# Find Path ou Por Que O Vcpkg Não Colocou o Path da Minha Biblioteca?
Caloni, 2020-07-01 computer [up] [copy]Algumas bibliotecas portadas para o vcpkg, gerenciador de pacotes direto do fonte da Microsoft, não vêm exatamente como esperamos que elas venham em ambientes mais estáveis como UNIX-like. A GLib, por exemplo, uma biblioteca fenomenal se você deseja trabalhar com um framework puramente em C, está disponível pelo vcpkg através do pacote glib, mas vem encapsulado no namespace unofficial::glib::glib. Isso ocorre porque este não é um port oficial.
Se você estivesse em um ambiente UNIX precisaria fazer malabarismos com o PkgConfig, o gerenciador de pacotes do GTK (onde a GLib pertence). No entanto, depois de configurado, tudo o que precisaria fazer é incluir uma macro para os diretórios de include e outra macro para os diretórios de libraries e o programa compilaria. No caso do Windows essa macros não existem.
Lendo a documentação de como instalar o SQLite na documentação do vcpkg me deparei com uma informação até então oculta para mim: "Unlike other platforms, we do not automatically add the include directory to your compilation line by default. If you're using a library that does not provide CMake integration, you will need to explicitly search for the files and add them yourself using find_path and find_library."
Então tá. Feito isso, e rodando o cmake com o -DCMAKE_TOOLCHAIN_FILE passando o diretório de instalação do vcpkg, tudo se resolve. O solution do Visual Studio finalmente consegue encontrar os includes e libraries da glib. Ou qualquer outra biblioteca portada que você queira usar.
I got used to close sockets in Windows using TCP View, but I haven't learned yet how to do this in Linux. Some Google and now I know. It is kinda simple in terminal mode, as any task a programmer needs to do in your system.
You just need to find the process using netstat, find the socket descriptor using lsof, debug the process with gdb, close the socket using call command, close the debugger. You done. How simple is that, right?
Eu poderia dizer que é uma mistura de Scarface, O Poderoso Chefão, Os Bons Companheiros e a história do mafioso da Colômbia Pablo Escobar, tudo embalado em versão coreana. Mas se eu fizesse isso estaria me ajoelhando diante dos chefões da Netflix, responsáveis pela produção, e pior, estaria sendo muito desonesto comparando essas obras primas com uma aventura passageira e esquecível como esta, que além de não ter a mínima personalidade não faz questão alguma de buscar ter uma.
Olhe para as cenas e vai encontrar um filme de máfia feito por quem olhou filmes de máfia e apenas copiou. Luta de gangues em um hotel. Boate mostrando os poderosos montando esquema. Escritório do chefão cuja escalada burocrática acompanhamos com quatro espingardas em estante de vidro e muitas drogas.
Agora olhe dentro de si, caro espectador e leitor. Compare esses momentos com as grandes cenas dos filmes supracitados e lembre-se por que elas fazem você se sentir vivo. Este filme não nos faz sentir nada como contraparte. Um vazio inexplicável. Como toda droga que vicia, conforme explicado no próprio, a melhor dose é a primeira. Depois só ladeira abaixo.
Por analogia com as drogas, os primeiros filmes de máfia foram os melhores e definitivos, e assistindo uma produção hoje em dia com esse mesmo tema não gera quase nenhum efeito. Estamos anestesiados de tantos filmes parecidos com o que já vimos. O diretor Min-ho Woo quer que vejamos seu filme com reprovação, como a enésima e desgastada dose de algo que era divino, mas que hoje nem percebemos que estamos assistindo. Ele quer que associemos sua droga de filme com uma droga alucinógena. O que ele verdadeiramente quer dizer nas entrelinhas: fuja dos filmes de máfia. Inclusive do meu.
Em uma coisa Min-ho tem razão: seu filme é uma droga. Pessimamente executado. Vazio de alma. Sua trilha sonora é terrível, batida, clichê, chinfrim. Min-ho está dirigindo um filme que odeia apenas para que você receba esta linda mensagem de desprezo pelo cinema. E seria até uma mensagem válida se outro diretor, Martin Scorsese, não tivesse já enviado duas mensagens. Em uma delas ele nos presenteou com O Irlandês, um novo filme de gênero com três horas e meia de duração que é uma verdadeira pérola. Redescobre o cinema em um gênero surrado por pessoas como Min-ho. Possui uma edição assustadoramente fluida de Thelma Schoonmaker e atuações de uma velha guarda merecedora de prêmios. E nada nos lembra dos filmes anteriores, seja do diretor ou do gênero. Cria algo novo com uma fórmula conhecida. É uma obra de arte instantânea. Isso por si só já refutaria essa repulsa de Min-ho.
O Irlandês já seria motivo de sobra, mas sete anos antes houve uma primeira mensagem sobre os ricos e poderosos do mesmo diretor que lida com escalada e derrocada da mesma maneira que Min-ho flerta tratar aqui. Dessa vez com os caras da grana, em O Lobo de Wall Street. Se trata de uma imersão divertidíssima e hilariante em suas três horas cravadas, mas ainda por cima se você quiser pensar a respeito a mensagem do filme é claramente moralista. Scorsese está condenando essas pessoas que se divertem e nos divertem na tela, e faz isso sem precisar tornar seu conteúdo um porre. Pelo contrário, é um dos filmes mais divertidos daquele ano.
