# Cabeça Quente

Caloni, 2023-02-09 cinema series [up] [copy]

É uma distopia chupinhada da epidemia de COVID feita por um millennial que se diverte colocando referências de um livro que ele leu chamado 1984, mas a trama precisa ser explicada todo tempo em diálogos expositivos e as reviravoltas entretém como um passatempo. Nós nunca adentramos de fato neste universo poetizado que relaciona os disparates dos infectados por um vírus semântico e o grito da liberdade dos revolucionários ou dos que sonham pelo fim dos tempos sombrios. O uso das palavras como a via de transmissão é uma ideia que é aproveitada para contar um pouco sobre a novilíngua, com a proibição de termos arcaicos junto de frases sem sentido. Uma brincadeira inocente em um mundo cinza claro. A Julia e o Wilson da série são réplicas em fisionomia, mas não em alma. Esta é uma versão pobre, enlatada, da distopia orwelliana, mais que Brazil, o Filme. Mas não ofende. Apenas precisando suportar as cenas que revelam se tratar de uma criação menor, menos trabalhada, mais preguiçosa. Não chega a ser ruim. Outros millennials devem curtir mais.


# Pinóquio do Guilhermo del Toro

Caloni, 2023-02-14 cinema movies [up] [copy]

Este Pinóquio é feito com stop motion, o que não poderia ser mais perfeito para a história de um boneco de madeira que ganha vida. Quem dá vida a Pinóquio e o universo onde a história se passa é essa equipe de artistas, animadores, dubladores, músicos e diretores.

O filme é potente na medida em que se distancia da natureza mais infantil do Pinóquio da Disney. Ele fala abertamente da morte. A fada que dá vida ao boneco vem direto do Labirinto do Fauno. Gepeto é um velho bêbado cuja roupa maltrapilha reflete sua alma chacoalhada e inquieta pela morte do seu filho Carlos.

As questões filosóficas de dar vida a seres inertes faz lembrar do último trabalho que fez isso direito, Toy Story 4. Mas esta é uma versão mais sombria, mais realista. Mais feia, portanto poderosa. Não podemos descartar esta obra de ser séria por ser uma animação ou uma história infantil, pois são essas características que tornam a obra mais profunda, mais livre para criar seu próprio mundo.

E ele cria. Desde um monstro dos mares passando por um macaco maltrapilho e um grilo mecatrônico, Pinóquio busca referências reais e as transforma com o poder da imaginação de seus autores. É difícil olhar para alguns momentos em que vemos a perfeição deste mundo de faz-de-conta e não nos emocionarmos pela técnica e pelo amor dedicado a cada segundo de projeção.

Alguns elementos não são originais, lembram alguns clichês, como o vilão, e nem sempre a arte é fácil de ser vista. Apesar de ser longo o filme possui alguns detalhes que merecem uma revisita.


# 365 Dias

Caloni, 2023-02-20 cinema movies [up] [copy]

Este soft porn vai na pegada de 50 Tons de Cinza, um Emmanuelle moderno onde o objetivo é vermos o casal principal fazer um sexo gostoso e selvagem em várias posições e lugares, mas antes disso há uma historinha das mais capengas. A história não suporta o filme, não mais que os atraentes atores. Ele é o macho alfa perfeito, musculoso e bem dotado, mafioso italiano que está acostumado a conseguir o que deseja nem que seja à força. É assim que ele sequestra ela, a fêmea alfa, uma executiva competente e dura na queda. E gostosa. Muito gostosa. Ela sabe que é gostosa e sabe usar seu corpo pelo bem das melhores cenas ou dos melhores ângulos. Há pagamento de peitinho, caso você esteja se perguntando. Há alguns planos-detalhe até que ousados, pegando os membros sexuais do casal de relance. O sexo, aliás, está bem longe do papai-mamãe dos 50 Tons da Dakota Johnson. Aqui os dois botam pra quebrar. As mamães que se segurem na poltrona do cinema. Ops, é streaming. Só tomem cuidado com o que aprontam na sala.


# Modern Love Tokyo

Caloni, 2023-02-20 cinema movies [up] [copy]

A temporada japonesa está bem boa. A direção competente e um elenco afiado. A primeira e a última histórias são chamarizes errados, mas as histórias do centro são muito mais maduras e bem desenhadas. Há encontros de personagens que flertam com estilos de encontros a dois do cinema. Uma coincidência incrível acontece quando dois matches de app passam uma tarde tenra e iluminada para se descobrirem em um déjà vu que deu muito errado no passado, mas ao mesmo tempo muito certo. As forças do destino são encantadoras neste episódio. E o que dizer do misterioso homem que engana uma jornalista investigativa por nenhuma vantagem exceto sentir felicidade mais uma vez? Junto da história das pontes, onde um ex-casal reavalia o peso do sexo na relação, cada um à sua maneira, Modern Love merece sua atenção por estar acima da média. Por ter um coração. E por ser entretenimento emocionante inteligente.


