# Feels Good Man

Caloni, 2020-11-01 cinemaqui mostra cinema movies [up] [copy]

Feels Good Man é hilário, e o motivo disso é, por essas ironias do destino, o próprio tema desenvolvido no filme: um personagem de cartoon vira meme na internet e, sendo usado como símbolo por grupos de reclusos sociais, se torna o motivo principal pelo qual Donald Trump se tornou presidente dos EUA. Sim, isso mesmo que você leu. É ou não é para dar risada de pé, membros da Igreja do Santo Meme?

A guerra memética está no ar. O termo cunhado por Richard Dawkins em seu livro O Gene Egoísta é uma analogia ao conceito da biologia que diz que o gene mais adaptado sobrevive no tempo. Bom, memes são a contrapartida cultural, o que significa que os pedaços indivisíveis da memória coletiva da sociedade que se adaptarem melhor aos novos tempos permanecerão como nossos valores e formas de enxergar esse mundo que vem mudando a passos largos.

Por isso eu entendo por completo a frustração de Matt Furie, o cartunista criador de Pepe The Frog. Ele vive com sua família na "chapada", hipster, politicamente correta e vegana São Francisco, e agora lamenta que a figura simpática de seu jovem sapo, que se inspirou em si próprio como lembrança dos tempos fáceis e simples dos amigos de faculdade, tenha caído na rede.

O filme se divide em dois. Na primeira parte o significado de Pepe The Frog foi deturpado ao virar um meme simpático usado por milhões de pessoas, algo que Matt até curtiu, pois passou a vender camisetas com o sapo pela internet e faturar uma grana. O que ele não gostou, fruto da segunda parte do filme, e a mais dispersa na narrativa do diretor Arthur Jones, foi quando o meme caiu nas graças do povo do 4chan, um fórum na internet conhecido pelos progressistas estadunidenses como esconderijo dos supremacistas brancos, da extrema direita, da direita alternativa, dos neonazistas ou de qualquer outro termo que define um grupo de pessoas muito más e com cara de melão.

O resumo dessa história é que o povo da internet transformou esse sapo no símbolo de toda essa galera, que virou um fomentador dessas ideologias na rede, em formato de memes. De forma anônima, claro, pois há perseguição ativa desses grupos. Principalmente se alguém decide propagar teorias antissemitas ou que sugira que o mundo é controlado por judeus. Aliás, esse detalhe em específico gerou mais um efeito hilário no documentário. Em determinado momento da escalada de Pepe The Frog em direção à Casa Branca é dito que o personagem foi inserido na lista da Liga Antidifamação. Essa Liga é um órgão não-governamental que "define" o que é bom e ruim na internet. O detalhe hilário é que se trata de uma organização judaica.

Feels Good Man flerta de maneira sublime com aqueles momentos em que a vida é maior do que a arte, e se torna material potencial para trabalhos do nível de Exit Through the Gift Shop, um documentário sensacional que foi fruto de um projeto que começou com o objetivo de mostrar a vida de um francês maluco e terminou da maneira mais inesperada possível vendendo arte estilo Bansky, o pixador anarquista de rua, da maneira mais capitalista possível. Imperdível para quem ainda não viu.

Infelizmente não houve ninguém para "hackear" o projeto Feels Good Man, e apesar de vibrante e frenético em sua edição ele se mantém medíocre no conteúdo do começo ao fim, ignorando a fina ironia nas críticas que faz aos membros do 4chan, como ao relacioná-los através das falácias mais baixas, fáceis de detectar, a jovens que ainda vivem no porão da casa dos pais, desajustados sociais, virgens involuntários ou qualquer outro estereótipo facilmente atacável (até por ser um estereótipo) pelos movimentos de esquerda da atualidade, os amantes da diversidade.

Por outro lado, ainda é um trabalho válido e que pode gerar prazeres frívolos da vida em família. Lembre-se de comentar sobre este filme com seu tio, aquele todo cheio de papos políticos, no dia de Natal. Diga que o meme do sapo foi o grande catalisador da campanha de Trump, e que você tem um documentário para provar. Transforme aquela discussão chata de todo final de ano em uma boa piada, para todos rirem juntos em como a oposição consegue criar um bicho-papão tão infantil e fazer todos defenderem essa teoria. Talvez esteja surgindo um novo meme.


# Meu Coração Só Irá Bater se Você Pedir

Caloni, 2020-11-01 cinemaqui mostra cinema movies [up] [copy]

Meu Coração Só Irá Bater se Você Pedir tem um título tão longo e tão fofinho, mas é tão brutal. Se trata de um thriller de terror que faz você ficar preso na poltrona da sala de cinema ou, no caso da pandemia, no sofá da sala, do começo ao fim. Curto na medida certa, seus eventos vão se desenrolando com naturalidade até o clímax necessário, esperado e catártico.

