# Lookism

Caloni, 2023-01-02 cinema animes [up] [copy]

Este anime feito com computação é baseado em um webtoon coreano e apresenta as vicissitudes dos jovens e a luta pela aparência na escola e as questões existenciais de quem é vítima de bullying de gangues e valentões. Há um traço dramático representado por um gordo feio e nojento e sua dedicada mãe, que teme por seu filho sozinho na selva das aparências e na medida de força dos rapazes. A série exagera as situações humilhantes o suficiente para gostarmos da humilhação que o protagonista sofre, o que é problemático. A ideia era termos pena ou refletir sobre o assunto? Ele é cartunesco demais. Sua introdução revela o final da temporada, com uma dupla de vocalistas inesperada. A melhor ideia da história é que o gordo ganha um corpo perfeito para passar metade do dia. Enquanto um corpo está sendo usado o outro dorme. Essa simplicidade da ideia permite explorar melhor a relação entre o nosso corpo e nossa mente, ou a mente de um jovem, sempre se comparando e ansioso para fazer parte de qualquer grupo. A trilha sonora é bacana, kpop.


# Túmulo com Vista (Plots With a View / Undertaking Betty)

Caloni, 2023-01-04 cinema movies [up] [copy]

Um filme engraçadinho de 2001 em que Alfred Molina se apaixona desde criança pela Betty do título e os encontramos na meia-idade no meio das contradições de adultos na cidadezinha de 7k habitantes, onde a piada do filme é a placa de boas vindas com o contador de habitantes sendo diminuído em um número riscado após o outro. O personagem de Molina é um agente funerário e para conseguir fugir com o amor de sua vida ele parte para um plano até que previsível, mas divertido para aqueles com a alma simples. Algumas brincadeiras nesta comédia passam um pouco dos limites de nossa crença, mas nós nos deixamos levar pelo bem estar das risadas de humor negro. E se até Christopher Walken se diverte como o estrangeiro americano que compete por defuntos montando velórios temáticos, quem somos nós para estragar a brincadeira com devaneios intelectuais sobre a brevidade da vida e o quão bom os roteiros começam e o quão trágico eles terminam? Não espere muito da metade para o final, mas espere eventualmente se deparar com as curvas de Naomi Watts em seus adoráveis 34 anos.


# Ruído Branco (White Noise)

Caloni, 2023-01-04 cinema movies [up] [copy]

A mente amalucada e irreverente do cineasta Noah Baumbach encabeça este trabalho pós-pandemia que graças a Deus é bem humorado. Seus diálogos inflados e enfadonhos nos preparam melhor para o filme-catástrofe, que quando chega ganha a assinatura do diretor e um frescor de novos ventos. Metalinguístico por natureza, a narrativa interna fala sobre a narrativa em si, escapando de maneira esperta do velho caminho de todos os gêneros que ele aborda. Aliás, não escapa: comenta olhando de fora e se inserindo com uma roupagem que reflete tudo que sabemos e gostamos sobre cinema. Bom, talvez não tudo.

Há um núcleo, mas vários epicentros que são simbólicos e que hoje se erguem como totens de uma nova era. A fascinação por Hitler, sendo comparada com Elvis em uma sequência imortal. A nova igreja, o supermercado, onde a comunidade mantém seus laços capitalistas e individualistas em uma dança secreta e consensual. E que dança pós-créditos, meus amigos!

Temas tão caros como o medo da morte e a era da desinformação surgem tão naturais que o filme faz parecer fácil abordar esses assuntos. White Noise pode até ser uma masturbação cinematográfica, mas é feminina, com orgasmos múltiplos, que podem ser tão ou mais potentes que um único. É difícil de dizer como você se sentirá. Com sono? Anestesiado? Ambos? Queremos falar sobre isso?

Não, ninguém quer. E por isso obras que desejam nos trazer ar puro depois dessa nuvem negra e tenebrosa ter passado, com a promessa de novas tempestades, são tão raras e tão desejáveis.

Continua sendo bom curtir um Baumbach em meio ao divertimento de streaming inconsequente. Ele está apoiado em material de primeira do escritor original, Don DeLillo, também de Cosmópolis. O diretor nos entrega algumas horas que podemos desperdiçar em nossas vidas em busca de paz sobre os medos que se passam quando tudo o que temos são freiras alemãs que não crêem no paraíso.


# Leituras e experiência sobre jejum intermitente

Caloni, 2023-01-07 body [up] [copy]

Meu padrão alimentar está claro para mim. Ficar em jejum por um tempo é um exercício previsto e que exerço como uma rotina por muitos anos. Após se acostumar o impacto é baixo, tanto da fome quanto da escolha. Porém, fazer restrição calórica, ou seja, comer apenas um pouco, me causa ansiedade. A ansiedade, por sua vez, é o que desencadeia medidas precipitadas, como ingerir açúcar e outros alimentos no impulso, me impedindo de sentir a experiência de comer calmamente. O foco está mais na quantidade consumida no momento do impulso. Enquanto essa satisfação não chega, e demora para chegar, o impulso continua, geralmente alienando tudo que estou consumindo no momento. Não existe consciência nesse momento, apenas instinto se "justificando" com o racional. Após esse período, chega uma leve culpa ou remorso. Esse relato não foge muito do que já foi estudado pela ciência, o que é bom. E uma coisa é certa: as soluções para este comportamento nunca podem ser punitivas ou exageradas, pois o efeito rebote sempre faz piorar esse impulso, que se assemelha muito a um vício.

Estou lendo textos do site WeFast, onde um grupo de mulheres decidiu reunir conteúdo de cunho científico formatado para leigos sobre como mulheres podem se aproveitar de jejum intermitente para diminuir a incidência de doenças relacionadas ao desequilíbrio alimentar. É um grupo focado para mulheres, mas ainda melhor, pois mulheres sofrem mais para fazer jejum (isso é fato), o que pode ajudar os mais fracos de força de vontade também, mulheres ou não. Segue abaixo os recortes dessas leituras, o que pode ser usado mais tarde para o meu texto de como jejum funciona.

Say Goodbye To Sugar Cravings With Intermittent Fasting

Insulin regulates blood sugar levels. When you eat, blood sugar levels rise, and insulin is released. The food consumed is converted to energy for the body. But if you consume more than your body needs, the excess is stored as fat. When your body is in a fasted state, insulin levels are very low, and the body turns to the stored fat to burn for energy.
When one stays in a fasted state for a long period, leptin levels start to drop. This may cause feelings of increased hunger and desires for sugar the first couple of weeks. As leptin levels normalize, hunger and sugar cravings subside and in time the sugar craving cycle can be broken.
Leptin is released from fat cells. It creates a feeling of fullness and suppresses appetite for a period. It tells the brain you are full and to start burning calories for energy. When leptin levels increase, metabolism speeds up in normal-weight individuals.
Women may find it difficult to overcome leptin resistance because they naturally have higher leptin levels than men.
Here are a few tips to help you with sugar cravings until your body can normalize leptin levels and the desires go away:
- Drink sugar-free liquids allowed during the fast.
- Use peppermint essential oil that is safe for ingestion in your water during the fast.
- Chew sugar-free gum during your eating window
- Make sure to eat enough unprocessed foods during your eating window that include healthy carbohydrates such as fruits and quinoa.
- Stay busy and out of the kitchen.
- Keep your hands occupied, and your mind distracted.
- Dig deep and remember all the healthy reasons you want to reduce your sugar consumption.

How Intermittent Fasting can help you Sleep better

Insulin is produced by the pancreas. The pancreas is highly sensitive to melatonin. Because you are fasting when you sleep, the body doesn't need high insulin levels to deal with rising blood sugar. Melatonin binds to receptors in the pancreas, slowing down insulin production.
One of the bonuses of intermittent fasting is that it triggers the production of the human growth hormone, which naturally depletes with age. The human growth hormone (HgH) is produced during sleep and has amazing benefits for the body, including:
- Maintains, builds, and repairs healthy tissues in the brain and other organs.
- Burns fat
- Boosts metabolism.
- Builds muscle mass.
- Slows aging process.
- Improves quality and appearance of skin.
- Speeds up healing and muscle repair.
One study showed that after a week of intermittent fasting, people woke up in the night less frequently, moved around in their sleep less, spent more time in the deep REM stage of sleep, and reported better overall sleep quality.

Intermittent Fasting And Hormones For A Better Balance

There are a few main hormones, which you can “fix” with intermittent fasting and help yourself to achieve better health conditions:
- Insulin
- Leptin
- Growth hormone
- Ghrelin
- Sex hormones
- Thyroid hormones
High levels of insulin are also called hyperinsulinemia. When you develop such a condition, your body becomes insensitive to the hormone and leads to resistance and in the end, your cells are not able to get needed energy and essential nutrients and you starve from inside. At the same time, your body tries to “fix” the situation by releasing more insulin that worsens the resistance even more.
You can call leptin the main satiety hormone. It is mostly secreted by fat cells (adipocytes) and gives the signal to our brain that there is enough “potential energy” (read fat) to survive, so we don’t need to consume more food.
When we keep eating, we store food for later use as fat and our adipocytes get enlarged and they “scream” STOP EATING by producing a lot of leptin. Similarly to insulin, constantly high leptin levels lead to leptin resistance. As a result, our brain stops reacting to the signals and instead of feeling satiated, we feel hungry all the time, we eat more, we store more fat and we develop even stronger resistance to leptin.
Opposite to satiety hormone leptin, our body releases the “hunger hormone”-ghrelin at certain times and the level of this hormone drops down after a meal. Imbalance in this hormone is associated with increased food intake, which leads to obesity. Studies show that overweight and obese people have just a slight drop in ghrelin levels after a meal, which means that they are still hungry even if they’ve eaten.
Human growth hormone (HGH) is essential for cell regeneration and reproduction, bone density, strong immune system and speed of metabolism. We lose the ability to produce this hormone with ageing, but studies show that intermittent fasting dramatically triggers an increase in HGH as a protective mechanism for bone and tissue.

