# Windows Internals (Pavel Yosifovich, Alex Ionescu and David A. Solomon)

2023-09-03 tag_books ^

Windows Internals foi o primeiro e último livro que li sobre a arquitetura Windows. No entanto, não li apenas uma edição. A cada mudança no SO a Microsoft Press encomenda uma atualização deste livro que começou com a autoria de Helen Custer. O livro originalmente se chamava Inside Windows NT e eu li uma tradução para português muito engraçada onde se traduz threads como fios.

A última edição que tenho notícia que dei uma olhada estávamos na fase do Windows XP, e agora que volto para a área de baixarias é hora de ler a última edição, que já dá alguns spoilers de como está se configurando a nova geração do Windows, composta pelo Windows 10 e 11 e suas intermináveis atualizações.

No entanto, percebi que as últimas edições estão em um formato bíblico, com muito, muito conteúdo tentando ser condensado. O Windows se tornou um sistema operacional extremamente complexo cheio de componentes novos para atender à evolução da arquitetura dos PCs. Isso impossibilita aquela leitura leve de antigamente.

Por conta disso devo trocar a leitura linear por um acesso randômico e por posts com experimentos sobre cada componente ou processo do sistema. O primeiro assunto que estou interessado é sobre o UWP (Universal Windows Platform) e seus universal apps. Já estou começando a estudar no trabalho porque estou fazendo engenharia reversa de algumas partes do login no Azure Active Directory. Isso será parte dos meus estudos.


# Caí no golpe, fiz reviravolta, perdi uma chance e ganhei novamente; e perdi no tempo. [link]

2023-09-03 tag_chess ^

1. e4 c5 2. Nf3 Nc6 3. d4 cxd4 4. Nxd4 Nf6 5. Nc3 e5 6. Ndb5 d6 7. Bg5 a6 8.
Bxf6 Qxf6 9. Nd5 Qg6 10. Nbc7+ Kd8 11. Nxa8 Qxe4+ 12. Be2 Qxg2 13. Bf3 Qg5 14.
Qd2 Qf5 15. Qe2 Nd4 16. Bg4 Qxc2 17. Qd2 Qxd2+ 18. Kxd2 Bxg4 19. Nab6 Bf3 20.
Rhc1 Bxd5 21. Nxd5 Nf3+ 22. Ke3 Nxh2 23. Rc8+ Kxc8 24. Rc1+ Kd8 25. Nb6 Ke7 26.
Rc8 g6 27. Rc7+ Ke6 28. Rxb7 Bh6+ 29. Ke2 Ng4 30. Ra7 f5 31. Rxa6 e4 32. Nc4 Ne5
33. Rxd6+ Ke7 34. Nxe5 Kxd6 35. Nf7+ Ke6 36. Nxh8 Bg7 37. Nxg6 hxg6 38. a4 Bxb2
39. a5 Ba3 40. a6 Bc5 41. Kd2 Kd5 42. Ke2 Kd4 43. Kd2 Kc4 44. Ke2 Kc3 45. f4
exf3+ 46. Kxf3 Kd3 47. Kf4 Bb6 48. Kf3 g5 49. Kg3 Ke3 50. Kg2 f4 51. Kf1 g4 52.
Kg2 Ke2 53. Kh1 f3 54. Kh2 f2 55. a7 1-0

# Outra siciliana cheia de artimanhas (sacrifício de bispo) [link]

2023-09-03 tag_chess ^

1. e4 c5 2. Nf3 Nc6 3. d4 cxd4 4. Nxd4 Nf6 5. Nc3 e5 6. Nf3 Bb4 7. Bc4 Nxe4 8.
O-O (8. Qd5 Nd6) 8... Nxc3 9. bxc3 Bxc3 10. Bxf7+ (10. Ng5 Rf8 11. Rb1) 10...
Kxf7 11. Qd5+ (11. Ng5+ Kf8 12. Qf3+) 11... Kf8 (11... Ke8 12. Ng5 Qe7 13. Rb1)
12. Ba3+ (12. Qc5+ d6 13. Qxc3) 12... Ne7 (12... Ke8 13. Rad1) 13. Ng5 (13. Rad1
d6 14. Bxd6 Bb4 15. Bxe7+ (15. Ng5)) 13... Qe8 14. Rad1 Bd4 15. c3 d6 16. cxd4
Nxd5 17. Bxd6+ Kg8 18. dxe5 Ne7 19. f4 h6 20. Ne4 Kh7 21. Rf3 Bf5 0-1

# Fiz chocolate em pó (100% cacau)

2023-09-04 tag_cooking ^

O processo de fazer chocolate requer paciência e um baita esforço. Para tratar apenas uma fruta soa como uma vitória de pirro: um tantinho de cacau em pó para quase duas semanas esperando as sementes que voaram pela batedeira secar para poder assar.

Porém, não é complexo. Abre-se a fruta em sentido longitudinal e você vai ver um emaranhado de sementes em torno de uma coisa branca. Você precisa tirar essa coisa branca da semente sem quebrá-la (pode manter a fina casca que fica em volta). Essa coisa branca, a polpa, você pode bater e vira um suco delicioso. Infelizmente a polpa de uma fruta mal dá um copinho americano, mas é delicioso.

Depois de separadas as sementes coloque em um pote com água bem fechado e mantenha em temperatura ambiente em ambiente seco por cerca de 3 dias ou até fermentar. As coisas em água fermentam quando você consegue ver várias bolhinhas em volta.

Depois de fermentado lave bem as sementes. Você pode aproveitar esse momento para tirar os últimos traços de coisa branca que ficaram. Uma vez lavadas, deixe no sol para secar por cinco dias. Não pode pegar umidade.

Depois que estiverem secas, e você vai poder constatar isso facilmente em sementes que perderam a casca fina, pois ela vai parecer rachada em vários lados, leve ao forno para assar por cerca de 10 minutos. As instruções que estavam na fruta diziam 10 minutos, mas eu acredito que haja uma cerca manobra aqui, como o café. Só cuidado para não carbonizar.

Depois de assadas aquela casca fina finalmente irá sair com facilidade. Leve as sementes para um liquidificador, triturador ou moedor e transforme as sementes em cacos de cacau. Quanto mais fino melhor, eu acho, pois fica mais fácil de usar depois. Cuidado com moedores, pois há bastante gordura nessas sementes e irá sujar bastante. Fui usar no meu Hario Slim e acabei tendo que abri-lo para limpar; boa parte da gordura travou as mós.

E é isso. Se você já experimentou chocolate 100% cacau vai encontrar algumas similaridades no sabor, com um amplo leque de diferenças. Porém, algumas sensações irá lhe dizer que é cacau. Aí vai da sua preferência de qual cacau prefere. O caseiro vai ser bem simples e depende de você conseguir atingir um primor de chocolate (assim como o café). O bom de fazer este processo em casa é entender de onde vem o cacau que é misturado com leite e açúcar e onde estão aqueles sabores que fazem o que conhecemos como o clássico chocolate ao leite. Experimentar cacau puro é um estágio importante para conhecer de onde vem aquele sabor todo especial no meio do doce e da gordura.


# Vinho Azul Gran Reserva 2017

2023-09-04 tag_wine ^

Forte, mas não tanto. Este blend de Cabernet Sauvignon e Malbec consegue ser fiel à bodega de seu início, quando era apenas um galpão com um equipamento pequeno e alguns alugados na época da colheita. Esse top de linha descansou 24 meses em barricas francesas (70%) e americanas (30%), mas o resultado não é absurdamente amadeirado ou forte (até a Mitiko gostou). Abrimos na hora do hambúrguer na visita ao Sr. Incrível para ele ver como é e quem sabe a próxima visita a Mendoza dar uma passada pela charmosa, humilde, bodega.


# Tire 5 Cartas

2023-09-04 tag_movies tag_cinemaqui ^

Tire 5 Cartas é uma comédia nacional quase sem graça, e ainda por cima só pode ofender estereótipos permitidos -- como a crente do você-sabe-o-quê quente -- e promover estereótipos que estão sob os holofotes da cartilha social vigente -- que nem preciso descrever, está na moda. No entanto, como em muitos trabalhos brasileiros, suas virtudes vêm menos de suas convencionais história e direção e mais do seu carismático e animadíssimo elenco, encabeçado pela sempre disposta, presente e graças a Deus ainda muito viva Lília Cabral.

