Falar de "Alien - O Oitavo Passageiro" é falar de ficção científica, terror e suspense. Todos esses gêneros estão em um grau quase equivalente na produção de 1979. Dirigido por Ridley Scott (Blade Runner, 1492, Hannibal, Gladiador) e com roteiro e história de Dan O'Bannon (A Volta dos Mortos Vivos, O Vingador do Futuro), o filme inicia no momento em que a nave Nostromo, inicialmente programada para retornar à Terra, decide acordar seus tripulantes da hibernação para averiguar um possível sinal de vida inteligente em um planeta inóspito. Sem muitas informações do que possa existir na origem do sinal é montado um grupo de exploração.
Desde os primeiros minutos, em que a nave se encontra deserta, até o momento em que ela volta às atividades humanas é possível sentir o isolamento das pessoas através do silêncio e vazio do espaço e, por que não, até pela razão de tela extremamente larga, o que nos deixa com paisagens e planos largos demais para tão poucas pessoas em cena, algo já explorado em 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick.
A equipe da Nostromo é formada por sete heterogêneos tripulantes (e daí o criativo sub-título brasileiro), que possuem cada um à sua maneira uma forma de lidar com a situação, seja a visão comercial de sua empreitada defendida pelos engenheiros Parker (Yaphet Kotto) e Brett (Harry Dean Stanton), seja a visão mais determinada de seu comandante Dallas (Tom Skerritt, Contato) ou reflexiva do cientista Ash (Iam Holm), que parece observar com cuidado cada passo tomado pela tripulação. Enfim, é a relação entre essas pessoas que irá dar o tom de transformação de personagens de acordo com os eventos que se seguem. Cada um irá lidar à sua maneira com os problemas porvir, não necessariamente da melhor maneira. Porém, isso é o que torna aquelas pessoas mais reais, pois em determinadas situações extremas nunca sabemos como iremos reagir.
A construção da atmosfera é o principal da primeira parte do filme, além da relação entre os tripulantes. Note os pequenos relances entre os personagens e a forma como ele posiciona-os em cada cena. Conforme os problemas aumentam, a tensão pode ser vista no rosto dos tripulantes, um semblante que vai tomando conta da Nostromo, uma vez que nada deveria dar errado em uma situação daquelas. No entanto, até um dado momento, existe controle e para tudo existe um procedimento. Porém, conforme os problemas aumentam, os procedimentos dissipam, e a própria nave-mãe não possui respostas.
Principalmente se não existe muito o que fazer para evitar o inevitável.
E o inevitável é o que gera a reviravolta principal do filme, quando, pela primeira e única vez, a equipe da Nostromo está aliviada e feliz pela recuperação do companheiro. A celebração é sincera, mas não é o que aparenta para uma pessoa, como podemos notar nessa magnífica sequência.
É exatamente essa atmosfera de impotência crescente que instaura o clima de terror na nave e consegue oscilar com o gênero ficção científica tão bem, pois ao mesmo tempo que existe uma ameaça, ela existe tão somente pelo isolamento da raça humana naquele momento, algo que fica evidenciado conforme a quantidade de humanos vai diminuindo, e a ameaça, sempre crescendo.
A partir daí se constrói um suspense arrasador, com a tensão do espectador aumentada ao vislumbrar partes ainda desconhecidas da nave, que ao mesmo tempo representa o hóspede desconhecido que precisa ser controlado. Para os tripulantes, esse desconhecido é representado por relances inusitados e planos construídos a partir das próprias vítimas, que caminham para o seu fim.
Nesse desenrolar, um personagem se destaca de forma praticamente natural e inusitada. Inusitada porque naquele momento o Cinema ainda não havia experimentado uma heroína de verdade. Natural porque, como podemos facilmente perceber, a personagem não ocupa um lugar importante no início da trama, mas aos poucos se evidencia até tomar as rédeas da sanidade a bordo. Nesse momento, um ícone se forma: Tenente Ripley. Um ícone tão marcante que ainda irá ser reutilizado muitas vezes, como sinônimo do nosso mergulho ao desconhecido dentro de nossa própria mente.
Os personagens de Jesse e Celine são adoráveis desde o começo, e é agradável vê-los conversando sobre temas tão universais e constantemente abordados por casais que nós mesmos formamos na vida. O mais interessante, porém, é a forma natural e (aparentemente) despropositada que o roteiro e direção de Richard Linklater nos apresenta seus personagens, criando mais ou menos um pacto com o espectador, que aceita aquela situação em prol da poesia e da mágica daqueles momentos.
Contudo, é preciso notar que a história nunca tira o pé do chão, e tanto os diálogos quanto os acontecimentos daquela noite são tão verossímeis quanto se acontecessem com o próprio espectador. Dessa forma, o filme cria uma cumplicidade mais forte ainda entre o casal e nós mesmos, tomando as rédeas completamente e nos levando para onde quer que Jesse e Celine nos levem. Da mesma forma, assim como o casal, nós mesmos também desejamos que esse momento nunca acabe, apesar de sabermos restar pouco tempo.
