# Anjos da Noite
Caloni, 2013-03-04 cinema movies [up] [copy]O primeiro filme da saga dos vampiros e lobisomems (não estou falando de Crepúsculo) pode conter um pano de fundo curioso e com potencial dramático para um ótimo filme. Infelizmente não é isso que acontece em Anjos da Noite, que se esforça como filme de drama e ação sem conseguir se sair bem em nenhum dos dois.
Ambientado sempre no escuro e no subsolo, a história gira em torno de dois clãs que guerreiam por séculos. Os vampiros, imortais por sua natureza, durante 500 anos vivem um período de hegemonia por terem exterminado quase toda a espécie rival. Uma nova suspeita de que pode estar havendo uma busca por uma arma letal contra os vampiros, porém, faz com que Selena, uma vampira assassina, se envolva com um humano que pode ser a chave desse mistério.
Se envergonhando com uma sinopse tão batida como essa, a atuação dos atores não faz melhor, soando inexpressiva a maior parte do tempo. É como se o único objetivo daquelas pessoas fosse posar para uma nova cena estilizada que usa um figurino "dark" como se fosse a última invenção do Cinema.
Bom, não é. Rodado seis anos após Matrix, o diretor Lea Wiseman não se envergonha sequer em tentar reproduzir todas as cenas famosas do trabalho dos irmãos Wachowski. Na verdade, nem se limita apenas às famosas - como a garota que sai atirando por um corredor no subsolo - mas até mesmo situações e ângulos que delineiam o estilo dos diretores, como o vilão que se recupera de um golpe ou as tomadas vistas de cima de corredores vazios e um carro de polícia. Para "apoiar" a decisão do diretor, o músico insere toques repetidos à exaustão do filme sobre realidade virtual, não se importando com o fato de que esse universo não possui nenhuma relação com o plagiado senão o tom "dark" mal copiado.
Se os efeitos visuais impressionam, ou impressionavam na época, hoje eles são expostos como meramente exibicionistas. Ainda mais se notarmos que eles ocorrem em quadros isolados da ação, podendo ser trabalhados isoladamente de duas cenas sem sequer se preocupar em inserir parte da ação por trás da transformação das criaturas.
# VIPs
Caloni, 2013-03-04 cinema movies [up] [copy]Quando vemos Wagner Moura descendo de helicóptero em uma festa de bacanas e logo em seguida em uma sala de aula imitando seu colega de classe temos em pouquíssimos minutos a exposição de todo o arco dramático de seu personagem. Essa economia ao contar a história de Marcelo permite que o espectador preste atenção a outros detalhes de sua vida, como sua relação com o "pai" ou sua busca por se tornar alguém diferente.
Aliás, depois de entendermos sua fascinação por aviões - algo que Moura faz questão de ressaltar com uma expressão infantil de deslumbramento - os caminhos trilhados pelo personagem fazem todo o sentido, e é dessa forma que, mesmo que com um destino muitas vezes imprevisível conseguimos antever suas ações. Porém, diferente dessas, as consequências das decisões de Marcelo sempre me escapa, e é por isso que momentos onde o personagem está pilotando um avião ou toda a sequência do camarote são extremamente tensos.
Por fim, Carrera é um nome absurdamente ideal para um personagem ambíguo que oscila entre o crime e a fama. E se prestarmos mais atenção à parábola do peixe em dado momento do filme apreciaremos com mais intensidade o drama de uma pessoa fadada ao seu destino, não medindo esforços para provocá-lo.
# Indomável Sonhadora
Caloni, 2013-03-05 cinema movies [up] [copy]Desde o começo Hushpuppy (Quvenzhané Wallis), a Indomável Sonhadora do título nacional, carrega a história nas costas. O que não é pouca coisa se considerarmos que ela mal aparenta dez anos de idade. Acompanhamos sua jornada precoce rumo à maturidade junto de uma inspirada orquestra que toca cada passagem da história como se fosse um momento único e solene rumo a sua emancipação. A fotografia árida, ajudada pelos grãos difusos e o foco oscilante, e a sempre tremendo câmera parecem sugerir um mundo instável prestes a acabar em um deserto. Pudera. Se até para os adultos a vida não é fácil conseguimos imaginar os esforços da pequena. Sua experiência de vida é muito diferente da vida na cidade, e o que parece cruel ou duro demais a uma criança acaba soando apenas como mais um rito de iniciação.