Martin já nos fez o favor de refutar The Drug King com duas obras primas do cinema na década passada para que eu não tenha que explicar que um filme que deseja nos fazer condenar o comportamento de seus personagens não precisa ser leve nem chato demais. Ele só precisa ser honesto.
The Drug King não é um filme nem divertido, nem dramático, nem honesto. Nós nunca sabemos porque um ourives vira de repente o traficante do pedaço. Nós não sabemos quem esse cara é nem porque virou quem a justiça quer por as mãos, encarnado por um promotor que sabe atirar com espingarda em uma Coreia desarmada, e cuja falta de motivação rivaliza com seu antagonista. Eu não sei quem é o mais sem graça, mas isso não impede que um fique perseguindo o outro.
Há outros personagens jogados em uma história que passa literalmente por décadas enquanto para nós parece apenas um final de semana. A história é inspirada em eventos reais, nas não quer botar a mão no fogo sobre nada, então prefere apenas sugerir relações entre os envolvidos. Não consegue nem evitar usar personagens da vida real nem criar personagens interessantes para acompanharmos. Atrizes talentosas como Donna Bae estão no filme e é um desperdício. Tomara que pelo menos tenham pago um bom cachê por suas lindas pernas.
Drogas, dinheiro, armas, mulheres. Poucos conseguem fazer essa coleção ser tão broxante. E The Drug King, além de defender que filmes de máfia já deram, também prova que até esses temas pulsantes se tornam fracos em uma produção algorítmica de streaming. Uma mulher e um homem de divertem em um carrão conversível, mas eles nunca se conectaram de verdade. E mesmo que for um jogo de interesses não sabemos muito bem quais as regras nem porque eles deveriam estar juntos. Eu nem sei se eles estão realmente juntos, pois o filme é incapaz de criar qualquer química entre eles, seja amor ou ódio, quem dirá ambos, ou ódio e luxúria, como visto entre Jordan Belfort e Margot Robbie em O Lobo de Wall Street.
Apesar desse tom morno/frio as pessoas desse filme falam como se fosse a fala de uma vida inteira. Elas fingem estar em um drama complexo e arrebatador enquanto desfilam por um palco vergonhoso de uma história sem imaginação. A fala da esposa do protagonista é dita como se ela sofresse a vida inteira nas mãos de um viciado, ou como se ela fosse a vítima de um dos membros da família Corleone, mas o dinheiro está vindo e nós sabemos que os dois mal convivem. Ele "nem para em casa", mas não sabemos nem se eles moram juntos. Não dá pra entender sequer a dinâmica da família e muito menos a relação entre os bandidos. Temos que confiar unicamente nessas mal escritas, indizíveis falas.
Não é apenas alma que falta neste projeto, mas lógica. Senso geográfico. Edição. Uma fotografia que não seja apenas o vermelho nebuloso acusador e moralista (e qual a acusação?). Nós acompanhamos por duas horas e meia uma história que já vimos melhor desenvolvida em outro lugar, sem nada que pareça inacreditável, que nos faça enxergar o mundo de outra forma. Não há nada exceto mero passatempo. Um passatempo que suga nossa alma. Netflix, devolva nossa alma de volta. Preciso rever O Irlandês para que minha alma seja sugada como se deve.
Jogos de Guerra se passa no auge dos anos 80. Matthew Broderick é um nerd/hacker vivendo sua adolescência em Seattle e buscando conciliar seus desejos por máquinas, além de uma garota fitness de sua sala. Ambos vivem uma aventura de tirar o fôlego e que se passa dentro de um enorme galpão cheio de luzes piscando e pessoas vestidas de militares. O fantasma da Guerra Fria está desaparecendo, mas fica uma reflexão pertinente quando computadores começam cada vez mais a fazer parte da família americana: qual a melhor estratégia para evitar uma nova guerra senão sequer começá-la?
Este é um filme que flerta com o trash de uma maneira saudosista. Queremos hoje viver esta época mais inocente, com truques para não pagar conta de telefone e o sabor da conquista ao encontrar o contato de uma empresa de jogos eletrônicos para espiar qual a novidade que anunciaram na revista. Os nerds desse filme são reais e vivem na sala ao fundo, e é melhor não levar uma garota para lá. A trilha sonora é empolgada antes de ser empolgante, e a edição fluida do começo ao fim. É um bonito filme, feito com amor e atitude. Vê-se poucos assim hoje em dia. Note todo o ritmo criado de uma coisa puxa outra não nos faz questionar a fantasia disso tudo. Como um Goonies para adolescentes fanáticos por tecnologia, War Games é um hino à curiosidade e aos limites entre humano e máquina do ponto de vista de quem viu a revolução da Machine Learning começar.
Divertido e inusitado como Sensual Demais, o filme independente do cara com a lenda de ter o membro grande demais para fazer sexo com sua esposa e por isso se aliviava no milharal, este filme da lenda Tint Brass (Calígula) apresenta a bunda de sua estrela mais vezes do que sua cara, é italiano dublado em inglês, e a maioria das falas são suspiros de tesão.
A Pervertida diz mais sobre as reações de quem assiste ou de quem produz algo assim do que sua própria história, que é trivial justamente para acompanharmos o tratamento que é dado, a forma de narrar esta erótica e inadequada aventura de uma moça que não usa calcinhas. Ela é alérgica e cheia de excitação e chega em uma Londres diferente, sexy, onde as pessoas se excitam em público, no parque, e tudo é muito explícito e natural.