E por falar em tempo, o ato mais notável da direção/montagem é fornecer indícios de passagem temporal que nos permitam contar o ritmo do dia de maneira inquestionável, o que, mais uma vez, aumenta o realismo (pois fornece pistas confiáveis para o espectador).
Não poupando-nos do realismo nem em seu doce final, Linklater ainda flerta com uma possível continuação, não sem fechar o arco aberto nesse filme, e nem fechando essa possibilidade por completo.
Era de se esperar uma queda básica na qualidade narrativa do original Happy Feet, de 2006. Na época pegando carona no belíssimo documentário do ano passado, A Marcha dos Pinguins, o filme traçava um paralelo do que aconteceria se um dos filhotes da espécie apresentasse uma característica... inusitada. No caso, todos os pinguins da raça Imperador são exímios cantadores, enquanto o filhote diferente gostava de sapatear. Ambas as características suportaram números de encher os olhos e os ouvidos, com performances de cair o queixo, com destaque absoluto para Somebody to Love (Queen).
Aqui a dança muda um pouco. É indiscutível a qualidade gráfica dos pinguins, como já era 5 anos atrás, mas agora dois novos componentes da "fauna" antártica merecem o destaque absoluto: Will e Bill, dois espécimes de Krill: desde a textura até os movimentos dos olhos, tudo é perfeito nesses dois, que combinam suas cores com o fundo do mar gelado de maneira absolutamente natural e, de certa foram, poética.
O filme começa bem, ressaltando a importância do ecossistema como um todo, com todas as espécies se ajudando entre si, mesmo que pelas leis do acaso. O ponto forte é a questão filosófica dos Krill, que se perguntam se existe algo além do "cardume" (eles vivem no meio de uma massa incontável de irmãos vagando pelos mares glaciais). O final encontra a rima dessa história de maneira satisfatória, que é quando vemos a performance musical mais emocionante do filme (sem maiores detalhes).
Já o problema do longa se encontra no seu desenvolvimento. Nunca conseguindo focar em um tema específico, o drama principal dos pinguins presos entre as geleiras fica esmaecido, quase esquecido em alguns momentos, pois não existe ritmo ou até mesmo coerência em contar essa história, dando maior importância às brincadeiras visuais (que funcionam metade do tempo) e falas completamente descartáveis (nem a antes figura carismática de Ramon consegue salvar).
Porém, esse deve ser o filme que vai impressionar mais as plateias pela maneira impecável que ele junta suas duas pontas extremas, mesmo se despreocupando totalmente em como desenvolvê-las de maneira no mínimo interessante.
# Top Secret!: Superconfidencial
Caloni, 2011-12-04 cinema movies [up] [copy]Ao contar uma paródia dos filmes de espionagem e guerra em que um astro do rock (Val Kilmer) se envolve com um grupo da Resistência Francesa para libertar um cientista preso pela Alemanha Oriental (Michael Gough), a direção tripla resolve brincar com trucagens comuns em filmes do gênero e de todo o cinema. Dessa forma, até um telefone no canto da tela pode ser motivo de chacota, ou a batidíssima piada dos olhos atrás da lupa funcionar tão bem na melhor sequência do filme, onde os atores contracenam uma cena invertida de trás pra frente, incluindo os diálogos, lembrando o dialeto sueco. Note como aos poucos o diretor vai dando dicas do que realmente está acontecendo, até o derradeiro movimento do cachorro.
James Cameron parece ter uma dedicação especial com as continuações. Tanto a série Alien quanto O Exterminador do Futuro (essa iniciada por ele mesmo) expandem seus universos justamente no primeiro sequel.
No caso do trabalho original de Alien, o terror, suspense, sci-fi de Ridley Scott, apesar de moldar uma geração inteira de filmes parece despretensioso frente à reconstrução da saga da Tenente Ripley onde a evolução dos ovos da nave alienígena segue seu rumo natural quando uma colônia humana de povoamento se estabelece na mesma região onde a nave foi primeiramente encontrada.
Apesar de ter uma estrutura impecável em sua narrativa, e investir de maneira segura em diversas cenas de tensão crescente, o terceiro ato de Aliens se estabelece como um dos momentos mais icônicos do Cinema, incomparável em seu peso dramático, construído não só novamente através do filme original, mas engrandecido através deste. Sim, pois o mais impressionante depois de conhecer a história completa é entender como que ela é construída para que no final Ripley vá ao resgate de Newt e lute com a Rainha Alien.
Começando do início, quando Ripley percebe sua incapacidade de esquecer que existe um perigo lá fora ainda (o que ela vivenciou foi fruto de apenas um ovo entre centenas da nave encontrada), acordando no meio da noite em sucessivos pesadelos, e que explica, sem diálogos, sua necessidade de concluir sua "missão".
Depois, a confiança da nova equipe, militares, e a perda progressiva dessa confiança conforme vão percebendo que as criaturas são mais inteligentes do que imaginavam; a maneira sutil, mas implacável, de serem encurralados pelos aliens, e o otimismo se transformando em uma pequena esperança de sobreviver.