O significado dessas passagens, no entanto, nunca fica claro o suficiente e sequer é aberto a muitas interpretações. Obviamente enxergamos aquele mundo através dos olhos dessa menina, que por sua vez herdou o seu conhecimento do pai (Dwight Henry), um teimoso habitante junto com uns gatos pingados em uma área de risco de enchentes. A comunicação da menina com os animais e sua interpretação do mundo adaptada dos ensinamentos da professora do vilarejo criam uma expectativa épica aos acontecimentos. A vinda de um perigoso animal pré-histórico poderia representar o perigo que cada um de nós sente no mundo. Mais uma vez, é impossível de saber. Assim como ele, a realidade está envolta em uma impenetrável névoa.
Com o passar da história o sentido vai perdendo importância. O pouco que sabemos parece conseguir guiar de alguma forma a história. Mesmo assim, a conclusão da jornada épica da menininha merecia um pouco mais de polimento. Já a interpretação de Quvenzhané Wallis é enigmática pela sua pouca idade. Pode ter sido a escolha exata para o papel ou em breve a veremos criar outro personagem marcante. Assim como no filme, só o tempo dirá o mundo que existe dentro dela.
# Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer
Caloni, 2013-03-06 cinema movies [up] [copy]Dirigido pelo medíocre John Moore (Max Payne) e escrito pelo problemático Skip Woods (X-Men Origens: Wolverine), o novo filme da série Die Hard parece uma mistura de estilos que mais confunde do que inova. Há a trilha de espionagem claramente inspirada em 007 e Missão Impossível. Há os cortes, movimentos de câmera e zooms frenéticos da série Identidade Bourne. Há, sim, perseguições e explosões dignas da série original, mas que não desempenham qualquer função em uma história sem reviravoltas (foras as mais patéticas) e sem tensão (ou alguém duvida em algum momento que a dupla principal não vai se safar dos bandidos histéricos?).
De maneira curiosa, o filme nos apresenta ao filho de John McLaine (Bruce Willis), o "profissional" Jack McClane (Jai Courtney), além de tentar aqui e ali formar a composição clássica da série: "estou de férias e não quero confusão, só curtir com meus filhos". O problema é que em nenhum momento isso funciona, pois McLaine parece disposto desde o primeiro momento a criar confusão (ou pelo menos o fraco roteiro o força a isso), e a participação de sua filha apresentada já adulta no filme anterior é periférica e apenas introduz a "trama".
E a "trama" é algo que parece ter sido escrito no verso de um guardanapo e mantido ali até a pós-produção: um preso político precisa ser protegido para um julgamento de cartas marcadas, mas uma força especial da CIA pretende resgatá-lo e obter um suposto dossiê que envolveria a rede corrupta da justiça russa e seu oponente direto. Jack McClane pertende a essa força e John McClane pertence ao imprevisto. Ambos conversam e agem lado a lado, mas não há química de parceiros nem de pai e filho.
Não satisfeitos em criar um filme de ação menor apenas utilizando o personagem de Bruce Willis como gancho de uma série que mereceria um certo respeito por iniciar o gênero, ainda somos obrigados a engolir conceitos completamente inverossímeis a respeito de radiação, urânio e russos. A ironia é que uma produção que gasta horrores para protagonizar a destruição em massa de uma frota de veículos não se envergonhe de apresentar uma máscara que mal tapa os ouvidos como proteção contra radiação. Continuando a gafe, aparentemente existe um gás que serve como escudo instantâneo para seus efeitos. (Aposto que os japoneses matariam para obter esse gás.)
# Lady Snowblood
Caloni, 2013-03-09 cinema movies [up] [copy]Originalmente um mangá da década de 70, Lady Snowblood (sem título nacional, provavelmente nunca lançado no Brasil) contém uma verdadeira miscelânea que com certeza foi fonte de inspiração de Quentin Tarantino na confecção de sua Noiva em Kill Bill. Fica até difícil listar todos os tipos de influências, referências e cópia descarada (como a música-tema). Porém, diferente de um plágio barato, ambos são trabalhos impecáveis de composição, e hoje em dia emprestam diversos significados um ao outro, formando uma perfeita sessão dupla (ou tripla, se considerarmos que Kill Bill possui dois "volumes").
