# Git Fiction

Caloni, 2024-04-08 fiction [up] [copy]

Linus Torvalds, criador do sistema operacional Linux, deve se considerar um deus. E de certa forma ele é, pensou Fulano, que a esse momento estava filosofando sua própria condição. Ele deve se considerar um deus, mas não por causa do Linux: por causa do Git.

Criado para que qualquer um pudesse mudar a história de um software, o Git é um controle de código fonte revolucionário por ser simples e eficiente. Sua ideia central está em não ser centralizado. Cada pessoa pode criar sua própria história. E cada história pode ser a principal ou apenas uma linha alternativa.

Eu não sei se o universo foi feito em Linux, pensou Fulano. Mas apostaria minha própria vida que seu deus usa Git como o controlador de histórias. E ele é a prova viva disso.

Começou de uma maneira inocente, mas não leviana. Fulano cometeu um ato pelo qual se arrependeu amargamente, tanto a ponto de querer voltar no tempo. Desejava com todas as forças.

O que ele não contava é que conseguiu. Quando pode perceber, estava no momento anterior ao que tinha feito este algo. E pode, dessa vez, não fazê-lo. Seria ele agora um viajante do tempo, como muitos outros nas histórias de ficção científica?

Não exatamente. Pelo menos não o "modelo clássico". Fulano ainda podia se lembrar de quando fez aquele algo. Só que agora era uma lembrança de uma possibilidade, não a lembrança que todos temos de algo que realmente aconteceu. Porque, nesta realidade que vivia nesse exato momento, aquele algo não aconteceu.

Porém, essa descrição ainda poderia se encaixar em vários exemplares de viagem no tempo, onde o viajante se lembra de suas viagens passadas. A diferença crucial nessa experiência que Fulano vivia era que ele, assim como no Git, podia voltar para a linha do tempo que havia se arrependido de criar. No Git isso se chamava checkout de uma branch. Para Fulano era estar presente em outra realidade outra vez.

E quando fazia isso o ponto no tempo em que se arrependia disso e não executava esta ação é que virava uma lembrança de uma possibilidade. Ele poderia se arrepender e voltar novamente. Mais do que isso. Ele poderia voltar para o exato momento que voltou, a mesma branch, e lembraria de ter voltado duas vezes.

Este é um efeito colateral, uma regra importante nos controles de fonte. Você não reescreve a história. Você adiciona a mudança novamente. Ou ao menos se lembra que há uma linha alternativa.

E onde estava o commit? Bom, antes uma explicação ao leitor de humanas.

No Git as histórias não vão acontecendo como em um filme, quadro a quadro. Não é cada letra que você digita no código fonte que cria um novo ponto na história. Para gravar para sempre este momento existe um comando semelhante ao checkout chamado commit.

Um commit é um ponto na história onde o narrador decidiu que as mudanças estão prontas para serem registradas para sempre. É para um commit que o checkout vai, sendo um branch uma linha da história, principal ou não. É a diferença entre a memória humana de curta duração, que pode ser perdida no momento seguinte, e a de longa duração, disponível até o final dos tempos se você conseguir acessar.

Nesta experiência muito atípica Fulano executava commits de uma maneira muito conveniente e singela: ele piscava. Cada piscada um commit para o qual ele poderia voltar. Mas não era uma piscada rápida inconsciente. Era um fechar de olhos presente no agora, com significado no ato. O abrir de olhos poderia significar um novo começo dessa linha do tempo, com mais memórias de possibilidades na bagagem.

Fulano ficava se perguntando se ele seria a única criatura viva no universo com essa bagagem. Será que, por exemplo, a pessoa que está agora na sua frente no ônibus também faz viagens esporádicas? Estaria ela presente no agora ou em outra linha do tempo?

Porque também tem isso. Uma vez iniciada uma linha alternativa em sua história ele poderia voltar para a linha principal, mas a alternativa estaria criada para sempre. Ele nunca poderia se desfazer dela. E poderia voltar para ela sempre que quisesse.

De maneira geral, no entanto, não importava muito em qual linha alternativa Fulano estava vivendo, pois poderia pular para outras linhas a qualquer momento e nunca mais voltar para qualquer linha que se tornasse...


# A Gaiola das Loucas

Caloni, 2024-04-08 cinema movies [up] [copy]

Uma comédia dos anos 90 adaptada de um filme francês da década de 70 que por sua vez foi adaptado de uma peça de teatro da mesma época. Porém, verdade seja dita, a peça francesa foi tão boa que atravessou duas continuações cinematográficas, foi adaptada para um musical americano nos anos 80 e finalmente caiu nas graças de Hollywood, que conduziu uma farsa hilária pela comédia de situação, e por falta de tensão em seu final uma mensagem de amor e compreensão sob todos os aspectos. Esta história inocente coloca uma família de um político conservador em crise em rota de colisão com o dono de uma casa de shows de drag queens. A melhor mensagem da trama é seu companheiro que faz a mulher perfeita: dona de sua própria voz e conservadora nos costumes. E ela é um homem. A ironia fina desta obra atravessa não apenas um oceano, mas camadas de significado entre gerações.


# Standup do Igor Guimarães no Amazon Prime

Caloni, 2024-04-08 cinema series [up] [copy]

Ele tem 44 minutos e parece que não acaba nunca de tão ruim. O nonsense do comediante está fora de controle em um nível que crianças brincando conseguem produzir conteúdo mais criativo. Ele começa razoavelmente bem com o número de um boneco de ventríloquo, mas as ideias param por aí e no lugar há muito improviso que não funciona. A plateia é simpática às tentativas, mas aos poucos Igor perde sua simpatia. Há um limite em que se pode continuar ofendendo o público ou falando absurdos e continuar sendo engraçado. Não é sobre o absurdo ou sobre a censura de poder fazê-lo. É uma questão de bom gosto, mesmo. O bom humor precisa construir algo. Viver apenas de aplausos só confere a mediocridade conhecida dos standups brasileiros.


# Indexação do conhecimento

Caloni, 2024-04-08 [up] [copy]

A próxima evolução do blogue deve focar na indexação do conhecimento. Posts indexados por palavras-chave marcadas no texto como links. Se houver um link disponível o blogue apontará para ele. Porém, se não houver links ou se estivermos publicando um ebook está palavra vai e volta de um índice de termos. Cada termo terá sua lista agrupando as referências.

Isso acaba com ambiguidades como nome de atores ou filmes. Todos os termos para serem indexados precisam estar entre colchetes. Para ligar termos diferentes pode haver uma definição do termo ao final de um post apontando para outro termo. Dessa forma, nomes diferentes podem apontar para o mesmo agrupamento. Ex:

Com essa atuação, [Reeves] eleva o mito de John Wick a outro patamar.
[Reeves]: [Keanu Reeves]

Para permitir uso de colchetes como notas de rodapé é necessário usar números. Por exemplo, 2 não é indexável, mas referenciar uma nota dentro do próprio post.