Parte desse desespero encontra reflexo na continuidade de expansão do universo Alien até então, com mais closes e planos detalhes das criaturas e o desenvolvimento da ninhada e a forma utilizada por eles para usar os humanos como invólucros de parasitas.
A própria psique do alienígena é posta na hora de queimar os ovos, quando a rainha fica enfurecida e vai atrás (e note como a inteligência dos seres é mostrada quando ela consegue usar o elevador para subir). Da mesma forma, a psique de Ripley é apresentada de maneira visual através de Newt, com quem estabelece uma relação de identificação, pois Newt, assim como ela no filme original, é uma sobrevivente.
Oito anos após Aliens, o Resgate (James Cameron), continuação do filme original de Ridley Scott, o Cinema mais uma vez revisita esse universo, dessa vez pela visão do ainda inexperiente David Fincher (Seven, Clube da Luta, A Rede Social), que não conseguiu enriquecê-lo à altura de seus antecessores, mas cria um drama que no mínimo aumenta um pouco nossa percepção a respeito da criatura.
Aplicando um ritmo mais reflexivo a maior parte do tempo e com cara de reboot já nascido morto, o filme inicia na sequência do anterior, quando a nave usada para escape identifica um incêndio (que vemos ter sido causado por um "facehugger") e inicia um procedimento de aterrisagem no planeta mais próximo. O lugar, porém, revela ser uma prisão de segurança máxima, onde Ripley (Sigourney Weaver), além de ser a única sobrevivente, é a única mulher existente, o que acaba gerando um certo desconforto aos seus habitantes.
Apresentando uma nova forma de alien (uma ótima sacada do filme, e talvez a única), ele acaba se tornando a preocupação principal de Ripley, que precisa ter certeza que ele foi eliminado após o pouso da nave. Porém, quando mortes estranhas passam a ocorrer, tanto as preocupações de Ripley quanto a dos prisioneiros juntam-se na mesma narrativa.
O problema é que ela se torna menos tensa do que poderia ser, em parte por causa dos rasteiros efeitos especiais em cima da criatura alienígena, apresentada em detalhes obviamente maquiados e que nunca conseguem convencer. Para quem viu a revolução técnica do filme anterior, o resultado chega a tornar-se risível.
Esse não seria um problema maior (como não foi no original, de 79) caso a história compensasse os eventuais tropeços técnicos. Porém, a falta de imaginação casa com a falta de recursos (o roteiro chega a apresentar uma prisão sem armas) e a história inevitavelmente começa a girar em círculos, tornando-a maçante e repetitiva (especialmente quando, desorientados, Ripley e os presos precisam arquitetar um plano de fuga). Quando há alguma ação, são ataques pontuais do alienígena. A única sequência digna de nota é o plano para capturar a criatura, que investe em corridas por corredores que mais parecem um labirinto.
Para "medir" a falta de ritmo e história no projeto, basta sentir a reação do espectador após saber de algo impactante a respeito de Ripley. A própria conclusão do impasse criado, apesar de coerente, não chega a ser mais impactante do que o próprio ato que ocorre depois.
Enfim, um filme mediano que pode ter seus méritos próprios, mas que, por aqui se tratar de mais um da série Alien, fica muito aquém dos trabalhos anteriores sobre esse universo tão rico e ainda não totalmente explorado.
Dando continuidade ao "terror biológico" iniciado pelo antecessor Alien³, quando um cachorro foi infectado por um alien que ganha suas feições ao nascer, o novo filme da franquia reabre a caixa de Pandora se aproveitando da discussão contemporânea de clonagem e "ressuscitando" a Tenente Ripley através de amostras de seu sangue já modificado pelo seu parasita espacial.
Porém, o mais impressionante da introdução é saber que não só o resultado é uma cópia idêntica a Ripley antes de ter se jogado no caldeirão fervente do filme anterior, mas boa parte de suas memórias são restauradas. A explicação para isso nunca é totalmente justificada, mas faz pensar que as capacidades de manipulação genética da ameaça alien chega a servir de exemplo para a teoria da descendência Junguiana.
Por fim, a companhia finalmente consegue botar em prática seu plano inicial: reconstruindo Ripley a partir de seu DNA modificado, conseguem desenvolver em conjunto o alienígena em seu peito e o retirar já na fase adulta para desenvolvimento em incubadora. O risco dessas criaturas escaparem, nós já sabemos e eles não, é de quase 100%.
Aliás, a forma de fotografar e dirigir esse longa difere substancialmente dos anteriores pelo tom cômico aplicado por Jean-Pierre Jeunet (Amélie Poulain, Mic-Macs), como o uso de cores mais vivas e os zooms na face do General Martin Perez, engraçado já pela própria construção de Dan Hedaya ao personagem (Os Suspeitos, Cidade dos Sonhos).
