# Mulher-Maravilha

Caloni, 2017-06-01 cinema movies [up] [copy]

Depois de uma história seríssima e enfadonha envolvendo o Homem de Aço e o Homem Morcego, agora temos... mais uma história seríssima, dessa vez envolvendo a mulher misteriosa que aparecia no filme anterior, sempre acompanhada de sua música-tema. Ela é a Mulher-Maravilha, em um filme que não é lá essas maravilhas. Mas agora, pensando bem, eu não sei se o título de "Mulher-Maravilha" serve para esta versão asséptica e ultra-estilizada de uma das poucas heroínas solo. Eu sou mais a Lynda Carter, sua fantasia colorida e sua voluptuosidade honesta.

Mas cada um com seus gostos. E ultimamente o gosto tem sido mulheres sem sal, como os recentes filmes da série Star Wars têm comprovado. Aqui ela vive entre as Amazonas, criaturas divinas que vivem escondidas em um portal mágico no meio do Triângulo das Bermudas. Elas vivem em paz, talvez porque lá não exista homem algum, e também porque faz muito tempo que qualquer uma delas precisa pegar em armas. Sua mãe até a desencoraja fazer seus treinamentos de amazonas, pois segundo ela isso atrai Ares, o deus da guerra. Porém, curiosamente, quando alguns humanos invadem a ilha paradisíaca, suas arqueiras estão prontas para atacar com seus malabarismos, que ficam tão bonitos cheios de cortes e câmeras lentas.

Os homens são soldados alemães da Primeira Guerra, e aparentemente estão seguindo um espião por metade do oceano (ele de avião, eles de navio). Esse espião é um soldado americano interpretado por um dos mocinhos da atualidade, Chris Pine (Star Trek), que diz ter encontrado uma arma terrível nas mãos do inimigo. E olha que ela nem é a bomba atômica. Ah, a ironia do destino...

Ele é salvo pela heroína, que por sua vez ajuda as amazonas. Ela nunca viu um homem, aprendeu que para os prazeres carnais homens são desnecessários, mas mesmo assim dorme com ele. Ele, por sua vez, é a sombra de um possível herói americano, já naquela época onde Capitão América nem havia nascido (e agora, Marvel?). Sendo um bom samaritano que e uma das poucas pessoas envolvidas nessa guerra que enxerga toda a maldade do inimigo, e que mantém por perto um bando de amigos imprestáveis que mais uma vez, como todo filme do gênero, irá formar a trupe de perdedores que irão batalhar com honra. Nosso herói também é o primeiro a descobrir que a maldade não se combate como um vilão personificado, e seu ceticismo e pessimismo misturados com um certo idealismo ("o importante é o que acreditamos") talvez seja o único momento sóbrio e interessante de todo o longa. Mas que infelizmente logo em seguida é traído. Sabe como é, para dar vazão à sede dos fãs que querem ver uma luta de gigantes, como já ficou de praxe entre os heróis da DC (vide Homem de Aço).

Há vários momentos em Mulher-Maravilha que nos perguntamos se já não vimos isso antes, em uma versão ligeiramente melhor e menos escura. O pelotão de quatro roteiristas, entre eles o superestimado Zack Snyder, não está muito empolgado em criar nada que estimule a imaginação dos espectadores, e caminha a passos largos pelo mar de clichês, mesmo que lidando com deuses, tribos femininas perdidas e a chance de reimaginar uma das guerras mais sangrentas da história da humanidade. Mas infelizmente aqui não há sangue, nem sacrifício. Apenas mais fases de um jogo eletrônico que não tem fim. É isso que gera essa sensação de deja vu, em um sub-gênero onde os filmes ruins todos se parecem.

Embora eu goste das interpretações de Gal Gadot e Chris Pine, que fazem o impossível com o que lhes é entregue, há um ator que de fato levou a sério esse projeto. Não poderei falar quem é sem soltar um possível spoiler. Mas digamos que em um filme com poucas risadas e pouca emoção, ele evoca uma certa calma, um momento onde é permitido sentar e apenas aproveitar o show. Isso se você conseguir ignorar a sempre presente, alta e verborrágica trilha sonora, que acompanha o filme inteiro na esperança de torná-lo algo maior.