# 365 Dias - Hoje

Caloni, 2023-02-24 cinema movies [up] [copy]

A saga de Emanuelle continua. Porém, nesse episódio começo a me tocar que a história baseada em um romance erótico cheira muito mais a Sabrina. Cheiro de orgasmos múltiplos de uma mulher envolta de muito sexo, dinheiro, poder e álcool. A vida dos milionários neste filme pode ofender os olhos da classe média artística por tanta ostentação. Você sabe, aquela classe média que faz filme sobre os pobres e ganha cachês gordos do governo. Mas não é só sobre dinheiro. É o que mais você vê na história, porque não existe história, mas não é sobre isso apenas. É sobre sexo sem limites. Ele mete. Ela goza. Ele chupa. Ela goza. Ele mete. Ela goza mais uma vez. Em meio a cenas muito bem coreografadas dos dois pombinhos se pegando pra valer você percebe que está assistindo a um daqueles pornôs que deseja se sentir único, diferente. E ele é. O filme quer fazer parte do circuito comercial. Normalizar o sexo pelo sexo. Essa realidade já existe nos livros eróticos há tanto tempo nas bancas de jornal, ao lado das capas do Bukowski. É material comum para atiçar o gosto pela leitura das mulheres de meia-idade. Por que diabos não pode passar isso no cinema em grande estilo, com atores e atrizes gostosas vivendo o luxo dos 1% e se divertindo nas trivialidades de não ter que se preocupar com o dia de amanhã? Muitos dos personagens olham compenetrados para o horizonte e nada vêem, pois suas mentes são vazias. Mas é tão belo esse hiato entre uma foda e outra. É lugar comum. Todo filme faz isso, mesmo que sem foda, e a maioria não quer dizer nada. É um ato preguiçoso do roteiro. Dá profundidade sem se preocupar em desenvolver tramas. Tudo isso dá trabalho e o que eles querem é grana e fama.


# 365 Dias Finais

Caloni, 2023-02-24 cinema movies [up] [copy]

Mais sexo, que está ficando repetitivo. Com exceção de um ménage imaginado em que os dois machos alfa se beijam. Este drama erótico é mais maduro que a saga Crepúsculo, que não teve coragem de mostrar um momento erótico sequer entre o vampiro e o lobinho, nem quando rolou um clima entre eles na montanha e deixaram a Bella de escanteio. Este é um trabalho mais maduro também porque reconhece que triângulos amorosos são mais complicados que uma simples escolha, mesmo que a escolha seja quem vai trepar com a fêmea alfa, já que nunca houve um relacionamento de verdade entre esses personagens mal acabados. Eles são nossa imaginação de pobre sobre como é o mundo dos ricos, olhando para o horizonte toda hora, jogando tênis, cuidando de um ateliê quando dá na telha e indo para Portugal, onde ninguém fala português, a um desfile de moda. A capacidade do filme nos entreter sem mostrar nada de novo por duas horas é fascinante. A luxúria é fascinante. Ela atrai qualquer um de nós, ou pelo menos qualquer um que é minimamente, saudavelmente, materialista. E enxerga um quê de bonecos sexuais nesta aventura erótica sem sexo explícito. E por fim, dica, o filme continua sem terminar seus arcos. Este é apenas mais um deles.


# A Escalada (2017)

Caloni, 2023-02-24 cinema movies [up] [copy]

Um filme recente sobre o fato real do primeiro franco-senegalês sem experiência nenhuma a subir o Monte Everest, e é lógico que vai ter um monte de conteúdo social nessa bodega sobre o jovem millennial desempregado que queria comer uma francesinha e como prova do seu amor foi subir o maior morro do planeta. Claro que ele consegue patrocínio (que mídia do primeiro mundo não quer um senegalês imigrante no topo do mundo?). Claro que tudo vai passar na rádio local. E claro que ele vai conseguir. O resto da história é a curiosidade de como as pessoas escalam este topo impossível, os pontos de parada, como existe um comércio criado pelos moradores locais para vender equipamentos e serviços de guia e mulas. Tudo é muito interessante e cabe em um documentário. A história de sucesso do rapaz carece de emoção. O filme torce mais pela mensagem que pela conquista.


