# A Liga Extraordinária

Caloni, 2012-01-01 cinema movies [up] [copy]

O filme pretende contar a história de pessoas que, dotadas de alguma capacidade especial para sobreviver, são reunidos pelo Império Britânico para tentar evitar que seja instaurada uma possível guerra mundial, tentativas de um ganancioso sujeito que usa uma máscara e simula ataque entre nações. Isso na virada para o século XX em uma Era Vitoriana alternativa.

Concebido a partir dos quadrinhos de Alan Moore e Kevin O'Neill, logo no princípio já fica claro que a ideia funciona muito bem em seu universo original, mas que, a despeito do sucesso da adaptação de Watchmen, também de Moore, para as telonas, a direção de Stephen Norrington (criador dos efeitos especiais de dois filmes da série Alien) e o roteiro de James Robinson consegue tornar a história muito confusa para darmos atenção para a suposta trama que se forma com a reunião dos "cavalheiros extraordinários".

Como fator ainda negativo, os efeitos de encher os olhos quase nunca conseguem ser contemplados pela edição caótica de um verdadeiro discípulo de Michael Bay (Transformers), com planos nunca fáceis de seguir, ou lutas que nos são entregues apenas em fragmentos (de segundos). Porém, talvez esse seja um lado positivo, pois o universo não muito convincente de cidades históricas como Veneza e Londres, que passam por um filtro plástico insosso e sem personalidade, poderiam ficar ainda pior caso as sequências tivessem um pouco mais de ritmo e lógica visual.


# Antes do Pôr-do-Sol

Caloni, 2012-01-03 cinema movies [up] [copy]

A continuação do terno romance de um dia entre Jesse e Celine é assinada não apenas pelo diretor Richard Linklater, mas também pelos próprios atores Ethan Hawke e Julie Delpy, o que dá o tom de filme casual que tenta fechar um arco iniciado nove anos atrás, usando o mesmo espaço de tempo entre os lançamentos dos filmes.

A história começa em uma tarde em Paris, quando o agora escritor Jesse dá sua última entrevista após uma turnê pela Europa. A descrição da história de seu livro, que obviamente é sobre o filme anterior, já entrega as pistas para ligarmos acontecimentos passados e presentes, quando Jesse volta-se a encontrar com Celine.

Mais uma vez usando de diálogos que soam naturais aos dois personagens e a nós mesmos, essa nova tarde junto do casal acaba se tornando uma belíssima extensão das conversas filosóficas sobre a vida e o universo, mas principalmente do processo de amadurecimento e vivência de ambos, agora com opiniões mais amarguradas, mas nem por isso menos fascinantes. Além do mais, o longa não precisa que o espectador tenha assistido ao primeiro filme, mas enriquece com este, ou melhor dizendo, a maneira de encarar Celine e Jesse muda dependendo se nos lembramos ou não de suas versões mais jovens. Nesse sentido, o filme acerta mais uma vez evitando flashbacks expositivos e permitindo que enxerguemos o passado pelo filtro da vivência de ambos, o que soa muito mais enriquecedor por dar abertura a interpretações diferentes de cada um.

Com uma entrega incondicional de Ethan Hawke e Julie Delpy, as interpretações envelhecidas de Jesse e Celine nos permitem lembrar de ambos mais jovens e ao mesmo tempo perceber as mudanças que podem ocorrer com o tempo, mesmo que o cinismo (agora refinado) de Jesse constate que, no fundo, as pessoas não mudam, mantendo sua essência por toda a vida.

Ironicamente, torcemos pelo mesmo, permitindo que o casal se encontre novamente mais vezes, e permita que experimentemos a beleza de compartilhar nossas vidas com o próximo, não importando que isso se resuma a uma bela tarde em uma cidade qualquer.


# Românticos Anônimos

Caloni, 2012-01-04 cinema movies [up] [copy]

Como bom tímido que fui (sou?) posso com autoridade dizer que Românticos Anônimos ao mesmo tempo que permite nos identificarmos com o casal protagonizado por dois tímidos irremediáveis também nos permite identificar as diferenças peculiares de cada um, evitando assim estereotipar o termo e manter-se engraçado.