Não consegue. Nem seus efeitos, que ficam, assim como Batman Vs Superman, escuros demais para nosso proveito, e fáceis demais de serem misturados em cortes frenéticos nas cenas noturnas. E por falar em cortes, esse é o único dom da diretora Patty Jenkins, que está no projeto para fazer bonito frente às feministas. Mas se você gosta de efeitos visuais, venha eles como estiver, e é fã da figura nostálgica de uma mulher com uma armadura em um modelito estilizado com uma cara nova que nos remete a terras estranhas, este pode ser sua diversão da tarde. Tente achar uma sessão 2D para evitar forçar sua vista com tantas cenas escuras.


# Soundtrack

Caloni, 2017-06-03 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Ao chegarmos no fim de Soundtrack percebemos que falta um pouco de alma ao projeto, o que torna sua conclusão, diferente do esperado, mais patética do que triste ou inspirador. Esse é o resultado de um roteiro e direção focados em muitas ideias racionalmente organizadas e pouco envolvimento emocional. Aquelas pessoas estão irremediavelmente isoladas de tudo e de todos, e quando algum tipo de aproximação acontece, ela soa forçada, artificial e contra os princípios dos personagens já estabelecidos.

O roteiro e a direção são da dupla Manitou Felipe e Bernardo Dutra, que assinam o filme como 300ml e são responsáveis pelo curta (que já virou cult) Tarantino's Mind, onde também estrelam Selton Mello e Seu Jorge. Aqui eles também fazem dois brasileiros, mas precisam falar inglês quase sempre porque vivem com mais três cientistas vindos de outros lugares do mundo.

Todos estão isolados nessa estação de pesquisa em uma área gelada e inóspita do planeta, e o companheiro de cabine do recém-chegado Chris (Mello), o britânico Ralph Ineson, possui uma filha e uma esposa que está grávida, mas há três meses vem acordando naquele inferno de gelo para coletar medições atmosféricas junto com mais centenas de pessoas espalhadas em volta do planeta. De acordo com o coordenador da estação, um chinês expatriado por usar a internet em seu país, esses cientistas possuem um instinto que todos deveriam ter: o sentimento de auto-preservação. Com isso sabemos que a proposta do filme flerta com uma mensagem ecológica, mas nunca chega a citar algo concreto, como o aquecimento global.

Chris não é um cientista nesse grupo, mas um fotógrafo. Ele veio experimentar uma forma de arte que une imagem e som. Sua exposição deve não apenas mostrar suas fotos, mas o que estava ouvindo no momento em que foram tiradas. Há um motivo melancólico de Chris para esse projeto, que é revelado mais pra frente, mas quando descobrimos soa como manipulação para nos emocionar.

Nessa história tudo ocorre como algo anti-natural, mas inevitável. Chris não ganha a simpatia do grupo de imediato, mas não se trata de grosseria ou o esperado bullying contra alguém fora do grupo da Ciência. Todos são adultos, e provavelmente cada um com seus motivos para estar lá. A história tenta explorar mais os motivos do amigo do colega de quarto de Chris, mas mesmo ele no final ainda é uma incógnita. Sabemos uma coisa ou outra dele através de suas falas, mas elas não convencem o suficiente.

E a mesma coisa acontece com o personagem de Selton Mello. Chris, quando sozinho, aparentemente está perdido e surtando, mas a forma com que o filme resolve mostrar isso e a forma com que Mello resolve vivenciar estão em claro descompasso com a história, que não sabe direito onde focar. O resultado é um processo burocrático que só resta acompanhar, mas que nunca gera drama ou tensão para o espectador. Até porque ninguém sabe ao certo qual o objetivo de Chris.