Este é o ponto de vista de uma garota pervertida sobre o mundo, mas seria muito cruel descrevê-la dessa forma, já que você gostaria de morar em um mundo visto por ela, onde a traição é meramente um combustível para mais excitação com o namorado. Sexo é tabu no cinema por um motivo: filmes nos influenciam das mais diversas maneiras. E por isso este é um trabalho perigoso, provocante e obrigatório.
Um Emmanuelle com estilo, com arte e com algo a dizer. Sua trilha sonora sapeca mistura amadorismo com frescor. Sua forma de mostrar a atuação do seu elenco, cheio de cortes com close de partes do corpo, geralmente as íntimas. É muito difícil de julgar este filme pelos critérios que costumamos avaliar. Até porque, sinceramente, quem se importa? Ele é lindo como sua protagonista: solta, cheia de lascívia, fotografada como uma deusa sem formalidades nem peso dramático.
Eu fico estupefato com tantos diálogos que possuem apenas suspiros. Como eles escreveram este roteiro? É uma moça suspirando, e quando ela diz algo pouco importa. Por isso seu rosto também só é relevante quando podemos olhar o close de seus lábios e de sua cara de tesão. Uma atuação inesquecível. Preciso voltar essa fita algumas vezes.
E ela e todos os outros não têm medo de colocar a mão nas partes íntimas uns dos outros. Que filme, meus senhores.
Apesar de ser de 2006 Bleach lembra animes dos anos noventa como Evangelion pela sua pegada intimista, mas que aos poucos revela ser desse século, mesmo, sobre as constantes divagações sobre nossa essência, em uma abordagem mais abstrata, embora não menos direta: há fantasmas bons e maus. Apresentada rapidamente, a trama é sobre esse jovem que consegue ver espíritos. A família cuida dos vivos em uma clínica e ele cuida dos mortos. É colocado em constante treinamento físico pelo seu pai que se preocupa em ensiná-lo a se defender e a suas irmãs, já que sua mãe se foi (pode haver algo aí na trama futura).
Ele encontra uma Ceifadora de Almas igualmente jovem e atraente, vestindo um estiloso uniforme padrão de samurai negro. Ela explica que busca combater os Hollows, não os Wholes. Há duas classes de espíritos, os primeiros se alimentam dos segundos, e ela parece trazer o equilíbrio a este mundo. Abatida no primeiro episódio, ela doa seus poderes para este jovem que agora ele próprio vira Ceifador de Almas. Toda a trama se explica rapidamente. Se trata mais de aventura e menos de drama, mas possui um certo fundo dramático interessante e necessário para que o anime não fique na superfície de lutas. Escolher dois gêneros e uma situação de igual para igual pode ir trazendo revelações de todos os lados enquanto as aventuras são vividas, sempre em torno dessa mitologia inicial criada.
Bleach é bem século 21, mesmo. Ele prioriza a poesia acima das questões mundanas.
No final da época das pornochanchadas, este filme, como se diz em grupos menores de homens, "paga peitinho", mas se veste de drama intimista, que é quando a coisa desmorona. Se levar a sério demais é o primeiro passo que todo filme ruim deve dar se quer se tornar péssimo a partir daí.
Não que este o seja, pois ainda mantém o tema simpático dos dubladores brasileiros, sempre com orçamento apertado e um péssimo trabalho. E "o que não é feito nas coxas no Brasil? O que é enfiado no rabo, logicamente." é uma das melhores fala de toda filmografia nacional.
Ela é loira, corta o cabelo curtinho e vira dubladora de uma atriz que morreu antes de dublar seu último trabalho. É um tema Almodovarístico e se pode fazer muito com ele, como Almodóvar geralmente faz, mas aqui a história engessa na chanchada e no pseudo-drama, se esquecendo que com esse orçamento o melhor a ser feito é apostar no trash. Estava indo bem e vira masturbação de estudante de cinema. É triste ver tanta pretensão jogando ótimos momentos, naturais, no lixo.
Mas ele "paga peitinho", e era isso que importava em uma época em que brasileiro precisava de um incentivo para comprar os ingressos e sair de casa. Ele tem também uma parca mensagem política para preencher a tabela das necessidades de um filme brasileiro sair do papel. Faz lembrar em como cada trabalho para ser vendido em território nacional tem que preencher a cartilha ideólogica ou fora, mesmo que o filme em questão talvez quisesse em seu roteiro original apenas "pagar peitinho".
Compondo o elenco um filho que sei lá pra que (servir de babá durante as filmagens?), um ex igualmente descartável, uma melhor amiga que viaja e se casa com um fazendeiro. A conclusão que homens, únicos que assistirão a este filme, é que merecia enxugar essa trama aí e ter mais peitinho.
Mas não: alguém se achou esperto demais.
Cansei de Evangelion em meia-dúzia de episódios, apesar se seu ritmo ser agradável e suas personalidades femininas fascinantes. Além de ser um trabalho artístico deslumbrante para sua época. É uma pena que seu protagonista seja cria dos emotivos anos noventa, uma criança abandonada pelo pai, órfão de mãe e que se sente inadequado diante de lindas e maduras jovens. Seu pai é um insensível sádico que pode estar se vingando no filho pela perda da mãe. A figura feminina mais presente na trama também possui passado traumático. E é sobre robôs gigantes, claro, em um cenário pós-apocalipse de deixar qualquer nerd abaixo dos doze anos (ou acima se nasceu no século 21) babando. Há um certo charme misturado com infantilidade quando somos apresentados a este mundo. Mas ele se estende demais. Os animes e mangás japoneses quase sempre pecam por esgotar comercialmente suas fichas. Até aí nenhuma diferença de Hollywood. Exceto que temos a sensação de perder algo realmente único e mágico. Foi assim com Death Note, por exemplo, e Evangelion sofre do mesmo mal. Quer dizer, pelo menos artisticamente, já que houve vários spin-offs após a temporada original.
