# 2 Coelhos

Caloni, 2012-02-15 cinema movies [up] [copy]

Uma montagem impecável consegue dar o tom da narrativa do complexo 2 Coelhos. Além de complexo, existem pequenos detalhes da trama que forçam um pouco a realidade (como a união entre o protagonista e o pai-de-família que tem sua família brutalmente assassinada pelo seu carro). Porém, o que mais chama a atenção é o apelo visual e estético do longa, que pode ser considerado à altura de produções norte-americanas. Está à altura, sim, mas com isso também constatamos que a criatividade da direção de arte não vai muito além dos lugares-comuns de filmes do gênero, incluindo aí as apresentações Tarantinescas (e é também de Tarantino essa tentativa de humanizar os bandidos, com pequenos detalhes de suas ações) e chegando ao absurdo de incluir uma cena a la Sucker Punch com o único propósito de desviar nossa atenção.

Mesmo com cortes rápidos em muitas cenas e com o roteiro não-linear, o fôlego incrível aplicado à montagem consegue ir "descascando" a história em camadas que se juntam de uma maneira efetiva, nos permitindo acompanhar o raciocínio do protagonista onisciente, ainda que essa bagunça temporal possa ser justificada muitas vezes pelo prazer de complicar (ou parecer complexo). Em alguns pontos da trama ele é realmente complexo (como as intrínsecas relações autênticas entre alguns personagens e como isso interfere em como interpretamos suas ações e o que vai acontecer) e em outros é simplesmente enfeite (como as tentativas de despistar-nos, especialmente pelo destino do professor universitário, chegando a soar quase desonesto com o espectador).

É preciso ressaltar que muitas das cenas de 2 Coelhos é estilizada de maneira tão competente e com o preenchimento do quadro tão manipulado que conseguimos comparar diversas tomadas com quadros artísticos, e ainda que soe banal, é um feito e tanto para uma produção nacional. A união de diversas formas de narrativa também ajudam a criar um ritmo que oscila entre tiroteios e apenas conversas. A trilha sonora é original e converge diretamente para a tentativa de soar mais profundo do que realmente é.

Aliás, de várias formas, podemos dizer, o filme nos tenta mostrar algo diferente do que ele realmente é. E nesse quesito ele se sai muito bem.


# A primeira coisa bela

Caloni, 2012-02-15 cinema movies [up] [copy]

Esse filme, junto com o recente cult Um Sonho de Amor, evidencia um Cinema Italiano mais interessante e inovador, ainda que mantenha sua clássica dramaticidade de “novelão”, estilo que paradoxalmente o acaba engrandecendo.

E, convenhamos, há muitíssimo dramalhão na história da família do filme e de sua matrona, a protagonista absoluta, mas que conta com a ajuda de seu problemático primogênito durante as décadas de história. Ambos criam um interessantíssimo contraponto durante toda a narrativa, dotada de idas e vindas no tempo que enriquecem ambos os momentos.

Com uma direção que aproveita cada quadro com precisão milimétrica, além de se aproveitar de ótimas sequências sem cortes que fornecem mais fluidez à história, essa é uma ótima surpresa, que consegue unir técnica e emoção em um equilíbrio constante.


# Alvin e os Esquilos 3

Caloni, 2012-02-15 cinema movies [up] [copy]

Tenho a nítida impressão que a série Alvin pode ser repetida à exaustão graças à empatia do público com números musicais de sucessos atuais realizados pelo sexteto de esquilinhos. E é necessário apontar: eles são engraçados e fofinhos quase todo o tempo.

O novo filme tenta fugir do cenário de show business e os coloca perdidos em uma ilha, onde terão que se virar sem a ajuda de seu sempre presente “pai” (aquele cuja função principal é gritar irritantemente o nome de Alvin, o pior bordão da série). Essa condição gera algumas situações interessantes, como a inversão de liderança e autoestima entre os esquilos e a discussão sobre responsabilidade vs liberdade, apesar do surgimento de mais uma personagem enfadonha (coincidência ou não, mais uma humana).

Cenas de ação tão divertidas quanto as músicas, esse capítulo sai ileso, resgatando parte da “qualidade” do original, que já era esquecível por natureza (fora as músicas cantadas pelos esquilos, que insistem em não sair do cérebro facilmente).