# Não passei em uma entrevista técnica

Caloni, 2023-02-24 computer [up] [copy]

Fui ingênuo em minha primeira entrevista técnica depois de muito tempo sem fazer. Pensei que iam avaliar minha tentativa de resolver problemas, e não para resolver mesmo, naquela meia-hora de call, silêncio e compartilhamento de tela. Na metade da entrevista, depois de explicar para a entrevistadora, uma das arquitetas sênior do lugar onde pretendia trabalhar, como resolvi um bug no algoritmo blowfish de tempo real asm de um boot de hd ela me pede pra fazer um teste de programação. O teste consiste em comprimir números repetidos de uma string, algo digno de campeonato de programação.

Até aí tudo bem, fui fazendo. Depois de umas três retentativas de compilar, rodar, depurar no "passou por aqui" (não havia depurador no ambiente web), estava quase pronto, faltando um detalhe recursivo no método pedido. Esse último detalhe que não deu tempo.

O mais curioso é que fiquei com isso na cabeça. Após a entrevista fui ao dentista. Na sala de espera acessei o replit pelo celular, refiz o código e consegui resolver. Mas já era tarde. Eu estava na sala de espera do dentista, meia-hora depois da entrevista ter terminado.

#include <iostream>
using namespace std;
string compress(string input)
{
    string orInput;
    do
    {
        orInput = input;
        for (size_t i = 0; i < input.size() - 1; ++i)
        {
            if (input[i] == input[i + 1])
            {
                size_t end = i + 2;
                while (end < input.size() && input[end] == input[i])
                {
                    ++end;
                }
                input.erase(i, end - i);
                --i;
            }
        }
    } while (orInput != input);
    return input;
}
int main()
{
    string input = "235554431";
    string output = compress(input);
    cout << "input: " << input << '\n'
        << "output: " << output << endl;
}

O objetivo estava cumprido:

input: 235554431
output: 21

Na noite seguinte, antes de acordar, "sonhei" com uma solução mais elegante. Acho que me lembro. A ideia-chave era apenas reiniciar do começo da string após cada compressão.

#include <iostream>
using namespace std;
string compress(string input)
{
    for (size_t i = 0; i < input.size() - 1; ++i)
    {
        if (input[i] == input[i + 1])
        {
            size_t end = i + 2;
            while (end < input.size() && input[end] == input[i])
            {
                ++end;
            }
            input.erase(i, end - i);
            i = -1;
            continue;
        }
    }
    return input;
}
int main()
{
    string input = "235554431";
    string output = compress(input);
    cout << "input: " << input << '\n'
        << "output: " << output << endl;
}

Incrível como as ideias vêm quando menos esperamos. E elas não vêm na meia-hora que você mais precisa. Uma eternidade, agora pensando melhor.


# Volta ao Mundo em 80 Dias: Uma Aposta Muito Louca

Caloni, 2023-02-24 cinema movies [up] [copy]

Esta aventura de Sessão da Tarde é sobre os inventores da vacina de COVID ganhando poderes acima da própria ciência, desbancando cientistas fora da academia em um movimento pró-elitista. Ele foi feito 15 anos antes da pandemia e é inspirado no livro clássico de Júlio Verne, um defensor irrestrito da ciência como fonte de conhecimento do mundo pelo homem e não um instrumento político. A época é o Iluminismo, quando os eleitos decidem que tudo o que poderia ter sido descoberto e inventado já o foi. O filme tem esse pano de fundo temático, mas é filmado como uma grande comédia de aventura, com direito a Jackie Chan por trás de alguns malabarismos de sua autoria, já com cortes (antigamente ele não precisava disso) e um interesse romântico divertido quase no espírito das personagens femininas de Fellini ou Chaplin. Bacana e bonita a moça, Cécile de France, mesmo que sua beleza material esteja nas mãos de uma maquiagem exagerada e teatral com um penteado maravilhoso. Toda a direção de arte segue esse mesmo princípio do exagerado, cartunesco e ao mesmo tempo épico. O filme nos insere nas referências da obra original modificada como uma homenagem pulsante. Perde fôlego nos momentos finais, mas são quase duas horas de bastante improviso cômico que quer ser espontâneo ainda no espírito de filmes como os de Indiana Jones e Caçador de Esmeraldas. Seu protagonista é interpretado por Steve Coogan, que hoje lembra um pouco os papéis que são entregues a Adam Driver, o queridinho de Hollywood. Porém, Drive dificilmente atinge a intensidade cômica que Coogan imprime neste trabalho de falastrão inventor. Todo o trabalho é editado com dinamismo, mesmo que burocrático.


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