Tendo por tema central a vingança, representada pela figura de Yuki Kashima (Meiko Kaji), uma jovem espadachim que assumiu a vingança de sua família, destroçada por um grupo de assassinos, branco e vermelho trabalham juntos na fotografia. Presentes em toda a história, representam o encontro dos assassinos um a um para Yuki completar sua missão.
Aqui o uso dessas cores é o que une o instinto de vingança da heroína e nos permite enxergarmos a violência de uma forma mais gráfica e ao mesmo tempo cartunesca (além de servir de mensagem temática, sua família é morta por usar branco). O uso exagerado de closes, zooms rápidos e profundidade de campo, traços da época dos filmes de artes marciais, é aplicado de forma sistemática, servindo com o propósito de abrandar as cenas mais fortes, mas ao mesmo tempo exaltar seu significado subliminar na história. (Também é importante ter em mente que os vilões e impuros usam uma cor acizentada.)
Encontrando no caminho com Ryûrei Ashio (Toshio Kurosawa), um jornalista que se interessa por sua história, seu jornal passa a narrar suas aventuras e chamar a atenção do povo local. Os desenhos mostram de forma monocromática o que já vimos em vermelho, uma maneira, diga-se de passagem, muito mais orgânica de inserir a arte gráfica oriental do que a utilizada pelo próprio Kill Bill (assim como os capítulos que dividem o filme, que aqui possuem a desculpa do estilo narrativo da história já escrita). E por falar em comparações é preciso que se ressalte a bomba de fumaça vermelha utilizada em uma cena particularmente tensa, um artifício muito mais elegante que o apagar súbito das luzes no filme de Tarantino, sem explicação plausível a não ser tornar a cena na contraluz mais bonita esteticamente. De certa maneira a metalinguagem em Snowblood também se beneficia por já estarmos inseridos na cultura japonesa. O quatro, por exemplo, número de inimigos de Yuki, também representa a morte.
A montagem minimalista nas cenas de luta consegue expressar a violência sem mostrá-la com todos os detalhes sádicos. Basta a sugestão do movimento (ajudada pela câmera e seu enquadramento eficiente) aliada a uma edição de som igualmente competente para ilustrar a agonia dos combatentes, o que também acaba por ilustrar os resultados da vingança. A mixagem de som também sabe atribuir o valor do silêncio, e é por isso que ele se torna vital em dois momentos finais decisivos. Fora a competência técnica e narrativa de uma história que do contrário seria mais uma, o pano de fundo de Snowblood se passa em uma época de ascenção da nação japonesa frente à guerra com os chineses, e a evolução do uso das armas de fogo, onde ganham cada vez mais importância (e é por isso que os dois últimos inimigos a usam, por analogia os mais perigosos).
Da mesma forma, o destino final do inimigo maior de Yuki pode sugerir muitas coisas, como o sacrifício dos mais novos como uma consequência da ganância (é uma morte forçada, mas o filme a faz parecer necessária, e Snowblood não vacila porque sua própria família já havia sido sacrificada pela mesma ganância). O vermelho sempre tão presente nas cenas ao final dá lugar ao branco, sereno, mas que ao mesmo tempo possui o destino de desaparecer com a chegada do sol. Tantos símbolos é que tornam Lady SnowBlood tão fascinante, e que com certeza devem ter aberto os olhos do mestre Tarantino assim que o viu.
# Atrás da Porta
Caloni, 2013-03-11 cinema movies [up] [copy]Dirigido e escrito por István Szabó a partir de um romance de Magda Szabó (nenhuma relação) da década de 80, Atrás da Porta é parte ficção, parte biográfico. Como filme, se transformou em uma experiência simpática com um elenco harmonioso (e a sempre versátil Helen Mirren), mas que parece não encontrar amparo em seu roteiro e direção. Há qualidades na produção, e o diretor muitas vezes parece ensaiar qualquer coisa fora do convencional (como a tempestade e as passagens em flashback fantasiosas). No entanto, todo momento que achamos encontrar o fio da meada ele nos escapa, deixando-nos em companhia de uma história pra lá de clichê, que infelizmente precisa lidar com o lugar-comum e parece não fazer esforços para se desvencilhar do previsível.
