# A Mulher Do Fazendeiro

Caloni, 2018-07-01 cinema movies [up] [copy]

Hitchcock dirige aqui mais uma comédia de costumes sobre casamento, e extrai o drama do bom humor. Ele continua com suas trucagens já vistas em filmes anteriores, como movimentar a câmera em alguns momentos e aproximar-se dos personagens com cortes que abrem um plano mais fechado.

Isso não quer dizer que o enquadramento anterior estava inadequado, pois não estava. Tome como exemplo a festa de casamento de sua filha, onde antes de vermos em detalhe a pessoa que irá fazer o brinde o diretor deixa a câmera na altura da mesa e de onde podemos ver todos erguendo seus copos/taças.

Na época do cinema mudo a proporção da tela era 4:3. Ou seja, quase quadrada. Isso exige algum malabarismo para colocar tudo que importa no quadro.

A história é simples: recém viúvo se sente solitário e sai em busca de pretendentes para se casar novamente. Desde o começo sabemos que sua governanta nutre uma afeição por ele. O cinema mudo exagera nos gestos e expressões, mas veja como economiza nos diálogos! Aos poucos vemos como ele não tem jeito com as damas, vai as perdendo uma a uma. Note também como na época não era um disparate falar sobre idade e peso das moças (claro que elas não gostavam muito, principalmente se eram feias e gordas).

Os momentos engraçados incluem também seu capataz, sempre bêbado, mau humorado e um tanto vagabundo. Os personagens no filme não cumprem função na história principal, são coadjuvantes que acrescentam ao universo, como hoje em dia na TV.

Hitchcock continua seu bom trabalho de ritmo. Em nenhum momento o filme perde o fôlego. Se envolver-se com os personagens principais é capaz até que se emocione no final.


# Argentina vs França e o Fim da Geração dos Autistas

Caloni, 2018-07-01 essays [up] [copy]

A tecnologia e o profissionalismo chegaram na copa em um nível nunca antes visto. Se compararmos com o atacante que fez o primeiro gol na primeira copa, o francês Lucien Laurent, notamos o abismo entre o ontem e o hoje do Planeta Futebol:

Estávamos jogando contra o México e estava nevando, já que era inverno no hemisfério sul. Um dos meus companheiros de equipe recebeu a bola e eu segui seu caminho com cuidado, finalizando com meu pé direito. Todos ficaram satisfeitos, mas não houve uma grande comemoração - ninguém percebeu que estavam fazendo história. Um aperto de mão rápido e nós voltamos ao jogo. E nenhum bônus também, todos nós éramos amadores naquela época, até o fim.

Mas houve uma transição. Ela foi lenta, passaram grandes gerações pelo caminho (Brasil que o diga), e grandes paixões acabaram levantando a taça ou chegando muito próxima dela. Não importa. O futebol ganha pelo que se passa no gramado, e as seleções apenas acumulam história em seus títulos e sub-títulos.

Hoje é o dia que termina esta geração de autistas no futebol. Messi e Cristiano Ronaldo, dentre outros, pertencem a uma geração super auto-centrada, mas nada criativa dentro de um esporte coletivo. Estas pessoas não parecem viver, mas tecnicamente são tão impecáveis que embalam os torcedores não-autistas, com a resposta emocional de robôs empenhados em trazer o máximo de... do quê, mesmo?

A Argentina é um time de sofredores, e Diego Maradona, gordo e acabado, é o símbolo do segundo país do futebol do hemisfério. Quando a câmera nos mostra dieguito é uma cena deplorável. Quando a câmera nos mostra o melhor atacante atual do seu país, Messi, a cena é daquele jogo de vídeo-game, Fifa 2018. O jogador de carne-e-osso nunca esteve tão próximo de sua versão robotizada.

E aqui a máquina perde o equilíbro. Tanto Argentina quanto Portugal estruturaram suas seleções baseadas no fato que o gênio marcador de seus jogadores-robôs resolveria qualquer impasse. E deram um salto para a mediocridade. Mais ou menos como está acontecendo com as nações, a economia, as finanças, entregando decisões sobre a pensão de viúvas nas mãos de psicopatas capitalistas especulando bilhões de um lado a outro do globo. Se tudo der errado, basta eles formatarem. Não o computador, o cérebro.

O futebol da França e do Uruguai, por outro lado, não possuem exatamente um cérebro para coordenar a equipe. Eles são um coração que bombeia garra de ponta a ponta do campo. E a pressão parece que sempre acaba mais forte no lado do ataque, bombeando e bombardeando a soma de seus talentos rede adentro. Até a França, européia, pode se vangloriar de um futebol jovem e romântico. Talvez seja a Marselhesa tocada no início de cada jogo. Vai saber... O que sabemos é que a seleção da França é jovem, é mista, e não parece disposta a diminuir sua muralha. Bom para o futebol.

Já outro país do continente, Portugal, é outra história. Bom para os Uruguaios, que festejam junto da França. Dois países muito diferentes, de mundos distintos, unidos pelo bem do coletivo. E conseguem. Mais do que a Alemanha de quatro anos atrás. O jogo segue, mas a paixão pelo futebol deu uma respirada de alívio em quatro horas inesquecíveis deste sábado de férias. Já o autismo...


# Fugindo do Continente

Caloni, 2018-07-01 cinema series [up] [copy]

Fugindo do Continente é uma série de tv de e para britânicos. Ela aborda fugir da sua ilha para morar em algum dos países da Europa, seja Itália, Portugal, Espanha ou França. Dentre outros. É praticamente um guia de consumo e de turismo. Ele é prático, formatado em quatro empreendimentos apresentados pela apresentadora em um nível de corretora de imóveis, e se trata de uma "aventura" totalmente sob controle do conforto do seu sofá.


# Mandou Bem

Caloni, 2018-07-01 cinema series [up] [copy]

Mandou Bem é uma série comunzinha americana em que a apresentadora Nicole Byer nos impulsiona a enxergar a graça e o nonsense de trazer três convidados aleatórios a pintar o sete na cozinha do palco, tentando fazer algo que preste em confeitaria imitando pequenas obras de arte do ramo. Com seu espírito leve (apesar de fisicamente pesada), Byer utiliza um chef francês e um outro convidado ilustre toda vez que se dispõe a nos apresentar os terrores dos amadores na cozinha e a nos dar boas risadas.


# O Caçador e a Rainha do Gelo

Caloni, 2018-07-01 cinema movies [up] [copy]

Continuação previsível, baixo orçamento, mas mantém o mesmo universo e alguns efeitos bem impressionantes. A história central é poderosa, pesa no final, mas todo o resto é um passeio monótono, pois praticamente tudo é previsível.

Jessica Chainstain, apesar de boazuda, fala que o Thor envelheceu, mas é ela que é a coroa. O trunfo do filme original era Charlize Theron, e ela só faz uma ponta aqui, no começo e no final. Isso é o que torna o filme minimamente interessante.

Porém, pelo resto das suas quase duas horas é um marasmo sem fim acompanhar os mesmos personagens realizando um trajeto seguro, sem riscos, apenas pelo dim-dim. Vemos o casal apaixonado se reencontrando. Chainstain não consegue convencer (e quem conseguiria?) que eles irão ficar separados porque ela acredita que ele o abandonou. Nem plot de novela é mais tão ruim hoje em dia.

Por outro lado, Emily Blunt como Rainha do Gelo é tão risível que até as bruxas de Oz Mágico e Poderoso se saíram melhor. Ela apenas exibe um doce olhar enquanto aguardamos a vinda da estonteante Theron.

Já Thor, quer dizer, Chris Hemsworth, continua com um bom timing cômico e seu jeito falastrão. Mas você acredita que o roteiro da dupla Spiliotopoulos e Mazin não conseguem tirar uma sacada engraçada do personagem?

Não me admira que toda a equipe técnica foi trocada deste filme. O original, dirigido por Rupert Sanders (na época estreante e ainda aguardando por algum filme que comprove sua eficácia), mantinha o frescor de recontar um conto já conhecido por todos no seu formato mais fofinho. Havia a identificação do espectador. Aqui a Rainha do Gelo se assemelha a uma versão televisiva de baixo orçamento de Frozen, com alguns efeitos escolhidos a dedo para colocar dinheiro e fazer o trailer.


# Tig Notaro: Happy to Be Here

Caloni, 2018-07-01 cinema movies [up] [copy]

Eu não sei como era a performance da comediante de standup Tig Notaro antes dela contrair uma doença séria, perder a mãe, terminar seu relacionamento na semana seguinte e desenvolver um câncer. Mas eu sei que graças a esses eventos, sua coragem e dedicação ao humor o show que ela fez neste momento de sua vida pode figurar tranquilamente na lista dos mais poderosos, inesquecíveis e memoráveis da história da humanidade.

Isso porque ela simplesmente entrega no humor a leveza que todos precisam para seguir a vida adiante, e por estar de fato na situação sendo abordada na forma de comédia ela desconstrói o drama e em seu lugar entrega algo muito mais poderoso: nossa capacidade de rir das piores adversidades e seguir adiante.

O documentário da Netflix é inédito e merece uma visita, mesmo que na maior parte do tempo seja um mero relato da vida de uma pessoa, que não se torna mais especial por tentar ter um filho em barriga de aluguel. Mas por algum motivo os documentaristas acharam tão relevante a figura de Tig, sua persona, sua forma de reagir a cada novo momento de sua nova vida, que se formos assistir a esse filme no embalo, ele se torna um programa honesto e dotado de coração.

E, claro, boas risadas.


# Botched

Caloni, 2018-07-04 cinema series [up] [copy]

Botched é mais uma das séries de canais como Discovery Home & Health e... ops. Acho que me enganei de canal. Anyway. Algum canal pago desses por aí onde abrem mulheres para fazer cirurgias plásticas para as completarem como os últimos Frankesteins de nossa geração.

Mas Botched não começa de uma pessoa insatisfeita com seu corpo natural e a partir disso trabalha opções que esteticamente irão preencher o vazio existencial dos pacientes. A série vai um pouco além e apresenta uma dupla de especialistas em consertar o que cirurgias mal feitas aprontaram. Se você segue meu blog técnico de programação, entenda como uma sessão de debug em seres humanos. Mas só pelo design.

Quer dizer, não é apenas design. Quando pessoas possuem alguma carência em sua auto estima há um problema de socialização gigante que apenas um par de seios ainda maior pode resolver.

Nesse sentido a série é um misto entre o entretenimento de acompanharmos operações que são possíveis hoje em dia, mesmo que com riscos consideráveis, e uma análise curiosa e direta sobre os envolvidos, de como o psicológico trabalha na cabeça dessas pessoas, e como nossa visão estética da sociedade como um todo trabalha para criar algumas distorções de realidade.


# Manipulando Mouse e Teclado no Windows

Caloni, 2018-07-04 computer [up] [copy]

Uma forma extremamente bem comportada que o Windows tem para manipular entrada de mouse e teclado são as funções API BlockInput e SendInput. Enquanto uma bloqueia todos os eventos de input vindo de todos os lugares do sistema, o outro consegue enviar inputs apenas por software. Imagine a peça que você pode pregar em seus amigos.

No entanto, estas funções não são para amadores. É preciso entender o que são threads, por exemplo, pois apenas a thread que chamou BlockInput pode depois chamar SendInput com sucesso. Além disso, apenas essa thread pode desbloquear novamente os inputs chamando BlockInput novamente, mas dessa vez passando FALSE em seu único parâmetro. E de qualquer forma, uma vez que o programa que chamou BlockInput com TRUE morreu o sistema detecta e tudo volta ao normal.

Essas funções API podem ser úteis para interação remota, por exemplo, quando um usuário não consegue realizar uma operação e ele pode mais atrapalhar do que ajudar você pode bloquear os inputs dele e emular seus próprios cliques de mouse e teclado pela rede.

Nota: usar essas APIs na própria máquina pode ser bem frustrante. Tenha sempre em mãos uma VM de teste.


# O Orgulho

Caloni, 2018-07-05 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Para um filme que fala sobre retórica, "O Orgulho" é bem fraquinho, embora o orgulho mesmo, esse sentimento poderoso (para o bem e para o mal) é devidamente apresentado na forma de jogo de palavras. Já o filme, convencional do começo ao fim, nunca se permite levar a sério qualquer uma das questões que ele levanta, se colocando no lugar-comum dos filmes que exaltam a dinâmica professor/aluno ou mestre/pupilo. Mesmo que o mestre seja um idiota.

Aliás, justamente por causa do mestre (no caso, um professor universitário) ser um idiota, poderíamos chamar este filme de condescendente além da conta. Só que ao mesmo tempo não podemos, porque sem este cativante personagem vivido por Daniel Auteuil não teríamos história. Isso porque sua pupila (Camélia Jordana), vinda dos guetos de Paris para alegria dos justiceiros sociais, é sem graça o suficiente para nunca nos importamos com seu destino. Então resta ao professor o benefício da dúvida que move o filme.