# Dirty Dancing: Ritmo Quente

Caloni, 2012-02-15 cinema movies [up] [copy]

Para os filhos da década de 50/60 a era Disco representou uma mudança radical de apreciar música. Essa mudança não ocorreu obviamente apenas na música, mas na maneira de pensar e agir, sobretudo na adolescência, época conturbada tão bem representada nos trabalhos de John Hughes (Curtindo a Vida Adoidado, O Clube dos Cinco).

É nessa atmosfera que surge esse trabalho tão diferente quanto representativo do seu momento. Além de abordar temas polêmicos como o aborto, ainda que perifericamente, consegue mostrar essa revolução de pensamentos e músicas dos anos 80 como um reflexo das mudanças que ocorreram antes, nos anos 60, onde a história se passa.

Todo esse significado não poderia soar mais óbvio através da encantadora 'Baby' (Jennifer Grey, de Curtindo a Vida Adoidado), apelido carinhoso pelo qual seus pais e sua irmã chamam Frances, a filha caçula da família que irá passar suas férias em um veraneio onde famílias se divertem através dos mesmos jogos e danças tradicionais devidamente programados para entretê-las.

Com uma narrativa ambientada quase como uma fábula, onde Baby não mede esforços para ajudar todos que necessitam e ao mesmo tempo agarra as oportunidades de ser feliz, o que nos conquista é não só sua beleza e inocência, mas a forma como a história é conduzida através da dança, que tem papel primordial para estabelecer o status a qual as pessoas pertencem, dependendo, é claro, a que tipo de dança apreciam. Nesse sentido, o título coube perfeitamente aos propósitos narrativos.

E a dança, maneira universal de comunicação física entre pessoas de qualquer cultura, é usada aqui de maneira impecável não só nas performances exuberantes de Patrick Swayze, Cinthia Rhodes e Jennifer Grey como é acompanhada com um ritmo e uma cronologia impressionantes na montagem, dando a exata impressão, errônea, mas que cabe perfeitamente à intenção, que cada música foi composta para cada cena.


# Juan e Evita, Uma História de Amor

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Supostamente idealizado para narrar a relação entre o futuro líder argentino, Juan Domingo Perón, e sua agraciada amada Eva (a Evita de Madonna), aos poucos entendemos o filme como um conjunto de mini-episódios políticos da época que giram direta ou indiretamente em torno da figura de Juan, mas que são ligados apenas perifericamente com a cortejada Eva, de forma que nunca é possível inferir sua influência com o até então vice-presidente argentino, ou pior, o amadurecimento da relação de ambos. Essa ausência fica mais claro na segunda metade do filme, quando esperamos por um Juan e Eva mais íntimos.

Porém, difícil dizer que o problema é menos de roteiro e mais de direção, pois esta, vigorosa do começo ao fim, possui boas ideias, como mesclar gravações da época com a dramatização dos fatos, além de em momentos pontuais adequadamente alternar entre o colorido e o p&b, o que insere e associa os registros históricos diretamente com a visão mais intimista e interpretativa dos atos solenes.

De forma que é uma pena que falte ousadia no roteiro, pois a direção merecia mais, além de atuações convincentes, mas infelizmente estéreis.


# Muppets: O Filme

Caloni, 2012-02-15 cinema movies [up] [copy]

O potencial dos bonecos é evidente no filme, pois todos possuem personalidades marcantes que geram diversas situações ingenuamente engraçadas. E é de modo ingênuo que a história inicia, e a forma de narrar a vida dos irmãos, em que um deles é um boneco que portanto nunca cresce, já denota de modo inconsciente que a interação entre humanos e muppets é algo completamente comum naquele universo fabuloso.

Mesmo assim, a fraca história (incluo aí o conflito batido em que há, acredite ou não, um magnata do petróleo) compromete os não tão inspirados números musicais, que na maioria das vezes apenas torna os defeitos do filme mais evidentes. Porém, não há como negar que a sequência do show final é admiravelmente engraçada, nostálgica e com números bem melhores por estarem inseridos apenas no mundo dos próprios Muppets.