A história é simples: a relação entre uma escritora (e seu marido) que acabam de se mudar e sua faxineira (Helen Mirren), uma moradora tradicional do bairro e ao mesmo tempo excêntrica, o que parece não mais incomodar seus vizinhos. As duas mulheres vieram do mesmo vilarejo, mas tiveram destino completamente opostos. O passado da faxineira aos poucos se revela, conforme sua patroa aos poucos lhe inspira confiança.
Confiança esta que é desafiada por uma visão distópica da faxineira. Não podemos dizer que a patroa compartilhe de suas opiniões, mas o fato de a compreender mesmo não concordando seja o único elemento tocante da história.
Szabó não perde tempo em estabelecer uma dinâmica entre as duas. A passagem do tempo, embora dure anos, é acelerada para o mesmo ritmo frenético das varridas da vassoura da faxineira na calçada, conforme essa muda de cor e textura com o passar das estações. A história ensaia uma relação entre a amizade das duas e seu livro de sucesso, mas deixa em segundo plano junto de muitos outros detalhes que, conforme chegamos no final, começam a deixar de ter importância.
Com uma conclusão trivial e boba, toda a empatia nutrida por aquelas pessoas se esvai pelo vento e pela chuva. Talvez nunca conquistaram nossa confiança durante esse tempo, nem deixaram marcas ao mostrar-nos sua história. Mal dá tempo de lembrá-las ao sair da sala de projeção. Assim como as nuvens do filme, a impressão marcada de leve se esvai com o vento.
# Amigos Inseparáveis
Caloni, 2013-03-12 cinema movies [up] [copy]Enquanto brutamontes e velhos heróis caindo aos pedaços resolvem voltar à ativa como objetos aparentemente invulneráveis contra a ação do tempo (Bruce Willis em Duro de Matar, Schwarzenegger em Os Mercenários), Al Pacino, Alan Arkin e Christopher Walken vão no caminho oposto, exaltando as diferenças de um jeito antigo de fazer cinema jogando em nossa cara, mas ao mesmo tempo reinventando-se como metalinguagem, uma maneira nostálgica que ao mesmo tempo discute nossa geração: onde foi que começamos a ficar mais distantes da vida, cada vez mais vidrados em uma tela de celular? Quando foi que deixamos de fazer algo arriscado ou mesmo fora da "tirania da rotina", como faz o personagem de Al Pacino?
Em Stand Up Guys, de Fisher Stevens (Foi Só um Beijo), vemos um Al Pacino decadente saindo da prisão. Seu personagem, Val, é daqueles que cumpre pena por todos os colegas e se mantém em silêncio. Por 28 anos. Quando sai, é recebido pelo "aposentado" Doc (Christopher Walken), que parece viver uma rotina interminável, aguardando por este fatídico dia.
No início há o choque do tom decadente, de que o mundo mudou muito e todos os lugares antes frequentados pelos dois surgem anacrônicos, com direito a tons de neon e um ar cansado. Esses lugares encaixam perfeitamente nos personagens. No entanto, não é algo feliz, e vai se tornando patético, medonho e trágico. Al Pacino vive o autêntico old school que se esqueceu de envelhecer. Christopher Walken já sabe que já não pertencem mais àquele mundo. Está aposentado, vive repetindo. Aos poucos as falas vão revelando o inevitável já visto por nós: Walken precisa tirar a vida do seu amigo ou também estará perdido. Uma vingança do seu antigo chefe o obriga, o mesmo chefe que o transformou em um dinossauro sem lar.
No decorrer de uma noite de muitos significados a lealdade entre colegas é exaltada uma dança entre dois completos estranhos que monopoliza nossa atenção. O trabalho de iluminação é primoroso, pois coloca-os quase sempre na contraluz e na ambiguidade, e a câmera não exita em movimentar os personagens por luz e sombra, evocando seus momentos mais tenebrosos e iluminados ao mesmo tempo. A dinâmica das falas soa ultrapassada, mas Pacino e Walken as fazem funcionar todo momento. Mais tarde Alan Arkin se junta ao grupo, onde diverte a analogia de liberdade entre uma prisão e um asilo. Seu destino talvez seja a mensagem que faltava, o ponto de virada daquela noite de saudosista para inesquecível. De repente a decadência não mais importa, mas sim a emoção de estar vivo. Honra também faz parte do pacote da noite, e claro, sexo, que contém piadas sobre a velhice, mas que igualmente elegante, também funciona.
