# Central do Brasil

Caloni, 2020-04-05 cinema movies [up] [copy]

Eu acho que não gosto muito desses filmes da retomada do cinema brasileiro. Prefiro as pornochanchadas, mais honestas, menos desconexas com a realidade. Esse filme estilizado ainda mantém um pé muito forte no "cinematográfico" de Hollywood, mas não apara as arestas de uma cópia do que considera ser cinematográfico (essa palavra no sentido de vendável lá fora).

Seu diretor, Walter Salles, brilha nas paisagens, na mise en scène panorâmica, como pode se ver em Na Estrada, tantos anos depois. Já para caracterizar seus personagens, ele patina feio, é ausente, e seu elenco está tão livre que é como se seus personagens não existissem, fossem borrões teatrais ou novelescos. Ao mimar seu elenco ele rouba do filme a possibilidade de atuações marcantes.

Vendeu-se muito bem esse filme para o Oscar, ganhando uma indicação até de atriz para Fernanda Montenegro. Ele tem um quê de continuação de Pixote: A Lei do Mais Fraco, esse sim um filme forte. Tanto que tem a inesquecível Marília Pêra em atuação periférica. Em ambos.

A trilha sonora, principalmente a música tema, nos embala como em um road movie nacional. Este filme quer apresentar o Brasil para o mundo e não esconde de ninguém seu projeto. Aliás, ele tenta insistentemente e desesperadamente, usando a personagem de Montenegro e colocando uma maquiagem indigesta em seu rosto. Fernanda é a atriz que representa a dramaturgia nacional, e para um brasileiro vê-la em uma novela glamurizada é vergonha alheia demais. Para uma elite socialista talvez seja aceitável, ver um fio de esperança de sair do complexo de vira-lata enaltecendo a miséria inerente do espírito nacional.

Os dois personagens principais dessa história não são flor que se cheire. Ela é uma ex-professora primária que se aproveita das pessoas que não sabem ler. Ele é um garoto arrogante criado por uma mãe condescendente e pai ausente, uma realidade para muitos no país.

A religião do filme precisa envolver o sincretismo, mas soa passagem obrigatória no itinerário sertão do país. No momento que eles pegam carona no caminhão de pessoas de branco a imprevisibilidade some. A propaganda fica no lugar.

Mas o trabalho de Salles se beneficia do momento que o cinema local desperta e estamos em busca de aprovação externa. A mesa de um conselho autoritário cultural usa um filtro ideológico que aprove, financie e divulgue trabalhos socialmente compatíveis com o projeto da nova democracia. O filme vai revelando suas ambições conforme estamos cada vez mais no interior do país. A Central do Brasil não é a estação do Rio, mas um lugar idílico e mental habitado por professores de história tão arrogantes quanto um garoto de nove anos que sabe tudo sobre a vida.


# Code Jam 2020

Caloni, 2020-04-05 computer [up] [copy]

O Code Jam esse ano terminou rápido para mim. Estou enferrujado? Nem tanto. Apenas dei menos atenção ao evento no seu início, mas apesar de me concentrar nas últimas 11 horas não tive um resultado satisfatório, obtendo 24 pontos ao total, o que não me dá direito para o torneio, que exige pelo menos 30.

Minha abordagem no primeiro problema foi o feijão com arroz de ir lendo os valores e verificando para cada novo elemento da linha se havia repetição nos valores já lidos da mesma linha. Eu me compliquei na hora de fazer a mesma coisa para as colunas, pois inseri essa checagem dentro do loop da linha, evitando, assim, sempre a última coluna. Foi a parte que mais perdi tempo útil de todo o torneio (não li todos os exercícios antes).

O segundo problema foi o mais simples de todos para mim. Entendendo o enunciado, em que o título dá uma dica valiosa sobre o comportamento do algoritmo (aninhado), foi só usar a mesma lógica que nós programadores usamos na hora de aninhar parênteses.

O terceiro exercício me parecia fácil no começo. Desenhei na minha janela um esboço da ideia inicial, que era manter um registro de todos os minutos de um dia e a cada nova tarefa popular cada minuto. Meu erro principal foi não considerar que todos os minutos de uma tarefa devem estar sob a responsabilidade de apenas uma pessoa. Corrigido isso, meu código passou nos poucos testes disponíveis no problema, mas não passou na hora de submeter. Estou sem saber até agora o que fiz de errado.

E, por fim, o último foi o mais divertido porque envolveu mexer em ambiente. O script iterativo do Google não funcionou direito no Windows, mas depois de uns testes no WSL percebi que o erro mesmo é não dar flush nos printf do meu lado. Sempre haverá problemas de buffer em stdin/stdout.

De qualquer forma, não consegui resolver mais do que 10 bits. Já estava ficando tarde e eu me perdi em digressões de como tornar o código maleável para adivinhar mais que duas viradas quânticas. Deixei esse código experimental de lado e fui ler o próximo.

Apenas li o enunciado. Ele falava sobre o quadrado latino, assim como o problema original. E como tive dores de cabeça por causa desse primeiro exercício, e faltava apenas uma hora e meia para terminar a prova, dei por satisfeito mais um ano brincando de programar.


# Golang e C

Caloni, 2020-04-05 computer [up] [copy]

É muito difícil configurar a linguagem Go no ambiente Windows para compilar código C. O único ambiente de compilação que o projeto leva a sério são os ports do GCC, e não o Visual Studio, que seria a ferramenta nativa. Dessa forma, realizei boa parte das travessuras desse artigo em Linux, usando o WSL com a distro Ubuntu ou CentOS. Deve funcionar em qualquer Unix da vida.

A linguagem Go na versão mais nova precisa que seja definida através da cgo, o backend C do ambiente de build da linguagem, uma função trampolim, que é uma função escrita em C que irá chamar uma função escrita em Go. Essa função pode ser passada como parâmetro de callback para uma biblioteca C que quando a biblioteca C chamar esse ponteiro de função ele irá atingir a função trampolim, que por sua vez, chama a função Go, que é onde queremos chegar depois de todo esse malabarismo.

   main
    |
    C.set_callback
     |
     C.call_callback
      |
      g_callback*
       |
       GoCallback_cgo
        |
        GoCallback

Em resumo: o main em Go chama C.set_callback (função C exportada) passando o endereço do seu callback (em cgo) e em uma segunda chamada ou nessa mesma pede para chamar esse callback. O módulo em C pode ou não chamar essa função nessa thread ou mais tarde, através do ponteiro de função que estocou (g_callback). Ao chamá-la, ativará a função GoCallback_cgo, que por sua vez chamará GoCallback, essa sim, já no módulo Go (embora ambas estejam no mesmo executável, já que C e Go podem ser linkados juntos de maneira transparente.


# Macarrão a Carbonara

Caloni, 2020-04-05 cooking [up] [copy]

Essa receita foi inventada por um solteiro na Itália, e é muito útil para solteiros no mundo todo. Se for em um restaurante italiano pela primeira vez, siga o conselho do meu amigo, que sempre pede uma Carbonara. Com bacon, queijo, ovos e macarrão na receita, para o restaurante errar essa receita ele terá que ser muito ruim.

Para cada 100g de macarrão, 50g de bacon, 30g de queijo parmesão, picorino ou equivalente, e duas gemas. Pimenta à gosto.