No início da história há a melhor das chamadas para a ação. Após vermos cenas de arquivos onde vários pensadores sintetizam a arte da argumentação e o uso das palavras como arma na sociedade moderna, o filme começa focando em Neïla Salah (Jordana), a aluna inusitada realizando uma pequena viagem para chegar à Universidade de Paris. Em um hall lotado de estudantes, ela é a única aluna barrada pelo segurança da entrada (diga-se de passagem, um negro). Se o motivo é por estar vestida para um colégio de subúrbio ou se é pela origem muçulmana nunca saberemos. Enfim, ela vai parar em um auditório gigantesco onde o professor Pierre Mazard (Auteuil) está dando mais uma de suas aulas sobre textos antigos, e talvez por se sentir ofendido por seu atraso a provoca atacando todas as fraquezas que já sabemos que ela possui naquele ambiente. A cena é filmada, e o inevitável acontece: o politicamente correto pede a cabeça do professor.

A solução para ele? Treinar essa mesma aluna para um campeonato de retórica. E a partir daí vamos para o clichê.

Agora, como este é um filme sobre debates polêmicos, é natural supor que o espectador ficará torcendo pela ponta mais fraca até o final, não se importando com a mensagem principal do filme, que é "a verdade não importa". Várias questões durante a história são colocadas de maneira simples e rápida pelo diretor Yvan Attal, que desliza pelo tema pontuando visualmente (principalmente com o uso de quadros onde a pessoa está localizada em um canto ou outro da tela, esmagada) apenas aqui e ali a relação entre aluna e professor, ou aluna e colegas de sala, ou aluna e namoradinho. Nada disso evolui para nada secundário que seja digno de se citar. Há desde o começo questões polêmicas que poderiam ser melhor exploradas, como sobre a autoridade do professor, sua competência, sua liberdade para com alunos, seu suposto racismo, se tudo aquilo é uma brincadeira comum de sua persona (os alunos entrando na brincadeira na sequência inicial sugerem que sim) ou até se como instituição de ensino a liberdade de expressão deve ser colocada acima da imagem comercial ou social de uma Universidade.

Por outro lado, o clichê do desafio da aluna de baixa renda que irá superar todos os estudantes ricos (e brancos) da elite francesa é tratado de maneira preguiçosa e convencional, a ponto de se tornar óbvio que o batalhão de cinco pessoas que escreveu a história e os diálogos usa livros escritos pela mesma elite branca com complexo de culpa para se basear nessa realidade ficcional onde ou você ou é oprimido ou é opressor. (E se for "opressor", por favor, seja rico e branco, ou irá atrapalhar as estatísticas.)

Mas este também é um filme sobre uma relação de "amizade" curiosa que nasce entre pupila e mestre, em que tudo o que eles dizem, seja nos treinamentos de retórica ou na "vida real", pode não ser realmente o que sentem ou pensam. Dessa forma, o subtexto deveria ser usado para que o espectador consiga detectar o que está sendo dito de verdade, mas não é assim. O que acontece é que o filme pega o livro A Arte de Ter Razão, o guia indecoroso de como ganhar argumentos a qualquer custo do filósofo Arthur Schopenhauer (uma criatura certamente estranha, como pontua o professor). Ao mesmo tempo, o filme acerta ao demonstrar, como em um inocente jogo de detetive entre a aluna e seus amigos, que a argumentação existe em qualquer lugar onde seres humanos estejam a se comunicar usando palavras.

No que voltamos às celebridades literárias mostradas no começo do filme. Para eles não são as ideias tão importantes quanto as palavras. Um deles diz que são as palavras que fazem nascer as ideias, e com isso ele quer dizer que no fundo, no fundo, o que importa mesmo na argumentação é saber dominar as palavras com maestria. E a verdade que fique em um canto da sala. O filme não nos diz abertamente que é isso o que ele faz ao montar uma historinha de faz-de-conta em uma Paris idealizada de acordo com teorias sociais em voga. Mas se for, então retiro tudo que disse sobre seus valores: você me pegou em cheio.

Está tudo dito! (I rest my case.)


# 50 São os Novos 30

Caloni, 2018-07-11 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Pegando carona na lista de filmes sobre as diferenças das idades nos tempos atuais, "50 São os Novos 30" é uma comédia que aproveita sua protagonista para criar situações desconexas que existem para o riso fácil e descompromissado. O problema é que nem sempre é engraçado.

A história é clichê e cheia de furos: mulher independente sem filhos recebe um fora do seu marido aos 50 anos, que está saindo com uma mais nova. Para a conveniência do drama, ela é demitida do seu emprego e não consegue alugar um lugar para ficar. Por uma série de maniqueísmos sua única saída é voltar a morar com os pais, que a tratam como se ela ainda fosse uma adolescente, apesar de criarem um negócio para ela se estabilizar o quanto antes e sair da casa deles.

A única piada verdadeira e honesta do filme talvez seja que quando ela conhece seu par amoroso, que vive na mesma situação de morar com os pais, ele não é capaz de lhe dizer a verdade, mas a primeira coisa que ela faz ao ganhar intimidade é explicar sua atual situação, em uma referência divertida sobre a diferença dos sexos. O resto são momentos de humor entrelaçados, mas que soam televisivos. Como a mãe de Francine comprando um bronzeador artificial e tendo um caso lésbico onde todos do bairro parecem saber. Ha ha ha. Sim, é divertido de assistir. Esquecível, também.

Já a atuação de Valérie Lemercier como Marie-Francine é adequada até demais. Ela está fazendo uma dramédia e os roteiristas Sabine Haudepin e Valérie Lemercier não se alinham com esse estado de espírito. O resultado se torna mais engraçado, mas sem profundidade. Assista em uma tarde despretensiosa com pipoca. De preferência antes de chegar aos 50.


# Uma Casa à Beira Mar

Caloni, 2018-07-11 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

O filme chama Uma Casa à Beira Mar no Brasil (assim como seu nome internacional), mas seu nome original é "A Villa". E a vila do filme é o centro do mundo. Pelo menos do ponto de vista francês. Ela é um microcosmo que fala sobre família, política, vida e morte. É um filme que lamenta pelo presente, mas que também se enxerga no passado, sob a forma de culpa. No começo é possível que você imagine se tratar de um filme leve sobre o assunto, ou que talvez chame os fantasmas do clássico Era Uma Vez em Tóquio, que é uma história família que possui um fundo dramático, universal e nada leviano. Muitos devem concordar. E este filme tem tudo para sê-lo. Menos pela profundidade. Isso porque ele é ingênuo demais. E esse, ironicamente, é o real problema de nossa geração.

A história começa nos mesmos moldes de um drama familiar intimista como Invasões Bárbaras, e vai deixando claro ter a mesma pretensão. O patriarca da família, e, vamos descobrir, da própria vila em que sua casa é a principal, adoece e seus filhos se reúnem em sua volta. Ele entra em um estado vegetativo após dar sua última baforada em um cigarro. Sua última frase, dita na solidão: "que pena". Vemos a seguir a fumaça das cinzas de seu cigarro tomar as rédeas da metáfora sobre o além-vida, e informar ao espectador que este será um filme de símbolos.

A partir daí a história se desenrola para apresentar seus outros personagens, suas histórias em torno daquela família, e as personalidades que de lá se formaram. E é daí que o filme vai construindo sua própria personalidade teatral através de seus diálogos. Muitos diálogos. Eles são, como você pode observar, super-inteligentes, profundos e teatrais. Todos parecem ter uma forma profunda e final de dizer as coisas sobre a vida e o que a resume, o que pode fascinar muita gente ou afastar, já que a ideia de uma família genial francesa só faz sentido para um povo nesta Terra: os próprios franceses. Afinal de contas, eles vivem no centro do mundo, né.

De qualquer forma, o trabalho do diretor Robert Guédiguian consegue entreter e fazer nos apaixonar pela história da vila e seus ideais, sejam lá quais forem eles. Talvez a paixão esteja concentrado no próprio ser humano e seus debates internos, entre trabalho e relacionamentos. Mas eis que surge uma cena enigmática: uma lembrança de um dos filhos, na pele de Jean-Pierre Darroussin, que faz o papel de intelectual amargurado, onde seu pai vestido de Papai Noel distribui presentes para toda a vila. Ele chora a única vez no filme pelos ideais do pai, perdidos no tempo como aqueles presentes. Outra cena envolve peixes e uma outra filha, essa atriz e interpretada por Ariane Ascaride: ela observa como os peixes são limpos pelo irmão (Gérard Meylan) após a pescaria, que mantém o único restaurante do local ("com boa comida a um preço justo", como ele gosta de falar, seguindo os princípios do pai moribundo). Ela imagina, ou lembra, de um momento onde os mesmos peixes pescados não eram limpos, mas soltos de volta ao mar. É um momento sutil, mas poderoso, que pode significar uma série de coisas, como a perda da inocência ou como hoje nos tornamos predadores da natureza, mesmo que a contra gosto. Tanto na cena do Papai Noel quanto na cena dos peixes, os símbolos se perdem, pois querem dizer muito com pouco.

As atuações estão tão confortáveis que poderíamos acompanhar aquelas pessoas por mais algumas horas. Pelo menos dois irmãos: a atriz amargurada pela morte acidental da filha pequena sob os cuidados do pai, e o irmão amargurado pela realidade, onde seus pensamentos no papel não encontram espaço no mundo de hoje para serem publicados.

Deixe-me abrir um pequeno parêntese para este escritor frustrado, pois ele é fácil de entender pela atuação pertinente e caracterização óbvia de Jean-Pierre Darroussin. A partir dele podemos entender o resto da família.

Ele representa o intelectual máximo do microcosmo. O mais inteligente e, portanto, o mais depressivo, anti-social. Sempre reclamando com sua opinião pessimista sobre a vida, e sempre fazendo questão de politizar tudo em uma relação injusta de poder, vestindo seu casaco sutilmente vermelho e tendo seus pensamentos rejeitados pelo mundo contemporâneo, ele é obviamente um Karl Marx com barba rasa (e careca em cima da cabeça). E rasa é a metáfora aqui, pois ela só precisa de um dos representantes mais caricatos do inconformismo com a realidade para formar o símbolo. Como sua jovem namorada comenta quando fala por que está com ele, "o seu jeito revolucionário de falar me cativou". Ele a fisgou pelo coração, mas quando chega a maturidade na cabeça desta jovem seu professor favorito começa a lembrar uma caricatura cansada e patética.

E é exatamente da mesma forma com que ele se torna uma caricatura simpática de algo real, todos ali se tornam, cada um à sua maneira, cumprindo o seu papel, versões degradantes de um tempo que se foi de esperança e energia, e que hoje se preenche de memórias, ressentimentos e medo de viver.

A tempo: sempre antenado com os tempos atuais, este filme também possui refugiados e eles consomem boa parte do terceiro ato. Não é como se a história deles fizessem parte da principal, pois não faz. O tema secundário simplesmente é jogado porque sim. E assim como todo e qualquer acontecimento na vila, este é mais um em que a impotência de seus moradores é o maior símbolo de todos.


# Ilha dos Cachorros

Caloni, 2018-07-13 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Ilha dos Cachorros é um filme que explora várias ideias adultas sobre o formato de odisseia infantil. Para os fãs de Wes Anderson e sua mente criativa e plástica pode-se dizer com segurança que está tudo ali. Temos as texturas magníficas e coloridas que dá vontade de colecionar, os planos chapados que lembram as páginas de um livro infantil e, meu deus, essa é, assim como "O Fantástico Sr. Raposo", uma animação! Provavelmente não haverá nada no design de produção que te deixe insatisfeito, pois cada quadro é um deleite de se ver, e muitos demonstram seu significado através de cores e formas.

Note, por exemplo, o uso do branco para demonstrar como o lugar de pouso do jovem piloto Atari (os nomes dos personagens são simples de lembrar) na Ilha dos Cachorros é inóspito e deserto. O branco contrasta com o ecossistema da ilha de lixo, que possui montes coloridos de comida apodrecendo e matilhas disputando recursos. Ao mesmo tempo, note como nesses grupos de cachorros, em uma disputa inevitável, prevalecem os mais diversos entre si, e não um grupo formado unicamente pela mesma raça (e apesar de nunca ser dito, A Teoria da Evolução pode ser demonstrada de maneira simples e sutil em uma suposta história de crianças).

Por outro lado, repare como a inocência deste longo conto narrado por Courtney B. Vance também contrasta com todos os detalhes adultos da história, como a corrupção de um governo e seu autoritarismo no uso da violência, onde um dos seus braços, a propaganda, faz uma lavagem cerebral na opinião pública a ponto deles se desfazerem de seus melhores amigos: os adorados e cada vez mais antropomorfizados cães.