No fundo, a maior proeza do filme é a sua história que bate o coração devagar, como se estivesse a parar, para logo depois começar a bater mais forte. Nosso reconhecimento da amizade entre os envolvidos só aumenta. Embora seja repetitivo no terceiro ato em sua solenidade pelo "ato final", e a câmera cada vez mais distante dos personagens pareça embaraçada (ou com medo do que vai acontecer).
Em um dado momento do longa Arkin pergunta se os atos dos três amigos serão "como nos velhos tempos", no que Pacino responde que "será melhor". Por quê? "Dessa vez podemos apreciar nossos atos." Eis a definição do poder da experiência em nossas vidas, onde a repetição de velhos hábitos nunca é uma simples repetição. Da mesma forma, o simples fato de já termos visto esse filme trinta anos atrás com os mesmos caras não significa nada, mas a comparação entre as eras, sim.
# Oz: Mágico e Poderoso
Caloni, 2013-03-14 cinema movies [up] [copy]A visão em preto e branco em uma tela quadrada de Kansas nos revela um lugar com pouco lugar para imaginação. Isso não impede que Oscar (James Franco), um mágico em um circo itinerante, apresente seus espetáculos como shows inesquecíveis para o público. Isso gera uma crença descomunal do povo, que acha que o homem é capaz de realizar milagres. Por não pertencer a esse mundo, sua fuga o leva literalmente a outro: um fabuloso, colorido e dentro de uma ampla tela. É assim que o diretor Sam Raimi (trilogia Homem Aranha) quer que vejamos Oz, uma terra verdadeiramente mágica.
O espetáculo visual que é Oz não impede que sejam feitas referências no modo de construir o encantamento visual. Embora não precisasse, os cenários ao horizonte revelam o artifício de Matte Painting, pinturas no fundo do estúdio, usado no filme original. De certa forma, os recursos digitais mais aproximam-se do burlesco e de Mary Poppins.
James Franco não é um grande ator, mas sua simpatia combina com o personagem de Oz, que é um ser inventivo e carismático. O mesmo não se pode dizer das mulheres que o rodeiam, que fazem um esforço descomunal para parecerem inocentes (ou não). Mesmo Michelle Williams, inspiradora na primeira parte da história, é forçada pelo roteiro a se tornar uma mera coadjuvante feminina no melhor estilo Disney.
Mesmo que a história já seja conhecida, ou para aqueles que não se lembram, a reinvenção de Oz encanta conforme somos apresentados aos seus elementos narrativos. Reaprendemos a enxergar aquele mundo com mais doçura e inocência do que o início no circo. Essa evolução é importantíssima para o terceiro ato, quando vamos conhecendo os detalhes ainda secretos da história.
Embora parta de um roteiro confuso que parece se esquecer que não estamos mais na década de 60 e o que parece imprevisível muitas vezes se revela banal, é admirável o que os trailers conseguiram, mantendo a discrição de uma história simples e que não poderia terminar diferente.
Assim como Arthur C. Clarke imaginava a evolução da sociedade, que, apresentada a um povo suficientemente primitivo, se torna indistinguível de mágica. Aqui ironicamente um povo onde a mágica é comum não conseguiria distingui-la de tecnologia. Nesse sentido, a mensagem de "Oz" não poderia ser mais eficiente.
# De Coração Aberto
Caloni, 2013-03-15 cinema movies [up] [copy]Javier (Édgar Ramírez) é o cirurgião do hospital onde Mila (Juliette Binoche) trabalha. São marido e mulher. Ou melhor dizendo, mulher e marido. A impulsividade de Javier e sua dependência da mulher vão aos poucos se desenvolvendo pela diretora (e atriz) Marion Laine. Seu alcoolismo o afasta das operações, o que é o estopim para que sua impulsividade tome o controle não apenas de sua vida, mas de Mila. As coisas pioram quando descobrimos que ela está grávida. As decisões de Mila são sempre em função de Javier, que é uma bomba-relógio.
O argumento para o aborto de Mila é evitar "algo sem controle" na vida dos dois. A princípio podemos supor que ela fala sobre o bebê, mas logo fica claro sua maturidade frente ao comportamento quase primata do marido. Não precisamos de muitos diálogos expositivos. Marion Laine coloca Javier entre chimpanzés, e esse parece ser o que mais deseja.