O problema talvez é que nem o próprio Chris ao certo sabe o que veio fazer naquele isolamento forçado, o que torna sua história algo complicado de contar sem muitas pistas de onde ela irá chegar. Chris chega dizendo que quer se desconectar do mundo, mas está a todo momento tentando agradar as únicas quatro pessoas em sua volta. O rapaz está confuso, mas não fica engraçado. Apenas patético, embora dê o tom bem-humorado à história (onde aí a pequeníssima participação de Seu Jorge faz com muito mais propriedade).

O uso da trilha sonora aqui é uma outra incógnita. Utilizando momentos intensos, com a música tomando posse de algumas cenas com toda força e sendo cortada rudemente após isso, a lógica sonora do filme nunca faz sentido, é apenas uma distração estética. Considerando pelo título que ela deveria ser algo importante da história, ela mais confunde que ajuda. No máximo sua participação incidental demonstra que é possível mudar nossa percepção com sons. Ótimo. Isso já sabemos. Mas há uma cena sobre uma montanha que resolve explicar isso para o público leigo, só pra ter certeza.

A pergunta que fica é se Soundtrack poderia ser um filme melhor ou, dado o material, esse é o máximo que ele chega? Ele entretém, isso é verdade, e isso a despeito de suas esquisitices. Mas não nos mantém muito a par de por que estamos tão interessados em sua história. Se isso é uma virtude ou não, acredito que isso fica a cargo do espectador descobrir. E ele que escolha sua própria trilha sonora para curtir o momento.


# House of Cards - Quinta Temporada

Caloni, 2017-06-05 cinema series [up] [copy]

Uma nova temporada de House of Cards significa que as peças do jogo serão remanejadas para dar início a outra partida, e a história é sempre sobre o remanejamento de peças, e não a partida em si. A Netflix usa e abusa de seu formato, já que a temporada inteira foi concebida para ser assistida em sequência. Os episódios quase nunca terminam em reviravoltas, mas em conclusões. São mini-capítulos da eterna história pela busca do poder.

E, para todo mundo que já assistiu essa série, sabe que ela não é sobre mocinhos versus bandidos. Todos são bandidos. A ação quase sempre se passa na Casa Branca! É sobre a máfia estatal, seus capangas, seus dirigentes, seus espiões. Não há lugar para pessoas boazinhas por aqui, já que nossa evolução propriciou justamente o pior dos ambientes para que os piores psicopatas da região dominassem sobre todo o restante de primatas ignorantes e alienados. Francis Underwood cada vez mais se parece com o símbolo da busca incessante por poder, e ele aos poucos se distancia do vilão sem coração que foi pintado em momentos anteriores. Ele é apenas um dos personagens mais honestos da série, sendo divertido, mas repetitivo, acompanhar seus comentários paralelos com seu espectador (nós).

A honestidade de Frank bate de frente com a tranquilidade de sua esposa, Claire, que começa aos poucos perceber a estratégia do marido, quase que por telepatia. Os dois estão empenhados, alinhados, e é ótimo ver isso. Quem não gostar das preferências (ou opções) sexuais dos dois irá se sentir ofendido por esse casal. Mas não é lindo como ambos são honestos a respeito de praticamente tudo? A Claire da Season 5 é a sequência direta da 4, e ela empolga por ganhar aos poucos terreno em um ecossistema feito para homens. Robin Wright não é apenas uma ótima atriz, mas dois dos melhores episódios da temporada, os dois últimos, são dirigidos por ela. Há muitos diretores desta vez, e um resultado um tanto irregular, o que dá ótimas oportunidades para Claire brilhar ainda mais.

Não é uma temporada com muitos momentos brilhantes, e ela foi cozida em fogo morno. Porém, ela tenta se reciclar, o que é louvável, mas já deveria ter terminado muito antes do seu quinquagésimo capítulo.


# Ninguém Deseja a Noite

Caloni, 2017-06-05 cinema movies [up] [copy]

Juliette Binoche se transforma completamente em uma americana aristocrata (vinda da França, até pelo nome) e que sai em busca de seu marido, um aventureiro que deseja mais que tudo ser o primeiro a atingir o Polo Norte e fincar uma bandeira. Ela vai em ajuda dos guias para o norte do Canadá, e o que encontra lá com certeza não era o que esperava.