How does intermittent fasting help with insulin resistance

When you eat something, your blood sugar rises. The pancreas then secretes insulin to lower your blood sugar. Muscle cells take sugar from the blood for immediate use. But the muscles and liver can also store sugar (as glycogen) for later use.
As soon as blood sugar levels return to the normal range, insulin also returns to normal. Now, the stored energy can be accessed. The body first uses its stored sugar. This helps to keep the blood sugar stable in between meals. The more sugar storage gets depleted, the more fat is released from the fat cells.
Meal --> Blood sugar and insulin go up --> What is not immediately needed is stored for later use --> Blood sugar and insulin return to normal --> Energy stores are used until the next meal.
But the pancreas cannot produce unlimited amounts of insulin. At some point, the need for insulin (due to advanced insulin resistance) is higher than what the pancreas can supply. As a consequence, the blood sugar rises beyond healthy levels–even between meals.
Many factors can contribute to insulin resistance. Certain genetic predispositions can promote its development. Also, lifestyle factors such as a lack of exercise and sleep, and too much stress can lead to insulin resistance. But in most cases, eating habits are driving insulin resistance.
When cells get overloaded with energy, they try to protect themselves by becoming insulin resistant. And because insulin resistance is accompanied by high levels of the storage hormone insulin, it makes it difficult to access our energy storage. Having no access to our energy storage means that we become hungry very soon after a meal.
So we eat despite having plenty of stored energy. A simpler way to say this is: overeating causes insulin resistance, and insulin resistance, in turn, causes overeating. It’s a vicious cycle.
When the liver’s glycogen storage areas are overflowing, it starts to convert glucose into fat. This fat can be stored in fat cells, but their capacity to store fat is also limited. (How much fat fat cells can store is unique to each individual. For this reason, some people gain a lot of weight, while others stay slim despite overeating.)
The liver has many functions in sugar and fat metabolism. Fat in the liver interferes with these functions. For this reason, fatty liver leads to unhealthy cholesterol levels (high LDL–the “bad” cholesterol and low HDL–the “good” cholesterol), elevated blood lipids, and also indirectly to high blood sugar.
A fatty liver is reversible in the early stages. But too much fat in the liver leads to scarring of liver tissue (cirrhosis of the liver), which is hard to reverse and can even lead to liver failure.
Moreover, insulin resistance leads to the so-called metabolic syndrome. The metabolic syndrome has the following symptoms:
- Enlarged waist circumference: >= 102 cm in men and >= 88 cm in women.
- High blood pressure: systolic blood pressure >= 130 mmHg, diastolic blood pressure >= 85 mmHg.
- Elevated triglycerides (blood lipids): >= 150 mg/dl
- Low HDL-cholesterol: < 40 mg/dL in men and < 50 mg/dL in women.
- High fasting blood sugar: >= 100 mg/dL
Metabolic syndrome is diagnosed when at least three of these symptoms are present.
Intermittent fasting is very powerful in improving insulin resistance–within a few weeks. Studies show that intermittent fasting can improve all signs of insulin resistance. It: lowers blood pressure, facilitates weight loss (especially in the belly area, improves cholesterol, lowers triglycerides, reduces oxidative stress (a consequence of insulin resistance, improves blood sugar regulation, helps to get the appetite under control.
Why is intermittent fasting so effective in lowering insulin resistance? By extending the time between meals, you give your body the opportunity to access energy storage areas. Once your stored energy (especially glycogen) gets regularly depleted, insulin resistance improves.
Intermittent fasting breaks the vicious cycle: increasing the time between meals allows you to access your stored energy --> hunger fades --> insulin resistance improves.
The downside is that insulin resistance makes fasting more difficult. If you have signs of insulin resistance, you should slowly increase the time between meals when starting with intermittent fasting. For instance, you could start fasting for 12 hours, then proceed to 13 hours, then 14, and so on. Depending on the degree of your insulin resistance, it may take a few weeks or even months before you are able to fast for 16 hours (16/8-fasting).

# A Lição (The Glory)

Caloni, 2023-01-08 cinema series dorama [up] [copy]

Novelas coreanas são muito boas. A produção é boa. Os atores são bons. Os roteiros nem tanto. Porém, das produções de audiovisual do mundo, os roteiros das novelas coreanas são os que mais se aproximam daquela forma de arte que atrai pela nossa própria natureza de curiosos. Como em qualquer novela eles apelam para as emoções mais básicas, como injustiça, violência, luxúria, traições, vingança, paixão. Sexo, por que não. Os coreanos têm cada vez mais colocado as asinhas de fora por causa da fúria globalista. Todas essas características juntas tornam as novelas mais próximas do trash, que é um traço do cinema que todo cinéfilo deve gostar por obrigação. Do contrário, como conseguiria ver mais que um ou dois filmes por ano?

Mas há um outro traço nas novelas da Coreia que as tornam não apenas o lixo de todo dia, mas um lixo requintado. Há um polimento na produção. O básico, o simples de enxergar, é a fotografia e as direções de atores e de arte. O submerso na obra, que é consequência do básico, mas mais difícil de encontrar, é a mistura entre o riso e o lixo. Aquela risada fácil que não é fácil, porque está ancorada em questões sociais deste país que se identifica para o mundo como um povo de contrastes.

Falei sobre riso, mas pode-se encaixar tanto a risada quanto o dramalhão, ambos lados da mesma moeda novelística. No caso de The Glory, ou A Lição, é o dramalhão requintado, com toques de noir pós-moderno e roteiro confuso para nos fazer respirar a névoa enigmática por trás de uma vingança que não é um prato que se come frio: se come gelado, em longas 7 horas. Esta é uma série que pode se aproveitar das coincidências e mesmo assim dá muitas voltas para sair no mesmo lugar.

Há poucos risos nesta série que explora o bullying no seu núcleo social, na relação de dominantes e dominados, ou criminosos e vítimas. Uma vez vítima, sempre vítima, é o que realiza sua heroína, Moon Dong-Eun. Então ela decide se matar, e no ato acaba se matando mesmo. Metaforicamente. Do outro lado de sua decisão de abdicar de quem um dia foi abusada, um saco de pancadas inerte de seus colegas de classe, ressurge outra pessoa. Há um imprint de uma nova personagem em cima da original. Tanto que não identificamos traços da atriz da fase jovem Jung Ji-so em Song Hye-Kyo, absoluta e autocentrada na fase adulta. Diferente dos vilões, onde as versões jovens e adultas é só uma questão de idade, incluindo as mesmas relações de dominância que iniciaram no colégio. Vilões não mudam porque estão em um mundo que os favorece. Vítimas, por outro lado, precisam morrer. É a única maneira de reviverem como seres humanos. Essa é a mensagem mais bela que você irá encontrar nesta série coreana.


# O Cangaceiro do Futuro

Caloni, 2023-01-08 cinema series [up] [copy]

Esta comédia de costumes existe porque as produções de streaming precisam surgir com pouco dinheiro, ideias e paixão. Apresenta um nordestino na metrópole de São Paulo e que não faz nada direito. Seu sonho é voltar para seu Nordeste e seu santinho atende seu desejo, só que na época de Lampião, o cangaceiro sanguinário. E ele é a cara cuspida e escarrada do meliante. O vilarejo para onde ele vai parar lembra muito os elementos vistos em Deus e o Diabo na Terra do Sol, filme superestimado do Cinema Novo, dirigido por Glauber Rocha e sem roteiro. Assistindo ao Cangaceiro do Futuro nós entendemos porque algumas histórias ficam melhores sem roteiro.


# Olhar Indiscreto

Caloni, 2023-01-08 cinema series [up] [copy]

A hackerzinha brasileira é gostosa. Mas não muito, depende da ocasião. Ela tem a cor do pecado e observa sua vizinha com olhos de luxúria. Ela consegue invadir o sistema de câmeras do prédio onde sua musa vive apenas para exercitar seu hobby de voyeurismo. Mas a história não fica por aí. Tem uma trama envolvendo tráfico de mulheres, um garanhão cliente da puta que acaba comendo a hackerzinha também e violência sem sentido. As pessoas caem no chão e simplesmente morrem. Ela acaba matando o seu potencial estuprador só empurrando ele. A série começa com nossa heroína sendo sufocada (porque não empurraram ela?), mas logo parte para um flashback sobre o ano que se passou (que original). A preguiçosa narração em off com os pensamentos da dita cuja vem moderninhas, como gravações em áudio de seu diário (quanta segurança em sua privacidade). Esta é uma obra sobre como emular a fotografia de minisséries da GVT. Mas sem as atuações. Ou com elas. Não assisto GVT.


# É o Bruno!

Caloni, 2023-01-15 cinema series [up] [copy]

Produções independentes nos atraem porque é lá que encontramos as novidades. Em Bruno nós sabemos que não é exatamente assim, pois a produção é da Warner e distribuição Netflix, mas lembra, e só isso já atrai. A história é amadora e a direção é pedestre. Quem faz o protagonista é um ator muito ruim: Solvan Naim. Escritor, diretor e rapper, Naim é incapaz de demonstrar as emoções que seu personagem precisa, diferente de Bruno, o cão-título que está muito bem. Há uma hora no terceiro episódio da série em que o personagem de Naim, Malcolm, sente que está sobrando depois que sua namorada passa a cuidar do cachorro. Surge um breve momento em que as habilidades de Malcolm de adestrador de cães são requisitadas. É o momento daquela pontinha de orgulho aparecer. Nós sabemos, Naim sabe -- até porque está por trás da direção e roteiro -- e nada acontece. A interpretação de Naim é muito sutil, o que é uma maneira educada de dizer inexistente. A história é movida por enquetes rápidas e baratas, que lembram textos de comediantes como Louie C. Clark ou Mae Martin, embora falte essa personalidade que torna trabalhos de stand up valiosos. Do ponto de vista cinematográfico faz pensar em trabalhos como os de Robert Rodriguez (Machete). Não pela história, mas pela qualidade. Assistir algo de Rodriguez na maioria das vezes faz você entender que o filme poderia ser muito bom se alguém como Quentin Tarantino estivesse no comando. Rodriguez é o estagiário quebra-galho que faz o serviço com paixão, mas o resultado continua ruim. A produção de "It's Bruno" nos faz questionar a todo momento se estão brincando com a linguagem ou se são tão ruins mesmo. Mas isso é interessante; pelo menos mais que uma obra que mantém aquela qualidade mais enlatada, mal cheirosa, das obras que se multiplicam pelo streaming. A quebra do equilíbrio é o que dá valor a esta birosca com um cachorro.