Cabral exibe junto de seus 66 anos toda a maestria de seu sorriso inabalável, que apenas se desmancha quando é necessário para o papel. Ela protagoniza além de praticamente todas as cenas que valem a pena um maravilhoso momento em que canta com sua própria voz, uma das poucas sequências com uma direção um pouco mais imaginativa de Diego Freitas, que durante o resto do seu terceiro filme (os dois anteriores são o terror O Segredo de Davi e o drama Depois do Universo) segue os passos dos herdeiros da comédia nacional moderninha, investindo em travellings bregas das externas e a câmera de palco em cenários fechados de programas de humor da televisão aberta.

Nós acompanhamos no filme a trambiqueira Fátima (Cabral), uma mulher de 60 anos que deixa sua São Luís do Maranhão em busca da fama de cantora no Rio de Janeiro. As coisas dão errado, acontece com quase todo mundo. Para ela e para seu marido Lindoval (Stepan Nercessian), que para termos uma ideia do fracasso trabalha como cover de Sidney Magal. E ao descrever esta sinopse começo a pensar se já não filmaram isso antes...

Para permanecer distante da terrinha natal Fátima se mantém como uma taróloga falseta para ganhar (muito) dinheiro às custas dos fregueses fãs de uma boa crendice. Qualquer semelhança com igreja evangélica não é mera coincidência, exceto que o longa debocha levemente de suas vítimas por serem de uma classe social que os permite esses mimos narcisistas de querer enxergar o próprio futuro. Além de serem otários, é claro.

Para seu sucesso nas consultas das cartas Fátima confia em seu espião, o próprio marido, que se aproveita da timeline nas redes sociais dos clientes para inferir detalhes da vida pessoal e assim impressionar as vítimas. É uma ideia bacana, mas ninguém se preocupou em torná-la rica em detalhes. A mesma cena se repete algumas vezes com diferentes clientes. A confiança na risada fácil do espectador é deprimente.

Tirando sonhos não-realizados as coisas até que estavam bem. Quando em um belo dia um valioso anel vai parar nas mãos, ou melhor dizendo, no dedo de Fátima, e ela e o marido precisam agora fugir de volta para o Maranhão para despistar os dois bandidos por trás de um golpe. Quer dizer, um bandido e seu irmão, o conhecido alívio cômico das obras mais populares da cinemaprassice mundial.

Chegando em São Luis, onde o filme foi produzido de fato, ela reencontra a irmã, de quem guarda uns ranços. Ambas, você já sabe, irão ter que resolver isso enquanto precisam lidar com uma... sim, uma herança de um falecido tio, uma pensão cujos moradores completam o elenco acessório. Oras, você conhecia esta história antes de eu apresentá-la. Está formada uma versão famigerada do Zorra Total em nova roupagem e velhas piadas.

Tire 5 Cartas vai divertir com certeza o espectador médio que está acostumado com brasileiragens na telinha. Ele é fácil, ritmado e possui boas atuações, com energia. Além de Lília Cabral, seu par Stepan Nercessian segura boa parte do longa apenas com seus trejeitos, não dando sequer espaço para os apagados e repetidos coadjuvantes.

Há participações especiais bem pequenas dos saudosos e queridos Alcione e Sydney Magal. É uma pena que é tão pouco tempo de tela que não posso dizer que o filme valha por isso. Vale mais pelo resto, esse passatempo anacrônico e saudosista de um tempo ruim que sempre volta de vez em quando. As boas risadas ficaram no set de filmagens. Espero que toda a produção tenha se divertido.


# Como torrar café

2023-09-07 tag_cooking tag_coffee ^

Desde que torrei o primeiro batch de grãos que trouxe de Poços comecei a pesquisar sobre torra caseira. Ajuntei alguns textos e comecei a fazer anotações. Espero ter feito um bom trabalho de pesquisa e compilação do que encontrei pelo caminho.

Tudo começa com os grãos verdes, ou crus, são sinônimos. Eles já foram secos pela fazenda ou produtora e estão disponíveis para compra pelo consumidor final ou por cafeterias e casas de torrefação... hum, talvez lá não. Podem ser encontrados diretamente com o produtor, em mercados municipais de cidades produtoras, nas capitais e até mesmo na internet. É possível comprar em sites grãos sem torrar de várias partes do mundo, e hoje em dia ainda há um forte movimento de comprovação de origem e respeito aos produtores.

Ao escolher seus grãos selecione os de tamanho e cor uniformes para garantir uma torra e um sabor iguais. Esse é seu primeiro controle de qualidade no processo, que começa na compra e estocagem dos grãos. Eles já foram secos pela fazenda e/ou produtora e agora serão torrados por você para transformá-los em uma bebida deliciosa!

Os grãos verdes são compostos primariamente de carboidratos, componentes contendo nitrogênio (proteínas, trigonelina e cafeína), lipídios, ácidos orgânicos e água. Durante a torra esses elementos químicos irão se alterar drasticamente e gerar os aromas e sabores que tanto adoramos no café. Enquanto cru ele tem apenas gosto de grama.

Uma vez comprado e estocado, dependendo da quantidade é importante circular ar pelos grãos, então de vez em quando abra onde ele está e dê uma chacoalhada. Mas relaxe, pois é questão de meses. Grãos verdes podem ser guardados por muito mais tempo sem perder aroma e sabores, pois ainda não foi feita a torra, que é o processo de colocar todo o potencial do grão à tona, e por estar na superfície aí sim o grão se degrada muito mais rapidamente (moído, então, nem se fala).

Basicamente torrar o café envolve adicionar uma fonte externa de calor aos grãos de forma que a energia adicionada no processo vá transformando os elementos químicos que constituem os grãos até que se pare o processo.

É possível torrar das mais diversas formas: no forno, na panela em cima do fogão, em cima de uma fogueira, em um tambor furado e em um torrador caseiro são apenas algumas dessas opções. Cada uma dessas formas irá lhe dar mais ou menos controle no processo, e é isso o que você precisa no final das contas: controle.

Por exemplo, torrar em uma panela é totalmente possível, mas o desafio é conseguir torrar todos os grãos por igual. Se for usar a panela há alguns truques, como agitar devagar, mas com propósito, manter os grãos se movendo durante a torra. Se os grãos começarem a morenar desigual reduza o calor e continue a agitar até que eles fiquem consistentes. Cada técnica terá seu ajuste fino, mas preste atenção às variáveis do processo para entender a teoria e prática como um todo.

Todo o processo de torra se divide em algumas fases e há muita nomenclatura conflitante sobre os níveis de torra, como clara, média, média escura e por aí vai. Podemos esquecer tudo isso, pois a classificação por cores não é o que impacta o sabor do café, mas sim as reações químicas durante a torra com o tipo de café sendo torrado, que é o que importa para entendermos o aspecto prático e físico do processo.

Há três fases principais: secagem, bronzeamento (ou a reação Maillard) e o desenvolvimento, que é a fase final onde devemos escolher onde parar. Uma vez que decidimos parar precisamos fazer isso quase que instantaneamente, ou seja, remover todo o calor em excesso e fazer os grãos chegarem à temperatura ambiente o mais rápido possível. Para fazer isso depende da técnica, mas em geral envolve remover os grãos da fonte de calor e adicionar alguma fonte de frio, como um ventilador, mudança da temperatura no próprio ambiente, etc.

Ao começar a aquecer o café através de uma fonte externa de calor nós adicionamos essa energia extra para dentro dos grãos. Modificações químicas começam a acontecer, entre elas a evaporação da umidade. Há um primeiro estalo, o que marca o final da reação Maillard e a degração Strecker. Estes são apenas uns termos técnicos para você se achar quando estiver lendo a respeito. A partir daí o café não está mais cru: está bebível em uma torra muito, muito clara.

A cor dos grãos se deve à produção de melanoidinas, grandes moléculas que deixam o grão marrom e contribuem para o corpo. Esse nível de torra é usado por especialistas do mercado de café, incluindo exportação, para avaliar a qualidade do grão, e não da torra. Cuidado ao moer neste nível de torra, especialmente em moedores manuais, pois ainda há certa umidade, o que torna a tarefa mais árdua.