Baseado em fatos reais (mas sem dar detalhes de qual história estamos vendo, o que cheira manipulação), acompanhamos um filme que se dedica a dar o peso real ao desafio de viver no gelo absoluto, seja como esquimó ou como "povo civilizado". Estamos no comecinho do século 20, e a diretora Isabel Coixet (Fatal), auxiliada pelo roteirista Miguel Barros e, claro, uma irreconhecível Juliette Binoche, criam uma persona frágil e ao mesmo tempo petulante, teimosa, elitista, preconceituosa e... que vira nossos olhos e sentimentos naquela terra estranha. A única personagem à altura é a atriz Rinko Kikuchi (Babel), sempre surpreendente e que aqui faz a jovem esquimó Allaka, e que já havia feito a ótimo Kumiko em "Caçadora de Tesouros". A dinâmica entre as duas é irregular e por isso funciona como uma pena para a questão levantada pelo filme, das diferentes visões de mundo.

É claro que chega uma hora que tudo vira uma versão feminina de Dança com Lobos, mas sem a sutileza, e com um certo pelo exagero nas falas. Uma esquimó não falaria tão bem assim tantas vezes. Mas o que é irrepreensível são as virtudes estéticas e técnicas do filme, que inserem o espectador no gelo ártico com muita propriedade. Com o design de som e os ventos, ou o próprio isolamento das montanhas, ou a escassez de recursos, o gelo quebradiço... e até a decupagem, que coloca Kikuchi e Binoche em planos cada vez mais estreitos, conforme o inverno se aproxima. É como conseguir fazer o espectador sentir frio de dentro de um filme.

Ninguém Deseja a Noite cria a profundidade de seu drama para discutir questões mais profundas ainda, como nossos costumes culturais e as diferentes formas de enxergar a realidade. Não chega a ser tocante, e possui um final um tanto desonesto, mas não poupa ninguém das consequências das decisões dessas duas mulheres. Um filme para ver e refletir.


# Debugger remoto do Visual Studio

Caloni, 2017-06-13 computer [up] [copy]

Então você está quebrando a cabeça para descobrir por que seu código não faz o que deveria fazer? Então você é desses que acha que é melhor ficar imaginando com um bloquinho de papel na mão do que colocar logo a mão na massa e ver exatamente o código passando pelo processador? Talvez você mude de ideia ao ver como é ridiculamente fácil depurar código em uma máquina remota, seja uma VM ou a máquina do cliente. Neste post vou ensinar a maneira mais antiga e a mais nova que conheço de usar o depurador do Visual Studio. Vamos usar a versão 2003 e a versão 2017 RC.

Há muito tempo atrás eu falei sobre o depurador remoto do C++ Builder, na época a ferramenta que eu mais utilizava para programar. Hoje disparado é o Visual Studio, já faz mais de uma década. Desde o VS2003 tem sido muito simples depurar remotamente. Tão simples que eu realmente esqueci que talvez algumas pessoas não saibam o quanto é útil essa ferramenta no dia-a-dia.

É possível depurar qualquer executável, tendo seu código-fonte ou não. A diferença é que sem código você terá que olhar o assembly e se for compilado como release você pode olhar o código mas ele não fará muito sentido em alguns momentos (onde estão minhas variáveis locais?). O melhor dos mundos, é claro, é depurar um executável que você tenha os símbolos, o código e esteja compilado em **debug**. Daí o código irá falar com você da maneira mais fácil.

É simples de achar essa opção no projeto em qualquer Visual Studio. Vá nas opções do projeto, Linker e irá encontrar em algum lugar sobre a geração do PDB. Não tenha medo de explorar as opções do projeto. Elas refletem como o XML do projeto muda (sim, é um XML). Se estiver querendo saber exatamente como ele muda, use um controle de fonte e vá experimentando.

