O mundo dos brancos ricos carece das cores vivas e eróticas da rotina dos menos privilegiados, que sempre geram momentos mais interessantes de se acompanhar. Deve ser por isso que se fazem tantos filmes de miseráveis. Há um charme entre os cineastas de classe média em filmar aqueles que nunca foram e nunca serão. O que é completamente diferente de filmar a si próprio e enxergar um vazio interior tão grande que o resultado ecoa pelos corredores da mesmice.
Você não vai querer se matar assistindo a Está Tudo Bem. Tampouco irá se sentir bem. É um filme leve e divertido quando não deveria ser. Há algo de muito errado nessa trajetória, e me pergunto como seria um filme sobre os motivos que fizeram Emmanuèle escrever seu livro. Isso, sim, é conteúdo provocativo. Artístico. Ver ricos moribundos no cinema só funciona se nós enxergamos o outro lado, os pobres, olhando do lado de fora.
# Lola e Seus Irmãos
Caloni, 2022-05-27 cinemaqui cinema movies [up] [copy]Este trabalho francês lembra as doces comédias de Richard Curtis (Yesterday) porque o resultado é um filme que não dá para odiar. No máximo podemos achar seu final manjado, maniqueísta e simplório, mas se essa fosse uma reclamação válida para filmes água-com-açúcar ela seria para qualquer um que queira abrir nosso coração para o fato do quão somos vulneráveis com resquícios do passado.
A ideia central é que os dois irmãos de Lola são ranzinzas e problemáticos e a garota funciona como o pilar que mantém a sanidade desses três órfãos de mãe e pai, que se reúnem todo mês em frente ao túmulo para conversar. Pelo menos essa é a ideia, pois há comédia o suficiente para esses momentos supostamente fraternais darem errado sempre, e isso é para nos dizer o quão torta anda a dinâmica entre esses irmãos. A comunicação está abalada há não sei quanto tempo, talvez por décadas, mas quando iniciamos o filme parece já não ter mais salvação.
Encontramos este trio no terceiro casamento do mais velho. O caçula se atrasa porque está resolvendo uma emergência em seu trabalho com demolição que irá lhe custar o emprego, uma coisa se junta na outra, e como uma coisa leva a outra ele se esquece do nome da noiva de seu próprio irmão. Algo bobo, talvez, mas isso depende de quem é a noiva. No caso é uma sentimental, uma dessas pessoas que abraça as relações com seres humanos como se fossem suas muletas para caminhar. A ideia dessa personagem é ser a forasteira e enxergar o quão quebrada está a relação entre os dois irmãos. Não é ela que irá enxergar, claro, mas nós, espectadores. Esses momentos são para nos conectarmos com o drama.
Que é um drama, apesar de em quase toda a cena termos algum motivo para sorrir. Esta é uma visão melancólica sobre a vida após a meia-idade e alguns casamentos ou alguns divórcios atrás (importante ressaltar que Lola trabalha com processos de separação de casais), mas o bom humor e o alto astral da direção não permite que o roteiro sagaz cheio de sacadas inteligentes e engraçadas seja usado como material de reflexão. Antes que isso aconteça ele quer construir a atmosfera em que esses franceses não conseguem se conectar, de uma maneira óbvia, o que torna tudo engraçado.
É uma reciclagem de temas com um elenco afiado. Tanto que a direção precisa apenas manter a câmera em movimento casual e focar no elenco afiado que respira com peso seus personagens, embora vivam em uma farsa engraçacinha tentando atingir um pouco de profundidade em seus temas. Essa indecisão entre se tornar profundo ou nos manter rindo é falta de atitude em abraçar um ou outro, e isso desperdiça uma boa história com atores em ótima química. Mas não torna o filme ruim, apenas precisando de uns reparos para se tornar uma experiência inesquecível.