Além disso, como é de se esperar, os personagens cachorros já são crescidos, e possuem vozes de adultos consagrados na arte de interpretar (como Bryan Cranston), o que aumenta ainda mais nossa imersão no drama que é pano de fundo para uma inusitada e divertida aventura, que possui diferentes tons de piadas sendo ditas de maneira espirituosa. As brincadeiras, por exemplo, em torno das diferentes interpretações entre o mundo dos cães e dos humanos entre o que significa ser um "Oráculo" ou "saber alguns truques". Ou seja, não é porque a história possui um contexto político e social que Wes Anderson e seus roteiristas precisam tornar a jornada pesada. Ela sempre se mantém leve o suficiente para se agarrar ao lúdico como maneira de escape conforme as mais diferentes atrocidades são cometidas aos cães do filme (e ao seu herói Atari).

Isso, de certa forma, enfraquece a mensagem do autor, que busca de uma maneira mais incisiva que os estúdios Ghibli problematizar a questão ecológica como um alerta e a questão política como um alerta duplo. No final das contas a história inserida em um ambiente hostil se preocupa em isolar a maldade humana como meras falhas de comunicação. Se o instinto de um cachorro, por exemplo, o diz para morder alguém que o faz carinho, o problema não está no cachorro, mas na compreensão deste ato falho. Da mesma forma, quando um ditador japonês decide isolar todos os cachorros para morrerem em uma ilha feita de lixo, o problema não está no ditador, mas na compreensão de qual o verdadeiro problema que está sendo combatido. As cores e a magia de Wes Anderson divertem e encantam na medida certa, mas a ingenuidade de sua jornada sabota a mensagem para os adultos.

Este é com certeza um filme dotado de todas as características do cinema de autor. Até o jovem herói Atari, de 10 anos, possui uma crush. E impossível não citar talvez a melhor canção-tema de sua filmografia: o hit "I Won't Hurt You", da banda psicodélica dos anos 60 The West Coast Pop Art Experimental Band. Sim, Wes Anderson mescla os poderes da infância, dos adultos e das drogas em uma imensa coletânea de ideias coloridas, sonoras, verbais.


# Samantha!

Caloni, 2018-07-13 cinema series [up] [copy]

O plano-sequência inicial de "Samantha!", série da Netflix produzida no Brasil, irá revelar uma miríade de sentimentos e mensagens conflitantes sobre o que significavam os anos 80. Incluindo a figura de uma caixa de cigarros em um programa infantil protagonizado por uma garota mimada, uma criança erotizada na TV brasileira. Até agora, nada de novo. Só que piora.

Avançamos no tempo e o que temos no lugar é a Samantha adulta (Emanuelle Araújo, que fez Gretchen no elogiado "Bingo: O Rei das Manhãs"), uma dançarina magrinha e gostosa que performa exatamente a mesma música sei lá quantas décadas à frente. E o cigarrinho continua.

Daí surge uma história envolvendo um ex-presidiário que é pai do casal de filhos de Samantha, que atualmente beira o ostracismo e que tenta voltar aos holofotes usando para isso a figura do seu ex e possivelmente a morte do seu parceiro eterno: o cigarrinho.

Também surge o formato TV Brasileira na série, que consegue transformar o piloto, nas mãos do diretor Luis Pinheiro, de um roteiro capenga para um episódio perdidaço no espaço-tempo. Não dá nem mais pra saber sobre o que se trata a série assistindo a seus primeiros intermináveis 40 minutos. É uma história sobre a nostalgia da época? Da mudança dos costumes? É uma novela em sete episódios? Haverá comédia no final do túnel, ou são só essas piadas sem graça mesmo? E por quê, por quê, meu deus, essa trilha sonora comprada em um CD de banca de jornal?

Felipe Braga, que dirige o primeiro episódio, é o criador da série e ainda produtor executivo, talvez seja o principal culpado por colocar uma gostosa aleatória nas telonas da Netflix protagonizando a miscelânea de erros da TV brasileira em suas últimas quatro décadas. Mas prefiro culpar a Netflix por essa bobagem. Eles já estão acostumados em apostar em canoas furadas.


# Python27, protobuf, py2exe e build_exe

Caloni, 2018-07-14 computer [up] [copy]

Para quem está tentando compilar um executável usando py2exe e protobuf, #ficadica: desista. Ele não vai funcionar ou se funcionar vai dar trabalho. Em vez disso melhor usar build_exe (através do pacote cx_freeze), que é um esquema marotinho que permite configurar tudo e há apenas um patchzinho que precisa ser feito.

Para entender como as coisas dão errado primeiro vamos instalar os requisitos de um pacote fictício em um ambiente virtualizado do Python (para evitar mexer na instalação padrão):

D:\>cd deploy
D:\deploy>virtualenv python27
New python executable in D:\deploy\python27\Scripts\python.exe
Installing setuptools, pip, wheel...done.
D:\deploy>

Depois instalamos os requisitos de nosso pacote fictício:

D:\deploy>python27\Scripts\activate.bat
(python27) D:\deploy>pushd d:\src\MyFictionalPackage
(python27) d:\src\MyFictionalPackage>pip install -r requirements.txt
Collecting cx-Freeze==5.1.1 (from -r requirements.txt (line 1))
  Using cached https://files.pythonhosted.org/packages/ba/d7/e5a699abbc04df31d28750bd4f7715f75452c57c6ea7f05acff0bc26873d/cx_Freeze-5.1.1-cp27-cp27m-win32.whl
Collecting protobuf==3.6.0 (from -r requirements.txt (line 2))
  Using cached https://files.pythonhosted.org/packages/85/f8/d09e4bf21c4de65405ce053e90542e728c5b7cf296b9df36b0bf0488f534/protobuf-3.6.0-py2.py3-none-any.whl
Collecting pyodbc==4.0.23 (from -r requirements.txt (line 3))
  Using cached https://files.pythonhosted.org/packages/fe/0c/3fa53bf0f1779ef3e3a81e474d1e8db924b7398dc12f2fe9b2c9f1bf392d/pyodbc-4.0.23-cp27-cp27m-win32.whl
Collecting six==1.11.0 (from -r requirements.txt (line 4))
  Using cached https://files.pythonhosted.org/packages/67/4b/141a581104b1f6397bfa78ac9d43d8ad29a7ca43ea90a2d863fe3056e86a/six-1.11.0-py2.py3-none-any.whl
Requirement already satisfied: setuptools in d:\deploy\python27\lib\site-packages (from protobuf==3.6.0->-r requirements.txt (line 2)) (40.0.0)
Installing collected packages: cx-Freeze, six, protobuf, pyodbc
Successfully installed cx-Freeze-5.1.1 protobuf-3.6.0 pyodbc-4.0.23 six-1.11.0
(python27) d:\src\MyFictionalPackage>

Agora vem a hora do erro. O protobuf que foi instalado possui um pequeno bug que impede que o build_exe obtenha essa dependência corretamente na hora de gerar o executável:

(python27) d:\src\MyFictionalPackage>python setup.py build_exe
running build_exe
Traceback (most recent call last):
  File "setup.py", line 19, in <module>
    executables=exe
  File "D:\deploy\python27\lib\site-packages\cx_Freeze\dist.py", line 349, in setup
    distutils.core.setup(**attrs)
  File "c:\programs\python27\Lib\distutils\core.py", line 151, in setup
    dist.run_commands()
  File "c:\programs\python27\Lib\distutils\dist.py", line 953, in run_commands
    self.run_command(cmd)
  File "c:\programs\python27\Lib\distutils\dist.py", line 972, in run_command
    cmd_obj.run()
  File "D:\deploy\python27\lib\site-packages\cx_Freeze\dist.py", line 219, in run
    freezer.Freeze()
  File "D:\deploy\python27\lib\site-packages\cx_Freeze\freezer.py", line 616, in Freeze
    self.finder = self._GetModuleFinder()
  File "D:\deploy\python27\lib\site-packages\cx_Freeze\freezer.py", line 340, in _GetModuleFinder
    finder.IncludeModule(name)
  File "D:\deploy\python27\lib\site-packages\cx_Freeze\finder.py", line 651, in IncludeModule
    namespace = namespace)
  File "D:\deploy\python27\lib\site-packages\cx_Freeze\finder.py", line 351, in _ImportModule
    raise ImportError("No module named %r" % name)
ImportError: No module named 'google.protobuf'
(python27) d:\src\MyFictionalPackage>

Para fazer funcionar há um pequeno patch: criar um arquivo \_\_init\_\_.py dentro da pasta google onde está instalado o pacote do protobuf:

(python27) d:\src\MyFictionalPackage>dir d:\deploy\python27\Lib\site-packages\google
 Volume in drive D is SYSTEM
 Volume Serial Number is 5C08-36EE
 Directory of d:\deploy\python27\Lib\site-packages\google
14/07/2018  14:15    <DIR>          .
14/07/2018  14:15    <DIR>          ..
14/07/2018  14:15    <DIR>          protobuf
               0 File(s)              0 bytes
               3 Dir(s)  102.341.001.216 bytes free
(python27) d:\src\MyFictionalPackage>copy con d:\deploy\python27\Lib\site-packages\google\\_\_init\_\_.py
^Z
        1 file(s) copied.
(python27) d:\src\MyFictionalPackage>dir d:\deploy\python27\Lib\site-packages\google
 Volume in drive D is SYSTEM
 Volume Serial Number is 5C08-36EE
 Directory of d:\deploy\python27\Lib\site-packages\google
14/07/2018  14:19    <DIR>          .
14/07/2018  14:19    <DIR>          ..
14/07/2018  14:15    <DIR>          protobuf
14/07/2018  14:19                 0 __init__.py
               1 File(s)              0 bytes
               3 Dir(s)  102.341.001.216 bytes free
(python27) d:\src\MyFictionalPackage>

Após essa pequena operação já será possível gerar o executável com sucesso:

(python27) d:\src\MyFictionalPackage>python setup.py build_exe
running build_exe
copying D:\deploy\python27\lib\site-packages\cx_Freeze\bases\Console.exe -> build\exe.win32-2.7\MyFictionalPackage.exe
copying C:\WINDOWS\SYSTEM32\python27.dll -> build\exe.win32-2.7\python27.dll
*** WARNING *** unable to create version resource
install pywin32 extensions first
writing zip file build\exe.win32-2.7\lib\library.zip
  Name                      File
  ----                      ----
m BUILD_CONSTANTS
m Objects_pb2               d:\src\MyFictionalPackage\Objects_pb2.py
P Scripts                   d:\src\MyFictionalPackage\Scripts\__init__.py
m StringIO                  c:\programs\python27\Lib\StringIO.py
m UserDict                  D:\deploy\python27\lib\UserDict.py
m __builtin__
m __future__                c:\programs\python27\Lib\__future__.py
m __main__
m __startup__               D:\deploy\python27\lib\site-packages\cx_Freeze\initscripts\__startup__.py
m _abcoll                   D:\deploy\python27\lib\_abcoll.py
m _codecs
m _codecs_cn
m _codecs_hk
m _codecs_iso2022
... lots and lots of dependencies ...
m unittest.result           c:\programs\python27\Lib\unittest\result.py
m unittest.runner           c:\programs\python27\Lib\unittest\runner.py
m unittest.signals          c:\programs\python27\Lib\unittest\signals.py
m unittest.suite            c:\programs\python27\Lib\unittest\suite.py
m unittest.util             c:\programs\python27\Lib\unittest\util.py
m warnings                  D:\deploy\python27\lib\warnings.py
m weakref                   c:\programs\python27\Lib\weakref.py
m zipimport
m zlib
Missing modules:
? _emx_link imported from os
? ce imported from os
? fcntl imported from subprocess
? google.protobuf._use_fast_cpp_protos imported from google.protobuf.internal.api_implementation
? google.protobuf.enable_deterministic_proto_serialization imported from google.protobuf.internal.api_implementation
? google.protobuf.internal._api_implementation imported from google.protobuf.internal.api_implementation
? google.protobuf.internal.use_pure_python imported from google.protobuf.internal.api_implementation
? google.protobuf.pyext._message imported from google.protobuf.descriptor, google.protobuf.internal.api_implementation, google.protobuf.pyext.cpp_message
? ordereddict imported from google.protobuf.json_format
? org.python.core imported from copy, pickle
? os.path imported from os, pkgutil, shlex
? os2 imported from os
? os2emxpath imported from os
? posix imported from os
? pwd imported from posixpath
? riscos imported from os
? riscosenviron imported from os
? riscospath imported from os
This is not necessarily a problem - the modules may not be needed on this platform.
copying c:\programs\python27\DLLs\_hashlib.pyd -> build\exe.win32-2.7\lib\_hashlib.pyd
copying C:\WINDOWS\SYSTEM32\python27.dll -> build\exe.win32-2.7\lib\python27.dll
copying c:\programs\python27\DLLs\_socket.pyd -> build\exe.win32-2.7\lib\_socket.pyd
copying c:\programs\python27\DLLs\_ssl.pyd -> build\exe.win32-2.7\lib\_ssl.pyd
copying c:\programs\python27\DLLs\bz2.pyd -> build\exe.win32-2.7\lib\bz2.pyd
copying D:\deploy\python27\lib\site-packages\pyodbc.pyd -> build\exe.win32-2.7\lib\pyodbc.pyd
copying c:\programs\python27\DLLs\select.pyd -> build\exe.win32-2.7\lib\select.pyd
copying c:\programs\python27\DLLs\unicodedata.pyd -> build\exe.win32-2.7\lib\unicodedata.pyd
(python27) d:\src\MyFictionalPackage>

Agora ao listarmos os executáveis gerados encontraremos nosso amigo fictício:

(python27) d:\src\MyFictionalPackage>dir /s /b *.exe
d:\src\MyFictionalPackage\build\exe.win32-2.7\MyFictionalPackage.exe
(python27) d:\src\MyFictionalPackage>

**Nota**: conteúdo do arquivo setup.py:

import sys
import os
from cx_Freeze import setup, Executable
exe = [
        Executable('MyFictionalPackage.py')
]
option = { 'build_exe' : {
        'path' : sys.path.append(os.getcwd()),
        'includes' : ['google.protobuf', 'pkgutil', 'pyodbc', 'decimal'],
    }
}
setup(name = "teste_cx_Freeze",
        version = "0.1",
        description = "",
        options = option,
        executables=exe
)
(python27) d:\src\MyFictionalPackage>

# Vcpkg: gerenciador de libs c++ para Linux, Mac OS... e Windows!

Caloni, 2018-07-14 [up] [copy]

O ambiente padronizado de bibliotecas C/C++ dos sistemas UNIX é motivo de inveja dos programadores Windows por séculos. Mas, finalmente, a Microsoft tem acordado diante da ressurreição do C++, com seus novos bug fixes e new deprecated features.