Os detalhes técnicos impressionam pela sutileza, como o som, que nos guia a todo o momento sem tornar-se demasiadamente invasivo. No entanto, ele pode estar presente tanto nos momentos mais sutis (como uma batida no capacete de um personagem) quanto nos mais urgentes (o som da água no rio). Já a fotografia é exibicionista, mas não revela seu significado, permanecendo como uma imagem indelével na mente. Brinca com o vermelho, às vezes nas roupas de Mila, outras na de Javier. A tragédia ronda a vida dos dois. Aos poucos percebemos que não importa o que seja feito tende a dar errado, ou está predestinado a dar. Em uma montagem primorosa somos levados de um exercício de ternura a um ato de violência sem controle, quando Javier e Mila exibem seus sentimentos de forma visual a respeito do seu filho.
O terceiro ato termina como deve ser, ou como algo que esperávamos a qualquer momento. Com uma câmera que flutua entre transições viscerais entre um tranquilo sonho no rio e uma sala de cirurgia somos levados a juntar todas as peças elegantemente espalhadas pela história. Não precisamos que nos expliquem qual a grande mensagem por trás de tudo isso. No fundo, é desejável que cada um tire suas próprias conclusões.
# Pieta
Caloni, 2013-03-19 cinema movies [up] [copy]Finalmente, depois de ganhar prêmios na Europa e ser exibido apenas na Mostra do Rio do ano passado (em uma atitude claramente estúpida dos organizadores da Mostra SP), algumas distribuidoras nacionais resolveram estrear o novo trabalho de Kim Ki-duk. É impressionante como parece que a qualidade dos trabalhos lá fora é inversamente proporcional à pressa das distribuidoras brasileiras em fornecer conteúdo para o público local.
Kim Ki-duk é conhecido pelos seus filmes cheios de significado e símbolos, sobretudo nas cores que utiliza. Em Fôlego e "Primavera, Verão..." temos os momentos mais enigmáticos e controversos do diretor que adota projetos já polêmicos desde o roteiro (que geralmente também escreve).
Em Pieta a polêmica fica por conta de Gang-Do (Lee Jeong-jin), um cobrador de dívidas de um agiota que trabalha em uma região de trabalhadores de máquinas pesadas e que os obriga a "se aleijar" para conseguir o dinheiro da indenização que recebem e assim conseguirem pagar pelos abusivos juros. No momento em que encontra sua suposta mãe (Jo Min-su) o seu estilo de vida fundado em uma violência praticamente primitiva (ele leva os animais que come ainda vivos) é questionado pelos seus primeiros sentimentos de afeição que procuram uma maneira nada convencional de se expressar. O detalhe é que o seu modo violento de tratar as pessoas é usado como forma dos dois se aproximarem.
Esse choque de realidades é o ponto forte do primeiro ato, e a identificação pelas cores e sons é primordial para a nossa identificação do drama que se configura. Desde o primeiro momento em que se encontram, mãe e filho se vestem com as mesmas cores básicas. O verde, representando o dinheiro, deixa uma mensagem constante na rotina do rapaz. O vermelho, por outro lado, adquire o elemento misterioso, e é o que mantém o suspense da história. Já o som comenta as cenas de uma forma quase poética. O som de tapas secos ecoando pela rotina do rapaz não é gratuito, e Ki-duk encontra uma maneira cruel e criativa de mostrar o olhar horrorizado de uma mãe enquanto assiste seu filho ser esbofeteado.
Ao chegarmos no ponto de virada da história, igualmente impactante, a narrativa se desconstrói e fica mais fraca. Problemas na estrutura enfraquecem os acontecimentos logo após a nossa descoberta principal, mas enquanto tentamos captar o significado do que está na tela muita informação parece ser jogada na nossa frente apenas para que não percebamos os próximos movimentos. É uma pena que início e conclusão possuam um encaixe irregular, pois as qualidades da história até então parecem ter encontrado o seu ápice minutos antes do seu desfecho.
Kim Ki-duk continua sendo um dos meus diretores favoritos, embora minha lista de diretores favoritos apenas aumente com o tempo. Por mais que às vezes peque na economia narrativa, um filme irregular dele é melhor que a média "do mercado".