A história é simples e direta: três irmãos vivem reclusos, pois os dois mais velhos, Dwight e Jessie, precisam alimentar o caçula, Thomas, com sangue humano. Dwight por ser homem é quem sai à caça de vítimas, geralmente sem-teto à beira de viadutos, em lugares onde ninguém irá notar a ausência de um. Thomas, vampiresco nos detalhes ruins, além de depender dos irmãos não pode sair à luz do sol. E Jessie trabalha como garçonete, servindo outros que não o irmão na lanchonete da cidade, atenta a potenciais próximas vítimas, pois sem o sangue Thomas, já abatido, sucumbirá rápido.

O filme não nos dá os motivos pelo qual essa família está assim formada, nem por que não podem apelar para hospitais ou o furto de bancos de sangue. A história simplesmente é assim, somos jogados nela e nos divertimos com seu desenrolar. E ela fica boa menos pelo roteiro e mais pelo ótimo elenco e excelente direção.

Dwight é o protagonista e já está farto de ter que matar inocentes. Sua hesitação em conseguir mais sangue acaba tornando a situação mais complicada ainda. A atuação de Patrick Fugit nos torna testemunhas de sua dor e sonhos de libertação; ele tenta olhar para um futuro pelo porta retratos do seu quarto. Jesse, que é interpretada por Ingrid Sophie Schram, usa sua expressão obstinada a seu favor, é quem manda na casa e impõe regras rígidas para que a família consiga se manter funcional. Já Thomas, vivido por Owen Campbell, possui um misto entre carisma e temperamento controlador, curiosamente algo mais presente em sua irmã.

E isso é um detalhe importante: nós acreditamos que esses três personagens de fato são irmãos, pois partes da personalidade de um é encontrado no outro, ainda que fisicamente não se assemelhem. É uma das melhores virtudes do filme ter conseguido esse trio de atores para os papéis principais.

Quando olhamos para detalhes técnicos do filme, ressalta a iluminação de "Meu Coração Só Irá Bater". É soberba em sua pobreza meticulosa e ao mesmo tempo cheia de nuances. Amarelada, a luz interna da casa dos irmãos permite com que as sombras se tornem mais ameaçadoras, e os móveis velhos que parecem sem vida nunca ficariam tão desconfortáveis não fosse essa fotografia impressionista, minimalista, de Michael Cuartas, irmão do diretor, Jonathan.

Ambos já trabalharam juntos em curtas, mas esta é a estreia de ambos em um longa-metragem. E enquanto Michael nos controla pelos filtros com que consegue trazer um novo tom para a escuridão, Jonathan demonstra um domínio completo de seus quadros. Limitados em uma proporção de tela reduzida, o que causa um efeito claustofóbico em nossos dias de widescreen, Jonathan consegue preencher todo o seu campo de visão com elementos do cenário, mas, principalmente, deixa de fora cantos vazios para o espectador respirar.

Com uma trilha na maior parte do tempo silenciosa, mas eficiente nos poucos momentos que se faz presente, é curioso como os irmãos precisam da música para suportar a vida que levam. Eles também comemoram o natal uma vez por mês, se dando presentes. Há poucos elementos que enriquecem a atmosfera do filme, mas esses poucos sempre melhoram o filme.

Infelizmente a riqueza dos detalhes para por aí, pois Jonathan evita no roteiro trazer referências à mitologia do vampiro ou relações metafóricas com a realidade. Não há rodeios nem floreios na ação deste terror dramático, o que faz perder um pouco o potencial da atmosfera eficiente que é criada a cada novo plano. É eficiente como narrativa, mas falta algo que nos faça lembrar deste trabalho por mais tempo que sua uma hora e meia. Por comparação, por exemplo, Deixe-me Entrar, terror sueco que também envolve vampirismo, contém outros temas em paralelo, e se torna também um estudo de personagem sobre bullying escolar. Em "Meu Coração" apenas pressões da família e da solidão são sugeridas, mas sem ênfase necessária para isso se tornar um detalhe marcante.

Meu Coração Só Irá Bater se Você Pedir, também verso da música da cantora Helene Smith, é um filme perturbador enquanto o assistimos, mas fácil de ver e dormir tranquilo à noite. Não há fantasmas para nos assombrar no universo de Jonathan Cuartas, embora sua estética seja apaixonante por si só.


# Walden

Caloni, 2020-11-01 cinemaqui mostra cinema movies [up] [copy]

Nascida em Praga nos anos 60, a cineasta Bojena Horackova busca por liberdade no Ocidente em Paris aos dezessete anos. Várias décadas depois surge Walden, um filme que mistura traços biográficos de sua idealizadora e um tom nostálgico/romântico.

Horackova já desenvolveu suas ideias sobre o passado em "A l'est de moi", um semi-documentário de 2008, mas aqui existe a possibilidade de revisitar mais uma vez a época do comunismo no Leste Europeu em um filme que se localiza geograficamente na Lituânia e é falado em um idioma que pouquíssimas pessoas fora da região conhecem.