E com isso uma série de atividades têm permeada a evolução da ferramenta de desenvolvimento da Microsoft, o Visual Studio:

  • Updates frequentes
  • Projetos internos lançados como open source no GitHub
  • Compra do GitHub
  • Suporte a mais de um compilador (como clang)
  • Depuração Linux (Ubuntu) dentro do Windows
  • Ambiente Linux (Ubuntu) dentro do Windows
  • Pesado suporte ao CMake
  • Ambiente padronizado de bibliotecas para Windows, Linux e Mac OS (vcpkg)
  • Suporte à compilação de bibliotecas clássicas dos ambientes UNIX via vcpkg
  • Deploy de suas próprias bibliotecas padronizadas via vcpkg

Usar o vcpkg no Windows é tão simples que parece mágica. Ou Linux.

Para instalar você só precisa seguir o passo-a-passo do GitHub deles e usar PowerShell. O prompt PS faz tudo automático. O vcpkg é basicamente um conjunto de CMakes que fazem o serviço direito e conseguem compilar quase 1000 libs, a maioria nascidas no Linux, e integrar diretamente com projetos do VS2017.

Para provar todo o seu poder vamos usar a pior lib de todas: GTK.

O GTK não é apenas uma biblioteca, mas um conjunto de infinitas dependências. Há um tutorial gigantesco para compilar para Windows (defasado) e novos problemas surgem cada vez que alguém tenta utilizá-lo. Eu gastei mais de 40 horas para entender esses problemas compilando todas as dependências (estava em 95%) quando surgiu o vcpkg e jogou todos meus esforços no lixo (ainda bem).

Com o vcpkg tudo que é necessário fazer é rodar o comando de install com o nome da lib e toda a compilação é feita automaticamente. Depois disso, se não houver paths de include nos seus projetos do Visual Studio ele próprio irá levar em conta o path de instalação dessas libs (compilação e link). Parece mágica mesmo para quem passou décadas se matando para compilar alguma coisa que preste no Windows e que veio do Linux.

Vantagens do vcpkg:

  • Economia de tempo (de pesquisa, de compilação, de tudo)
  • Uniformidade no uso das libs
  • Flexibilidade para colocar suas próprias libs

Desvantagens do vcpkg:

  • Apenas as libs mais novas estão sendo suportadas (e não há suporte para Visual Studio mais antigo, nem SOs mais antigos como XP).
  • Usuário Linux nenhum no mundo vai querer usar (motivo: Microsoft e este já é um problema resolvido neste mundo)
  • Depende de um gerenciador proprietário (se bem que é tudo open source e não há restrições como o Java; qualquer um pode montar seu repositório).

# Por Dentro do Roteiro

Caloni, 2018-07-15 books cinema movies [up] [copy]

O livro de Tom Stempel, acadêmico e crítico cinematográfico, parece ter sido feito com um olho nos negócios e outro no entretenimento. Isso porque para Stempel o importante em um roteiro não é seguir uma estrutura estética agradável, nem mover a história em uma trama que te prenda, mas fazer os personagens serem tão reais que você os seguirá para onde quer que seja. Mesmo em um blockbuster.

Isso é porque para ele Titanic, de James Cameron, não é um exemplo a ser seguido porque é, perdoe o trocadilho, superficial, ou os Episódios I, II e III da saga Star Wars são exemplos de roteiros ruins simplesmente porque não são escritos para convencer ninguém, mas apenas bater cartão no universo de George Lucas.

Ágil e acompanhando a história conforme ele vai descrevendo, o objetivo do autor não é ditar estruturas de sucesso como Syd Field, mas fazer o leitor pensar sobre a estrutura de uma história que está sendo assistida e como isso se encaixa na indústria de entretenimento. Quando ele comenta, por exemplo, que o roteirista precisa dar abertura para que os atores atuem, ou que existam momentos de abrir os olhos com efeitos visuais, ele está sendo pragmático ao mesmo tempo que tenta ser academicamente correto a respeito da profissão de escritor para o Cinema.

Por outro lado, ele é fã incondicional de Lawrence da Arábia porque o roteiro deste épico é formidável do começo ao fim do ponto de vista da estrutura de seu personagem. Ele usa as diferentes versões do roteiro e o projeto atribulado de adaptação das memórias de T.E. Lawrence para a telona para explorar a fabricação de um filme e como o roteiro se modifica conforme a dança. A primeira parte do livro geralmente dá bons exemplos de como o roteirista já em profissão pode trabalhar junto de uma equipe multidisciplinar e ainda se manter. E é assim que nascem os roteiros aclamados.

A parte do meio já comenta sobre aqueles trabalhos medíocres balanceando o que os autores fazem de certo e o que fazem de errado, e uma análise acelerada de vários filmes que poderiam ser melhor. Mas o que importa para Stempel não é apontar o quê, mas perguntar para o leitor: como você faria diferentes nesta parte? Sua análise sobre Tróia é uma das melhores do capítulo e do livro.

Já o final do livro deixa um gosto amargo na boca por tratar dos filmes que, segundo ele, possuem mais erros que acertos. E ele aponta no projeto porque eles não possuem a habilidade que um roteirista deveria ter em seu trabalho. Ele pega no pé particularmente de George Lucas e James Cameron, mas não faltam exemplos de trabalhos preguiçosos e que são criados pela inércia.

  • Onde o filme começa?
  • No presente?
  • No presente, pulando para o passado?
  • No passado, saltando para o presente?
  • Como os personagens são estabelecidos?
  • Mostrando?
  • O que eles fazem. O que nós vemos. Contando?
  • O que eles dizem. O que escutamos a respeito deles. O que outras pessoas dizem a eles. Os personagens são adequados para o filme?
  • A história é adequada para os personagens?
  • O que o roteirista está nos contando ou mostrando?
  • Ou não nos contando?
  • Por quê?
  • Como o filme está se movimentando?
  • A história está se desenvolvendo?
  • Os personagens estão se desenvolvendo?
  • Os personagens estão se comportando de maneira tola?
  • Por quê?
  • Precisamos saber isso?
  • O roteirista segue o padrão de Syd Field ou o de Joseph Campbell muito rigidamente?
  • O filme está se afastando daquilo de que trata?
  • Ele está roubando dos melhores?
  • Sobre o final: Ele conclui a história que o filme começou a contar?
  • Satisfaz o espectador?
  • Demora muito?
  • O filme cumpre o que prometeu?
  • O filme é sobre o quê?

# Stanford Encyclopedia of Philosophy para Kindle

Caloni, 2018-07-15 philosophy [up] [copy]

A enciclopédia mais completa e de maior respeito da internet não é um enciclopédia geral, mas uma de filosofia. Está hospedada na Universidade de Stanford e possui revisão por pares e toda a autoridade de ser escrita por especialistas nos verbetes em questão. O único problema (até agora) era não ser possível baixá-la para degustar no Kindle. Até agora.

Para realizar esta operação será necessário usar as seguintes ferramentas:

  • wget
  • sed
  • sort
  • Calibre

O projeto de conversão foi feito pensando em usuários do Windows, mas pode ser adaptado facilmente para qualquer ambiente. Se trata de um conjunto de arquivos batch (script) que realiza vários comandos, a saber:

calibre_download.bat (baixa conteúdo do site da Stanford)

Este batch baixa todo o conteúdo do site da Stanford em um único diretório. O processo pode demorar mais ou menos, dependendo da sua banda, mas aqui em casa (50MB) demorou cerca de meia-hora pra mais.

wget --recursive --domains plato.stanford.edu --page-requisites --no-parent --convert-links --restrict-file-names=windows --no-directories --html-extension https://plato.stanford.edu/contents.html 

calibre_clean_files.bat (limpa início e fim das entradas)

Este batch chama dois outros batch, call calibre_remove_head.bat e call calibre_remove_bottom.bat, que limpam das entradas os cabeçalhos e finais em comum que são repetitivos e desnecessários para gerar um ebook, como links úteis de navegação. Como as entradas do site já possuem marcadores, isso facilitou o trabalho.

calibre_remove_head.bat

for %%i in (index.html.*.html) do sed -n -i "/BEGIN ARTICLE HTML/,$p" %%i

calibre_remove_bottom.bat

for %%i in (index.html.*.html) do sed -i "/END ARTICLE HTML/,$d" %%i

calibre_entries.bat (gera índice com as entradas)

Esta batch gera os índices das entradas baseado em seus títulos, e os nomes dos arquivos serão usados para links no TOC do Calibre.

if exist calibre_entries.txt del calibre_entries.txt
for %%i in (index.html.*.html) do calibre_title.bat %%i >> calibre_entries.txt
sed -i -e "s/<em>//" -e "s/<\/em>//" calibre_entries.txt

calibre_entries_clean.bat (limpa formatação das entradas)

Algumas entradas possuem o marcador **em**, que deve ser retirado antes de ordenar os títulos.

sed -i -e "s/<em>//" -e "s/<\/em>//" calibre_entries.txt

calibre_entries_sort.bat (ordena entradas por título)

Se não ordenarmos por título o único índice de nosso livro será inútil.

sort calibre_entries.txt > calibre_entries_sorted.txt

Apagar duplicatas

Ao final do processo com o wget percebi que algumas entradas foram baixadas mais de uma vez. Várias delas. Por isso eliminei as duplicatas usando um programa Windows chamado doublekiller.exe, mas basta você usar qualquer ferramenta que encontra os .html da mesma pasta que possuem o mesmo hash e eliminar as duplicadas. Isso deve ser feito nesse passo antes de:

calibre_entries_to_template.bat (converte entradas da enciclopédia para o template do Calibre)

Essa parte do processo precisa converter as entradas no formato Título Link para entradas HTML com a tag **a**, no formato que o Calibre espera:

sed -e "s/\(^.*\) \(index.*$\)/        <a href=\"\2\">\1<\/a><br\/>/" calibre_entries_sorted.txt > calibre_template_entries.html

calibre_merge_templates.bat (junta início, meio e fim do template do Calibre)

Por fim, antes de usar o Calibre é necessário juntar os arquivos de template em um arquivo final de TOC, o calibre.html. Ao final desse processo passaremos ao Calibre em si.

copy /Y calibre_template_begin.html+calibre_template_entries.html+calibre_template_end.html calibre.html

Usar Calibre para abrir calibre.html

Para realizar este passo basta arrastar ou abrir o arquivo html central que foi criado, e a partir dele iniciar a conversão. Note que após arrastar já será criado um zip com todos os HTMLs relacionados.

Converter HTML zipado em outros formatos

Após abrir pelo Calibre ele insere na biblioteca e é só converter para MOBI (Kindle) ou EPUB (outros leitores) ou qualquer outro formato desejado. A nota final aqui é que como se trata de um arquivo gigantesco (50 MB em HTML zipado, 80 MB em MOBI) é melhor baixar a versão 64 bits do Calibre e ter muita memória RAM. Voilà!

E por hoje é só. Se tudo der certo você poderá copiar e colar dentro do seu leitor todas as entradas de uma enciclopédia indispensável para quem está estudando filosofia. Enjoy.