O problema mesmo é a falta de ambição em contar a história de Angélique Delange (Isabelle Carré, bela) e Jean-René Van Den Hudge (Benoît Poevoorde, angustiante em alguns momentos). Assim, não conhecemos muito o que levou ambos a se tornarem daquele jeito, tendo que contentar-nos com vagas lembranças do pai de Jean-René e uma cena pseudo-reveladora totalmente descartável entre Angélique e sua mãe. Mesmo assim, a dedicação dos atores e a beleza da direção de arte/fotografia, que aproveitam a falta de luz para representar nos cenários esse tom acanhado, mas que ao mesmo tempo tem um tom poético (ou romântico), faz com que a experiência de acompanhar a vida de ambos seja não necessariamente fascinante, mas cativante pelas situações que ambos têm que enfrentar.

Porém, e mais uma vez voltando ao roteiro, as cartas são jogadas de maneira quase gratuita, sendo que nos primeiros 15 minutos de filme já é possível traçar quase todo o trajeto que ambos irão seguir durante o resto da história, faltando apenas acompanhá-los. Embora ambos tenham visíveis problemas de relacionamento, mesmo assim a sensação geral é que tudo acaba se acertando e que não existe um mínimo conflito que nos dê a sensação de incerteza, como acontece todo o tempo, por exemplo, em O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.


# Dumbo

Caloni, 2012-01-08 cinema movies [up] [copy]

Um dos trabalhos mais esquecidos da Disney das décadas passadas, e um dos poucos que conseguiu arrecadar bilheteria o suficiente para manter a empresa de animação nos eixos durante a Segunda Guerra, Dumbo possui uma leveza e doçura que não existe em trabalhos mais sombrios da época, como Branca de Neve e Pinóquio (sem contar o extremamente cruel Bambi). No entanto, não é apenas isso que se nota no curto longa-metragem: surrealismo (Pink Elephants on Parade), regionalismo (os corvos que usam até uma música descaradamente plagiada em A Princesa e o Sapo) e preciosismo nos movimentos são alguns traços que mantém este trabalho como uma das grandes animações já feitas no Cinema.

No entanto, nada disso é o que faz dele um dos meus favoritos do estúdio. Munido da paleta clássica de cartoons, Dumbo ainda consegue trazer drama para a tela em seu momento climático mesmo depois de termos visto a mesma cena várias vezes. O quadro-a-quadro aqui é um exemplo de Cinema a ser copiado e estudado.


# Adeus, Primeiro Amor

Caloni, 2012-01-09 cinema movies [up] [copy]

Apesar de toda a sutileza e competência visual ao contar o romance de dois jovens, primeiro amor de ambos, e a posterior separação e amadurecimento de ambos, acaba se tornando vazia quando percebemos que a experiência não oferece mais nada senão uma trilha sonora bem escolhida e enquadramentos sublimes (sobretudo se aliado à competente fotografia, que não se intimida pelas diversas luzes escolhidas para os cenários). Além disso, temos surpreendentes três atuações medíocres, que não oferecem nada além do óbvio, o que é um assombro, principalmente ao notarmos o tempo de tela da protagonista Lola Créton, que constrói uma Camille convincentemente apaixonada no início para tornar-se insuportavelmente apática por todo o resto, como se o sinal óbvio de amadurecimento fosse se tornar um tédio.


# Missão: Impossível - Protocolo Fantasma

Caloni, 2012-01-09 cinema movies [up] [copy]

Versão mais leve que o anterior (no sentido de censura e tensão), embora mais divertido. Não tem vilão tão memorável nem conflitos dignos de nota, mas a interação entre os participantes e as situações criativas conseguem balancear a ação durante todo o trajeto. Infelizmente a parte em Dubai é a melhor, e está um ato antes do final que desaquece um pouco. A direção fluida de Brad Bird confere um espelho significativo com seu trabalho anterior Ratatouille, pois as cenas de ação lembram, por exemplo, a perseguição pelo Rio Sena (apesar da animação não ter esse enfoque), enquanto M:I 4 herda a estranha sensação de estar assistindo uma brincadeira (à moda antiga) de mocinho e bandido.