# Revelações Secretas de Uma Mulher
Caloni, 2020-07-11 cinema movies [up] [copy]Filme de baixo orçamento sobre a ex do seu diretor, Miyuki, uma feminista bissexual radical que tem tantos filhos que fica difícil contar o número dos pais. Kazuo Hara, o diretor, nasceu em 1945, um péssimo momento para estar vivo no Japão. Segundo longa seu e já habituado a polemizar em seus conteúdos.
É um trabalho no mínimo interessante. Cumpre seu tom documental, embora seja hilário que o diretor se surpreenda com a briga constante entre a ex e sua namorada quando ele passa a viver sob o mesmo teto, filmando a briga. Dessa forma, o filme acaba explicando indiretamente a diferença entre homens e mulheres e um pouco da natureza humana.
A princípio o filme parece não ter sido uma boa ideia. Acompanhamos a rotina da mulher na ilha de Okinawa, o bairro Heliópolis do Japão. Ela se mudou para lá para conhecer o lado miserável dos japoneses em sua colônia mais controversa, geralmente um porto de marinheiros estrangeiros e base de nascimento de várias crianças mestiças com as trabalhadoras dos bordéis locais. Tanto as mulheres quanto as crianças vagam pela ilha. E Miyuki é tudo aquilo que seu diretor quer que ela seja. Sua narrativa é que comanda. Ela não confia nele por ele ser bom com as palavras, mas é vaidosa o suficiente para não descartar um filme em que ela é a protagonista máxima.
O filme finalmente emplaca quando nasce mais um filho dela na casa do diretor. Ele coloca a câmera de frente para sua vagina durante o parto, mas a providência divina e a tensão que ele sentia faz a câmera ficar fora de foco todo o tempo. São momentos que ficaram mais tensos por conta disso e por ela ter uma filha totalmente sozinha. Ao final do parto a criança fica lá jogada no chão, mas a mãe começa a dizer que está tudo bem e é natural. Não conseguimos entender o desdém dessa criatura, ou o que a move, se é que há algo.
Filmado com áudio independente, há vários momentos fora de sincronia, mas que soa até poético, quase como descrições fora da ação. Em dado momento o diretor trabalha com sua namorada e vemos como a ex é ciumenta e possessiva. Ambas engravidam nessa época e são bem diferentes entre elas.
A conclusão que você irá chegar deste trabalho é que ele é bem pessoal, quase a ponto de não conseguirmos universalizar para tirarmos ideias sobre nós mesmos. Mas é isso o que o torna um filme que chama atenção: aprendemos também observando o outro, e quando o outro viveu em uma década em que não éramos nascidos em um país que nunca conhecemos com pessoas à margem da sociedade. Então ele se torna algo a mais do que nossas vidinhas pequeno-burguesas.
# Cosmic Trigger I: Final Secret of the Illuminati
Caloni, 2020-07-12 books [up] [copy]Este livro do jornalista Robert Anton Wilson, o mesmo de Prometheus Rising (Ascenção de Prometheus), caiu em meu colo e comecei a ler sem parar seus primeiros capítulos. Ele explora infinitas possibilidades de navegação da realidade e comunicação entre seres inteligentes da galáxia. Há algo de especial neste livro que ainda não desvendei. A parte sobre comunicação entre eras através da escrita é um keeper.
# Recortes de Pauline Kael
Caloni, 2020-07-12 cinema movies quotes [up] [copy]"Big money and its way of life is exciting; the vulgarity of the powerful is ugly, but not boring. This, you begin to feel, is how people behave when they're strong enough to act out their fantasies of wealth. In this environment, if you're not making it in a big way, you're worse than nothing -- you're a failure." (I Lost it at the Movies)
"Movies are so rarely great art that if we cannot appreciate great trash we have very little reason to be interested in them."
"In the arts, the critic is the only independent source of information. The rest is advertising."
# American Horror Story Season 5
Caloni, 2020-07-15 cinema series [up] [copy]A maior virtude de AHS é sua direção de arte. Existe um desafio na série em conseguir agradar os diferentes fãs de terror, seja gore, sobrenatural ou dramático. E o figurino, a fotografia e o design de produção conseguem captar uma essência genérica o suficiente para que todos se sintam representados e única o suficiente para essa ser A temporada sobre hotéis tenebrosos. Com um tom pesado o suficiente para existir vampiros na trama e ainda acharmos isso relevante ou novidade, a relação entre sexo e vampiragem surge espontânea e orgânica com a aparição de Lady Gaga nesse papel. E Kathy Bates continua pegando personagens presas em sua própria maldição. Além disso, a aparição de Sarah Paulson continua sendo esse misto entre melodrama e impotência em dirigir a própria vida. Há um clima dúbio no ar que só consegue se manter graças à direção video-clipe e às participações do elenco tradicional. Além do novo integrante, um detetive que parece sugerir fazer parte de uma linha do tempo paralela. A seleção de músicas como sempre é ótima. AHS arrisca pouco desde seu debut, mas se mantém sólido, o que já é muito se comparada ao que se faz com as outras pobres e maltratadas séries por aí.