# Escrevendo Curtas

Caloni, 2018-07-16 books cinema movies [up] [copy]

Este é um livro curto, e sou fã de livros curtos. Porém, para um livro ser bom não basta ser curto. No seu pequeno conteúdo ele tem que ter algo a dizer. E o livro de L.G. Bayão tem, sim. Ele é um guia rápido e conciso que explica como não apenas curtas-metragens funcionam, mas como a indústria e linguagem cinematográficas funcionam na vida real, e de onde o curta é talvez o elemento mais basal e essencial para o começo (ou o final) de toda criação na sétima arte.

Claro, com pouco mais de 80 páginas, e apenas 50% dessas páginas possuindo detalhes técnicos, o trabalho de Bayão é superficial no máximo, mas como guia iniciante quebra um galho. Ele começa categorizando os tipos de curta, depois dá um exemplo do formato usado em voga, e relata o básico que todo escritor deve saber sobre estrutura para contar histórias. O valor do livro não está nas regras que já conhecemos sobre literatura, mas sobre como isso se encaixa na hora de escrever para um curta-metragem.

Por exemplo, ele detalha a diferença entre texto e subtexto, e se a maioria dos roteiristas soubesse essa diferença não teríamos tantos trabalhos medíocres por aí. Olhe seu ótimo exemplo:

Texto: um taxista trabalha no turno da noite e exposto aos perigos da profissão vai aos poucos perdendo sua sanidade mental até tornar-se uma pessoa totalmente agressiva e vingativa. Qual seria um possível subtexto para esta história? Solidão.

Outro detalhe primordial do trabalho de um roteirista é ter em mãos seu storyline e seu argumento, e Bayão mais uma vez ressalta as diferença envolvidas:

Geralmente perguntam ao roteirista qual a história do seu roteiro. Eles querem ouvir o storyline, a isca. Um storyline bem construído é um convite à leitura de um roteiro, enquanto que em um storyline pouco atraente leva um roteiro para a gaveta.
Já o argumento tem uma função diferente. O texto corrido dá uma sensação ao leitor de estar lendo um pequeno romance, o que facilita muito para quem é pouco familiarizado com o formato do roteiro cinematográfico. Ele também é muito útil na pré-produção, pois já que é mais detalhado que o storyline, oferece mais dados aos profissionais das outras áreas, como por exemplo, os cenógrafos, figurinistas... A partir do argumento também é possível calcular aproximadamente os custos da produção.

Além disso, gosto de livros que conseguem extrair da experiência do autor elixires de simplicidade: os axiomas. O processo para se chegar até ele é doloroso, mas o resultado é útil para o leitor, e simples de capturar a sua importância, mesmo que nenhum de nós consiga chegar no mesmo resultado. Você precisa sentir ao longo dos anos para chegar a esta conclusão:

O roteirista que cultiva o hábito de escrever roteiros assim deve constantemente se lembrar que o seu roteiro vai ser visto e não lido.

Citando um trabalho recortado em frases curtas:

Um objetivo importante a ser atingido por um roteirista é o de conseguir prender a atenção do leitor. Descrições onde o texto é seqüencial e contínuo convida à leitura, enquanto que um texto com freqüentes interrupções (simulando uma série de enquadramentos) dispersa o leitor.

Em seguida, dando um bom exemplo de alternativa de descrição de cena:

As palavras fluem naturalmente e levam o leitor a ver a cena como se ele estivesse assistindo-a na tela do cinema.

Ele também não pega leve com roteiros preguiçosos, e se você for cinéfilo o suficiente vai entender com todas as letras quando ele diz:

Se vai abrir a boca, que diga algo inesperado, se vai ficar calado, que faça algo revelador. O importante é que o seu personagem seja único.

E voltando para o lado pragmático, ele ressalta várias vezes que a função do roteirista não é a de dirigir o filme, atuar no elenco, vestir as roupas ou escolher as músicas que farão parte do trabalho cinematográfico. Este é um trabalho coletivo, e muito não está sob o nosso controle. Portanto:

Responda: quando num filme câmeras de cinema estão espalhadas pela história? Quase nunca, certo? Então nada de câmeras no roteiro. O roteirista deve escrever apenas o que vai estar na tela da forma mais visual possível.

Por fim, ele convida o leitor a acordar para a vida. Se tem algo que ele e outros escritores sabem, é que não é de uma salinha enfumaçada que saem as brilhantes ideias que populam as mentes dos cineastas:

Por isso é preciso sensibilidade para observar o mundo ao redor. Transforme seus olhos em pequenas câmeras e comece, a partir de agora, a registrar tudo que puder. E guarde estas imagens com você, pois estas são as verdadeiras ferramentas de um roteirista, que querendo ou não escreve sobre o mundo que conhece, vê, sente e sonha.

"Um bom roteiro pode se tornar um filme ruim, mas um roteiro ruim nunca poderá ser um bom filme." -- ditado antigo no cinema.

Talvez essa seja a parte mais valiosa deste livrinho. Com livros e links para o leitor dar continuidade, segue a listagem das mais interessantes (omiti os órgãos governamentais porque who cares e uns links quebrados ou de conteúdo duvidoso):

Livros:

  • FIELD, Syd. Manual do roteiro. 1.ed. Trad. De Álvaro Ramos. Rio de Janeiro. Objetiva, 1996.
  • McKEE, Robert. Story: substance, structure, style and the principles of screenwriting. New York. Regan books, 1997.
  • WALTER, Richard. Screenwriting. New York. Plume, 1988.

Links:

  • IMSDB http://www.imsdb.com/ Banco de roteiros com lançamentos recentes do cinema americano. Em inglês.
  • ROTEIRO DE CINEMA http://www.roteirodecinema.com.br/ Um dos mais completos websites para roteiristas do Brasil. Recheado de notícias, dicas, links e roteiros para cinema e TV.
  • CURTAGORA http://www.curtagora.com/ Uma iniciativa cultural da Interrogação Filmes em parceria com a Mnemocine tem o objetivo de levantar dados sobre a produção audiovisual nacional nos formatos de curta e média metragem durante os últimos 20 anos. Uma ferramenta e tanto para quem quer colocar seu trabalho no mapa. Dê uma conferida.
  • SCRIPTS-O-RAMA http://www.script-o-rama.com Os melhores roteiros vindos da terra do tio Sam, incluindo clássicos de Hitchcock e Kubrick.
  • CRIAÇÃO DE ROTEIROS http://www.roteirista.com/ Aqui você chega até o roteirista Hugo Moss e seus grupos de criação, seu conceituado curso online e o concurso que promove trimestralmente com o objetivo de estimular roteiristas de todas as idades.
  • ASSOCIAÇÃO CULTURAL KINOFORUM http://www.kinoforum.org/ Investe na difusão da produção audiovisual e do cinema independente na América Latina e é responsável pelo Festival Internacional de Curtas-Metragens. Destaca também um guia de festivais muito completo.
  • CURTA O CURTA http://www.curtaocurta.com.br/ Buscando sanar a falta de espaço para o curta-metragem nos cinemas e na televisão, surge o site Curta o Curta, onde o usuário pode assistir aos mais interessantes curtas, discutir sobre o cinema nacional, participar de promoções e até incluir seu próprio filme, fazendo da Internet um canal direto com o espectador.

# Estrutura de Roteiro

Caloni, 2018-07-17 books cinema movies [up] [copy]

Às vezes dá vontade de ler todos os livros sobre um assunto e fazer um apanhado de dicas em 50 páginas. Mas isso passa rápido depois que você percebe que vai perder alguns anos de sua vida. Leonardo Bighi Lourenço perdeu 3 anos de sua vida para nós, e nos apresenta todas aquelas teorias de 4 atos (ou 3, com o do meio dividido em dois (???)), seus pontos de virada, conflito, protagonista, antagonista, ponto de impacto... enfim, a pataquada toda.

O lado bom é que se trata de um livro pequeno e simples de ler. O lado ruim é que você provavelmente vai ter que ler e reler esse livro sempre que quiser lembrar dos termos. Sabe quando você precisa anotar coisas do livro que está lendo para não se perder? Imagine que este livro já são as anotações. A diferença é que existe um pouco de ênfase no que o Leonardo fala. Ele ficou realmente empolgado com o entendimento da estrutura clássica para montar histórias e como isso facilita a vida do escritor que está começando.

Seguem alguns trechos aleatórios:

Já o Incidente Inicial, que vamos tratar aqui, é um pouco mais sutil. Ele vai introduzir o conflito na história, mas sem amarrar o protagonista nesse conflito ainda.
Pensa comigo. Que graça teria criar um grande conflito na sua história, se o personagem pudesse simplesmente falar "não quero saber de problemas, vou pra casa" e a história acabasse aí? Eu te respondo. Não teria graça nenhuma. Se o leitor não souber por quê seu protagonista está passando por todo o sufoco do conflito central, a empatia vai ser quebrada na mesma hora. O leitor vai achar que seu personagem é idiota ou masoquista.
O Ponto de Aperto é um truque de ritmo. Ele existe pra dar uma quebrada na sequência de cenas da história e reforçar o perigo que existe.
É a primeira metade da história que vai cimentar a relação entre humano e personagem.

Pois é, são aleatórios mesmo. Eu não vou ficar anotando um livro desses, senão vou acabar anotando o livro inteiro. Minha dica: o leia de uma só vez, deixe esfriar, e depois que for começar a escrever, releia novamente.


# O Doutor da Felicidade

Caloni, 2018-07-17 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Eu entendo o porquê do lançamento de O Doutor da Felicidade ser direto para streaming: se trata de um filme com um quê televisivo, de baixa produção, e que não tenta esconder isso. O que eu não entendo é um ator com o carisma e talento de Omar Sy acabar participando deste projeto; ele nos prova capaz de participar de dramas mais formatadinhos através de uma cena linda perto do final do filme; você irá reconhecê-la pela frase "onde está o crime?" e pela possível referência a "M, O Vampiro de Dusseldorf".

Bom, estou constatando o óbvio, você que já o viu em Intocáveis, Samba, Chocolate, apenas para citar os mais populares. Realizando uma escalada admirável em sua carreira, quase sempre preocupado em extrair o máximo de expressividade e carisma empacotados em uma força de vontade contagiosa (mesmo que ele esteja fazendo um imigrante ilegal à beira de passar fome), o ator francês tem potencial para percorrer os mesmos caminhos que uma Juliette Binoche percorreu ao longo das décadas, mesclando produções hollywoodianas com trabalhos mais intimistas.

E o filme do diretor/roteirista Lorraine Lévy não está em nenhuma dessas categorias. Baseado em uma peça de Jules Romains, de 1923, adaptada meia-dúzia de vezes no Cinema, e que originalmente era uma sátira sobre a hipocondria, este novo retrabalho do material tenta se manter no nível de um conto lúdico, mas também tenta passar uma lição de moral que não condiz exatamente com o que foi visto até então.

A história narra rapidamente a origem humilde e cheia de percalços de Knock (Omar Sy), que começa sendo chutado por dois capangas que cobram dele uma dívida de apostas. Encontrando sua saída em um navio que aceita qualquer pessoa que já tenha tratado alguém sob a alcunha de médico, o rapaz alto e saudável (e, essa condição é citada apenas de passagem, negro) irá aos poucos aprender a usar o vocabulário incompreensível da medicina para ludibriar seus pacientes. Ao final da viagem, e cinco anos depois, o vemos como um Doutor formado que se encontra em mudança para uma cidadezinha cheia de ricos em volta. De acordo com ele, "uma mina de ouro". Começamos a entendê-lo conforme ele se associa ao dono da farmácia local e à alta sociedade para convencer a tudo e a todos que "bom e saudável" é um termo inacurado para qualquer pessoa ainda viva.

O que se segue é uma bela história sobre falcatruas e o poder da criatividade, que ensina que quando se fala de saúde as pessoas ouvem atentamente e se deixam levar por qualquer discurso que indique que há algo de errado com elas. Ninguém quer ficar doente, mas o Doutor Knock insiste em deixar claro que todos os procedimentos, consultas e remédios que sugere são justamente para evitar a doença, ou uma possível situação menos que o ideal, em uma inversão de valores digna de um Lobo de Wall Street.

E é aí que reside o perigo desta versão da história, porque eventualmente surge a seguinte questão: o Doutor Knock é uma boa pessoa? Ele é o herói ou vilão? Fica difícil responder, mesmo nos tempos atuais de anti-herói. Isso porque no início o filme nos mostra que a cidadezinha vivia bem e que o objetivo principal (ou pelo menos inicial) de Knock obviamente é o lucro. Há pouco tempo de filme para que ele consiga nos convencer do contrário em qualquer um dos momentos em que a coisa evolui para algo mais complexo, mais ambíguo e mais humano.