# StarCraft

Caloni, 2023-01-15 games [up] [copy]

Quando eu joguei StarCraft pela primeira vez estava nos meus dezoito anos. Eu e meu amigo de infância e colégio estávamos aguardando ansiosamente pela estréia, junto do pessoal do Operation CWAL, um grupo de fãs precoces que não aguentava mais esperar e começaram a escrever uma espécie de fan fic metalinguistica onde eles roubavam a versão beta para conseguir jogar. A Blizzard já era conhecida pelos trabalhos de respeito WarCraft II e Diablo e mostrou uma prévia ruim em um evento de games onde foi comparado negativamente com o WarCraft II. Então eles voltaram para a prancheta e fizeram o serviço direito.

Nada havia nos preparado para o que estaria por vir. Um jogo de estratégia em tempo real com três raças de fato diferentes, com evolução e habilidades que não são simples cópias umas das outras. Havia um estudo por trás do desenvolvimento que criava uma história dentro do universo que parte da própria jogabilidade. O desenvolvimento do jogo não foi apenas uma simples escolha mercadológica. Existe alma nessas criações. Observando a produção enquanto se joga você pode sentir a paixão de seus desenvolvedores e artistas que demoraram não sei quantas horas no escritório para terminar essa segunda versão melhorada. Houve também a lenda, afirmada pela própria produtora, que o CD master dos fontes foi perdido e que tiveram que refazer do zero. Verdade ou não, o lançamento oficial fez jus à espera.

E logo depois criaram um pack de expansão com uma nova campanha e mais elementos no jogo.

A paixão por StarCraft começa em seu desenvolvimento e contagia beta testers e jogadores finais. Entusiastas gastaram dias e noites para fazer a engenharia reversa deste jogo, tão fascinados estavam pelo funcionamento da engine, baseada na de WarCraft II e que Bob Fitch, o tech lead da equipe, refez em dois meses para resolver de maneira mais simples coisas como invisibilidade. E a paixão estava de ambos os lados. Depois de vários anos o editor de fases criado pela comunidade era mais avançado que o que vinha no CD, tanto que em versões mais recentes o editor original foi aposentado. Esse é o nível de dedicação insana que este jogo trouxe. E até hoje. Em 2017 foi feita uma versão remasterizada, quase 20 anos depois do lançamento original. As melhorias apresentadas tornam mais agradável e simples jogar nos computadores atuais. Os novos gráficos e tela wide, além da possibilidade de alternar entre o modo clássico e o novo com um atalho no teclado em qualquer momento, continuam demonstrando esse capricho de um jogo que definiu um novo patamar de qualidade no gênero de RTS (Real Time Strategy).

A história do jogo caminha pelo mesmo esmero. Pautada em uma guerra entre as raças, a profundidade do pano de fundo muitos filmes do gênero nem sonham em atingir. Nas brincadeiras que ocorreram nas mentes dos seus criadores, Chris Metzen e James Phinney, existe a figura dos humanos adaptáveis do futuro, ex-criminosos transformados em colonos, vagando pela galáxia, e duas raças alienígenas que foram desenhadas por um "grande criador" de nome Xel'Naga. Como jogo este é um projeto que atrasou por muito tempo até ficar redondo, mas quando ficou pronto eles podiam exibir com orgulho as criações do universo.

Até a trilha sonora merece elogios. Compostas por Glenn Stafford e Derek Duke como que para um longa-metragem, as músicas favorecem nossa imersão neste universo. É feito para quem vai ouvir por horas sem enjoar. Ela contém nuances que evocam obras de referência no sci-fi espacial. Alien, por exemplo. Depois de zerar o jogo vai fazer parte de sua memória musical como um repertório que contém uma história, textura, peso e profundidade. Vai te fazer jogar de novo.

Existem três grandes divisões da campanha do jogo, uma por raça, teoricamente independentes, onde você pode começar por qualquer uma. Porém, se tentar inverter a ordem o jogo vai te sugerir seguir o caminho mais natural, que é primeiro Terrans, depois Zergs e por final os Protoss. Cada episódio te ajuda a usar melhor um tipo de tática com novos soldados da guerra e alguns ensinam um pouco sobre estratégia e economia de recursos. Aliás, jogar SC é uma verdadeira aula sobre gerenciar sua tropa em um ambiente escasso, além de base para entender a dinâmica de uma guerra. Foi usado, inclusive, como disciplina na universidade U.C. Berkeley.

Na campanha, uma fase anterior não necessariamente é mais fácil que uma mais avançada. Tudo depende de como você joga. Você pode se habituar melhor com uma raça específica ou estratégia específica, mas nem sempre ela vai funcionar. Outra função das fases de campanha é te mostrar isso na prática.

Aliás, a maior problemática no desenvolvimento deste jogo é exigir que o equilíbrio das forças entre as raças seja algo constante. Após lançado houve vários patches de correção. Além de correções de bugs, esses patches continham uma ou outra mudança nas regras do jogo com o objetivo de diminuir a vantagem de uma raça em uma situação específica. Houve um esforço significativo para evitar também aqueles jogadores que investem tudo na tática do rush, ou seja, construir que nem louco o mesmo tipo de infantaria e atacar com tudo. Hoje essas tentativas acabam falhando se você souber se defender direito. É esse tipo de detalhe que torna a obra um exemplo de esmero na arte da guerra.


# A Profecia do Mal

Caloni, 2023-01-16 cinemaqui cinema movies [up] [copy]

Todos nós gostaríamos de entender o religioso e sobrenatural com olhos mais literais. Porém, vivemos na era científica, onde é difícil conciliar crenças antigas e vida moderna. A Profecia do Mal tenta fazer essa união entre o real e o sagrado e não é de todo ruim. Afinal de contas, não importa o conhecimento objetivo do mundo, pois sempre haverá perguntas sem resposta. E quando não há respostas criamos os mitos; velhos ou novos.

Seguindo a tendência antropológica de dar cara às lendas, como foi feito por exemplo nos quadrinhos de Sandman e na sua adaptação para streaming, este thriller de horror constrói seus mitos em uma roupagem própria, mas sem reinventar nada. Vemos os anjos Lúcifer e Miguel no embate icônico em meio a um inferno literal, logo abaixo da superfície da Terra. O arcanjo Miguel cheio de pomposidades e energia na pele de Peter Mensah condena Lúcifer, que é mais efeitos de maquiagem do que o ator Joe Anderson por trás, e o prende por desafiar Deus.

Se passa um tempo, milhões ou milhares de anos, dependendo como você quer interpretar esta história, e uma profecia da Bíblia, próximo do seu final, se atualiza para os tempos atuais, ou ligeiramente no futuro, quando a manipulação genética chega a tal nível que é possível clonar humanos. Como todo filme que fala sobre cristianismo, ele se volta para o Vaticano e seus mitos. E o Santo Sudário, um dos objetos mais requisitados no cinema religioso dramático, é o protagonista dessa primeira parte, pois supostamente seria possível decodificar o código genético de Jesus Cristo. Mas isso nem se passa pela cabeça dos sacerdotes guardiões do artefato sagrado, claro.

Até aqui tudo bem. E fica melhor quando vemos um dos 1% leiloar crianças geradas a partir do DNA de artistas famosos. Vemos um garoto bem jovem tocar impecavelmente o violino para depois descobrirmos que se trata do clone de Vivaldi. A ideia é boa e faz coçar a cabeça. É aquele momento que algo novo e empolgante aparece na tela antes dos exageros comuns em filmes de ação estragarem o clima. O leilão em si é um ato vil e instigante ao mesmo tempo. É curioso e fácil pensar nessa imagem dilacerante: do poder da ganância em corromper os humanos a ponto de negociar cópias genéticas de outros humanos. Estando em um filme sobre religião e profecias demoníacas é duplamente escandaloso, pois torna o sacrilégio um bom negócio para os homens da Terra e para os demônios do inferno.

Mas voltando ao sobrenatural, entra em cena Laura (Alice Orr-Ewing), uma estudiosa de arte que não acredita nesses mitos. Talvez por ter estudado demais. Sendo apresentada nesse contexto, Laura, quase desnecessário dizer, irá engravidar do anticristo e descobrir às duras penas como seu ceticismo foi logrado por um filme que quer abusar das metáforas e ir logo para fumaças malditas saindo do chão e asas de anjo decolando seres imortais. Fora o derramamento de sangue, o que torna tudo mais impactante.

O exagero no gore e na narrativa faz pensar que há um certo desdém pelos personagens, o que é um sacrilégio na vida real. Indesculpável. Mas todo filme, sobrenatural ou não, precisa de dinheiro para ser produzido. Por ter um tema de nicho, eventualmente surge no contrato a exigência de mostrar demônios, anjos e outras criaturas horrendas de forma literal. E dessa forma a profecia maldita no filme continua poderosa na vida real: a ganância corrompe tudo, e no cinema transforma boas ideias em filmes inchados com efeitos burocráticos que ninguém precisa ver.

Outro problema que surge nesse tipo de projeto é não conseguir um elenco proeminente para segurar a bronca de um roteiro com diálogos sem imaginação. Atores e atrizes de peso fariam alguma coisa mesmo com texto ruim. Nem que fosse sarcasmo para cima do primeiro trabalho de Ed Alan. Não é o caso em A Profecia do Mal, que mesmo com esse nome tem a coragem de nos apresentar um elenco que parece acreditar nesse universo sem pensar duas vezes. Parece, mas sem energia, pois ninguém está muito interessado em viver na pele de seus confusos, precários personagens.