Já tinha ouvido falar deste clássico do enxadrista campeão mundial Emmanuel Lasker, mas nunca a oportunidade de lê-lo. Então ele caiu no meu colo em meio a inúmeros downloads de livros sobre xadrez e comecei a folheá-lo digitalmente. Para minha surpresa ele é curto, fluido e divertido para fãs do jogo. Há algo que nos leva a ler cada vez mais, principalmente se você é um enxadrista, amador ou profissional, e se encanta em como o xadrez passou por tantos séculos e tantas culturas diferentes, saindo do místico Oriente e indo se situar confortavelmente no berço europeu e, posteriormente, na União Soviética, de onde surgiram os maiores ícones do último século.
Uma particularidade que é necessário ressaltar é como o jogo de xadrez foi por muito tempo um jogo de azar. Sim, os lances eram decididos nos dados, e talvez essa tenha sido a chave de sua longevidade imprevisível. Lasker nos premia com uma descrição de uma partida de xadrez sendo jogada com espectadores interessadíssimos nos resultados:
"...Uma partida dura horas. Muitas vezes, não termina senão no segundo dia. Nas proximidades, senta-se uma multidão de espectadores, que fitam o tabuleiro em silêncio. Quando, porém, é feito um lance, se for inesperado, belo ou brilhante e mais particularmente se envolver o sacrifício de uma peça, os espectadores pulam, gritam alto, mostram sinais de alegria ou dançam e até mesmo choram de excitação. O jogador muitas vezes pensa durante uma hora antes de fazer um lance. O final de uma partida é uma verdadeira cena de festa. A excitação muitas vezes leva os jogadores a aumentarem suas apostas ao ponto de a derrota no jogo envolver a ruína absoluta do vencido. Para começar, apostam-se as renas; depois, os cães; depois, as roupas; em seguida, todos os bens de um homem; e, no final, até mesmo as mulheres são apostadas..."
Notemos o quão sério o xadrez pode ser levado pelo homem e talvez estejamos mais próximos de tentar entender a própria complexidade do raciocínio humano em torno de jogos ou qualquer sistema simbólico que nos faça sentido. Fazer sentido pode ser entendido como uma droga. Tenho um amigo que já se viciou em xadrez, aliás. Espero nunca chegar nesse nível.
A animação é menos cartunizada e um pouco mais realista. São capturados momentos e sensações, as coisas que prestamos atenção quando algo acontece em nossa volta. E muitas coisas já acontecem no E01. Sentimentos de culpa e sobrevivência e impotência cerceam Japão Submerso, uma série animada de catástrofe.
Envelheceu bem. É um sitcom como os primeiros com risada gravada e piadas empilhadas em episódios curtos. Algumas atrizes se destacam, como a principal e a mirim. É sobre as diferenças sociais de uma vendedora de cosméticos de um bairro periférido de Nova York indo trabalhar como babá dos três filhos de um viúvo ricaço. Uma mistura de Sound of Music americano e alguma outra coisa que a torna americana. Ser enlatada, talvez.
A fotografia é perfeita, de filme, e logo corta para o metrô lotado de Nova York e as cores de vídeo caseiro. Depois as cores ficam um pouco melhor, mas é o contraste que interessa nesse momento. Várias ideias interessantes surgem na tela, ainda que pouco acuradas. Existe no universo de Upload uma sarcástica sci-fi que retrata um futuro muito próximo onde é possível subir para a nuvem nossa consciência e continuar a vida por lá, no formato digital, em um mundo virtual à sua escolha. Do tamanho do seu bolso, claro.
Este é um jeito fácil de trabalhar o raciocínio do espectador médio a respeito de questões filosóficas profundas, então é um sci-fi que respeita seu gênero e nos faz pensar sobre suas ideias. No entanto, todo esse brilho fica apenas no primeiro episódio, pois logo depois a série se torna um romancezinho daqueles que não interessa o contexto, é sobre ela e ele, amor independente dos meios, ricos malvados e pobres honestos e tudo aquilo que já conhecemos das fontes de inspiração menos nobres: novelas mexicanas.
# Wotakoi: Amor é Difícil para Otakus
Caloni, 2020-07-15 cinema animes cinema series [up] [copy]Série para meninas ou garotas com o tema otaku. Garotas otakus possuem problemas específicos. A protagonista aqui saiu do último emprego por causa disso e agora encontra um amigo de infância otaku de games e sua própria supervisora é uma otaku famosa. É um material leve, até demais, que faz uma personagem correr até o metrô e em seguida mostra o aviso de que não se deve fazer isso. A preocupação é em ser um conteúdo mais maduro e sobre sentimentos, ao mesmo tempo que engraçadinho (e consegue graças à dublagem fofa). No entanto, como milhares de adaptações de mangá, este não possui nenhum atrativo além de não precisar virar as folhas conforme vamos lendo.
Desperados passou pelo top 10 dos últimos dias na Netflix, e desde que eles inauguraram essa lista fica mais claro o perfil do espectador médio. Pode ser uma surpresa para alguns, uma constatação para outros. Para mim foi uma constatação. Eu não gostei do filme por ele próprio e pelo que ele representa. Ele representa filmes feitos às pressas, sem carinho nem motivo, exceto o comercial. Ele é fácil demais para nos envolvermos, e esse é o nível de risco que as produtoras de streaming na maioria dos filmes está disposta a correr: não se envolva muito e assista à próxima atração. Quem gostaria de viver assim se não estivesse condenado ao sofá da sala?