Utilizando do começo ao fim uma trilha sonora equivocada, enlatada, que mescla sem qualquer critério drama e comédia (ambos leves demais para serem sentidos), a situação apenas se complica quando o filme decide utilizar momentos pontuais de comédia física que dão o tom adicional de comédia que não soa inapropriado, mas subverte ainda mais o que nós, espectadores, devemos sentir a respeito da figura principal da cidade. Claro, é preciso lembrar que os habitantes da cidade já são mais ou menos caricatos. Mas o que divide nossa impressão entre a simples caricatura para fazer rir e a fantasia ligeiramente exagerada para evitar nossa identificação?

Contudo, este é um filme agradável do começo ao fim. Mas este talvez seja para mim seu maior problema. Ele não ousa se aprofundar em nenhuma das questões que apresenta; até a própria hipocondria deixa de ser a vilã. Todos os esforços para criar tensão na história são deixados de lado pelo bem de um inusitado herói que ninguém pediu. O que nos volta a lembrar: é apenas conteúdo para TV. Ou, no caso, a TV dos dias de hoje: um serviço de streaming onde as pessoas estão distraidamente assistindo vários conteúdos. Este acaba virando apenas mais um.


# Os Incríveis 2

Caloni, 2018-07-18 cinema movies [up] [copy]

Se passaram 14 anos desde que Os Incríveis estrearam, também dirigido e escrito por Brad Bird. Na época a Pixar ainda estava engatinhando e emplacando seus maiores sucessos, sempre baseados em uma direção de arte maravilhosa, uma qualidade criativa impecável e elevando o nível da sétima arte pelo bem da arte, e ainda conseguindo ganhar rios de dinheiro em cima disso. Hoje os rios de dinheiro continuam, a direção de arte continua estupenda e a qualidade criativa está entregue a um marasmo que só consegue pedir desculpas para os movimentos sociais, uma atitude que ironicamente é patética e nada heróica.

Graças à nostalgia do primeiro Os Incríveis, ou graças ao design caprichadíssimo desta continuação, as primeiras duas cenas de ação protagonizadas pela Mulher-Elástica neste novo filme são de cair o queixo. Filmadas de maneira ágil (uma das vantagens da animação) e com cortes precisos na ação, exatamente o que o primeiro filme fazia de melhor. Porém, entregando uma nova protagonista na marra e de forma preguiçosa colocando diversos heróis lutando juntos no pior sentido que a palavra diversidade tem tomado conta dos cinemas (tem até uma emo agora) as cenas de ação seguinte -- e em especial as do final do filme, que deveriam impactar mais -- são nitidamente inferiores, previsíveis e apenas preenchem um check list do que é esperado de um filme de ação animado com um leque de espectadores de todas as idades.

O mais triste nisso é que a primeira metade de Os Incríveis 2 nos apresenta uma direção de arte inspiradíssima, que merecia uma história muitas vezes melhor. Conseguindo se equiparar e até ampliar o conceito do super-heroísmo como algo ultrapassado, o mundo onde vive a família Pera é antiquado porque é charmoso, e é high-tech porque é isso que nos dá a liberdade de ação. O charmoso dos anos 60, estilizados desde as figuras geométricas exageradas e os tons pastéis com iluminação amarelada, fora a trilha sonora que homenageia os melhores momentos James Bondianos do Cinema, não cabe aqui em uma história que tenta ser moderninha apenas ganhando pontos de opressão na cartela do bingo da justiça social. E mesmo do ponto de vista estritamente do roteiro, não há tempo suficiente para revelar logo a reviravolta que todos já sabem que vai acontecer meia-hora atrás, mas há tempo para tiradas com a palavra "empoderamento" que não chega a ser ridículo (só de mau gosto, mesmo).

Mas não me leve a mal a respeito da discussão de papéis de gênero que o filme copiosamente utiliza. A ideia de inverter os papéis é algo que favorece a criação de uma história diferente da original (apesar dela mesma não ser original em nada), e isso está na lista dos elementos que funcionam no começo. Ao mesmo tempo conseguimos ver (mesmo sem "ver") como a Sra. Incrível era tão boa em cuidar da casa e dos filhos -- isso enquanto acumulava também a tarefa de heroína -- enquanto o Sr. Incrível apenas exibia seus músculos e usava todos os seus poderes: força descomunal. Por outro lado, é tocante, apesar de rápido demais, acompanharmos como ele se empenha, e tenta melhorar como pai, mesmo que conte com um bebê cheio de poderes, um garoto hiperativo e uma pré-adolescente com problemas de... pré-adolescente (e com suas coisinhas de mulher, como um romance bobo com um garoto genérico da escola).

Já toda a história envolvendo o legado do casal de filhos de um ricaço que fazia caridade para o super-heroísmo soa logo no começo como algo forçado demais, e as dublagens brasileiras não ajudam em nada. Empregando celebridades do mundo da TV (alguém ainda assiste TV?), como Raul Gil, a caracterização sofre e muito, pois os textos são ditos de maneira vagarosa e nada inspirada, gerando um contraste óbvio com os dubladores profissionais que fazem as vozes dos personagens principais.

A Pixar, diferente da Marvel, já não tem a menor condição de continuar seu projeto de diversidade sem retomar as rédeas de um roteiro que seja instigante sem precisar se amarrar a um pacote politicamente correto que atenda todas as demandas das pessoas fora e dentro dos estúdios. Quando a arte é deixada em segundo plano para uma agenda política, nem a pipoca consegue segurar a diversão. Talvez ela esteja com pouco sal por exigência do governo.


# A Era da Inocência

Caloni, 2018-07-19 cinema movies [up] [copy]

A Era da Inocência é conhecida em sua versão inglesa como Day of Darkness (e assim o é no original em francês). Isso tem um pouco a dizer sobre o teor do filme, que apesar de se passar em um ambiente depressivo (e opressivo), seu exagero sugere uma certa inocência em sua abordagem. Isso porque o diretor/escritor Denys Arcand está a todo vapor desde As Invasões Bárbaras, filme onde ele já atacava com todas as forças a ideia pré-concebida que o resto do mundo tem que o Canadá é um primeiro mundo ideal e desejável por todos, quando na verdade o sistema de saúde celebrado por todos é um pesadelo distópico digno de filmes como Brazil, THX 1138 ou até mesmo 1984.

Porém, diferente dessas ficções distópicas que colocam a ação em um futuro onde tudo deu errado, A Era da Inocência é sobre o aqui e agora canadense, o que o torna depressivo além da conta (por ser real). E isso nosso protagonista, o funcionário público Jean-Marc Leblanc (Marc Labrèche), precisa suportar, e precisa suportar junto com regras igualmente distópicas (mas que também soam reais) de não ser permitido fumar a um raio de uma milha do prédio do governo onde trabalha (que mais parece um estádio abandonado; note como a escalada governista espelha o aumento cada vez maior do funcionarismo público) ou até mesmo ser proibido usar a palavra "negro" com o seu amigo (em um dos melhores exemplos que o Ministério da Novilíngua poderia extrair do mundo como é hoje).

Este filme se passa no breve futuro ou no presente atual? Difícil saber a essa altura do socialismo em que vivemos. Leblanc está soando obviamente um pessimista do pior gênero. E ele não pega nem um pouco mais leve na vida pessoal de Marc Leblanc, onde possui uma esposa que é uma vendedora de imóveis que se aproveita das desgraças de seus clientes para realizar transações de sucesso (e que nunca -- clichê -- larga o celular), além de suas duas filhas que estão alheias à existência do pai (mais um clichê). Enquanto sua esposa se aproveita da desgraça alheia, Leblanc tem por função ouvir a desgraça alheia e responder com variações de "não tenho como lhe ajudar", por pior que esteja a situação da pessoa.

Este é um filme de uma nota só, e o personagem de Marc Labrèche é o único que terá voz aqui. Todo o resto é meramente alegórico e está lá para servir ao protagonista de todas as formas, seja o desprezando, o limitando ou o subjulgando. E até satisfazer os desejos dessa pessoa em certo momento pode ser uma atitude nojenta. Porém, é preciso lembrar que ele está sob pressão, apesar dessa ser uma das falhas da atuação de Labrèche (ou da direção), que insiste em tornar seu personagem o mais passivo possível (diferente de Kevin Spacey em Beleza Americana).

E por falar em pressão, todo esse peso em cima desse senhor de meia-idade é extravasado em suas frequentes fantasias, onde se imagina na posição que qualquer homem de meia-idade (ou de idade inteira, ou na adolescência) já se imaginou: sendo uma celebridade e fazendo sexo fácil com qualquer mulher que se sinta atraída pelo que ele é em sua fantasia (mas que nunca nem olharia para ele na vida real). A frase recorrente dessas mulheres, antes de lhes tirar a calcinha e penetrá-las por trás é: "me sinto indefesa diante de alguém com sucesso X" (qual o sucesso X depende da fantasia atual). Essa repetição deixa claro que, apesar desse ser o sistema de escape deste homem, nem com isso ele consegue mais ter imaginação, onde eventualmente o veremos esgotado. Sua grande fantasia reside na personagem vivida pela linda Diane Kruger (conhecida no filme como Estrela), e ela é a única ponta constante, onde podemos imaginar que ela é que é a única ponta de sanidade do nosso herói, e não sua mãe moribunda.

Aliás, a maior virtude do longa é saber sincronizar as três facetas de sua vida; uma começa a desmoronar e as outras apenas seguem a tendência. O que nos leva à conclusão do filme, que é inocente demais para funcionar, e que nunca esteve ligado a qualquer traço do personagem até então. Isso soa um escapismo ingênuo de um sistema que saturou toda a essência humana. É igual às distopias já citadas, mas pior porque se torna estranhamente real, e ainda pior porque, sendo real, sua solução é irreal. Não assista se estiver tomando anti-depressivos.


# Hilda Hilst Pede Contato

Caloni, 2018-07-20 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

"Não sei o que há, mas há principalmente o elogio fácil. Seria ótimo que os críticos falassem a verdade." - Hilda Hilst. Este filme é uma oportunidade perfeita para demonstrar a irrelevância intelectual do espiritismo, mas infelizmente, para os que ainda não conhecem a obra de Hilda Hist, esta pode ser uma péssima porta de entrada, cercada das reverências vazias e, como a própria Hilda coloca na citação, "o elogio fácil".

Mas isso ocorre não por falta de críticos do seu trabalho, mas porque o filme apela para testemunhos que basicamente rasgam seda em elogios vazios sobre a autora. Não se trata de analisar uma pessoa e sua obra, mas apenas de a homenagear. E se o objetivo é apenas elogiar, então o filme de Gabriela Greeb cumpre este objetivo de maneira exemplar, estruturado como uma busca eterna por sinais sonoros em rádio de Hilda em sua casa no campo, recriando a cena e a atmosfera em que isso ocorreu por vários anos com a ajuda de uma atriz, as gravações originais e uma direção que explora com propriedade visual este limiar entre a poesia e a prosa da autora.

Tudo isso ainda cria novas sensações, visuais e sonoras, que se unem à busca do sobrenatural. Note como a câmera foca nos pés das pessoas andando pela floresta, de noite e de dia, para seguir após os chamados por uma resposta pelo ar, pelas folhas das árvores, e por infindáveis fitas magnéticas que se lançam ao infinito, mas que começam (ou terminam?) nas mãos de Hilda. Essa síntese do que a autora significa tem um poder expressivo arrebatador, e poderia estar imortalizado em um quadro estático. Não em um longa metragem.

Um documentário por definição tem uma responsabilidade que vai além de documentar: vai em teoria em busca pela verdade. Mas dificilmente será difícil arrancar a verdade, ou explorar mais de um lado, sobre uma pessoa que já morreu. Através dos seus entes queridos as críticas somem, a pessoa é beatificada. Vira uma santa em formato líquido, vibrante, e que nunca erra.

Amada por tudo e por todos, seus amigos falam mais de uma vez a facilidade com que ela transitava e conversava com pessoas e obras das mais humildes às mais eruditas. Explorando a amizade com físicos teóricos e bebendo de filósofos metafísicos como Kierkegaard, fica fácil entender porque a totalidade dos seus amigos lembram uma elite brasileira no formato classe média "esclarecida", intelectualizada, que come macarrão e bebe vinho até dormir, e vai nos seus sonhos ter seus delírios de poder. Enquanto isso, não vejo em nenhum deles a figura do humilde, do simples, deixando claro que a autora, embora esclarecida em inúmeros níveis, nunca criou nenhum laço mais duradouro do que o tempo para criar mais uma bela história sobre a lenda do bom humilde.

Nem laços sobrenaturais ela criou. Quando analisamos suas fitas gravadas percebemos que seu comportamento em nada difere ao de uma criança mimada e petulante. Certa que basta chamar os nomes certos da maneira certa para que essas figuras já mortas se unam ao seu projeto aparentemente solo, com o tempo ela passa à raiva de não obter resposta e à barganha de quem deseja ansiosamente que tudo aquilo que ela imagina não passe de fé cega. Em determinado momento ela admite para si mesma que a fé brota de cada um; não depende de evidências. Mas logo em seguida conclui: "mas seria tão bom se eu tivesse alguma prova... pelas pessoas que têm medo da morte". Ela se exclui da massa de tementes, mas não desiste da busca. Porque é muito boa, claro.