Apenas quando toda a água dentro dos grãos evapora eles começam a atingir um segundo e último estalo, mas isso é mais pra frente. Logo após a reação Maillard ao extrair um café você irá sentir um gosto que lembra serragem junto de sabores ainda por se desenvolver.

Quase todos os açúcares livres são perdidos durante a torra devido à reação Maillard, ou caramelização, dando lugar a água, dióxido de carbono, cor, aroma e sabor. Então, sim, já há sabor neste primeiro estágio, apesar de subdesenvolvido.

Após esse primeiro estalo a torra muda de uma reação endotérmica, em que os grãos absorvem calor, para uma reação exotérmica, ou seja, os grãos exalam calor. O primeiro estalo quer dizer que o grão pode soltar umidade e ao fazê-lo alterar a temperatura dentro do sistema. Dentro dos grãos novas transformações químicas bem complexas ocorrem, que é o que irá gerar o conjunto de aromas e sabores finais do café. Haverá um segundo estalo, o que marca o ar se expandindo e empurrando as paredes dos grãos um pouco mais, e os últimos minutos de todo o processo. Um processo de torra completo pode durar de 5 a 20 minutos em média.

O grão é usado nesse processo como uma pequena usina. A pressão dentro do grão durante a torra pode exceder valores de 10 bars. O formato de suas células é importante para a torra. Já foram feitos testes de grãos triturados crus sendo torrados depois e o resultado nem chegou perto do que o grão intacto é capaz de fazer com a energia sendo acumulada. Por ser um dos membros do reino vegetal que possui uma das paredes celulares mais fortes, a semente de café possui características únicas nesse processo, que ainda estão sendo estudadas. Por exemplo, sabemos que os lipídios existentes dentro do grão ajudam a manter os compostos voláteis dentro da célula e não evaporarem para fora.

Como não se sabe 100% o que acontece nesse processo boa parte da qualidade da torra é devido à experiência do torrador, situação em que a torra não deve ser confiada apenas em métodos industriais, mas também nas habilidades pessoais de cada profissional, que como um artesão deve conhecer bem seus grãos. Assim como a cultura de vinhos, algum conhecimento sempre reside no especialista em criar a bebida final e não há muita informação objetiva do porquê algumas coisas serem como são.

Por exemplo, existe um princípio de que o tempo entre o primeiro estalo e o final da torra deve consumir 25% do período total de torra. Tem até uma sigla para este índice: DTR ou DT (Development Time). Por quê dessa razão? Não se sabe exatamente.

Porém, se sabe que não se pode demorar muito na primeira fase da torra, pois os ácidos que produzem notas frutadas e doces são destruídos se o café se mantiver na reação Maillard por muito tempo, e por isso o foco do torrador costuma ser um primeiro estalo que não dure muito tempo, mas que caminhe lado a lado com a alta temperatura. Por outro lado, não se deve secar os grãos muito rápido ou os sabores não irão migrar da mucilagem, ou seja, a umidade ainda restante, para os grãos. E ao mesmo tempo secar os grãos muito devagar pode causar a fermentação, o que pode mofar o grão! Não bom.

Outro conhecimento comum e baseado em bom senso é saber balancear o tamanho de seu lote e a aplicação do calor até obter um tempo de desenvolvimento longo o suficiente para tornar a torra uniforme. Quantidades diferentes de grãos exigem temperaturas e controles diversos. A mesma receita usada para 50g pode não funcionar para 2kg.

Torradores não se baseiam apenas em instinto. Assim como a extração do café os aficionados pela torra mantém um registro histórico para conseguir saber quais elementos devem ser alterados para melhorar o resultado final. Por exemplo, existe uma métrica de perda de peso dos grãos antes e depois ou o tempo de torra versus a quantidade do lote (a torra resulta na perda de peso entre 14 e 23 porcento). Também mantem-se um registro dos efeitos de variar o tempo e a intensidade da reação Maillard no perfil da torra.

Outra informação útil é o processo de secagem que foi usada no grão. No método de cereja descascada, por exemplo, os sabores são menos poderosos que no método natural, mas sua clareza e definição são mais pronunciadas.

Uma coisa é certa: não se pode criar um sabor, seja na torra ou na extração, que o café já não tivesse em primeiro lugar. A fração volátil de um café torrado é altamente complexa e consiste de mais de 1000 compostos, então, acredite: o sabor e o aroma estão lá, no grão cru, esperando para serem liberados.

Porém, por exemplo, sabe-se que a torra permite realçar ou inibir a acidez. O como exatamente é que é a questão. Mas como regra de ouro, considere que aumentar o grau da torra diminui a acidez e aumenta o amargor.

Uma curiosidade importante e reveladora é sobre os cafés descafeinados, que podem ser torrados utilizando os mesmos cuidados. Os grãos quimicamente descafeinados possuem um resídio do solvente usado que só é removido por completo durante a torra. Isso quer dizer que grãos verdes de cafés descafeinados quimicamente (não o método suíço, que utiliza apenas água) podem conter resíduos do solvente. E embora a cafeína tenha um amargor forte ela contribui apenas com 10 a 20% do amargor sentido no café, então mesmo cafés descafeinados podem ser bastante amargos.

Muito bem. Vamos supor que você fez uma torra caseira. Não beba o café ainda! A extração dos grãos após a torra costuma ser bem intragável; isso acontece por causa da quantidade muito alta de gás carbônico ainda presa dentro do grão. Há processos hoje em dia que conseguem evitar esse sabor desagradável logo depois da torra, mas estou falando dos métodos caseiros aqui.

No método caseiro, o gás carbônico pós-torra irá ser liberado a ponto de deixar o café bebível no decorrer dos próximos dias, e quantos dias é uma discussão interessante além de uma questão de gosto e de torra. Pode variar de um dia a uma semana. Nesse tempo de maturação o café não precisa estar lacrado como costuma-se guardar grãos para não perder o sabor. Aliás, é até desejável que o café respire mais, então descansar em uma tijela aberta ou uma jarra de vidro é o suficiente nessa fase.

Essa é a fase em que ocorrerá o amadurecimento dos aromas e sabores liberados pelo café. E isso serve tanto para a torra comercial quanto a caseira, pois apesar da torra comercial poder ser bebida logo após todo o potencial do grão ainda não está disponível na extração. Como na produção do vinho, é necessário deixar o café descansar. Pode-se ir provando extrações durante esses dias até ser observada uma melhora nos aromas e sabores. O próprio cheiro dos grãos e consequentemente dos grãos moídos já é um indicador forte de que a bebida será sensacional.

A torra para o iniciante é uma oportunidade única de se aprofundar na apreciação do café. Fazer a própria torra irá possibilitar o amador a ter uma noção muito boa de como funciona a extração de sabor de qualquer tipo de grão, assim como poderá comparar sua torra com cafés mais ou menos elaborados. Através do tempo e prática seu paladar irá melhorar e permitir a apreciação progressiva do café.

Como iniciante ou aprendiz, o artesão deve se acostumar com o impacto que cada ajuste faz em sua torra, e por extensão, na qualidade do copo. Antes que a torra inicie o artesão deve confiar pesadamente em seus sentidos de visão e cheiro conforme o café se devenvolve na torrefação e até um tempo depois. Assim como o vinho ou qualquer alimento, o café é um processo. Ele está em eterna transformação até seu declínio completo. É um elemento vivo e pulsante.

Aliás, muito mais vivo e pulsante que a maioria das pessoas. Elas costumam parar nas impressões do palato médio, que é apenas o momento do primeiro gole, a experiência da maioria dos bebedores de café. Bebidas que não satisfazem o palato médio são consideradas vazias, mas nem sempre o são. No entanto, para um torrador que irá torrar café para outros essa informação é crucial. E além disso, ele irá perceber mudanças no mesmo café no decorrer dos dias de sua maturação e envelhecimento.

Os sentidos de visão e cheiro se tornam cruciais após o primeiro estalo porque é aí que o artesão deve decidir e executar o correto tempo de parada e na temperatura desejada.

O sabor consiste de duas modalidades distintas: os aromas voláteis percebidos pelo nariz e o sabor não-volátil percebido pela cavidade oral.

Os tostadores experientes de café sabem que o aroma evolui de doce, frutado, floral, amendoado em torras claras, através de perfis mais complexos na torra média. Torras mais escuras são caracterizadas por coco e pimenta.