As exceções talvez sejam duas. Joe Doyle vive a reencarnação do Arcanjo Miguel na Terra e começa a gostar de ser tipo um Exterminador do Futuro na sequência de James Cameron e salvar a loira de parir uma maldição. E Eveline Hall, uma espécie de substituta de Helen Mirren, vive a humana mais devota de Satanás, além da mais insistente. Esses dois preenchem boa parte das duas horas de projeção em um vai-e-vem frenético para decidir o destino da humanidade ou do ventre da loira. Ou ambos.

Porém, visto como um todo, é difícil achar um momento de paixão pelo filme. Ele poderia ser um pouco mais ruim e incitar risadas acidentais e faria sucesso. Ou poderia ser um pouco melhor e ganhar uma certa fama com o tempo. Ficar no meio termo sabota os esforços que qualquer bem intencionado e incauto espectador teria ao estar na sala de cinema. E por que ele estaria lá? Sei lá, de repente foi o único horário que ele tinha na agenda e ele foi empolgado mesmo com esse título e nomes semi desconhecidos nos créditos. Enfim, não podemos culpar a vítima pelo crime. É raro, mas há boas descobertas quando vamos ao cinema. A notícia triste é que não foi dessa vez.

Todos nós gostaríamos de entender o sobrenatural em uma época cada vez mais objetiva e ganhar um certo amparo. E quando me refiro a sobrenatural não penso apenas em anjos e demônios, mas também em filmes como esse, de material original, que contra todo o bom senso acaba chegando às telonas brasileiras. Por que esses filmes vêm para cá? Pagaremos sempre pelos nossos pecados ao não saber julgar o que passa diante de nossos olhos. Essa, sim, é uma verdadeira maldição.


# Eu Sou Juani

Caloni, 2023-01-16 cinema movies [up] [copy]

Sim, ela é. E ela quer ser atriz. Mas antes disso tem muita pegação com o namorado dela e muitos carros customizados. Este é uma cria dos filmes do início dos anos 2000, da terra do pessoal que amava edição pesada estilo videoclipe e músicas idem. Não que isso seja ruim. O diretor David Fincher veio do videoclipe. O diretor Michael Bay também. OK, talvez isso seja ruim às vezes. Não que eu desgoste de A Rocha, por exemplo, filmão com Sean Connery e Nicolas Cage. Eu Sou Juani é um filme espanhol que veio inspirado no ritmo frenético dessa época. Você deve se lembrar dessa febre após Matrix, o divisor de décadas no cinema de ação. Tanto que este nem é um filme de ação e empresta a mesma vibe. Há uns momentos do filme que desconfio que são clipes, mesmo. Tem uma hora que toca uma música na rua e a câmera corta para uma minazinha cantando e olhando para a câmera. A história inteira é essa Juani tentando ser atriz. Vai pra Madrid depois que o namorado a trai. Ela não aguenta a pressão de ser assediada. Volta pra casa por causa do pai doente. Resolve assuntos não terminados com o namorado. Volta para Madrid. E o filme termina. Gostou?


# A Ilha dos Ilús

Caloni, 2023-01-22 cinemaqui tag_mostra_tiradentes cinema movies [up] [copy]

Este é o segundo dia da Mostra de Tiradentes e é a vez das crianças assistirem a um desenho porque é sábado. Essa parte do evento se chama de Mostrinha. Faz dois anos que o formato é apenas online e existe uma alegria estampada no rosto de todos na cidade pela volta do formato presencial. Depois de se falar em isolamento por tanto tempo o tema deste ano é Todos Juntos.

Antes da sessão vem o palhaço animar o Cine Tenda, que virou a sessão principal depois que a chuva veio pra ficar na cidade o dia inteiro. Para quem não conhece o evento existe uma sessão na praça ao ar livre, o Cine Praça, mas por motivos metereológicos ela estava migrando para o Cine Teatro.

Em A Ilha dos Ilus, animação do diretor Paulo G C Miranda feito em um 2D dos mais simples, não há humanos. Este é um filme sobre como os animais já sabem o que sabem antes sequer de nascer. A explicação é óbvia e acadêmica: eles frequentam a escola.

A ideia é que antes de serem traços 2D bem simples de animais os bichinhos são traços 2D mais simples ainda de humanoides. Esses seres se chamam de Ilus, e eles não oferecem muito à imaginação, pois são toscos demais (no significado original da palavra). O motivo é explicar que todos antes de desenvolverem suas diferenças seríamos todos iguais. Pelo menos os animais.

É decepcionante assistir a um desenho contemporâneo com ideias ultrapassadas de diversidade e sem qualquer esmero. Além da estética das cores nivelar a origem binária dos bichos, onde cores claras são bichinhos do bem e tons escuros são do mal, a dublagem não é feita por um elenco empolgado. É burocrático e infantil demais até para as crianças. A trilha sonora começa lembrando um pouco aquele fundo de jazz das animações de Snoopy, mas é apenas por alguns segundos até nos darmos conta que são meia dúzia de notas escolhidas a esmo para impor um gênero instrumental: aventura, comédia, suspense. De um modo geral a biblioteca disponível para montar as animações deste filme está desatualizada e sem talentos.

Metade das crianças foram embora antes do filme acabar. A outra metade não estava olhando para a tela. Este é o material que perde feio para Cartoon Network e animes japoneses por motivos diversos. Enquanto os desenhos da Cartoon são frenéticos e causam ataques de epilepsia nas crianças, os animes seguem uma longa tradição de capricho nos traços. Os desenhos são lindos, usando de computação ou feitos manualmente. Não dá para competir com isso. Os desenhos ocidentais estão indo de mal a pior na sua estética, e este exemplo brasileiro é apenas mais um.


# Caixa Preta

Caloni, 2023-01-22 cinemaqui tag_mostra_tiradentes cinema movies [up] [copy]

Eu gosto de cinema experimental porque me permite passar pelas sensações mais diversas em um mesmo filme e entender um pouco de mim mesmo em pouco tempo. E graças à Caixa Preta essa sessão teve um pouco disso. A montagem não é caótica, é da temática da negritude, o que é brega e chega atrasado, mas é um bom pano de fundo para o caos que vivemos após o movimento BLM e suas vertentes paralelas pelo mundo.

Filmes de percussão também nos entregam a oportunidade de se livrar de algumas amarras narrativas e enxergar até onde vai o idealizador. Nesse caso são três idealizadores responsáveis por essa colagem: Saskia, Bernardo Oliveira e Negro Leo. E para onde eles vão: não muito longe. O revolucionário da película se torna o mesmo berro de dor e angústia de tantos cineastas que compartilham a etnia e as mesmas ideias "originais" a respeito de história e desenvolvimento de uma identidade coletiva.

Mas o filme se destaca por um aspecto curioso: ele possui um volume altíssimo. Antes da sessão os cineastas fizeram um teste de amplitude da projeção e deixaram seus espectadores surdos, com o volume mais alto que você irá testemunhar dentro de uma sala de cinema. O nível é enlouquecedor a ponto de especularmos se trata-se de um teste de resistência, e quem sair antes do filme acabar ganha um prêmio.

Eu falhei. Não saí da sala, pois queria ver mais. Mas não ouvir. Tapei meus ouvidos. E hoje posso escrever isto deste filme: ao tapar meus ouvidos ele ficou muito melhor. É libertador poder se livrar deste áudio opressivo que fez parte dos últimos anos neste triste episódio da espécie humana. Estamos colhendo os frutos ainda. Então recomendo tapar os ouvidos e olhar para o outro lado quando conveniente. Fica a dica para se libertar deste novo cinema "livre".


# Canção ao Longe

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Clarissa Campolina, a diretora desta produção mineira supers-simpática, tem uma certa habilidade em enquadrar o cotidiano como um passeio natural pelas casas, as ruas, os prédios, as janelas e as vidas dos personagens de um roteiro que não a merece, embora seja um bom treino para futuros trabalhos.

Acompanhamos essa moça, Jimena, que está com o futuro encaminhado, mas que tem assuntos pendentes com o pai e a mãe. Assuntos de independência. Ela ainda mora com a mãe e a avó ao final de sua faculdade, o que é um caso comum hoje em dia, quando cada vez menos jovens conseguem se virar sozinhos antes dos 30. E seu pai abandonou a família desde quando ela era muito nova. Este também é uma constante na vida de muitas famílias. Sobretudo de pais negros. É até um estereótipo nos EUA pais negros fugirem da responsabilidade dos filhos. E como todo estereótipo revela um fundo de verdade, as estatísticas não mentem.

Uso a etnia do pai da personagem como um fator porque o próprio roteiro de Caetano Gotardo, Sara Pinheiro e Campolina usa esta abordagem ao afirmar a opressão racista de uma jovem de pele morena e mãe branca que prefere ficar sem tomar sol e parecer um pouco mais com as mulheres da casa. É este o nível de vergonha que esta jovem bem-sucedida retrata para suas amigas ou para si mesma.

Esta também é uma daquelas histórias sutis demais do disse-que-não-disse, quando não se fala sobre o motivo desta família ser assim. Não é o foco. A questão primordial é acompanharmos esta jovem rumo à independência de seus pais, mas não apenas financeiro, mas afetivo e simbólico.

Uma pequena poesia leve e serena pelas ruas de Belo Horizonte, Canção ao Longe é uma sessão agradável que revela alguns novos talentos do audiovisual, como sua sensível diretora e sua proeminente atriz, Mônica Maria.


# Chef Jack - O Cozinheiro Aventureiro

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Esta é a primeira animação 100% mineira. Tem como distribuidora a Sony e a Cinearte e participa da dublagem o lendário Guilherme Briggs. Está estreando em mais de 300 salas pelo Brasil e houve uma sessão nessa Mostra de Tiradentes na categoria Mostrinha, feita para as crianças e os mais jovens.