Cozinhe o macarrão. Pese e reserve os ingredientes enquanto isso. Separe as gemas das claras, de preferência sem a capinha que a protege para não cheirar ovo, e misture com o queijo em recipiente separado. Você pode usar um pouco da água do macarrão depois de fervida para amolecer. Corte o bacon em tirinhas finas com todas as camadas da peça, da gordura à carne, disponíveis em cada tirinha. Frite o bacon em uma panela que caiba o macarrão, retirando e guardando o excesso da gordura se necessário; você pode usar o excesso para outras frituras depois. Escorra o macarrão depois de cozido, reservando parte da água usada para cozinhar, e jogue por cima na panela onde foi preparado o bacon e cozinhe ambos ligeiramente, macarrão e bacon. Desligue o fogo e jogue a mistura de gemas e queijo por cima, misturando enquanto adiciona um pouco da água de cozimento do macarrão até dar o ponto. O ponto padrão é ligeiramente úmido, mas você pode experimentar a partir daí.

Dicas do Fabio

  • Massa do macarrão com mais amido deixa o molho mais grosso (aquelas massas que parecem empoeiradas).
  • Ovo caipira possui gema mais densa, o que também contribui para o molho.
  • Ralar o queijo bem fino e misturar com a gema; jogue parte da água quente para já ir diluindo antes de misturar com a massa.
  • Se conseguir use bacon da bochecha do porco (não sei o motivo).

# O Menino que Descobriu o Vento

Caloni, 2020-04-05 cinema movies [up] [copy]

"Eu sei uma coisa que você não sabe." Essa é a frase mais profunda, poderosa e importante desse filme, pois ela mostra uma quebra vital nas tradições passadas entre as gerações para conhecimento de uma aldeia global, mundial: ciência, traduzida para todo ser humano pensante. O filme lida sobre política e os conflitos entre a democracia ocidental e o modelo de chefes tribais, escancarando como ela é muito mais falha do que países democráticos admitem. No limite da sobrevivência, este é um filme que vai até as últimas consequências em uma história que envolve um jovem, uma família, uma comunidade. Tudo está conectado quando o pessoal do ritual da morte não aparece mais, a escola não pode mais aceitar alunos que não pagam. E o menino, a síntese de tudo isso, é a origem de uma nova realidade. A realidade revolucionária do conhecimento humano, que pode mudar o mundo ainda hoje, em qualquer lugar.


# PomPoko: A Grande Batalha dos Guaxinins

Caloni, 2020-04-05 cinema movies [up] [copy]

Um dos melhores filmes sobre ecologia. Nós pensamos do ponto de vista desses animaizinhos como se eles estivessem em guerra. E nós somos o outro lado. A solenidade da narrativa dá peso ao que estamos vendo, como se esta fosse a História de uma civilização sendo narrada. É poderoso como muitos live action gostariam de ser, mas se esquecem de alimentar o humor e a leveza. Algo que os estúdios Ghibli nunca se esquecem.


# Uma Mente Brilhante

Caloni, 2020-04-05 cinema movies [up] [copy]

Não lembrava como este filme era tão bom. Ou eu não era bom o suficiente para apreciá-lo. Focado apenas na parte lógica da coisa, não percebi o quão madura e humana é essa abordagem de um matemático brilhante, contemporâneo de todos nós, e ainda vivo, com seu drama pessoal o assombrando.

Russell Crowell está possuído. Podemos falar de tão poucas atuações dessa forma sem soarmos exagerados. Geralmente é um trabalho específico, como Heath Ledger em Batman: O Cavaleiro Das Trevas, quando o personagem Coringa existe a despeito de existir um ator o interpretando. O ator não existe mais, mas o personagem sim, e com força maior. O papel de Crowell em A Beautiful Mind é permitir essa condutividade de alma que acende a chama de um gênio ao vivo e a cores.

Este é um filme por Ron Howard, diretor habituado a farofas como Apollo 13 e se estendendo além do necessário como ao adaptar as obras de Dan Brown. O drama pessoal de um matemático tinha tudo para ser insuportável do ponto de vista de Howard, mas milagrosamente não é o que acontece. Os momentos são precisos. O roteiro humano e maduro ajuda. Ele não nos poupa dos momentos difíceis da vida do matemático John Nash, e é justamente por isso que sua curva dramática não é suavizada e vulnerável como em tantos outros filmes que não conseguem ultrapassar a barreira entre a veneração incondicional e a fase adulta.

O próprio Crowell não nos poupa da personalidade arrogante de Nash, arriscando perder o espectador logo nos primeiros momentos, recriando um personagem da vida real estilo nerd hardcore que mal consegue conversar com seus iguais, pois ele não os considera iguais. Seu desafio no começo é provar que foi merecedor de um prêmio de matemática que o faz entrar na prestigiada faculdade, mas sem frequentar nenhuma aula, e não ter nenhuma ideia revolucionária, Nash está à mercê de ser apenas um espectador de seus colegas.

A trilha sonora de Jamer Horner, que utiliza a vocal de Charlotte Church, na época com seus quinze anos, não martelam esse universo em nossos ouvidos, mas nos convidam a perceber a magia de uma vida que pode ser tão leve quanto conseguir publicar um paper científico, ou tão pesado quanto estar à beira da falência como ser humano.

Esta é uma história que se passa em décadas, e a maquiagem de envelhecimento já denota que este é um filme bem produzido do começo ao fim. Há um certo peso nesta produção que garante uma qualidade inerente em cada cena, cada filtro, cada som. Hollywood está em seu máximo como indústria, na virada do século, provando serem estes os últimos anos em que o Cinema conseguiu realizar algo memorável.


# Dersu Uzala

Caloni, 2020-04-07 cinema movies [up] [copy]

Você vai ouvir esse nome muitas vezes no filme de 75 de Kurosawa, falado em russo, e com cenários e situações realistas que compõem esta amizade entre um oficial russo e um caçador do povo Nanai, um dos habitantes da extrema Sibéria.

Os Nanai possuem uma conexão muito forte com a natureza, e boa parte do filme é para entendermos as diferenças de visão de mundo entre Dersu e os militares que ajuda a guiar pelas inóspitas florestas da Sibéria. Essa história se passa entre 1902 e 1907, é biográfica, antes da Revolução Russa, e portanto no império czarista.

Mas não vemos muito sobre a sociedade russa, pois o foco é a natureza. Os poucos momentos na cidade é para demonstrar o choque e a desconexão entre homem e natureza. Antes tínhamos a floresta ao dispor. Hoje vivemos em caixas.

O ator que faz Dersu é autêntico de tantas maneiras que ele não precisa criar um personagem, pois de fato ele é Dersu Uzala apenas aparecendo na tela.

Em alguns momentos a trilha sonora lembra clássicos russos e nos remete à grandiosidade das experiências na Rússia, evocando a cultura de maneira sutil. O diretor é muito fã da cultura russa e este filme sela sua paixão entre oriente e ocidente.

Efeitos visuais simples, mas eficientes, compõem os quadros milimetricamente escolhidos por Kurosawa para pintar seus movimentos em cena. Vemos o batalhão ao fundo e esses dois amigos isolados ao canto. Dersu é um lobo solitário, mas viu no Capitão o respeito que merece como ser humano. Ou gente, como ele chama tanto as forças da natureza como fogo e vento ou os animais.