O plano de torra e o resultado esperado são conhecidos como o perfil. Um perfil pode significar tanto o curso no desenvolvimento dos grãos durante a torra e as características dos sabores disponíveis no copo.

Os mesmos compostos aromáticos são formados independente do tempo da torra, mas as quantidades individuais de cada grupo de compostos depende do tempo de torra de várias maneiras.

Grãos torrados de forma rápida geram mais gás que de forma lenta. Grãos torrados de forma rápida possuem maior volume e porosidade, além de menor densidade que os de forma lenta. Mais matéria solúvel pode ser extraída dos grãos torrados de forma rápida. Isso pode acontecer devido à geração de matéria solúvel ou ao melhor acesso da água na estrutura mais porosa; ou ambos. Grãos torrados de forma rápida terminam o processo da torra com uma umidade levemente maior. Grãos torrados de forma rápida exibem uma tendência forte em expelir gordura. Grãos torrados de forma rápida entregam mais acidez no perfil do copo e uma nota mais tostada.

Grãos torrados de forma lenta mostram uma intensidade maior nos atributos sensoriais, como notas balanceadas, frutadas, amendoadas e tostadas.

Fontes


# TRAFFIC [link]

2023-09-07 tag_coding tag_debugging tag_reversing ^

Observei esta anotação em meu journal de muitos anos atrás (2009) e ela continua atual. Baseado em um powerpoint do cientista da computação Andreas Zeller, autor de Why Programs Fail, este acrônimo é um caminho fácil de lembrar quando precisamos encontrar um bug no sistema. Eu lembro que estava pensando até em escrever um artigo na época, mas ainda estava trabalhando a questão de como traduzir as siglas para o português.

A boa notícia é que hoje, 14 anos depois da reforma ortográfica da língua portuguesa, eu posso dizer que estou cagando para a tradução. Use o inglês, estúpido.

1. Track the problem

Este é um item importantíssimo: prove que exista. A primeira coisa que você precisa antes de corrigir um bug é saber que ele existe. Se não for possível detectá-lo, se ninguém consegue mostrar algo que não funcionou como deveria, ele não existe. Assunto encerrado.

2. Reproduce the failure

Depois que o pessoal de suporte conseguiu provar que o problema existe, quer dizer que você, programador, vai ter que trabalhar. Ninguém mandou ficar gerando bugs a torto e a direito ou ir trabalhar em um vespeiro.

E já que o problema existe e você vai ter que corrigi-lo, a primeira coisa que deve ser feita é reproduzir a falha encontrada. Sem conseguir reproduzir de novo, além de você não entender o que o usuário quer que você faça, mais importante é que você não saberá quando o problema foi corrigido.

3. Automate and simplify

Se você está nesse passo ótimo, quer dizer que consegue, pelo menos algumas vezes, reproduzir o problema. E nesse caso a próxima tarefa é automatizar a reprodução deste bug, em caminhos simples e bem definidos, por favor.

E quando eu digo automatizar não quero que você faça um programa que faça o bug aparecer. Basta uma lista com um passo a passo em que o comportamento que não deveria estar no sistema consegue ser gerado.

Se houver muitos passos fica difícil entender onde está o problema, e é por isso que nesta tarefa além de automação está o item simplificar. Um estudo sobre o princípio da Navalha de Ockham deve ajudar.

4. Find infection Origins

Agora que você tem o sisteminha com o bug reproduzidinho e tudo bonitinho... que tal encontrar este maledeto? Não é tão simples quanto falar (tente explicar isso para seu gerente), mas é possível. Sempre é possível.

Tente encontrar nos itens relacionados com a reprodução do problema os possíveis caminhos onde pode estar a falha. Assim como super-heróis, todo bug tem uma origem. Esta tarefa 4 diz sobre encontrar esta origem. Bug Begins.

5. Focus on the most likely origins

Como você deve ter passado um bom tempo no item 4 é hora de entender que não dá para analisar o sistema inteiro toda vez que um bug aparece. Não dá para dedicar alguns meses para ler o código e a documentação, fazer cursos na Udemy e só então voltar para o bug.

Voltando à analogia de super-herói, imagine que seu bug se parece com uma aranha. Se você estiver dedicando muito tempo em um formigueiro é capaz que você esteja no caminho errado. Não, esta não é uma busca por todo o reino animal. Comece pelo mais óbvio até ele deixar de ser óbvio. Então encontre o próximo candidato óbvio. Isso é focar.

6. Isolate the infection chain

Isolar a infecção significa remontar aquela listinha de passos para reprodução de forma que o bug aconteça em um ambiente controlado. Sempre que eu rodo este programinha baseado no código de produção ele dá o resultado errado para a situação que encontramos em produção.

Ao isolar a cadeia de eventos nós estamos verdadeiramente aprendendo como o sistema funciona. Não todo o sistema, mas os itens de uma cadeia responsável pelo surgimento de um bug. E isso não se esquece. Quando mais complexo o bug, mais aprenderemos.

7. Correct the defect

Essa é a parte fácil. O bug já está isolado, pode ser reproduzido quantas vezes precisar e isso pode ser usado até como teste após a correção. Só falta os 10% de mexer no código.

Claro que pode se tratar de um bug conceitual, de arquitetura, o que vai exigir bem mais que 10%. Mas a correção de um bug em si pode ser resolvido com quantas gambiarras for necessário se há urgência. E isso quer dizer alguns minutos batendo código. Na próxima reunião de grooming vocês programadores decidem a melhor maneira de resolver isso no futuro distante e ideal que nunca irá acontecer.

Obrigado, e até o próximo bug.


# UWP apps não funcionam com proxy de loopback (resolvido)

2023-09-07 tag_coding tag_debugging tag_reversing ^

Durante minha pesquisa para entender como funciona o login no Azure AD chegou a mim a informação muito pertinente de que proxies locais não funcionam por padrão com aplicativos UWP. Isso acontece porque além dos apps rodarem dentro de um AppContainer isolado com seu próprio SID, os privilégios desse SID por padrão são muito limitados. Talvez no futuro isso funcione, mas no momento não.

E a consequência disso foi que instalar um proxy http para análise de mensagens de login na Microsoft só funciona pelo browser.

Estava testando com o Burp e com o mitmproxy e em ambos o login no Microsoft Teams falhava apenas pelo aplicativo. O mesmo usuário logava normalmente pelo browser. Aliás, ao verificar as mensagens no log de eventos do sistema o AAD acusava um erro de 404 (informado na tela do Teams) e com a URI que retornou este erro. Se você acessar esta mesma URI pelo browser ela ainda funciona e cai na tela de login!

Como resolver

A resposta parece simples, apesar de nada intuitiva para o usuário final (às vezes nem para o programador). O aplicativo UWP que realiza login no Azure AD precisa ter o direito de acessar a rede por loopback. E para isso existe uma API chamada NetworkIsolationSetAppContainerConfig, onde se passa uma nova config para o AppContainer onde o app está localizado. O pseudo-código:

NetworkIsolationEnumAppContainers(firewallAppContainers);
foreach (app in firewallAppContainers)
{
  // that is the name of the app that show login window of office apps
  if (app.appContainerName.HasTheString("AAD.Broker") )
  {
      NetworkIsolationSetAppContainerConfig(app);
  }
}

# Fischer Doçaria

2023-09-07 tag_food ^

Frequentamos essa doçaria desde antes de mudar para a região, há mais de 12 anos. Depois que mudamos, então, virou parada obrigatória quando estamos por perto. Doces muito frescos, massa leve e sabores tradicionais sempre disponíveis, como a tortinha de limão e o applestrudel, além de novidades sazonais. O preço dos bolos é bem justo considerando que eles ficam do lado do metrô. A coxinha de escarola com queijo é divina, equilibra a massa um pouco pesada com o recheio mais leve. O café espresso é bem gostoso, uma surpresa em uma doçaria. Ah, e os brigadeiros são divinos, simples e deliciosos. Sempre há muitas atendentes disponíveis e promoções para compras maiores. Não há toilete, mas há convênio com estacionamento próximo para aquela parada esperta de meia-hora e levar uns docinhos pra viagem.


# Retrato de Uma Bêbada

2023-09-07 tag_movies ^

Ottinger é uma artista multifacetada. Costumava pintar, depois foi ao cinema e agora repousa nas exposições de arte moderna. Esta senhora alemã da década de 40 ainda está viva e produzindo.