Apesar da barreira da língua a história é bem comum: casal de jovens decide que é hora de partir do inferno do comunismo em busca de oportunidades na Europa civilizada. Há empecilhos que ambos devem transpor, mas o primeiro delos é entender o quê querem da vida.

Ele é o que mais deseja partir. Vivendo com os pais e a avó em uma casa que é um cubículo, revende itens no mercado negro até surgir a chance de passar a fronteira.

Ela se inspira em suas ações. Gosta de fazer as vendas e enxerga uma possibilidade de ser livre de amarras que nem ela sabia existir no lugar onde nasceu.

O clima de Walden é levemente melancólico. A fotografia cinzenta é típica de filmes da época na região, mas mais significativo é a ausência de pessoas nas ruas e a impressão de estar sempre vigiado.

O filme faz uma guinada interessantíssima a partir de sua metade, juntando uma narrativa décadas depois com parte dos envolvidos. Só descobrimos aos poucos porque não esperamos esse desenrolar específico da história. Acostumados a romances onde os amantes se entregam de corpo e alma, a trama ao mesmo tempo que impressiona faz pensar no passado como fonte de ressentimentos ou de uma nostalgia boa, sobre as origens das decisões que nos fez chegar onde estamos hoje.


# Verão Branco

Caloni, 2020-11-02 cinemaqui mostra cinema movies [up] [copy]

Não nos lembramos exatamente como era a nossa infância, a nossa adolescência e o que havia nesse meio tempo. O "meio tempo", essa fase dos doze anos até a maturidade, é a premissa de Verão Branco, filme de estreia do mexicano Rodrigo Ruiz Patterson que estreou no Festival de Sundance e agora disponível na Mostra de São Paulo. É um filme direto sobre a visão bem peculiar de um jovem com sérios problemas emocionais.

Rodrigo é filho de mãe solteira, a linda e jovem Valeria, cuja atriz, Sophie Alexander-Katz, você deve conhecer de outros filmes, entre eles Actores S.A.. Seu relacionamento com a mãe é íntimo ao ponto dele viver em um casulo em torno de uma mulher carente de uma figura masculina. O filho supre essa necessidade até a chegada de Fernando, seu novo namorado, o que desestabiliza a conhecida, batida, relação edipiana que estava cristalizada. Mudanças sempre nos incomodam. Mudanças na pré-adolescência nos incomodam mais.

Mas Rodrigo não é um jovem normal. Ele tem tendências à violência e acessos de raiva que manifesta de maneira passivo-agressiva. Aos olhos dos adultos é uma criatura quieta e introvertida. Quando acha que não está sendo vigiado ele foge da escola, queima coisas, fuma cigarro (como a mãe) e vive em sua casa adaptada, um trailer levado para um ferro-velho que ele passa a frequentar para ficar o mais longe possível da casa onde agora vive seu rival. Quando questionado, mente quando necessário.

Essa história é contada sem nuances. Rodrigo é de fato uma criança problemática e não parece haver nada a ser feito. Assim como sua versão mais infantil vista na Mostra anterior em System Crasher, a incapacidade dos adultos em lidar com esses rebentos tresloucados é deixar ser. Eventualmente a fase passa. Ou o rebento morre. De qualquer forma, deixe ser.

O mistério de Verão Branco é sobre se o filme possui mais alguma mensagem além das obviedades em torno da história de um garoto reagindo negativamente à evolução do novo relacionamento da mãe. Esse mistério não é resolvido pelo filme. Está aí para o espectador pensar. Pensar sobre sua própria adolescência, quando provavelmente também fez coisas bobas (embora talvez não tão violentas) e se lembra com um misto de vergonha e nostalgia.


# Berlin Alexanderplatz

Caloni, 2020-11-07 cinemaqui mostra cinema movies [up] [copy]

Berlin Alexanderplatz é um filme de três horas que passam voando. Se trata do conto do homem comum, narrado por uma voz onisciente que a divide em partes, que não fazem lá muito sentido, mas com reviravoltas entre elas. Ser dividido em partes torna a tarefa de assisti-lo mais fácil. É como um livro e seus capítulos.

Não à toa. Baseado no romance de Alfred Döblin, esta é a terceira vez que a história ganha vida nas telas, sendo que a do meio foi dirigido por Fassbinder na década de 80. Possuía 15 horas de duração. Quando estreou nos cinemas de Nova York os espectadores tinham que ir ao cinema em três noites consecutivas com o mesmo bilhete para ver o resto do filme. Por isso fico muito feliz com essas três horas dessa versão de Burhan Qurbani, diretor igualmente alemão, mas de origem afegã.