Críticas ao acúmulo de capital, à ganância e ao uso do dinheiro são fáceis demais do ponto de vista de quem vive na floresta. Mas o filme os faz do mesmo jeito. Ele busca entender em que momento o homem perdeu sua alma. O filme não responde, mas deixa clara a diferença entre o antes e o depois. Mas essa história já faz muito tempo que passou.


# E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?

Caloni, 2020-04-07 cinema movies [up] [copy]

Irmãos Coen e seu amor pelo folclore americano. E suas músicas. É época da Depressão e eles juntam com a Odisseia de Ulisses e várias músicas regionais.

George Clooney diverte, mas ele está em muito melhor companhia pelos coadjuvantes. Especialmente o alívio cômico. Há várias participações especiais, e uma das melhores é do dono da gravadora, e o pior de John Goodman. Essas pessoas vivem caricaturas marcantes por segundos e nesse pouco tempo criam cenas memoráveis, que vão para a coleção dos grandes momentos da cinegrafia dos cineastas.

A seleção musical tem alguns clássicos em uma produção de primeira linha, feito como um musical. O destaque fica para o tema principal, que faz os "Sonny Boys" famosos em vários estados. Lembra muito o que os diretores farão em Inside Llewyn Davis.

Algo que incomoda o filme inteiro é essa fotografia com cores drenadas, como um livro amarelado que existe na imaginação humana coletiva das aventuras fantásticas. Não é preciso ser letrado para entender a mensagem, que é fácil porque é profunda.

Mas da metade para o final fica claro que eles não amarraram bem a trama. Alguns momentos soam gratuitos, como a disputa eleitoral e a aparição de KKK. A mensagem se perde, e o humor tão bem dosado soa exagerado e sem sentido.


# Meu Try Lock de Pelúcia

Caloni, 2020-04-07 computer [up] [copy]

Alguns implementam o famigerado "mutex pero no mucho", que é aquele mutex que não faz nada porque ele sabe que só tem uma thread rodando no processo. É uma solução elegante para abstrair o uso de lock em um processo que pode ou não rodar multithread.

Mas isso é uma coisa. Outra coisa é o try lock de pelúcia de um driver de uma empresa que trabalhei certa vez. Como havia situações onde o lock não era nunca liberado, e a thread estava rodando em um nível de interrupção que não poderia mais voltar, ou ela agendava uma execução menos prioritária ou obtia o lock. Mas baixar a prioridade não era uma opção para o programador MacGyver. Então o código acabou pegando o lock na marra.

   if( ! try_aquire_mutex() )
   // dá um tempo...
   if( ! try_aquire_mutex() )
   // dá um tempo...
   // ...
   // ah, dane-se,
   // eu vou pegar esse mutex!
   aquire_mutex();

# Callback Hell

Caloni, 2020-04-09 computer [up] [copy]

Foi aprendendo sobre kernel do Windows que eu descobri que a linguagem C suporta todas as abstrações que um homem crescido precisa para desenvolver sistemas. Também aprendi que você precisa ser um homem crescido para saber usar direito.

A linguagem C possui 32 palavras-chave e nenhuma parafusadeira elétrica. Existe um motivo para isso: fazer tudo na mão desenvolve o caráter. Se não desenvolve, pelo menos escancara a má pessoa que você é.

Olhe para o sistema de callbacks, por exemplo. É uma ferramenta poderosa. Com ponteiros de função e endereços de estrutura você pode chamar quem você quiser a hora que quiser. Há tantas possibilidades que é muito fácil errar.

Aí que surge o famigerado Callback Hell.

Esse termo se popularizou através da linguagem Javascript por causa que em Javascript é muito fácil deixar a coisas pra depois. Você deixa seu callback pra ser chamado uma outra hora e esquece dele. E ele faz o mesmo. E mais uma vez. E de novo. Você entendeu a ideia.

No final das contas, depurar código Javascript escrito por outra pessoa seria uma sala no inferno reservada para aqueles programadores que acharam durante a vida que resolveriam todos os problemas do mundo até às 18:00. Tudo que eles precisavam fazer era criar mais um pequeno callback no finalzinho daquela função. Como se diz em Go Horse Power, "commit e era isso".

A linguagem C permite você fazer a mesma coisa. Basta que o endereço da estrutura que você passou como contexto do seu callback tenha um ponteiro de função que vai ser chamado passando mais um membro dessa estrutura como contexto, que irá conter outro ponteiro de função que... você entendeu a ideia.

No final das contas, depurar um código em C escrito por uma pessoa que evita resolver problemas de arquitetura criando mais um callback deve demonstrar como existem pessoas sem caráter que sabem declarar um ponteiro de função. Cuidado com essas pessoas. Elas podem te levar até uma salinha reservada no inferno.


# Winmock

Caloni, 2020-04-10 computer [up] [copy]

Testar sistemas com rede simulada pode ser muito complexo ou muito simples. Se for feito em C ou se os endpoints forem em C é muito simples: basta trocar as funções originais pelas suas. Como tudo em C são funções com nome bem definido e assinatura flexível você não precisa declarar a assinatura da função, ou pode mudar no meio do caminho.

Existe um recurso interessante da winsock, um define chamado INCLWINSOCKAPIPROTOTYPES, que pode desabilitar a publicação das assinaturas das funções de socket do header winsock2.h. E por que isso é importante? Porque essas assinaturas já possuem a informação que essas funções deverão ser importadas de uma DLL (no caso a Ws232.dll). Isso muda o nome da função C. Além disso, a convenção de chamada da API do Windows é baseada em Pascal, e não cdecl, sendo a desvantagem não existir número de argumentos variáveis na pilha.

As funções C do winsock/socket, connect, send, recv, select, etc, são apenas funções C cujos nomes são conhecidíssimos. Elas são linkadas com programas que usam alguma biblioteca de socket. Nada impede que nós mesmos sobrescrevamos essas funções para implementá-las em nosso programa. É isso o que o uso do define acima possibilita: ele evita a importação direto da DLL da Microsoft e com isso você pode usar uma implementação de terceiros ou a sua própria, que não precisa se comunicar com a rede.


# Barbosa

Caloni, 2020-04-11 cinema movies [up] [copy]

Barbosa foi o goleiro que deixou passar o segundo gol do Uruguai na Copa do Mundo no Brasil em 1950, arrebatando a taça de nossas mãos nos últimos minutos do campeonato. Certos da vitória, os duzentos mil espectadores e todo o Brasil por tabela saíram do estádio boquiabertos. A magia deste curta de Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo é explorar gêneros e possibilidades em uma história auto-contida que usa trucagens para disfarçar seu baixo orçamento, como uma profundidade de campo reduzidíssima. A história se passa em um estádio, e é difícil conseguir dezenas de milhares de figurantes para esta tarefa. De qualquer forma, o resultado é ainda melhor, pois mescla com filmagens da época, e realiza na montagem uma brincadeira que nos deixa imersos naquele pesadelo dos 2x1.