Seu filme Retrato de Uma Bêbada é o primeiro de uma considerada Trilogia Berlim. O título do filme é o resumo perfeito da história: a bêbada em questão chega em Berlim, toma todas, faz amizade com uma mendiga e saem pelas ruas bebendo. São seguidas de perto por outras três mulheres que pousaram no mesmo dia, nomeadas como bom senso, estatística e alguma coisa outra. Já esqueci.

O filme é um experimento nonsense que passa até que rápido. Ottinger sequestra nossa atenção através do bizarro atraente, artístico. Mas mais do que isso: essa bêbada até que é bem catável.

Após assistirmos no Filmicca seguiu um longo documentário sobre a diretora. Falava sobre essas coisas que falei mais alguns elogios de sumidades. Perdível. Se chama Nômade do Lago, estou vendo aqui; foi dirigido por Brigitte Kramer. Está na categoria LGBTQIA+ com molho à parte.


# Vinia Le Classique Pays DOC França Eca

2023-09-07 tag_wine ^

Deixei esta garrafa sem fechar a vácuo, só com a tampa de silicone encaixada no gargalo. Demorou pouco mais de uma semana para eu beber. Ainda há uma taça sobrando. A impressão foi que ao respirar mais houve um momento em que o vinho estava mais saboroso. Foi próximo da metade. Acredito que vinhos jovens como esse precisam respirar. Eu já degusto bochechando com ar dentro da boca e sinto mais sabores com isso. Essa é a lição aprendida desta garrafa que servirá para as próximas.

Já o vinho... é francês. Eca.


# Só para Adultos

2023-09-07 tag_series ^

Já assisti duas edições desta série televisiva de dois coreanos que visitam países das redondezas para conhecer como funciona o mercado sexual. O primeiro foi o Japão, que recomendo fortemente. O segundo foi de Taiwan, e não sei se recomendo. A entonação do chinês é muito chata. Vale pelas minazinhas.


# 37 Segundos

2023-09-07 tag_movies ^

Marquei aqui para falar deste "filme com japonesa gorda cadeirante" (ipsis literis), mas não é um filme ruim. É que eu simplesmente não consigo deixar de citar estereótipos. Pelo menos você vai conseguir se lembrar quando assistir.

A história é boazinha. Tem algumas reviravoltas no final que nos faz pensar se é uma novela ou se baseado em histórias da vida real. De qualquer forma, há certa sensibilidade de sua diretora, que se denomina simplesmente Hikari. Anteriormente assinava como Mitsuyo Miyazaki, o que explica muito coisa. Não é fácil ganhar fama tendo o sobrenome do animador mais famoso da geração passada.


# Spy X Family

2023-09-08 tag_animes ^

A Mitiko começou a assistir este anime e dei uma olhada rápida. Minha primeira impressão foi que ele emula trabalhos clássicos com um estilo que se torna chato rápido, mas para espectadores medíocres pode ser muito bom (eu sou um deles). E tá na moda! A trilha sonora dos créditos finais lembra a de Odd Táxi higienizada ou mais elegante por ser menos boêmia.

Quando fui comentar no Telegrão ficou confuso diferenciar um meme que mandei junto do meu comentário, que era mais sobre o meme brincar com a narrativa slice of life e menos sobre minhas impressões, que acreditava não se encaixar no gênero (o que explicaria o meme). Porém, como me fizeram lembrar, no anime e no mangá slice of life é mais que um método narrativo: é de fato um gênero. E de quebra descobri que eu gosto muito desse gênero!

Enfim. Assisti novos episódios e recebi novas impressões (antes mesmo de estudar sobre slice of life). Vejo agora como é bem produzido este anime. Repare na estilização das cenas, na movimentação da câmera em cenas de ação, o uso de múltiplos estilos. A dublagem refinada. O uso de cores e luzes com muita propriedade. Fora o figurino e a trilha sonora, elegantes e sutis. Este anime não grita aos ventos que é muito bem feito, mas basta ver alguns segundos que deixa qualquer desenho ocidental no chinelo e dá lição a vários outros animes que não gozam de tanta grana.

Há uma qualidade inerente que não parece depender muito dos membros da equipe. Ela é muito coesa. O mise-en-scène constrói uma cidade que lembra o velho mundo que poderia estar próximo dos anos 70, mas há detalhes tão mistos que é difícil definir. Para pior também há os traços japoneses.

Por exemplo, não chega a ser uma referência 100% britânica, porque os automóveis dirigem pela direita. Há edifícios estilo Leste Europeu como a Rússia, e o uniforme da escola, mas não é o suficiente. Esse clima misto, próximo da pré-Guerra Mundial (a primeira) e ao mesmo tempo no meio da Guerra Fria compõem esta mescla sem personalidade, o que me faz lembrar que há um certo padrão em como animes japoneses retratam a cultura ocidental. Independente disto, muito bem feito.

Os personagens principais bastam para manter a ação se desenrolando ad infinitum. As caras que a menininha faz são engraçadas na medida certa. Nós somos levados a enxergar o mundo sob o viés de uma criança muito nova, e se torna divertidíssimo ainda que óbvio. A mãe é charmosa, linda e classuda. Seu drama é a insegurança que sente em não conseguir ser a mãe e esposa perfeita; suas expressões são mais esquemáticas, mas nunca repetitivas. O pai é um recluso distraído que está apenas fazendo seu trabalho; à beira de virar poeira pelos becos e esquinas, sua ignorância é sua piada recorrente.


# Barbie

2023-09-08 tag_movies ^

O filme dos memes do ano junto com Oppenheimer do Nolan é uma divertida e fofinha sessão da tarde. Roteirizado por um homem e uma mulher e dirigido por esta mulher que um dia foi dirigida por este homem, fica óbvio entender o conto de fadas do filme sob o viés da realidade. Quero dizer a realidade, mesmo, não à fantasia que o filme se baseia.

A historinha é quase infantil e pode ser acompanhada por qualquer espectador (até mulheres), exceto quando os roteiristas se empolgam demais nas elucubrações filosóficas, para não dizer diálogos de obviedades.

O filme em si é um tanto borderline. Em alguns momentos está de bom humor, mas em outros começam aqueles discursos chatos com trilha sonora solene. Não atrapalha, mas destoa.

Seus dois protagonistas são bonitos, OK, mas ambos estão velhos demais para o papel. Especialmente a mulher, que como sabem, envelhece muito mais rápido que o homem. No caso da Margot Robbie acredito que as cenas como Arlequina em seu currículo deixaram seu rosto ainda mais marcado. Ryan Gosling envelheceu mal, também; é a sina de ser sido rejeitado em tantos filmes por tantas garotas. Aqui ele reencontra sua persona sendo o boneco Ken que ninguém lembrava de brincar.

E o mais curioso do casting é que não são papéis particularmente difíceis de serem interpretados por dois atraentes jovens cuja plasticidade na pele faria mais sentido ao se fingirem de bonecas sem qualquer efeito visual gritante (como é o caso).

Aliás, que ideia de gênio construir de fato os cenários de Barbieland. É muito mais barato que usar computação e o resultado mil vezes melhor. A cereja do bolo é a Barbie bebendo um líquido imaginário e "comendo" uma tostada de plástico.

O que incomoda mais no filme acho que são as jogadas de marketing da Mattel. Fabricantes da boneca lendária, eles patrocinam o filme, obviamente, mas querem se inserir como legais em um mundo ainda em "pé de guerra" com as grandes corporações. Estranho. Até o uso de Will Ferrell (de Uma Aventura Lego) soa oportunista.

Barbie conta com uma direção de arte que as meninas da geração passada poderiam sonhar. Não é apenas o exagero no rosa, mas um abraço carinhoso no brega. Não chega a ser vintage, mas o saudosismo mandou coraçõezinhos prateados para algumas cenas com boa vibe.

O que estraga boa parte dos filme hoje em dia é exatamente o ponto fraco deste: politizar uma sessão da tarde. Este é um filme matinê que quer pagar de gente grande nos diálogos? Faça-me o favor. Nem Coringa teve tanto relaxo, se preocupando pelo menos em embasar suas opiniões no que é visto antes de ser ouvido. Fora que quando mulher fala ninguém presta atenção.