# Conversations with Pauline Kael (Will Brantley)

Caloni, 2024-04-13 cinema books quotes [up] [copy]
Never give them the excuse to stay home if there's anything there on the screen.
There are so few movies that really offer you anything that's fresh, that's different, that's exciting.

Este livro é uma pequena pérola para quem ainda não conhece Kael, a crítica mais versátil, corajosa e indigesta da história do cinema. Suas opiniões são fortes e você provavelmente vai discordar da maioria. Mas seu texto é delicioso.

Essa coletânea editada por Will Brantley envolve vários momentos de sua carreira e a descreve a partir de vários pontos de vista, já que cada entrevistador a enxerga de certa maneira. Este compilado acaba se tornando, então, no conjunto, um "Cidadão Kael", fazendo um trocadilho com a obra mais conhecida que Kael já esmiuçou, o filme Cidadão Kane. Nunca saberemos quem de fato foi o ser humano por trás da crítica, e após ler o livro terminamos sabendo ainda menos.

Contrária a tudo e a todos, sua visão política se resume a estar do lado dos menos representados (no cinema americano os conservadores, sem sombra de dúvida), mas não é fácil resumir qualquer traço da escritora em uma frase. Sua bússola moral é o cinema, e se movimentos sociais acabam produzindo trabalhos ruins, ela se posiciona totalmente contra. Se Thelma e Louise é um filme com uma história sem lógica, ainda que feminista, então Ridley Scott será posto à prova por Pauline. Imagino o que ela acharia então de Capitã Marvel, se fosse obrigada a escrever sobre os filmes da Marvel.

Ao mesmo tempo ela é contra Hollywood como sendo a mega indústria que se tornou após os anos setenta. Seu artigo Why The Movies Are So Bad explica o processo pós-Star Wars e a retirada do risco financeiro do negócio de filmes, já vendidos antecipadamente para a TV. É um prazer acompanhar o raciocínio de uma pessoa tão sagaz e uma frustração nunca conseguir compreendê-la por inteiro. Ela se torna mais complexa hoje do que os filmes que são lançados, e a solução é rever os filmes dos quais ela fala em seus livros, ou em artigos arquivados do The New Yorker, lugar onde trabalhou por três décadas.

Clippings

Miss Kael is aware of the power of her position. “With a new movie,” she says, “if you point out too many of the things that are the matter with it, people will use that as an excuse not to go. If you get anything out of a movie, I mean if there’s anything there to be gotten, help people to get it. Never give them the excuse to stay home if there’s anything there on the screen.
When Shoeshine opened in 1947, I went to see it alone after one of those terrible lovers' quarrels that leave one in a state of incomprehensible despair. I came out of the theater, tears streaming, and overheard the petulant voice of a college girl complaining to her boyfriend, "Well, I don't see what was so special about that movie." I walked up the street, crying blindly, no longer certain whether my tears were for the tragedy on the screen, the hopelessness I felt for myself, or the alienation I felt from those who could not experience the radiance of Shoeshine. For if people cannot feel Shoeshine what can they feel?"
Her influence on that level has become enormous. And she also sort of made film criticism a legitimate concern for literate young men. Not only because she’s a good writer, but also because she wrote about film as if she liked it. People sort of assume the lasting review will be Pauline’s. That’s the enduring review, that’s the one that’s going to be collected.”
MLLE: When I look at a Humphrey Bogart movie, or a John Garfield one, well, that’s an Event! PK: Probably part of it is because the sexual differentiation in those movies is very satisfying to the viewer. It’s very satisfying to boys to have an image of how it is to be a man, and it’s very satisfying to girls to see how a man would treat them.
The men gave the appearance of being secure in themselves as men, and that’s very important to women. It’s going to become more important as things become more insecure in our culture, as I think they may become.
I’m not at all sure I know what men want, because men—particularly in the last five years—and teenage boys have become very unsure of themselves vis à vis women and girls, and I think they are insecure about what their roles should be. Probably the Women’s Liberation Movement has not affected women as deeply as it has affected men. It has shaken men in their presuppositions, and that’s going to be a problem.
Even if it’s a failure, in my opinion, failure is much more interesting than success because it is like a sick body. You can look at it and examine it and then say what’s going wrong or not.
Jean-Luc, your films attract educated, wealthy people. I mean, workers do not go to your films; that doesn’t mean we reject your films because of the people who are in the audience. The more Marxist your films got, the more upper middle-class your audience became
I think reviewing and criticism are basically the same thing. Generally, if the critic isn’t very good you call him a reviewer.
There is no reason why you should feel you need to learn from critics.
But you know, trying to get your experience down on paper is tremendous fun. I don’t have a lot of patience with people who tell me writing is agony.
The most exciting times for me are when I can be absolutely truthful to how I felt about a movie and get it on paper.
Politics and art do seem to be connected for a lot of people, although, of course, it all depends on how you define politics. I think people who try to use art for political purposes generally produce bad art, but again, these things are hard to separate. An artist’s whole feeling about life, and that includes his political views, comes out in the best movies.
In previous generations kids went to movies once a week. The Saturday afternoon they spent at the movies was
Younger movie goers who have watched a lot of television seem to be more passive than previous generations of movie goers. In previous generations kids went to movies once a week. The Saturday afternoon they spent at the movies was the only experience of that kind that they had and they often spent the rest of the week talking about the movie with other kids and they developed critical and emotional responses to it. Kids now watch television and when the program’s over, or even in the middle, they turn to the next one. There’s always more television going on on other channels so they never really talk about what they’ve seen in the same way. It isn’t an intense experience that stays with them and they’re less likely to develop critical reactions.
Television—and TV commercials especially—tends to make people who don’t have anything angry, and it makes them want those things and want them immediately. Television doesn’t point out how hard some of the people who have those things may have struggled to get them.
I saw Taxi Driver before Scorsese added the score and I thought it was better. The score he used is so hyperbolic that in various places it demeans what’s on the screen.
The only criticism in any of the arts that’s worth anything is based on instinctive responses. I think anybody who tries to apply a yardstick or theory in evaluating art is going to do something very limited and valueless.
Is film criticism an art form comparable to the novel or short story? Those are arbitrary and silly distinctions, sort of like worrying about whether somebody’s a critic or a reviewer. Who cares?
All art is entertaining, depending on how educated you are. If you’re educated enough, you enjoy Shakespeare; but if you aren’t and don’t have an instinct for it, you may find him tedious work rather than entertainment. There are entertainers who are not artists, but then there are also the pop singers who reach a level where they become artists. But these are just hairsplitting gradations. If art isn’t entertainment then what is it? Punishment?
it takes more than liberal good will to make a good movie.
Her remarks on Thelma & Louise are another expression of the argument she presented in the closing essay of I Lost It at the Movies: it takes more than liberal good will to make a good movie.
The movies I really love are the ones that give me a chance to get into areas that I haven’t got into before. That’s part of the fun of criticism.
They think of criticism simply as judgment. They don’t think of it as exploration of themes or performances, or of making connections and flashes of perception and jumping ahead sometimes to see what the director is trying to get at even if he doesn’t get it. It becomes a kind of intuitive process. If I outlined a review, I’d never write it, because the fun for me is discovering the connections as I write.
“As a critic, I hate it much more than anyone else can. The major studios’ films are generally so much worse now. Most of what’s out isn’t worth seeing. And having to write about this stuff, you feel degraded. It’s occupying your head and it has no right to be there.”
Writing in an unsigned form frees you of the inhibitions of academic writing. I was just trying to reach the public as directly as possible. And I found that I was doing it more naturally. It’s mainly a kind of courage that you need in order to write the way you think instead of writing the way you’ve been taught.
Damn it, if I enjoy it, it seems to me I’d better be able to write about it. It would be dishonest to enjoy something and not admit it. If you laugh all the way through a comedy and then write a pan, something is wrong with you. You have to be able to believe in yourself enough to be truthful about how you react.
In many ways the perceptions and the observations are more important than the judgments. We read critics for the perceptions, for what they tell us that we didn’t fully grasp when we saw the work. The judgments we can usually make for ourselves