A história, adaptada para os tempos atuais, gira em torno da epopeia de Francis, refugiado de Guiné-Bissau que depois de praticar um ato de moral duvidosa para conseguir chegar a Berlim faz um pacto com Deus e decide a partir daquele dia ser uma pessoa boa, embora a partir daquele momento ele tome todos os caminhos errados. No meio ele encontra um psicopata, Reinhold (Albrecht Schuch, absoluto), que o alerta para a futilidade de sua promessa. O que é bem? O que é mal? "Você está querendo ser bom em um mundo mau." Essa frase tem um misto entre coitadismo e fatalismo. Além de uma contradição filosófica braba.

O título do filme leva o nome do bairro de Berlim que é a terra dos refugiados que trabalham por merreca ou se prostituem como traficantes. É traçado um paralelo bacana com uma prostituta alemã, Mieze, e figuras marginalizadas com um certo poder de mafioso. Faz pensar em como os fora da sociedade conseguem sucesso por não poderem se dar ao luxo de viver uma vida honesta.

A narrativa de "Alexanderplatz" é épica; com a voz de uma personagem que aparece apenas a partir da metade da história, esta mistura de filmes de gângsters com queda de impérios de drogas se vende como inesquecível. Porém, em vários momentos o foco se perde, e nesse jogo de tentar se manter de pé Francis é o único desprovido de moral para tomar suas próprias decisões. Desde que chegou a Berlim ele continua sendo levado pela correnteza em sua jornada.

Curioso notar que no romance original ele era um assassino recém-saído da prisão. Adaptado, agora ele é um refugiado com a mesma sina, embora não exatamente a mesma, já que assim como os heróis nos filmes de Hollywood, ele só pode matar e roubar se não for um ato egoísta. O herói não é, então, uma pessoa má que tenta se desvencilhar do passado, mas um inocente, que não tenta nada, pois é levado pelas absurdas circunstâncias de sua aventura em terra estrangeira, como servir de "backup" para as aventuras amorosas de Reinhold, que é incapaz de conseguir se relacionar afetivamente com as mulheres que leva para a cama.

A narrativa de Alexanderplatz acaba sendo bonita o suficiente para nos hipnotizar. As atuações funcionam como uma imitação de trabalhos maiores, mas ainda com algum traço original que nos convence e retira, ao menos parcialmente, aquelas amarras de ceticismo que nutrimos de não ser mais possível fazer filmes bons com o mesmo tema de clássicos do passado. E mesmo sem uma história convincente, o trabalho do diretor Burhan Qurbani é consistente visto de todos os ângulos. A estética de sua equipe, o jogo de cores, os cenários, a localização geográfica e os ângulos de visão da ação favorecem as virtudes técnicas do filme e ocultam a ausência de detalhes na trama, como o mecanismo da venda de drogas.

A consequência é um ótimo filme, independente de sua origem e adaptação. A atmosfera vale mais que seus estereotipados personagens, cujas origens estão ocultas pela urgência do tempo, mas que acabam os tornando figuras misteriosas em um bairro abandonado de uma das capitais do mundo. Nós acreditamos nesta história contemporânea com muita poupa e cores. E isso basta para ficarmos três horas diante da tela. Ainda que tenhamos que nos ajeitar no sofá a cada troca de capítulo.


# Irmãs Jamais

Caloni, 2020-11-07 cinema movies [up] [copy]

História sobre uma família da cidade turística de Bobbio, na Itália. A família é de verdade, mas a história é fantasia. O IMDB o chama de "nostalgic fantasy documentary", mas soa mais ficção estilizada. As atuações e os ângulos da câmera nos convencem mais do que a história, que é irrelevante. Este é um filme sobre personagens e a passagem do tempo. A caçula da família cresce a olhos vistos e um efeito Boyhood ocorre durante o filme. As filmagens de Marco Bellocchio são primorosas e o elenco familiar afiado. O diretor gosta de alusões à nostalgia, como seu mais recente Belos Sonhos. Estes são filmes gostosos de assistir sem o comprometimento de se preocupar em seguir uma história com começo, meio e fim.


# Palestras

Caloni, 2020-11-08 lists [up] [copy]

Segue a lista de palestras que ministrei ao longo dos anos que possuem alguns slides úteis (os com slides inúteis não estão disponíveis e devem estar na memória dos que assistiram ou em algum post perdido por aí). Have fun =)


# Anuska, Manequim e Mulher

Caloni, 2020-11-14 cinema movies [up] [copy]

É interessante assistir esses filmes antigos brasileiros. Este da década de 60, muito próximo da intervenção militar, flerta com o cenário político do país e é um dos últimos a fazer isso. Francisco Cuoco é Bernardo, um escritor frustrado de um jornal convencional que se fecha cada vez mais para a realidade. Ele conhece a belíssima Anuska do título, interpretada por Marília Branco, e ambos criam junto do diretor Francisco Ramalho Jr. quadros que evocam o desolamento e a tentativa de ser feliz em um país à beira do colapso.