# Da Colina Kokuriko

Caloni, 2020-04-11 cinema movies [up] [copy]

Mais um filme de estrutura média dirigido pelo filho de Hayao Miyazaki. Ele contém a delicadeza, dedicação e perfeccionismo da equipe de desenhistas dos estúdios Ghibli em retratar uma época e um local presentes apenas na imaginação da maioria dos espectadores não-japoneses, e ao mesmo tempo nos entrega uma história banal, um "melodrama", como o próprio personagem nos diz, com o simples objetivo de nos apresentar àquele mundo. É uma época de revolução, os anos 60, mas o filme é tímido em esboçar o inconformismo daqueles jovens. Se torna um retrato realista como em Memórias de Ontem, mas sem sua maturidade.


# O Dia em que Dorival Encarou a Guarda

Caloni, 2020-04-11 cinema movies [up] [copy]

Filme conceitual que brinca com as voltas que a vida dá. É o segundo curta-metragem do diretor Jorge Furtado junto de José Pedro Goulart e nele já podemos ver algumas ideias de recursividade, de como o homem se olha no espelho e vê ele mesmo. Nada muda nesta vida, e as brincadeiras de metalinguagem que Furtado escreve com Giba Assis Brasil e Ana Luiza Azevedo contém a semente dos seus longas, assim como seu próximo curta, que fala sobre a inevitabilidade do nosso passado por sermos parte de tudo isso.


# Temporal

Caloni, 2020-04-11 cinema movies [up] [copy]

Este curta capenga foi o primeiro assinado por Jorge Furtado, diretor sulista de O Homem Que Copiava. Ele mistura toda a miscelânea de pensamentos pseudo-liberais-progressistas da juventude que faz faculdade de artes. Essa tentativa de ridicularizar a sociedade brasileira tradicional cristã pode dar bons frutos, mas Furtado e Goulart estão mais interessados em tentar ridicularizar ambos os lados. Uma festa a fantasia nos faz pensar quem está vestindo fantasia de fato: uma congregação cristã ou um bando de jovens desmiolados. E no âmago desse simples curta, os efeitos visuais são de péssima qualidade. Digno de um trabalho de conclusão de curso e para se divertir com os amigos, passando para eles e para impressionar as menininhas.


# Em Segredo

Caloni, 2020-04-12 cinema movies [up] [copy]

Bósnia pós-guerra. Uma mãe solteira e sua filha pré adolescente ligeiramente problemática. Uma mescla entre a realidade e o romance centenário de Émile Zola. Turno duplo, esta mulher de meia-idade busca apenas conseguir dinheiro para que sua filha possa viajar em uma excursão da escola. A felicidade desta mãe é apenas a de sua filha. Seu marido morreu na guerra, é conhecido como mártir em uma sociedade ainda em reconstrução. Uma sociedade quebrada, fragmentada, com cicatrizes aparentemente irrecuperáveis.

Parece uma história clichê de países do Leste Europeu, mas a atuação das duas compensa e muito. A direção de Charlie Stratton escolhe momentos diferentes em cena que nos dão uma visão mais íntima do que se passa na mente dessa mulher comum e trabalhadora que quer apenas a felicidade da filha. Ela está apenas construindo o futuro dela, da geração que vem, enquanto tenta se reconciliar com seu passado. A ponte entre as gerações é quando ambas cantam, na última cena. Perceba essa transição e perceberá o filme inteiro.

Como filme não é empolgante; como drama, hipnotiza. Nós simplesmente não conseguimos tirar os olhos dessa história que soa tão natural que é a própria naturalidade dessas duas que cativa nossa atenção. Em uma sociedade traumatizada e tornada pobre pelas mazelas da guerra, nós queremos um lugar ao sol para todas as pessoas que vemos no filme que batalham por um dia melhor. E para esquecer. E para relembrar.


# Ilha das Flores

Caloni, 2020-04-15 cinema movies [up] [copy]

Esse curta passava na escola. Muitos de vocês devem lembrar. Eu me lembro. O que eu mais me lembro era o uso cômico das palavras. A cadência em definir o que é um ser humano, um porco, um tomate, e repetir essas definições, cria humor, uma quase conexão com o espectador, e ao final se torna intenso, choca e nos faz, ou deveria fazer, pensar na pobreza, miséria, etc. É um curta sociológico, do pessoal de humanas, e pode impactar crianças e pessoas de humanas. Mas por trás da emoção há Jorge Furtado e seu jogo de palavras em seu primeiro curta documental. É um roteiro esperto, dinâmico e didático. E enviesado. Aquelas questões que pairam no ar quando abaixo desse ar repousa um cérebro condicionado de humanas. Ainda assim, uma ótima reflexão. Reflete até hoje em nossos pensamentos. Quase parece que tem algo a dizer.


# O Homem que Não Estava Lá

Caloni, 2020-04-15 cinema movies [up] [copy]

"Como o uso das cores no cinema hoje em dia é mais para distrair a atenção do espectador do que realmente importa." Essas foram as palavras de Roger Deakins, diretor de fotografia deste filme dos irmãos Coen. Deakins está em seu primeiro longa-metragem totalmente em preto e branco e sua entrevista no DVD que assistimos tem mais de meia-hora falando sobre as especificidades do formato, a escolha do processo de revelação durante as filmagens e uma visão artística e pessoal do fotógrafo sobre o passado, o presente e o futuro da fotografia no cinema. O seu entrevistador estava mesmo inspirado.

Este é o nono filme creditado para Joel Coen (Ethan ainda não constava nos créditos como diretor) e é mais um daqueles estudos de linguagem cinematográfica, uma homenagem e exploração dos filmes noir e de investigação com o tom da década de 40 após a segunda guerra. No entanto, o filme vai além, pois acaba nos revelando ser um estudo de um personagem completamente alheio ao que lhe acontece. No final você sai perturbado, esquecido, desalentado. E extasiado. O uso da linguagem cinematográfica pelos Coen acaba vazando pela história, mas ela permanece relevante até o fim, pois não é possível para o espectador se desvencilhar daquele mundo absurdo.


# Terrace House

Caloni, 2020-04-15 cinema series [up] [copy]

Como o fato dos participantes saberem que se trata de um programa televisionado faz com que a verdade saia pelas beiradas, revelando como personagens são criados e mantidos em rede mundial. A maior crítica que se pode fazer de um reality show é que a parte "reality" nunca consegue se sobrepor ao "show". Se a própria vida já é um show, em que todos estamos apresentando e cuidando de nossos egos quando em público, o que dirá com dezenas de câmeras apontadas para você, interagindo com pessoas que nunca viu na vida.

A série japonesa se destaca das demais por não possuir muito controle sobre o desenrolar da história, da entrada e saída dos convidados e das tramas românticas e da vida. Nesse sentido é uma das séries que mais tenta se aproximar da vida, se esquecermos que na vida real não podemos nos dar ao luxo de viver em mansões como as que vemos no programa (talvez dividindo entre seis pessoas...).

A análise que é feita pelos anfitriões também é um ponto positivo, pois assim como textos e vídeos nos ajudam a raciocinar quando trazem à tona o óbvio que estava em nossas mentes. Quando eles comentam o que acabamos de ver é como se nossa percepção fosse organizada e verbalizada sem a nossa ajuda. Deixe isso para os especialistas em relacionamento. Ou entretenimento.