# Vidas em Jogo

Caloni, 2024-04-13 cinema movies [up] [copy]

Michael Douglas interpreta Nicholas van Holt, um babaca solitário de meia-idade sem traços de humanidade. Ele é um multimilionário responsável pelo legado do pai, que se matou quando Nick era apenas um garoto. Os flashbacks de vídeos caseiros remontam à época do patriarcado na mesma medida que a era da família, e iniciam um filme de ação fantástico que começa quando ele ganha de aniversário do irmão (Sean Penn) um convite para uma experiência que irá dar a ele os sentimentos e as emoções que lhe faltam pelo preço de um salto de fé que mesmo alguém tão seguro de si não está disposto a pular.

A espiral de aniquilação do ego de Nicholas van Holt -- de acordo com Roger Ebert, "caught in an ego-smashing web" -- não gera satisfação ao espectador porque o roteiro lhe entrega um pouco de carisma ao lado de uma linda e enérgica mulher das camadas mais baixas. Além do mais, a empresa que prepara sua experiência de presente não está agindo na melhor das intenções e Van Holt assume um papel não apenas egoísta, mas heroico de desmascarar a farsa até o final.

O diretor David Fincher impressiona pela energia com que vai escalando as cenas de ação, e o ritmo do filme, apesar de longo, possui uma cadência agradável. Cada nova reviravolta se torna mais imprevisível e violenta, ganhando novo respiro. Você nunca imaginou uma noite tão agitada pelas ruas de São Francisco.


# When a movie's not worth seeing twice

Caloni, 2024-04-13 quotes books [up] [copy]
"If I were to see it again and again, I might be able to extract an underlying logic from it, but the problem is, when a movie’s not worth seeing twice, it had better get the job done the first time through."
Roger Ebert - Your Movie Sucks

# Tail recursion in loop while

Caloni, 2024-04-15 computer english [up] [copy]

Interesting optimization of recursion using tail function. Consider this:

void RecursiveFunction(ref HashSet<Type> finalList, Type itemToAdd, ref HashSet<Type> itemsToNotAdd)
{
    // some checks and returns
    if (left)
    {
        RecursiveFunction(ref finalList, left, ref itemsToNotAdd);
    }
    else
    {
        finalList.Add(left);
    }
    if (right)
    {
        RecursiveFunction(ref finalList, right, ref itemsToNotAdd);
    }
    else
    {
        finalList.Add(right);
    }
}

And then this version:

void RecursiveFunction(ref HashSet<Type> finalList, Type itemToAdd, ref HashSet<Type> itemsToNotAdd)
{
    while (true)
    {
        // some checks and returns
        if (left)
        {
          RecursiveFunction(ref finalList, left, ref itemsToNotAdd);
        }
        else
        {
          finalList.Add(left);
        }
        if (right)
        {
            itemToAdd = right;
            continue;
        }
        finalList.Add(right);
        break;
    }
}

# Cognitive Complexity (SonarQube)

Caloni, 2024-04-15 computer english blogging [up] [copy]
  • Increment when there is a break in the linear (top-to-bottom, left-to-right) flow of the code.
  • Increment when structures that break the flow are nested.
  • Ignore "shorthand" structures that readably condense multiple lines of code into one.

# Velozes e Furiosos

Caloni, 2024-04-15 cinema movies [up] [copy]

O primeiro filme da série mais de vinte anos depois. É uma boa história com um roteiro não muito convincente. O forte são as cenas de ação e uma aura de lenda que permanece no ar. Sobre gangues, respeito e confiança. Paul Walker segura seu protagonismo como pode enquanto Vin Diesel tem a difícil tarefa de um ladrão inspirar integridade.


# O Menino e a Garça

Caloni, 2024-04-17 cinema movies [up] [copy]

Finalmente fui ao cinema assistir a este confuso filme Ele desafia possivelmente até o fã de anime a ficar acordado. Após incontáveis devaneios narrativos o desejo inconsciente de dormir é irresistível.

Diferente de obras como A Viagem de Chihiro, por exemplo, em que para um leigo é explicada a dinâmica de uma casa de banhos visualmente, por cada canto através de todos seus funcionários e clientes, pavimentando acontecimentos em um rico e complexo universo, este novo filme do mesmo estúdio (Ghibli) sobre mitologia japonesa e seus símbolos não prescinde de certa experiência no assunto.

Irônico é que o conhecimento mitológico talvez nunca tenha existido. As camadas de realidade deste filme embrulham a experiência terrena do ponto de vista hermético de um único japonês. Seu nome é Hayao Miyazaki, diretor, roteirista, produtor e fonte de inspiração do que é visto na tela.

A história é um fiapo. A mãe do menino-título morre em um incêndio. Ele gostaria de poder salvá-la e sabe ser impossível. Então fica com esse trauma para sempre. E ele não irá se resolver ou compreender durante a história, exceto por devaneios poéticos que viajam pelo espaço e tempo. Por duas horas. Embalado em tramas paralelas sobre eventos genéricos ou pretensiosos (como salvar o mundo) e muito longe da satisfação das jornadas simples e eficientes, como (aí vai outro exemplo do estúdio) o curto e inesquecível Meu Amigo Totoro.