A proposta é misturar os temas de gastronomia e aventura, brasilidade e filme global. A competição de cozinheiros lembra Jogos Vorazes misturado com Master Chef. Não há muito de cozinha em si. É mais uma desculpa de assuntos da moda. Hoje o tema da culinária é responsável por mais séries de streaming que podemos acompanhar. As emoções de um reality show aliado a comida é uma muleta narrativa fácil de fisgar o espectador. Para crianças não é diferente.

A animação é bem feitinha, mas as cenas de ação são batidas feito uma reprise de Corrida Maluca. Inclusive o vilão lembra Dick Vigarista e ele tem um capanga um tanto lerdo alvo de piadas. As lições do filme querem falar sobre alternância de "poder" e amizade, mas o desenrolar é muito superficial, quase inexistente. Em meia dúzia de troca de palavras e todos os conflitos se resolvem. É para crianças e apenas para elas.


# Terruá Pará

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A diretora Jorane Castro apresentou o projeto no início da sessão como sendo sobre a diversidade amazônica, mas durante a projeção descobrimos ser muito mais sobre a miscelânea musical da capital paraense do que sobre a floresta.

A história de fato começa na floresta, e a intenção é que a narrativa comece e termine por lá. Essa é a lógica temporal. Começamos ouvindo o ritmo dos tambores e os sons da água para aos poucos novos gêneros e percursores da música regional apresentarem a sua visão dessa história que é contada por vários protagonistas contemporâneos.

As sequências se confundem com clipes musicais e a diretora é competente em criar as cenas que dialogam entre as diferentes paisagens, desde o mangue até a capital, passando pela floresta, pelo rio, pelo porto e a periferia. A localização espacial do filme é privilegiada pela cineasta que nos mantém em uma história que se desenrola através das notas, dos cantos, das batidas.

Por ser focado na música a mixagem é muito boa e nos convence da mise en scene, mesmo que ao pé de um rio. A beleza da paisagem se mistura aos números musicais contagiantes, desde os de raiz caribenha e ribeirinha, passando pelo icônico techno brega e chegando no rap feminino e na ópera moderna. Incrível como tudo se encaixa nesse diálogo entre a floresta e a cidade. Seus representantes são a soma das influências sonoras da região.


# Curtas Foco Minas Série 2

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Essa rodada de curtas na Mostra Tiradentes explora sensações e experimentos na linguagem. Se trata da sessão leve do dia, pois a seguinte já pega mais pesado no cenário sócio-político. Estes são filmes de momentos, recortes de vidas privadas que evocam nossa identificação ou admiração pelo cineasta ou pela ideia. Ou por ambos.

A última vez que ouvi Deus chorar, de Marco Antonio Pereira

Com a estreia de Cibele Zêodi direto na telona, ela vive uma segunda Maria, uma jovem do interior do Brasil que pode ter engravidado de Deus. Porém, as injustiças do mundo geram um aborto espontâneo. É a figura do mítico sendo derrubada pelo apedrejamento do sagrado nos tempos de hoje, nos dias de cólera. É uma fotografia dissonante, com uma câmera cambaleante. É o estilo do velho Cinema Novo buscando novos espaços em um mundo sem saída.

Não há coincidências ocupando esta carne, de Júlia Elisa

Quinquagésimo filme sobre negritude da Mostra, dessa vez com um foco na didática das escolas em informar sobre a época da escravidão, o filme é uma colagem simbólica de sensações no imaginário negro a respeito do passado traumático e do presente que não consegue existir sem esses fantasmas a trazer a angústia histórica. Mais experimental que ficcional, o trabalho de Elisa cria uma rima com o mais enérgico Caixa Preta, longa que faz dupla dessa temática tão em voga e tão debatida com palavras vazias. Aqui sentimos o poder do audiovisual em ilustrar o berro de protesto sem a necessidade de eloquência ou argumentação. É a dor transformada em imagens e sons.

Aragem, de Ricardo Alves Jr.

Daquele gênero tão colado em produções de curta duração que é o pedaço da vida, Aragem busca pincelar momentos entre as vidas de uma mãe aposentada e sua filha com a agenda cheia. Elas vivem os poucos momentos juntas porque a correspondência de uma ainda é entregue na casa da outra. A mãe está vivendo em algum lugar do litoral brasileiro e surge espontanemente sua vontade de cuidar um pouco do neto. Com isso o diretor Ricardo Alves Jr. treina movimentos batidos da cinematografia brasileira, que de tão parecidos com os recém-saídos da faculdade de cinema vira um clichê. É aquele cinema subjetivo que encontra objetividade no marasmo da introspecção.

Nossa Mãe era Atriz, de André Novais Oliveira e Renato Novaes

Documentário homenagem póstuma à atriz Maria José Novais Oliveira, que aos 60 anos de idade de uma vida de dona de casa decide se tornar atriz e é indicada em Cannes por sua participação em O Quintal. Depois faz mais alguns filmes de relevância ao país, incluindo o muito premiado (e merecido) No Coração do Mundo. Os momentos do curta são obrigatórios para entendermos de onde vem a força de certas personagens. Vem desse sopetão, quando a arte encontra a vida. É um filme burocrático, desejoso de lágrimas ou sentimentalismo, mas sua parte documental está lá em alguns segundos bem filmados.


# Mostra Panorama Série 1

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O vampiro que pensa vozes, de Paulinho Sacramento

Paulinho Sacramento vem em resgate do falecido José Mojica Marins, o Zé do Caixão, e apresenta um vampiro trash muito ruim e muito pertinente na dramaturgia do lixão. Ele é o que o título diz que ele é. Ele faz terapia. Ele tenta destruir Bolsonaro com um teaser apontado para a TV. Ele é a síntese do ser politizado desse nosso Brasil antifascista antirascista e antitaxista. O curta é engraçadíssimo em alguns momentos. Em outros ele é apenas ruim, o que não deixa de ser bom. Se há algum curta que merece um longa, este é o cara. À Meia Noite levarei seus cinco reais. Esse seria o preço da sessão.

Espectro Restauración, de Felippe Mussel

Experimental e sintético, o objetivo da reflexão de Felippe Mussel é ecológico. Ele monta uma relação entre a floresta perdida e o som das queimadas em um compilado que te obriga a abraçar o não-conformismo com a estrutura e ao mesmo tempo adota uma estrutura simplória para observarmos o que perdemos quando a natureza vai-se embora.

Corpo Onírico, de Marina Barbosa Mahmood

Sem diálogos, a sensação de profundidade e movimento no trabalho de Marina Barbosa Mahmood é no mínimo curioso. Ela bebe da noção do que é sensual das irmãs Wachowski, no sentido que não é algo 100% feminino, mas é sensual sem determinar muito o gênero. São as cores, as curvas e o movimento. Perde-se no significado por não impor um discurso, mas ganha-se em sensações, em volume e em perspectiva.

Cine Pornô – Fragmentos de Desejo e Medo, de Luis Teixeira Mendes

Um filme muito curto quase todo montado em cima de fotografias indiscretas de momentos em um cinema pornô no centro do Rio de Janeiro. Já fizeram trabalhos de conclusão de curso com a temática dos dizeres em banheiros públicos. Trabalhos que fizeram alunos passar de ano e consumiram papel. Não há limites para a insignificância humana dentro da esfera social. Com este trabalho Luis Teixeira Mendes demonstra em cinco minutos como há infinitas horas de nada que preste dentro do audiovisual brasileiro. Uma lição para as próximas gerações. Uma falta de respeito com o pessoal da limpeza.

Claudio, de Calebe Lopes

Almodovariano sem ousar muito. Simbólico ser ousar ser tarantinesco. Há tantas influências fáceis neste trabalho de Calebe Lopes que ele perde a graça por causa do sentimento de Deja Vu. Em algum momento, depois de martelar a imagem de uma noiva usando máscara no meio da noite urbana, a proposta torna-se válida novamente. É o cinema enlatado da repetição. É mais um curta que vale um longa. E mais uma vez, a sessão custa cinco reais. Dois filmes pelo preço de um?

De como me tornei invisível pra caber em meu espírito, de Padmateo

A revelação de que a indefinição de gênero para algumas pessoas pode ser um trauma levado a série pela academia. E quando essa ferida é exposta como arte se torna um misto de vergonha alheia, incômodo coletivo, nojo e repulsa seguidos de pena. A obra íntima e biográfica de Padmateo não poderia ter vindo na melhor hora: a hora da transição. Se trata de cinema experimental de preparação. Senhoras e senhores e senhorus: preparem-se para o pior.


# A Alegria é a Prova dos Nove

Caloni, 2023-01-24 cinemaqui tag_mostra_tiradentes cinema movies [up] [copy]

Há uns quatro anos atrás eu me lembro de trabalhos da esquerda muito tristes, cabisbaixos, que previam o apocalipse no mundo, uma dramatizada sem fim, em que genocidas reptilianos da extrema direita comeriam as criancinhas (antes das minorias) e seria o caos e morte na Terra. Felizmente (para eles) tudo isso passou e é hora de celebrar. E nada mais good vibes que este filme da diretora e atriz Helena Ignez, que é o oposto perfeito do clima de desânimo do passado. O deboche dos estereótipos montados pelo "outro lado" com energia e positividade.

Seu núcleo é o casal formado por Ney Matogrosso, que faz o ex-hippie Lírio Terron, e Jarda Ícone, interpretada pela própria Ignez, e que se define no filme como "artista, sexóloga e roqueira octogenária". Eles estão em idade avançada e revivem momentos revolucionários com nostalgia. Antes eles eram um casal, mas agora eles são afetividade pura. Seus amigos de hoje chegam em cena e recriam um ambiente com novos desafios que são diferentes dos da época da ditadura, mas a Prova dos Nove do título é justamente entender se o caminho está correto retirando-se as diferenças.