# A Pequena Sereia (2023)

2023-09-08 tag_movies ^

A jovem Halle Bailey canta bem, mas ela não está atuando ou se esforça tanto como protagonista que sai bem apagada, com menos vida que sua versão animada. Mas não podemos julgar. Os produtores da Disney estão dispostos a ficar adaptando alguns trabalhos que marcaram uma geração em um formato live action lotado de computação gráfica. Isso se chama reinventar.

Vocês que já assistiram à animação original sabem da história. Há algo de novo? Sim. Se chama Melissa McCarthy e ela faz o filme ganhar alguma textura depois de meia-hora de projeção. Infelizmente são muitos poucos momentos de Ursula e muitos outros momentos com um peixe que parece um zumbi falante, um caranguejo até que bem dublado, mas que canta mal pra caralho, e uma ave que entretém.

E tem a Halle Bailey, que cantando entretém, mas quando fica muda o que segura é apenas aquela química capenga de casaizinhos que só a Disney consegue shipar para você. Eles funcionam como um casal jovem que se apaixona. O príncipe quase faz aquele biquinho dos top models criados por Ben Stiller e Owen Wilson em Zoolander. É hilário! Pena que não deveria. Mas se você lembrar que este é um drama talvez encare como normal. Às vezes príncipes nascem com a cara de Johnny Bravo e está tudo bem.

Quem encara com tanta seriedade o papel que quase dorme é Javier Bardem, claramente presente apenas para pagar os boletos. Ele faz o deus do mar que não é nomeado (King Triton nos créditos), e ele andou aprontando pelos sete mares. Suas filhas são cada uma de uma mãe diferente. Este é mais um detalhe que fica difícil reparar e não dar aquela risadinha.

Porém, o que pode fazer você realmente se afastar é a projeção capenga dos primeiros minutos. Ela está lotada de efeitos visuais destacados, com iluminação toda errada entre cenário e personagens, jogo de luzes confuso e que fizeram duas coisas: a Mitiko pensar que estava assistindo ao filme errado ("isso saiu no cinema mesmo?") e a Disney adiar o lançamento nos cinemas. Mas, sim, saiu em algumas salas. As habilidades artísticas da produtora do rato não são mais as mesmas. E é bom se acostumar. Devemos jogar os holofotes sobre os incompetentes e dar a eles uma chance de passar vergonha. Isso se chama diversidade.


# O Lobo de Wall Street

2023-09-14 tag_movies ^

O que me fez assistir de novo O Lobo de Wall Street foi conferir se a Margot Robbie era aquela coisa toda mesmo. Foi vendo ela em Barbie que surgiu a dúvida, pois apesar de seus 30 e poucos anos no filme mais recente ela está parecendo uma quarentona. Como ninguém vai falar sobre isso na mídia alguém precisa fazê-lo, nem que seja pela honra de afirmar: no filme de Martin Scorsese ela é a delícia em cena.

O que não é pouca coisa. O filme coleciona momentos que não deveriam ser assistidos em família, com não-sei-quantas gostosas fazendo com os rapazes o que faz a mãe tirar as crianças da sala. E vale notar que essas gostosas são de verdade, não essas tranqueiras que colocam nos filmes hoje em dia para representar... o declínio da civilização, imagino. Há três categorias de prostitutas no filme, e nenhuma delas deixa os garotos desapontados.

O filme mais uma vez me empolgou e me fez refletir, além de admirar as três pessoas que tornam este trabalho um marco de biografias no cinema. Estou falando de seu diretor, Martin Scorsese, seu roteirista, Terence Winter, e não poderia esquecer de sua montadora, Thelma Schoonmaker, a colaboradora habitual do diretor, uma senhora que há décadas transforma rolos de filmes sem sentido em batidas de coração cinematográficas.

A biografia é de Jordan Belfort, um self-made man ambicioso que fez fortuna às custas de outros ambiciosos (as "vítimas"). Vendedor nato, ele chega em Wall Street como seu colega Bud Fox, o personagem interpretado por Charlie Sheen em Wall Street: Poder e Cobiça. Casado com uma esposa que incentiva o marido a dar o seu melhor e cheio de esperanças de fazer sua vida de maneira honesta e trabalhadora.

Quem apresenta para ele a real e lhe dá de certa forma bênção não é Gordon Gecko, mas Mark Hanna, interpretado por Matthew McConaughey em uma participação especial onde se intoxica com bebidas e pó no meio do dia e bate sua mão no peito seguindo um ritmo, entoando uma música. É o cântico da masculinidade, para lembrar o que nos torna homens. Para fazer bombear a testosterona pelo sangue, minuto a minuto. Bum... bum... bum.

Eu não me lembrava que Jordan Belfort nas mãos de Leonardo DiCaprio estava tão intenso. Sua mudança inicial de bom sujeito para advogado do diabo é rápida, mas é sua escalada que nos interessa. Nós observamos seu ego espaçado pelos anos em que sua própria firma de investimento vai escalando os níveis socioeconômicos de seus clientes até chegar no momento em que seu escritório não apenas lembra uma igreja evangélica: ela aguarda ansiosa pelo seu próprio culto, onde Belfort (é claro) é o deus salvador das pobres almas em busca da rica matéria. Que personagem!

Jonah Hill não fica atrás como Donnie Azoff, seu braço direito, ou seja, o fornecedor das drogas que irão manter a sanidade de Belfort. Seu papel é ser mais insano que Jordan. Ele consegue construir um alívio cômico que atende à função primordial na narrativa de manter o caos constante, mas controlado. O controle depende apenas que o ego de ambos coexistam em paz, mas quase sem percebermos o calcanhar de Aquiles de um império dos golpes financeiros se revela quase que por acidente (e a genialidade do roteiro de Terence Winter é fazer parecer de fato um acidente).

Este é um filme de meninos para todos com coragem de admitir (mais uma vez) que "greed is good". É daqueles que vale a pena rever de tempos em tempos, pois ele anda envelhecendo muito bem.

Diferente de Margot Robbie.


# Pão francês de hambúrguer [link]

2023-09-14 tag_cooking ^

Para cada pão de 80g use 60g de farinha. Para a esponja use 1/6 da farinha para o mesmo peso em água e 1% de fermento instantâneo; para a massa use o resto da farinha com 2.5% de sal, 2.5% de açúcar, a esponja, 55% de água e 5% de manteiga sem sal ou banha.

Prepare a esponja por meia-hora a uma hora; misture os ingredientes da massa menos o fermento e faça a primeira sova até ganhar elasticidade, mas sem ponto de véu; adicione a manteiga/banha e sove novamente até o ponto de véu. Aguarde a primeira fermentação de meia-hora a uma hora. Divida em pedaços de quase 100g, coloque a parte lisa para baixo, achate com os dedos para formar uma bola, junte as pontas em uma trouxinha, inverta a massa e boleie para fechar embaixo. Sele bem embaixo. Ao final dê uma achatadinha com a palma da mão. Separe em uma forma untada com óleo pelo mesmo tempo da primeira fermentação e cubra com pano úmido. Meia-hora antes de ficar pronto pré-aqueça o forno na temperatura máxima. Coloque a forma no ponto mais alto por 15 minutos com umidade (panos com água fervente, por exemplo). Após esse tempo vire a forma. Em cerca de meia-hora deve estar pronto; aguarde 15 minutos antes de cortar.

Minha primeira tentativa foi simples assim. A achatadinha e a gordura são o principal. Importante não deixar fermentar demais. Amanhecido na chapa ficou muito bom, também.


# Estoicismo: os céticos

2023-09-22 tag_philosophy tag_quotes ^

Stoic Six Pack 4 - The Sceptics: Pyyrhonic Sketches, Life of Pyrrho, Sextus Empiricus, The Greek Sceptics, Stoics & Sceptics and Life of Carneades (Illustrated) (Sextus Empiricus, Diogenes Laërtius, Mary Mills Patrick, Norman MacColl and Edwyn Bevan).

> It is probable that those who seek after anything whatever, will either find it as they continue the search, will deny that it can be found and confess it to be out of reach, or will go on seeking it.

> It appears therefore, reasonable to conclude that the three principal kinds of philosophy are the Dogmatic, the Academic, and the Sceptic.


