# Black Mirror: Peidada na Farofa
Caloni, 2023-07-01 cinema series [up] [copy]Mas que peidada na farofa, hein, Sr. Black Mirror? O primeiro episódio da última temporada declara o fim não-anunciado. Charlie Brooker, criador da série, deixa ignorarem todos os conceitos por trás de seu filho televisivo. De repente os episódios começam a trabalhar com gêneros que nos remetem a um pouco de Twilight Zone, outro pouco de Na Hora da Zona Morta, e zero porcento de blackmirrices.
Nova fonte do ciberfuturismo deprimente desde Matrix para nossa compreensão filosófica dos efeitos da tecnologia em nossas tristes vidas, esta série buscava sobretudo reviver a ficção científica das boas, a que extravasa nossos sonhos mais molhados de tecnologia futura sem tirar um dos pés da realidade.
Porém, a partir da maioria dos episódios da sexta temporada, apesar de bem escritos, conduzidos e atuados, o que vemos são gêneros alheios às premissas do que o espectador habitual esperaria. Não existe o uso de uma tecnologia possível daqui a algumas décadas a nos fazer olhar para a miríade de espelhos pretos espalhados em torno de nossas vidas hoje. Uma tela em Black Mirror era sinônimo de espelho da sociedade, usado para projetar um futuro sarcástico, deprimente, romântico e fascinante.
Somos brindados com conteúdo de primeira, sem dúvida. Após o absolutamente instigante Joan Is Awful, Loch Henry e Demon 79 ainda são pontos altos de cinematografia contemporânea. Beyond the Sea entrega o sci-fi sem a menor sensibilidade humana. É quase um trash, dramalhão previsível e mal executado, incompleto. E Mazey Day quer evocar sentimentos de Um Drink no Inferno, o filme com Tarantino e George Clooney que resolve mudar de gênero na metade do caminho embasbacando o espectador. Mas falta charme. As referências ou críticas ao microcosmos das celebridades estão deslocadas, e quando se apela ao fantástico vira conteúdo estilizado de revistas de emoção, o que me leva a crer que a pessoa de fato está inspirada em uma das facetas passada do mesmo diretor de Pulp Fiction.
A temporada é produzida com uma qualidade irretocável, é verdade. A dupla do episódio final participa de um pesadelo que lembra Na Hora da Zona Morta, aquele filme do David Cronenberg dos anos 80 com Christopher Walken baseado em obra do Stephen King sobre previsões apocalípticas em torno de uma eleição. Na série, Anjana Vasan é a vendedora imigrante e portanto invisível de uma loja de sapatos do melancólico final dos anos 70, e Paapa Essiedu faz um demônio evocado e divertido que surge para desenvolver uma química invejável com Vasan. Ambos embalam a história como nunca; nos faz desejar por um longa metragem. A narrativa é fluida em um universo pré-Tatcher atraente e provocativo na medida certa. Há carisma e forma em um conteúdo que curiosamente nada lembra a série original, já que o conceito da própria série não permitiria.
Será que Black Mirror perdeu sua alma pelo caminho durante esta última temporada? Esta é uma brincadeira metalinguística e outras bullshitagens pelas quais vlogueiros sojados se masturbam diariamente? Não saberia dizer por estar deslocado do mundo virtual. Direi apenas que a sorte está lançada. Este é o final de uma saudosa era, que dá lugar a um peido pseudoaleatório propagado pelos serviços sempre repulsivos de Streamberry.
# Resultado mouthful em meu segundo batch (torrando café)
Caloni, 2023-07-01 food coffee [up] [copy]Moí novamente os mesmos grãos verdes de Poços de Caldas, mas dessa vez mirando em uma torra média.
Na primeira tentativa de pré-aquecer a panela deu ruim, estava quente demais e os grãos entraram em explosão espontânea mesmo depois de ter desligado o fogo. Tive que descartar.
Na segunda tentativa o resultado estava mais controlado e consegui chegar até o segundo crack e diminuir rapidamente a temperatura com um borrifo de água fria e um ventilador ligado no máximo; deixei o café dentro de uma peneira. Fez uma bagunça com as películas (casquinhas externas que soltam quando se torra o café) e por isso é bom sempre pelo menos esfriar os grãos do lado de fora.
Deixei descansando espalhado em uma forma lá fora para passar a noite, seguindo o que ando estudando. Depois armazenei em um pote e aguardei mais um dia.
Quando fui analisar a consistência reparei que havia alguns grãos em diferentes estágios de torra e consegui ligar os pontos no livro que estou lendo, The Craft and Science of Coffee, que fala sobre as desvantagens de se torrar blends de grãos de diferentes lotes.