E está. Em meio a performances artísticas viscerais e o ócio criativo de quem tem dinheiro e se preocupa com a fome no mundo, "A Alegria" é uma provocação do bem, difícil de desgostar porque é feito com muita paixão. Esse caos na estrutura é a cereja em cima do bolo de um trabalho denso que pode ser revisto ao longo dos próximos anos de uma transformação sócio-política que hoje promete muito sem cumprir nada, exceto os infinitos ministérios e suas cabides de emprego que sempre surgem quando um governo de esquerda está no ar.

No final há uma performance de tom azul que é tão vibrante que merece seu próprio curta. É o momento de êxtase que estávamos todos esperando em um filme que é porta-estandarte de um movimento que está apenas começando.


# As Linhas da Minha Mão

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Documentário experimental que se passa em sete atos (que sequer nos lembramos de contar), este trabalho do diretor João Dumans filma um porto seguro na figura da atriz Viviane de Cassia Ferreira e seus problemas psíquicos, e no meio das gravações João encontra ouro nos depoimentos de Viviane. Faz lembrar um trabalho de dois anos atrás na Mostra Chinesa chamado Tudo ou Nada, de Hao Zhou. O diretor encontrou duas pessoas traumatizadas e quer entender como elas vivem. Há o risco de dar tudo errado. O risco de João e Vivi é muito semelhante.

Porém, o experimento dá certo. O público se identifica com Viviane porque ela "solucionou" a questão de viver sendo julgada quando não está sob o efeitos dos remédios destruidores de personalidade de quem possui complexos que desafiam nossa noção de normal. É um filme sobre superação de ser quem somos. Por isso João começa o filme questionando sua cobaia em como ela se coloca sob os dilemas de Nietzsche, o filósofo que levanta a bandeira do "resolva a si mesmo".

O filme é simples e direto e cabe ao espectador embarcar nas racionalizações da protagonista. Felizmente o projeto tem a vantagem de ter escolhido a protagonista que torna essa experiência um sucesso.


# Mostra Foco Série 1

Caloni, 2023-01-24 cinemaqui tag_mostra_tiradentes cinema shorts [up] [copy]

Os Animais Mais Fofos e Engraçados do Mundo, de Renato Sircilli

Se há um curta mais sucinto e poderoso que este na Mostra de Tiradentes eu não o vi. Ele fala sobre nossa crise de afeição moderna. Paulo Goya constrói Jorge, um faxineiro de motel que grava áudio dos clientes para vender a Alberto, que vira seu parceiro sexual. Parece um negócio em que todos ganham, mas apesar de ter tudo, Jorge não tem o mínimo para uma vida sã: o afeto do outro. Sua gravação mais emblemática é de um casal hétero em que ela compartilha vídeos de bichinhos com o amante. Repare nas relações metafóricas do filme, como entre esse momento e as marcas no corpo de quem um raio o atravessou, e verá um trabalho detalhista e carregado de ensinamentos emocionais.

Lalabis, de Noá Bonoba

Experimental e apocalíptico, Lalabis é atraente em sua confecção modernista deste mundo onde todos estão paralisados menos a heroína do filme. Ela tenta compreender o que aconteceu e no processo descobre uma segunda camada, uma camada mística, por trás do que ocorre com os humanos. Incompleto e inspirador.

Promessa de um Amor Selvagem, de Davi Mello

Quando o "ser normal" não passa apenas de um sonho é melhor que a morte seja a solução de nossos problemas. O trabalho de Davi Mello explora uma dualidade do ser que navega entre gêneros e épocas com facilidade para o espectador entender. Talvez seja fácil demais. Ao final, o sabor do inesperado e enigmático se mantém por pouco tempo. Falta ousadia em uma ideia bacana, não original, mas feita com esmero. Não é ideia para um longa, mas faz querermos pelo menos mais alguns minutos no mundo mágico das linhas de vida e troca de perspectiva.


# Mostra Foco Séries 2

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KENZO ou o triunfo da auto-desintegração, de Pedrokas

Há limites para o tipo de porcaria que é aceito em uma mostra de cinema? Essa é a abordagem desse, dessa, dessu, disso aqui. O nome é Pedrokas e a viagem é pelo consciente poluído e improdutivo de um suposto cineasta em busca de aprovação ou aceitação de quem tiver coragem de assistir ao seu manifesto sobre o plágio dos que não criam. Tenho boas notícias para esta pedroca: você foi aceito. Agora a má notícia: qualquer um é aceito se pertencer a uma minoria.

Pedra Polida, de Danny Barbosa

Novelinha sem graça se tirarmos o fator trans, Pedra Polida é um jogo de cartas marcadas e um guia sobre como estar mostrando seu filme apresentando nada mais exceto auto-referência. A tela de cinema como confessionário das virtudes que qualquer ser humano decente deveria possuir. A história gira em torno de uma enfermeira que estava em um relacionamento abusivo e tem uma mãe intolerante a lactose. De vez em quando a heroína do filme chega com uma camiseta manchada de sangue. O que isso significa? Precisamos assistir à versão longa para entender.

SOLMATALUA, de Rodrigo Ribeiro-Andrade

Este documentário do Rodrigo já passou e ganhou no É Tudo Verdade, festival de São Paulo de docs. Fiquei empolgado até a segunda cena, que se abre para um recorte de rimas visuais que reexaminam a história reescrita porque ela ainda não acabou, e o negro sairá por cima no final. Profético, não fosse contemporâneo, Rodrigo Ribeiro-Andrade está seguindo o que lhe foi pedido: registre a história evocando os deuses africanos e cenas da favela em que revele-se um caleidoscópio maldito de escadas e corredores infinitos nos levando ao vórtice das infinitas cópias da História.

Remendo, de Roger Ghil (GG)

Esta provocação de linguagem pelo cineasta Roger Ghil, GG para os íntimos, é divertida a cada segundo. O filme passa rápido e deixa um gostinho de quero participar deste universo por mais tempo. Detentor dos poderes que poucos curtas possuem de querermos ver uma versão mais longa, Remendo aproveita aqueles recursos do audiovisual já pausterizados para a TV e resgata sua essência, muito mais poderosa por flertar com o trash, que é atraente por natureza.

Esta sessão terminou em alto astral.


# Mostra Panorama Série 3

Caloni, 2023-01-25 cinemaqui tag_mostra_tiradentes cinema shorts [up] [copy]

Onde a gente se encontra, de Talita Virginia

A proposta é discutir a radicalização das opiniões entre a própria diretora do filme e seu pai, um bolsonarista e provável desafeto de toda a Mostra Tiradentes. O resultado são recortes piores do que a realidade que se observa ao vivo e a cores na rede. Contemporâneo, perde fácil para a simples navegação do espectador pela superfície das redes sociais citadas (nem precisa ir tão fundo). Nesta narrativa fica óbvio que é muito difícil monopolizar o discurso no cinema quando até os canais oficiais de imprensa sofrem para continuar a ter o direito de usar o único chapéu dos que dizem a verdade.

Soberane, de Wara

Este singelo e competente estudo de personagem brinca por um momento com o jogo de cores em um mundo preto e branco que demonstra potência sem aplicação. A heroína ainda está decidindo o que será dela neste novo planeta habitável que é Cuba. Ela veio do Brasil. Até que chega uma pandemia e põe tudo a perder. E sentimos a dor de ter que retornar e admitir que a pessoa que terá que voltar é outra. Sensível sem precisar de diálogos expositivos. Potente apenas com sua narrativa visual e um momento de catarse em seu final que impacta em mais de uma camada (o que é muito para um curta).

Todavia Sinto, de Evelyn Santos

Sensações de uma gravidez em recortes precisos, mas dramáticos ao ponto de serem irreais. Foge o espectador deste circo que é montado com muita pressa. Ganha alguma coisa o cinéfilo disposto a novas visões do cotidiano? Não. Apenas uma pausa entre filmes que tentam algo novo.

A Velhice Ilumina o Vento, de Juliana Segóvia

Este filme foi apresentado pela própria diretora de fotografia como um trabalho que revela o estado de Mato Grosso no panorama cinematográfico nacional, como se revelasse um estado até então renegado. Porém, quando você assiste a projeção não enxerga nada disso. Se trata de um pedaço de vida que deu muito certo para Valda, uma senhora que na sinopse é chamada de "mulher preta, idosa, periférica, trabalhadora doméstica (...) Mulher forte, cuiabana do pé rachado". Estou habituado a usar meus estereótipos como ferramenta de escrita, mas nesse caso vou usar essa descrição literal, copiado e colado do site da Mostra de Tiradentes como atestado de inocência. A história é sobre essa senhora dona de si mesma. Valda adora arrastar o pé no baile, mas, principalmente, ser dona de si mesma. Acaba sendo uma mensagem de esperança não apenas para o seu estereótipo citado, mas para todo ser humano que ouse viver sua própria vida.


# O Cangaceiro da Moviola

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Um filme sobre um montador que precisa de montagem. O filme, não o montador. Este trabalho de Luís Rocha Melo é de catalogar momentos gravados e gravações já em arquivo dos trabalhos do homenageado, o cineasta Severino Dadá que ficou mais conhecido pelos trabalhos na sala de montagem dos filmes que ajudou a finalizar.

Quando um documentário surge com a ideia de biografia o mínimo que se espera é uma opinião e uma estrutura. Aqui só existe a homenagem, que é saudosa e tudo mais, mas acaba diminuindo o homenageado para uma figura não-humana, sem desejos ou ambições. Dadá vira uma estátua, erguida para a posteridade e que pode ser observada por todos. Porém, inerte, incapaz de evocar sentimentos de saudade no espectador daquilo que não vimos. Como o próprio Dadá comentou antes do início da sessão: ele virou cineclube.

O que é uma pena, pois as inúmeras referências de filmes que o montador trabalhou são de trabalhos poucos conhecidos que poderiam ser porta de entrada para algo além das chanchadas da época ou dos filmes pós reabertura, dos quais nos recordamos mais dos divulgados lá fora.