# O Gato de Botas

Caloni, 2012-01-09 cinema movies [up] [copy]

Direção de arte nova que dá um novo respiro ao gato. Sequências e sacadas inspiradas na intro (como o fato dele ser um gato implica em problemas de estatura, ou como segue luzinha no chão). Até a história do passado, apesar de não convencer, é contada de forma convincente, e a inclusão de Humpty Dumpt é muito bem vinda ao adicionar um caráter mais adulto e contraditório. Já se a intro da gata e dos dois vilões é primorosa, o mesmo não se pode dizer do seu desenvolvimento, esquecido, já que suas funções são pontuais/artificiais e nunca fazem muita diferença na narrativa.

O fato é que, com exceção dos dois, não existe aqui nenhuma criação primorosa de personagem ou mesmo de história, que acaba prejudicando a continuidade na que poderia ser a melhor sequência do longa no pé de feijão, mas que perde o ritmo facilmente. E o que dizer da conclusão bobinha que revela que o projeto não contempla nem um fechamento coerente, se bastando nas gracinhas.


# Toy Story

Caloni, 2012-01-09 cinema movies [up] [copy]

Achei melhor do que as vezes anteriores que tinha assistido. A direção se esforça ao enfocar a ação e o uso de ângulos criativos que inibem a ainda falta de tecnologia que torna as texturas simplórias, apesar de bem trabalhadas. A dublagem nacional mais uma vez empolga, com menção honrosa ao Sr. Cabeça de Batata.


# Mãe e Filho

Caloni, 2012-01-11 cinema movies [up] [copy]

Para aqueles que possuem prazer estético pelo Cinema e possuem paciência para narrativas não-convencionais como o recente e polêmico A Árvore da Vida, vale a pena uma olhada nesse Mãe e Filho, do diretor Aleksandr Sokurov, o mesmo do igualmente "arrastado" (mas belíssimo) Arca Russa.

O filme narra a relação entre uma mãe já debilitada e seu filho, tudo que ela tem. A história tem seu sentido semântico, mas o que mais impressiona no filme é o uso das lentes e ângulos para montar a cada cena um quadro belíssimo, que exalta exatamente essa relação maternal e deixa todo o resto não exatamente desfocado, mas desapegado da realidade, como em uma pintura à óleo. Exatamente por isso, Sokurov usa tomadas lentas, que param por vários segundos (ou até mesmo minutos!) em um quadro que não se move, mas que apresenta uma beleza e um significado ímpares.

Não há trilha sonora, quase não há efeitos sonoros ou diálogos. Porém, há algo inestimável nesse filme: uma visão diferente. Algo para pensar, nem que seja sobre o que o Cinema representa em obras como essa, ou o que ele consegue evocar apenas com a escolha certa de elementos minimalistas e aprofundar na expressividade com nada mais que isso.


# RValue é o novo LValue

Caloni, 2012-01-11 computer ccppbr [up] [copy]

As grandes discussões filosóficas que participei durante meu estudo da linguagem C, e mais tarde de C++, muitas vezes convergiam para o significado místico daquela figura que nós da gramática da linguagem conhecemos como lvalue, ou l-value, ou left-value. Enfim, a definição de uma expressão que representa um lugar na memória e, portanto, pode ocupar o lado esquerdo de uma atribuição/cópia/passagem de argumentos qualquer. Porém, os "grandes" embates daquela época hoje parecem brincadeira de criança, como a diferença sutil entre ++x e x++ ou convergência de tipos em templates.

Agora o buraco é mais embaixo. Agora temos referências r-value.

Agora o mundo mudou.