Mas a grande questão filosófica que surge vendo programas como Terrace House é qual versão dessas pessoas estamos vendo, qual elas escolheram para apresentar, e quais ficaram de fora, na sala de edição, ou longe das câmeras? E como as pessoas que nos conhecem alimentam suas impressões e opiniões sobre nós baseadas tão somente nos momentos em que estamos juntos, interagindo ou não? (Quase) ninguém sabe de que forma você vai ao banheiro ou tomar banho. Ou fazer sexo. Até pessoas diferentes com quem você faz sexo devem ter visões bem diferentes sobre como você se sai nesse quesito.

Não influenciar ou se deixar influenciar quando vamos apresentar uma versão de nós mesmos para o mundo não é algo que podemos evitar. Sem um outro ser humano para nos dizer algo, nós praticamente não existimos. Seríamos animais na luta pela sobrevivência. Ou nem isso, pois quem lutaria para sobreviver sem existir? Ou talvez um pouco mais, só pelo fato de existir uma voz interna chamada consciência para conversarmos de vez em quando. Porém, essa vozinha é bem enviesada.

Como as edições de programas de reality.


# Irma la Dulce

Caloni, 2020-04-17 cinema movies [up] [copy]

Longo para ser uma comédia, mas é Billy Wilder que dirige e nenhum minuto parece desperdiçado. A dupla Jack Lemmon e Shirley MacLaine consegue mais uma parceria com química invejável. Ela é linda e cheia de si. E ele será a inspiração de Jim Carrey décadas depois.

As piadas são todas manjadas, mas é delicioso de assistir. Devia ser um espetáculo sair no sábado à noite para uma sessão de cinema com esses dois. A Lemmon se entrega papéis de travesti sem ressalvas nem sutileza. Ele se diverte com qualquer tipo, homem ou mulher. Não tem a mesma humanidade como em Se Meu Apartamento Falasse. Aqui ele faz um policial que acaba virando um cafetão e com ciúmes de sua amada se disfarça de Lorde Inglês para fazer com que ela não entre no quarto do hotel da rua mais movimentada de Paris com mais ninguém. The jokes on him.


# Minha Palestra Sobre Windbg

Caloni, 2020-04-18 computer debugging [up] [copy]

A MBConf@Home2020 foi um sucesso. Parabéns aos organizadores, palestrantes e apoiadores. Eu nunca fui em um evento de tecnologia em que tudo funcionou do começo ao fim. Simplesmente fantástico o nível de qualidade da organização. Fora que trezentas pessoas ficaram em casa e participaram conosco dessa troca de conhecimento =).

Minha palestra foi a seguinte: dei uma pincelada no que é o WinDbg para os que ainda não conhecem e realizei algumas manobras pouco usuais de depuração, tentando fugir um pouco da rotina do programador e me enfiando no que seriam minhas sessões antigas de hacking ou cracking da época que analisava trojans ou depurava serviços que saíam depois que meu depurador remoto já tinha ido embora. Segue mais ou menos o roteiro e os pontos levantados.

Hoje em dia o caminho mais fácil é pelo Visual Studio Community, que instala por padrão um Windows SDK. Nessa instalação é possível modificar os itens checando o "Debugging Tools for Windows", que é o pacote que contém o ecossistema do WinDbg.

Pulei essa parte. Tempo curto e me enrolei um pouco. E não era o caso de ficar focado na rotina de programador.

Não fui eu que escrevi o MessageBox... juro. E nesse caso não ter o código-fonte é a rotina do crackudo, que vai ter que explorar no assembly o funcionamento de um programa. Depuramos um que chama MessageBox alterando a mensagem exibida (em 32 bits). Foi legal essa diferença entre Ansi e Unicode que me perdi no começo, pois serviu para exemplificar questões de API que precisam ser conhecidas.

   void chama_eu()
   {
     MessageBox(NULL,
       "Welcome to "
       "MBConf@Home2020",
       "MBConf2020", 
       0);
   }

Abordamos o boot do Windows com NT, o uso do kd.exe por baixo dos panos do WinDbg (o DarkMode) e configuramos o cabo. Cabo? Cabo virtual, sargento. Usamos a VMWare, pré-configurada após alguns pesadelos de impressora se metendo no meio do caminho. Configuramos a porta serial, que é a melhor ever. E apontamos como named pipe para o WinDbg "de fora" conectar. Ou o kd.exe. As linhas abaixo são equivalentes.

   windbg.exe -b -k com:pipe,port=\\.\pipe\com_1,resets=0
   kd.exe -b -k com:pipe,port=\\.\pipe\com_1,resets=0

Para exemplificar a depuração de um serviço bem no início (ou fim) ou o load de processos antes dele existir checamos uma flag na gflags.exe da máquina depurada para que quando o notepad.exe subisse o ntsd fosse depurá-lo e passasse o controle para o debug do sistema. E com isso fechamos o círculo sagrado da depuração holística.

Não. Para depurar a BIOS local há o caminho do debug.com (um depurador bem simples da época do Windows 95) ou o Softice DOS, embora eu me lembre que tive umas dores de cabeça com ele por causa dos conflitos entre interrupções e programas residentes. A depuração estática acaba ganhando nesse quesito, que é basicamente abrir o assembly, papel e caneta. E imaginação.

Já para debug de BIOS em rede. Bem... esse é um nível hackudo. Sei que a Intel tem desenvolvido chips para diagnóstico e obtenção de dados de hardware pela rede antes mesmo do SO estar ligado, mas não cheguei a pesquisar a fundo.

Sim. Como o Mercês me ajudou a lembrar, existe um rundll32.exe, um executável que já vem no Windows e que pode carregar a DLL para você. Daí tudo que você precisa fazer é colocar o breakpoint das funções exportadas que deseja chamar. Dá para especificar essas funções pelo rundll32.exe também: rundll32.exe project.dll,chama_eu

Recomendo sempre o WinDbg.info como cheat sheet e docs.microsoft.com em seus artigos "Getting Started with WinDbg (User-Mode)" e "Getting Started with WinDbg (Kernel-Mode)" (sorry, m$, vcs mudam os links demais para eu colocar aqui).


# Quanto mais Quente Melhor

Caloni, 2020-04-18 cinema movies [up] [copy]

Marilyn Monroe era bojudinha. Não quero dizer gorda. Bojudinha, mesmo. Não é aquele corpo magricelo das mulheres de hoje idealizadas como o modelo de mulher forte, independente e sem graça. Monroe é ela mesma, o que inclui não ser muito boa atriz. Mas tem um certo carisma. E curvas. Imperfeitas, mas, graças a Deus, curvas.

Jack Lemmon, como sempre, tem seus momentos brilhantes. Em exatos cinco segundos ele consegue transformar uma cena manjada em um espetáculo de expressões. É inacreditável como uma piada espontânea surge do nada, sem falas para suportá-la. Não é quando, disfarçado de mulher, ele diz que vai se casar com um milionário velho, mas o jeito que ele diz. Sua áurea é cômica. Quando Lemmon está em seu melhor é a sua alma que fala no lugar do roteiro.

Esta comédia de Billy Wilder mistura ação, gângsters e música, mas não consegue fugir dos diálogos como base. Não envelheceu bem. É simpática no melhor dos casos. Um pouco longa demais, como Irma la Dulce. Mas trabalhos posteriores de Wilder na direção e roteiro, Se Meu Apartamento Falasse, já demonstram mais maturidade em seus personagens. A comédia escrachada, quando não é conduzida por Buster Keaton ou Charlie Chaplin, tem prazo de validade.