# Xamã Punk

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Este filme, de acordo com o diretor João Maia Peixoto, demorou oito anos para ser feito, contou com a colaboração criativa de muita gente e custou 16k reais, usados com muito esforço. O resultado é uma série de gravações desfocadas retratando um futuro distópico que em nenhum segundo acreditamos ser verdade. Quando o experimental vira sinônimo de qualquer coisa.

Estamos 300 anos à frente. Um acontecimento traumático na humanidade fez com que algumas pessoas se escondessem nas cavernas. O filme começa com a narração de um descendente dessas pessoas, segurando uma lanterna que está funcionando mesmo depois de 300 anos. Ele é a pessoa corajosa que levará uma câmera, que também funciona depois de 300 anos, além do equipamento de som, para lá fora, percorrendo o desafio platoniano dos sonhos mais molhados de qualquer estudante de cinema.

Lá fora não há muita coisa. E por coisa quero dizer ideias. Há mulheres jovens perambulando pela floresta e pelas ruínas de um prédio. Os jovens que saíram, todos homens, não sentem o menor interesse biológico em suas pares. O tesão se revela como 100% construção social. As amarras da estrutura burguesa e capitalista da lógica racional estão oficialmente abolidas neste mundo pós-apocalíptico. A humanidade sobreviverá de maçãs que dão em cavernas, como a que um dos personagens come em cena.

Abordo a questão sócio-política porque ela está no filme: dizeres anarquistas pixados nos muros. O filme tem punk no nome, o que é evocativo. Os punks sobreviveram, passaram uma vez pela região e espalharam a palavra mística de um homo sapiens sapiens que coleta maçãs e grava vídeos experimentais em um Rio de Janeiro nublado.


# Cambaúba

Caloni, 2023-01-26 cinemaqui tag_mostra_tiradentes cinema movies [up] [copy]

Cris Ventura é uma documentarista que adentra em uma aventura histórica sobre a origem de uma rua que mudou de nome e que mantém energias e manifestações tanto de sua origem indígena quanto a assombração do bandeirante Anhanguera, fundador da cidade.

A forma com que a diretora Cris Ventura vai construindo a narrativa no seu início é divertidíssima. Utilizar seu nome como uma personagem cria sensações documentais em uma ficção. Há um ensinamento ímpar de mistura de gêneros inusitada que confere um frescor narrativo muito bem-vindo a trabalhos que costumam ser chatos de assistir. Como espectadores nós entramos na brincadeira da ficção mal construída e amadora para aprender obviedades documentais sobre história e ecologia em diálogos artificiais.

O terceiro ato gira em torno da construção do sobrenatural, que assusta mesmo e que é uma continuação que faz sentido com a proposta de ficção por ser fantasioso. Acompanhamos o embate de outro plano entre o espírito do terrível Anhanguera e a maldição dos indígenas que foram açoitados de lá. Essas sequências são potentes mesmo em uma produção modesta por causa do poder da montagem de Cambaúba. É um experimento digno de mostra.


# Curtas na Praça Série 2

Caloni, 2023-01-26 cinemaqui tag_mostra_tiradentes cinema shorts [up] [copy]

Ferro’s Bar, de Cine Sapatão (Aline A. Assis, Fernanda Elias, Nayla Guerra e Rita Quadros)

Este curta documentário mantém um dinamismo e uma fluidez na narrativa invejável para muitos outros filmes da Mostra. Se trata do depoimento de 4 mulheres sobre o clima de um bar tolerante a lésbicas na década de 80 na cidade de São Paulo e o que se seguiu depois de um policial conservador invadir o lugar. Cada frase que uma termina emenda em uma cena ou na frase que outra começa. É enxuto, é eficiente, é emocionante. A construção do senso de direitos humanos e de que precisamos lutar por eles em pouquíssimos atos. E por isso mesmo poderoso.

A Orquestra das Diretas, de Caue Nunes

Mais um da série de cidadania e patriotismo é este causo que aconteceu durante as manifestações pelas Diretas Já na década de 80, que deu errado como resultado, mas certo como coesão democrática de várias frentes de cidadãos querendo mudanças. Entre elas a orquestra sinfônica de Campinas, que foi tocar nas manifestações e se conectar com o momento histórico de livre e espontânea vontade. O filme é lúdico e mantém uma ingenuidade que restabelece uma conexão com um passado democrático que por conta das bipolaridades da sociedade brasileira no momento está há décadas esquecido. Vale a reflexão.


# Mostra Foco Série 3

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Pés que Sangram, de Roberta Takamatsu

As sutilezas pelas quais passa essa história sobre abandono e busca do passado não atingem o espectador exceto pelas sensações de estranheza. A diretora Roberta Takamatsu constrói um clima de mistério e se aproveita de uma fotografia árida de estrada para compor tons de vermelho-terra em tomadas que evocam uma sensação mista de perda, saudade e desorientação. No entanto, essa discrição acaba por não capturar o engajamento do espectador.

O último rock, de Diego de Jesus

Diego de Jesus desenvolve uma série de diálogos dinâmicos e reais em torno de um grupo de jovens que se reúne pela última vez antes do isolamento social que se seguiu com a vinda do COVID-19 em março de 2020 no Brasil. São falas entrepostas e bem próximas de um papo real da geração. Ao final ele põe tudo a perder poetizando o que não era drama. Artistas geralmente são os maiores algozes de sua própria obra.

Labirinto, de Filipe dos Santos Barrocas, Isadora Maria Torres, Léo Bortolin, Lucas Eskinazi e Yuji Kodato

Este filme experimental de direção coletiva só podia dar errado. Construído ainda em isolamento, os cineastas apenas conseguiram se encontrar na própria Mostra de Tiradentes. E parece que eles só se encontraram nesse momento, mesmo, pois as cenas do curto filme sequer dialogam entre si. É uma abstração tão abstrata que o único detalhe a se observar na tela são as trucagens de transição entre camadas capturadas de imagens, que remetem mais ao brega que ao dramático fantasioso.

Febre, de Marcio Abreu

É arriscado tentar compor texto em imagens porque o sentido não é o mesmo. E esse texto que deu origem ao filme é repetitivo, uma prosa de ladainha que não ajuda muito na adaptação. No entanto, contra todos os prognósticos o resultado até que é assistível. Ele compõe uma valsa de um elenco que reveza nesse conto folclórico em que duas pessoas vão sair à noite em busca de observar as últimas horas de um mundo que está dando adeus. Um passeio na madrugada atordoante. E febril.


# Enfermeira Exorcista

Caloni, 2023-01-31 cinema series [up] [copy]

Coreanos têm sérios problemas. Um deles é abusar de computação em séries de baixo orçamento. Como essa enfermeira exorcista, em que a atriz faz uma cara de lunática e combate seres materializados da internet 1.0 usando seu martelo do Chapolim Colorado que brilha no escuro. É baixo orçamento, é ruim de bom, mas muito lento. Dá sono.


# Adeus, Intelitrader

Caloni, 2023-01-31 [up] [copy]

Se você me conhece talvez já tenha visto no Linkedin ou no Telegram. Este post é apenas para dizer que sim, é verdade, estou fora da Intelitrader. E explicar o que ocorreu. E o que me vem à mente neste momento que lhe escrevo.

Eu já sabia que a empresa havia passado por um enxugamento nos contratos com clientes de longa data, fruto talvez do imenso layoff que está percorrendo o mercado de TI, Brasil e mundo afora. Os meses que se sucederam a isso foi uma tentativa de reverter este quadro. Não houve sucesso. O próximo passo seria decidir como a empresa continua sua vida honrando os salários dos seus colaboradores. E a única solução que se deu foi essa: demitir uma parte deles. E eu fui junto.

Este cenário já estava mais ou menos delineado em minha mente no leque de possibilidades para os próximos meses. Então não foi uma surpresa. Sinto pelos colegas que receberam essa notícia hoje. Desejo toda a sorte para conseguirem se realocar rapidamente.

O que vem à minha mente no momento é simples: conseguir um lugar para trabalhar equivalente. Idêntico acredito que não haverá (embora não custe tentar achar). O que seria um ambiente equivalente ao da Intelitrader? Um ambiente sem bullshitagem. Um ambiente onde você trabalha remoto todo o tempo, mas não se esquece dos seus compromissos. Trabalha a hora que quiser, as horas que quiser e pelo tempo que quiser, mas sem se esquecer dos que dependem de você. Um ambiente onde trabalhar é um prazer, e trabalhar em equipe é uma atividade de crescimento coletivo. Vamos aprendendo a cada sprint. A cada sprint a solução entregue ao cliente vai ficando melhor. Com menos bugs. Mais rápido. Com menos estresse do lado do cliente e do lado nosso.

A única coisa que busco nesse momento, o que pode ocorrer a curto ou longo prazo, é um local em que eu consiga programar em paz, sabendo que entregarei valor ao cliente. O mais próximo disso é meu primeiro candidato.


# Cognitive Dissonance

Caloni, 2023-01-31 quotes philosophy [up] [copy]

This is why people get upset when their beliefs are challenged

A mental conflict occurs when beliefs are contradicted by new information. This conflict activates areas of the brain involved in personal identity and emotional response to threats. The brains's alarms go off when a person feels threatened on a deeply personal and emotional level causing them to shut down and disregarding any rational evidence that contradicts what they previously regarded as "truth".

IOW (2023-09-19)

Sometimes people hold a core belief that is very strong. When they are presented with evidence that works agains that belief the new evidence cannot be accepted, because it creates a feeling that is extremely uncomfortable. It is so important to protect the core belief they will rationalize, ignore and deny anything that doesn't fit with that core belief. This is why people get upset when their strongly held beliefs are challenged.

# Pensamentos (Marco Aurélio)

Caloni, 2023-01-31 quotes self philosophy [up] [copy]
"A felicidade de sua vida depende da qualidade de seus pensamentos: portanto, guarde-se adequadamente e tome cuidado para não nutrir noções inadequadas à virtude e à natureza."
Marco Aurélio

# O Banheiro do Papa

Caloni, 2023-01-31 cinema movies [up] [copy]

Um homem e sua bicicleta refazem o realismo italiano neste drama cômico em que uma cidadezinha de fronteira entre o Uruguai e o Brasil recebe a visita do Papa e investe horrores aguardando uma multidão. A crítica ao comércio na religião e o naturalismo de usar não atores na própria cidade onde o fato ocorreu, em 1988, é o que torna este filme uma pequena pérola criativa. Para assistir com um sorriso no rosto.