A novidade da vez, além de termos cenas em que os Aliens parecem mais de perto e com movimentos que indicam melhor sua personalidade e inteligência, são eles nadando na água, o que ao mesmo tempo que demonstra mais uma capacidade do ser fenomenal revela planos com os aliens de corpo inteiro. Porém, o momento mais aterrorizante do longa é quando Ripley encontra a sala onde ficam guardados outras sete versões dela mesma (ela é a oitava tentativa do projeto, razão pelo qual seu braço tem o número 8 tatuado). Apenas a sugestão que seria possível nascer um misto Ripley-Alien já é por si só, sem imagens, perturbador.
De certa forma, a nova Ripley contém um pouco de alienígena, o que é ilustrado de maneira coerente por Sigourney Weaver e seus sorrisos de satisfação ao descobrir algo sobre si mesma, e a ausência do medo de morrer em situações de risco com os alienígenas soltos. Já a segunda presença feminina, Winona Ryder, consegue manter o suspense de seu personagem, embora nunca desenvolver seu papel à altura dos coadjuvantes dos filmes passados. Além disso, seu papel é incerto, e seus motivos, nunca justificados por completo, e embora uma descoberta desconcertante no meio da história abra um leque de questionamentos filosóficos, a forma simplória com que a sequência termina deflagra a pressa em seu desenvolvimento, virando apenas uma curiosidade en passant.
A criatura final, por sua vez, assusta pela novidade em seu design e pela forma com que vem ao mundo e acaba se relacionando com sua "mãe-alien". De certa forma, acaba sendo a única ameaça global de fato durante toda a história, um péssimo sinal considerando que ela só aparece no final do terceiro ato.
O significado da chegada ao planeta Terra, enquanto remete à esperança, também dá a ideia de renascimento. Talvez o próprio renascimento do título sirva não apenas para seu começo, mas também o seu final. Talvez a forma escolhida para dar abertura à franquia que, apesar de promissora, nunca conseguiu vingar.
Ele, um esquerdista especialista em epidemias nos animais. Ela, uma libertária tão libertária que às vezes se esquece de colocar a roupa para sair de casa. Ambos, uma relação que mescla tanto as visões políticas quanto sexuais da França atual. Porém, mais importante, levanta a sensível questão da imigração, que vem engrossando caldo desde o movimento anti-terrorista liderado pelo governo Bush e evidenciado na crise europeia.
Narrando o passado dos pais e avós dos personagens como em entrevistas informais, isso ao mesmo tempo que expõem seus sentimentos, é usado como artifício de engajamento político e explica inclusive o relacionamento social de ambos. Dessa forma, o fato da geração anterior padecer nos campos de concentração ou ter origem estrangeira é motivo para que não se toque nunca no assunto ou se use qualquer expressão que remeta a esse passado. Ao mesmo tempo, o trauma dela de ter sido molestada quando criança, embora na maioria das vezes torna a pessoa quando adulta recatada, adota um aspecto prático e funcional (onde o sexo é usado para conversão política). Distraída ao máximo, é capaz de nunca reparar quando acidentalmente deixa seus peitos de fora (em público) e, embora tenha convicções políticas, acaba sempre votando no pior rival.
Com uma trilha sonora leve, que acompanha o ritmo de seus personagens, e uma fotografia de cores básicas, que remete não apenas às cores da bandeira da França mas também ao uso generalizado de bandeiras no sentido de sempre defendermos nosso ponto de vista, Os Nomes do Amor caminha serenamente pelo seu caminho, sempre ressaltando os absurdos das opiniões extremadas e do racionalismo exacerbado que nos impede muitas vezes de pensar (como a funcionária que conhece a mãe do rapaz por 30 anos, mas se nega a emitir outro documento até que ela comprove cidadania francesa) ou de sentir. O mundo para muitos pode até ser preto e branco, mas o filtro cômico pelo qual o filme nos faz enxergar o comportamento insano das pessoas que pensam assim nos faz concluir que, na prática, o mais sensato é enxergamos a cinza paisagem, mesmo.
Um filme com história surrealista, pois os personagens mudam de identidade na metade final, e os nomes são trocados. Ainda a analisar (e talvez assistir de novo).
Depois de uma pausa assisti por completo Escravas do Desejo, uma história de vampiras lésbicas com um cunho erótico, mas que ao mesmo tempo evoca um clima de mistério.
A história começa com dois jovens, recém-casados, que se hospedam em um hotel vazio de uma cidadezinha isolada. Porém, a vinda de uma condessa e sua acompanhante irá tornar as coisas um pouco tenebrosas.
Bill Murray em um papel que é a cara dele: Phil Connor é o homem do tempo de uma emissora de televisão e precisa cobrir o tradicional "Dia da Marmota", uma cerimônia de uma cidadezinha secular cuja lenda uma marmota (ironicamente também chamada Phil) faz a previsão se haverá mais inverno.
Assim, ele parte para uma viagem à cidadezinha para uma estadia de apenas um dia para cobrir o evento com a ajuda do seu câmera man e sua produtora executiva, para a qual mantém um secreto interesse que inteligentemente vai se mostrando conforme o drama da história se desenvolve.