Enfim, um bom filme com promessas de continuações. Apenas aguardemos por roteiros mais ousados e criativos.


# Nanny McPhee A Babá Encantada

Caloni, 2012-02-15 cinema movies [up] [copy]

Uma produção com um toque britânico (e atores) que consegue entreter mais pela curiosidade das próximas ações da babá mágica para controlar os sete diabinhos do desafortunado viúvo, que ainda depende de uma tia impiedosa para a sobrevivência da família, do que pela história em si, que é bobinha e previsível. O filme ainda emociona por situações naturalmente emotivas (como a decisão de escolher uma filha para entregar à tia), mas por algum motivo "mágico", consegue caminhar até sua conclusão pelo menos ileso de apelações maiores. Talvez uma última da babá pós-créditos?


# Penumbra

Caloni, 2012-02-15 cinema movies [up] [copy]

O roteiro é uma bobagem, que brinca com o julgamento da protagonista de uma forma, mas faz questão de nos avisar muito antes o que está acontecendo. Não contente com isso, seu final comprova não apenas o delírio de complexidade (quando na verdade temos um desfecho simplista).

Fora isso, a direção faz o que acha certo abusando de câmeras que oscilam de um lado a outro, criando sensações involuntárias de enjoo. Mesmo assim, não se compara à desastrosa escolha de colocar efeitos sonoros de suspense ao menor movimento dos personagens, transformando um thriller ruim pela falta de tensão em uma comédia não-declarada.

De fato, Tarantino não está sendo boa influência para seus fãs cineastas.


# Professora Sem Classe

Caloni, 2012-02-15 cinema movies [up] [copy]

Se me dissessem que todo o roteiro de Professora sem Classe foi construído tendo apenas como argumento inicial a ideia da Cameron Diaz lavando carrões com um shorts minúsculo, eu acreditaria. O filme utiliza-se de personagens unidimensionais (incluindo a própria protagonista!) para narrar a história de uma caça-maridos (ricos, claro) que precisa voltar a lecionar (embora todo o dia apenas se limite a ligar uma TV para os alunos) enquanto ajunta dinheiro para colocar silicone em seus seios e assim se tornar mais atrativa no "mercado". Sim, com uma premissa dessa, não há muito o que esperar além da já citada cena da lavagem de carros.

Porém, sejamos justos: é possível acompanhar as aventuras da anti-herói interpretada por Diaz e sair ileso. Isso se sempre nos lembrarmos que a experiência a qual estamos vendo é completamente descartável.


# Selkirk el verdadero Robinson Crusoe

Caloni, 2012-02-15 cinema movies [up] [copy]

Impressionante essa animação argentina sobre o livro de Robinson Crusoé que, salvo alguns momentos difíceis tecnicamente, possui efeitos e direção dignos de outras produções mas conhecidas, como Wallace e Gromit (que também estreia recentemente com um filme de piratas).

Porém, melhor que os efeitos é a história, que além de seguir fielmente o espírito do livro não apela para piadas fora de contexto tão comuns em filmes “infantis”, além de não tentar suavizar por demasiado temas potencialmente impactantes, como morte (incluindo suicídio) e motim.

É notória que a melhor sequência do longa fica por conta do momento em que Selkirk é abandonado na ilha e deve se virar com o que tem para sobreviver, inclusive com moedas de ouro, que para ele, isolado da sociedade, possuem outra função e valor (diga-se de passagem muito mais importante por ser mais essencial).

Com ares de lição de moral, às vezes se confundindo com moral religiosa, Selkirk diverte de maneira moderada, mas possui o grande trunfo do aprendizado por exemplo, ainda que idealizado.


# Sherlock Holmes e o Jogo das Sombras

Caloni, 2012-02-15 cinema movies [up] [copy]

Guy Ritchie adora estilização via câmera lenta. Fora isso, as novas aventuras do famoso detetive de Baker Street parece ganhar fôlego extra graças a um vilão, se não memorável, digno das capacidades cognitivas de Holmes.

Ainda dentro do espírito dos livros de Sir Conan Doyle, direção de arte, fotografia e um Robert Downey Jr. mais convincente tornam a trama um pouco mais envolvente, ainda que sem grandes saltos criativos e sem sobrepujar minha ainda vívida memória da minha versão favorita do detetiva em O Enigma da Pirâmide, este ainda um objetivo a ser alcançado pela nova série.