No caso de O Menino e a Garça uma jornada mais intimista até seria mais agradável e apropriada por tratar do passado se seu criador, mas ele está hipnotizado em torno de sua própria lenda. Vemos grandiosidades ao horizonte na tela, mas a história pede que olhemos para dentro do seu personagem, o que nunca acontece.

De acordo com o produtor Toshio Suzuki, O Menino e a Garça é o filme mais caro já produzido no Japão. O roteiro se baseia fortemente na infância de Miyazaki e explora temas de amadurecimento e enfrentamento de um mundo marcado por conflitos e perdas.

Biografias não costumam ser tão chatas, mas a vida retratada é de um japonês, o que muda tudo. Culturalmente incapazes de falar sobre si mesmos, o filme cria periquitos gigantes e viagens ao além-vida, mas nunca pergunta ao seu heroi o que ele sente. É um mistério jamais revelado e que enterra suas memórias em um limbo de imagens fantásticas indecifráveis.

Anunciado como o último filme do autor (não pela primeira ou segunda vez), ganha o Oscar de Melhor Filme de Animação. Uma jogada de marketing sem tamanho, considerando que sua distribuição fora do país foi propositadamente inexistente. Apenas um pôster e era isso. As pessoas da academia então premiam talvez pela última vez um filme assinado pelo gênio. Apenas um adendo: premiaram na mesma noite o diretor Christopher Nolan, pelo filme menos relevante de sua carreira até o momento (Oppenheimer). A academia tem dessas, de tentar fazer justiça retroativa aos bons trabalhos do passado.

Porém, se pensarmos apenas como uma produção desprovida de virtudes artísticas e meramente técnicas estamos diante de um primor visual, construído ao longo de anos, em um ritmo cada vez mais lento. E é uma lástima não haver nenhum momento no filme inteiro que será lembrado. É uma carta aberta e tímida que nos revela uma pedra de roseta contemporânea onde está a chave do autor.

A trilha sonora do filme é composta por Joe Hisaishi, e é muito mais maravilhosa que o filme em si. Com poucas notas de piano e outros instrumentos pontuais, Hisaishi faz o milagre de compor momentos profundos através de uma narrativa rasa. Curiosamente assistir a O Menino e a Garça de olhos fechados irá te levar a um mundo de reflexões que nunca existiram na tela e que gostaríamos de conhecer.

Estariam tantos críticos interessados na aposentadoria do diretor, aclamando esta obra como a definitiva sobre sua despedida? Ou ninguém de fato ainda leva a sério animações como obras maduras, preferindo se manter no espaço seguro de elogios vazios projetados à frente da própria ignorância? Há algo a aprender, enfim: nem sempre sair do circuito de Hollywood é uma coisa boa.


# The Hacker's Diet (John Walker)

Caloni, 2024-04-27 books body self [up] [copy]
This book is a compilation of what I learned. Six months after I decided being fat was a problem to be solved, not a burden to be endured, I was no longer overweight.

Eu não acredito que deixei passar o review deste maravilhoso livro que já li duas vezes. Reli no final do ano passado porque precisava reeducar meus hábitos alimentares e parar de usar jejum intermitente como muleta de manutenção de peso, pois o corpo ao longo dos meses se acostuma e você não consegue mais perder peso porque seu metabolismo basal é muito baixo.

John Walker, fundador da Autodesk e co-fundador da AutoCAD, era gordo. Mesmo após se tornar multimilionário e com uma linda esposa ele continuava gordo. De todas as conquistas genéricas que um homem pode se colocar como meta, podemos dizer, John já estava lá.

Porém, ele continuava gordo.

Como é possível alguém tão bem sucedido em várias áreas da vida não conseguir controlar o próprio peso? Este era o questionamento de John quando decidiu resolver isso de uma vez por todas. Não com uma dieta da moda, mas entendendo a dinâmica do corpo a atingir o equilíbrio entre alimentação e manutenção do peso desejado.

Para isso, como todo hacker que se preza, John foi atrás dos fatos crus sobre como o corpo humano adquire calorias e as mantém. Assumindo o corpo humano como um sistema de feedback ele montou planilhas sobre o funcionamento do que ele chama de saco de carne. A partir daí ele concluiu que algumas pessoas nascem com o medidor de fome ligeiramente desregulado, mas que isso no longo prazo leva a essas disparidades do peso. Bastam 100 calorias a mais todos os dias para que no final de alguns anos você esteja incrivelmente gordo.

Eu recomendo este livro para todos que possuem o mesmo problema de John, mas também para os que ficam curiosos em saber como um engenheiro trata um problema humano. Posso concluir que de maneira muito mais eficiente que qualquer pessoa especializada na área de humanas (nutricionistas, estou olhando para vocês).