Foi necessário que mudasse. C++, conhecido internacionalmente como a vanguarda das linguagens, mesmo mantendo sua fama de alta performance, precisava voltar às suas origens performáticas de qualquer forma. O Criador da linguagem e seus seguidores estavam cientes: cópia de strings é uma coisa muito, muito má. Imperfect forwarding (direcionamento imperfeito?) é algo ainda pior, pois é mais sutil.

Todos concordam, então, que a mudança é necessária. Nem todos concordam, contudo, com o preço a ser pago. As coisas começam a ficar cada vez mais difíceis de entender, e agora, com r-values vindo à superfície, o universo de criaturas bizarras volta a mostrar as caras.

Desde o começo de meus estudos em C++ tenho admirado a linguagem com um certo distanciamento. Enquanto a linguagem C continua sendo o supra-sumo das linguagens de médio-nível, C++ continua sendo uma abominação cujos detalhes muitos preferem esquecer. Mas esquecer tem se tornado cada vez mais difícil frente às adaptações técnicas que a linguagem vem sofrendo.

No caso de Rvalues, se antes existia uma discussão interminável sobre sua inclusão no novo padrão, agora existem discussões acerca do que tudo isso significa. Existe até um ótimo guia (thanks to pepperchico) sobre as principais mudanças de conceitos, feito para simplificar o entendimento. Mas ele mesmo é exageradamente complexo para o programador médio. É de forçar a barra, mesmo. É pedir demais.

No próximo dia 28, sábado, nos reuniremos em mais um evento C++ organizado pelo Grupo C/C++ Brasil e pelos agora dois MVPs do Brasil, o veterano Fabio Galuppo e o novato Rodrigo Strauss (meu amigo, mas acima de tudo muito bem-vindo ao cargo). Estou na lista de palestrantes e conversarei com vocês sobre as otimizações que o famigerado RValue deve trazer à mesa. Espero conseguir entender um pouco mais sobre essa criatura fantástica até lá.

Se o Cebolinha for um programador C++, deve estar se debatendo nesse momento.

* C++ Rvalue References Explained

* A Brief Introduction to Rvalue References

* Want Speed? Pass by Value

* MSDN Community: C++ Renaissance, São Paulo - SP.

Faça sua incrição!


# Depois da Vida

Caloni, 2012-01-15 cinema movies [up] [copy]

Pense rápido: se você morrer hoje escolha de toda sua vida apenas uma memória para guardar para toda a eternidade. No filme de Hirokazu Koreeda, o mundo pós-vida possui um sistema de acompanhamento das pessoas que recentemente faleceram e cujo objetivo é exatamente esse.

A inusitada premissa se esforça por tomar o foco central da história ao mesmo tempo que se revela frutífera nos meandros desse sistema, narrando o processo da captura da lembrança do ponto de vista dos "subalternos" que tomam conta dos falecidos.

"Singelo do começo ao fim, representa uma bonita mensagem de esperança e auto-ajuda. Mas é só."

Foi assim que eu terminei minha mini-resenha sete anos atrás. Mas hoje penso diferente. Toda a discussão que o filme elabora em seu pano de fundo sobre esse mundo idêntico ao nosso, com a única diferença dos mortos chegarem nesse lugar para serem arquivados, é uma filosofada das boas sobre o sentido da vida.

Mais do que isso, o filme em seu terceiro ato elabora uma reviravolta envolvendo dois funcionários desse lugar.

Mais do que isso, este filme é um semi-documentário, pois a maioria das pessoas que "morreram" no filme não são atores e foram entrevistadas de verdade para responderem qual o momento da vida que gostariam de guardar se morressem hoje.

O diretor Hirokazu Kore-eda foi um documentarista e se aventurou na ficção em meia-dúzia de filmes. Este é uma mescla de seus dois estilos e entrega mais realismo e profundidade usando pessoas da vida real.

E você, já pensou sobre isso?