Para depurar pelo Visual Studio 2003 há um programa chamado **msvcmon.exe** que deve ser copiado e executado na máquina-alvo. Ele é um executável que pode ser copiado para qualquer lugar. Junto dele devem estar duas DLLs: a **natdbgdm.dll** e a **natdbgtlnet.dll**. Se você tiver o VS2003 instalado deve achar esses arquivos em algum lugar, ou no pior dos casos no CD de instalação. Por via das dúvidas sempre há um link amigo na internet para ajudar alguém a achar o que precisa.

Copiados esses arquivos na máquina-alvo é necessário copiar também o executável. Afinal de contas, ele irá executar remotamente! O arquivo PDB, no entanto, você só precisa guardar com você. Lembre-se que toda recompilação em Debug altera de maneira significativa o PDB, então não recompile seu projeto enquanto estiver depurando. Se for fazê-lo, troque o executável na máquina-alvo.

A primeira execução de toda ferramenta, seu help, irá nos mostrar o seguinte no msvcmon:

C:\Tools\msvcmon-vs2003>msvcmon /?
Microsoft (R) Visual C++ Remote Debug Monitor(x86) Version 7.10.3077
Copyright (C) Microsoft Corporation 1987-2002. All rights reserved.
Usage: msvcmon.exe [options]
Options:
-?
        Display options
-anyuser             (tcp/ip only)
        Allow any user to debug through msvcmon
-maxsessions number  (tcp/ip only)
        Change the number of concurrent debug sessions allowed
-nowowwarn
        Do not warn when running under WOW64
-s pipe_suffix_name  (pipe only)
        Create main pipe with suffix pipe_suffix_name appended to pipe name
-tcpip
        Operate in tcp-ip mode
-timeout seconds     (tcp/ip only)
        Termination timeout - reset on every connection request
        (use -1 for no timeout)
-u xyz\abc           (pipe only)
        Allow "abc" user/group in domain "xyz" to connect
C:\Tools\msvcmon-vs2003>

Minhas opções favoritas são **-tcpip -anyuser -timeout -1**, o que libera o acesso a qualquer usuário direto por TCP/IP e o timeout da execução é infinito. All access no limits =)

C:\Tools\msvcmon-vs2003>msvcmon -tcpip -anyuser -timeout -1
Microsoft (R) Visual C++ Remote Debug Monitor(x86) Version 7.10.3077
Copyright (C) Microsoft Corporation 1987-2002. All rights reserved.
Maximum number of concurrent sessions:20
**TCP-IP Mode**
WARNING: TCP-IP mode is not a secure way to debug your application. For better
security use msvcmon in pipe mode or the default port in the processes
dialog to debug your application.
To use the default port you will need to install the full set of remote
debugging components. For further information see 'Remote Debug Setup' in Help.
*WARNING- infinite timeout value set. Msvcmon will not timeout and exit*
Waiting for Connections - everyone is allowed access

Agora no Visual Studio 2003 vá em Debug, Processes (ou Ctrl+Alt+P para os íntimos) e escolha a opção de Transport como TCP/IP, digite o IP... explore sua ferramenta, poxa!

Depois de conectar remotamente por essa janela o console do msvcmon irá mostrar que usuário se logou:

*WARNING- infinite timeout value set. Msvcmon will not timeout and exit*
Waiting for Connections - everyone is allowed access
        A Debug session has been started for user: Caloni

Para configurar o início da depuração remota pelo próprio projeto você terá que ir nas opções de debug dele:

E para começar os problemas é sempre bom lembrar que projetos compilados como debug precisam das DLLs de runtime do Visual Studio que sejam debug. Mas você já sabe disso.

Depois que tudo isso estiver OK é só iniciar seus processos remotamente em modo de depuração ou atachar pela primeira janela que vimos.

Agora você deve estar se perguntando: "mas esse VS é muito velho! e os mais novos?"