# O Castelo Animado

Caloni, 2020-04-20 cinema movies [up] [copy]

É daquelas animações dos estúdios Ghibli que tira seu fôlego logo no começo. Magia e detalhes dos ambientes e paisagens que se misturam em momentos que se tornam mais realistas do que se estivéssemos assistindo a um filme live action, com atores de carne e osso, porque a carne e o osso dos humanos não é evocativo o suficiente para os traços desses desenhistas.

Por exemplo, não tem como fazer dois seres humanos de carne e osso caminharem no vazio do ar e parecer que estão de fato andando sobre o nada. Mas os estúdios de Hayao Miyazaki consegue, com delicadeza, sinceridade, empenho e um certo charme. Se Superman: O Filme pode se gabar de colocar nos letreiros de marketing "você vai acreditar que um homem pode voar", 26 anos depois podemos dizer, finalmente, que um espectador vai acreditar que japoneses animados conseguem andar pelo ar.

Os detalhes da sala de visitas do tal "castelo" é de nos deixar por horas a observar. Se a casa da bruxa em A Viagem de Chihiro já era um capítulo à parte por contar com um design de arte completamente diferente do visto na casa de banhos, aqui o nome Howl (gemido de dor) faz jus a essas referências de magia antiga, demônios e pactos nas mãos de um feiticeiro dominado por um passado tenebroso, cheio de drama quando perde sua impecável beleza. Comum em contos de fadas, como Branca de Neve e os Sete Anões, nunca havíamos visto essa característica em um bruxo do sexo masculino: ser um escravo da vaidade.

A menina, Sophie, envelhece de uma vez, mas a beleza da animação vai nos mostrando aos poucos suas feições mais próximas. Às vezes ela está menos velha. Suas atitudes a aproximam de quem ela era. É sua postura que a transforma, e isso é alquimia pura traduzida em traços de um desenho. É sutil e poderoso como mágica de verdade.

A equipe de animação dá uma aula de sequências de ação grandiosas. Uma guerra está ocorrendo e nós sentimos o seu peso pela escala e ritmo com que bombas são lançadas de veículos voadores em um mundo onde magia é comum e todos os reinos alistam seus melhores bruxos. Mas ao mesmo tempo esse exagero no final não se sente. Há uma perda desse peso porque o príncipe do castelo não parece estar morrendo. Nós não entendemos muito bem o desespero de Sophie, que se apaixona sem motivos visíveis pelo seu mago estiloso.

Muitos elementos fantásticos como em Chihiro não são explicados, e isso não é um problema até o momento em que, assim como Chihiro, o filme sente que deve haver uma conclusão satisfatória para os eventos. E é quando o filme passa a ser sobre os eventos, e não as pessoas, que ele nos perde. A ocidentalização deste filme faz perder sua força na mesma proporção em que aumenta suas vendas pelo mundo.


# Um Amor, Mil Casamentos

Caloni, 2020-04-20 cinema movies [up] [copy]

O pior dos problemas em filmes feitos para streaming é pior do que sua mediocridade, mas não se importarem nem um pouco. Esta é uma produção baixo orçamento encomendada pela Netflix. O filme é todo rodado em uma casa de eventos supostamente italiana (eles estão na Itália), então o custo de filmar é o mesmo de alugar o local para algumas festas de casamento que equivalem aos dias de filmagens. Mais impostos e voos do elenco inglês para este lugar. A hospedagem sai "de graça", às custas de duas horas de cada espectador.

Seu diretor é Dean Craig, mais acostumado a escrever roteiros e que aparentemente não aprendeu nada na direção. Mas, quem se importa, ele conseguiu seu emprego de gerente de produção. Muitos estão conseguindo agora. Tudo que ele precisa fazer é escolher qual fórmula já pré-aprovada de histórias de amor vai usar e mudar alguns diálogos e situações. O filme se dirige praticamente sozinho.

A fórmula que ele escolheu, aliás, é a minha favorita, pois consigo fazer outras coisas enquanto assisto. Escrever emails, jogar xadrez. Assistir outro filme como esse em paralelo. As possibilidades são infinitas. Algo parecido com o que a narradora em off, pobre Penny Ryder, entitulada no IMDB como "O Oráculo" (risos tristonhos), fala no começo e durante alguns embaraçosos momentos no meio da história em que tenta dar alguma moral ou explicar coisas da vida que ninguém perguntou. É uma lástima travestida de filme feito para puro entretenimento. Mais duas horas entregues ao público de sofá.


# Vampiros de Alma

Caloni, 2020-04-20 cinema movies [up] [copy]

Este é o primeiro dessa série de filmes com a mesma história do romance de Jack Finney: uma ameaça de fora faz com que as pessoas se tornem vazias por dentro, mas iguais por fora. Todos os problemas serão resolvidos, desde que todos os humanos se transformem nessa forma sem sentimentos que entram em conflito com a comunidade.

Soa exatamente como comunismo para mim. Seja hoje ou na época da guerra fria. Mas a questão genial colocada pelo filme é a ambiguidade do exagero dos mocinhos.

O tom exagerado pode e deve ter feito algumas pessoas da época crerem que se tratava não de uma alegoria anti-comunista, mas anti-macartista, pois a paranoia está solta no ar. As pessoas desse filme chegam em conclusões disparatadas ao menor sinal de algo estranho acontecendo na cidadezinha onde moram. É uma ambiguidade sedutora para a época. E pode funcionar, se você for um comuna safado.

A ideia por trás dessa produção dirigida por Don Siegel é gastar pouco dinheiro, e por isso a ameaça não é de monstros ou alienígenas ou qualquer outro artifício que dobre o custo de produção por causa das fantasias e efeitos visuais. A grande ameaça são essas pessoas sem alma, sem sentimentos, mas exatamente iguais em tudo aos outro seres humanos.

Os remakes que se seguiram, Invasores de Corpos (1978) e Invasores (2007), são tão bem sucedidos quanto esse, mas cada um em sua época. O original parece não ter envelhecido tão bem, pois se perde a referência política e histórica, mas ainda assim, é uma ótima fonte para entendermos como filmes que se esforçavam para entreter o público que ia aos cinemas se transformou em material zumbificado para consumidores de streaming. Fica a reflexão.


# Cast Operator

Caloni, 2020-04-22 computer ccpp [up] [copy]

O código abaixo não é C++ moderno. É 98. Porém, ele já demonstra alguns problemas na linguagem que foram aumentados desde então. Não se sabe exatamente qual a tradução semântica de construções tão parecidas quanto o operador-função e o operador-cast. Enquanto o primeiro serve para transformar objetos em funções chamáveis o segundo serve para extrair tipos de maneira educada.

   struct T
   {
     explicit
     operator int()
     {
       return 10;
     }
   };
   int main()
   {
     T t;
     // error: term does not
     // evaluate to a function
     // taking 0 arguments
     t();
     int i = (int) t;
   }

O operador de cast só funciona se um cast estiver envolvido. Caso ele seja um método com explicit o cast precisa ser explícito como no exemplo. Se ele não fosse bastaria uma atribuição normal.

   int i = t;

Ele não pode simplesmente ser chamado como um operador-função. Até porque podem haver vários deles. Enquanto o operador de função trabalha com overload nos parâmetros o operador de cast trabalha com o retorno. Uma vez eu fiz uma brincadeira que meu amigo Fernando tinha me pedido: como fazer sobrecarga de função pelo retorno. Acredito que o exemplo desse post antigo possa exemplificar melhor o que quero dizer.