Sejamos adultos: ao começar o filme todos nós já sabíamos que seria uma história feita para criar momentos engraçados, mas não muitos, e que no final os dois que pensamos que iriam ficar juntos realmente ficam. Não estou tentando dizer nada sobre isso, até porque chamar de spoiler filmes como esse é um insulto aos verdadeiros spoilers. O que quero é apenas desenvolver a resposta para a seguinte pergunta: é assistindo filmes como esse que você quer passar sua noite de domingo?
Sobre as "surpresas" escondidas no filme, pelo menos eu garanto que você não pensou que encontraria no meio da história momentos constrangedores em que todos em um resort observam um garoto de uns dez anos beijar uma mulher adulta e depois uma briga entre essa mulher e a mãe da criança a acusando de pedófila, certo? E, desculpem os spoilers, mas volto a perguntar: é esse o tipo de entretenimento que você espera no final do seu domingão? Não há um pingo de remorso em perder horas de sua vida, horas essas que poderiam ser melhor gastas assistindo qualquer comédia estrelando Tina Fey ou dirigido pelo sempre ótimo Paul Feig, ou até mesmo besteiróis com Adam Sandler? Pare para pensar se você não reparou, mas estou sugerindo que Adam Sandler pode ser preferível a este filme. Sim, este é o nível de desespero que ele lhe traz em uma noite de domingo. Estou falando sério: eu realmente entendo o título deste filme.
Agora talvez você esteja pensando "quando ele irá dizer a sinopse", mas você espera isso como parte da fórmula de um texto sobre um filme, e não como algo de fato necessário em filmes de streaming, certo? Quero dizer, como toda produção do nicho, existe um trailer de, sei lá, meia-hora, que já vai te contar não apenas todas as boas ideias que ficaram (e nunca mais saíram) na sala dos roteiristas, mas também o começo, o meio, a reviravolta e o fim da história. Ironicamente, o próprio trailer acaba sendo um trabalho mais coeso e mais divertido que o próprio filme, com um começo, meio e fim satisfatórios. Então antes de continuar este texto te peço um favor: assista ao trailer.
Talvez com mais pessoas assistindo apenas ao trailer eu comece a escrever críticas sobre essas pequenas obras-primas de filmes que não existem em lugar algum. E eles são longos o suficiente e mais diversos que o conteúdo que anunciam. Não precisarei também passar pelo embaraçoso momento de uma mulher adulta sendo acusada de pedofilia com um garoto de dez anos. Ou, vejamos pelo lado bom, se essa cena estiver no trailer, ela ao menos parecerá engraçada. Trailers possuem uma magia em sua confecção: eles criam em nossa mente um filme imaginário que é muito melhor que o produzido.
Agora vamos reparar em detalhes mais interessantes que a história. Veja, por exemplo, quantos cortes são necessários para fazer uma cena de diálogo entre duas pessoas. Entre a protagonista e seu pretendente. O de verdade interpretado forçosamente por Lamorne Morris, não a isca ridícula interpretado de maneira automática por Robbie Amell. Minha reclamação é justa. A bela Nasim Pedrad (de Aladim, com Will Smith) e o simpático Lamorne Morris (do seriado New Girl) são bons atores, e poderiam sem problemas ensaiar alguma química na frente das câmeras. Se eles estivessem no mesmo lugar ficaríamos felizes com seu relacionamento que está começando, e mesmo com piadas sobre pedofilia e empregados mexicanos que pegam a bolsa das clientes sem permissão, acabaríamos a sessão da tarde/noite de domingo com um pouco de esperança no mundo lá fora, um mundo no momento apenas imaginário, por causa do isolamento, mas ainda assim uma esperança.
Do jeito que o filme é editado, a cada ligeira fala há um corte que separa os atores, e consequentemente os personagens que queremos ver juntos. Um corte a cada um segundo e meio, mais ou menos. E não há linhas muito longas nem memoráveis, o que faz o pingue-pongue de falas insuportável. Sem os malditos cortes e com dois bons atores em cena, pelo menos eles estariam ali em alma, e mesmo que quietos, um sentado do lado do outro, seria melhor do que tantos diálogos indizíveis. Estariam mais conectados em silêncio do que trocando percepções banais sobre a vida. Com os cortes frenéticos a vida, que já é frenética, fica mais dura e áspera. Em tempos de quarentena é ofensivo constatar que nos filmes feitos para a TV, onde pessoas já costumam assistir sozinhas no sofá da sala ou no celular na cama, os personagens daquela história de mentirinha feita apenas para passar o tempo estão igualmente distantes e isolados um do outro. Quando vemos o rosto de um vemos a cabeça do outro, e não há espaço para entendermos a reação ao que cada um diz. São falas automáticas de quem está com uma agenda apertada. E nem no nosso momento de lazer, em puro deleite banal de uma historinha medíocre, as pessoas podem se dar ao luxo de estar no mesmo quadro, de frente para a mesma câmera. Não há esperança no streaming para a humanidade.