Clippings

Losing weight isn't pleasant, and it's far better to get it over with quickly, and never have to do it again.
Stress is an unavoidable consequence of living in our fast-paced, high-tech culture, yet few of us are willing to sacrifice its stimulation and excitement to recapture the placid and serene life of simpler times.
Stress is a primary cause of overeating and weight gain.
(...) to accomplish anything else worthwhile in life: An eye firmly fixed on the goal. Will power. A high tolerance for pain.
My hunger serves me instead of a clock. —Jonathan Swift, Polite Conversation, 1738
After all, in order to manipulate somebody you have to understand them, and who do you understand better than yourself?
The course of a life is often charted by such milestones of empowerment. Manipulation in the pursuit of empowerment is no vice.
Bob Bickford, computer and video guru, defined the true essence of the hacker as “Any person who derives joy from discovering ways to circumvent limitations.”
Presented with a problem, an expert manager can quickly grasp its essence and begin to formulate a plan to manage the problem on an ongoing basis.
The engineer isn't interested in building an organisation to cope with the problem. Instead, the engineer studies the problem in the hope of finding its root cause.
First, you must fix the problem of not knowing when and how much to eat. As long as you lack that essential information, you'll never get anywhere. Then, you have to use that information to permanently manage your weight.
Since we're efficient food processing machines, it's possible to reduce all the complexity of food to a single number that gives the total energy the body can extract from it—the calorie.
Living, as we do, inside the bag, it's worth understanding how we're affected by these processes, then using that understanding to gain control of them.
That's given by the number of calories of energy stored in a pound of fat: about 3500 calories per pound.
If, over a period of time, the calories in the food you eat exceed the calories you burn by 3500, you'll put on about a pound. Conversely, if you reduce your food intake so that you burn 3500 calories more than you eat, you'll lose about a pound.
For what better motivation is there to maintain your weight than recalling how awful you felt when overweight and what you went through to shed that excess poundage?
68% of the mass you consume every day is water, and 81% of what goes out is likewise water.
Most of the changes in weight you see have nothing to do with how many calories you're eating or burning.
Instead, all you're seeing is how many pounds of water happen to be inside the rubber bag at the moment.
There is a difference between eating a varied diet and chowing down on a cup of lard and sugar once a day. Programmers know this instinctively: they balance their daily menu among the four major food groups: caffeine, sugar, grease, and salt.
Eating the right mix of food only becomes important when you consider food as raw material.
In addition, there are a number of complicated organic molecules our bodies require but cannot, for one reason or another, manufacture. These raw materials, minerals and vitamins, must be furnished or else the body begins to develop deficiency diseases such as scurvy and rickets.
When you eat less, you'll not only be putting less energy in the rubber bag, but also supplying less of the raw materials the body needs. It is, therefore, important to maintain a balanced diet as you lose weight.
Negative feedback is ubiquitous, yet its profound consequences are often overlooked for this very reason.
Once you begin to analyse things in terms of positive and negative feedback, you'll never see things quite the same.
Proportional control makes systems run smoother than bang-bang. Most biological systems are proportional, while many engineered and all too many political and social systems are bang-bang. As with negative and positive feedback, once you understand how proportional control lends stability to a system, while bang-bang tends to oscillate between the extremes, you'll recognise many examples of both kinds of control in everyday life.
A multitude of reasons: organic, cultural, and psychological, may explain why feedback fails in certain people. Many diet books counsel searching yourself for the underlying causes of weight gain and remedying them. This may be an interesting and rewarding process, but it's no way to lose weight. It's kinda like becoming an expert watchmaker to fix your Timex that keeps stopping and nobody can seem to repair. The wiser man buys a new watch.
You can't make what you can't measure because you don't know when you've got it made. —Dr. Irving Gardner
The general outlines for this program were derived from the Royal Canadian Air Force “5BX” exercise program for men.
Developing physical fitness through exercise is just like losing weight: extremely simple, but based on an unpleasant fact most people would rather ignore.
As you diet, the body can consume muscles as well as fat to meet its calorie needs. Exercise not only protects and increases your muscle strength during a diet, it causes more rapid loss of fat. Since you're adding muscle tissue, not burning it, fat remains the only source of energy and is consumed all the more rapidly.
Choose your goal, but prepare for refinements as you approach it and discover where you feel the best. Watching the trend line will help you find a goal that's easy to live with.
Once that happens, you're in “burn mode.” Part of your daily need for calories is now being met by breaking down fat, and as long as that continues your blood sugar won't drop to the very low levels that trigger severe hunger. Unfortunately, first you have to get into that mode, and that's what makes the start of a diet so trying.
Fat men are more likely to die suddenly than the slender. —Hippocrates, Aphorisms, c. 400 B.C.
Feed by measure and defy the physician. —John Heywood, Proverbs, 1546
The superior man makes the difficulty to be overcome his first interest; success comes only later. —Confucius, Analects, c. 500 B.C.
As you gain experience balancing the trend line it will become second nature, and you'll probably find the fluctuations decrease even more.
After several months of planning meals and adjusting calorie content up and down to stabilise the trend, you may find you're developing an excellent sense of how many calories different foods contain and, more importantly, how much and what kinds of food are appropriate at each meal. You're still planning meals but you're doing it subconsciously, all in your head. In effect, you've advanced from planning meals by counting on your fingers, adding up tables of calories and carefully measuring food, to doing sums in your head.
You're not relying on your appetite; it's still broken, in all likelihood, and shouldn't be trusted in any case. You're using your eyes to measure what your stomach can't: how much to eat at a sitting.
Posso primeiro comer de forma consciente, pesar a comida e depois, com base na vontade de comer, entender se aumento ou diminuo a dose (ou adiciono ou removo itens).
Once you've succeeded in controlling your weight, a tremendous weight is lifted from your mind as well as your body. Discovering you have the power to lick a long-standing and difficult problem may motivate you to attempt many other things you scarcely contemplated before. Go to it! You gain not only physical stamina by losing weight, but a sense of power that contributes to anything you undertake.
In this book I've tried to present a relentlessly rational approach to weight control. You can't persuade somebody to be rational. You're better off trying to out-stubborn a cat.

# O Lagosta

Caloni, 2024-04-27 cinema movies [up] [copy]

No começo é estranho. O filme é estranho. Essa música forçosamente melancólica com um toque de Hitchcock e o uso de câmera lenta tornam algumas cenas piegas e lembra Zack Snyder. Mas continue, vale a pena. Adentramos em um mundo novo, cuja parte que eu mais gosto é que não é explicado. Nessa sociedade você precisa estar casado. Esta é a lei. Quando ele se divorcia porque a mulher encontra alguém que usa lentes de contatos (ambos usam óculos, imagino) ele parte para um hotel que tem o projeto de em 45 dias conseguir uma nova parceira. Ou isso ou a punição: ser transformado em um animal de sua preferência. Tudo é sua escolha. Essa é uma parte legal também do enredo. Todos aceitam o funcionamento, mas ele sempre como uma face Winston de 1984, de que ou isso ou a morte. Se trata de uma adaptação literária e a melhor sacada é a narração em off que usa como desculpa um caderninho de anotações de uma personagem que se tornará chave. O filme começa forçado e da metade para o final ganha novos contornos. Ele fica melhor, diferente da imensa maioria dos filmes. Seu ritmo permite pensarmos em casa cena em vez do filme explicar o que devemos pensar. E a história pode dizer muitas coisas, mas não ousa apontar para nada. São apenas sugestões. Um parceiro que te mataria para sobreviver pode ser uma escolha instintiva, mas após a decisão de puxar o gatilho, mesmo que não mate sua amada, mata a relação. Todos buscam algo em comum com o parceiro, mas precisa ser algo muito forte ou natural, que ambos não possam mudar. Este filme fala de muitas coisas apesar de ser sobre uma visão estranha sobre relacionamentos. Quase infantil. Mas entendemos a piscada de olhos. O roteiro possui diálogos que não são naturais. Essas pessoas são robotizadas. O elenco está hipnotizado em seus papeis e mantém um tom difícil de ser visto no cinema. Todos estão exatamente no esforço necessário para que a história se mantenha coesa. Seus personagens afirmam em uníssono que universo é este que habitam. É difícil saber se alguém de fora dele conseguiria decidir o que fazer. Nem isso o filme nos entrega. No final a trilha melodramática cumpre sua função. Um terceiro ato filosófico. O filme é dirigido pelo mesmo cara de A Favorita, outro filme exemplar em sua temperatura constante. O autor propõe um mergulho profundo em um mundo ligeiramente diferente do nosso e nos faz pensar em coisas além do cotidiano. É diferente demais para comparação com o mundo real, e é isso o que torna o filme tão belo. É um verdadeiro escape. Não precisa pensar demais. É uma sensação.


# Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2

Caloni, 2024-04-27 cinema movies cinemaqui [up] [copy]

Um dos melhores filmes do ano passado, “Ursinho Pooh: Sangue e Mel” catapultou o assunto de direitos autorais quando o produtor Rhys Frake-Waterfield se aproveitou da expiração dos direitos do livro escrito em 1926 por A. A. Milne sobre um ursinho fofinho e seu amigo humano para fazer um slasher com máscaras de gosto duvidoso e mortes brutais sem sentido em meio a nudez feminina com fantasias dos anos 80. Em uma palavra: sensacional. Quando um filme no século 21 consegue um feito desses é uma ocasião rara. Houve também pontos de bônus por deixar a crítica especializada naquele alvoroço sobre o terrível mau gosto de Frake-Waterfield.

Quando o filme que custou 100 mil dólares planejado para algumas exibições em poucas salas rendeu mais de cinco milhões e uma distribuição via streaming a recém-fundada produtora do também diretor, roteirista e editor Frake-Waterfield aproveitou a deixa: novos projetos foram anunciados, como uma continuação com a participação de Tigrão e uma versão de vingança de Bambi, outra obra literária prestes a cair no domínio público.

A continuação do ursinho psicopata chegou conforme prometido. Ela é muito mais bem feita que o filme original. Muito mais cara. Há um roteiro que não é dos mais brilhantes, mas evita que você caia na gargalhada. A edição não tenta esticar uma cena de 10 segundos para um minuto para render o dinheiro. A cartilha dos bons costumes do século 21 foi aplicada na nova produção, o que quer dizer sem nudez feminina dessa vez e com diversidade. Agora todos podem morrer (e muitos morrem). Em suma, o universo se transformou em um slasher não muito memorável, mas que justamente por isso deveria impressionar fãs da sétima arte. Esta é a sua chance de observar em tempo real o nascimento de um sonho de uma produtora de filmes independentes e estimar quão pouco tempo é necessário para que ela vire a fábrica de enlatados cinematográfica, mais vendável e com menos riscos.

Em compensação, para os novíssimos fãs da adaptação esta revisita ao mundo onde a gangue do ursinho toca o terror há uma repaginada na lenda dos monstros que cria uma certa textura inesperada ao que antes pertencia ao universo infantil, o que talvez seja o melhor fruto do projeto e um ponto a favor dos que acham que direitos autorais apenas servem para empregar prédios cheios de advogados prontos para ganhar dinheiro em cima da ociosidade de seus autores. Afinal, esta versão é definitivamente nova, com detalhes acrescentados para enriquecer esta versão, e não a original.

A história é desenvolvida com detalhes espalhados pelas cenas, é verdade, mas nada que obras pretensiosas mais sérias já não o façam. Por exemplo, a muleta das sessões de hipnose que irão revelar desdobramentos de uma história que nós canônicos nem sabíamos que havia. Já foi visto dezenas de vezes. O sub drama do protagonista é não ter sido aceito na comunidade, para não dizer odiado pelo que ocorreu no massacre do vilarejo. Digamos que ele pagou de "menino e o lobo" já na primeira vez que decidiu contar uma história fantástica. O que não faz muito sentido. Mas prometi a mim mesmo não usar sentido como métrica em slashers independentes.

Scott Chambers, o ator que interpreta Christopher Robin, repete o papel com seu jeito meigo e cabisbaixo. Nós sentimos que ele não está muito à vontade em ter sido o causador do massacre da vila. Então ele termina o curso de medicina e começa a ajudar as pessoas. Ele estranhamente convence o espectador que ele poderia ser o Chris Robin da versão dos infernos do Ursinho Pooh. Os seus olhos doces e melancólicos criam uma versão com mais camadas que apenas um garoto fazendo amizade com animaizinhos inocentes.

O corvo retorna do carnaval do ano retrasado com a fantasia toda surrada. Ele manja das mandingas e come suas presas vomitando ácido. Há uma cena especial para nos explicar isso onde ele mata um homem que acabou de sair do banho de uma casa aleatória. E no final um close de gotas caindo do chuveiro.

Você não vai querer que eu fique descrevendo cada cena de "Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2" quando a graça de ver o filme é justamente seu apelo gráfico. Não se resume todo o mau gosto do gore sanguinário em adjetivos. Tem coisas que você precisa ver para crer. Assim como a população da Floresta dos 100 Acres.


# So Freaking Cheap

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Série divertidinha de famílias que mantêm a cultura da frugalidade. Ou seja: eles são mão de vaca pra caralho. Edição ágil, diferente de outras que embaçam a história. Porém, nada impactante o suficiente para chamar a atenção de ver mais episódios.


# Ugliest House in America

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A hostess deste programa é ruim. Ela não é muito engraçada nem tem personalidade. O programa (ela) irá julgar a casa mais feia da América baseada em percepções tiradas da bunda. As casas não são tão feias assim. Você não pode mais falar de feiura nas pessoas e agora este programa é um escape para falarmos de feiura nas casas das pessoas. Julgadas por uma hostess feia e gorda.


# Extreme Chepstakes

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Série que se baseia em pessoas que economizam compulsivamente. Eles coletam comida do lixo e das mesas ao lado onde comem. Explorações em caçambas e em brechós não são incomuns. Certo que há muito lixo aproveitável na América, mas o nível de mão de vaca dessas pessoas é patológico. No entanto, há algumas dicas bacanas para economizar e inspira a modéstia e frugalidade.


# The Big Bang Theory

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Série de sitcom que explora o perfil desajustado de nerds em conflito com pessoas comuns. Como Penny, a nova vizinha de Sheldon Cooper e o outro nerd. Como nerd você se sente à vontade no ambiente, ele é quase reconhecível das memórias. As piadas são boladas para funcionar em dois níveis. Algumas funcionam e a maioria ou funciona para nerds ou funciona para pessoas comuns. É um experimento curioso de TV que escalou por causa do culto nerd da geração. Outra curiosidade do show é que os estúdio da Warner onde a série é gravada há uma plateia que pode participar e reagir. Os roteiristas e o elenco improvisam para sentir a temperatura das piadas em tempo real e a versão editada vai para a TV. Foi isso que explicou a guia quando fomos visitar os estúdios.


# Extreme Couponing

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Mais um da série de pessoas que economizam, este foca no uso de cupons de revistas que podem deixar as compras bem mais baratas, se você for organizado o suficiente e tiver um lugar para manter estoque de tantas compras. Estas duas mulheres do primeiro episódio são as melhores usuárias destes cupons e conseguiram em seus recordes comprar milhares de dólares com apenas algumas centenas. Esta cultura não existe no Brasil. Aqui há mais assinaturas de fidelidade que dão pequenos descontos em compras todos os dias. Mas é interessante conhecer.