A maldição que cai sobre o egocêntrico Phil também não deixa de ser irônico: descontente por ter que ficar um único dia na gelada cidadezinha, esse mesmo dia se repete indefinidamente, com as pessoas executando as mesmas ações, como se fosse a primeira vez que o dia se passasse, menos o próprio Phill, que sabe que já passou por isso antes.
Usando de uma montagem inteligente que aos poucos corta várias cenas que são repetidas exatamente para demonstrar que os dias vão se sucedendo da mesma maneira, sendo que a única pessoa onisciente e que altera sua história é o personagem de Bill Murray, as cenas vão se sucedendo cada vez menores e em um ritmo que nos permite 1) acompanhar a evolução do drama do jornalista e 2) não ficarmos entediados pela situação; pelo contrário, as história que vão ocorrendo fazem com que ele aos poucos vá mudando e tentando diferentes soluções.
A ideia genial do longa é justamente representar a história do resto do mundo várias e várias vezes e acompanharmos a evolução de apenas um único homem durante esse único dia, que, aparentemente se repete por muitíssimo tempo (ele aprende a tocar piano de maneira magistral, o que faz com que pensemos nos anos preso no mesmo dia).
Paralelo interessante entre as duas histórias, não fica óbvio que passam em épocas diferentes, mas o espectador vai percebendo isso aos poucos. Interpretação de Meryl Streep fica sendo a principal, apesar da protagonista talvez não ser ela (será?).
Faz paralelo também com as histórias, mas com um senso que não podem ser idênticas.
Fotografia mais clara na França de época, tom escuro na nova casa de Julie.
Filme estrelado por Rupert Grint, e quem está acostumado com seus trejeitos na saga Harry Potter não vai se decepcionar. Para os que esperavam uma atuação mais envolvida com um projeto apartado dos livros dos bruxinhos, vai.
No entanto, as participações de Laura Linney e Julie Walter (essa última, também dos filmes dos bruxinhos) conseguem elevar o filme a um drama digno de nota. Ambas desempenham papéis complexos: Laura é a mãe de Ben Marshall (Grint), esposa do pároco da comunidade e religiosa fervorosa, aplica regras rígidas na educação de Ben, além de tomar decisões autoritárias na casa, como abrigar um viúvo desamparado.
Fora isso, temos Julie Walters no papel de Evie Walton, uma atriz aposentada cuja vida é um misto de realidade e encenação. Esse é o papel que faz toda a diferença.
Animes, quadrinhos, Kung-Fu, filosofia, tecnologia: Que filme conseguiria compor, de forma inquestionável, esses universos tão grandiosos quanto diferentes entre si?
Dirigido pelos Irmãos Wachowski (V de Vingança, Speed Racer), o filme contém uma história com elementos nada criativos, mas que possuem algo em comum: faziam parte do universo da época (fazem?), onde computadores e internet começavam a dominar o mundo, e a diferença entre mundo real e mundo virtual começava a aparecer na vida das pessoas.
Se fosse exibido hoje (2011) ainda seria visto como a identificação da nossa era. Já conhecido e aglutinado ao universo de onde as ideias vieram, hoje é visto como um clássico, uma visão que estava à frente do seu tempo, e nos acompanhou até hoje. Seria uma nostalgia dos tempos ainda ingênuos, quando ainda estávamos engatinhando no conceito de vida virtual.
E se parece exagero, uma prova maior de sua influência são as referências internas do filme, que tentam homenagear os universos de onde foi inspirado, e que acabam por fim referenciando o próprio universo criado, misturando-se com a evolução dos mundos onde foi inspirado.
Na época do lançamento nada se sabia, nem se cogitava sobre o enredo. Algum tempo depois, podia-se ouvir burburinhos reverenciando a obra como tão cult quanto Blade Runner foi em seu tempo. Hoje esse burburinho é fato, e não há muitas controvérsias quando analisamos uma obra de arte que se identifica tanto com sua era, com seu momento.
Antigamente, a fotografia verde representava dentro da matrix, enquanto azul representada o lado de fora: o mundo real. Note os elementos verdes predominantes em cada cena (batente de portas, gravatas, detalhes específicos para tornar a coloração mais esverdeada) ou azul, no caso do mundo real (vestimentas da tripulação, maquinário, luzes azuis). Se digo antigamente, é porque, tal como Traffic ganhou maturidade em 21 Gramas, com as histórias paralelas sendo representadas, por fim, em uma só cor, dado que o público evoluiu em seus conceitos de narrativa cinematografia, também podemos dizer o mesmo dos mundos real x virtual, onde já não se diferencia mais onde estamos, tamanha a conexão crescente com a rede mundial, com celulares, smartphones e gadgets em geral que possibilitam a uma pessoa estar em vários lugares ao mesmo tempo (virtuais ou não).