# O Primeiro Mentiroso

Caloni, 2018-07-20 cinema movies [up] [copy]

Esta é daquelas comédias que tem o humor de comediantes de standup, mas que deu certo. Bom, Rick Gervais dificilmente dá errado. Aqui ele parte de uma história original, o que é louvável, pois ela é mais complicada de desenvolver do que parece. E cai no lugar-comum porque ele não é um roteirista de primeira.

Mas até chegar a nessa conclusão o espectador irá se divertir imensamente com o resultado, que é o que importa, afinal de contas. A história já brinca com o conceito de filme nos créditos iniciais. Nosso narrador comenta "aguardem os créditos iniciais... por que temos créditos iniciais? Esses produtores ficam falando como é importante ter créditos iniciais...". Em seguida ele verbalmente nos informa que essa humanidade onde os eventos se passam não possui o conceito de mentira. Isso quer dizer que todos são os mais honestos possíveis a maior parte do tempo. Em seguida vemos diferentes exemplos de como isso ocorre, como casais tendo uma briga sincera, onde admitem o que um odeia no outro, ou a bizarra relação entre garçons e clientes em um restaurante (o garçom chega dizendo "eu me sinto embaraçado de estar aqui, e você é bonita, o que me deixa mais embaraçado ainda").

O que é um verdadeiro mistério para mim. A partir de que momento surge essa vontade nas pessoas de dizer algumas verdades para as outras? Elas simplesmente sentem que precisam dizer algo sobre a pessoa com quem conversam e soltam o verbo? Mas pra quê? Essa não me parece apenas uma sociedade que se esqueceu que é possível mentir, mas também uma sociedade com compulsão por machucar pessoas aleatoriamente. Não parece haver um critério sólido sobre como essa regra funciona.

Mas OK. É um conto lúdico. Bonitinho, até. Tem a cara de Rick Gervais, que na Netflix fez talvez a série mais fofa por lá (Derek). O problema é que o herói dessa história é uma pessoa carismática, simples e meio boba, e o personagem que o ator Rick Gervais constrói é até certo sentido um pouco disso tudo, mas lhe falta carisma para que torçamos com ele. Como falta carisma, tanto faz se ele consegue ficar com a garota no final (que é a bela, mas não linda, Jennifer Garner). Se falta essa vontade no espectador talvez essa não devesse ser a trama principal.

Mas tudo bem. Há várias outras sub-tramas que ocupam tempo suficiente de tela para se tornarem fascinantes. Como onde o personagem de Gervais trabalha, como roteirista de filmes. Os filmes nesse mundo são basicamente documentários (eles não podem mentir, lembra?) e todos eles se parecem: se trata de um sujeito sentado e narrando o que os roteiristas escreveram a respeito de algum século na história humana. Imperdível. Qual o século que Gervais escolheu? A Peste Negra. E é por isso que ele será demitido. Ha ha ha.

Outra sub-trama, talvez a que eu mais gosto, envolve a maior mentira de todos os tempos: religião. Você provavelmente não terá notado até o momento em que a mãe do personagem de Gervais precisa de uma mentira inocente para poder partir em paz (as pessoas acreditam, com razão, que quando você morre vai para um vazio existencial). Nesse momento da trama já descobrimos que ele é capaz de contar mentiras, mas como é meio bobo e um péssimo roteirista ele vai descobrindo ao mesmo tempo que pode mentir algo chamado imaginação. É o que o torna o melhor roteirista de todos os tempos (naquele mundo), aliás. Porém, quando vira uma celebridade por ouvirem o que ele fala para a mãe e assim "descobrirem" o que "realmente" acontece quando você morre, sua criatividade não é tão boa assim, e o texto do roteirista Gervais soa um pouco experimental demais para o momento (de repente todos ficam espertos e pedem explições específicas sobre os "mandamentos" que ele prepara). Mas é engraçado, e muito, e entendemos instantaneamente como a criação de religiões pode ser uma das mentiras mais deslavadas e mais baixas da história da humanidade.

Os textos do filme são um deleite para quem está acostumado com a mesmice das comédias americanas. Temos alguma tensão entre o casal principal porque ela é bonita e quer obter os melhores genes possíveis para seus filhos. Como os genes de Gervais irão produzir filhos "gordinhos com nariz redondo e arrebitado", a ideia de se casarem soa extremamente inadequada. Mas apenas por isso, pois para todo o resto ambos se dão muito bem (embora não fique muito claro por que ele gosta dela, exceto pelo físico). Isso levanta a questão muito inteligente sobre o que pesamos na hora de escolher um par, e de forma mais geral, quais mentiras contamos para nós mesmos para estar junto de alguém. Algo refinado para uma comédia fácil.

Com momentos inabaláveis e inesquecíveis de humor que não comentei aqui, mas que por isso mesmo o filme merece ser visto (uma cena dessas envolve duas caixas de pizza; imperdível), O Primeiro Mentiroso é um filme estilo "Dogma", onde há piadas inteligentes sendo ditas e atores competentes o suficiente para dizê-las. Tudo é meio lúdico demais, mas isso faz parte do jogo. Um filme para se ver quando quiser algo novo acontecendo em sua cabeça.


# Missão Impossível: Efeito Fallout

Caloni, 2018-07-24 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

A maior satisfação da série Missão Impossível nos cinemas é que ela sempre entrega o que é esperado. Nesse sentido ela ganha até de James Bond. Porém, estamos falando de apenas meia-dúzia de filmes que seguem basicamente a mesma fórmula em toda nova edição (e direção): as missões recebidas em segredo com gravações que se auto explodem em cinco segundos, vilões com maldade pura, o passado de Hunt o amaldiçoando e ao mesmo tempo o fazendo crescer como ser humano, as cenas de ação frenéticas e muito bem coreografadas, as reviravoltas que acontecem sob um teto mal iluminado e que costuma dar nós no cérebro do espectador e, por fim, uma bomba e uma contagem regressiva. Bom, senhoras e senhores, tenho boas novas sobre "Missão Impossível: Operação Fallout": dessa vez teremos duas bombas! Isso que é plot twist!

Brincadeiras à parte, mesmo não sendo muito original em seu roteiro a série acaba entregando diferentes versões de um filme de ação e suspense bem feito. Idealizado em sua primeira versão, de 1996 e dirigido por Brian de Palma, a série seguiu sempre elencando diretores competentes e diferentes, sendo o sexto filme agora a repetição inédita de diretor (Christopher McQuarrie, que já havia assumido a franquia no anterior, Nação Secreta). Eu adoro a capacidade que essas produções têm de tornar as histórias batidas minimamente interessantes e com picos de adrenalina que se tornam emocionantes por causa justamente da historinha que a permeia. E "Fallout" felizmente não é uma exceção.

Da parte da história, há pequenos elementos que, como linhas quase invisíveis, amarram toda a trama do começo ao fim, permitindo ao espectador sentir que houve uma mudança. Essa mudança está na preocupação (mais uma vez) de Ethan Hunt (Tom Cruise) em sua ex-esposa, que remói desde Protocolo Fantasma se sua decisão de se afastar não teria sido tarde demais, trazendo dor e sofrimento desnecessários à personagem de Michele Monaghan que, convenhamos, é perfeita demais para ficar passando esses perrengues. Mesmo que seja com Tom Cruise. O fantasma de Monaghan o persegue como uma cobrança eterna por salvar toda e cada vida.

Já do lado da ação, temos nesse filme, por exemplo, uma perseguição na cidade que beira a perfeição. Coreografado com menos cortes de costume, se aproveitando das esquinas e rotatórias que os veículos ultrapassam, entendemos a localização geográfica pelas ruas de Paris do começo ao fim sem nos perdermos, o que geralmente ocorre nos filmes de ação de quinta categoria. Missão Impossível consegue aqui até imprimir um pouquinho de realismo a mais do que a série se propõe, evitando a ação em formato de hipérbole (se tornando cada vez mais e mais inacreditável) que ocorria nos primeiros três filmes. Claro, toda suspensão de descrença tem um limite no cinema, e precisamos aqui ignorar todas as coincidências em série da moto de Tom Cruise conseguindo passar cruzamentos enquanto todos os carros (e motos) da polícia não, os deixando para trás (mas apenas um pouquinho).

Mas voltando à história. O forte dela é que há uma equipe carismática e coesa, agora menor que nunca, com Cruise, Simon Pegg e o sempre bem-vindo Ving Rhames, além das participações coringa de Rebecca Ferguson e Henry Cavill (ambos agentes de fora), apenas para termos diversidade de suspeitos das reviravoltas que irão com certeza surgir. A equipe está sempre à mercê do psicológico de Ethan Hunt, e por um bom motivo: quando o personagem de John Travolta cita para ele seu comportamento recorrente de quase estragar as missões valorizando uma vida em detrimento de milhões, Travolta sugere que esse traço de Hunt é justamente o que o torna mais forte que outros agentes. Além de um salvaguarda enigmático: ele sabe que pode contar com Hunt para lhe proteger quando for necessário. Isso sair da boca de um ator que vem se especializando em vilões diz duas coisas: 1) não acredite em tudo que ouve no filme e 2) algumas coisas ditas serão verdade, mas não da forma como você imagina de início.

Os personagens de Henry Cavill (que faz o agente August Walker) e Angela Bassett (a nova cara entre as lideranças da agência) surgem como um respiro bem-vindo à franquia, mas ao mesmo tempo não chegam a dizer a que vieram com tanto frescor assim, se revelando versões repetidas de outros personagens enigmáticos que já surgiram em outros filmes. Ainda assim, é uma boa notícia perceber que Cavill se desvencilha da sua figura de Homem de Aço nos cinemas, conseguindo equilibrar o seu lado observador em um timing cômico que dessa vez ultrapassou o de Simon Pegg, que tem pouca participação no filme. Por outro lado, o que não ganha respiro é a trama, que já soa datada ao repetir elementos do filme anterior, como o terrorista/anarquista Solomon Lane (Sean Harris) e seu desejo sanguinário de extermínio em massa por um ideal que nunca soa mais do que a loucura usual dos vilões megalomaníacos de praxe. Porém, precisamos lembrar que esta é uma história em dois atos; e este é o segundo. Nesse sentido a última novidade ainda reside nas invencionices de Protocolo Fantasma, onde nas mãos de Brad Bird a série realmente ganhou um respiro tecnológico e temático. Mas note como todas as ameaças geralmente giram em torno de líderes religiosos ou armas prontas para um genocídio. Pelo menos dessa vez não houve uma ópera, marca registrada de M:I.

E é por isso que eu não citei esse elemento recorrente em Missão Impossível como fórmula de sucesso. Você nota algumas variações, vê? Mas o que chama mais a atenção são os detalhes que se repetem. E Tom Cruise continua louco por adrenalina como nunca. Graças a ele você dificilmente verá cenas de ação tão sufocantes e empolgantes este ano como neste filme. A IMF segue firme e forte.


# Vídeo: Depuração Visual Studio 101

Caloni, 2018-07-24 computer videos [up] [copy]

Redescobrindo meu canal no YouTube me empolguei em publicar mais alguma coisa. Os meu primeiros vídeos, no meu canal pessoal, são longos e possuem narração um pouco confusa, mas explicam bem alguns detalhes do Visual Studio. Agora com meu primeiro vídeo curto estou apenas demonstrando sem voz como é o depurador do Visual Studio. Enjoy =)


# O Nome da Morte

Caloni, 2018-07-25 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

O cinema nacional percorreu um longo caminho desde A Cidade de Deus, um filme que explorava o ambiente miserável, violento e corrompido de uma sociedade que ainda mantinha certa fé religiosa que lhes "garantisse" alguma forma de proteção, mesmo que alguns membros dessa sociedade fossem assassinos sanguinários. Agora O Nome da Morte chega como um eco dissonante, que vem meio torto, mas que pelas suas virtudes técnicas, igualmente impecáveis, especialmente a fotografia, lembra como aos trancos e barrancos o cinema brasileiro se desenvolveu através das décadas a ponto disso se tornar algo comum, e mostra também que a discussão sobre a pobreza, violência e corrupção pode adquirir diferentes formas, mas que se mantém firme e forte como um mecanismo simbólico de estudo social rico e fascinante.

Aqui a história também é baseada em um caso real, de um pistoleiro, Julio Santana (Marco Pigossi), desde o seu começo como um filho problemático morando no interior isolado de alguma região do Brasil que é fotografada como um refúgio paradisíaco pelo diretor de fotografia Azul Serra em momento inspirado. Sua família é pobre, mas não miserável. Simples, mas não relaxada. Eles rezam à mesa e agradecem implicitamente pela saúde e sucesso de seus filhos.