# Tomboy

Caloni, 2012-01-15 cinema movies [up] [copy]

Tomboy de início possui uma inusitada premissa: narrar a vida e as dificuldades de Laure, uma garota que, andrógina, possui a aparência de menino. Focando-se nisso de maneira sutil, ainda que nos deixe perceber as intenções e pensamentos da jovem Laure, ainda que sem diálogos, o filme faz questão de sempre nos fornecer aconchego externo, de forma que nunca nos sentimos realmente desamparados pela condição da garota, que possui pais compreensivos e atenciosos, além de uma adorável irmã mais nova.

Nos mostramos naturalmente curiosos pelo seu dia-a-dia e, em maior grau, tensos, pois ela decide se fingir de menino para os garotos da vizinhança, o que a coloca em diversas situações onde seu disfarce poderia ser descoberto. Sabemos que ela é tímida (talvez pela sua condição) e sensível, mas ao mesmo tempo flexível. Isso, porém, sem muitos diálogos, pois ela evita falar. No entanto, a direção competente de Céline Sciamma (que também assina o roteiro) consegue nos fazer pensar através de Laure, o que praticamente serve de cumplicidade silenciosa com o espectador. Além do mais, a participação adorável de sua irmã Jeanne faz um contrapeso necessário.

Nunca impressionando ou indo fundo demais nos questionamentos filosóficos da história, a abordagem água-com-açúcar pelo menos consegue transpor a realidade da menina e nos mostrar, ainda que sutilmente, como é difícil em nossa sociedade nos lançarmos a sermos nós mesmo e impedir que a pressão da maioria exerça uma maior influência sobre nossa personalidade. Se essa for a maior lição que Tomboy consegue extrair, já seria, de longe, algo interessante de se pensar a respeito.


# O Espião Que Sabia Demais

Caloni, 2012-01-17 cinema movies [up] [copy]

Confuso, confuso, confuso.

Poucas vezes saí do cinema tão perdido quanto da sessão de "O Espião que Sabia Demais". Ultimamente tenho tido alguns problemas de foco, que no caso foram extrapolados pelas conversinhas paralelas na sala. Porém, isso não justifica a total falta de compreensão da trama, uma vez que já participei de alguns "desafios intelectuais" como Donnie Darko, Prime e O Grande Truque e saí (quase) ileso. Nesse caso, faltou para mim, do começo ao fim, não só os detalhes, mas a essência de toda a história.

A sensação inicial é a de estar acumulando informações sobre três grupos: eventos, pessoas e lugares. Acredita-se que esses grupos irão se conectar em algum lugar da história, e confia-se nessa premissa para continuar assistindo (mesmo que abobalhado). Essa sensação vai aos poucos dando lugar a um completo descaso, uma vez que os três grupos apenas se acumulam, nunca nos dando a oportunidade de ligar as peças. O quebra-cabeças vai sendo jogado em nossas mentes de maneira completamente caótica, sem qualquer distinção de cor ou forma. Chega um momento em que não existe sequer a noção de qual imagem devemos esperar (se é que existe alguma).

Para quem começa e termina o filme tendo essa sensação o final não ajuda muito. O saldo, porém, é positivo. Sabemos que a narrativa é visualmente coesa, com planos que se ligam de maneira elegante e uma direção de arte competente que consegue, com a ajuda da fotografia sempre escura (mesmo em planos à luz do sol), reproduzir o que seria o fim de um jogo de troca de informações que por duas décadas manteve duas potências em regime de guerra não declarada.

É fato que existe algo a ser desvendado na estrutura narrativa do filme. Contudo, como bom cinéfilo, jogo humildemente a toalha e afirmo não ter a mínima ideia do que aconteceu.


# Clube dos Cinco

Caloni, 2012-01-24 cinema movies [up] [copy]

Apesar de parecer mais um filme sessão da tarde, Howard Hughes desafia o raciocínio em cima dos estereótipos dos jovens de sua época, mostrando como cada um deles no fundo é uma peça única, e que não podem ser rotulados pelos adultos.