Cada vez que entramos a fundo, hoje, na análise de Matrix, são tantas as analogias nas telas com o mundo real (e virtual) que chega a ser uma paródia ou referência do mesmo universo que homenageia. A forma como é demonstrado como o conhecimento instantâneo é adquirido pelo cérebro para o uso prático no mundo virtual, ou a forma como são carregados novos programas, de maneira instantânea.
Fotografia escura, personagens quase sempre aparecem na penumbra das janelas e paredes, evidenciando sua característica de "não existirem" oficialmente.
Uma profunda introspecção na luta entre os dois povos, árabes e judeus, sob o ângulo dos ataques terroristas.
Não há final feliz.
A cena que mais evidencia a tensão presente na casa da família Brenner após um ataque-relâmpago de pássaros ensandecidos é quando vemos a câmera focar a matriarca da família olhando para o teto, assustada. Então a câmera se afasta, e, no mesmo quadro, é possível ver que os outros dois adultos estão fazendo a mesma coisa. Ao final desse quadro tão emblemático, sabemos que o diretor conseguiu o total controle sobre nossa atenção e sentidos, que, naquele momento, teimam em se comportar irracionalmente e exatamente como aquelas pessoas.
Um dos últimos filmes de Hitchcock, já famoso, renomado e podendo gastar bem em suas produções, Os Pássaros gira em torno de uma pequena cidade à beira da costa que começa a presenciar, aos poucos, um comportamento agressivo e atípico dos pássaros da região. Conforme a trama principal se desenvolve, que gira em torno de um casal que tenta firmar seu romance, mesmo que sob os olhares suspeitos da mãe super-protetora, aos poucos notamos pequenos eventos relacionados com com animais-título que aos poucos vão tomando conta da história.
Esse é meu segundo filme do diretor que (re)assisto em um festival de cinema. Comecei com um dos primeiros clássicos (O Homem que Sabia Demais, de 34) e, curiosamente, continuei com um dos últimos (se não o último, se desconsiderarmos Cortina Rasgada e lembrarmos que Trama Macabra, de 76, é considerado por muitos como um dos piores de sua carreira). Devo dizer que essa exposição está sendo admirável e me surpreendeu pela qualidade das exibições (ambas, por enquanto). Quando podem, os organizadores estão usando a película original. Na sessão de Os Pássaros, por exemplo, pode-se notar as cores pálidas usadas usadas para fotografar Bodega Bay (o vilarejo de Os Pássaros), em sintonia com o escuro do bando de gralhas se "acotovelando" em uma cerca e tornando a luz usada ainda mais tenebrosa.
Uma curiosidade final diz respeito às piadas. Assim como em O Homem que Sabia Demais, aqui existem os momentos cômicos habituais (como o bêbado anunciando diversas vezes o fim do mundo). Mais interessante, no entanto, é saber que em Hitchcock as piadas conseguem sempre seu intuito: nos deixar ainda mais tensos. Pois, ao mesmo tempo que fazem rir, não nos deixam esquecer da situação perigosa em que a população vive. Essa "situação", vale notar, enquanto inicia na vida das pessoas como uma curiosidade, ou algo atípico, chega ao limite de dominar todas as suas ações, momento esse no qual todos discutem em um bar, que se torna o ápice de ação. Analogamente, é exatamente nesse momento que comicidade e tragicidade se juntam em um balé de nervos que apenas um diretor de talento consegue orquestrar.
Por fim, chega a ser inacreditável comentar que hoje, com toda a tecnologia disponível para criar as ameaças mais criativas possíveis, um bando de pássaros voando consegue ser mais assombroso que muitos Blockbusters por aí.
Uma trilha musical surpreendentemente encantadora para a época, com uma narrativa coesa que favorece seu desenvolvimento um tanto episódico ao mesmo tempo que nunca perde as rédeas de sua história maior (e é de se notar a quase ausência dos textos explicativos). O garoto escalado para o filme é tão encantador quanto sua história, e é igualmente louvável a participação menos overacting de Chaplin como o vagabundo que o adota, favorecendo a interação entre eles e não simplesmente as cenas cômicas de forma isolada.
Tim Allen, de Meu Papai é Noel (1 e 2), em mais um filme de natal, dessa vez com Jamie Lee Curtis (True Lies) e roteiro de, quem diria, Chris Columbus! (Os Goonies, Gremlins, Nove Meses)
A ideia principal é resgatar o senso de comunidade que o Natal propicia, só que o filme começa ao contrário, mostrando a pressão que essa mesma comunidade faz para que todos levem a sério essa época do ano, não sendo permitido sob as suas leis, mudar isso para, por exemplo, tirar umas férias em um lugar mais quente.
Porém, quando um plot twist esmagador ocorre praticamente no terceiro ato da história, é a partir daí que é construído esse senso de comunidade.
Essa história sobre a mudança dos valores sob vários aspectos é uma abordagem quase idílica do novo cinema italiano. Assistimos com certa solenidade o sisudo jantar em família (evidenciado pelo exagero de sombras) em que o patriarca, já debilitado, transfere o controle da empresa para seu filho e neto. O inusitado e refrescante dessa nova história é que nos bastidores (ou para ser mais direto, na cozinha) encontra-se a origem de mudanças radicais naquela forma de funcionar o mundo.