# O Artista

Caloni, 2012-02-16 cinema movies [up] [copy]

Logo no início do filme, me senti acompanhando uma digna e merecida reverência ao Cinema Mudo, presente nos primórdios da arte e que acabou durante a década de 30 (mesmo ainda com defensores ferrenhos e influentes, como Chaplin). Porém, mesmo que você não entenda nada de arte cinematográfica vale a pena acompanhar o arco dramático de George Valentin, que vivia seu auge no cinema ainda não-falado (apenas com músicas de fundo, geralmente tocadas ao vivo por uma orquestra), e que subitamente foi afastado pela novidade dos personagens que agora falavam diretamente, e não com a ajuda dos cartões de falas colocados após alguma declaração importante.

De ambas as formas é possível aproveitar o filme, pois ele contém em seu desenvolvimento detalhes de filmagem, direção e produção que, discretos mas ao mesmo tempo reveladores, dão uma ótima noção do que era fazer cinema naquela época (e até atualmente). Ao mesmo tempo, para quem já conhece um pouco mais de todo o processo, vai se divertir com as referências, óbvias e sutis, de várias obras da História do Cinema. Muitas dessas referências, aliás, são tão sutis que revelam sua fonte unicamente pela sua forma visual de contar a história. Dessa forma, é possível respirar um pouco de Cidadão Kane, por exemplo, mas sem apontamentos claros sobre o filme (com exceção da cena da mesa de jantar). Ou acompanhar uma trágica cena que remete diretamente a Cinema Paradiso (note o formato da casa onde isso ocorre), sem constituir plágio, mas uma elegante referência.

Brincando o tempo todo com o Cinema como metalinguagem -- como, por exemplo, durante um hilário e angustiante sonho do protagonista -- a direção de Michel Hazanavicius -- que também escreve o roteiro, ou melhor dizendo, os cenários e os diálogos -- consegue inserir uma história sensível e ao mesmo tempo cômica, brincando com dois dos principais alicerces dessa arte: fazer rir e fazer chorar. E, assim como o Cinema com C maiúsculo, se aproveita do formato de filme mudo para caprichar nas técnicas visuais, tornando o resultado, se não totalmente universal (o maior ataque de Chaplin ao cinema falado) muito próximo disso.

Com uma muitas vezes tediosa peregrinação à decadência de nosso herói, o maior feito do filme é conseguir nos inserir na atmosfera daqueles tempos, cuja evolução visual tenha sido possível justamente pela ausência técnica de diálogos longos. Talvez devamos realmente essa evolução ao cinema mudo. Pelo sim, pelo não, O Artista faz uma homenagem mais do que apropriada ao nascimento de uma arte.

Revendo mais uma vez O Artista (terceira vez em menos de um ano) é possível perceber duas coisas distintas e de certa forma paradoxais: 1) as pessoas não entendem mais por que assistir um filme com atores fazendo caretas, sem som algum e uma fotografia monocromática; 2) a academia não tinha como não dar o Oscar para um filme que abraça sem reservas a metalinguagem de todas as formas possíveis e imagináveis, uma declaração de amor sincera e profunda sobre o Cinema, não necessariamente apenas o mudo.


# Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres

Caloni, 2012-02-19 cinema movies [up] [copy]

O filme é um remake do sueco homônimo de dois anos atrás, sendo que ambos foram criados a partir da mesma fonte: o primeiro livro da trilogia escrita por Stieg Larsson que se tornou um best-seller póstumo (Larsson faleceu um ano antes da primeira publicação). Dadas essas condições, me parece que o projeto possui uma missão particularmente difícil: adaptar um livro complexo por conter uma trama cheio de detalhes que se debruça sobre a psique de seus personagens (e são muitos) e sair-se melhor do que o filme original (do contrário, para que fazer de novo?).