O beijo é dado. A câmera se distancia. Não conseguimos nem ver de perto. A música esquecível sobe. E ao subir dos créditos da tela preta ficamos sem qualquer sinal de que vai ficar tudo bem. A única mensagem que fica é que domingo está acabando e amanhã tem trabalho pela frente, dessa vez sentado na cadeira do escritório em casa ou no meio da bagunça familiar tentando se concentrar, ou até no mesmo sofá de entretenimento nos fins de semana. Independente do seu nível de conforto em seu home office improvisado, nossa vida não melhorou em nada vendo Desperados. Nenhum peso sumiu de nossas costas. Apenas bits e bytes foram gastos vindo dos computadores do serviço de streaming para as luzes da sua tela ou telinha, iluminar nossas inertes, paralisadas faces, frente ao paradoxo do entretenimento que sequer entretém dos nossos tempos.
Expresso do Destino começa meio estranho. Os diálogos são fracos. Um misto entre realismo e amadorismo. Este é o cinema independente do século 21, onde tudo já foi tentado e a mínima diferença se destaca e ganha prêmios.
Mas sabemos que é cinema atual porque as cenas com a câmera na mão são de vídeo-clipe e a vida nunca foi tão próxima disso. Este casal improvável ouve músicas pelo You Tube e conversa durante uma viagem de trem de 17 horas, onde irão descobrir que apesar de estarem indo para o mesmo casamento a contragosto possuem mais em comum do que imaginam. Sim, é clichê, mas o diretor Ozan Açiktan disfarça bem suas intenções com tanto carinho em sua decupagem que torna o clima aparentemente claustrofóbico de um trem em um ambiente relaxante que inspira a reflexão sobre a vida.
Neste filme, assim como a vida, o trajeto é mais importante que o destino. Quando o clímax chega é como se o espectador já viesse pedindo por ele há um tempo, pois é a conclusão natural de tudo o que essas duas pessoas viveram até agora. E isso prova ser esta a direção absoluta. Diretor do filme e maquinista do trem seguem de mãos dadas. Sempre é poética e inspiradora uma história de reflexão, mas se ela passar em um trem em movimento, ganha pontos pela metáfora batida sobre a vida, que a cada década que é usada adquire coloração diferente e nunca perde o charme.
Sobre o roteiro, as dúvidas são muitas. Como um advogado gosta de poesia? Ele sofre desde os 14 anos de idade, quando teve um infarto e acionou o alerta interno de sua família, preocupados em quando surgirá o segundo ataque. Esta é no fundo mais uma metáfora, sobre o mal que todos sofremos, de estarmos preocupados a vida toda se o que estamos fazendo é certo ou errado, se estamos machucando, ou vamos machucar. As pessoas boas, claro, pois as más estão indo casar.
A participação de Metin Akdülger como este advogado, Ali, é confusa e apagada, mas nós percebemos sua rasa e confusa intenção em se dirigir para o casamento, ainda que ele e suas falas não nos ajudem a entender essa quase pessoa. Não há uma personalidade natural por trás dessa pessoa que parece ter tudo sob controle, exceto seu emocional. Apenas acenamos a cabeça e seguimos viagem, com nossa pulga cinematográfica atrás da orelha.
Agora, sobre um advogado gostar de poesia, pensando como roteirista, tem seu sentido funcional: a moça precisa se afeiçoar ao rapaz de alguma forma. Talvez seja essa bagunça que vira um ser humano que não sabe mais viver depois de levar o fora da ex, que está prestes a se casar. As pessoas reagem de maneira diversa à ruína emocional. Alguns fazem limonada dos limões, mas a maioria quer mesmo é se afogar na vodca. Psicologicamente o roteiro tem seus motivos, mas a forma como ele conduz nossas expectativas não está à altura do maquinista deste trem. Afinal de contas, essas duas pessoas já se feriram a ponto de desistir de tudo isso. Não há pretensões no começo da interação. Apenas mágoas que surgem à superfície até na conversa entre dois estranhos. O que dirá quando descobrirem que não são tão estranhos assim.
Não há muita personalidade, mas na vida real ninguém é mesmo assim especial como nos filmes. E isso traz um realismo bom, não forjado. Ou quase. O roteiro não consegue equilibrar falas ruins, "improvisadas", com o que pessoas da vida real falariam. Ele não é completamente honesto, mas, pensando na vida real, quem de fato é. Existe show bizz misturado em todo trabalho independente que precisa se vender, o que é uma lástima para a torcida dos cinéfilos que enxergam no cinema pequeno a arte que tanto falta em Hollywood.
Os diálogos não são espertos de forma sobrenatural como na Trilogia do Amanhecer de Richard Linklater, com o casal Ethan Hawke e Julie Delpy, mas também não são reais e tocantes (no sentido dramático) como em Seguindo o Coração, um trabalho indiano que mostra como um relacionamento abusivo é escancarado frente às câmeras. Expresso do Destino fica no meio termo, ainda competente, mas se entrega menos do que poderia. Deve haver uma relação ótima entre negócios e arte, e este filme não encontra esse tom. Encontra apenas o bom, que já está de bom tamanho para os fãs de indies medíocres. Aplaudirão em algum momento em suas mentes, mas haverá vergonha de aplaudir em público.