Com detalhes que mesclam realidade e sonho, o filme acaba realizando um entrecorte que não necessariamente faz sentido, mas que acompanha principalmente a ascensão da mãe dessa família, Emma Recchi (Tilda Swinton), mais sob o aspecto amoroso, mas que faz rima com a ascenção da própria empresa familiar, que para crescer necessita se aventurar no universo das aquisições e fusões do mundo capitalista. E por falar em rima, faz de sua abordagem uma narrativa muito mais efetiva do que seu antecessor temático (outro italiano) Baarìa, de Tornatore, no sentido de unir pessoas e valores.
O teste da nova televisão e novo tocador de Blu-Ray do quarto foi com essa primorosa animação. A história gira em torno de Cody Maverick, um pinguim que deseja se tornar um ás do surfe, mesmo sem ter treinado muito, confiando apenas nas mensagens de auto-ajuda de Big Z, uma lenda do esporte que desapareceu misteriosamente durante um campeonato. Para quem deseja experimentar as diversas nuances de sua TV esse é um ótimo filme, pois além de ser uma animação e contar com contornos precisos e movimentos "realistas", ainda possui inúmeras tonalidades de cores e de luzes, pois a história se passa não apenas na praia, mas na floresta, durante a noite fria e o dia ensolarado ou nublado. Filmado com um tom documental, existem cenas que frequentemente voltam no tempo e que possuem o efeito de vídeo envelhecido cheio de ruídos.
A dublagem nacional ajuda muito a contar a história, que não é original e possui um mal ritmo, mas que acaba agradando pelo tom irreverente com que é contada. Personagens como João Frango acabam sendo um show à parte, e o filme acertadamente dedica mais minutos para contar suas histórias periféricas.
Geralmente filmes que tentam revelar os bastidores da política soam pretensiosos e bobinhos em suas conjecturas infantis e roteiros confusos e incompletos. Esse não é o caso de Tudo Pelo Poder, que consegue, de maneira didática e assustadora, revelar muito mais sobre o pano de fundo de influências do que gostaríamos de saber ou de admitir.
Nesse sentido, e apesar de textos muitas vezes necessariamente longos, a direção concisa de George Clooney revela de maneira brilhante as inúmeras subtramas no contexto do poder e como ele vira mercadoria negociável, independente das aspirações ou princípios dos candidatos à presidência. Aliás, o próprio caráter das pessoas envolvidas, mesmo que aparente, vira moeda de influência que possibilita, por exemplo, que figuras competentes da propaganda como Stephen Meyers (Ryan Gosling) confiem e arquitetem de maneira impecável cada próximo movimento de seu candidado, no caso o governador Mike Morris (George Clooney), justamente pela esperança que seus discursos representam para uma nação que depois da crise terrorista e posteriormente econômica anseia quase que desesperadamente.
Na verdade, o que move Meyers é justamente o que faz com que o espectador tome o partido quase que incondicional por Morris, pois seus diálogos sempre revelam uma pessoa imparcial e de bom senso que emerge em meio a opiniões acaloradas sobre temas polêmicos. É quase impossível não se deixar levar pelo magnetismo de seu discurso eloquente e sua inabalável auto-confiança.
É por isso mesmo que, quando o terceiro ato se encarrega de desabar essas convicções como um castelo de cartas levemente mal arranjado, sentimos um mal estar. Não tanto por estarmos presenciando mais uma veia corruptível, mas talvez por essa veia existir em cada um de nós, em menor ou maior grau. Fica parecendo que é praticamente impossível se desvencilhar dos caminhos que Morris e seu pupilo são obrigados a seguir, e o que é mais trágico, seguem esse caminho pelo amor à política.
Quando o jogo começa a virar é que a direção segura de Clooney arrebata o espectador em cenas de tirar o fôlego como quando um certo personagem atende ao celular, ou em suas sutis, mas belíssimas, rimas visuais, como quando outra pessoa desafia a gravidade das atenções fugindo seu olhar de onde todos estão hipnotizados, confirmando naquele momento a radical mudança a qual foi obrigado a passar em poucas horas. Tudo isso impregnado em uma fotografia obscura, sisuda e até um certo ponto sinistra. Nunca há um raio de luz para nos abençoar no filme de Clooney. Se há, é fruto do mesmo cinismo que construiu o candidato perfeito e nos desafia a olhar para dentro dele e enxergar o mecanismo macabro da política, reflexo de nós mesmos.
# Star Wars, Episódio V: O Império Contra-Ataca
Caloni, 2011-12-31 cinema movies [up] [copy]O filme inicial, auto-contido, sobre o conto de fadas nunca antes contado, ganha uma nova dobra, e tenta ao mesmo tempo contar uma nova história no mesmo molde e estender esse universo com explicações sobre os Jedis, a Força e ainda um pouco de mistério a respeito das origens do Império e, principalmente, do seu ícone maior: Darth Vader.