Quanto à adaptação, só tenho a dizer que foi uma tortura acompanhar as histórias de O Código da Vinci ou até mesmo Anjos e Demônios, ambos livros de mistério escritos por Dan Brown e que se tornaram filmes de Ron Howard. O problema principal desses filmes é jogar toneladas de informações sem qualquer discernimento e sem imaginar que o espectador poderia precisar voltar algumas "páginas" após alguns acontecimentos lá pelo meio do "livro". Já o trabalho do roteirista Steve Zaillian em O Homem que Não Amava as Mulheres enriquece a experiência cinematográfica justamente por expor poucos mas convincentes detalhes sobre a relação entre seus personagens, mantendo assim a essência literária (não, não li o livro, mas dei uma olhada na Wikipedia depois).

E se o roteiro é competente, ele brilha nas mãos de David Fincher (Clube da Luta, A Rede Social) e dos seus costumeiros montadores Kirk Baxter e Angus Wall ao evocar rapidamente esses detalhes em cenas que muitas vezes duram menos de 30 segundos (como um determinado roubo), mas que criam pequenas dobras nos detalhes que vamos acumulando durante o filme com efeito duradouro. Para notar isso, basta assistir aos primeiros 10 minutos, que conseguem com perfeição delinear as principais motivações de seus personagens em sequências rápidas e econômicas.

Com isso, temos todas as cartas na manga ao chegarmos na mansão de Henrik Vanger (Christopher Plummer) através de uma evocativa nevasca. Henrik é o presidente do império familiar e contratou o jornalista Mikael Blowkvist (Daniel Craig) para investigar o desaparecimento de sua sobrinha-neta Harriet Vanger ocorrido quatro décadas atrás. E se a introdução sobre a família dos Vanger confunde pela quantidade de nomes e detalhes sobre cada um de seus membros, além da localização das respectivas casas, isso apenas reflete a futura dificuldade de Mikael em juntar todas as peças sobre um fato ocorrido há muito tempo na pequena e cinzenta cidade.

Da mesma forma, o comportamento meio desajeitado e vulnerável de Blowkvist vem apenas criar um contraponto à ágil e objetiva Lisbeth Salander (Rooney Mara), vista por nós como uma mulher forte e determinada, ainda que considerada pela Justiça mentalmente incapaz. A interpretação por Rooney Mara, aliás, costuma roubar cenas até mesmo onde a expressão forte da face de Craig é compartilhada. De fato, sua história se mescla com vários detalhes do desaparecimento de Vanger, mesmo sem soar apelativo. Para uma medida da importância de Lisbeth no filme/livro, basta acompanharmos o que ocorre com a moça em vários momentos icônicos do filme e que amplia o significado da busca pelo suposto assassino de Harriet.

Porém, a história ainda é complexa, e é preciso entender que o filme precisa se alongar o suficiente para explicar o andamento das investigações e as mudanças que ocorrem no relacionamento dos personagens, e para isso temos a quase sempre evocativa trilha sonora, que cria pares de momentos para refletir e agir com uma maestria apenas igualável à fotografia límpida e cristalina de Jeff Cronenweth, mais um fator para não desgrudarmos os olhos da tela. Esses dois fatores aliados a uma história sempre fluida compensam a longa duração.

Até mesmo a conclusão conturbada, por reunir diversos eventos em pouco espaço de tempo, não diminui a expectativa do filme como um todo, pois do momento em que vemos a brilhante introdução musical do início, que pode se tornar um elemento de união para dois outros futuros filmes que venham a fechar a trilogia literária, ao momento em que testemunhamos o desfecho dos personagens principais, não há dúvida que a atmosfera criada por Fincher e os diálogos inspirados de Zaillan (ou Stieg Larsson) conseguirão entreter novamente os espectadores mais exigentes que tentarem uma revisita.


# Monstros S/A

Caloni, 2012-02-20 cinema movies [up] [copy]

Interessante notar como a Pixar em seus primeiros filmes costumava inserir brincadeiras que, de certa forma, acusavam o espírito jovem e experimentador daqueles tempos. Mais impressionante, porém, é perceber como esse deve ter sido a semente para o amadurecimento da técnica antes de filmarem jovens clássicos como Os Incríveis, Wall-E, Ratatouille e Up!.