Claro que essa é a descrição perfeita para uma análise primordial da quebra dos relacionamentos que parecem perfeitos no início. Só que este nunca foi perfeito. Bernardo estava apenas apaixonado e o filme nos revela essa paixão boba e arrebatadora os colocando girando em círculos e correndo e dançando em torno da Estação da Luz em São Paulo, que já é uma cidade movimentada.

Inicialmente abordando o universo da moda de forma hermética, esta produção de baixo orçamento e ideias limitadas possui um roteiro pedestre com falas artificiais, mas consegue transcender a tudo isso mesmo assim. Não é um filme ruim, mas é pouco explorado. Soa amador, mas sem uma paixão. Talvez o próprio reflexo das pessoas naquela época.


# Bob Esponja: o Incrível Resgate

Caloni, 2020-11-14 cinema movies [up] [copy]

Certamente esta é a obra mais ofensiva ao legado de Bob Esponja. Não-canônica (explica as origens das amizades tudo errado) e apelando para sentimentos baratos com uma trama descaradamente copiada do filme original, "O Incrível Resgate" mantém alguns bons momentos do personagem aloprado e seus amigos, mas trai nossas expectativas em sequências inteiras no melhor dos casos desnecessárias e no pior contra a atmosfera da série animada original.

Por outro lado, a animação é admirável. Se trata de uma produção de alto custo, e os artistas digitais capricham muito nos detalhes, inserindo aqui e ali referências divertidas, mas mais do que isso recriando a Fenda do Biquini no formato 3D digital. E em certo momento somos levados para o deserto e uma cidadezinha deserta onde o bar está infestado de zumbis piratas, que é quando percebemos a falha: qualidade, mas não organicidade.

O uso de cores é absolutamente fenomenal. Você quer mastigar cada pedaço de cenário. Ou os próprios personagens. Bob Esponja e seus principais amigos estão bem caracterizados em 3D, com exceção da esquilinha Sandy, que com seu pelo arrepiado por dentro de um capacete está mais para um experimento falho de fantoche.

Mas este nunca vira um filme de fato. É um ou vários episódios da série juntos em uma aventura nada inspirada. Há longas sequências que não alteram em nada para a trama principal. Eles utilizam Keanu Reeves porque está na moda, e alguns fãs talvez até gostem dessa participação especial e magnética, mas não deixa de ser um artifício para arrecadar público de um projeto problemático. A mesma coisa para outras participações, como Danny Trejo e Snoopy Dogg. Este último foi criada uma sequência musical sem qualquer motivo.

No entanto, as músicas são muito boas, embora não se encaixem no que vemos na tela. O remix dos créditos finais do tema principal da série é um brinde a mais, por termos assistido a este assassinato do original. E ainda dedicam o filme ao criador da série, Stephen Hillenburg. É um clichê dizer isso, mas ele deve estar se revirando do túmulo.


# Enola Holmes

Caloni, 2020-11-14 cinema movies [up] [copy]

O único teste em que ela passa é o de Bechdel

Quando você pensa em escrever sobre um filme esquecível e irrelevante como Enola Holmes a primeira coisa que vem à mente é rotular e julgar como um produto Netflix com todo seu checklist obrigatório, como o feminismo. Porém, isso é tão óbvio que não merece mais ser citado.

O que merece ser refletido ao vemos um filme como Enola Holmes é como as estruturas do sistema transformam ideias com boas intenções em mecanismos de opressão.

Você conhece o Teste de Bechdel? Foi um conceito criado para rotular filmes a partir de uma métrica simples que irei expandir conceitualmente aqui: há personagens femininas nesse filme que não são apenas instrumentos do protagonismo masculino?

A popularidade dessa ideia nos faz refletir em quão poucos filmes passam nesse simples teste, e a brincadeira era como se fosse um teste. Hoje é um mecanismo de seleção de quais obras podem ou não ser produzidas.

E o que isso tem relação com mecanismos de opressão e Enola Holmes? Tudo. Este romance adaptado poderia, assim como os milhares de romances lançados todo ano, a maioria com qualidade duvidosa, ser esquecido nas prateleiras, virtuais ou não, de uma livraria. A categoria: mulheres empoeiradas.


# O Gambito da Rainha

Caloni, 2020-11-14 cinema series [up] [copy]

Xadrez para os fracos

Esta série da Netflix, que por isso me dá certa alergia, só me chamou a atenção porque tem xadrez no meio, do qual sou aficionado, mas depois descobri que é do mesmo roteirista de Logan. A história é de uma garotinha que se tornou órfã de mãe após um trágico acidente de carro e no orfanato aprende xadrez apenas observando o zelador e jogando em sua mente. Ela toma calmantes, naquela época medicação dada para crianças, e se torna uma viciada, mas consegue antes de dormir enxergar do teto de seu quarto um tabuleiro gigante onde analisa suas partidas.