Bom, desde o VS 2010 e até o VS2017 RC essa ferramenta está disponível na pasta de instalação, mudou um pouco de cara e você pode encontrar procurando por "remote". No Caso do VS mais novo que tenho em mãos aqui, o 2017 RC, existe já uma pasta pronta para copiar e colar na máquina-alvo, em Common7, IDE, Remote Debugger. Há duas pastas disponíveis: x86 e x64. Dependendo do tipo de compilação que deseja realizar (e de qual o seu executável) copie uma das duas, rode o executável da pasta e apenas configure.

Você até já sabe qual o caminho do sucesso: **All access to everyoooone**!!! ;)


# Mulher do Pai

Caloni, 2017-06-13 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Apesar do que sugere o nome e a sinopse exagerada, Mulher do Pai é um estudo delicado e sutil sobre amadurecimento dos mais jovens, algo que não estamos mais acostumados a ver em um mundo cada vez mais conectado. De fora dessa aldeia global há ainda pequenos mundos rurais. E dentro desses mundos há a possibilidade de revisitarmos o bê-a-bá do crescimento humano.

E é claro que o filme, como sugere o nome, gira em torno de sexo proibido, ou pelo menos do seu desejo e curiosidade. "Sexo é o que nos aproxima" talvez fosse a frase que resume este filme, mas há muito pouco dele na história, que gira mais em torno do toque, principalmente onde falta o olhar. A protagonista é Nalu (Maria Galant), uma garota de 16 anos que vive com seu pai, Ruben (Marat Descartes), que não consegue enxergar devido a uma doença desde seus 20 e poucos anos. Quando a avó de Nalu vem a falecer os dois passam a morar sozinhos, o que obriga uma maior comunicação entre eles.

Ou pelo menos em teoria. O fato é que a cidade onde vivem é muito pequena e não há nada para fazer; sequer jovens garotos para ela e sua melhor amiga namorarem, apenas os colegas da escola "que só pensam em cavalos". Ambas ficam sonhando em viver na cidade grande e como seria muito mais empolgante. Só que enquanto isso seu pai, até então quase ignorado na casa, passa a ser a única referência de homem que Nalu tem, e que começa a virar a projeção do já conhecido Complexo de Édipo (mas para meninas).

A diretora Cristiane Oliveira consegue aqui evocar um visual cheio de significados em torno de uma vila que nunca vemos por inteiro (talvez porque não valha a pena ver) e principalmente em torno da casa da família. O nascer e o por do sol são oportunidades para vermos na parede o reflexo da sombra do pai cego sob a luz vinda da janela, ou a visão da porta que dá para o mundo, de onde vemos uma Nalu ansiosa para abrir suas asinhas e sair voando de lá.

O roteiro, também escrito por Cristina, em parceria com Michele Frantz (Sonhos Roubados), não se preocupa em tornar tudo mais ou menos óbvio. Dessa forma, quando vemos a professora de arte de Nalu ensinando os alunos a moldar argila com os olhos fechados já imaginamos na vida de quem ela irá parar. Da mesma forma, quando um jovem uruguaio começa a ficar com a garota já sabemos onde isso vai dar. Não há nada de imprevisível em Mulher do Pai, mas é nos detalhes que o filme nos captura, fazendo com que sua história por si só já seja digna de acompanhar.

Para uma rotina em que não acontece nada o filme te prende a cada detalhe. Isso porque com um roteiro minimalista, que carece de palavras mas sobra de imagens, vamos aos poucos tateando o que a história quer dizer. E, talvez, no final das contas, o título do filme acabe chamando a atenção pelo que ele nos faz esperar. E com personagens tão simbólicos quanto estes, isolados do mundo como estes, trabalhar apenas com expectativas já prova a capacidade do filme em surpreender mesmo em cima do óbvio.


# A Garota Ocidental - Entre o Coração e a Tradição

Caloni, 2017-06-21 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Após acabar "A Garota Ocidental - Entre o Coração e a Tradição" há a sensação deste filme ser um remake. Isso porque a história que ele conta, inspirado livremente em fatos reais, infelizmente não é um caso isolado. O seu núcleo revela uma repetição de costumes que um certo povo mantém século a século, e mesmo que convenientemente auxiliado pela tecnologia da época, se mostra arcaico e anacrônico se comparado com os princípios mais básicos que temos hoje de direitos humanos.