E, fora sua qualidade narrativa virtuosa, sempre há essa menina, linda e verdadeira. Leyla, a personagem de Dilan Çiçek Deniz, está perdida de fato. Espontânea sem ser exagerada. Diferente dele, ela mantém uma personalidade que conseguimos descrever para outras pessoas que quiserem saber sobre o filme. Se trata de uma mulher sem os anseios do tradicionalismo do Oriente Médio, mas vive uma tempestade interna de emoções que ela resolve abraçar em vez de máscaras. Não é possível descrever completamente Leyla, claro, pois são apenas dezessete horas em um trem, e ela é mais complexa do que isso (ou pelo menos sugere muito bem). Çiçek entendeu a proposta, suas falas a beneficiam, mas ao mesmo tempo ela consegue dizê-las na maioria das vezes com autenticidade. Ninguém pode negar que são suas as falas, dessa menina que já passou mais tempo e se dedicou mais em um relacionamento, seis anos, e já superou. Ela é mais madura. Porém, até pessoas maduras merecem ganhar novas experiências. E lá está ela, disposta a vivenciar o casamento do seu ex que dizia que casamento não era para ele. Dói, mas quem disse que é possível evoluir, crescer e amadurecer sem dor?
Falando agora da estética narrativa de Expresso do Destino, a divisão em partes incomoda por diminuir o ritmo do longa e o cortar em episódios que não existem. É mais um cacoete de usar uma música e uma passagem para a pausa reflexiva, mas depois de umas oito partes aprendemos que é assim que vemos a vida e os nossos episódios internos. Nós realmente dividimos nossa vida em "a hora do chá", "o momento impróprio", etc? A diferença é que geralmente há um título em algum lugar de nossas cabeças caóticas. A divisão em partes numeradas do filme soa automático e distante. Foi uma decisão funcional, mas é impessoal e pertence a outro filme. É a perda do controle do realismo embutido no filme em prol de algo mais palatável ao grande público.
E esta é a grande briga interna deste filme que sonha em ser um símbolo de nossos tempos de vídeo-clipe no You Tube e relacionamentos-relâmpago, onde seis anos parece uma eternidade, mas não consegue se desvencilhar completamente do projeto comercial que o torna possível de ser realizado. É a vida real, dentro e fora dos estúdios. E como reflexo de nossos irônicos tempos, não é nada romântico, apesar de desejarmos ardentemente que seja. Infelizmente pegamos o trem errado.
Assim como o original, falado em japonês, o que é um plus, mas ele é muito comum e seu tom inusitado é revelador demais. Não queremos este mistério desvendado, queremos levar sustos. A série de streaming leva tudo a sério e faz perder parte do que nos fazia gostar de O Grito: o gore, o trash e a falta de uma estética de terror que seja esquecível. Exceto seu grito do título, claro. Infelizmente a estética aqui é bem feita, com tons de cores dramáticas e personagens que tentam soar realistas e com peso. E quem quer se divertir sai frustrado. Aguardando um terror mal feito caímos no conto dos direitos comprados e reenlatados em um trabalho dramático que se perde em meio aos milhões disponíveis ao toque de um botão.
Confesso que este filme me dava sono, mas havia algo mágico em seu ritmo quando o vi a primeira vez aos vinte e poucos anos. Ainda que de maneira inconsciente, havia percebido uma linda mensagem por trás dos eventos sempre banais da história dos ricos e famosos.
Diálogos precisos e situações icônicas criam a atmosfera perfeita para um diálogo universal sobre solidão e isolamento. Este, sim, é um filme perfeito para se assistir nos momentos insuportáveis da quarentena, pois mostra o quão sozinho e sem esperança conseguimos nos sentir mesmo estando cercados de centenas de pessoas.
Obviamente que Sofia Coppola deve ter sofrido muito disso. Filha de um dos diretores símbolos de sua geração, a filmografia da diretora está sempre observando a rotina das celebridades que ela não apenas conhece, mas vive, desde O Poderoso Chefão, quando era apenas um bebê no colo dos Corleone, para virar dois filmes depois a "interpretação mais fraca da trilogia", um consenso da crítica "especializada" a respeito da então atriz.
As experiências cinematográficas da diretora afiam seu tema constante. Começa com As Virgens Suicidas e a desilusão amorosa boba por trás da figura masculina, mas ganha corpo em Maria Antonieta e principalmente Um Lugar Qualquer, indo de novo ao encontro no banal e divertido Bling Ring. Pertencente à mesma bolha social, Coppola enxerga em seus personagens um grito surdo por significado em suas vidas livres de dores financeiras, mas cheias de insignificância.
Apesar de uma filmografia pelo menos competente desde o começo, é apenas em Encontros e Desencontros que encontramos um trabalho menos inciviso e petulante, o que dá abertura para uma experiência mais rica e complexa do que é ter o mundo nas mãos e não conseguir a atenção das pessoas próximas (como a própria família). Se a trilogia de seu pai criou a antologia definitiva da história americana, e por tabela do mundo, os filmes de Coppola são a consequência do acúmulo de riquezas do país mais próspero da História: falta de objetivos na vida, consumismo e o trabalho como ferramenta de alienação.
O conceito é de histórias curtas baseadas na coluna homônima do New York Times. Tem a ver com amor representado de diferentes, inusitadas, formas. Possui uma direção enérgica que combina transições elegantes e músicas que evocam os sentimentos desejados do espectador, mas com muita delicadeza. É um trabalho sincero, de passar o tempo, fácil de apreciar, difícil de sair dos trilhos. Satisfação garantida pelos fãs do que é fofinho, mas não óbvio de maneira ofensiva. Modern Love dá espaço para o espectador respirar na maioria do tempo.