Sabemos que ela não irá se livrar de nenhum dos dois vícios porque o filme começa com ela já adulta e a série inteira é quase um enorme flashback. Vemos a Beth Harmon do presente uma bagunça em torno dessa mistura entre sexo, drogas e xadrez, o que já existe em sua personalidade desde o início e o "filme" de sete horas tem uma forma peculiar de adicionar isso logo no primeiro episódio, com ela ainda criança, pela curiosidade com que ela observa os garotos mais velhos de longe.

Esta é uma minissérie de época com sete episódios que aborda temas do momento para ser vendido, como protagonismo feminino, além de um invejável guarda-roupas vestido por Beth, que não é nada feia. Porém, ao mesmo tempo há o tema nada popular do xadrez.

Nota-se que todas as características da protagonista, Elizabeth Harmon, foram bem estudadas, como as menções sobre detalhes técnicos do jogo para os fãs, mas também o suposto autismo ou desvios de atenção de uma garota traumatizada na infância e de personalidade multifacetada. Ela vê sua mãe queimando as roupas durante a última noite em casa e pega para si um livro de matemática, mas já adulta cada aparição parece estar em um desfile de moda.

É possível que seja baseado em alguma biografia, mas na verdade é baseado em um romance de Walter Tevis de 1983. A atriz mirim, Isla Johnston, foi uma boa escolha, talvez até melhor que a atriz já adulta, que é Anya Taylor-Joy, a garota de Fragmentado e Vidro, ambas sequências de Corpo Fechado. Claro que a referência aqui é problemas mentais e o formato do crânio e dos olhos esbugalhados da atriz remetem a essas lembranças.

A censura da série é 16 anos, o que sempre é um bom sinal. A trilha sonora caminha por obviedades dramáticas de dar sono. A direção é competente em fazer fluir uma história que começa morna e que ganha ritmo por causa desta ser uma série de sete horas e não um filme de duas. Beth monta seu tabuleiro mental no teto do seu quarto e se exibe jogando simultâneas com vários garotos ao mesmo tempo. A conotação sexual de uma garota de dez anos ao lado dos marmanjos é sutil e não tão eficaz. Mas a série não se solta tanto quanto poderia. É pudica como qualquer obra norte-americana mainstream. Outro traço comercial de um projeto caro, bem produzido. Exceto no roteiro, tão burocrático quanto os campeões russos da história.

Todo e qualquer detalhe sobre torneios de xadrez, incluindo as regras com tempo, adiamento de partidas, fases do jogo, discussão sobre aberturas, rating, será abordado de maneira didática e nada orgânica, inserida no meio da história e comentado por um texto monótono dito por algum personagem cuja única função é dizer essas falas. As descrições sobre o jogo são mais enfadonhas para quem o conhece do que o jogo em si para o leigo espectador, mas não são úteis para o último, que provavelmente não está interessado em xadrez, ou se está, veio para o lugar errado.

A escalada da moça também é conhecida. Não há reviravoltas em uma história em que os pequenos dramas da protagonista são minimizados ou pelo roteiro ou pela própria atuação monocromática de sentimentos. E justamente por isso, apesar de não ter sido uma escolha muito boa, Anya Taylor-Joy faz milagres em seu papel, extraindo de suas expressões e movimentos em cena mais significado que os diálogos monótonos e mecânicos do roteiro. Ela é uma enxadrista genial e problemática, apesar do roteiro tentar de maneira covarde minimizar seus traços que a tornam quem é.


# Sobre Nosso Déficit de Atenção

Caloni, 2020-11-14 essays [up] [copy]

Nossa sociedade produtiva está doente, mas apenas constatar o fato não começa o tratamento. Nós sabemos os sintomas e a causa. A causa é a evolução tecnológica se aproveitando de nossas falhas biológicas por grandes corporações para vender anúncios. Os sintomas é uma geração inteira diminuindo sua capacidade de concentração e vivendo como autômatos que clicam em links.

Ironicamente existe uma análise feita por Tristan Harris, ex-eticista do Google e filósofo, que relaciona a "indústria da atenção" com a de alimentos, que aumenta níveis de sal, açúcar e outros condimentos para manipular nossa tendência a esses sabores. A nova indústria de entretenimento online utiliza a mesma estratégia, exacerbando nosso mecanismo de recompensas orientado por injeção de dopamina para fazer-nos cada vez mais checar por notificações quando estamos entediados, em um sistema de feedback positivo cujo final é não termos mais paciência para a realidade em nossa volta, e não conseguirmos mais parar de navegar pela infinitas luzes piscantes nas telas de nossos celulares.

No livro Deep Work, de Cal Newport, o autor apresenta uma defesa de que é cada vez mais preocupante a escassez de pessoas no mercado com a habilidade de conseguir se concentrar por muito tempo em tarefas que exigem total atenção. Três trabalhos citados no livro, de William Powers, John Freemans e Alex Soojung-Kin, concordam que ferramentas de networking estão monopolizando nossa atenção, ao mesmo tempo que degradando nossa capacidade de permanecer focados.