Ao mesmo tempo é curioso como a releitura que o filme faz sobre os costume de casamento arranjado com o objetivo de manter a unidade de um povo serve apenas para os muçulmanos e outros grupos étnicos, culturais e religiosos que, com o coração no passado, vivem em meio ao ápice do mundo ocidental, seja na Europa ou no EUA. Hoje não seria mais aceitável, por exemplo, que judeus seguissem a mesma linha de raciocínio, embora este fosse um costume antigo de praticamente qualquer povo que nasceu ainda na Antiguidade.

De alguma forma, ainda que velada, o filme compactua com essa ideia, ou no melhor dos casos admite que, assim como em "Brazil: O Filme" (Terry Gilliam, 1985), há sistemas sociais que impedem que os indivíduos possam sonhar fora da caixa de onde nasceram. Nesse caso em específico a coletividade, representada pela família de Zahira (a jovem Lina El Arabi), assume o caráter de tirano nesta tragédia anunciada, o que se torna ainda mais trágico pelo caráter ambíguo de sua natureza, de apoiadores e detratores da vida da jovem, e que mantém o mesmo ideal coletivista e covarde de todo o seu povo, onde indivíduos não são responsáveis pelos seus atos na mesma medida em que não podem decidir pelas suas vidas.

E a cumplicidade do filme reside justamente em contar esta história como uma tragédia no mesmo sentido em que um acidente de carro é uma tragédia. Zahira está acuada por todos os lados. Ela engravida de alguém que não é a escolha de sua família como pretendente e ele não espera que ela fique com o bebê, apesar de desejar uma vida a três e ao mesmo tempo se posicionar intuitivamente contra o aborto. Na clínica, descobre que custam 3 euros e meio para retirar o feto em até 12 semanas, e 800 até 18 semanas no país vizinho. Seus valores estão irremediavelmente conflitantes com os da dupla sociedade em que vive, a ocidental e a muçulmana, onde respectivamente a vida pré-nascimento e a pós-nascimento não importam. Ou melhor dizendo, não importa a opinião da pessoa colocada nessa posição.

Porém, o roteiro de Stephan Streker sutilmente demonstra que os problemas retratados no filme não são simplesmente resolvidos escolhendo um lado. Afinal de contas, poderíamos lhe dar o rótulo de conservador e intolerante pelos acontecimentos nus e crus da história (que não poderei falar aqui e arriscar sua ótima e permanente tensão), mas ao mesmo tempo seria fácil entendê-lo como um estudo de cultura e como nunca nascemos livre de preconceitos onde quer que nasçamos, em uma ótica tipicamente liberal-americana. Felizmente nenhum dos dois rótulos seria completo, e acompanhamos livre das tensões políticas e sociais que soariam bobas e melodramáticas para um tema tão caro.

Também diretor, Streker escolhe sabiamente quase não incluir trilha sonora, o que beneficia o realismo, mas o que irá lhe trazer as melhores memórias do filme é a proximidade da câmera nos rostos dos personagens principais, Zahira e seu irmão, o que traz a intimidade e cumplicidade, ainda que nunca os vejamos de frente, o que revela os sentimentos escondidos dos dois. Enquanto isso, o distanciamento físico do pai, sempre atrás da mesa de jantar ou do balcão de sua lojinha, e o distanciamento emocional da mãe, que vê uma jóia da família mais valiosa que a felicidade da filha, são os contrapontos de um filme difícil de se decifrar pelos seus símbolos, ainda que tenhamos farto tempo para isso. Algumas situações são icônicas, como Zahira e seu namorado, deitados em sentidos opostos na cama, simbolizando dois mundos que se encontraram por acaso no movimento de rotação das pessoas pelo planeta, mas que continuam separados por forças além das que conseguem lutar. O resultado é que enquanto alguns têm coragem de sair de seu país e buscar oportunidades, para outros a verdadeira coragem está em ficar onde se nasceu.