# Bingo: O Rei das Manhãs

2023-09-23 tag_movies ^

Estava esperando muito mais deste filme. Na época todos falavam bem. Chegou a ser cotado para indicação ao Oscar (ano fraco talvez). Se trata de um drama construído com o propósito de contar uma história da vida real que terminou em redenção através da religiosidade. Pois é, você já entendeu: foi patrocinado pela igreja evangélica.

Até aí tudo bem. Porém, toda a narrativa da aventura do ator fracassado Augusto Mendes -- na vida real Arlindo Barreto -- em se tornar Bingo (Bozo), um palhaço icônico da TV americana no Brasil, se beneficia de seu intérprete, Vladimir Brichta, que imprime um carisma fácil de acompanhar e uma energia e peso nas medidas certas.

Porém, a história do filme não é nada empolgante. Situações são tiradas da cartola (para não dizer outra coisa), como mulheres e cocaína indo parar no camarim do sujeito. As histórias secundárias, como o desamparo do filho, recebe um tratamento quase que subliminar de tão apagado.

Isso me lembra que personagens sequer existem para dizer suas falas. Como Lúcia, a diretora do programa interpretada por Leandra Leal (O Homem que Copiava, O Rastro) cuja função é se opor a qualquer mudança e olhar para seu maior astro com a mesma carranca o filme inteiro, um sorriso ou outro apenas para sugerir que ela simpatiza com o sujeito.

Esta é uma boa produção e direção de Daniel Rezende, o editor de filmes como Cidade de Deus e Tropa de Elite, entre outros filmes de José Padilha. Além disso ele assina a direção de obras comerciais que pedem sua habilidade para o formato, como a sequência de filmes e a série Laços da Turma da Mônica. Em Bingo, Rezende transforma um roteiro convencional e mal amarrado em uma experiência intimista que embala o espectador. Você até se esquece desses detalhes e navega no seu protagonista e as situações melancólicas de sua ascenção como astro seguida de perto do seu declínio como ser humano.

Mas tudo isso é fake, o que é muito curioso. O roteiro enlatado é assinado por dois nomes com experiência. Luiz Bolognesi dirige e escreve o totalmente excelente Uma História de Amor e Fúria. Fabio Meira faz o mesmo com As Duas Irenes, um trabalho não-comercial que pede o apuro das sutilezas. E nenhum dos dois está pronto para tratar desta história em suas entrelinhas ou foram podados pela produção, pois a construção das cenas convence. É o miolo que nunca embala.


# Café Casinha

2023-09-23 tag_food ^

Além do nome fofinho, esta é de fato uma casinha remodelada para servir de café. O cardápio tem mais opções que esperaria de um local pequeno como este, mas o mais surpreendente é a qualidade da comida. Fomos apenas uma vez, mas o bao já nos convenceu a voltar, com sua massa leve e um recheio de legumes bem gostoso.

Para mim o espresso é o melhor do bairro. Bem tirado e cremoso. Usam um café bem doce (apenas as notas, sem açúcar) e possui um corpo leve. Não é esse exagero de acidez que anda na moda.

Como estava calor também provei uma bebida gelada, que vem com uma camada superior de café solúvel cremoso batido com açúcar e água e embaixo leite ou creme. O sabor do solúvel que usaram é muito gostoso. Bebida muito bem preparada.

Também provamos os pães de queijo, bem gostosinhos e macios. Não é um exagero de queijo, mas ele está lá.

O atendimento é conduzido pela família, inclusive pela matriarca, que é adorável. Ela não tem medo de arriscar seu português e é muito simpática. O serviço é um pouco bagunçado, mas acredito que deve melhorar, pois os donos estão de olho. O principal, a comida, está no ponto. Voltaremos mais vezes.

2023-10-03 Fomos novamente e experimentei o cheesecake de matcha. Achei mais suave do que imaginava, e o fundo de biscoito estilo Oreo ficou muito bom. A textura está excelente. Lembra um cheesecake mais caseirinho que aqueles americanos industrializados, sabe?


# Bill & Ted: Uma Aventura Fantástica

2023-09-23 tag_movies ^

O filme de Bill & Ted é daqueles que não se desgosta. O pouco que ele se propõe ele atende. É um sucesso e eu nunca vi tantas expressões na cara do Keanu Reeves juntas. Há um bônus na participação de George Carlin como o ser vindo do futuro Rufus, que precisa ajudar os rapazes a fazer o trabalho de final de ano de História e não alterar o curso da história que virá para a frente e tornará a sociedade do século 27 totalmente excelente.

Bill & Ted é um filme totalmente excelente. Seus efeitos são terrivelmente divertidos. Uma cabine telefônica que viaja no tempo na versão colégio americano é tudo o que precisava para tirar o estigma de nerd estranho dos fãs da série Dr. Who e ainda assim é capaz de gostar dos dois.

No final eles ficam com as garotas e Napoleão se diverte nos toboáguas de Waterloo. Muitas outras figuras históricas têm seus momentos nesta comédia feita de momentos que se entrelaçam no totalmente excelente espaço-tempo.


# Concerto japonês 2023

2023-09-23 tag_music ^

Por falar em enlaces, uma experiência muito boa aconteceu hoje no centro de cultura japonesa em Bunkyo, na Liberdade. O trio de cordas da professora de violino e mais seus amigos apresentaram uma viagem de uma hora por tempos e estilos. Somos levados a apreciar o contraste entre um Villa Lobos, alguns compositores europeus, o John Williams do Japão, criador das trilhas de filmes do Miyasaki e o filme A Partida, além de criações de músico paulista e uma adaptação muito boa de um forró clássico. O apresentador está de parabéns em explicar cada nova peça, além do funcionamento dos instrumentos de corda. O mercado Hirota está de parabéns em servir seus salgados na entrada, incluindo um pão de queijo bem honesto, salgadinho.


# Rent-a-girlfriend

2023-09-23 tag_animes ^

A versão estudante do romance entre um cliente e sua prostituta. Ela é namorada de aluguel e ele um virjão da escola como muitos que assistem animes como este. Seus hormônios traem seu comportamento e ele vira um cachorro no cio sempre que uma linda garota aparece em sua frente. Não é normal ficar olhando para elas com este olhar… o mais provável é que você seja um depravado. Essa relação entre eles vai sendo cozida em banho-maria para que ambos amadureçam nesta história arrastada, convencional e eventualmente engraçada. Nós damos risadas ou aguardamos por esses momentos passando por todas as obviedades e coincidências de obras sem imaginação além do seu tímido núcleo. Há boa intenção, não é um besteirol completo. Torcemos pelos personagens nem que seja para terminar logo essa história.


# Tomo-chan is a girl!

2023-09-23 tag_animes ^

Sim, ela é uma menina. Mas nem parece. Neste drama de colégio acompanhamos aquela amizade de infância que se estendeu até os hormônios ficarem mais complexos e as brincadeiras mais adultas. É bacana acompanhar a constância nas personalidades destes jovens, que já eram assim desde sempre. Mas mais bacana é o respeito por seus jeitos de existirem, e como isso vira um empecilho quando se fala de romance e o esperado de cada gênero. As situações neste anime se tornam leves mesmo que não sejam, como quando um tarado apalpa a menina no metrô. E com isso acaba descomplicando relações. E, ainda assim, há uma barreira intransponível na comunicação entre o casal principal. É fascinante o gesso social japonês e o quão complexa e diferente são essas relações orientais. Ainda assim, um anime adolescente.


# Orby Cabernet Sauvignon

2023-09-23 tag_wine ^

O Cabernet da Orby é mais agradável de beber uma taça por noite. Até no calor escaldante. Basta tirar direto da geladeira.


# Os Mercenários 4

2023-09-23 tag_movies tag_cinemaqui ^

Meu editor, o Vinicius Carlos Vieira, que vem destrinchando a sétima arte no nosso canal supimpa do YouTube, me disse que eu iria me divertir nesta sessão de Mercenários 4. Ele disse isso mais como na torcida do que sendo profético (acredito eu). Eu repeti para mim mesmo esta "vibe" antes de entrar na sala, reforçando as esperanças. Porém, juro que não havia botado muita fé até os primeiros minutos de projeção, quando Stallone e Stantham trocam diálogos sobre a mulher do segundo e o anel do primeiro. Depois que é revelado que Stallone perdeu seu anel em uma luta de polegares no bar eu já me senti bem tranquilo. Agora já não estava na torcida: eu sabia que iria me divertir.