Apesar de sabermos desse efeito desde o nascimento da TV e dos vídeo-games, é agora que a causa científica da epidemia dos devaneios crônicos está chegando em um consenso. A resposta estaria ligada a uma camada gordurosa de tecido que envolve a conexão entre axônios no cérebro chamada mielina. Sua função é proteger e melhorar a comunicação entre as células cerebrais, e melhora aqui se traduz em trocas mais rápidas de informação dentro do cérebro (e com menos ruído).

Essa camada é construída naturalmente em torno das conexões mais usadas pela repetição de seu uso. As responsáveis por construí-las são outras células que mantêm o sistema neurológico. Elas detectam o uso repetido de neurônios e produzem camadas de mielina para proteger essas conexões.

A tradução leiga dessa descoberta científica já é de conhecimento comum há gerações: quando alguém se concentra em aprender algo os alicerces do conhecimento se tornam mais sólidos. Sabemos agora pela ciência que isso acontece porque quando a pessoa está efetuando uma única atividade sem distrações a tarefa de inocular as conexões cerebrais responsáveis por manter a informação não precisa ser compartilhada com outras fontes de atenção. É por isso que se alguém está aprendendo um novo idioma enquanto checa o Instagram essa pessoa absorve menos do que alguém 100% focado no novo conhecimento.

O importante a se lembrar desse processo no cérebro é que ele é permanente. A pessoa não consegue mais absorver melhor novo conhecimento sobre um assunto com o mesmo potencial de estar aprendendo pela primeira vez. Claro que com mais prática sabemos ser possível melhorar em qualquer área, mas a própria habilidade em aprender está sujeita a essa dinâmica de fortalecimento cerebral, e portanto abalada pelas constantes interrupções e multitarefa da vida moderna.

Paradoxalmente, por outro lado, é conhecido que a melhor maneira de relembrar um conhecimento obtido anteriormente é interrompê-lo sem concluí-lo. O efeito Zeigarnik, nomeado por causa da cientista soviética que o descobriu, é o motivo pelo qual é muito mais simples continuar o trabalho do dia anterior se ele estiver com lacunas a ser preenchidas. Exemplos seriam um escritor que deixa um parágrafo pela metade ou um estudante que deixa um cálculo matemático a terminar. É importante lembrar, porém, que houve tentativas mais recentes de tentar reproduzir este efeito sem sucesso. Acredite com cautela.

Por fim, a tecnologia crescente pode estar desempenhando uma mudança mais significativa do que imaginamos na concepção do que é ser humano. Essa afirmação não está pautada em estudos, mas em observação humana. Daniel, o autor do texto Technology is Heroin, relaciona o uso passivo da evolução em comunicação e entretenimento com a evolução do uso de drogas como heroína e ópio na época que eram comprados na farmácia da esquina. Na época a sociedade diminuiu sua produtividade, a economia começou a sofrer e a função humana nas relações sociais e de trabalho estava colapsando como um todo (carece de fontes). E a tecnologia poderia ser a segunda onda a destruir essas mesmas relações, ou transformá-las de maneira radical.

O surgimento do gramofone, do rádio, da TV e dos video-games, segundo o autor, está tornando as relações dos indivíduos com sua realidade cada vez mais um ato passivo, e não mais ativo, como era quando os tempos eram mais difíceis ou manuais, e até visitar um amigo ou ouvir sua música favorita era um esforço e tanto. Claro que o texto parte de um ponto de vista mais bucólico e talvez possa ser descartado em seu todo, mas sua mensagem parece possui algo inerentemente verdadeiro nos tempos de hoje: observamos jovens e adultos cada vez mais passivos e alheios à sua realidade, cada um criando sua própria bolha para se proteger do mundo cruel que um dia existiu lá fora.


# Borat: Fita de Cinema Seguinte

Caloni, 2020-11-22 cinema movies [up] [copy]

O novo filme do Borat não consegue ser mais um mockumentary como o primeiro, nem apresenta qualquer crítica aguda ao American Way of Life como o primeiro. Como poderia? É um filme encomendado por uma mega-corporação vendendo streaming internacionalmente, mas fundada em solo americano. É um sistema de troca capitalista, onde ele te entrega algumas risadas em troca de sua alma.

Como o longo título original já denuncia, a historinha gira em torno da entrega da filha de Borat como noiva-presente a algum poderoso do governo americano. O objetivo é colocar a uma vez gloriosa nação do Kazadhstan de volta ao mapa. O plot twist do final faz referência a Os Supeitos, thriller de investigação com Kevin Spacey dos anos 90. Tudo que há no meio é a descoberta da garota que nos EUA as mulheres podem dirigir (fujam para as colinas) e até votar (até aí os pobres também podem).