E é justamente este o ponto de impacto de um filme claro, simples, mas nunca simplista. Ele coordena nossos pensamentos em torno da ideia de movimento social enquanto demonstra com propriedade como nunca estamos realmente livres dessas amarras. Seja você uma mulher sob o regime muçulmano ou uma das milhões de mães solteiras vivendo tristes pelo Ocidente. Se há algo que se pode afirmar da opinião do filme é esta: esteja onde você estiver, ele não traz uma visão muito otimista da vida.


# Confirmation Theory: Hume''s Refutation of Induction

Caloni, 2017-06-27 philosophy [up] [copy]

Este recorte se trata da explicação do filósofo Michael Huemer sobre a "refutação" de Hume sobre indução. De acordo com Huemer, "Hume's 'refutation' of induction essentially goes as follows:"

1. There are only three possible kinds of knowledge: (a) 'relations of ideas,' which are things that are true by definition, (b) direct observations, and (c) knowledge based on inductive reasoning, where an inductive inference is a generalization from experience.

2. Any generalization from experience presupposes 'the Uniformity Principle' -- i.e., that the course of nature is uniform, or that the future will resemble the past.

3. So inductive knowledge can only be justified if this presupposition is justified.

4. The Uniformity Principle is not true by definition.

5. Nor is its truth is direcly perceived.

6. And since all inductive inference presupposes the Uniformity Principle, any inductive argument for it would be circular.

7. So the Uniformity principle cannot be justified. (from 1,4,5,6)

8. Hence, no inductive conclusion is justified.


# Prefácio de O Capital Vol. 1

Caloni, 2017-06-27 philosophy [up] [copy]

Embora se trate de um rascunho, os Grundrisse possuem extraordinária relevância, pelas ideias que, no todo ou em parte, só nele ficaram registradas e, sobretudo, pelas informações de natureza metodológica. Uma dessas ideias é a de que o desenvolvimento das forças produtivas pelo modo de produção capitalista chegaria a um ponto em que a contribuição do trabalho vivo se tornaria insignificante em comparação com a dos meios de produção, de tal maneira que perderia qualquer propósito aplicar a lei do valor como critério de produtividade do trabalho e de distribuição do produto social. Ora, sem lei do valor, carece de sentido a própria valorização do capital. Assim, o capitalismo deverá extinguir-se não pelo acúmulo de deficiências produtivas, porém, ao contrário, em virtude da pletora de sua capacidade criadora de riqueza.


# Why People Are Irrational about Politics

Caloni, 2017-06-27 philosophy [up] [copy]

A teoria da "Irracionalidade Racional" do filósofo Michael Huemer estabelece uma base teórica que nos permite afirmar que qualquer discussão política é em sua essência irracional:

The theory of Rational Irrationality holds that it is often instrumentally rational to be epistemically irrational. In more colloquial (but less accurate) terms: people often think illogically because it is in their interests to do so.

An interesting implication emerges from the consideration of the mechanisms of belief fixation. Normally, intelligence and education are aides to acquiring true beliefs. But when an individual has non-epistemic belief preferences, this need not be the case; high intelligence and extensive knowledge of a subject may eve worsen an individual's prospects for obtaining a true belief (see chart below). The reason is that a biased person uses his intelligence and education as tools for rationalizing beliefs. Highly intelligent people can think of rationalizations for their beliefs in situations in which the less intelligent would be forced to give up and concede error, and highly educated people have larger stores of information from which to selectively search for information supporting a desired belief. Thus, it is nearly impossible to change an academic's mind about anything important, particularly in his own field of study. This is particularly true of philosophers (my own occupation), who are experts at argumentation.

The problem of political irrationality is the greatest social problem humanity faces. It is a greater problem than crime, drug addiction, or even world poverty, because it is a problem that prevents us from solving other problems.

Traduzido: https://criticanarede.com/irracionalidadepolitica.html


[2017-05] [2017-07]