Já a diferença sintática e semântica dos operadores de função e cast é sutil, quase inexistente. Como muitas coisas em C++ moderno:

   // cast-operator
   operator int();
   // function-operator
   int operator();

# Os Incompreendidos

Caloni, 2020-04-22 cinema movies [up] [copy]

Primeiro filme do Truffaut, meio biográfico (o cineasta foi um delinquente juvenil), exemplo de Nouvelle Vague. Esse foi o começo da desconstrução da narrativa burguesa opressora.

Mas nada disso importa muito, pois o filme funciona porque mostra a verdade, que está nessa relação pais e filho, nas trocas de frases que todo filho já ouviu. Abortar ou não abortar, adoção, um pai brincalhão e uma mãe entediada e nervosa por ter um filho e viver em lugar apertado na capital com ela trabalhando. Esta é uma das "Parises" mais realistas, tanto que me sinto em São Paulo da minha infância. Isso porque algo acontece com a verdade quando ela é transparente: se torna universal. E toda cidade grande se parece. Toda vida humana tem em parte o drama da incompreensão.

Esse garoto virou o queridinho do diretor e fez os mesmos personagens em mais três filmes ao longo do tempo. Truffaut, então, se tornou o primeiro e autêntico Richard Linklater. Truffaut e Goddard foram os críticos que Bazin patronou em sua revista Cahiers du Cinema.

Mas isso não importa também. O filme funciona. Na escola vemos esse professor da época que se parece com qualquer professor antes do modernismo exarcebado dos dias de hoje. A sociedade é vista em cada detalhe. Há muito improviso. Em um ritmo calmo e contemplativo duas músicas iluminam o caminho da emoção. A música-tema é a que fica para sempre no coração.

Não é um filme para sentirmos dó do seu protagonista, mas para transmitir a sensação de sua vida. E a vida passa independente do que vemos... esta é a vida filmada, o proto neo-realismo criado por este diretor francês e seus companheiros da época.


# Sid & Nancy, o Amor Mata

Caloni, 2020-04-22 cinema movies [up] [copy]

Todo o clima insano, niilista, absurdo e depressivo do movimento punk da época dos Sex Pistols você confere neste filme sobre o baixista da banda e sua amada. Esta é uma biografia maior que suas partes, pois a sociedade vista por estas pessoas se reflete no filme e na forma com que seus heróis se enxergam.

As músicas expressam esse clima regado a drogas e vivendo no limite. Não há nada de bonito na cabeça dessas pessoas, e é exatamente isso que gera as miniobras de arte neste filme, como a sequência de vídeo-clipe, absurda, horrenda e fantástica. Os maiores poetas são os que sofreram mais.

A direção de Alex Cox nos entrega uma imersão real e imediata, nos acompanhando com a câmera na mão pelos quartos e banheiros bagunçados e depressivos que esse casal frequentou. É como assistir a um documentário repulsivo e não conseguir virar a cara porque é tão viciante quanto as toneladas de drogas que eles ingerem. É real sem ressalvas ou proteção dos seus protagonistas. Eles foram usados e malhados como Judas em um filme que não torna o vício empolgante, nem bom, mas apenas parte da vida. Pelo menos de algumas.

Sem julgar nem proteger o conteúdo biográfico por trás da carreira de Sid Vicius, a entrega de Gary Oldman e de Chloe Webb é completa. O casal principal sai das telas para popular nosso imaginário. A atuação de ambos trabalha em uníssono, há uma simbiose inatacável, por mais moralista que você seja. A vida deles é bela, curta e miserável. Eles têm um ao outro e precisam se matar para fugir dessa vida.


# A Moça da Água

Caloni, 2020-04-26 cinema movies [up] [copy]

É um filme antigo, mudo, daqueles com letreiro, mas uma trilha sonora que comenta a ação, o humor, o ritmo. É bonita, é francesa, é charmosa. A história importa menos que a condução de Renoir, que inventa movimentos de câmera, cortes muito rápidos para ação, transições, efeitos visuais de sonhos com uso de perspectiva. O espectador sente isso porque é gritante, mas é tão bonito de se ver o cinema em construção que o gritante se torna didático e empolgante. Esse amor pela perfeição eleva um simples filme mudo para a categoria de inesquecível. Batom para os homens, maquiagem de palhaço para as mulheres. O contraste necessário para a época gera um tom meio gótico, meio expressionismo alemão. Olhe as invencionices, como fechar a cena na boca falando da protagonista para entendemos que isso é o que chama a atenção de seu tio que a descobre. Tantos infortúnios na vida dessa moça em tão pouco tempo! Sua expressão e maquiagem fortes ficarão em nosso inconsciente para todo o sempre.


# A Pista (La Jetée)

Caloni, 2020-04-26 cinema movies [up] [copy]

Este curta de Chris Marker ficou conhecido como um dos melhores filmes já feitos pela lista de críticos consecutivas vezes. E não é à toa. Sua história é uma poesia do começo ao fim, uma ode à fragilidade da existência humana e aos seus sentimentos e desejos. É uma narrativa pautada em fotos desastrosa no sentido humano, e igualmente aterradora. Nos faz pensar sobre as próprias escolhas da vida, sobre o passado e o futuro, e como o tempo, o nosso tempo, se dissolve a olho nu.


# O Homem Que Virou Suco

Caloni, 2020-04-26 cinema movies [up] [copy]

O pacote comunista completo anos 80 em um filme imperdível. Ele retrata São Paulo nessa época de maneira tão dinâmica e vibrante que se torna um documentário. Ele desbrava esse preconceito e esses maus tratos com o nordestino sem filtros, e com isso revela não uma ferida do passado, mas um motivo separatista: nordestinos e sulistas são povos distintos com culturas conflitantes.

Seu herói, interpretado por José Dummont, faz Deraldo e Severino, o mesmo cabra da peste em reencarnações que levaram linhas da vida distintas. Um deles quer ser poeta na grande capital e trabalhar que é bom nada. O outro quer o poder acima de tudo e acaba sendo mau visto por todos os lados. O poeta é repentista, e de repente você não quer mais deixar de acompanhar sua história de abusos e miséria. Ah, como a miséria é um prato cheio de aventuras em nossa terra!

Estão ampliando o metrô da cidade e Deraldo vai lá trabalhar. Tocam um vídeo imperdível, que posso jurar que é real, ou o foi na época, que mostra que aqui na cidade grande o cabra-macho não pode se dar ao luxo de ser um indivíduo e ter seus costumes estranhos de resolver tudo na peixeira. Ele se revolta com uma barata na comida e causa transtorno onde que passa. O que o filme de João Batista de Andrade quer, uma cartilha de protesto em todos os ambientes que o capitalismo gerou, acaba passando despercebido, de tão comum o tema patrocinado por governos como o nosso, quando esta película foi restaurada em 2006 pela Petrobras no meio de casos de corrupção. O que fica em alto relevo é a incapacidade do nordestino se encaixar neste mundo. A única coisa que ele consegue fazer, e mal, é trabalhar e reclamar. Eis o manifesto comunista pós-escassez.