A garota é interpretada por Maria Bakalova, uma atriz búlgara que nos entrega uma honestidade no olhar e nas expressões que compensam sua aventura manjada. Do outro lado, é sempre bom ver o comediante Sacha Baron Cohen tentando algo diferente de vez em quando. Uma pena é que ele pareça estar no piloto automático boa parte do longa. Este é um filme sobre uma bagunça social e política ainda difícil de entender por nós, contemporâneos. "Fita de Cinema Seguinte" é apenas mais um na lista das tentativas.

O melhor momento do longa é real: se trata da captura de um discurso no início da pandemia, quando algum dos manda-chuvas do governo diz que por conta da quarentena ter sido iniciada um mês antes do recomendado pela OMS e até mesmo pelo partido dos democratas, oposição na época, as mortes foram contidas em seu mínimo. Um motivo para comemorar no passado que hoje em retrospecto serve de reflexão: teríamos mais mortes aindas caso Hillary estivesse no poder?


# How to Keep a Mummy

Caloni, 2020-11-22 cinema animes cinema series [up] [copy]

Esta série de anime adorável é sobre voltar a enxergar a ternura do dia-a-dia, a fazer do carinho entre mascotes e filhos o tema principal. Não há vilões (pelo menos não até onde acompanhei) nem reviravoltas. Apenas uma pequena múmia adorável e seus amigos. A descoberta sobre o que ela come, como ela trata uma doença e se outros compartilharão do mesmo respeito e admiração dessas criaturinhas sabendo que elas existem.


# Sherlock: A Scandal in Belgravia

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Um dos melhores episódios da série é o primeiro da segunda temporada, A Scandal in Belgravia. Ele estabelece uma intrincada rede de personagens que crescem dentro de uma trama que envolve a continuação da temporada anterior nos seus últimos momentos após termos sido apresentados a Jim Moriarty e a emenda com Irene Adler, uma dominatrix que impressiona menos pelo sexo e mais pelo seu uso político. E por falar em política há uma participação maior do Reino Unido e outros governos em torno dessa mulher com um chicote que torna a história ainda mais picante.

O melhor de tudo é a forma com que a série não nos deixa parar de se aprofundar em cada nuance e detalhe que se une. E como eu sempre digo a respeito dela, produção, roteiro, direção e arte vão evoluindo juntos, nunca estagnados na mesmice de uma série. Note como a investigação do caso que ocorre ao lado de um lago recebe um tratamento experimental em que Sherlock e Adler revisitam a cena do crime mentalmente. É clichê hoje em dia, mas a série não chama atenção para isso.

Por outro lado, o mais fascinante deste episódio é como as coisas se encaixam sem sequer conseguirmos acompanhar o porquê. Quando ocorre as fichas vão caindo, mas até lá existe um estado de suspensão de reviravoltas que só tende a aumentar e a ficar mais dramático e empolgante e extasiante. É demais para o público comum. Aqui a série definitivamente adota seu público-alvo, espectadores pensantes, e inevitavelmente abandona os que não conseguirem ter afinidade com esses embates racionais que esgotam o cérebro. São tantos detalhes em Sherlock que ele pode ser revisitado várias e várias vezes, mas este não é um estudo clínico e irei me limitar a dizer que ele é tudo o que procuro em séries de TV para continuar assistindo: vida inteligente do outro lado da tela.


# Sherlock: The Blind Banker

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Segundo episódio da série da BBC, uma vez consolidados os personagens clássicos de Sir Arthur Conan Doyle na época contemporânea, o segundo roteiro se permite ser mais denso e brincar com mais referências que precisam estar na memória do espectador que for acompanhar as tramas se desenvolvendo enquanto os personagens vão evoluindo junto. Se por um lado este é o primeiro encontro de Watson com uma crush que conheceu no seu primeiro emprego após a volta da guerra, esta também é uma oportunidade para analisarmos sua relação com Sherlock, que é divertidamente possessivo e ciumento, mas que ao mesmo tempo possui suas razões para acompanhá-los. Esta história é digna dos livros do autor, com direito a nos manter na expectativa do caso durante todos os 90 minutos em um embate mais racional do que físico, mas que ainda consegue manter a ação presente (apesar de mais previsível). É fascinante observar como a série vai evoluindo aos poucos, seja no roteiro, direção ou arte.


# Sherlock: The Great Game

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Um atributo admirável dessa série da BBC é que ela não cai na tentação de serializar histórias do detetive como se fosse comum crimes extraordinários acontecerem todos os dias em Londres. Cada episódio implicitamente gira em torno da única pessoa com motivos para trazê-los à tona: Moriarty, arqui-inimigo de Sherlock. E aqui os produtores e criadores sentem que é hora de apresentá-lo, já na primeira temporada que chega ao final. Sua aparição é discreta e em uma revisita impossível de não perceber os seus detalhes. Andrew Scott consegue sustentar a suposta loucura deste icônico vilão e não entrega todas as cartas na primeira conversa com seu motivo de existência. A sequência na piscina é pedestre, amadora e apaixonante. Merecedora de mais investimentos de tempo e dinheiro na produção. Algo muito especial está sendo criado aqui.


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