# Road Rage

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Esta série é muito ruim. Ela estende episódios de conflitos no trânsito em vários minutos enquanto no Telegram você encontra Gifs de segundos, melhor editados e sucintos. Aqui tenta-se criar caso com detalhes desimportantes quando motoristas em várias situações brigam uns com os outros.


# Bird Box

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Suspense apocalíptico com Sandra Bullock. Não há sustos, é mais drama. O drama é continuação da história de M. Night Shyamalan, The Happening (Fim dos Tempos), onde um surto suicida acomete boa parte da população. Aqui as pessoas que olham para a coisa se matam, mas em ambos os filmes é algo que está no vento e que sugere movimento pelas folhas das árvores. O filme de Shyamalan foi sepultado pela crítica, mas eu gosto bastante. Este tem uma pegada mais comercial, tenta explicar o fenômeno e possui uma protagonista com mais presença. Sandra Bullock está entre as melhores atrizes em atividade por décadas. Mark Wahlberg, do outro filme, não consegue competir por causa que a péssima Zooey Deschanel está do lado dele.

Bird Box é dirigido por Susanne Bier, que faz parecer que o roteiro de Eric Heisserer e Josh Malerman é bem melhor. Bier consegue manter a tensão constante mesmo quando a farofa das mortes que irão ocorrendo aos poucos vai nos "pegando de surpresa". Já o roteiro de Heisenberg e Malerman tenta sabotar a todo momento a coesão que Bier dedica ao thriller. Muito me assusta que o roteirista de A Chegada esteja relacionado com esse tipo de projeto.


# Os Bad Boys

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Este filme de ação de estreia de Michael Bay mantém o bom humor graças à dinâmica da dupla Will Smith e Martin Lawrence. As piadas nem sempre são boas, mas ambos estão presentes na cena, o que faz toda diferença. Há uma sequência de perseguição digna de nota, orquestrada por Bay, que demonstra ser um dos melhores em ação. Deveria ter permanecido assim em vez de partir para franquias de robôs gigantes.


# Um Lugar Silencioso

Caloni, 2024-04-27 cinema movies [up] [copy]

Ideia maturada desde o colégio pela dupla Scott Beck e Bryan Woods, ela é desenvolvida com a ajuda de John Krasinski, que assume a direção e um dos papeis junto de sua esposa na vida real Emily Blunt. Ambos fazem uma família de três filhos e um a caminho vivendo em um mundo apocalíptico onde alienígenas cegos com audição apurada ouvem cada movimento para caçar.

Este é um filme apaixonante em seu começo, pois usa técnicas de cinema mudo junto com língua de sinais para a comunicação da família. É um exemplo de como linguagens ditas antigas no cinema sempre podem ser reaproveitadas. A fotografia é outra virtude do longa. Filmado com sobriedade, que dá o tom quase realista ao pesadelo deste mundo, rivaliza apenas com o uso do som, que no filme dialoga com a ação.

É um dos momentos mais criativos do cinema naquele ano e que dá abertura para ótimas atuações, não desperdiçadas pelos ótimos Krasinski e Blunt, mas cuja surpresa é a jovem Millicent Simmonds, que interpreta a filha surda Regan. O detalhe é que ela é surda na vida real. Como se vê, este é um filme que mantém sua textura fora das telas. O que é algo igualmente apaixonante.

As cenas se tornam tensas graças ao som, ou no caso, a ausência dele. Não existe trilha para o susto final, pois ele virá ao se cortar abruptamente o silêncio.

A construção da fazenda onde moram é um detalhe à parte. Beck e Woods pensaram por muito tempo nisso e o resultado pode ser admirado em cada elemento em cena. O uso da areia e das luzes de emergência. As pesquisas do pai para combater os aliens.

Mais do que o silêncio na tela, o que irá te deixar pensativo se assistir em casa é o quanto existe de barulho lá fora. Quem mora na cidade grande já se sente um pouco coagido sonoramente. Nesse caso dá vontade de fazer mais barulho para esquecer os outros em volta.


# Evidências do Amor

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Este filme tem uma atriz de nome Sandy que é uma ótima cantora. Muito mais que atriz. Nós vemos a ausência de expressões em sua personagem, que no caso do roteiro sequer tem história de fundo. Este é um filme sobre sensações genéricas de um casal que se separou e quer entender o porquê. Para isso ambos vivem a maldição ou a benção de reviver os melhores e piores momentos do relacionamento. O outro “ator”, Fábio Porchat, nada pode fazer neste drama, pois é comediante e sua voz é impossível de criar qualquer dimensão que não seja feita de risadas. O filme acaba não sendo suportado nem pelo roteiro e nem pelos atores. Então ele apela para o que todo mundo apela no Brasil como sinônimo de bom gosto: a piada de contar Evidências, música icônica da última década que virou uma espécie de hino nacional brega, cantada inúmeras vezes em karaokês. E ela nem é uma música tão boa assim. Pelo menos nisso a escolha foi feita em sintonia com o filme.


# A Teia

Caloni, 2024-04-27 cinema movies cinemaqui [up] [copy]

Novo thriller psicológico tem estreia do roteirista Adam Cooper (Assassin's Creed, Exodus: Gods and Kings) na direção e coloca Russell Crowe em uma espiral de arquétipos do gênero lutando por uma história original. A parte original é que ele tem Alzheimer, mas está levando uma vida normal e sozinha, pois está participando de um tratamento experimental, mas revolucionário, que pode curá-lo.

Os arquétipos do gênero que citei giram em torno de um homicídio resolvido às pressas 10 anos atrás e que agora volta às suas memórias quando o condenado (Isaac Samuel, convincente) irá cumprir sua pena de morte dentro de um mês. Sabendo de sua inocência, ele resolve falar com o antigo detetive que cuidou do seu caso, Roy Freeman (Cromwell), para que ele se resolva com a sua consciência ou, quem sabe, tente achar mais alguma pista que descubra o verdadeiro assassino. Só que como o condenado será morto pela justiça em um mês ele tem que ser rápido de novo.

Ambientado em um universo quase que de vídeo-game, onde os interrogatórios informais que o ex-detetive conduz são respondidos pelas testemunhas casualmente, sem pestanejar, o realismo do mundo é suspenso para dar lugar a inúmeros personagens cujas narrativas incompletas irão se entrelaçar e gerar no espectador uma sensação que emula o que o detetive deve estar sentido com sua falta de memória. No entanto, se essa desorientação é enfatizada no começo, logo se torna uma mera desculpa para que o investigador percorra novamente o caso e enxergue sob uma nova ótica quais as intenções das pessoas em volta da vítima.