# Sem Sol

Caloni, 2020-04-26 cinema movies [up] [copy]

Sem sol e sem sentido. Este longa de Chris Marker é sobre um francês enxergando o mundo à sua maneira: injusto e caótico. A única coisa que ele não enxerga é o tamanho da pretensão na cabeça de um francês.

A parte do mundo que ele se concentra é o Japão, em que o filme estrutura uma narrativa de cartas de um estrangeiro de passagem por lá. Nós vemos as imagens e escutamos a narradora, mas não ouvimos de fato, pois o texto é confuso e não diz nada com nada.

Inflado por ter um dos seus filmes, La Jetée, ter sido escolhido como um dos melhores filmes de todos os tempos consecutivas vezes, Marker não entende o nível de besteiras que ele coloca na boca de sua narradora, pois as próprias imagens que ele exibe são igualmente bobas.

Um completo lixo para ser descartado sem um pingo de remorso.


# Um Dia no Campo

Caloni, 2020-04-26 cinema movies [up] [copy]

A luxúria desde os tempos mais primórdios do cinema. Jean Renoir é um cineasta que experimenta desde a década de 20 movimentos de câmera, cortes e interpretações dos seus atores que ultrapassava o caminho comum e nos entrega algo de verdadeiramente novo. E isso pode-se constatar até os dias de hoje vendo seus filmes, pois ainda há ideias não exploradas da forma como Renoir faz com sua câmera. Aqui é uma história boba de amor não correspondido que se torna arrependimento. Os personagens desse filme são apaixonantes, divertidos e pitorescos. A luxúria em filmes preto e branco não havia sido explorado como aqui. "Agora" há a possibilidade de observarmos uma mescla de épocas e tecnicidades.


# O Caminho das Nuvens

Caloni, 2020-04-28 cinema movies [up] [copy]

Você sabe sobre o que é essa história? Se souber me avise. Avise o diretor, também. No começo se diz que é baseado em fatos reais. Ele conta a história de uma família que viaja de bicicleta pelo país inteiro porque o marido quer um emprego de mil reais. A direção é de um vídeo-clipe que marca a virada do século. É um road movie com pontos turísticos religiosos que se escondem porque a mensagem é muito vaga sobre o que isso significa.

Cláudia Abreu rouba o filme toda vez que a câmera enfoca seu rosto, e Wagner Moura apagado ofusca participação do ator que faz filho mais velho, que acaba se tornando parte da história, que fala sobre amadurecimento, puberdade, se tornar homem. O fato é que o filme não tem ideia do foco e acaba querendo falar de muitas coisas. Agrada sem causar impacto. Este filme é uma homenagem ao cantor Roberto Carlos e possui muitas canções do rei, e por isso não se pode esperar nada provocativo.

A constante é a religião e a puberdade do garoto, que precisa de uma menina urgente, mas que apesar de chamar atenção não consegue se aproximar de nenhuma. Esta segue buscando a aprovação do pai, e se esforça por merecer respeito tentando fumar, único sinal da virilidade de quem o pôs na vida.

É curioso como o primogênito ser inapto para a vida social faz lembrar Capitão Fantástico, onde o pai torna seus filhos aptos para viver como ermitões e incapazes de abraçar o caos das relações humanas. A certeza dos pais desses dois filmes é a causa do fracasso de seus filhos na vida. Um defende a convicção católica; o outro, a convicção materialista dialética. Cada um com sua religião sem saber o que fazer com cada uma delas, exceto evitar dar respostas ou regras à sua prole. O fracasso acaba sendo o da vida moderna.


# Westworld S03 E01

Caloni, 2020-04-28 cinema series [up] [copy]

Não há muitos motivos por trás de quem deseja assistir à continuação de uma série como Westworld. Exceto a falta do que fazer, talvez. As ambições da série terminaram na primeira temporada e agora ela se estende pelas suas ideias que deixaram de ser filosoficamente ambiciosas e passaram a retroalimentar o sistema moralista vigente. A introdução do novo personagem da classe trabalhadora interpretado por Aaron Paul (ótimo casting) e a vida lá fora, com seus arranha-céus ecologicamente corretos, seriam motivo suficiente para assistirmos a mais uma temporada? Apenas pela computação? Esses jardim suspensos da Babilônia futuristas lembram e referenciam o império bizantino, tanto em seu esplendor quanto em sua grande derrocada, mas não há história no contorno desse fundo verde.

A filosofia original, com as ideias ambiciosas por trás da criação de uma inteligência artificial e suas implicações, fica para trás. A atual mal chega a arranhar as questões profundas sobre o destino dessa nova civilização a alcançar a singularidade, pois continua narrando o mundo futuro com ares de semana que vem, com carros autômatos e ausência de empregados humanos. Não se vê uma alma nas ruas que não seja a alta classe e os malandros e viciados, na maioria das vezes fazendo parte do mesmo grupo. A sutileza de não tornar isso uma bandeira, mas apenas a consequência natural do capitalismo acelerado pela tecnologia da informação do século 21, é um dos traços de respeito da série comandada por Jonathan Nolan e produzida por J. J. Abrams, mas apesar das sutilezas a produção não está fora dos nossos tempos.

Nessa sociedade com menos camadas temos a figura de um Aaron Paul ex-soldado de guerra (e qual guerra existiria com soldados humanos?) que perdeu seu companheiro, mas que perdeu principalmente o seu mundo ao voltar para um lar em lugar para ele. E Caleb andar sempre pelas esquinas e nas sombras é uma característica tão marcante quanto a personagem de Evan Rachel Wood, que usa preto em uma fotografia noturna furtiva assim como a ausência de decotes e formas e seu cabelo eternamente preso, sinal de sua nova fase.

Os personagens de Bernard, Tandy e a moça de Thor: Ragnarok (Tessa Thompson) se mantém na penumbra e nada prometem para o momento. Exceto, claro, novos arcos que devem se assimilar com a vinda de um outro personagem: o arquiteto das simulações. E é claro que aqui a referência óbvia é Matrix Reloaded.

Eu só não tenho certeza se gostaria de ver um Westworld Reloaded. A segunda temporada já tinha deixado um gosto insosso e artificial. Gosto de cartilha moralista reciclada.


# As Luzes de um Verão

Caloni, 2020-04-29 cinema movies [up] [copy]

Estrutura solta. Alguém não conseguiu terminar o roteiro e fez um filme. Cores quentes, ventiladores ligados, leques em mãos, chuvas torrenciais. É verão no Vietnã. O amor está no ar, mas não nos casais convencionais. Está espalhado entre traições e sugestões do proibido, como incesto entre um casal jovem de gêmeos. A história começa e termina em cerimônias da morte da mãe e do pai dessa família. A mãe morreu e o marido foi um mês depois. Essa é a janela da história. Uma das irmãs tem uma prova que eles sempre foram fiéis um ao outro: morreram quase juntos e com praticamente o mesmo tempo de vida. E essa história vai contrariar essa simplicidade nas relações com casos extra-conjugais que se misturam e se completam. Este é um filme leve, quase parado, que vai levar à exaustão quem busca por um formato fechado. Mas ele não quer falar fechado. Olhe a referência à metalinguagem sobre a cena em que o casal de amantes se separa e vai entender que este não é um filme completo, mas uma pequena janela na vida que venera a morte dos relacionamentos parados.


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