Mas enquanto o filme está rodando você irá rir e dificilmente se emocionar com alguns detalhes curiosos nas manias das pessoas. Dois irmãos estão de carro tentando encontrar onde as ex-esposas e a atual estão conversando para tentar salvar o terceiro casamento, e de repente surge um comentário sobre como é confortável dirigir este carro. Outra piada, essa recorrente, se refere ao mais velho e sua obsessão por seu trabalho. Ele se apresenta profissionalmente em todos os lugares possíveis, até mesmo no cinema, e gastou uma fortuna em um equipamento importado que diz qual a cor dos óculos que mais combina com a íris e o rosto de seus clientes. Porém, o manual está em inglês e ele não consegue regular a máquina, que sempre conclui que a melhor cor para seus clientes são inúmeros tons de verde. Há uma reviravolta tão bobinha no final dessa saga que vai fazer você perceber o nível de ingenuidade do roteiro. A leveza é o que faz lembrar os trabalhos de Richard Curtis, embora com menos coesão e curiosamente com um formato mais comercial e automático que os filmes americanos do cineasta.
O filme é recheado dessas piadinhas que reverberam e acabam se revelando peça fundamental para entendermos seus personagens, que não se revelam apenas pelos diálogos, mas principalmente pelo comportamento. Não fica claro até que ponto a ingenuidade do filme atacou seus criadores, mas é fácil de deduzir que eles foram infectados ao observar o namorado de Lola, uma pessoa de etnia não-francesa cujas atitudes são sempre perfeitas para um ser humano. Não há podre nenhum nele. Ele apenas observa a loucura dos franceses com um carinho paternal. É este o olhar dos criadores do filme para seu conteúdo, sobretudo seus três personagens principais.
A demolição metafórica do começo do filme, que afeta o prédio ao lado e começa a se tornar o tema que desenvolve o arco dessas pessoas, se torna mais óbvia ao final do filme, e quem pegou a referência no começo não ganhou nada. Também não perdeu. Muito pelo contrário.
# Princesa
Caloni, 2022-05-27 cinema movies [up] [copy]Filme brasileiro que se passa na Itália e que dá uma visão honesta de uma travesti que deseja fazer a operação de troca de sexo e viver com um homem hétero. A cirurgia pode não ser a solução de seus problemas, como pode ser o fim de uma relação saudável com seu corpo. Muitos rejeitam porque não são de fato trans, o que explica a alta taxa de suicídio entre esse grupo de pessoas. E a vida real pode ser mais complicada que os discursos de aceitação.
O filme passeia pelo dramalhão como se fosse um Almodóvar sem inspiração cinematográfica. A protagonista é um porre e as situações criam a atmosfera do que é ser uma aberração e viver do mercado sexual em plena Milão. Os travecos vivem através do sexo e é como se fosse de fato a única forma de comunicação com o mundo.
# Tantas Almas
Caloni, 2022-05-29 cinemaqui cinema movies [up] [copy]O tio desceu todo o rio para roubar um braço e deixar uma bagunça no cemitério para o coveiro arrumar. Todas Almas é essa aventura sinistra em torno de acontecimentos históricos colombianos que muitos ignoram, mas o filme não quer defender o estudo de história. Não antes de conseguir se revelar tedioso até a morte mesmo falando sobre assuntos tão importantes quanto os limites para o desumano.
Tudo começa quando José, o tio do parágrafo anterior, volta para casa pela manhã depois da pescaria e não encontra seus dois filhos. Então ele parte em busca dos seus corpos, seguramente dentro do rio. O pensamento é automático. Os paramilitares estão no poder e é essa a realidade vigente. E um adendo significativo: é proibido tirar os corpos de lá.
José se torna, então, um fora-da-lei ao encontrar e resgatar o corpo do primeiro filho. Desobedecer leis pode não ser algo nobre, mas é o corpo do seu filho que estava lá no rio. Podemos abrir uma discussão sobre como decidir se uma lei é justa, mas a certeza é que não chegaremos a lugar algum, pois tudo é subjetivo. Escolha seu lado.
Não demora para seu barco ser roubado, e por um desertor dos paramilitares. Seria ele um paradesertor, então? As coisas são confusas quando o governo local não possui o controle da situação e impõe suas próprias restrições sobre retirar corpos do rio.
Este é um filme bem longo que vai seguindo um ritmo até que agradável. É o assunto que nunca chega a lugar algum. Sua largura de tela é absurda e exibe longos e lentos planos em torno desse mundo com floresta, rio e José.