# The real workout

Caloni, 2023-01-31 quotes body [up] [copy]
"The real workout begins when your mind wants to quit."
Esoteric.Tomboyism

# Vitamin D - The Nutrition Source

Caloni, 2023-01-31 blogging [up] [copy]

Ontem fui em um exame de rotina e meu médico disse que minha quantidade de vitamina D está levemente abaixo do indicado. Então ele receitou suplementos por seis meses até meu retorno. Perguntei sobre métodos naturais de aumentar a quantidade da vitamina no organismo e ele disse que não funciona ou não é o suficiente ingerir alimentos nem tomar sol. Ele deu o exemplo anedótico de um paciente seu que trabalha todos os dias sob o sol escandante e que revelou a mesma deficiência.

Me dirigi à farmácia mais próxima, no shopping ao lado da clínica, e o valor de uma caixinha para um mês é de 75 reais, o que me parece um absurdo de caro. Desconfiado das afirmações do médico e curioso para entender como que o organismo humano não consegue mais se virar na produção dessa vitamina, coloquei a caixinha de volta na farmácia e resolvi fazer algumas leituras a respeito do assunto.

Li algumas preliminares do Google, aqueles resumos para as pessoas comuns, para me habituar sobre o senso comum, que é que há poucos alimentos que fornecem em quantidades razoáveis essa vitamina, notadamento peixes gordurosos e sua gordura e um ou outro alimento de origem animal para o tipo D3 da vitamina, a mesma que nosso corpo produz com a incidência de raios ultravioletas do tipo B (UVB), e um ou outro alimento de origem vegetal e cogumelos para o tipo D2.

Então fui atrás dos resultados das pesquisas mais proeminentes. Selecionei dois resumos inicias, onde o primeiro texto não me pareceu nada além do que já tinha lido sobre senso comum e este "Vitamin D" do "The Nutrition Source", que me pareceu mais promissor. Ele ordena o tema pelas doenças que a presença de vitamina D previne ou ajuda a combater e cita as pesquisas em torno da questão e seus resultados. Achei curioso que há sempre poréns nas mais diversas afirmações. A sensação é de que o assunto ainda está em franco debate pela academia.

Isso me fez decidir por não ingerir suplementos no momento. Pelo menos até conseguir entender quais as chances disso ser uma real necessidade.

Clippings

For most people, the best way to get enough vitamin D is taking a supplement because it is hard to eat enough through food.
Vitamin D supplements are available in two forms: vitamin D2 ("ergocalciferol" or pre-vitamin D) and vitamin D3 ("cholecalciferol").
Both are also naturally occurring forms that are produced in the presence of the sun’s ultraviolet-B (UVB) rays, hence its nickname, "the sunshine vitamin," but D2 is produced in plants and fungi and D3 in animals, including humans.
RDA: The Recommended Dietary Allowance for adults 19 years and older is 600 IU (15 mcg) daily for men and women, and for adults >70 years it is 800 IU (20 mcg) daily.
UL: The Tolerable Upper Intake Level is the maximum daily intake unlikely to cause harmful effects on health. The UL for vitamin D for adults and children ages 9+ is 4,000 IU (100 mcg).
Although observational studies see a strong connection with lower rates of certain diseases in populations that live in sunnier climates or have higher serum levels of vitamin D, clinical trials that give people vitamin D supplements to affect a particular disease are still inconclusive.
A clinical trial that gave women 70+ years of age a once-yearly dosage of vitamin D at 500,000 IU for five years caused a 15% increased risk of falls and a 26% higher fracture risk than women who received a placebo.
It was speculated that super-saturating the body with a very high dose given infrequently may have actually promoted lower blood levels of the active form of vitamin D that might not have occurred with smaller, more frequent doses.
JoAnn Manson, MD, DrPH, leader of the main VITAL trial and coauthor of the report on fracture, commented: "We conclude that, in the generally healthy U.S. population of midlife and older adults, vitamin D supplementation doesn’t reduce the risk of fractures or falls. This suggests that only small-to-moderate amounts of vitamin D are needed for bone health and fall prevention, achieved by most community-dwelling adults.
These findings are consistent with observational data, which suggest that vitamin D may have a stronger effect on cancer progression than for incidence.
Immune and inflammatory cells that play a role in cardiovascular disease conditions like atherosclerosis are regulated by vitamin D. The vitamin also helps to keep arteries flexible and relaxed, which in turn helps to control high blood pressure.
Those who had the lowest levels of vitamin D were twice as likely to have a heart attack as men who had the highest levels.
However, taking vitamin D supplements has not been found to reduce cardiovascular risk. A meta-analysis of 51 clinical trials did not demonstrate that vitamin D supplementation lowered the risk of heart attack, stroke, or deaths from cardiovascular disease. The VITamin D and OmegA-3 TriaL (VITAL) came to the same conclusion;
Vitamin D deficiency may negatively affect the biochemical pathways that lead to the development of Type 2 diabetes (T2DM), including impairment of beta cell function in the pancreas, insulin resistance, and inflammation.
The effect was even stronger when vitamin D was combined with calcium: there was a 33% lower risk of T2DM in women when comparing the highest intakes of calcium and vitamin D from supplements (>1,200 mg, >800 IU daily) with the lowest intakes (<600 mg, 400 IU).
Notably, among the participants who had the lowest blood levels of vitamin D at the beginning of the study, vitamin D supplementation did reduce risk of diabetes. This is consistent with the important concept that taking additional vitamin D may not benefit those who already have adequate blood levels, but those with initially low blood levels may benefit.
The rate of multiple sclerosis (MS) is increasing in both developed and developing countries, with an unclear cause.
Vitamin D was first proposed over 40 years ago as having a role in MS given observations at the time including that rates of MS were much higher far north (or far south) of the equator than in sunnier climates, and that geographic regions with diets high in fish had lower rates of MS.
Type 1 diabetes (T1D) is another disease that varies with geography—a child in Finland is about 400 times more likely to develop T1D than a child in Venezuela.
Early evidence suggesting that vitamin D may play a role in T1D comes from a 30-year study that followed more than 10,000 Finnish children from birth: Children who regularly received vitamin D supplements during infancy had a nearly 90% lower risk of developing type 1 diabetes than those who did not receive supplements.
However, multiple studies examining the association between dietary vitamin D or trials supplementing children at high risk for T1D with vitamin D have produced mixed and inconclusive results
Children who have vitamin D-deficiency rickets are more likely to get respiratory infections, while children exposed to sunlight seem to have fewer respiratory infections. Adults who have low vitamin D levels are more likely to report having had a recent cough, cold, or upper respiratory tract infection.
A randomized controlled trial in Japanese school children tested whether taking daily vitamin D supplements would prevent seasonal flu. The trial followed nearly 340 children for four months during the height of the winter flu season. Half of the study participants received pills that contained 1,200 IU of vitamin D; the other half received placebo pills. Researchers found that type A influenza rates in the vitamin D group were about 40% lower than in the placebo group; there was no significant difference in type B influenza rates.
Although randomized controlled trials exploring the potential of vitamin D to prevent other acute respiratory infections have yielded mixed results, a large meta-analysis of individual participant data indicated that daily or weekly vitamin D supplementation lowers risk of acute respiratory infections.
Before the advent of antibiotics, sunlight and sun lamps were part of the standard treatment for tuberculosis (TB).
Few foods are naturally rich in vitamin D3. The best sources are the flesh of fatty fish and fish liver oils. Smaller amounts are found in egg yolks, cheese, and beef liver. Certain mushrooms contain some vitamin D2; in addition some commercially sold mushrooms contain higher amounts of D2 due to intentionally being exposed to high amounts of ultraviolet light. Many foods and supplements are fortified with vitamin D like dairy products and cereals.
Vitamin D2 is made from plants and is found in fortified foods and some supplements. Vitamin D3 is naturally produced in the human body and is found in animal foods.
A meta-analysis of randomized controlled trials that compared the effects of vitamin D2 and D3 supplements on blood levels found that D3 supplements tended to raise blood concentrations of the vitamin more and sustained those levels longer than D2.
Vitamin D3 can be formed when a chemical reaction occurs in human skin, when a steroid called 7-dehydrocholesterol is broken down by the sun’s UVB light or so-called "tanning" rays. The amount of the vitamin absorbed can vary widely.
Use of sunscreen; correctly applied sunscreen can reduce vitamin D absorption by more than 90%.
In the northern hemisphere, people who live in Boston (U.S.), Edmonton (Canada), and Bergen (Norway) can’t make enough vitamin D from the sun for 4, 5, and 6 months out of the year, respectively.
In the southern hemisphere, residents of Buenos Aires (Argentina) and Cape Town (South Africa) make far less vitamin D from the sun during their winter months (June through August) than they can during their spring and summer months.
The body stores vitamin D from summer sun exposure, but it must last for many months.
Vitamin D deficiency may occur from a lack in the diet, poor absorption, or having a metabolic need for higher amounts.
People who cannot tolerate or do not eat milk, eggs, and fish, such as those with a lactose intolerance or who follow a vegan diet, are at higher risk for a deficiency.
People who are obese tend to have lower blood vitamin D levels. Vitamin D accumulates in excess fat tissues but is not easily available for use by the body when needed. Higher doses of vitamin D supplementation may be needed to achieve a desirable blood level. Conversely, blood levels of vitamin D rise when obese people lose weight.
People who have undergone gastric bypass surgery, which typically removes the upper part of the small intestine where vitamin D is absorbed.
Catching the sun’s rays in a sunny office or driving in a car unfortunately won’t help to obtain vitamin D as window glass completely blocks UVB ultraviolet light.

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