# A Fuga
Caloni, 2013-03-22 cinema movies [up] [copy]Não há muito o que falar de A Fuga (Deadfall), com Eric Bana e Olivia Wilde. As atuações desses dois atores elevam uma experiência banal de uma história medíocre para algo minimamente interessante sobre um casal de irmãos, Addison e Liza, que realizam um roubo e precisam fugir pela fronteira com o Canadá. No caminham encontram situações que vão aos poucos revelando suas características e seu passado juntos do pai alcoólatra. Mas isso é pouco. Nunca ficamos sabendo de fato o suficiente para que faça sentido acompanhá-los ou entender o que está em jogo. Addison é estrategista, não violento, mas pode se tornar quando necessário. Porém, não mais do que qualquer pessoa comum no seu lugar. Liza parece querer dizer algo mais a partir do seu comportamento dissimulado e sua lascívia. A troca de nomes que ocorre em determinado momento é um recurso óbvio demais, o que faz perder toda a sutileza da introdução que sugere um histórico incestuoso.
Como se não bastasse somos obrigados a dividir o tempo em tela com outra família, formada por um xerife aposentado (Kris Kristofferson), sua mulher (Sissy Spacek) e o filho Jay (Charlie Hunnam), um ex-boxeador que acabou de sair da prisão por entregar uma luta. Há uma cena inicial com seu treinador em que é sugerido que o rapaz não tem mesmo sorte, mas o que ocorre em seguida nos leva a crer que algumas pontas soltas continuaram soltas no roteiro. O pai nunca o perdoou, mas ele está indo para casa passar o dia de ação de graças. O que ocorre em seguida é tão óbvio que tudo parece somar-se a uma grande perda de tempo.
A câmera do diretor Stefan Ruzowitzky parece tornar as coisas um pouco mais confusas ao não saber definir o estilo que pretende seguir. Se em determinado momento em um banheiro de motel o zoom oscilante evocando realismo e urgência é usado, nunca saberemos por que, pois o resto da história lembra o gênero policial genérico sem personagens marcantes em um ritmo lento e constante.
Em determinados momentos lembramos de Fargo porque a polícia parece estar sempre um passo atrás dos bandidos. Só que diferente do excelente trabalho dos irmãos Coen, a figura da filha do xerife local (mais uma família na história) não chega nem perto da sagacidade de Marge Gunderson (apesar de ter muito mais sorte e ser levada magicamente onde a ação ocorre). Assim como essa lembrança passageira toda a história é uma série de colagens de personagens ainda não terminados ou fracos demais, o que compromete todo o desenvolvimento das histórias paralelas, pois nunca ficamos de fato interessados em qualquer uma das três narrativas.
Com uma ou outra sequência isolada que poderia adicionar mais sobre aquelas pessoas e o que estão vivendo (como a noite na cabana com Addison e uma menina), a cena final que deveria representar todo o clímax daquela situação nunca chega a ser marcante. Piora a situação quando vemos um certo policial realizar um ato completamente insano e sem motivo algum. Se bem que, à essa altura do campeonato, quem se importa com coerência narrativa?
# Décimo Encontro de Programadores de C e C++
Caloni, 2013-03-28 ccppbr [up] [copy]Ando tendo alguns problemas de postagem no meu blog, por isso o aviso não foi feito com mais antecedência. Peço desculpas aos organizadores do evento, pois sei que todo tipo de divulgação é útil.
Chegamos em mais um evento do grupo C/C++ Brasil, dessa vez honrando a parte "Brasil" do nome. Sim, nosso próximo evento será fora de Sampa, mas ainda próximo, no Rio de Janeiro! Até onde eu sei, o primeiro que se tem notícia. Finalmente o grupo terá a chance de se reunir na terra de programadores C++ de referência internacional como Pedro Lamarão.
Os detalhes do evento estão, logicamente, no saite oficial do grupo. Ele ocorrerá no dia 25 de maio (ainda dá tempo de comprar passagem) e terá sua programação divulgada já em abril. Infelizmente o tempo para o call for papers quase se esgotou (vai até dia 30 desse mês).
Enfim, essa é a chance de intercâmbio esperada entre nossa comunidade de programadores C/C++ de outras partes do país e que ainda não tiveram a oportunidade de participar dos nossos tradicionais encontros.
Correção: esse encontro foi o décimo, diferente do inicialmente proposto. Ou mudamos a base para 8 =P
Atualização: o encontro rolou, pelos comentários foi bem legal e em breve teremos slides, vídeos, depoimentos, etc.