Tecnicamente, o que mais impressiona são os enquadramentos que sempre tentam focar nos seus personagens principais. Porém, a história já soa meio datada, e é necessário um pouco de comprometimento com o contexto histórico em que ele se insere; dado essa ressalva, é um programa de primeira linha, que até hoje faz pensar sobre os estereótipos que os adolescentes sempre tentam se encaixar (ou evitar).


# XXY

Caloni, 2012-01-24 cinema movies [up] [copy]

Mais um filme com tema sexual polêmico (como o recente, leve e em cartaz Tomboy), mas que nesse caso, assim como o Minhas Mães e Meu Pai, se recusa a apresentar uma história que utilize seus personagens e seus conflitos de forma coerente ou pelo menos interessante. Não, a única coisa que faz é sempre focar na condição de Alex, um garoto que nasceu com ambos os genes, o masculino e o feminino —, o que faz com que, entre outras coisas, ele/ela tenha ambos os órgãos sexuais. Uma aberração, certo? Errado. Alex é um ser humano qualquer, ou melhor dizendo, um adolescente qualquer, mas independente disso o filme tenta de todas as formas apresentar o conflito físico do personagem como sendo o único evento digno de nota, a única coisa na história que valha a pena ser contada.

Dessa forma, até mesmo Alex fica em segundo plano, parecendo tão unidimensional quanto o rótulo que o filme lhe dá, de um caso "complicado". Bom, isso todos sabemos. O que não sabemos é a forma com que essa condição é tratada em família e amigos, coisa que a própria história fica muito aquém, mais uma vez se contendo aos estereótipos e a piadinhas sexistas que além de não engrandecer o tema, o simplifica ("ufa, pensei que meu filho fosse viado").


# Babe O Porquinho Atrapalhado

Caloni, 2012-01-30 cinema movies [up] [copy]

Babe tem ares de ser um filme bonitinho e família. Afinal de contas, por quase todo o tempo vemos animais falantes interagindo e contando a história do porquinho e suas "trapalhadas". Porém, escondido nessa fábula moderna, e como toda fábula que se preza, o pano de fundo nos remete a discussões muito mais profundas e adultas, como o preconceito e a aceitação do diferente, além de também remeter ao Revolução dos Bichos, de George Orwell, por estabelecer também uma sociedade de animais com funções pré-definidas de acordo com sua espécie e uma certa pressão para a imobilidade social.

Além disso, também temos a primorosa direção de arte, que abraça junto da fotografia o lado fantástico da narrativa e constrói uma fazenda adorável, cheio de cores e formas fascinantes, que se tornam mais fascinantes ainda com a visão dos próprios animais que nela vivem, com uma mudança de câmera constante (até porque cada um dos bichinhos tem tamanhos e pontos de vista diferentes). É quase possível sentir o cheiro de mato e admirar as paisagens do amanhecer como se estivéssemos lá.

Ao mesmo tempo, a trilha sonora, competente até nos momentos mais exagerados (mais uma vez, estamos falando de uma fábula), não torna a música-tema repetitiva, mas a encaixa nos momentos-chave, e não há momento de maior significado e profundidade do que quando um certo personagem precisa alegrar o confuso porquinho.

Com uma das sequências mais memoráveis, terminando em um plano-detalhe das mãos de um homem fechando uma cerca, Babe ficará para sempre nas mentes dos que entenderam que a história não é apenas sobre um porquinho bonitinho que fala com os outros animais, mas sobre a nossa própria visão de mundo, e das pessoas que muitas vezes de origem humilde nunca damos o necessário valor ou consideração.


# Babe O Porquinho Atrapalhado na Cidade

Caloni, 2012-01-30 cinema movies [up] [copy]

Se "Babe, o Porquinho Atrapalhado" era fofinho do começo ao fim, e continha um roteiro elegante que fechava suas pontas, aqui parece que inverteram feio a ordem dos eventos, gerando o que é devidamente nomeado por um dos capítulos em que se divide como A Teoria do Caos. Não é à toa: se no primeiro filme tínhamos já um pano de fundo que nos remetia à visão de A Revolução dos Bichos sob o aspecto da mobilidade social, aqui temos a cidade grande como palco, e os animais, assim como as pessoas, vivem uma espécie de anarquia não-solidária, onde a ajuda geralmente vem de onde menos se espera.