Podemos notar esses cuidados com os filhos pelo pai, que se preocupa com o futuro do seu filho mais lesado. Julio não consegue trabalhar em sua oficina, nem na lavoura. Se trata de um incompetente crônico, que gosta de ficar de namoro com uma garota local. Sua única esperança de "ser alguém na vida" parece vir do tio, Cícero (André Mattos), policial militar que visita a família como o membro bem sucedido da cidade. O tio fica impressionado com a pontaria do jovem, e comenta que isso poderá ser muito útil na sua função que, como eu já revelei no começo do texto, não é ser policial militar.

O roteiro escrito pelo diretor Henrique Goldman e por George Moura não se preocupa em deixar tudo verbalmente claro porque a direção de Goldman é visualmente cheia de significados que vão revelando, por exemplo, a real origem da prosperidade do tio. O esquema velado dos assassinos por encomenda e a suposta corrupção que ocorre na polícia militar sequer é citada, mas sentida intuitivamente ao notarmos o grau de hierarquia que se estabelece entre Julio, seu tio Cicero e o seu amigo que sempre o visita vestindo farda e quepe. Além disso, há um momento em que vemos toda a artilharia que o tio mantém em uma pequena salinha isolada do mundo e que lembra um arsenal. Sabemos que essas armas não foram adquiridas legalmente, e ninguém precisa nos dizer isso no filme.

Mas eis que Julio aprende sua primeira lição na profissão: "usar sempre a mesma arma". O tio lhe entrega como um presente para seu novo cargo de matador por encomenda. Sua primeira morte é simples, de um desconhecido morando no interior. Aos poucos o contador que é mostrado no filme, de homicídios por ele realizados, vai aumentando. Aprendemos que com uma arma em um país desarmado ninguém faz muitas perguntas e ninguém vê nada. Há uma cena onde Julio e o amigo do seu tio se encontram onde uma patética e sutil placa de "não é permitido armas" se pendura entre os dois, simbolizando uma área neutra. Aliás, de símbolos o filme está cheio, certos e errados. E um deles diz respeito à religião.

Julio se vê cometendo atrocidades que com certeza são desaprovadas por seu Deus católico, e por isso em certo momento busca por redenção procurando saber quantos pai-nossos e ave-marias ele preciza rezar por cada alma que levou desse mundo. O padre precisa de sua confissão, então Julio nunca irá descobrir. Porém, conforme o filme avança e a história se desenrola, Julio e sua mulher mudam de religião, e o filme deixa claro, com as imagens de uma Estátua da Liberdade falsa de uma loja e o aspecto bem apessoado e diverso das pessoas que frequentam o culto, que até quando o assunto é o além-mundo há espaço para todo mundo obter sua paz interior, nem que seja vendendo sua própria alma (outro símbolo divertido é a placa do seu carro, NIC-9999; o 666 invertido cabe aí, e NIC pode ser diminutivo de Nicolas, o santo que deu origem à figura do Papai Noel, que sai presenteando os que se comportam bem; se divirta com suas interpretações).

O aparente equilíbrio de Julio na maioria dos momentos soa apenas como fachada da mente, pois ele tem frequentes pesadelos sobre ser castigado, e a religião é apenas mais uma máscara que ele e sua mulher utilizam para conseguir conviver com a dura realidade de sua profissão. Ele dorme com o dinheiro pago pelos seus clientes embaixo do seu travesseiro (outro símbolo), apesar do seu tio sempre avisar que não se pode levar suas vítimas no sono noturno. Apesar do tom sempre irreverente que o longa toma para com as pessoas que Julio encontra pelo caminho, onde o mais icônico é seu tio, é preciso aplausos para a forma com que André Mattos cria o seu tio Cícero em uma figura mista entre o tom bonachão de Hank da série Breaking Bad e o abrasileiramento dessa personalidade fácil, mas ao mesmo tempo moralmente duvidosa.

Enquanto isso, a atuação de Marco Pigossi e o arco de seu personagem denota os valores do filme. A estrutura ideológica que O Nome da Morte nos oferece flerta duramente com o processo de Julio se tornando e crescendo como um pistoleiro, mas nunca se admite colocar algum peso nas decisões deste indivíduo, apenas se resumindo em apresentar suas simples ambições de ter mais dinheiro (e sem deixar muito claro por que dinheiro é tão importante para ele). Julio sempre foi uma pessoa problemática que não teria nenhum destino bem-sucedido na vida, mas é movido pelas circunstâncias de sua família e de sua condição para encontrar pelo menos uma função no mundo. Não encontra. Se trata de um fantasma marchando sem propósito, e o filme não o julga, apenas demonstra o peso carregado por ele. Ou seja, é um filme vitimista, covarde, que não contém valores que possam ser usados como inspiração. Apesar de ser um filme tenso, estruturado, bem fotografado, com um design de som impecável e sempre acertar o tom de sua narrativa, assim como o próprio protagonista da história, O Nome da Morte é amoral do começo ao fim. E isso o torna pobre por dentro, mas belíssimo por fora. E essa é sua principal diferença de filmes como Cidade de Deus, onde aí sim, o indivíduo prevalece.


# Dark Tourism

Caloni, 2018-07-26 cinema series [up] [copy]

Essa série que saiu na Netflix é uma boa série, porque ela contém todos os elementos que faltam hoje ao jornalismo pensante. Há obviamente um formato senso forçado, mas quando algo é bem feito, isso passa como diversão.

Seu host é a figura de um americano caucasiano classe média turista padrão, cheio de receios e medo. A melhor parte de sua atuação são as perguntas medrosas com a reação silenciosa. A edição mantém um timing dinâmico, mas que sabe aproveitar esses momentos e ao mesmo tempo suas narrações, que sempre vão revelando o lugar inóspito que está sendo visitado com muita calma, sendo degustado a cada palavra.

Esta é uma série que preenche uma lacuna das séries de turismo: o dark tourism, feito por pessoas com um tédio acima do normal (geralmente a classe média sofre mais aventureira dos países de primeiro mundo). Afinal, quem se divertiria em um passeio em que você é tratado como um imigrante mexicano tentando atravessar a fronteira e não ser morto por bandidos e traficantes pelo caminho, ou sair do conforto do lar para sentir a tensão de um local com níveis de radiação muito acima do seguro?

Mas essa série também começa a responder uma questão instigante: esse turismo está se tornando popular porque algumas pessoas em algumas partes do mundo estão perdendo a noção de realidade, presas em seu confortável e previsível mundo?

Uma questão interessante de ser respondida com passeios como os feitos pelo host, David Farrier. E apresentados por ele.


# Vídeo: Visual Studio e seu depurador (comentado)

Caloni, 2018-07-27 computer videos [up] [copy]

Segue meu segundo vídeo curto onde estou apenas demonstrando como é o depurador do Visual Studio. Mas dessa vez com comentários =)


# Para o Que Der e Vier

Caloni, 2018-07-28 cinema movies [up] [copy]

Aparentemente este é um filme sessão da tarde, mas ele tem personagens que são cativantes de acompanhar, seja por eles serem vividos por atores cujas personas já conhecemos ou pelos seus conflitos e desafios serem tão comuns quanto... banais.

Cada um tem o que pensar nesse filme dirigido e escrito por Matthew Weiner, um escritor para TV (Família Soprano, Mad Men). O personagem de Owen Wilson tem um emprego como homem do tempo em sua cidade local e vive de arrumar rolos com mulheres. Ele não sabe o que quer da vida, e gasta boa parte do seu tempo fumando uns baseados com seu amigo interpretado por Zack Galifianakis, que está escrevendo um livro sobre as mazelas do mundo de comida envenenada e a violência contra os animais em um caderno amassado. Quando o pai morre e deixa quase tudo para ele (e não para a irmã, Amy Poehler) para ele deixar se ser "porra louca" isso é motivo o suficiente para ele ficar louco de vez e deixar todos em sua volta preocupados, incluindo sua jovem, linda e perfeita madastra (a linda e perfeita Melissa Rauch, que para muitos vai passar batido, como eu, mas se trata da estranha mas voluptuosa Bernadette da série The Big Bang Theory).

A dinâmica do filme é questionar os valores e ações de todos envolvidos, onde todos buscam se encaixar, o que já seria combustível para uma boa comédia, mas vira apenas apelo a auto-piedade e um drama existencialista embutido em um filme indie (em sua clássica fórmula de família disfuncional) adaptado para não cair no mais do mesmo.

O bom do filme são as falas, e todos têm oportunidade para dizer ótimas falas. Não me lembro exatamente de nenhuma agora porque elas não estão inseridas em uma história de primeira onde elas busquem um maior sentido, com personagens melhor construídos, com mais profundidade. Mas quem liga? Às vezes me sinto apenas folheando um livro barato de auto ajuda na loja, me inspirando um pouco com perguntas ou respostas sobre o que fazer quando não se tem nenhum problema sério na vida.

Infelizmente as falas nunca escondem o fato que a estrutura do filme é confusa. Em determinado momento vemos Owen Wilson com problemas com seu cartão de crédito, em vários encontros com mulheres diferentes. Em outro momento ele está na cama com a âncora do telejornal, mesmo tendo se apaixonado pela madastra do amigo. Ao mesmo tempo, Galifianakis faz o revoltadinho clássico (e problemático, uma marca do autor) que faz as pazes com o falecido pai enquanto vai se acostumando em como é ser "funcional" (o que inclui voltar a comer carne).

"Para o Que Der e Vier" se vende como muitas coisas mas é superficial demais em todas elas. Nunca passa de uma folheada inspirada na sessão de auto ajuda de uma livraria. Boas risadas, mas nem lembro mais em quais livros eu dei uma olhada. Procure pelas capas menos vistosas.


# Cinquenta Tons de Liberdade

Caloni, 2018-07-29 cinema movies [up] [copy]

Cinquenta Tons de Liberdade é um grande vídeo de casamento feito para um casal rico que tenta criar algum drama em suas vidas vazias e desinteressantes. Para isso se tornar minimamente assistível para nós, reles mortais e espectadores boquiabertos pelo fiapo de vida das pessoas ricas, foi necessário lotar o vídeo com mansões, jatos, iates, carrões, guarda-costas, alguns acontecimentos levemente empolgantes, uma trama sem sentido e com um clímax enjoativo, e a luxúria que parece tornar a sala vermelha do casal Grey a coisa mais sexy e controversa que existe no Cinema da atualidade. Esses americanos, aparentemente, nunca viram um filme europeu na vida.

Dirigido mais uma vez por James Foley, baseado em mais um dos livros da "saga", este filme possui momentos verdadeiramente embaraçosos na carreira de Foley, acostumado a filmar políticos em Washington com sua sisudez indecente em House of Cards. Aqui a indecência é não haver história nenhuma para contar, e todas as cenas parecerem uma propaganda de férias luxuosas. No começo o casal Grey se casa, juram aquelas baboseiras que todos juram e segue-se pessoas indo de um lugar a outro com carros e seus motoristas, jatinhos particulares, além de pelo menos três mansões diferentes, se eu contei certo. Todo esse estresse de ter que se locomover durante o filme inteiro merece um pouco de champanhe e sexo, devidamente sanitizados em mesinhas e salas vermelhas.

As ideias dentro do filme nunca são exploradas, mas apenas descritas. Dessa forma nunca se cria tensão alguma, mudança nenhuma. Eles decidem se mudar para uma casa que será construída por uma arquiteta gostosa que dá em cima do bilionário que a estudante sem graça interpretada pela Dakota Johnson pescou. Essa é uma cena tensa porque ela precisa tomar as rédeas de ser uma esposa e manter seu marido longe das biscates. Fim de cena. Ah, eles vão mudar para a nova casa, mas nunca é mencionado nada sobre como será a sala vermelha. Detalhes irrelevantes em uma série que diz ser justamente sobre sadomasoquismo (a não ser que a experiência sado seja mesmo acompanhar um pós-casamento de rico; daí estamos de acordo).

Mas pulei a lua de mel. Como pude? Simples: pensei que havia ido para os comerciais. Nele uma agência de viagens apresenta um casal se divertindo em um passeio luxuoso por Paris, ilhas gregas e mais alguns lugares que devem aparecer nas ofertas no final da propaganda e... não, é filme mesmo. Sabe por que não sentimos ser um filme? Por que nunca houve identificação do espectador com esses dois. Eles são tão comunzinhos que chega a ser ridículo que existam seis horas de filme para o casal tão sem graça que torna Bella e Edward da "saga" Crepúsculo até que uma aventura simpática.

Aqui a única coisa que lembra a descerebrada da Bella é a Sra. Grey indo sozinha tomar conta de um sequestro, mesmo sabendo que a família Grey conta com guarda-costas bem armados e uma equipe de segurança pronta para agir em qualquer um dos cantos de Seattle. É de tirar o fôlego como os novos-ricos podem ser estúpidos.

E é claro que vai ter gravidez. Ou você pensou que todo aquele sexo poderia ser saudável para sempre?


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