Há uma sequência muito engraçada quando ele é capturado e tem uma conversa com o capitão de uma tropa enquanto restabelecem a energia elétrica para ele conseguir acompanhar o final da corrida de bicicletas. Recebendo ordens do líder dos paracoisas, José toma sopa até não poder mais. É uma cena forte, só que não. O peso de que ele pode morrer a qualquer momento já ficou perdido no desenvolvimento da história, que não se preocupa em estabelecer essas regras, por mais simples e óbvias que sejam. Como isto é cinema, se as regras que nos são apresentadas, espectadores, é que é normal ter corpos pelo rio e matar pessoas por qualquer motivo, então nossa conclusão é de que se José morrer naquele instante não haverá impacto algum.
Há poucas cenas memoráveis junto desse protagonista que não sei se é um figurante ou uma pessoa de carne e osso seguindo um roteiro. Ele poderia ser um ótimo figurante ou um péssimo ator, mas independente disso sua presença é etérea. Nós acompanhamos por quase duas horas e meia ele buscando o corpo dos filhos, mas não há um único momento em que a pessoa por trás do personagem estabelece comunicação conosco. A única estratégia do filme é confiar no senso comum da plateia e nas cenas que demoram mais para cortar, cujo objetivo é fazer o espectador interpretar o vazio como se houvesse algo lá. É um truque comum de cineastas que não estão afeitos em forçar opiniões ou construir narrativas. O roteiro frouxo soa mais como neorrealismo.
Sem trilha sonora e com fotografia e sons diegéticos minimalistas, Tantas Almas é uma experiência semidocumental que ironicamente não tem alma. Quando se assiste a uma obra de arte você deve esperar por opiniões, e quanto mais forte e complexa melhor. Porém, um filme tão minimalista que divide seu enredo entre os bons e maus desmorona ao menor sopro de razão. E por isso quando paramos para pensar sobre o que acabamos de ver, não há alma nenhuma nos atormentando.
# Meditação é self debugging
Caloni, 2022-05-31 computer debugging [up] [copy]Depois que a tempestade na cabeça chega em um nível insuportável há uma calmaria, ou deveria haver, onde o corpo percebe que está vivo, que não existe no tempo e espaço. Existe apenas agora, e tão somente agora, pois o passado é uma máquina de estado mantida pelo cérebro, e o futuro a projeção extrapolada dessa máquina.
Quando se percebe que se está vivendo a partir de um algoritmo genético que está rodando há algumas décadas em um saco de carne com peças móveis é o momento que começamos a entender o que é reflexão, um poderoso mecanismo que pode nos ajudar mais do que o melhor dos psicólogos. Até porque este hipotético especialista da mente nunca teria acesso a tanta informação quanto você tem sobre suas próprias memórias e sobre seu jeito de agir.
Só você conseguirá extrair de uma autoanálise o conhecimento necessário para melhorar seu entendimento de como esse algoritmo funciona. Porém, há um problema: a própria reflexão faz parte desse algoritmo. O processo não pode analisar a si mesmo. Isso é impossível. E a solução é parar por completo. Interrompa esse fluxo mental constante a respeito de quem você é e deixe que a análise em tempo real aconteça. Pelo menos mais vezes do que no modo automático.
A essa pausa para análise do mesmo processo chamamos de meditação. É pausar a execução dos pensamentos, ou observar a execução de algumas threads, para entender onde pode estar o próximo mecanismo a ser aprimorado ou corrigido.
Você está muito ansioso nos últimos dias. Mais que o normal. Algo mudou, mas você não sabe o quê. O processo mental ocupa tempo e espaço o suficiente para você nunca saber.
Então você pausa. Respira. Para de pensar de maneira consciente. Apenas observa os pensamentos passando por você e indo embora. Você está analisando as threads em execução, mas não está modificando o estado das variáveis ou da pilha. Você só quer entender onde está esse bug da ansiedade sem motivo.
De repente você encontra. Era uma conversa aparentemente boba de alguns segundos que deixou você preocupado no inconsciente sobre como isso se desenrolaria no futuro. Essa thread estava presa no pior dos cenários, mas ele dificilmente poderia acontecer. Você então corrige as expectativas sobre essa questão e pronto, bug resolvido. Pode continuar a viver.