Mais uma vez uma direção de arte abusada pela liberdade do conceito de fábula cria cenários que primam pelo inusitado ou exagerado, criando, por exemplo, uma megalópole que junta pedaços marcantes de várias cidades ao longo do planeta. Dessa forma, vemos as Torres Gêmeas (na época ainda de pé) brilharem ao lado da Torre Eiffel, e onde até o Cristo Redentor possui seu espaço. Mesmo o vilarejo isolado onde ocorre a maior parte da história é uma mini-Veneza que contém traços da Ásia e do Oriente Médio.

A falta de solidariedade entre as pessoas em um ambiente como esse é retratado de maneira fabulosa por George Miller ao agrupar os diferentes animais por sua espécie, como uma forma de proteção e auto-afirmação. Ao mesmo tempo, a vinda de um "estrangeiro" (o porco) ao ambiente nos remete aos mesmos preconceitos do filme original, e onde mais uma vez experimentamos essa dinâmica sob o ponto de vista de um filme bonitinho com animais falantes.

Porém, dessa vez o resultado não é tão bonitinho quando assistimos a planos que remetem diretamente ao caos que se forma nesse ambiente desarmônico e onde atos de crueldade, como deixar um cão à mercê da morte, parece ser uma condição natural daquela selva. "Babe na Cidade" pode ser visto como trágico na maioria dos seus momentos, e inesperadamente singelo em outras. De qualquer forma, o ponto forte do filme continua sendo a dinâmica entre os animais, e o fato de ali a dinâmica ser diferente é prova da inteligência de seus idealizadores, que perceberam como o ambiente molda o caráter de seus habitantes.

Ainda que com um roteiro não tão redondo ou criativo quanto o original, "Babe 2" com certeza é digno de nota.


# A Marca da Maldade

Caloni, 2012-01-31 cinema movies [up] [copy]

Orson Welles aparentemente sempre esteve preocupado com a questão da lei, da justiça e da verdade. Tudo isso a partir de uma grande questão: os que zelam pela ordem e segurança são realmente de confiança? Ou quem vigia os que nos vigiam? Se formos considerar que a questão do poder foi tratada exaustivamente em seu clássico Cidadão Kane, esse A Marca da Maldade consegue desviar um pouco da rota sem perder a essência.

O filme inicia com uma longa e famosa sequência na introdução, ainda durante os créditos, em que vemos um casal de recém-casados, o oficial Mike Vargas (Charton Heston) e sua esposa Susan (Janet Leigh), e um veículo cruzarem a fronteira entre o México e os Estados Unidos. Porém, um atentado ocorre, e não fica muito certo qual dos lados é o responsável pelas investigações, o que chama ao palco o intrigante e implacável Capitão Hank Quinlan (Orson Welles), que possui o aspecto desgastado e que representa um homem da lei naquela terra inóspita, o que pode não ser algo tão honrado assim.

Mais uma vez com o uso de enquadramentos inusitados, sombras que passeiam com os personagens e o ângulo baixo, que evidencia, por exemplo, a ameaça de Quinlan sempre que ele aparece à tela, Welles não se intimida de soar graficamente expositivo em sua história, o que se por um lado funciona em muitas cenas, em outras lembra apenas um diretor brincando com técnicas de filmagem. A cena em que Vargas precisa usar um receptor de um microfone para uma "escuta ambulante" merece destaque, pois nota-se o preparo da construção da cena sem soar expositivo, mas orgânico.

Com uma conclusão ainda impactante, de uma coisa não podemos reclamar de Welles: seu perfeccionismo quase obsessivo gera trabalhos constantes e muitas vezes originais, mesmo que vez ou outra repetitivos em sua própria obsessão.


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