Em Monstros S/A, é preciso lembrar, ainda estamos engatinhando nas animações computadorizadas para o cinema. Mas a passos largos. A grande novidade na época era a perfeição do efeito dos pelos de Sulley, um dos monstros da história que possui a função de assustar as crianças e assim poder coletar seus "gritos" em uma forma de energia que é usada no mundo dos monstros. Apesar de datado, a premissa do filme consegue ser uma das mais originais de todas as obras da Pixar, e seu personagem humano, uma garotinha apelidada de Boo que acaba entrando sem querer no mundo dos monstros, continua adorável, além de participar das cenas mais emocionantes do longa.

Outro detalhe admirável é entender que entre os princípios de criação do estúdio estava o uso de temas e situações que nunca ficam datadas, servindo para que seus filmes envelheçam bem. No caso de Monstros S/A, isso continua funcionando bem, apesar de algumas referências já mais passadas e da perigosa dublagem brasileira que utiliza maneirismos na língua que logo estarão ultrapassadas.


# O Corajoso Ratinho Despereaux

Caloni, 2012-02-20 cinema movies [up] [copy]

Essa animação de 2008 passou meio que despercebida dos cinemas, apesar de possuir uma invejável direção de arte. Narrando uma fábula ocorrida na França antiga que relaciona sopa, princesas e ratos (dividindo-se em camundongos e ratazanas), o principal fator que move o filme é a pseudo-grandiosidade da história, onde um simples e pequeno camundongo recebe a missão de acabar com o luto interminável do rei, causado tempos atrás por um acidente causado por uma ratazana. A grande sacada da história é que o Despereaux do título é um camundongo que, além de ter duas gigantescas orelhas, diferente de todos os outros, nunca sente medo. Esse traço de sua personalidade irá permitir que ele transite entre os três mundos (dos humanos, das ratazanas e dele mesmo) e junte as peças da fábula.

Sustentando-se com apenas essa premissa, a história do ratinho pode-se tornar tediosa até mesmo diante de sua curta duração. Até porque, francamente, não existem sequências inspiradas, e até mesmo as situações de perigo do pequeno camundongo (e são muitas) não conseguem animar muito a trama. De certa forma, a tristeza do reino sem sopa é refletida nas cores sombrias e vazias de sua fotografia e de sua história.


# Pinóquio

Caloni, 2012-02-20 cinema movies [up] [copy]

Essa versão da obra literária de Carlo Collodi (e cuja história foi eternizada por Disney em 1940) foi dirigida, co-roteirizada e atuada pelo ator circense Roberto Benigni (A Vida é Bela). Embora o uso da abordagem literal, ou seja, sem nenhuma ressalva ao possível choque para o público infantil, poderia ter sido a grande diferença do filme em relação às suas contrapartes, desde os primeiros quinze minutos fica óbvio que se trata de um projeto desnecessário, ainda mais se considerarmos os poucos recursos utilizados, que limitam sim a imaginação dos espectadores, considerando que se trata de um filme contemporâneo, e não estamos acostumados a fazer ressalvas como no caso de O Mágico de Oz, obra mais antiga e, portanto, limitada tecnicamente (note que falo apenas dos efeitos visuais, pois existem obras seculares que até hoje impressionam pelas técnicas de filmagem empregadas).

Dito isso, é inegável que o filme possui seu próprio formato que funciona dadas suas devidas proporções (e limitações). Isso não quer dizer, no entanto, que ele inclua algo de novo, algo que, encontrado pelos cinéfilos, faça valer a pena a experiência. Em suma, ele se torna uma versão pseudo-adulta de um livro para crianças. Com bons momentos, é verdade, mas ainda limitado em seu formato e objetivos.


# A Invenção de Hugo Cabret

Caloni, 2012-02-25 cinema movies [up] [copy]