Sem entrar em muitos detalhes técnicos, a questão é que diferentes lotes podem possuir um timing diferente na hora de aplicar as variações de temperatura, o que pode fazer um lote chegar ao final do estágio antes do outro lote.
A relação dessa informação com os meus grãos é que eles são baratos e, o principal, de origem desconhecida. Há uma alta chance deles virem de diferentes plantações ou com diferentes manejos, o que fará com que a constituição dos grãos leve alguns a fases de torra distintos. Mas, enfim. Tecnicidades, embora seja importante lembrar disso ao torrar café de origem desconhecida.
E hoje foi o dia de passar um café e estou muito feliz com o resultado. Consegui detectar os mesmos sabores da primeira torra, só que com muito mais clareza, como o tom amendoado e até caramelizado da bebida. Isso de fato é o que aconteceria em uma torra mais escura que a superclara que fiz. Além disso, minha torra fez o café ganhar mais textura sem amargor.
Estou orgulhoso, mas mais ainda curioso para entender o que acontecerá em torras mais escuras do mesmo café. É um processo interessantíssimo que recomendo a todos que gostam de entender a ciência e a arte por trás de uma xícara de café.
O conceito de ikigai (生きがい) é a representação de ações que impulsionam qualquer pessoa a seguir a sua rotina no encanto da vida, não necessariamente a partir de grandes acontecimentos. Embora ikigai seja um termo de difícil tradução, tem sido considerado por pesquisadores de áreas diversas como razão de viver.
Com base nisso foi montada esta mostra, com parceria da Fundação Japão.
Alguns textos sobre alguns filmes:
# Repaginada da semana
Caloni, 2023-07-15 cinema [up] [copy]Coisas citadas neste post: Bastardos Inglórios, Swarm, I Am a Virgo, Não Durma no Ponto, O Rei dos Clones. Ufa, quanta coisa, não? Na verdade se juntar não dá um inteiro.
Faz um tempo que não escrevo por aqui. Foi uma semana cheia, mas também estou de saco cheio para escrever. Há projetos mais interessantes, além de que ando pensando em como pegar todo o conteúdo de mais de uma década e começar a condensar, aprimorar.
Algumas dessas ideias está alinhada com meus futuros objetivos do blog: se tornar um trabalho mais sério de pesquisa e escrutinação de conteúdo. Seria bom compilar pensamentos mais densos e baseados em algo além do vácuo que é analisar obras de arte do cinema contemporâneo.
Como Bastardos Inglórios, que vi pela segunda vez essa semana. A primeira foi no cinema, enquanto estava em cartaz; a atmosfera do cinema pode ter um significado especial para neste filme, onde o clímax é uma sala de exibição pegando fogo e explodindo enquanto um grupo de guerrilheiros judeus estraçalha o corpo abatido de Hitler.
Mas este não é um filme sobre ódio. Seu diretor e roteirista, Quentin Tarantino, eventualmente gosta de impor para si o tema da vingança. Porém, ele é incapaz de imprimir emoções em seus personagens, mesmo uma moça que acabou de assistir à chacina de toda sua família e corre para sobreviver. Fast forward, ela precisa comer Strudel ao lado do assassino, mas não existe tensão. Toda cena em que deveriam haver fortes emoções elas são trocadas por um quebra-cabeças cinematográfico cheio de estilo. É a veneração pela própria arte que impede o filme de chegar próximo de ser chamado de uma.
Existe um meme sobre uma pessoa que aprendeu tudo sobre a vida nos filmes. Tarantino é a reencarnação desse meme. Sua técnica é absoluta. Seu estilo inconfundível. E seu autismo infinito.
Depois de assistir a Swarm e a I Am a Virgo fico com a impressão que haveria uma moda recente de obras idealizadas em cima de um estilo sem o compromisso de dizer nada. É uma técnica brasileira de fazer filmes muito conhecida por quem vai a cabines de imprensa dormir. O cineasta junta tomadas que evocam a imaginação do espectador, sendo que ele mesmo está vazio por dentro.
Sobre Swarm já falei. É uma boa série. Provocativa na medida certa. Tem um quê a mais que dá vontade de passar mais tempo nesse universo. I Am a Virgo é o contrário. É uma produção diferentona. Usa o efeito especial de um garoto agigantado e vai passando episódios de sua vida saindo do casulo dos pais protetores enquanto o espectador distraído não sabe muito bem se a TV ligou sozinha.
Estava encerrando o texto, pois pensei que não tinha visto mais nada. Porém, tenho que vasculhar o histórico das contas de streaming para ter certeza que não passou mais alguma merda na TV da sala e eu estava lá. É a vida moderna: quantidade, nunca qualidade.