Isso envolve o suspeito número um (exceto o condenado), Richard Finn (Harry Greenwood). Estudante na mesma universidade do professor assassinado e teoricamente tendo uma relação com uma de suas pupilas, Finn e a vítima Dr. Joseph Wieder (Marton Csokas) deveriam ter seus desentendimentos em torno do provável triângulo amoroso com a brilhante e misteriosa Laura Baines (Karen Gillan, intensa), a mais próxima de uma femme fatale do longa, só que com doutorado, sabendo falar seis línguas fluentes e com desejos eróticos longe do convencional.

Esse pequeno arco é percorrido com um certo charme através de um rascunho de um livro inacabado do estudante após conviver com os dois. E ele nunca será acabado, já que Finn morreu por uma overdose de uma droga que nunca ingeriu na vida e nem poderá ser interrogado sobre sua versão da história. Enquanto isso o resto das testemunhas e suspeitos, incluindo seu antigo parceiro Jimmy Remis (Tommy Flanagan), possuem seus próprios interesses para que qualquer novo detalhe jamais veja a luz do dia. Ou seja, como se vê e como se fala em inglês, "the plot thickens". Em tradução livre: o caldo engrossa.

Após estas aspas abertas o filme parte para a abertura de pontas soltas que nunca serão fechadas, o que deveria causar a sensação de amnésia esperimentada pelo personagem de Crowell, mas entrega algo diferente. Algo mais semelhante a quem assiste a "O Espião Que Sabia Demais" (Tomas Alfredson, 2011), com Gary Oldman fazendo um espião mais próximo da vida real, coletando e interligando pequenas pistas em uma teia infinita de teorias e possibilidades (daí o título nacional deste filme, até que bem escolhido no lugar do original Sleeping Dogs, sem tradução simples).

Russel Cromwell tem a difícil tarefa de demonstrar fragilidade de paciente e masculinidade de ex-policial nas mesmas cenas, além de uma certa ambiguidade em seus motivos e um distanciamento justificado pela sua condição da doença, mas ainda empenhado em descobrir o possível real assassino e assim salvar uma vida inocente. A maioria dos atores desistiria ao entender o desafio, mas o ator de Gladiador, Uma Mente Brilhante e O Informante (se você é jovem, pesquise) continua aos 60 anos demonstrando uma disposição cansativa que tem se tornado sua persona nesta década e com sucesso em muitos projetos, como o desse mesmo ano Zona de Risco.


# Iniciando estudos em Low Carb

Caloni, 2024-04-29 body blogging [up] [copy]

Em linhas gerais, as regras básicas da alimentação Low Carb são:

  • Eliminar o açúcar;
  • Cortar os grãos, especialmente o trigo e seus derivados;
  • Evitar raízes, principalmente para os que precisam perder mais peso;
  • Comer comida de verdade, ou seja, natural, sem aditivos químicos e não industrializada!

Veja ainda outras diretrizes importantes dessa estratégia alimentar:

  • Perder o medo da gordura natural dos alimentos (mas não a noção, ok?);
  • Comer quando se tem fome e não a cada 3 horas obrigatoriamente (é fundamental diferenciar a fome da vontade de comer!);
  • Esquecer os produtos DIET, LIGHT, FIT, LOW FAT, entre outros;
  • Não se preocupar com restrição calórica nem com contagem de calorias.

Bottom line: Low Carb não é uma dieta. É um estilo de vida que pode e deve ser adotado com uma perspectiva de longo prazo. Quebrar as regras, eventualmente, não prejudica o corpo já adaptado e é muito saudável para a mente. Equilíbrio e bom senso são fundamentais!


# Peixinho/Lagarto de Dona Neusa

Caloni, 2024-04-29 food cooking [up] [copy]

Esta receita copiada do livro de receitas de Dona Neusa diz que se usa 2kg de carne lagarto ou peixinho.

Outros ingredientes: laranja ou vinho, cebola, alho, 1 colher de sal por kg de carne, caldo de carne, pimenta do reino, óleo, salsinha.

Notas:

40 minutos a 1 hora na pressão. Abre e vê.

Se tiver pouca água colocar mais.

Temperar antes para pegar sabor.

Pode usar tempero baiano no lugar dos temperos básicos.

Após preparar a carne dessa maneira seguimos para a salada.

Ingredientes: tomate, cebola, pimentão (amarelho ou vermelho), cenoura, 1 maço de salsinha, vinagre, água, sal, água da carne e azeite. Pode usar cenoura picadinha que eu já vi.

Corte a carne em tirar bem finas e vá cubrindo um recipiente com as fatias e estes temperos.


# Barreado

Caloni, 2024-04-29 food cooking repost [up] [copy]

Não tem segredo. Ou melhor, tem: monte camadas de bacon, cubos de carne e cebola. Jogue água quente até cobrir quando terminar. Deixe na pressão em fogo médio/alto por meia-hora. Tire da pressão. Coloque mais água quente e tempere com cominho, sal e folhas de louro. Mais meia-hora a quarenta minutos na pressão a fogo baixo. Retire da pressão. Mexa para desfiar. Já está pronto, mas pode continuar cozinhando e mantendo o caldo líquido, sempre com água quente para não parar o cozimento. O sabor não diminui com o tempo, é só acertar o sal. Coma com farinha de mandioca, banana da terra ou puro. No pão também fica top.

Barreado do Restaurante Casarão (em Morretes)

Ingredientes para 6 pessoas: 2kg de carne de segunda (músculo, lombo, etc), 2kg de cebola, 100g de bacon, 100g de alho (sim, é bastante), 1 colher de sobremesa rasa de cominho (eita, que pouco), 4 folhas de louro, sal e pimenta a gosto. Corte a carne em cubos de aproximadamente 5cm e o bacon em pedacinhos. Bata no liquidificador a cebola e o alho com um pouco de água. Coloque todos os ingredientes em uma panela, mais 3 litros de água e misture. Massa para vedar a panela (se não for de pressão, mas a tradicional de barro, imagino) use 2 xícaras de farinha de mandioca, 1 xícara de trigo, água morna até dar liga. Feche a panela e vede com massa. Cozinhe em fogo baixo durante 4 horas após a fervura (deve funcionar para a pressão).

Como servir o barreado?

No prato fundo coloque 2 colheres de farinha de mandioca cobrindo todo o fundo do recipiente. Adicione uma concha de caldo e misture bem fazendo o pirão escaldar (cozinhar a farinha) sobre esse pirão coloque uma concha de carne do Barreado misturando bem. Corte a banana (da terra ou ainda não madura) em rodelas e saboreie acompanhado do pirão. Assim está pronto o seu Barreado.


[2024-03] [2024-05]