E se uso direto o nome dos atores no lugar de seus personagens é porque a série Mercenários é sobre isso. São atores e atrizes de ação das décadas passadas em seu revival. Tanto pelos fãs quanto por eles mesmos. E você sente que estão se divertindo ao filmar, e se diverte no processo de assistir. É algo mais leve do que prestar atenção à história.

E se digo atrizes além de atores é porque isso se concretiza desta vez com a chegada de Megan Fox no elenco principal. Fiquei surpreso de vê-la de início. Aliás, ela está maravilhosa em sua postura física, além de continuar dizendo suas falas com a empolgação de uma secretária eletrônica. E foi daí que caiu a ficha: Fox é uma escalação perfeita para a saga, onde diálogos nada inspirados são ditos por pessoas sem preocupação dramática alguma. O lema da produção deste filme é "curta a viagem".

Este quarto episódio mantém o legado dos anteriores ao vermos várias vezes coisas explodindo (incluindo corpos humanos) e aquele sangue gráfico de computador. Ou seja: totalmente excelente. Não há nada mais que você precise para gostar desse filme. Talvez uma cervejinha.

Além de Fox, entram no hall de participações especiais dois asiáticos: Tony Jaa e Levy Tran, ambos vindos de filmes de ação (mais Jaa que Tran). E Jaa, é preciso destacar, é o único em cena que interpreta suas falas, colocando uma certa energia que cria algo novo na série. Seu jeito cerimonioso e intenso de dizê-las adiciona uma textura que não estamos acostumados a ver. Desnecessário dizer que ele está curtindo cada momento.

Por fim, temos as piadinhas sagazes. Esta edição conta com um bom humor tão despretensioso que apesar deste ser um filme de ação com cenas pesadas as piadas em formato de gancho conseguem quebrar o clima, pois surgem naturais da boca de personagens, que precisam emendar suas falas pelo ritmo enquanto não estão disparando projéteis, facas e balas, para todos os lados. E o arco envolvendo um pequeno rapaz de nome Jumbo Shrimp vai fazer seu queixo cair.

Diferente dos três filmes anteriores que davam uma certa vergonha alheia eu realmente gostei dessa quarta aventura. Ela conhece o esquema e não tenta atingir novos patamares. Esta série não é um Velozes e Furiosos, que daqui a pouco estará continuando no espaço sideral. É estranho o que vou dizer, mas a aventura de Stallone e seus amigos é leve e para toda família.

E não é que Vinicius tinha razão? Valeu pelos pensamentos positivos.


# KamiKatsu: Working for God in a Godless World

2023-09-28 tag_animes ^

Este anime de reencarnação começa criativo e empolgante. Usa várias estéticas. Animais e monstros são criaturas computadorizadas 3D, por exemplo, e isso é o mais estranho que você irá encontrar. O título já descreve o primeiro episódio e a deusinha é engraçada até você perceber que tudo não passa de mais um jogo disfarçado de anime. Quando vira mesmice falta a criatividade. Deixa de ser empolgante.


# Amores Canibais (The Bad Batch)

2023-09-28 tag_movies ^

Gostei do filme. Tem Keanu Reeves. Bigode nota 7/10. Tem uma minazinha perneta daora (Suki Waterhouse). Mas ela é meio louquinha. A diretora e roteirista Ana Lily Amirpour começa a escrever umas bobagens filosóficas e a coisa fica bem brega. O Aquaman, Jason Momoa, faz a mesma cara e está grande. É um México distópico dos degenerados ou banidos que contém canibais porque sobrevivência (daí o título brasileiro brega). Tem trilha sonora e um DJ que mora em uma casa com cara de toca-som. Existe o território do grande Keanu, The Dream, onde você encontra o Sonho. E o Sonho é ter um Keanuzinho em seu ventre. Ele tem um harém. Segue mais um monte de bobagem, como "o sonho é a vida". A arte do filme é inspirada, mas seu universo existe apenas nas metáforas dos cheirados. E acaba a brisa você esquece metade. Mas o bigode, nota 7.


# Como Falar com Garotas em Festas

2023-09-28 tag_movies ^

Baseado em um conto de Neil Gaiman surge este trabalho adorável e britânico sobre uma fábula envolvendo alienígenas organizados em colônias e que de passagem pelo planeta encontram um impasse se deveriam reavaliar seus costumes de devorar os mais jovens. A metáfora se encaixa, claro, perfeitamente com o nascimento do movimento punk, além de uma piada recorrente e eficiente sobre eles serem americanos.

O que embala a história é a paixão desse casal adorável de jovens. Ela, Zan, é Elle Fanning, o que dispensa apresentações. Ela é linda, branquinha e maravilhosa atriz. Seu jeito espontâneo de ser e ao mesmo tempo milimetricamente calculado somam à química com seu par, Een, interpretado por Alex Sharp com energia. Não à toa. Seu personagem tem a chance de apresentar o adorado punk para a única garota que lhe deu ouvidos.

Importante notar que seus dois amigos possuem uma inserção orgânica na trama. Um é abduzido pelos aliens daquela maneira que você imagina e fica com um pé atrás todo o tempo. O outro, que tem um terceiro mamilo, participa de uma experiência holística que colabora com sua personalidade de crítico musical. Seus comentários não tão aleatórios sobre as bandas e os álbuns citados são um charme à parte.

E temos Nicole Kidman, que está em um dos pontos altos da carreira. Australiana e sempre tendo que se adaptar ao sotaque de seus personagens, ela mergulha no caos e vaidade que permeiam a grande Boadicea, que divide esta dicotomia de alimentar seu ego e tentar promover algum talento, o que curiosamente é o motivo de Enn abandonar as bandas que se venderam do seu roll de punk rock, pois ele tem em suas memórias a figura ausente do pai, que era um músico que recusou participar do show business. Como o punk é filho bastardo ou abandonado de um blues pra lá de remoto, o que curiosamente colabora com toda a metáfora histórica desta trama, eis uma junção de temas que gera uma química muito bem amarrada.

Dirigido com igual energia por John Cameron Mitchell, que junto de Philippa Goslett assinam o roteiro adaptado do trabalho de Gailman, "Como Falar…" vibra a cada tomada. Sua disposição em usar o melhor ângulo, enfoque e montagem para abraçar a visão de mundo de seus personagens apenas rivaliza com a tremenda trilha sonora, que escolhe a dedo cada próximo acorde que mantém o ritmo da ação.


# Seleção do Mário [link]

2023-09-28 tag_coffee ^

Você conhece o Mário? Sim, esse mesmo: o que torrou café atrás do armário. Ganhei este pacote de um café bem cítrico, segundo colocado dos que experimentei; só perde para o Aomori do The Coffee. Seu sabor realmente lembra muito a adstringência do limão, o que acaba gerando uma bebida bem leve e -- é estranho dizer isso sabendo que é um café -- refrescante.

Em meus testes o café sempre surgia parecendo uma limonada; seja passando na Aeropress ou coado. A sugestão que o site do fabricante dá é por infusão (Pressca), algo que eu ainda não testei (prensa francesa seria o usado por mim).

Porém, na mesma semana passando por uma lojinha perto de casa vejo uma prensa italiana, até que bonitinha, com as cores verde e vermelho. E sem custar a fortuna de uma Bialetti. Fazia muitos anos que não usava esse método, mas de lá pra cá aprendi uns macetes, entre eles o principal de esquentar a água antes de colocá-la na moka, e queria tentar de novo. As coisas se conectaram e resolvi dar uma chance para a limonada do Mário.

E o resultado não decepcionou: mais intenso e com um pouco de amargor no final, o sabor continua cítrico, mas como a prensa deixa a experiência mais próxima do espresso esse sabor pertence mais à bebida. Não está sozinha, pois agora há mais corpo.

Fiz também testes em um blend com um café mineiro que tenho aqui vindo da mesma fazenda de um descafeinado chamado Maria Bonita, lá da cidade de Alfenas, produzido pelo Café Campinho. Ficou uma boa: a adstringência de um com a doçura do outro. Minha amiga tinha dito que não encontrou doçura nesse mineiro, mas eu por outro lado não encontrei na limonada do Mário. O que é normal. Essas percepções sugeridas são bem subjetivas. Depende da experiência de cada um com outros alimentos.


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