De filme teve esse O Rei dos Clones, um "documentário" de um "diretor" que aproveita o auê de um cientista coreano que ficou famoso por clonar animais e repassa sua biografia como quem confere uma confusa lista de compras. Existe um pouco de opinião esboçada nos perigos de usar a ciência de forma errada, o que se torna particularmente engraçado após a farofa que foi acompanhar a novela das vacinas e máscaras nos últimos três anos (e continuamos contando vítimas de ataques do coração). De qualquer forma o indivíduo que documentou esta história sequer parou para entender como funciona o método científico.
Das séries vi também a Não Durma no Ponto, um programa de competição onde os participantes não dormem por 24 horas -- ficam contando moedas no lugar -- e depois competem em atividades que requer habilidades de alguém acordado para ganhar até um milhão de dólares. Mais do mesmo, mas nos faz comparar como hoje não devem haver perdedores nestes programas. Você ganhou ao sair do show porque vai conseguir dormir, ou ganhou porque topou receber um valor de participação, ou ganhou porque fez qualquer coisa. Ninguém deve perder, pois perder é triste, e ninguém deve ficar triste. Esse alto astral deveria fazer algumas pessoas se matarem.
De resto, as novelas coreanas de praxe: bem produzidas e ainda não intoxicadas com o veneno que vem de Hollywood. Ambas as Coreias já têm sua porção de socialismo para se preocupar no dia-a-dia.
# Tempo de Espera
Caloni, 2023-07-18 cinema movies [up] [copy]Ou A Temporada dos Homens. É um filme do ano 2000 (não dos anos, do ano 2000 mesmo) e se passa na Tunísia. É um prato cheio para crítico falar bem. Tem até diretora (mulher de verdade, mas nada é perfeito). A atmosfera de desolação dessas mulheres que esperam morando em um fim de mundo até a época que seus homens devem voltar, copular e gerar novos filhos é deprimente. Mas é mesmo? Depende do ponto de vista pelo qual você enxerga este drama.
Como um homem, não me parece algo tortuoso ser bancado pelo resto da vida para não fazer nada. Claro, seu homem pode fugir, e aí se justifica o drama de uma das mulheres, que desde a guerra aguarda pelo seu retorno. No entanto, pode-se enxergar durante toda a narrativa que o maior problema neste esquemão dos homens indo para a cidade grande ganhar a vida e as mulheres ficarem no interior cuidando dos filhos é que as mulheres não têm aventuras para viver. A protagonista diz o tempo todo que quer ajudar o marido, mas o filme começa com ela voltando para a cidadezinha porque cuidar de um filho autista aí já é demais. E menino, ainda por cima.
Como uma mulher, o drama é mais paupável. As mulheres precisam de mudança e nada muda em uma sociedade engessada, estratificada, patriarcal e onde os mais velhos têm a palavra final. E elas precisam de mudança porque a diretora é mulher, e do ponto de vista dela elas precisam de mudança. Ponto. Não é drama o suficiente?
Não. Drama é ficar assistindo a este filme buscando pelo momento onde algo pesado irá acontecer. Não acontece. Então segue a valsa. Os lamúrios femininos saindo de férias para os festivais de arte. Um prato cheio para críticxs cinematográficxs.
# Boas-vindas ao canal de Reversing do Telegrama
Caloni, 2023-07-21 computer reversing blogging [up] [copy]Olá, pessoas do Telegrão que entraram no canal. Bora começar a fazer baixarias pra ver se anima? Bom, acho que a primeira coisa que todo reversing de computador precisa fazer é gerar sua primeira telinha azul com uma poesia. Vamos lá?
Primeiro passo: configurar para gerar tela azul em seu computador.
Segundo passo: na hora de gerar a tela azul é importante que seja gerado um dump de memória (no português: despejo de memória). E é importante que seja gerado da memória completa. Do contrário nossa poesia pode não estar lá.
Terceiro passo: rebootar a desgraça do Windows para os efeitos fazerem efeitos.
Quarto passo: vamos ver se gera tela azul? Tem que apertar o botão CTRL mais à direita do seu teclado junto da tecla SCROLL LOCK duas vezes (mantendo o CTRL apertado).
É, aqui não funcionou. Meu "teclado" (virtual) da VM deve ser PS2 =p. Se não funcionou também com você verifique isso e mude o registro de acordo.
Corta para os comerciais...
Aê!! Tela azul!! `\/\/\/`
Mas essa não valeu porque não teve poesia...
Quinto passo: escolha a poesia de sua preferência e digite-a no notepad. Vale copiar e colar, também.
Eu vou escolher uma poesia que nossa professora da quinta série leu para a gente:
If you can talk with crowds and keep your virtue, Or walk with Kings—nor lose the common touch, If neither foes nor loving friends can hurt you, If all men count with you, but none too much; If you can fill the unforgiving minute With sixty seconds’ worth of distance run, Yours is the Earth and everything that’s in it, And—which is more—you’ll be a Man, my son!