Sinceramente, mesmo sabendo da revelação maior do filme (que, apesar de mais de 30 anos de idade, não vou revelar aqui), consegui detectar diversas pistas que levavam apenas para um lugar. É óbvio que ninguém espera uma coisa dessas, mas hoje em dia seria facilmente batido. O lado maior da história fica por conta da divisão equilibrada entre a fuga de Capitão Solo e Princesa Leia e a jornada em rumo ao conhecimento do não-tão-jovem padawan Luke Skywalker. Praticamente tudo empolga no filme: direção de arte, música (ainda que muitas vezes repetitiva), efeitos visuais de encher os olhos (com maior destaque para o pequeno Yoda). Tudo isso ocorre não apenas em cenas específicas, mas quase todo o tempo, nos dando a exata sensação de que esse mundo existe em algum lugar, e estamos tendo o privilégio de visitá-lo no meio de uma batalha épica (muito diferente, aliás, dos três novos episódios recentes, que soam mais... episódicos que épicos).
Darth Vader está mais maldoso e presente do que no primeiro filme, provavelmente fruto de seu sucesso como vilão, e o Imperador Palpatine vira um mentor mais distante. Claro, isso é fruto de sua obsessão pelo jovem Skywalker, como bem diz o letreiro inicial e sua tolerância zero para os comandantes da nave principal, que vão caindo um a um.
Mais uma vez com uma precipitada conclusão, o filme passa a ideia de ser apenas um exemplo de um universo inteiro sendo criado aos poucos, com muitas coisas ainda pendentes, e outras um tanto contraditórias. Para muitos fãs, uma religião estava nascendo nesse momento.
# Star Wars, Episódio VI: O Retorno do Jedi
Caloni, 2011-12-31 cinema movies [up] [copy]Hora de assistir novamente a conclusão da saga de George Lucas, dessa vez após ter visto a nova trilogia e o significado que ela insere na antiga (em especial A Vingança dos Sith). Uma direção de arte cada vez mais impecável, que consegue equilibrar o tema espacial com a fantasia por trás da história. Quando C3PO narra a aventura épica dos personagens em torno da fogueira é o momento mais icônico e que melhor representa o conceito por trás das lendas filmadas de Star Wars. Parece não haver mais o que acrescentar a este universo, embora a direção aqui se mostre mais pausada, madura e consciente de seu final mais trágico que de costume.
Apesar de nossos heróis, é inegável que tudo converge para Darth Vader, e é ele quem rouba a cena, mesmo quando não está presente. É uma figura ameaçadora que foi crescendo a cada filme, onde agora tudo passa a girar em torno dele; até o Imperador, seu mestre, apenas existe para guiar seu pupilo por meio das trevas do Lado Negro da Força e impedir que Luke se torne um Jedi. O sentido da Guerra nas Estrelas e suas batalhas converge para a luta entre o bem e o mal, ainda em uma época em que esses conceitos eram muito bem definidos e onde o bem ainda não era relativo, como gostaria que fosse o Imperador Palpatine. Nesse sentido, a inversão temporal das trilogias ganha mais do que perde. Assisti-las em qualquer ordem lhe dará uma visão diferente dos fatos.
Tudo Sobre Minha Mãe é o exemplo perfeito sobre a que veio Almodóvar. Com uma sensibilidade ímpar para contar os dramas das mulheres, o diretor-roteirista emplaca uma história cheio de reviravoltas e sobre diversas mulheres e suas vidas, mas que gira principalmente em torno de Manuela (Cecilia Roth), uma enfermeira que é mãe de um filho de 18 anos que mantém um mistério acerca de seu pai, mas que possui em comum sua obsessão pelo enredo da peça Um Bonde Chamado Desejo, onde se identifica com Stella, uma personagem dominada e abusada pela figura masculina. Cenas da peça são mostradas conforme a narrativa do próprio filme avança, enriquecendo a história principal.
Curiosamente, Manuela é a mulher forte da trama, e é ela que faz tudo acontecer à sua volta, apesar dos infortúnios que passou. É com essa dualidade entre fraqueza e força que Almodóvar trabalha a psique das mulheres, acostumadas a serem dependentes da figura masculina, mas que aqui se suportam umas às outras. A belíssima fotografia e direção de arte, sempre evocando cores e luzes fortes, revela a essência feminina do projeto, onde mesmo os poucos elementos masculinos estão mascarados em pura feminilidade, o que consegue ao mesmo tempo que ironizar o conceito de dependência da mulher servir como desafio ao status quo levantado por elas mesmas.
O que importa mais no longa é que é fascinante acompanhar a história de cada uma das mulheres, a interação entre elas, a força que tiram umas das outras, e a consequente fraqueza e impotência dos homens em volta, onde até o órgão genital masculino é diminuído e ridicularizado. Um excelente exemplo do cinema autoral de Almodóvar, mas que ao mesmo tempo levanta questões seculares em formato contemporâneo.