Hugo é o primeiro filme em 3D do mestre Scorsese (Os Bons Companheiros, Táxi Driver) e nesse caso o uso da tecnologia é totalmente justificado. Abordando uma história que gira em torno do cinema e seus primórdios, a ideia de "separar" a criação de filmes antigos do próprio filme cria um exercício metalinguístico admirável e uma aventura extremamente emocionante. O uso da tecnologia, além de ser aplicada com competência, difere de filmes anteriores principalmente pela já velha questão do foco. Em Avatar, por exemplo, o primeiro grande exemplo de 3D "de verdade", James Cameron ainda aplica o foco de maneira binária nos personagens, se esquecendo que estamos em um cenário com profundidade de campo variável. Já em Hugo o que ocorre é uma perda gradual de foco, com o fundo ficando aos poucos "embaçado", ou seja, uma simulação de mais ou menos como nossos olhos funcionam em um ambiente como no mundo real. O uso de engrenagens e cenários internos com longos corredores consegue ajudar a nos ambientar nessa profundidade de campo facilmente, e embora esse recurso seja repetido meio à exaustão ele é importante para nos situar no universo do protagonista. Mesmo os cenários "externos", ainda sofrendo a limitação da tecnologia em planos aéreos, pois faz com que os objetos pareçam maquetes, dentro do espírito fabuloso da narrativa encaixa-se perfeitamente.

Porém, mais do que um filme que homenageia o Cinema e usa o 3D como poucos, Hugo pretende contar uma história, e essa não funciona tão bem, apesar de ideias e momentos icônicos existirem salpicados durante todo o trajeto. Pra começar, Hugo não é o garoto carismático que o roteiro talvez precisasse de fato, e as provações pelos quais ele passa não o tornam um personagem mais dramático nem as passagens mais leves o tornam mais cômico. Tudo parece surgir como um ensaio para a história real, porque nada adquire peso até que se comece a falar do cineasta George Méliès, um dos pioneiros em fazer filmes e a criar efeitos visuais (não é à toa que ele se torna o grande homenageado do trabalho de Scorsese).

Além do mais, os conflitos principais da história não se sustentam, virando em vez disso meras distrações. O próprio inspetor que persegue Hugo pela estação ferroviária, o sempre eficiente Sasha Baron Cohen, vem em uma versão reduzida, limitada, e não consegue fazer rir como em seus personagens habituais. E se a interpretação de Asa Butterfield como Hugo soa apática e sem quaisquer atrativos, sua companheira Isabelle (Chloë Grace Moretz, de Kick-Ass) se sai infinitamente melhor, mas ainda assim o conceito de filme infantil parece perturbar a cabeça do diretor.

Por fim, mesmo com esses óbvios problemas de caráter burocrático para que o filme conte sua grande história, o fato é que, chegando lá, ele funciona impecavelmente bem, levando facilmente o espectador a esquecer que está em uma sala de projeção e a viajar pela história de um dos criadores da arte de contar histórias. Essas sim, deliciosamente fantasiosas.


# O Mariachi

Caloni, 2012-02-26 cinema movies [up] [copy]

A estreia do diretor Robert Rodriguez (Sin City, Machete) foi com este El Mariachi, que lhe custou, de acordo com a lenda, $7000, gastos quase todo para o filme da câmera.

Valeu a pena. Com o uso da película e de uma impressionante realidade alternativa em uma cidade comandada por um chefão que se veste de branco e que possui tiques de mafioso, Rodriguez dita o tom não só de seu filme-debut, como praticamente de todos os filmes dirigidos por ele até então, bons ou ruins. El Mariachi pode não ser uma obra prima, mas pela maneira com que foi filmada, escrita e produzida, pode ser usada sim como exemplo de como fazer cinema com poucos recursos.


# Psicopata Americano

Caloni, 2012-02-26 cinema movies [up] [copy]

Existem vários exemplos de serial killers organizados na literatura e no cinema e tv, como Kevin Costner em Mr. Brooks (Instinto Secreto) e o mais famoso Michael C. Hall como Dexter Morgan. Porém, pouco se vê dos assassinos que são facilmente pegos exatamente porque não possuem disciplina e ordem: matam as pessoas de qualquer forma. Não possuem método: possuem impulso.

Christian Bale é esse exemplo nesse Psicopata Americano, que deixa muitas questões, mas não deixa dúvidas de que não existe nenhum tipo de lógica na cabeça do indivíduo, ou pelo menos essa lógica não se mantém intacta por muito tempo. Tendo impulsos assassinos constantes, a convivência com as pessoas torna-se um desafio. Tendo cada vez mais seus impulsos narcisistas desafiados (como o filme demonstra muito bem em uma cena envolvendo cartões de visita), o momento da explosão é sublime, surreal, magnífico.


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