Você vai abrir o bloco de notas e digitar/colar sua poesia, mas, importante, **não irá salvar**. Apenas deixe aberta no bloco de notas. É essa a graça.
E... tela azul again. Porém, dessa vez, vamos deixar gerar o arquivo até o final. Se estiver assistindo ao vídeo pode acelerar até o reboot.
Enquanto gera a tela azul vamos falar sobre o que esse experimento deseja provar. Todo trabalho de engenharia reversa que pretende descobrir como algo que não sabemos como funciona... funciona, precisa utilizar o método científico para avançar. Cria-se uma hipótese, encontra-se elementos que a corrobore essa hipótese e faz-se os experimentos que a comprove. Quando há múltiplas possibilidades também é importante fazer experimentos que desprovem algum caminho a ser seguido.
No caso, a hipótese é que uma tela azul de toda a memória necessariamente irá conter os textos que um usuário estiver digitando no bloco de notas, pois esse texto precisa estar em algum lugar da memória. Certo?
Bom, é o que eu acho. Para saber se isso é verdade podíamos digitar algum texto no bloco de notas e, sem salvar nem nada, gerar uma tela azul. O texto deverá estar no arquivo de dump gerado. Texto simples e aberto, pois é isso o que o usuário estava digitando. Parece um teste simples de ser feito e, até que se prove o contrário, conclusivo, não?
Veremos.
O arquivo de dump gerado deverá ter o mesmo tamanho da memória RAM. Com a ajuda de algum programa que encontre strings em binários vamos fazer uma busca pela poesia. Pode ser o programa Strings, da SysInternals.
strings.exe MEMORY.DMP
Uma outra opção seria abrir o arquivo em um editor hexadecimal como o HxD e buscar pela string.
É, no meu caso a busca do HxD deu mais boa. Pera...
Hum... isso vai demorar. Mas ele vai achar.
Achou.
Acho que é isso. Bem-vindo ao grupo! E se quiser conversar sobre o assunto, outros assuntos, dúvidas técnicas, etc. Fique à vontade. De bits e bytes até moléculas de café, reversing é sobre isso =)
# Bom Dia
Caloni, 2023-07-21 cinema movies [up] [copy]Esta comédia de Ozu dos anos 50 é simples e ao mesmo tempo cheia de insights sobre a existência humana, em especial a comunicação com as outras pessoas. Minha parte favorita é quando surgem críticas em torno da tal televisão, que irá produzir 100 milhões de idiotas (se referindo à população japonesa). Mas Ozu não está interessado na crítica fácil. Ele observa de maneira perspicaz os costume de uma era, vira um documentário nos dias atuais. Desde que humanos surgiram a fala tem sido usada para suavizar as relações. Para dizer "está tudo bem, não vou te matar". Bom Dia é um cântico bem-humorado e esperançoso, ainda que um tanto nostálgico, sobre nossa existência em comunidade.
# O Corpo Ardente
Caloni, 2023-07-21 cinema movies [up] [copy]O Corpo Ardente é daquele diretor daquele filme da Xuxa em que ela pega um guri, Amor Estranho Amor. Nos anos 60 fez este filme que estreia umas mina linda e um cavalo. Ele não apenas dirige, mas escreve e fotografa. O filme é uma viagem entre cenas, todas girando em torno de uma festa chata com música de ricaço e papos sobre arte moderna. Marido e esposa se traem. Ela viaja com o filho para o interior e remói reflexões do passado. Quando ela era livre e selvagem. Apenas uma garotinha. Ela observa o cavalo que saiu a esmo, revoltado, e imediatamente entende. Há uma cena linda em que um carro corre ao lado desse cavalo e o filma. Essa cena fará parte do final e com isso as rimas não ditas deste primoroso trabalho em preto e branco e muito maltratado do cinema brasileiro dos anos 60.
# Proibido Proibir
Caloni, 2023-07-30 cinema movies [up] [copy]Daqueles filmes brasileiros dos anos 2000. O cinema social estava em alta. As questões sociais sem resposta também. Ah, e os triângulos amorosos. Esse com a Maria Flor funciona mais ou menos. Não há química, é como apenas amigos. Muito jovens. Mas Maria Flor é uma delicinha.
Mesmo Caio Blat sendo um ator intenso o roteiro e a direção sabotam o trabalho do elenco. Há movimentos de tela que surgem do nada. É um mise em scene confuso e chato de se ver. Há muitos estereótipos nos cenários, mesmo sendo verdadeiros. A propaganda do Rio de Janeiro ou da paisagem tupiniquim constante.